quinta-feira, 26 de maio de 2022

LITERATURA - ROMANTISMO

 

    O Romantismo com letra maiúscula. E por que com letra maiúscula? Porque é importante distinguirmos o movimento literário do sentimento, da atitude espiritual, do modo de agir e pensar caracterizado pelo sonho e pela atitude emotiva diante das coisas. Esse comportamento romântico sempre existiu e vai existir – é atemporal. É neste sentido que falamos de um filme ou de uma música romântica. É o romantismo com letra minúscula.

    O Romantismo teve suas origens no final do século XVIII, na Alemanha e Inglaterra. Na Alemanha, o movimento pré-romântico Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto), de acentuado caráter nacionalista, desencadeou o Romantismo. Goethe, com o seu Werther, romance que conta os sofrimentos amorosos de um jovem e seu suicídio, foi responsável por uma onda europeia de emotividade e imitações.

    Na Inglaterra, Sir Walter Scott escreveu romances históricos, uma tendência fundamental no Romantismo, e Lord Byron é a expressão do ideal romântico: o poeta como libertador dos povos, pois, além de escrever poesia ultra-romântica, participou das lutas pela independência da Grécia.

    Mas foi a França a responsável pela divulgação das novas ideias, influenciadas, em grande parte, pela teoria do bom selvagem de Jean-Jacques Rousseau, segundo a qual o homem nasce bom, mas a sociedade civilizada o corrompe.

    O Romantismo coincide com a ascensão econômica e política da burguesia e expressa os sentimentos dos descontentes com as novas estruturas e relações sociais: de um lado, a nobreza que já não desfruta dos mesmos privilégios e, de outro, a pequena burguesia que ainda não ascendeu. O Romantismo permanece no cenário literário até por volta da primeira metade do século XIX, quando apareceram as primeiras manifestações realistas. Esse movimento foi marcado por três fatos fundamentais:

1) aparecimento de um novo público leitor, resultado de uma literatura mais popular, expressa numa linguagem mais acessível a leitores sem cultura clássica;

2) surgimento do romance como forma mais difundida e acessível de comunicação literária;

3) consolidação do teatro, que ganha novo impulso e, abolindo a rígida estrutura clássica, cria o drama.

Principais características do estilo romântico:

1) sentimentalismo: a valorização das emoções e dos sentimentos leva ao subjetivismo e ao egocentrismo (o eu é o centro do universo);

2) supervalorização do amor: o amor passou a ser o valor mais importante em relação àquele cultivado pela burguesia: o dinheiro;

3) mal-do-século: o desajustamento do poeta sentimental, introvertido, face à realidade gera uma sensação de angústia, melancolia, insatisfação e tédio, que o leva a buscar saídas, refúgios para seu mal;

4) evasão: a saída para o mal-do-século é a idealização, um mecanismo de fuga da realidade que se dá por meio de:

a) evasão no espaço: exaltação da natureza concebida como extensão do eu do poeta: o cenário mimetiza os estados de espírito da personagem;

b) evasão no tempo: volta à infância, volta aos primórdios da constituição da nação na busca de heróis nacionais (no Brasil essa busca concretizou-se no indianismo);

c) idealização: da sociedade, do amor, da mulher;

d) morte: a fuga mais radical e decisiva para todos os conflitos.

Formalmente, a ordem é liberdade: são usados o verso livre (sem métrica nem estrofação) e o verso branco (sem rima) ao mesmo tempo em que renascem as formas medievais de estrofação, dando-se preferência a metros breves, de cadência popular (as redondilhas maiores e menores), usados ao lado de decassílabos.

    No Brasil, o Romantismo inicia-se com Gonçalves de Magalhães, em 1836, com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades. Durante seu período de vigência, desenvolveram-se a poesia, a prosa e o teatro.

    O contexto histórico do período marcou-se pelas disputas de poder e pelas revoluções, principalmente a Francesa, que consolidou a transferência do absolutismo para o liberalismo, ou seja, o poder que sempre esteve nas mãos da nobreza, da aristocracia é conquistado pela burguesia, que contava com o apoio do povo. Todo este contexto vai se refletir na produção literária romântica.

 CARACTERÍSTICAS

     A ascensão da burguesia, da chamada classe média, provoca uma alteração, um deslocamento do público consumidor da literatura, que até então era o nobre. No Romantismo quem lia era o burguês. A literatura tornou-se mais popular, com um caráter mais nacional. Surgem os primeiros folhetins, espécie de precursores das nossas telenovelas. O leitor buscava na literatura uma forma de entretenimento. O Romantismo é considerado, por excelência, o movimento literário da burguesia.

Romantismo no Brasil (1836-1881)

    O Romantismo foi o primeiro movimento literário brasileiro da Era Nacional. Nosso país acabara de tornar-se politicamente independente e reivindicava, agora, uma literatura autônoma que refletisse nossa realidade. Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, iniciou, em 1836, o Romantismo, que se encerrou em 1881. A estética romântica foi fértil em poesia e prosa e viu nascer o teatro nacional.

Contexto Histórico

    A Europa do século XIX assistiu a transformações radicais, resultado da Revolução Industrial (que fez surgir uma nova classe, o proletariado) e da Revolução Francesa, que, com seu ideal de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, subverteu as relações sociais. A burguesia, econômica e politicamente forte, impulsionou a livre concorrência e foi responsável por uma sociedade materialista.

