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ARCADISMO NO BRASIL

 Situação Cultural

A segunda metade do século XVIII na Europa apresenta, de modo geral, uma importante fase de transformação cultural.
Seu ponto de partida foi a França, onde, em 1751, é publicada a Enciclopédia, símbolo de renovação cultural que tinha à frente D'Alembert, Diderot e Voltaire. Os enciclopedistas deram grande impulso ao desenvolvimento das ciências, valorizando a razão como agente propulsor do progresso social e cultural. Essa onda de racionalismo opôs-se às ideias religiosas da época, que são atacadas e consideradas retrógradas.
    Todo esse movimento de renovação, chamado Iluminismo, espalhou-se pela Europa e atingiu Portugal. Coube ao marquês de Pombal, ministro de D. José I, levar a cabo a tarefa de renovação cultural, tentando colocar Portugal em dia com o progresso do resto da Europa.
    Em 1759, os jesuítas são expulsos de Portugal e o ensino, que estava quase todo em suas mãos, torna-se então leigo. Fundam-se escolas e academias, e respira-se em Portugal um clima de novidade e mudanças no campo da arte, da ciência e da filosofia.

O Novo Estilo Literário

    Dentro desse panorama de renovação cultural, surge um novo estilo poético: o Arcadismo.
    Reagindo contra os exageros do estilo barroco, os autores da segunda metade do século XVIII propõem uma literatura que seja mais simples e espontânea. Vivendo numa época de euforia e confiantes no progresso científico, esses novos autores não foram tão religiosos nem expressaram tantos problemas metafísicos quanto os barrocos.
    O Arcadismo expressa uma visão mais sensualista da existência, propondo uma volta à natureza e um contato maior com a vida simples do campo. Em pleno século XVIII, os poetas arcádicos recriam em seus textos as paisagens campestres de outras épocas, com pastores e pastoras cantando e vivendo uma existência sadia e amorosa, preocupados apenas em cuidar de seus rebanhos; esse tipo de recriação da vida é chamado de bucolismo e constitui uma das características marcantes da poesia arcádica. Aliás, o desejo de identificação com a figura de pastores levou os poetas arcádicos a adotarem para si pseudônimos gregos e latinos e a se referirem, em suas poesias, a elementos da mitologia clássica (ninfas, deuses etc.). O próprio nome Arcadismo foi tirado de Arcádia, região da Grécia onde, segundo a mitologia, pastores e poetas viveriam uma existência de amor e poesia.
    Valorizando a razão e a simplicidade, os arcádicos inspiraram-se na sobriedade dos poetas clássicos do Renascimento (sobretudo Camões) e da antiguidade grega e latina. Daí o nome de Neoclassicismo com que também se costuma designar esse período.

O Arcadismo no Brasil CONTEXTO HISTÓRICO

   O Arcadismo brasileiro tem como marco inicial a publicação das Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa, em 1768, e se estende até 1836 com a publicação de Suspiros poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, obra que instaura o Romantismo brasileiro. A cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto em Minas Gerais foi sede dos principais acontecimentos do século XVIII, assistiu ao ciclo da mineração, à Inconfidência, à grande produção dos poetas árcades.
Vila Rica também foi palco do grande artista plástico, arquiteto e escultor brasileiro desse período – Antônio Francisco Lisboa, o nosso Aleijadinho. Lembre-se de que o Barroco no Brasil compreende duas grandes manifestações: o Barroco Literário e arquitetônico do século XVII, principalmente na Bahia e o Barroco mineiro do século XVIII, conhecido como o Barroco tardio. Com o passar do tempo Portugal perdeu grande parte de suas colônias no Oriente, passando a depender cada vez mais da exploração do Brasil.
    A decadência da economia canavieira e a descoberta de ouro em Minas Gerais provocaram o deslocamento do eixo econômico, político e cultural para o Sudeste do país. (Lembre-se de que antes o centro de todas as atividades era o Nordeste, principalmente os estados de Pernambuco e Bahia). Os aumentos frequentes dos impostos pagos pelos brasileiros sobre os minérios e as mercadorias em geral, provocaram uma insatisfação generalizada e fizeram com que os brasileiros começassem a manifestar os primeiros desejos de emancipação, que culminaram com a Inconfidência Mineira, da qual muitos do poetas árcades participaram.
    Em nosso país, o movimento arcádico encontrou expressão num grupo de poetas que viveram em Minas Gerais, na época o principal centro econômico do Brasil em razão da descoberta do ouro e diamante. Na obra desses poetas podemos reconhecer a presença não só de alguns elementos típicos da natureza brasileira(o que os distingue, portanto, dos poetas portugueses) como também certa tendência para a confissão de dramas sentimentais e amorosos, antecipando assim o estilo romântico que surgiria plenamente no século seguinte.
    Dos poetas do nosso Arcadismo, merecem destaque Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto, Basílio da Gama e Santa Rita Durão.

