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LITERATURA - ROMANTISMO

 

    O Romantismo com letra maiúscula. E por que com letra maiúscula? Porque é importante distinguirmos o movimento literário do sentimento, da atitude espiritual, do modo de agir e pensar caracterizado pelo sonho e pela atitude emotiva diante das coisas. Esse comportamento romântico sempre existiu e vai existir – é atemporal. É neste sentido que falamos de um filme ou de uma música romântica. É o romantismo com letra minúscula.

    O Romantismo teve suas origens no final do século XVIII, na Alemanha e Inglaterra. Na Alemanha, o movimento pré-romântico Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto), de acentuado caráter nacionalista, desencadeou o Romantismo. Goethe, com o seu Werther, romance que conta os sofrimentos amorosos de um jovem e seu suicídio, foi responsável por uma onda europeia de emotividade e imitações.

    Na Inglaterra, Sir Walter Scott escreveu romances históricos, uma tendência fundamental no Romantismo, e Lord Byron é a expressão do ideal romântico: o poeta como libertador dos povos, pois, além de escrever poesia ultra-romântica, participou das lutas pela independência da Grécia.

    Mas foi a França a responsável pela divulgação das novas ideias, influenciadas, em grande parte, pela teoria do bom selvagem de Jean-Jacques Rousseau, segundo a qual o homem nasce bom, mas a sociedade civilizada o corrompe.

    O Romantismo coincide com a ascensão econômica e política da burguesia e expressa os sentimentos dos descontentes com as novas estruturas e relações sociais: de um lado, a nobreza que já não desfruta dos mesmos privilégios e, de outro, a pequena burguesia que ainda não ascendeu. O Romantismo permanece no cenário literário até por volta da primeira metade do século XIX, quando apareceram as primeiras manifestações realistas. Esse movimento foi marcado por três fatos fundamentais:

1) aparecimento de um novo público leitor, resultado de uma literatura mais popular, expressa numa linguagem mais acessível a leitores sem cultura clássica;

2) surgimento do romance como forma mais difundida e acessível de comunicação literária;

3) consolidação do teatro, que ganha novo impulso e, abolindo a rígida estrutura clássica, cria o drama.

Principais características do estilo romântico:

1) sentimentalismo: a valorização das emoções e dos sentimentos leva ao subjetivismo e ao egocentrismo (o eu é o centro do universo);

2) supervalorização do amor: o amor passou a ser o valor mais importante em relação àquele cultivado pela burguesia: o dinheiro;

3) mal-do-século: o desajustamento do poeta sentimental, introvertido, face à realidade gera uma sensação de angústia, melancolia, insatisfação e tédio, que o leva a buscar saídas, refúgios para seu mal;

4) evasão: a saída para o mal-do-século é a idealização, um mecanismo de fuga da realidade que se dá por meio de:

a) evasão no espaço: exaltação da natureza concebida como extensão do eu do poeta: o cenário mimetiza os estados de espírito da personagem;

b) evasão no tempo: volta à infância, volta aos primórdios da constituição da nação na busca de heróis nacionais (no Brasil essa busca concretizou-se no indianismo);

c) idealização: da sociedade, do amor, da mulher;

d) morte: a fuga mais radical e decisiva para todos os conflitos.

Formalmente, a ordem é liberdade: são usados o verso livre (sem métrica nem estrofação) e o verso branco (sem rima) ao mesmo tempo em que renascem as formas medievais de estrofação, dando-se preferência a metros breves, de cadência popular (as redondilhas maiores e menores), usados ao lado de decassílabos.

    No Brasil, o Romantismo inicia-se com Gonçalves de Magalhães, em 1836, com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades. Durante seu período de vigência, desenvolveram-se a poesia, a prosa e o teatro.

    O contexto histórico do período marcou-se pelas disputas de poder e pelas revoluções, principalmente a Francesa, que consolidou a transferência do absolutismo para o liberalismo, ou seja, o poder que sempre esteve nas mãos da nobreza, da aristocracia é conquistado pela burguesia, que contava com o apoio do povo. Todo este contexto vai se refletir na produção literária romântica.

 CARACTERÍSTICAS

     A ascensão da burguesia, da chamada classe média, provoca uma alteração, um deslocamento do público consumidor da literatura, que até então era o nobre. No Romantismo quem lia era o burguês. A literatura tornou-se mais popular, com um caráter mais nacional. Surgem os primeiros folhetins, espécie de precursores das nossas telenovelas. O leitor buscava na literatura uma forma de entretenimento. O Romantismo é considerado, por excelência, o movimento literário da burguesia.