    Independente desde 1822, o Brasil, no entanto, conservou a mesma estrutura da sociedade colonial: patriarcal, assentada na mão-de- obra e nos latifúndios. Da independência até a abdicação de D. Pedro I, em 1831, o país viveu um período difícil. Cedo começaram os problemas resultantes da personalidade autoritária de D. Pedro: dissolução da Assembleia Constituinte por ordem do imperador; outorga da primeira Constituição em 1824; Confederação do Equador*; Guerra Cisplatina (e a criação da República Independente do Uruguai). Nesse período, o Brasil pediu um empréstimo de dois milhões de libras esterlinas à Inglaterra para pagar a indenização por nossa independência a Portugal. Todo esse quadro levou à abdicação de D. Pedro I em favor de seu filho de apenas cinco anos, em 1831.

    Contemporânea ao movimento de Independência de 1822, a literatura romântica sempre expressou sua ligação com a política e, ao lado da euforia da liberdade e do desejo de construção de uma pátria brasileira, surgiu também o desejo de criação de uma literatura autenticamente brasileira; o esforço para essa realização, como afirma o crítico Antônio Cândido, era visto como "um ato de brasilidade".

    A marca principal da poesia romântica é a expressão plena dos sentimentos pessoais, com os autores voltados para seu mundo interior e fazendo da literatura um meio de desabafo e confissão. Embora essas características, de certo modo, já fossem perceptíveis em autores do Arcadismo, como Gonzaga, por exemplo, é na época romântica que elas adquirem maior intensidade.

Com a afirmação do indivíduo, os sentimentos começam a tomar o lugar da razão como instrumento de análise do mundo, e a vida passa a ser encarada de um ângulo bem pessoal, em que sobressai um intenso desejo de liberdade. Essa ânsia de libertação, que nasce no interior do poeta, em determinado momento alcança também o nível social, com o artista romântico colocando-se como porta-voz dos oprimidos e usando seu talento para protestar contra as tiranias e injustiças sociais, ao mesmo tempo que valoriza a pátria e os elementos que a representam. Nasce, assim, um ardente nacionalismo, outra característica marcante do movimento romântico, e que no Brasil gerou o Indianismo, que foi uma forma de exaltação do indígena, encarado como representante heroico da terra brasileira.

Por outro lado, o desejo de liberdade revela-se também na linguagem usada pelos românticos, que abandonam aos poucos o tom lusitano em favor de um estilo mais próximo da fala brasileira, tanto no vocabulário quanto nas construções sintáticas, provocando com isso a censura de muitos puristas da época, que achavam que nossos escritores deviam continuar fiéis à linguagem literária praticada em Portugal. Esse espírito de renovação linguística é uma contribuição importante do Romantismo e foi retomado, bem mais tarde, pelos modernistas.

As gerações românticas

1ª GERAÇÃO (NACIONALISTA OU INDIANISTA): caracterizou-se, sobretudo, pela criação do herói nacional, pelo lirismo amoroso e pelo paisagismo. Os principais autores são: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto-Alegre.

2ª GERAÇÃO (BYRONIANA OU DO MAL-DO-SÉCULO): caracterizou-se pela obsessão à morte, sentimento de tédio, pessimismo, individualismo, melancolia e morbidez. Os principais autores são: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire.

3ª GERAÇÃO (CONDOREIRA): seu emblema foi uma poesia de caráter social – patriótica, antiescravagista, abolicionista. Seu mais importante poeta foi Castro Alves.

A presença do nacional nos motivos e na linguagem foi a característica comum às três gerações românticas.

  A próxima imagem é considerada um dos símbolos do Romantismo:

A liberdade guiando o povo, quadro de Delacroix.

“Liberdade, Igualdade e Fraternidade” tornam-se palavras de ordem na época, quer no campo político, econômico ou social.

E como não podia deixar de ser, liberdade é a palavra de ordem também no plano literário.

As principais características do Romantismo são:

*  INDIVIDUALISMO

*  EMOÇÃO

*  ESCAPISMO

*  LIBERDADE

Mas o que significa cada uma dessas características?

No individualismo/egocentrismo/egotismo = O “eu” é a figura principal. Nunca em nenhum movimento a imposição do “eu” foi tão forte. Temos um predomínio da primeira pessoa. Para o Romantismo uma das questões centrais é aquilo que cada pessoa tem de particular, de exclusivo.

Há um predomínio da emoção, do subjetivismo = Sendo o indivíduo a figura principal, toda a produção se fundamenta na emoção, na imaginação. Ao contrário da disciplina das escolas anteriores, o poeta romântico é livre, livre para sentir e expressar seus sentimentos e desejos. Só através da emoção o artista romântico consegue expressar o seu interior, o seu eu.

Escapismo ou evasão = Mas nessa ânsia de sentir e de imaginar o autor romântico se depara com a realidade, com uma realidade que nem sempre é a desejada, o que lhe provoca atitudes diversas: ou a atitude revolucionária, principalmente dos poetas da terceira geração, dos quais falaremos nas próximas aulas, ou a frustração, a insatisfação e o desejo de fuga. Vejamos um esquema que ilustra esse escapismo:

*ESCAPISMO     - NATUREZA
                     - 
SONHO
                              - MORTE

Esse escapismo se manifestou de formas diversas entre os românticos: na natureza, vista como um refúgio, um lugar ainda não corrompido; nos sonhos, substituindo as dores da vida real; na morte vista como algo positivo e constantemente invocada. Há ainda outras formas de fuga que a essas se unem: a vida boêmia, o culto da solidão, o gosto pelo passado, por lugares exóticos e mórbidos. Veja o seguinte fragmento em que o autor deseja a morte:

 “Por isso, é morte, eu amo-te e não temo.