CARACTERÍSTICAS

    Esses fatos foram responsáveis por um grande sentimento nativista, o índio aparece pela primeira vez como herói literário. O Arcadismo brasileiro assinala o início da busca de uma identidade nacional para a nossa literatura, o que só será alcançado, segundo alguns estudiosos no movimento posterior, ou seja, no Romantismo.

Os principais autores do Arcadismo brasileiro foram:

*  Cláudio Manuel da Costa

*  Tomás Antônio Gonzaga

*  Basílio da Gama

*  Santa Rita Durão

    Dos quatro, apenas Tomás Antônio Gonzaga não era brasileiro. Além de apresentarem semelhanças quanto à produção árcade, todos tiveram envolvimento com a Inconfidência Mineira. Eles escreveram nos mais variados gêneros literários.

        Vejamos as principais vertentes do Arcadismo brasileiro:

                            - POESIA LÍRICA

*ARCADISMO

BRASILEIRO           - POESIA SATÍRICA

                             -POESIA ÉPICA

    A poesia lírica ora apresenta resíduos do Barroco, ora apresenta antecipações do Romantismo. Seus principais representantes são Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. Esse último, Tomás Antônio Gonzaga, foi também a figura central da poesia satírica. E na poesia épica destacam-se Cláudio Manuel da Costa, Basílio da Gama e Santa Rita Durão.

Cláudio Manuel da Costa(1729-1789)

    Escritor de transição entre o estilo barroco cultista e as novas tendências, nasceu no Brasil, mas, como a maioria dos nossos escritores, foi para Portugal, tendo estudado Direito em Coimbra. Em 1768 lança o livro Obras, que iniciou o Arcadismo entre nós. Nesse mesmo ano fundou a Arcádia Ultramarina. Participou da Inconfidência Mineira, foi preso e enforcou-se na prisão em 1789.
    Ele foi o primeiro e mais acabado poeta árcade. Suas poesias anteriores a Obras são ainda barrocas. Depois de 1768, voltou-se para motivos bucólicos e a natureza brasileira foi pano-de-fundo de seus textos e também sua confidente (traço que antecipa o Romantismo). Sua musa era Nise e seus sonetos têm da influência de Camões.
    Seu pseudônimo árcade era Glauceste Satúrnio e sua musa inspiradora era Nise. Sua obra lírica foi muito influenciada pelo Classicismo português, embora também apresentasse em alguns momentos resíduos do Barroco. Os temas mais comuns de sua poesia lírica são: o sentimento amoroso e a descrição da natureza.
    É frequente em seus textos uma tentativa de conciliação das características do Arcadismo e a paisagem mineira. Mas apesar dessa identidade com a região mineira, mostra em vários momentos um grande apego à metrópole portuguesa. A paisagem mineira aparece em sua obra através de referências à natureza áspera da região. Palavras como: pedras, rochedos, penhascos e penhas são recorrentes em sua obra, como vemos neste fragmento:

“... Destes penhascos fez a natureza

O berço, em que nasci! oh quem cuidara

Que entre penhas tão duras se criara

Uma alma terna, um peito sem dureza!”

Cláudio Manuel da Costa também escreveu um poema épico chamado Vila Rica, em que narra a história da fundação da cidade, enaltecendo os feitos dos bandeirantes.

          Tomás Antônio Gonzaga(1744-1810)

    Nasceu em Portugal. Viveu a infância e a adolescência no Brasil. Voltou a Portugal e estudou Direito em Coimbra. Voltou ao Brasil já com 38 anos e apaixonou-se por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a Marília, com quem pretendia casar-se. Mas, durante a Inconfidência Mineira, foi preso e condenado ao degredo em Moçambique, onde se casou com uma rica viúva e morreu em 1810, sem ter voltado ao Brasil.

Seu pseudônimo árcade era Dirceu e sua musa inspiradora era Marília. Entre suas principais obras estão Cartas Chilenas e Marília de Dirceu.