Romantismo no Brasil (1836-1881)

    O Romantismo foi o primeiro movimento literário brasileiro da Era Nacional. Nosso país acabara de tornar-se politicamente independente e reivindicava, agora, uma literatura autônoma que refletisse nossa realidade. Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, iniciou, em 1836, o Romantismo, que se encerrou em 1881. A estética romântica foi fértil em poesia e prosa e viu nascer o teatro nacional.

Contexto Histórico

    A Europa do século XIX assistiu a transformações radicais, resultado da Revolução Industrial (que fez surgir uma nova classe, o proletariado) e da Revolução Francesa, que, com seu ideal de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, subverteu as relações sociais. A burguesia, econômica e politicamente forte, impulsionou a livre concorrência e foi responsável por uma sociedade materialista.

    Independente desde 1822, o Brasil, no entanto, conservou a mesma estrutura da sociedade colonial: patriarcal, assentada na mão-de- obra e nos latifúndios. Da independência até a abdicação de D. Pedro I, em 1831, o país viveu um período difícil. Cedo começaram os problemas resultantes da personalidade autoritária de D. Pedro: dissolução da Assembleia Constituinte por ordem do imperador; outorga da primeira Constituição em 1824; Confederação do Equador*; Guerra Cisplatina (e a criação da República Independente do Uruguai). Nesse período, o Brasil pediu um empréstimo de dois milhões de libras esterlinas à Inglaterra para pagar a indenização por nossa independência a Portugal. Todo esse quadro levou à abdicação de D. Pedro I em favor de seu filho de apenas cinco anos, em 1831.

    Contemporânea ao movimento de Independência de 1822, a literatura romântica sempre expressou sua ligação com a política e, ao lado da euforia da liberdade e do desejo de construção de uma pátria brasileira, surgiu também o desejo de criação de uma literatura autenticamente brasileira; o esforço para essa realização, como afirma o crítico Antônio Cândido, era visto como "um ato de brasilidade".

    A marca principal da poesia romântica é a expressão plena dos sentimentos pessoais, com os autores voltados para seu mundo interior e fazendo da literatura um meio de desabafo e confissão. Embora essas características, de certo modo, já fossem perceptíveis em autores do Arcadismo, como Gonzaga, por exemplo, é na época romântica que elas adquirem maior intensidade.

Com a afirmação do indivíduo, os sentimentos começam a tomar o lugar da razão como instrumento de análise do mundo, e a vida passa a ser encarada de um ângulo bem pessoal, em que sobressai um intenso desejo de liberdade. Essa ânsia de libertação, que nasce no interior do poeta, em determinado momento alcança também o nível social, com o artista romântico colocando-se como porta-voz dos oprimidos e usando seu talento para protestar contra as tiranias e injustiças sociais, ao mesmo tempo que valoriza a pátria e os elementos que a representam. Nasce, assim, um ardente nacionalismo, outra característica marcante do movimento romântico, e que no Brasil gerou o Indianismo, que foi uma forma de exaltação do indígena, encarado como representante heroico da terra brasileira.

Por outro lado, o desejo de liberdade revela-se também na linguagem usada pelos românticos, que abandonam aos poucos o tom lusitano em favor de um estilo mais próximo da fala brasileira, tanto no vocabulário quanto nas construções sintáticas, provocando com isso a censura de muitos puristas da época, que achavam que nossos escritores deviam continuar fiéis à linguagem literária praticada em Portugal. Esse espírito de renovação linguística é uma contribuição importante do Romantismo e foi retomado, bem mais tarde, pelos modernistas.

As gerações românticas

1ª GERAÇÃO (NACIONALISTA OU INDIANISTA): caracterizou-se, sobretudo, pela criação do herói nacional, pelo lirismo amoroso e pelo paisagismo. Os principais autores são: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto-Alegre.

2ª GERAÇÃO (BYRONIANA OU DO MAL-DO-SÉCULO): caracterizou-se pela obsessão à morte, sentimento de tédio, pessimismo, individualismo, melancolia e morbidez. Os principais autores são: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire.

3ª GERAÇÃO (CONDOREIRA): seu emblema foi uma poesia de caráter social – patriótica, antiescravagista, abolicionista. Seu mais importante poeta foi Castro Alves.

A presença do nacional nos motivos e na linguagem foi a característica comum às três gerações românticas.