Por isso, é morte, eu quero-te comigo.

Leva-me à região da paz horrenda,

Leva-me ao nada, leva-me contigo.”

                                             Junqueira Freire

A liberdade de criação = Os românticos abandonaram as formas fixas dos modelos clássicos {ode, soneto, decassílabos, etc.}; abandonaram as rimas e valorizaram o verso branco, ou seja, o verso não rimado; promoveram uma mistura de gêneros; enriqueceram a língua incorporando neologismos (palavras novas) e aproximando a linguagem literária da coloquial. Veja o que diz um romântico sobre a ideia da liberdade de criação:

“Quanto à forma ... nenhuma ordem seguimos; exprimindo as ideias como elas se apresentam, para não destruir o acento da inspiração ...”

                             Gonçalves de Magalhães

Para o autor romântico o importante era a expressão dos seus sentimentos, do seu mundo interior, independentemente de qualquer forma preestabelecida. Todas essas características se refletem em vários temas. Veja os principais:

*  NACIONALISMO

*  RELIGIOSIDADE

 

                               - DO AMOR

*  IDEALIZAÇÃO

                                -DA MULHER

No nacionalismo = Ocorre a valorização da pátria, dos heróis nacionais e do passado histórico. No caso de Portugal, retomam-se os mitos dos grandes cavaleiros e heróis medievais. No Brasil, como não tivemos Idade Média, nos moldes do colonizador, cria-se o “mito do bom selvagem”. O índio aparece idealizado nos textos românticos, é sempre bom, forte e bonito, passando a representar o nosso cavaleiro medieval.

Religiosidade = Em oposição ao paganismo da escola anterior, redescobrem-se as fontes bíblicas, principalmente as derivadas do cristianismo.

Idealização do amor e da mulher = O amor é tido como a essência da vida, como o sentido de tudo e consequentemente, a mulher, objeto do amor romântico, é divinizada, cultuada. Ela era misteriosa, pura – a virgindade era muito valorizada, quase toda heroína romântica era virgem. Mas apesar desse caráter angelical, alguns textos românticos apresentam muito sensualismo.

Não se esqueça que: o Romantismo foi o movimento literário responsável por uma subjetividade extrema, jamais vista em toda a arte ocidental.


ARCADISMO NO BRASIL

 Situação Cultural

A segunda metade do século XVIII na Europa apresenta, de modo geral, uma importante fase de transformação cultural.
Seu ponto de partida foi a França, onde, em 1751, é publicada a Enciclopédia, símbolo de renovação cultural que tinha à frente D'Alembert, Diderot e Voltaire. Os enciclopedistas deram grande impulso ao desenvolvimento das ciências, valorizando a razão como agente propulsor do progresso social e cultural. Essa onda de racionalismo opôs-se às ideias religiosas da época, que são atacadas e consideradas retrógradas.
    Todo esse movimento de renovação, chamado Iluminismo, espalhou-se pela Europa e atingiu Portugal. Coube ao marquês de Pombal, ministro de D. José I, levar a cabo a tarefa de renovação cultural, tentando colocar Portugal em dia com o progresso do resto da Europa.
    Em 1759, os jesuítas são expulsos de Portugal e o ensino, que estava quase todo em suas mãos, torna-se então leigo. Fundam-se escolas e academias, e respira-se em Portugal um clima de novidade e mudanças no campo da arte, da ciência e da filosofia.

O Novo Estilo Literário

    Dentro desse panorama de renovação cultural, surge um novo estilo poético: o Arcadismo.
    Reagindo contra os exageros do estilo barroco, os autores da segunda metade do século XVIII propõem uma literatura que seja mais simples e espontânea. Vivendo numa época de euforia e confiantes no progresso científico, esses novos autores não foram tão religiosos nem expressaram tantos problemas metafísicos quanto os barrocos.
    O Arcadismo expressa uma visão mais sensualista da existência, propondo uma volta à natureza e um contato maior com a vida simples do campo. Em pleno século XVIII, os poetas arcádicos recriam em seus textos as paisagens campestres de outras épocas, com pastores e pastoras cantando e vivendo uma existência sadia e amorosa, preocupados apenas em cuidar de seus rebanhos; esse tipo de recriação da vida é chamado de bucolismo e constitui uma das características marcantes da poesia arcádica. Aliás, o desejo de identificação com a figura de pastores levou os poetas arcádicos a adotarem para si pseudônimos gregos e latinos e a se referirem, em suas poesias, a elementos da mitologia clássica (ninfas, deuses etc.). O próprio nome Arcadismo foi tirado de Arcádia, região da Grécia onde, segundo a mitologia, pastores e poetas viveriam uma existência de amor e poesia.
    Valorizando a razão e a simplicidade, os arcádicos inspiraram-se na sobriedade dos poetas clássicos do Renascimento (sobretudo Camões) e da antiguidade grega e latina. Daí o nome de Neoclassicismo com que também se costuma designar esse período.