Cartas Chilenas são poemas satíricos escritos em decassílabos, mas com uma estrutura epistolar, ou seja, em formato de cartas. Esses textos eram manuscritos e circularam na cidade de Vila Rica, pouco tempo antes da Inconfidência Mineira, eles contavam a história de Fanfarrão Minésio, um governador arbitrário, imoral e narcisista. O emissor das cartas era Critilo e o destinatário era Doroteu. Após vários estudos, descobriu-se que Critilo era o próprio Tomás Antônio Gonzaga e que Doroteu era Cláudio Manuel da Costa. Mas por que Cartas Chilenas? Na realidade o Chile era Minas Gerais e Santiago era Vila Rica; Tomás Antônio Gonzaga estava criticando o próprio governador da época. (Luís da Cunha Meneses). Suas sátiras em geral criticavam pessoas especificas e não instituições.

Essas cartas são um importante documento histórico da época da mineração. Observe a descrição ferina que faz do governador:

Tem pesado semblante, a cor é baça
O corpo de estatura um tanto esbelta,
Feições compridas e olhadura feia,
Tem grossas sobrancelhas, testa curta,
Nariz direito e grande, fala pouco
Em rouco, baixo som de mau falsete,
Sem ser velho, já tem cabelo ruço
E cobre este defeito a fria calva
A força de polvilho que lhe deita.
Ainda me parece que estou vendo
No gordo rocinante escarranchado
As longas calças pelo umbigo atadas,
Amarelo colete e sobre tudo
Vestida uma vermelha e justa farda.
De cada bolso da fardeta, pendem
Listadas pontas de dois brancos lenços;
Na cabeça vazia se atravessa
Um chapéu desmarcado, nem sei como
Sustenta o pobre só do laço o peso.

As liras de Marília de Dirceu, inspiradas romance do poeta com Maria Dorotéia, tornaram-se uma das obras mais publicadas em língua portuguesa (liras são composições poéticas em que se repete, a cada estrofe, um estribilho, um refrão).

A obra está dividida em duas partes: na primeira, encontramos a felicidade proporcionada pelo amor. Na Segunda, num tom mais negativo, provocado pelos sofrimentos advindos da prisão, encontramos uma série de reflexões sobre a justiça humana e a lembrança da amada. 

a) na primeira, usando uma linguagem simples, quase ingênua, descreve a amada, fala sobre o namoro e traça planos de felicidade conjugal:

Lira XXI
Não sei, Marília, que tenho
Depois que vi o teu rosto;
Pois quanto não é Marília
Já não posso ver com gosto.
Noutra idade me alegava,
Até quando conversava
Com o mais rude vaqueiro:
Hoje, ó bela, me aborrece
Inda o trato lisonjeiro
Do mais discreto pastor.
Que efeitos são os que sinto!
Serão efeitos de Amor?
Saio da minha cabana
Sem reparar no que faço;
Busco o sítio aonde moras,
Suspendo defronte o passo.
Fito os olhos na janela
Aonde, Marília bela,
Tu chegas ao fim do dia;
Se alguém passa, e te saúda,
Bem que seja cortesia,
Se acende na face a cor.
Que efeitos são os que sinto!
Serão efeitos de Amor?

b) na parte final, escrita na prisão, quando seus sonhos foram desfeitos, revela amargura, abatimento e revolta: 

Lira XV

Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua aldeia;
Vestia finas lãs, e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal, e o manso gado, casa
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.
Para ter que te dar, é que eu queria
De mor rebanho ainda ser o dono;
Prezava o teu semblante, os teus cabelos
Ainda muito mais que um grande Trono.
Agora que te oferte já não vejo
Além de um puro amor, de um são desejo.
Se o rio levantado me causava,
Levando a sementeira, prejuízo,
Eu alegre ficava apenas via
Na tua breve boca um ar de riso.
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto
De ver-te ao menos compassivo o rosto.
Propunha-me dormir no teu regaço
As quentes horas da comprida sesta,
Escrever teus louvores nos olmeiros,
Toucar-te de papoulas na floresta.
Julgou o justo Céu, que não convinha
Que a tanto grau subisse a glória minha.
Ah! Minha Bela, se a Fortuna volta,
Se o bem, que já perdi, alcanço, e provo;
Por essas brancas mãos, por essas faces
Te juro renascer um homem novo;
Romper a nuvem, que os meus olhos cerra,
Amar no Céu a Jove, e a ti na terra
    

Tomás Antônio Gonzaga realmente foi preso e degredado para Moçambique por sua participação na Inconfidência Mineira.

