Situação Cultural
O Novo Estilo Literário
O Arcadismo no Brasil - CONTEXTO HISTÓRICO
Esses fatos foram responsáveis por um grande sentimento
nativista, o índio aparece pela primeira vez como herói literário. O Arcadismo
brasileiro assinala o início da busca de uma identidade nacional para a nossa
literatura, o que só será alcançado, segundo alguns estudiosos no movimento
posterior, ou seja, no Romantismo.
Os principais autores do Arcadismo
brasileiro foram:
* Cláudio Manuel da Costa
* Tomás Antônio Gonzaga
* Basílio da Gama
* Santa Rita Durão
Dos quatro, apenas Tomás Antônio Gonzaga não era
brasileiro. Além de apresentarem semelhanças quanto à produção árcade, todos
tiveram envolvimento com a Inconfidência Mineira. Eles escreveram nos mais variados
gêneros literários.
Vejamos as principais vertentes do
Arcadismo brasileiro:
- POESIA LÍRICA *ARCADISMO BRASILEIRO - POESIA SATÍRICA -POESIA ÉPICA |
Cláudio Manuel da Costa(1729-1789)
“... Destes penhascos fez a natureza
O berço, em que nasci! oh quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!”
Cláudio Manuel da Costa também escreveu um poema
épico chamado Vila Rica, em que narra a história
da fundação da cidade, enaltecendo os feitos dos bandeirantes.
Tomás Antônio
Gonzaga(1744-1810)
Nasceu em Portugal. Viveu a infância e a adolescência no Brasil. Voltou a Portugal e estudou Direito em Coimbra. Voltou ao Brasil já com 38 anos e apaixonou-se por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a Marília, com quem pretendia casar-se. Mas, durante a Inconfidência Mineira, foi preso e condenado ao degredo em Moçambique, onde se casou com uma rica viúva e morreu em 1810, sem ter voltado ao Brasil.
Seu pseudônimo árcade era Dirceu e sua musa inspiradora era Marília. Entre suas principais obras estão Cartas Chilenas e Marília de Dirceu.
Cartas Chilenas são poemas satíricos escritos em decassílabos,
mas com uma estrutura epistolar, ou seja, em formato de cartas. Esses textos
eram manuscritos e circularam na cidade de Vila Rica, pouco tempo antes da
Inconfidência Mineira, eles contavam a história de Fanfarrão Minésio, um
governador arbitrário, imoral e narcisista. O emissor das cartas era Critilo e
o destinatário era Doroteu. Após vários estudos, descobriu-se que Critilo era o
próprio Tomás Antônio Gonzaga e que Doroteu era Cláudio Manuel da Costa. Mas
por que Cartas Chilenas? Na realidade o Chile era Minas Gerais e Santiago era
Vila Rica; Tomás Antônio Gonzaga estava criticando o próprio governador da
época. (Luís da Cunha Meneses). Suas sátiras em geral criticavam pessoas
especificas e não instituições.
Essas cartas são um importante
documento histórico da época da mineração. Observe a descrição ferina que faz
do governador:
O corpo de estatura um tanto esbelta,
Feições compridas e olhadura feia,
Tem grossas sobrancelhas, testa curta,
Nariz direito e grande, fala pouco
Em rouco, baixo som de mau falsete,
Sem ser velho, já tem cabelo ruço
E cobre este defeito a fria calva
A força de polvilho que lhe deita.
Ainda me parece que estou vendo
No gordo rocinante escarranchado
As longas calças pelo umbigo atadas,
Amarelo colete e sobre tudo
Vestida uma vermelha e justa farda.
De cada bolso da fardeta, pendem
Listadas pontas de dois brancos lenços;
Na cabeça vazia se atravessa
Um chapéu desmarcado, nem sei como
Sustenta o pobre só do laço o peso.
As liras de Marília de Dirceu,
inspiradas romance do poeta com Maria Dorotéia, tornaram-se uma das obras mais
publicadas em língua portuguesa (liras são composições poéticas em que se
repete, a cada estrofe, um estribilho, um refrão).
A obra está dividida em duas partes: na primeira, encontramos a felicidade proporcionada pelo amor. Na Segunda, num tom mais negativo, provocado pelos sofrimentos advindos da prisão, encontramos uma série de reflexões sobre a justiça humana e a lembrança da amada.
a) na primeira, usando uma
linguagem simples, quase ingênua, descreve a amada, fala sobre o namoro e traça
planos de felicidade conjugal:
Não sei, Marília, que tenho
Depois que vi o teu rosto;
Pois quanto não é Marília
Já não posso ver com gosto.