O Arcadismo no Brasil CONTEXTO HISTÓRICO

   O Arcadismo brasileiro tem como marco inicial a publicação das Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa, em 1768, e se estende até 1836 com a publicação de Suspiros poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, obra que instaura o Romantismo brasileiro. A cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto em Minas Gerais foi sede dos principais acontecimentos do século XVIII, assistiu ao ciclo da mineração, à Inconfidência, à grande produção dos poetas árcades.
Vila Rica também foi palco do grande artista plástico, arquiteto e escultor brasileiro desse período – Antônio Francisco Lisboa, o nosso Aleijadinho. Lembre-se de que o Barroco no Brasil compreende duas grandes manifestações: o Barroco Literário e arquitetônico do século XVII, principalmente na Bahia e o Barroco mineiro do século XVIII, conhecido como o Barroco tardio. Com o passar do tempo Portugal perdeu grande parte de suas colônias no Oriente, passando a depender cada vez mais da exploração do Brasil.
    A decadência da economia canavieira e a descoberta de ouro em Minas Gerais provocaram o deslocamento do eixo econômico, político e cultural para o Sudeste do país. (Lembre-se de que antes o centro de todas as atividades era o Nordeste, principalmente os estados de Pernambuco e Bahia). Os aumentos frequentes dos impostos pagos pelos brasileiros sobre os minérios e as mercadorias em geral, provocaram uma insatisfação generalizada e fizeram com que os brasileiros começassem a manifestar os primeiros desejos de emancipação, que culminaram com a Inconfidência Mineira, da qual muitos do poetas árcades participaram.
    Em nosso país, o movimento arcádico encontrou expressão num grupo de poetas que viveram em Minas Gerais, na época o principal centro econômico do Brasil em razão da descoberta do ouro e diamante. Na obra desses poetas podemos reconhecer a presença não só de alguns elementos típicos da natureza brasileira(o que os distingue, portanto, dos poetas portugueses) como também certa tendência para a confissão de dramas sentimentais e amorosos, antecipando assim o estilo romântico que surgiria plenamente no século seguinte.
    Dos poetas do nosso Arcadismo, merecem destaque Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto, Basílio da Gama e Santa Rita Durão.

CARACTERÍSTICAS

    Esses fatos foram responsáveis por um grande sentimento nativista, o índio aparece pela primeira vez como herói literário. O Arcadismo brasileiro assinala o início da busca de uma identidade nacional para a nossa literatura, o que só será alcançado, segundo alguns estudiosos no movimento posterior, ou seja, no Romantismo.

Os principais autores do Arcadismo brasileiro foram:

*  Cláudio Manuel da Costa

*  Tomás Antônio Gonzaga

*  Basílio da Gama

*  Santa Rita Durão

    Dos quatro, apenas Tomás Antônio Gonzaga não era brasileiro. Além de apresentarem semelhanças quanto à produção árcade, todos tiveram envolvimento com a Inconfidência Mineira. Eles escreveram nos mais variados gêneros literários.

        Vejamos as principais vertentes do Arcadismo brasileiro:

                            - POESIA LÍRICA

*ARCADISMO

BRASILEIRO           - POESIA SATÍRICA

                             -POESIA ÉPICA

    A poesia lírica ora apresenta resíduos do Barroco, ora apresenta antecipações do Romantismo. Seus principais representantes são Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. Esse último, Tomás Antônio Gonzaga, foi também a figura central da poesia satírica. E na poesia épica destacam-se Cláudio Manuel da Costa, Basílio da Gama e Santa Rita Durão.

Cláudio Manuel da Costa(1729-1789)

    Escritor de transição entre o estilo barroco cultista e as novas tendências, nasceu no Brasil, mas, como a maioria dos nossos escritores, foi para Portugal, tendo estudado Direito em Coimbra. Em 1768 lança o livro Obras, que iniciou o Arcadismo entre nós. Nesse mesmo ano fundou a Arcádia Ultramarina. Participou da Inconfidência Mineira, foi preso e enforcou-se na prisão em 1789.
    Ele foi o primeiro e mais acabado poeta árcade. Suas poesias anteriores a Obras são ainda barrocas. Depois de 1768, voltou-se para motivos bucólicos e a natureza brasileira foi pano-de-fundo de seus textos e também sua confidente (traço que antecipa o Romantismo). Sua musa era Nise e seus sonetos têm da influência de Camões.
    Seu pseudônimo árcade era Glauceste Satúrnio e sua musa inspiradora era Nise. Sua obra lírica foi muito influenciada pelo Classicismo português, embora também apresentasse em alguns momentos resíduos do Barroco. Os temas mais comuns de sua poesia lírica são: o sentimento amoroso e a descrição da natureza.
    É frequente em seus textos uma tentativa de conciliação das características do Arcadismo e a paisagem mineira. Mas apesar dessa identidade com a região mineira, mostra em vários momentos um grande apego à metrópole portuguesa. A paisagem mineira aparece em sua obra através de referências à natureza áspera da região. Palavras como: pedras, rochedos, penhascos e penhas são recorrentes em sua obra, como vemos neste fragmento:

“... Destes penhascos fez a natureza

O berço, em que nasci! oh quem cuidara

Que entre penhas tão duras se criara

Uma alma terna, um peito sem dureza!”

Cláudio Manuel da Costa também escreveu um poema épico chamado Vila Rica, em que narra a história da fundação da cidade, enaltecendo os feitos dos bandeirantes.

          Tomás Antônio Gonzaga(1744-1810)

    Nasceu em Portugal. Viveu a infância e a adolescência no Brasil. Voltou a Portugal e estudou Direito em Coimbra. Voltou ao Brasil já com 38 anos e apaixonou-se por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a Marília, com quem pretendia casar-se. Mas, durante a Inconfidência Mineira, foi preso e condenado ao degredo em Moçambique, onde se casou com uma rica viúva e morreu em 1810, sem ter voltado ao Brasil.

Seu pseudônimo árcade era Dirceu e sua musa inspiradora era Marília. Entre suas principais obras estão Cartas Chilenas e Marília de Dirceu.