 Basílio da Gama(1740-1795)

     Outro grande árcade foi Basílio da Gama. Brasileiro, estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro. Em 1768, quando estava em Lisboa, foi acusado de ligação com os jesuítas. Julgado pelo Tribunal da Inquisição, foi condenado ao degredo em Angola. Mas o poeta soube atrair as simpatias e o perdão do Marquês de Pombal, dedicando um epitalâmio (poema que celebra o casamento de alguém) a sua filha.

Agradecido ao Marquês, escreveu o poema épico e antijesuítico O Uruguai, em 1769. O assunto é a luta entre os índios dos Sete Povos das Missões (no Uruguai) contra o exército luso-espanhol que deveria transferir as missões para os domínios portugueses na América e a Colônia do Sacramento para a Espanha.

Sua obra mais importante é sem dúvida o poema épico, O Uraguai, que narra as lutas dos índios de Sete Povos das Missões, no Uruguai contra o exército luso-espanhol. Basílio da Gama não fica preso ao modelo camoniano, o poema apresenta apenas cinco cantos e os versos são brancos, ou seja, sem rimas e não estão divididos em estrofes. As personagens mitológicas são substituídas por elementos da cultura indígena. Aparece a figura do índio como “bom selvagem” e a descrição da natureza brasileira, numa espécie de antecipação romântica. Entre as personagens destacam-se: Gomes Freire Andrada, o herói português; Balda o vilão, uma caricatura dos jesuítas e os índios Cacambo, Lindóia, sua esposa, Caitutu e Tanajura, a vidente.

Basílio da Gama quebra a estrutura da epopeia clássica e começa seu poema pela narração. Ele constitui-se de cinco cantos, em versos decassílabos brancos (sem rima) e sem divisão em estrofes. No primeiro canto, as tropas espanholas juntam-se às portuguesas. No segundo, descreve a batalha entre índios e as tropas, com a derrota dos primeiros. No terceiro, Cacambo, o indígena marido de Lindóia, ateia fogo ao acampamento dos brancos. Balda, o vilão jesuíta, prende e envenena o índio. Lindóia tem visões, mero pretexto para Basílio da Gama contar os feitos do Marquês de Pombal, que reconstrói Lisboa após o terremoto. No quarto canto, vemos a preparação para o casamento forçado de Lindóia com Baldetta (sucessor de Cacambo) e a seguir o suicídio de Lindóia. No último canto descrevem-se os crimes dos jesuítas e sua prisão. O episódio mais famoso do poema é a morte de Lindóia, que se deixa ser picada por uma serpente venenosa, depois da morte do marido.

Leia este fragmento da morte de Lindóia, em que, estando todos reunidos para o casamento, estranham a demora da noiva. Seu irmão, o índio Caitutu, vai procurá-la no jardim onde se refugiara:

Morte de Lindóia (fragmento)

Este lugar delicioso e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.

Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola em seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.

Fogem de a ver assim, sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe,
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro
E fuja, e apresse no fugir a morte.

Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia, e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.

Açouta o campo coa ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.

Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o branco peito.

Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.

Nos Olhos Caitutu não sofre o pranto.
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.

É por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste;
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!

Santa Rita Durão(1722-1784)

Embora fosse brasileiro, ainda jovem foi para Portugal e nunca mais voltou ao Brasil. Publicou em 1781 o poema épico Caramuru.
Denotando considerável influência camoniana, seu poema compõe-se de dez cantos, versos decassílabos, oitava rima (ABABABCC) e, embora não utilize a mitologia pagã, tem a divisão da epopeia clássica: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo. Santa Rita foi o primeiro autor brasileiro a utilizar uma lenda nacional como assunto: o naufrágio de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, na costa baiana, seu amor por Paraguaçu e a partida dos dois para a Europa, momento em que várias índias apaixonadas perseguem o navio a nado. Dentre elas, destaca-se Moema, a amante preterida no casamento.
Caramuru, poema épico que narra a descobrimento da Bahia, é a sua obra mais importante desse autor, mas segundo histórias, Caramuru não foi bem aceito na época, o que fez Santa Rita Durão rasgar todos os outros poemas que já havia escrito.
    O poema, escrito nos moldes da épica camoniana, caracteriza-se pela exaltação da paisagem brasileira. Entre as personagens destacam-se: o português Diogo Alves Correia, o Caramuru; e as índias Moema e Paraguaçu. Moema era apaixonada por Diogo, mas é Paraguaçu quem se casa com ele. Quando os dois estão indo para Paris, Moema se lança ao mar nadando atrás do navio e acaba morrendo afogada.
O episódio mais famoso é a morte de Moema. Vejamos a ilustração: 

                A Morte de Moema, Vitor Meireles (1832 – 1903)

Leia um fragmento do episódio da morte de Moema: 

Perde o lume dos olhos, pasma e treme,

Pálida a cor, o aspecto moribundo;

Com mão já sem vigor, soltando o leme,

Entre as salsas escumas desce ao fundo.