  A próxima imagem é considerada um dos símbolos do Romantismo:

A liberdade guiando o povo, quadro de Delacroix.

“Liberdade, Igualdade e Fraternidade” tornam-se palavras de ordem na época, quer no campo político, econômico ou social.

E como não podia deixar de ser, liberdade é a palavra de ordem também no plano literário.

As principais características do Romantismo são:

*  INDIVIDUALISMO

*  EMOÇÃO

*  ESCAPISMO

*  LIBERDADE

Mas o que significa cada uma dessas características?

No individualismo/egocentrismo/egotismo = O “eu” é a figura principal. Nunca em nenhum movimento a imposição do “eu” foi tão forte. Temos um predomínio da primeira pessoa. Para o Romantismo uma das questões centrais é aquilo que cada pessoa tem de particular, de exclusivo.

Há um predomínio da emoção, do subjetivismo = Sendo o indivíduo a figura principal, toda a produção se fundamenta na emoção, na imaginação. Ao contrário da disciplina das escolas anteriores, o poeta romântico é livre, livre para sentir e expressar seus sentimentos e desejos. Só através da emoção o artista romântico consegue expressar o seu interior, o seu eu.

Escapismo ou evasão = Mas nessa ânsia de sentir e de imaginar o autor romântico se depara com a realidade, com uma realidade que nem sempre é a desejada, o que lhe provoca atitudes diversas: ou a atitude revolucionária, principalmente dos poetas da terceira geração, dos quais falaremos nas próximas aulas, ou a frustração, a insatisfação e o desejo de fuga. Vejamos um esquema que ilustra esse escapismo:

*ESCAPISMO     - NATUREZA
                     - 
SONHO
                              - MORTE

Esse escapismo se manifestou de formas diversas entre os românticos: na natureza, vista como um refúgio, um lugar ainda não corrompido; nos sonhos, substituindo as dores da vida real; na morte vista como algo positivo e constantemente invocada. Há ainda outras formas de fuga que a essas se unem: a vida boêmia, o culto da solidão, o gosto pelo passado, por lugares exóticos e mórbidos. Veja o seguinte fragmento em que o autor deseja a morte:

 “Por isso, é morte, eu amo-te e não temo.

Por isso, é morte, eu quero-te comigo.

Leva-me à região da paz horrenda,

Leva-me ao nada, leva-me contigo.”

                                             Junqueira Freire

A liberdade de criação = Os românticos abandonaram as formas fixas dos modelos clássicos {ode, soneto, decassílabos, etc.}; abandonaram as rimas e valorizaram o verso branco, ou seja, o verso não rimado; promoveram uma mistura de gêneros; enriqueceram a língua incorporando neologismos (palavras novas) e aproximando a linguagem literária da coloquial. Veja o que diz um romântico sobre a ideia da liberdade de criação:

“Quanto à forma ... nenhuma ordem seguimos; exprimindo as ideias como elas se apresentam, para não destruir o acento da inspiração ...”

                             Gonçalves de Magalhães

Para o autor romântico o importante era a expressão dos seus sentimentos, do seu mundo interior, independentemente de qualquer forma preestabelecida. Todas essas características se refletem em vários temas. Veja os principais:

*  NACIONALISMO

*  RELIGIOSIDADE

 

                               - DO AMOR

*  IDEALIZAÇÃO

                                -DA MULHER

No nacionalismo = Ocorre a valorização da pátria, dos heróis nacionais e do passado histórico. No caso de Portugal, retomam-se os mitos dos grandes cavaleiros e heróis medievais. No Brasil, como não tivemos Idade Média, nos moldes do colonizador, cria-se o “mito do bom selvagem”. O índio aparece idealizado nos textos românticos, é sempre bom, forte e bonito, passando a representar o nosso cavaleiro medieval.

Religiosidade = Em oposição ao paganismo da escola anterior, redescobrem-se as fontes bíblicas, principalmente as derivadas do cristianismo.

Idealização do amor e da mulher = O amor é tido como a essência da vida, como o sentido de tudo e consequentemente, a mulher, objeto do amor romântico, é divinizada, cultuada. Ela era misteriosa, pura – a virgindade era muito valorizada, quase toda heroína romântica era virgem. Mas apesar desse caráter angelical, alguns textos românticos apresentam muito sensualismo.

Não se esqueça que: o Romantismo foi o movimento literário responsável por uma subjetividade extrema, jamais vista em toda a arte ocidental.


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