Cartas Chilenas são poemas satíricos escritos em decassílabos, mas com uma estrutura epistolar, ou seja, em formato de cartas. Esses textos eram manuscritos e circularam na cidade de Vila Rica, pouco tempo antes da Inconfidência Mineira, eles contavam a história de Fanfarrão Minésio, um governador arbitrário, imoral e narcisista. O emissor das cartas era Critilo e o destinatário era Doroteu. Após vários estudos, descobriu-se que Critilo era o próprio Tomás Antônio Gonzaga e que Doroteu era Cláudio Manuel da Costa. Mas por que Cartas Chilenas? Na realidade o Chile era Minas Gerais e Santiago era Vila Rica; Tomás Antônio Gonzaga estava criticando o próprio governador da época. (Luís da Cunha Meneses). Suas sátiras em geral criticavam pessoas especificas e não instituições.

Essas cartas são um importante documento histórico da época da mineração. Observe a descrição ferina que faz do governador:

Tem pesado semblante, a cor é baça
O corpo de estatura um tanto esbelta,
Feições compridas e olhadura feia,
Tem grossas sobrancelhas, testa curta,
Nariz direito e grande, fala pouco
Em rouco, baixo som de mau falsete,
Sem ser velho, já tem cabelo ruço
E cobre este defeito a fria calva
A força de polvilho que lhe deita.
Ainda me parece que estou vendo
No gordo rocinante escarranchado
As longas calças pelo umbigo atadas,
Amarelo colete e sobre tudo
Vestida uma vermelha e justa farda.
De cada bolso da fardeta, pendem
Listadas pontas de dois brancos lenços;
Na cabeça vazia se atravessa
Um chapéu desmarcado, nem sei como
Sustenta o pobre só do laço o peso.

As liras de Marília de Dirceu, inspiradas romance do poeta com Maria Dorotéia, tornaram-se uma das obras mais publicadas em língua portuguesa (liras são composições poéticas em que se repete, a cada estrofe, um estribilho, um refrão).

A obra está dividida em duas partes: na primeira, encontramos a felicidade proporcionada pelo amor. Na Segunda, num tom mais negativo, provocado pelos sofrimentos advindos da prisão, encontramos uma série de reflexões sobre a justiça humana e a lembrança da amada. 

a) na primeira, usando uma linguagem simples, quase ingênua, descreve a amada, fala sobre o namoro e traça planos de felicidade conjugal:

Lira XXI
Não sei, Marília, que tenho
Depois que vi o teu rosto;
Pois quanto não é Marília
Já não posso ver com gosto.
Noutra idade me alegava,
Até quando conversava
Com o mais rude vaqueiro:
Hoje, ó bela, me aborrece
Inda o trato lisonjeiro
Do mais discreto pastor.
Que efeitos são os que sinto!
Serão efeitos de Amor?
Saio da minha cabana
Sem reparar no que faço;
Busco o sítio aonde moras,
Suspendo defronte o passo.
Fito os olhos na janela
Aonde, Marília bela,
Tu chegas ao fim do dia;
Se alguém passa, e te saúda,
Bem que seja cortesia,
Se acende na face a cor.
Que efeitos são os que sinto!
Serão efeitos de Amor?

b) na parte final, escrita na prisão, quando seus sonhos foram desfeitos, revela amargura, abatimento e revolta: 

Lira XV

Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua aldeia;
Vestia finas lãs, e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal, e o manso gado, casa
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.
Para ter que te dar, é que eu queria
De mor rebanho ainda ser o dono;
Prezava o teu semblante, os teus cabelos
Ainda muito mais que um grande Trono.
Agora que te oferte já não vejo
Além de um puro amor, de um são desejo.
Se o rio levantado me causava,
Levando a sementeira, prejuízo,
Eu alegre ficava apenas via
Na tua breve boca um ar de riso.
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto
De ver-te ao menos compassivo o rosto.
Propunha-me dormir no teu regaço
As quentes horas da comprida sesta,
Escrever teus louvores nos olmeiros,
Toucar-te de papoulas na floresta.
Julgou o justo Céu, que não convinha
Que a tanto grau subisse a glória minha.
Ah! Minha Bela, se a Fortuna volta,
Se o bem, que já perdi, alcanço, e provo;
Por essas brancas mãos, por essas faces
Te juro renascer um homem novo;
Romper a nuvem, que os meus olhos cerra,
Amar no Céu a Jove, e a ti na terra
    

Tomás Antônio Gonzaga realmente foi preso e degredado para Moçambique por sua participação na Inconfidência Mineira.

 Basílio da Gama(1740-1795)

     Outro grande árcade foi Basílio da Gama. Brasileiro, estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro. Em 1768, quando estava em Lisboa, foi acusado de ligação com os jesuítas. Julgado pelo Tribunal da Inquisição, foi condenado ao degredo em Angola. Mas o poeta soube atrair as simpatias e o perdão do Marquês de Pombal, dedicando um epitalâmio (poema que celebra o casamento de alguém) a sua filha.

Agradecido ao Marquês, escreveu o poema épico e antijesuítico O Uruguai, em 1769. O assunto é a luta entre os índios dos Sete Povos das Missões (no Uruguai) contra o exército luso-espanhol que deveria transferir as missões para os domínios portugueses na América e a Colônia do Sacramento para a Espanha.