Noutra idade me alegava,
Até quando conversava
Com o mais rude vaqueiro:
Hoje, ó bela, me aborrece
Inda o trato lisonjeiro
Do mais discreto pastor.
Que efeitos são os que sinto!
Serão efeitos de Amor?
Saio da minha cabana
Sem reparar no que faço;
Busco o sítio aonde moras,
Suspendo defronte o passo.
Fito os olhos na janela
Aonde, Marília bela,
Tu chegas ao fim do dia;
Se alguém passa, e te saúda,
Bem que seja cortesia,
Se acende na face a cor.
Que efeitos são os que sinto!
Serão efeitos de Amor?
b) na parte final, escrita na prisão, quando seus sonhos foram desfeitos, revela amargura, abatimento e revolta:
Lira XV
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua aldeia;
Vestia finas lãs, e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal, e o manso gado, casa
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.
Para ter que te dar, é que eu queria
De mor rebanho ainda ser o dono;
Prezava o teu semblante, os teus cabelos
Ainda muito mais que um grande Trono.
Agora que te oferte já não vejo
Além de um puro amor, de um são desejo.
Se o rio levantado me causava,
Levando a sementeira, prejuízo,
Eu alegre ficava apenas via
Na tua breve boca um ar de riso.
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto
De ver-te ao menos compassivo o rosto.
Propunha-me dormir no teu regaço
As quentes horas da comprida sesta,
Escrever teus louvores nos olmeiros,
Toucar-te de papoulas na floresta.
Julgou o justo Céu, que não convinha
Que a tanto grau subisse a glória minha.
Ah! Minha Bela, se a Fortuna volta,
Se o bem, que já perdi, alcanço, e provo;
Por essas brancas mãos, por essas faces
Te juro renascer um homem novo;
Romper a nuvem, que os meus olhos cerra,
Amar no Céu a Jove, e a ti na terra
Tomás Antônio Gonzaga realmente foi preso e degredado
para Moçambique por sua participação na Inconfidência Mineira.
Basílio da Gama(1740-1795)
Agradecido ao Marquês, escreveu o poema épico e antijesuítico O Uruguai, em 1769. O assunto é a luta entre os índios dos Sete Povos das Missões (no Uruguai) contra o exército luso-espanhol que deveria transferir as missões para os domínios portugueses na América e a Colônia do Sacramento para a Espanha.
Sua obra mais importante é sem dúvida o poema épico, O Uraguai, que narra as lutas dos índios de Sete Povos das Missões, no Uruguai contra o exército luso-espanhol. Basílio da Gama não fica preso ao modelo camoniano, o poema apresenta apenas cinco cantos e os versos são brancos, ou seja, sem rimas e não estão divididos em estrofes. As personagens mitológicas são substituídas por elementos da cultura indígena. Aparece a figura do índio como “bom selvagem” e a descrição da natureza brasileira, numa espécie de antecipação romântica. Entre as personagens destacam-se: Gomes Freire Andrada, o herói português; Balda o vilão, uma caricatura dos jesuítas e os índios Cacambo, Lindóia, sua esposa, Caitutu e Tanajura, a vidente.
Basílio da Gama quebra a
estrutura da epopeia clássica e começa seu poema pela narração. Ele
constitui-se de cinco cantos, em versos decassílabos brancos (sem rima) e sem
divisão em estrofes. No primeiro canto, as tropas espanholas juntam-se às
portuguesas. No segundo, descreve a batalha entre índios e as tropas, com a
derrota dos primeiros. No terceiro, Cacambo, o indígena marido de Lindóia,
ateia fogo ao acampamento dos brancos. Balda, o vilão jesuíta, prende e
envenena o índio. Lindóia tem visões, mero pretexto para Basílio da Gama contar
os feitos do Marquês de Pombal, que reconstrói Lisboa após o terremoto. No
quarto canto, vemos a preparação para o casamento forçado de Lindóia com
Baldetta (sucessor de Cacambo) e a seguir o suicídio de Lindóia. No último
canto descrevem-se os crimes dos jesuítas e sua prisão.
Leia este fragmento da morte
de Lindóia, em que, estando todos reunidos para o casamento, estranham a demora
da noiva. Seu irmão, o índio Caitutu, vai procurá-la no jardim onde se
refugiara:
Morte
de Lindóia (fragmento)
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola em seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim, sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe,
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia, e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo coa ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o branco peito.
Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Nos Olhos Caitutu não sofre o pranto.
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.
É por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste;
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!
