quinta-feira, 26 de maio de 2022

LITERATURA - VANGUARDA EUROPÉIA

 

 

As principais manifestações artísticas do início do século XX foram fundamentais para o desenvolvimento do Modernismo literário.

Costuma-se chamar de Vanguarda Europeia o conjunto de movimentos artísticos, não só na literatura, mas também na pintura e escultura, que apresentavam no início do século XX o comum desejo de renovação, de rompimento com as estéticas tradicionais. Vanguarda europeia é rebeldia, é negação.

Veja quais foram esses movimentos:

*  FUTURISMO

*  EXPRESSIONISMO

*  CUBISMO

*  DADAÍSMO

*  SURREALISMO

O início do século XX caracteriza-se como um período marcado por grandes e rápidas transformações tecnológicas. Literalmente rápidas. Essa é era da eletricidade, do automóvel, do avião, ou seja, é o momento da velocidade, provocada pelo aperfeiçoamento das máquinas e pela crescente industrialização.

O Futurismo foi o primeiro movimento de vanguarda, chocando com sua rebeldia toda a população da época.

Veja uma imagem futurista:

 


Nesse quadro, chamado O Dinamismo de um automóvel, de Luigi Russolo, encontramos uma característica marcante do Futurismo: a velocidade, o movimento e a força das máquinas representados nas fortes cores e traçados.

O principal representante do Futurismo foi o escritor italiano Marinetti, que, na literatura, pregava a destruição da sintaxe, o menosprezo pela pontuação. Para esse autor tudo deveria ser novo e rápido, seu desejo era a exaltação da vida moderna e o rompimento total com o passado.

O Futurismo apresentou vários manifestos. Veja um fragmento do mais conhecido, escrito por Marinetti:

“Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito à energia e à eternidade.

Os elementos essenciais de nossa poesia serão a coragem, a audácia e a revolta.

Tendo a literatura até aqui enaltecido a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono, nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo ginástico, o salto mortal, a bofetada e o soco.

 Nós declaramos que o esplendor do mundo se enriqueceu com uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida (...) é mais belo que a Vitória de Samotrácia  (...)

 Nós queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destrutor dos anarquistas, as belas idéias que matam, e o menosprezo à mulher.

 Nós queremos demolir os museus, as bibliotecas, combater o moralismo, o feminismo e todas as covardias oportunistas e utilitárias”.

Vitória de Samotrácia é o nome de uma famosa escultura grega que se encontra no Louvre, em Paris, considerada uma das obras de arte mais perfeita de todos os tempos (O Louvre é um dos museus mais famosos do mundo).

O próximo movimento é de origem alemã e caracteriza-se pela expressão do mundo interior, pela expressão das imagens independentemente dos conceitos de beleza. O importante era a expressão, daí ser conhecido como Expressionismo.

Veja uma pintura expressionista:

 


Perceba a densidade expressionista dessa pintura. A imagem parece transformar-se na própria dor do homem que gritava.

As principais características desse movimento foram:

*Composições abstratas

*Subjetivismo

*Ilogismo

Composições abstratas = Assim como na pintura, os escritores expressionistas também gostavam de deformações abstratas do real.

Subjetivismo = O artista expressionista desejava a expressão violenta do subjetivo, das emoções, do mundo interior.

Ilogismo = Uma vez que tudo era expressão não havia a preocupação com a lógica do mundo exterior como nas estéticas anteriores.

 


Lês Demoiselles d’Avignon

Essa pintura de Pablo Picasso, de 1907, é considerada por muitos estudiosos o marco inicial do Cubismo e da arte moderna. Perceba que as formas são geometrizadas, com cores duras e chapadas. Picasso conseguiu romper com séculos de tradição artística.

Na pintura, as formas geométricas e os objetos vistos sob vários ângulos simultaneamente caracterizam o Cubismo.