Sua obra mais importante é sem dúvida o poema épico, O Uraguai, que narra as lutas dos índios de Sete Povos das Missões, no Uruguai contra o exército luso-espanhol. Basílio da Gama não fica preso ao modelo camoniano, o poema apresenta apenas cinco cantos e os versos são brancos, ou seja, sem rimas e não estão divididos em estrofes. As personagens mitológicas são substituídas por elementos da cultura indígena. Aparece a figura do índio como “bom selvagem” e a descrição da natureza brasileira, numa espécie de antecipação romântica. Entre as personagens destacam-se: Gomes Freire Andrada, o herói português; Balda o vilão, uma caricatura dos jesuítas e os índios Cacambo, Lindóia, sua esposa, Caitutu e Tanajura, a vidente.

Basílio da Gama quebra a estrutura da epopeia clássica e começa seu poema pela narração. Ele constitui-se de cinco cantos, em versos decassílabos brancos (sem rima) e sem divisão em estrofes. No primeiro canto, as tropas espanholas juntam-se às portuguesas. No segundo, descreve a batalha entre índios e as tropas, com a derrota dos primeiros. No terceiro, Cacambo, o indígena marido de Lindóia, ateia fogo ao acampamento dos brancos. Balda, o vilão jesuíta, prende e envenena o índio. Lindóia tem visões, mero pretexto para Basílio da Gama contar os feitos do Marquês de Pombal, que reconstrói Lisboa após o terremoto. No quarto canto, vemos a preparação para o casamento forçado de Lindóia com Baldetta (sucessor de Cacambo) e a seguir o suicídio de Lindóia. No último canto descrevem-se os crimes dos jesuítas e sua prisão. O episódio mais famoso do poema é a morte de Lindóia, que se deixa ser picada por uma serpente venenosa, depois da morte do marido.

Leia este fragmento da morte de Lindóia, em que, estando todos reunidos para o casamento, estranham a demora da noiva. Seu irmão, o índio Caitutu, vai procurá-la no jardim onde se refugiara:

Morte de Lindóia (fragmento)

Este lugar delicioso e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.

Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola em seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.

Fogem de a ver assim, sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe,
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro
E fuja, e apresse no fugir a morte.

Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia, e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.

Açouta o campo coa ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.

Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o branco peito.

Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.

Nos Olhos Caitutu não sofre o pranto.
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.

É por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste;
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!

Santa Rita Durão(1722-1784)

Embora fosse brasileiro, ainda jovem foi para Portugal e nunca mais voltou ao Brasil. Publicou em 1781 o poema épico Caramuru.
Denotando considerável influência camoniana, seu poema compõe-se de dez cantos, versos decassílabos, oitava rima (ABABABCC) e, embora não utilize a mitologia pagã, tem a divisão da epopeia clássica: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo. Santa Rita foi o primeiro autor brasileiro a utilizar uma lenda nacional como assunto: o naufrágio de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, na costa baiana, seu amor por Paraguaçu e a partida dos dois para a Europa, momento em que várias índias apaixonadas perseguem o navio a nado. Dentre elas, destaca-se Moema, a amante preterida no casamento.
Caramuru, poema épico que narra a descobrimento da Bahia, é a sua obra mais importante desse autor, mas segundo histórias, Caramuru não foi bem aceito na época, o que fez Santa Rita Durão rasgar todos os outros poemas que já havia escrito.
    O poema, escrito nos moldes da épica camoniana, caracteriza-se pela exaltação da paisagem brasileira. Entre as personagens destacam-se: o português Diogo Alves Correia, o Caramuru; e as índias Moema e Paraguaçu. Moema era apaixonada por Diogo, mas é Paraguaçu quem se casa com ele. Quando os dois estão indo para Paris, Moema se lança ao mar nadando atrás do navio e acaba morrendo afogada.
O episódio mais famoso é a morte de Moema. Vejamos a ilustração: 

                A Morte de Moema, Vitor Meireles (1832 – 1903)

Leia um fragmento do episódio da morte de Moema: 

Perde o lume dos olhos, pasma e treme,

Pálida a cor, o aspecto moribundo;

Com mão já sem vigor, soltando o leme,

Entre as salsas escumas desce ao fundo.

Mas na onda do mar, que, irado, freme,

Tornando a aparecer desde o profundo,

—” Ah! Diogo cruel!” — disse com mágoa,

E sem mais vista ser, sorveu-se na água.

Outros autores do Arcadismo, porém de menor expressão, foram:

Alvarenga Peixoto (1744-1793) – participou da Inconfidência Mineira e propôs o lema Libertas quae sera tamen (Liberdade ainda que tardia) que deveria figurar na bandeira republicana. Preso, é deportado para Angola. Em seus versos, de extremado apuro formal, combateu o colonialismo.

Silva Alvarenga (1749-1814) – reorganizou a Academia Científica do Rio de Janeiro, que passou a chamar-se Sociedade Literária (1786). Acusado de propagar idéias subversivas, foi preso e depois perdoado pela rainha D. Maria. Para sua musa escreveu os rondós e madrigais de Glaura. Compôs ainda Poesias diversas e O desertor da letras, poema herói-cômico, satirizando o sistema escolástico de Coimbra.

Período De Transição (1808-1836)

No início do século XIX, Portugal achava-se numa situação difícil: optar entre a dependência econômica inglesa e o poderio militar francês. Afugentada pelas tropas de Napoleão, que invadiram Portugal no início do século XIX, a Família Real portuguesa chegou ao Brasil em 22 de janeiro de 1808.