Mas na onda do mar, que, irado, freme,

Tornando a aparecer desde o profundo,

—” Ah! Diogo cruel!” — disse com mágoa,

E sem mais vista ser, sorveu-se na água.

Outros autores do Arcadismo, porém de menor expressão, foram:

Alvarenga Peixoto (1744-1793) – participou da Inconfidência Mineira e propôs o lema Libertas quae sera tamen (Liberdade ainda que tardia) que deveria figurar na bandeira republicana. Preso, é deportado para Angola. Em seus versos, de extremado apuro formal, combateu o colonialismo.

Silva Alvarenga (1749-1814) – reorganizou a Academia Científica do Rio de Janeiro, que passou a chamar-se Sociedade Literária (1786). Acusado de propagar idéias subversivas, foi preso e depois perdoado pela rainha D. Maria. Para sua musa escreveu os rondós e madrigais de Glaura. Compôs ainda Poesias diversas e O desertor da letras, poema herói-cômico, satirizando o sistema escolástico de Coimbra.

Período De Transição (1808-1836)

No início do século XIX, Portugal achava-se numa situação difícil: optar entre a dependência econômica inglesa e o poderio militar francês. Afugentada pelas tropas de Napoleão, que invadiram Portugal no início do século XIX, a Família Real portuguesa chegou ao Brasil em 22 de janeiro de 1808.

O Brasil foi, subitamente, elevado da condição de Colônia à de Reino Unido a Portugal e Algarve e, o Rio de Janeiro transformou-se em sede política, econômica e cultural da Monarquia. Estava próxima nossa emancipação política, apressada pelas reformas de D. João VI. Ele remodelou a cidade do Rio de Janeiro e o Brasil começou a ganhar os contornos de uma nação. A abertura dos portos brasileiros às “nações amigas” permitiu que circulassem novas ideias, gostos e hábitos. Fundaram-se escolas de ensino superior e academias, liberou-se a imprensa.

Contratada por D. João VI, chegou ao Brasil, em 1816, a Missão Francesa com a tarefa de ensinar artes e ofícios aos brasileiros. O arquiteto Montigny, os escultores Auguste-Marie Taunay e Marc Ferrez, os pintores Nicolas Antoine Taunay e Jean-Baptiste Debret introduziram no Brasil o Neoclassicismo e inauguraram o gosto pelos temas históricos e nacionais (em oposição ao Barroco das igrejas). Com eles o Brasil ganhou imagem própria, distanciando-se da matriz. Em 1821, D. João VI voltou para Portugal e aqui ficou o príncipe regente D. Pedro I, que proclamou nossa independência em 1822.

Produção Literária

A literatura desse período, chamado também de Pré-Romantismo, caracterizou-se pela tentativa de abolir os modelos clássicos. No entanto, numa época em que ocorreram mudanças tão intensas em todos os setores da sociedade, floresceu uma poesia de segunda linha, uma poesia retórica, cujo objetivo era ensinar, persuadir, moralizar: o poema sacro, em que se destacaram Elói Ottoni, Sousa Caldas e Américo Elísio (pseudônimo de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência).

Desenvolveram-se também nesse período os gêneros públicos: sermão, discurso, artigo e ensaio de jornal. Neste último campo destacaram-se Hipólito da Costa Pereira, fundador do jornal Correio Braziliense, e Evaristo da Veiga. Ambos foram indispensáveis para a formação e expansão de um público leitor no Brasil.

É na oratória, porém, que se prenuncia o Romantismo. Frei Monte Alverne, em seus sermões, funde à fé, ao sentimento religioso as “harmonias da natureza” e as “glórias da pátria”.

As ladeiras de Ouro Preto, antiga Vila Rica, hoje patrimônio cultural da humanidade, guardam as lembranças do século do ouro. Poetas, inconfidentes, músicos, pintores e escultores deixaram suas marcas na cidade-símbolo do desenvolvimento urbano brasileiro.

A Igreja São Francisco de Paula foi a última igreja levantada em Ouro Preto durante o período colonial. Sua construção demorou um século, de 1804 a 1904.

    O Arcadismo brasileiro foi o movimento que assinalou o início da busca de uma identidade nacional para a nossa literatura.


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