Veja as características do Cubismo na literatura:

*  Ilogismo

*Linguagem caótica

*  Tempo presente

*  Humor

Ilogismo = Os textos cubistas são marcados pela supressão da lógica formal. O pensamento não é racional, ele aparece entre o consciente e o inconsciente do escritor.

Linguagem caótica = Como não há uma lógica, as palavras são soltas, dispostas aparentemente de uma forma aleatória.

Tempo presente = Para o escritor cubista, ansioso por viver o seu tempo, o tempo presente, tudo passa a ser tema para poesia, como por exemplo: viagens, paisagens e visões exóticas.

Humor = Muito comum nos textos cubistas, provocado não só pelas ironias, mas pela própria disposição gráfica das palavras.

Veja uma imagem do próximo movimento:

 


Perceba nesse quadro, chamado É o chapéu que faz o homem, 1920, de Max Ernst, a justaposição dos objetos, associados livremente. A liberdade artística foi uma grande característica do movimento chamado Dadaísmo.

O Dadaísmo é considerado por muitos, o mais radical de todos os movimentos da Vanguarda Européia. Ele era a negação de todos os valores culturais existentes há séculos. O dadaísmo é a estética do absurdo, do incoerente, do ilógico, a começar pelo próprio nome. Quando indagado sobre o significado da palavra dada, Tristan Tzara, o criador do Dadaísmo, afirma que dada não significava nada, que ele encontrou essa palavra ao acaso, abrindo um dicionário. Os dadaístas estavam preocupados em ridicularizar, em negar tudo e todos.

Veja como escrever um poema dadaísta a partir de uma receita dada pelo próprio criador do movimento:

        “Pegue um jornal.

Pegue a tesoura.

Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.

Recorte o artigo.

Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.

Agite suavemente.

Tire em seguida cada pedaço um após o outro.

Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.

O poema se parecerá com você.

E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público”.

                                                            Tristan Tzara

 

Nessa conhecida pintura de Salvador Dali, chamada A persistência da Memória, encontramos relógios derretendo, numa espécie, de sonho, de sugestão sobre a brevidade do tempo e da vida. Esse quadro é um dos símbolos do Surrealismo.



Os escritores surrealistas, influenciados pelos estudos de Freud, mostraram grande interesse pelo inconsciente humano e pelo sonho, considerado a expressão máxima da liberdade humana. Através do sonho o homem estava livre de toda crítica, de toda censura e principalmente da lógica.

Veja um texto surrealista:

 As realidades

                 (fábula)

Era uma vez uma realidade com suas ovelhas de lã real a filha do rei passou por ali

E as ovelhas baliam que linda que está a re a re a realidade.

Na noite era uma vez

uma realidade que sofria de insônia Então chegava a madrinha fada e realmente levava-a pela mão a re a re a realidade.

No trono havia uma vez um velho rei que se aborrecia e pela noite perdia o seu manto e por rainha puseram-lhe ao lado a re a re a realidade.

CAUDA: dade dade a reali

Dade dade a realidade

A real a real

Idade idade dá a reali

Ali

A re a realidade

Era uma vez a REALIDADE.

                          Louis Aragon


PRÉ-MODERNISMO - LITERATURA

 

O Pré-Modernismo é um movimento literário tipicamente brasileiro. Convencionou-se chamar de Pré-Modernismo o período anterior à Semana de Arte Moderna de 1922. Didaticamente, esse movimento literário tem início em 1902 com a publicação do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha e com a publicação do livro Canaã de Graça Aranha. O Pré-Modernismo é um período de transição, pois ao mesmo tempo em que encontrávamos produções conservadoras como as poesias parnasianas e simbolistas, encontrávamos as primeiras produções de caráter mais moderno, preocupadas com a realidade brasileira da época.

O Pré-Modernismo oscilou entre:

a)  produção conservadora: com características realistas/naturalistas, na prosa e parnasiano-simbolistas, na poesia;

    b) produção inovadora: profundo interesse e preocupação em registrar, na prosa, os desequilíbrios sociais da época. Na poesia, Augusto dos Anjos usa palavras antipoéticas que insultam a sensibilidade parnasiana.