O Brasil foi, subitamente, elevado da condição de Colônia à de Reino Unido a Portugal e Algarve e, o Rio de Janeiro transformou-se em sede política, econômica e cultural da Monarquia. Estava próxima nossa emancipação política, apressada pelas reformas de D. João VI. Ele remodelou a cidade do Rio de Janeiro e o Brasil começou a ganhar os contornos de uma nação. A abertura dos portos brasileiros às “nações amigas” permitiu que circulassem novas ideias, gostos e hábitos. Fundaram-se escolas de ensino superior e academias, liberou-se a imprensa.

Contratada por D. João VI, chegou ao Brasil, em 1816, a Missão Francesa com a tarefa de ensinar artes e ofícios aos brasileiros. O arquiteto Montigny, os escultores Auguste-Marie Taunay e Marc Ferrez, os pintores Nicolas Antoine Taunay e Jean-Baptiste Debret introduziram no Brasil o Neoclassicismo e inauguraram o gosto pelos temas históricos e nacionais (em oposição ao Barroco das igrejas). Com eles o Brasil ganhou imagem própria, distanciando-se da matriz. Em 1821, D. João VI voltou para Portugal e aqui ficou o príncipe regente D. Pedro I, que proclamou nossa independência em 1822.

Produção Literária

A literatura desse período, chamado também de Pré-Romantismo, caracterizou-se pela tentativa de abolir os modelos clássicos. No entanto, numa época em que ocorreram mudanças tão intensas em todos os setores da sociedade, floresceu uma poesia de segunda linha, uma poesia retórica, cujo objetivo era ensinar, persuadir, moralizar: o poema sacro, em que se destacaram Elói Ottoni, Sousa Caldas e Américo Elísio (pseudônimo de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência).

Desenvolveram-se também nesse período os gêneros públicos: sermão, discurso, artigo e ensaio de jornal. Neste último campo destacaram-se Hipólito da Costa Pereira, fundador do jornal Correio Braziliense, e Evaristo da Veiga. Ambos foram indispensáveis para a formação e expansão de um público leitor no Brasil.

É na oratória, porém, que se prenuncia o Romantismo. Frei Monte Alverne, em seus sermões, funde à fé, ao sentimento religioso as “harmonias da natureza” e as “glórias da pátria”.

As ladeiras de Ouro Preto, antiga Vila Rica, hoje patrimônio cultural da humanidade, guardam as lembranças do século do ouro. Poetas, inconfidentes, músicos, pintores e escultores deixaram suas marcas na cidade-símbolo do desenvolvimento urbano brasileiro.

A Igreja São Francisco de Paula foi a última igreja levantada em Ouro Preto durante o período colonial. Sua construção demorou um século, de 1804 a 1904.

    O Arcadismo brasileiro foi o movimento que assinalou o início da busca de uma identidade nacional para a nossa literatura.


ARCADISMO EM PORTUGAL

 

CONTEXTO HISTÓRICO

 

Arcadismo vem da palavra Arcádia, nome de uma região montanhosa do Peloponeso, na Grécia. Essa região era considerada, no plano mitológico, como o lugar de morada dos deuses. E no plano real, Arcádia era uma região habitada por pastores, que além do pastoreio, dedicavam-se à poesia.

Em Portugal, o Arcadismo corresponde ao período literário que marca a segunda metade do século XVIII. Didaticamente, ele tem início em 1756 com a fundação da Arcádia Lusitana e se estende até 1825 com a publicação do poema Camões, de Almeida Garrett, considerado o texto inicial do Romantismo português.

O Arcadismo corresponde a um período de mudanças marcantes na vida europeia como um todo. Essas mudanças fazem parte de um movimento cultural chamado Iluminismo. O Iluminismo, como o próprio nome já sugere, era a tentativa iluminar, de atualizar os conceitos e as verdades da época a partir da razão e da ciência. Por isso o século XVIII é conhecido como o “século das luzes”. E, ao contrário da tensão do período anterior, do Barroco, em muitos momentos, a produção literária da época parece ter encontrado a síntese entre a fé e a razão.

 Nesse momento surgem as primeiras arcádias, reuniões, grupos de poetas que se encontravam com o objetivo de restaurar a simplicidade e a sobriedade da Antiguidade clássica e renascentista. Daí o Arcadismo também ser chamado de Neoclassicismo (neo = novo + classicismo)

A fundação da Arcádia Lusitana representou, entre outros aspectos, um movimento rebeldia contra o Barroco. Vejamos o seu símbolo:


“Inutilia truncat” é uma frase latina que significa “cortar as inutilidades”, como sugere o desenho de um instrumento cortante, numa clara referência aos exageros do Barroco.

CARACTERÍSTICAS

 Os poetas árcades buscavam a recuperação dos ideais clássicos, e como já vimos, os clássicos, foram considerados fontes de equilíbrio e sabedoria.  Daí o nome Arcadismo, pois a Arcádia, morada dos pastores, representava o lugar ideal para a obtenção do equilíbrio e da sabedoria. É por esse motivo que muitas vezes os poetas árcades se autodenominavam pastores e adotavam pseudônimos gregos e latinos.

É a partir da clara reação contra os exageros do Barroco que surgem os principais temas do Arcadismo:

EQUILÍBRIO

BUCOLISMO

CONVENCIONALISMO

CARPE DIEM

Os árcades propunham o retorno aos modelos clássicos, porque neles encontravam o equilíbrio dos sentimentos por meio da razão, que seria a força controladora dos excessos. Buscavam, ao contrário do Barroco, uma linguagem simples, com períodos diretos e vocabulário fácil, sem o uso exagerado de figuras de linguagem, cortando tudo o que fosse inútil, desnecessário. Para eles, a literatura deveria ter um caráter mais didático, contribuindo para a formação da consciência. Os árcades exaltavam a virtude, a humildade, o comedimento. Seus heróis eram sempre pastores anônimos e felizes. Essa felicidade era basicamente conseguida através da segunda característica do Arcadismo.