Santa Rita Durão(1722-1784)
A Morte de Moema, Vitor
Meireles (1832 – 1903)
Leia um fragmento do episódio da morte de Moema:
Perde o lume dos olhos, pasma
e treme,
Pálida a cor, o aspecto
moribundo;
Com mão já sem vigor, soltando
o leme,
Entre as salsas escumas desce
ao fundo.
Mas na onda do mar, que,
irado, freme,
Tornando a aparecer desde o
profundo,
—” Ah! Diogo cruel!” — disse com mágoa,
E sem mais vista ser, sorveu-se na água.
Outros autores do Arcadismo,
porém de menor expressão, foram:
• Alvarenga Peixoto
(1744-1793) – participou da Inconfidência Mineira e propôs o lema Libertas quae
sera tamen (Liberdade ainda que tardia) que deveria figurar na bandeira
republicana. Preso, é deportado para Angola. Em seus versos, de extremado apuro
formal, combateu o colonialismo.
• Silva Alvarenga
(1749-1814) – reorganizou a Academia Científica do Rio de Janeiro, que
passou a chamar-se Sociedade Literária (1786). Acusado de propagar idéias
subversivas, foi preso e depois perdoado pela rainha D. Maria. Para sua musa
escreveu os rondós e madrigais de Glaura. Compôs ainda Poesias diversas e O
desertor da letras, poema herói-cômico, satirizando o sistema escolástico de
Coimbra.
Período De Transição (1808-1836)
No início do século XIX,
Portugal achava-se numa situação difícil: optar entre a dependência econômica
inglesa e o poderio militar francês. Afugentada pelas tropas de Napoleão, que
invadiram Portugal no início do século XIX, a Família Real portuguesa chegou ao
Brasil em 22 de janeiro de 1808.
O Brasil foi, subitamente,
elevado da condição de Colônia à de Reino Unido a Portugal e Algarve e, o Rio
de Janeiro transformou-se em sede política, econômica e cultural da Monarquia.
Estava próxima nossa emancipação política, apressada pelas reformas de D. João
VI. Ele remodelou a cidade do Rio de Janeiro e o Brasil começou a ganhar os
contornos de uma nação. A abertura dos portos brasileiros às “nações amigas”
permitiu que circulassem novas ideias, gostos e hábitos. Fundaram-se escolas de
ensino superior e academias, liberou-se a imprensa.
Contratada por D. João VI,
chegou ao Brasil, em 1816, a Missão Francesa com a tarefa de ensinar artes e
ofícios aos brasileiros. O arquiteto Montigny, os escultores Auguste-Marie
Taunay e Marc Ferrez, os pintores Nicolas Antoine Taunay e Jean-Baptiste Debret
introduziram no Brasil o Neoclassicismo e inauguraram o gosto pelos temas
históricos e nacionais (em oposição ao Barroco das igrejas). Com eles o Brasil
ganhou imagem própria, distanciando-se da matriz. Em 1821, D. João VI voltou
para Portugal e aqui ficou o príncipe regente D. Pedro I, que proclamou nossa
independência em 1822.
Produção Literária
A literatura desse período,
chamado também de Pré-Romantismo, caracterizou-se pela tentativa de abolir os
modelos clássicos. No entanto, numa época em que ocorreram mudanças tão
intensas em todos os setores da sociedade, floresceu uma poesia de segunda
linha, uma poesia retórica, cujo objetivo era ensinar, persuadir, moralizar: o
poema sacro, em que se destacaram Elói Ottoni, Sousa Caldas e Américo Elísio
(pseudônimo de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da
Independência).
Desenvolveram-se também nesse
período os gêneros públicos: sermão, discurso, artigo e ensaio de jornal. Neste
último campo destacaram-se Hipólito da Costa Pereira, fundador do jornal
Correio Braziliense, e Evaristo da Veiga. Ambos foram indispensáveis para a
formação e expansão de um público leitor no Brasil.
É na oratória, porém, que se
prenuncia o Romantismo. Frei Monte Alverne, em seus sermões, funde à fé, ao
sentimento religioso as “harmonias da natureza” e as “glórias da pátria”.
As ladeiras de Ouro Preto,
antiga Vila Rica, hoje patrimônio cultural da humanidade, guardam as lembranças
do século do ouro. Poetas, inconfidentes, músicos, pintores e escultores
deixaram suas marcas na cidade-símbolo do desenvolvimento urbano brasileiro.
A Igreja São Francisco de
Paula foi a última igreja levantada em Ouro Preto durante o período colonial.
Sua construção demorou um século, de 1804 a 1904.
O Arcadismo brasileiro foi o movimento que assinalou o início da busca de uma
identidade nacional para a nossa literatura.
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