Contexto Histórico

    As primeiras décadas do século XX foram marcadas por um notável desenvolvimento técnico e científico. As inúmeras invenções e descobertas realizadas de 1900 a 1920 alteraram profundamente a face do mundo, criando novas maneiras de pensar e um novo ritmo de vida para a humanidade. Os novos tempos, guiados pela ciência, entravam definitivamente na vida quotidiana do homem.

   O início do século XX foi marcado pelo acirramento das rivalidades internacionais, que resultou na Primeira Guerra Mundial (1914-18) e no surgimento de uma nova potência: os Estados Unidos da América.

Em 1917, com a Revolução Russa, o proletariado toma o poder. Começaram, então, a delinear-se dois regimes antagônicos: o comunismo e o capitalismo.

No Brasil, o Pré-Modernismo desenvolveu-se na época de transição da República da Espada (marcada pela presença de militares no poder), para a República das Oligarquias ou República do café-com-leite, em que o Brasil foi governado ora por donos de fazenda de café de São Paulo, ora por fazendeiros de Minas, os dois estados mais ricos do país.

Críticos da Sociedade Brasileira

    Nas primeiras décadas do século XX, surgiram no Brasil alguns escritores que, diferentemente da grande maioria, tiveram uma outra atitude perante a nossa realidade sociocultural.
    Expressando uma visão mais crítica e penetrante dos problemas brasileiros, autores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Graça Aranha e Lima Barreto, em maior ou menor grau, acabaram por antecipar uma das tendências que marcaram decisivamente o Modernismo, que é justamente a criação de uma literatura que investigasse e questionasse mais profundamente o Brasil. Por essa característica, portanto, esses autores podem ser considerados pré-modernos.
    Como já vimos anteriormente, o desenvolvimento do regionalismo contribuiu para que aumentasse o interesse pela descrição da "realidade" brasileira. No entanto, ainda não existia um agudo senso crítico, pois os escritores regionalistas, de modo geral, preocuparam-se apenas em "retratar" o interior do Brasil no que ele apresentava de pitoresco e curioso, sem intenções de analisá-lo profundamente.
    Portanto, podemos dizer que a diferença principal entre esses autores e os considerados pré-modernos está em que estes últimos expressaram em suas obras a consciência de alguns dos problemas que afetavam a realidade nacional, fazendo a denúncia de certos desequilíbrios socioculturais importantes, tais como: a dramática situação do sertanejo nordestino; o contrastante nível de vida das diversas camadas da população brasileira; a decadência e pobreza de muitas regiões isoladas do interior etc.
    Veja as principais características do Pré-Modernismo brasileiro:

*  Ruptura com o passado

*  Denúncia da realidade

*  Regionalismo

*  Tipos humanos marginalizados

Ruptura com o passado = As novas produções rompem com o academismo e com os modelos preestabelecidos pelas antigas estéticas.

Denúncia da realidade = A realidade não oficial passa a ser a temática do período.

Regionalismo = São retratados o sertão nordestino, o interior paulista, os subúrbios cariocas, entre outras regiões brasileiras.

Tipos humanos marginalizados = Nas obras desse período, encontram-se retratadas muitas figuras marginalizadas pela elite, como o sertanejo nordestino, o caipira, o mulato, entre outros tipos.

Veja os principais autores do Pré-Modernismo brasileiro:

      Euclides da Cunha

      Lima Barreto

      Monteiro Lobato

      Graça Aranha

      Augusto dos Anjos *

Euclides da Cunha = retratou a miséria do subdesenvolvido nordeste do país.

Lima Barreto = retratou a vida carioca urbana e suburbana do início do século XX.

Monteiro Lobato = retratou a miséria dos moradores do interior do sudeste e a decadência da economia cafeeira.