Inspirados pelo preceito do poeta latino Horácio “fugere urbem” = “fugir da cidade, da civilização” os árcades acreditavam que somente no contato com a natureza, com o “locus amoenus”, “lugar ameno” o homem poderia alcançar o equilíbrio e a espiritualidade. Numa época em acontecia o crescimento das cidades, através do acelerado processo de industrialização, o Arcadismo pregava a volta à vida simples do campo. Daí a frequência de temas pastoris e cenas campestres durante todo esse período. É importante observar que essa natureza correspondia a um cenário artificial, criado pelo poeta, que fala de riachos cristalinos, lindos campos, relva verde, mas que se encontra em pleno centro urbano, é o chamado “fingimento poético no Arcadismo”, observado por vários estudiosos.

Outra característica é o convencionalismo, ou seja, as frases feitas, os clichês e os lugares comuns. Como: as ovelhas, os pastores e as pastoras, os montes, as ninfas e todos os demais elementos da natureza artificial criada pelo poeta árcade. Esse convencionalismo torna a poesia árcade, de uma maneira geral, marcada pela pouca expressividade e artificialismo. Além da monotonia provocada pela repetição, por vezes exaustiva, de temas bucólicos e pastoris.

Um último aspecto marcante dessa poesia é a filosofia do Carpe Diem“aproveitar o dia”, o “viver intensamente os momentos”. O tema da fugacidade da vida é muito comum em toda a literatura ocidental, o próprio Barroco o utilizou, mas visto por um ângulo negativo, próximo da idéia da morte. Agora o poeta árcade vai utilizá-lo como um convite amoroso, como insinuação erótica. O pastor, o poeta, consciente da brevidade da vida chama a pastora, a amada para que juntos aproveitem a vida.

Dentre os vários poetas árcades de Portugal, o que mais se destacou foi Manuel Maria Barbosa du Bocage, ou simplesmente Bocage. Vejamos sua imagem:


Bocage teve uma vida muito conturbada, após alguns anos de estudo dedica-se a vida boêmia e passa a frequentar os bares portugueses e a conviver com prostitutas, marinheiros, vagabundos e com algumas poucas pessoas de nível social e literário mais elevado. Era conhecido com arruaceiro e aventureiro e, assim como Camões, foi soldado e durante alguns anos viveu e viajou pelas colônias portuguesas no Oriente. Há várias semelhanças entre sua vida e a de Camões, a tal ponto que em muitos momentos Bocage traça um paralelo entre elas, como nesse soneto:

“Camões, grande Camões, quão semelhante Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!

Igual causa nos fez, perdendo o Tejo, Arrostar co’o sacrilégio gigante;

Como tu, junto ao Ganges sussurrante,

Da penúria cruel no horror me vejo; Como tu, gostos vãos, que em vão desejo, Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura

Meu fim demando ao Céu, pela certeza De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és ... Mas, oh tristeza! ... Se te imito nos transes da Ventura,

Não te imito nos dons da Natureza.”

Bocage, assim como outros tantos poetas árcades adotou um pseudônimo pastoril, assinava suas poesias como o nome de Elmano Sadino. Elmano é um anagrama de Manuel, seu primeiro nome, ou seja, uma nova palavra formada pela troca das letras de uma primeira palavra. E Sadino é uma referência ao rio Sado, que corta a cidade de Setúbal, onde o poeta nasceu.

Os estudiosos costumam dividir a obra de Bocage em dois momentos: um lírico e um satírico.

Sua poesia lírica mostra-se presa aos modelos do Arcadismo, povoada por pastores e imagens campesinas. Também se dedicou à poesia encomiástica, que como já vimos, era destinada à exaltação, à bajulação dos poderosos da época. Conta-se que Bocage, assim como outros poetas da época, viveu à sombra dos nobres, como faziam os bobos da corte durante a Idade Média.

Como poeta satírico, Bocage tinha por alvos principais os habitantes das colônias portuguesas, o absolutismo político e religioso, e muitas vezes os seus próprios colegas árcades.

Como poeta erótico, Bocage foi censurado em sua época e até hoje, muitos livros escolares não trazem exemplos dessa poesia erótica, marcada pela força poética e pela força em ser grosseira, vulgar, e referindo-se, muitas vezes, a atos obscenos.

Mas é sua poesia pré-romântica, contrária ao impessoalismo e ao convencionalismo, que o distingue dos demais árcades. Bocage valorizou o subjetivo, o sentimental através de uma frequente luta entre a razão e a emoção, luta essa, que muitas se reflete numa visão pessimista e fatalista da existência. Em vários poemas os riachos e os pastores são substituídos por imagens fúnebres e sentimentos negativos. Como nos mostra o famoso soneto “Sobre estas duras, cavernosas fragas”.

Sobre estas duras, cavernosas fragas,

Que o marinho furor vai carcomendo, Me estão negras paixões n’ alma fervendo Como fervem no pego as crespas vagas.

Razão feroz, o coração me indagas,

De meus erros a sombra esclarecendo,

E vás nele (ai de mim!) palpando, e vendo De agudas ânsias venenosas chagas.

Cego a meus males, surdo a teu reclamo, Mil objetos de horror co’a ideia eu corro, Solto gemidos, lágrimas derramo.

Razão; de que me serve o teu socorro?

Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo; Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro.


                 

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