Graça Aranha = retratou a imigração alemã no Espírito Santo.

Augusto dos Anjos  = apresenta uma classificação problemática, não podendo ser apenas estudado como um autor pré-modernista. Sua obra apresenta elementos de várias estéticas. Mas para fins didáticos costuma-se estudá-lo como pré-modernista.

 


     
Euclides da Cunha era engenheiro, mas se destacou no cenário brasileiro do começo do século XX como escritor.
     Euclides da Cunha também era jornalista e foi mandado a Canudos, na Bahia como correspondente do jornal “O Estado de São Paulo”, com a tarefa de registrar as operações do exército na revolta baiana. 
    Essa imagem retrata a grande quantidade de prisioneiros refugiados. A Guerra de Canudos será o tema principal de seu livro mais famoso: Os Sertões.
    O Livro Os Sertões é um livro que se localiza entre a sociologia e a literatura, tamanha a riqueza de detalhes e a preocupação em retratar a realidade da maneira em que ela se apresentava.

Os Sertões é uma das primeiras obras a romper com a visão romântica do Brasil enquanto terra paradisíaca. Nesse livro, Euclides da Cunha construiu uma espécie de narrativa negativa de um povo massacrado pela miséria e pela injustiça social. Segundo o autor, a realidade da guerra era muito diferente da que o governo dizia. Aparentemente o motivo desencadeador da revolta foi o fanatismo religioso e o cangaço, mas na realidade os profundos motivos foram o sistema latifundiário, a servidão e o abandono social da região.

O livro está dividido em três partes: na primeira, Euclides descreve a terra, o cenário em que se desenvolverá o enredo; no segundo, o autor faz uma descrição do homem, explicando a origem dos jagunços e cangaceiros. Destaca-se nesse momento a descrição do líder do movimento, Antônio Conselheiro. Na terceira parte, encontra-se a grande talvez a maior riqueza do livro, nela Euclides da Cunha apresenta o conflito em si. Somente depois de várias expedições é que os revoltados são vencidos. Dos mais de 20 mil brasileiros em Canudos, restaram apenas 4: um velho, dois homens feitos e uma criança na frente de um exército de 5 mil homens.

Veja a imagem de outro importante autor pré-modernista:

 


Lima Barreto teve uma vida muito atribulada, principalmente por ser pobre e negro, numa época marcada por várias formas de preconceito. Ao contrário de Machado de Assis, que alcançou a notoriedade ainda em vida, Lima Barreto sofreu muito com o preconceito racial, com o alcoolismo e com as frequentes crises depressivas.

Lima Barreto, sentindo as dores do preconceito e da pobreza, mostrou grande identificação com as pessoas marginalizadas da sociedade da época, com as quais sempre conviveu. Sua obra é uma literatura sobre o povo e para o povo, seus textos apresentam uma linguagem simples e direta, assemelhando-se à linguagem jornalística, panfletária. O que lhe causou muitas críticas.

Lima Barreto soube como nenhum outro pré-modernista retratar com muito realismo a vida dos subúrbios cariocas e as desigualdades sociais do Rio de janeiro do início do século XX, uma época de grande desenvolvimento e transformações.

Entre seus livros mais conhecidos está Triste Fim de Policarpo Quaresma. Nesse romance narrado em terceira pessoa, através de uma forte carga humorística, Lima Barreto conta a história do Major Policarpo Quaresma. O livro é uma caricatura da vida política brasileira no período posterior à proclamação da República.

Policarpo Quaresma é um fanático, uma espécie de Dom Quixote brasileiro. Possuidor de um nacionalismo extremo, Quaresma tenta evitar a todo custo a influência da cultura europeia na cultura brasileira.

Entre suas várias tentativas de preservar a cultura nacional o major chega a escrever uma carta ao Congresso Nacional. Veja com que objetivo:

“Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por este fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários do língua; sabendo, além, que, dentro de nosso país, os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma, usando o direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupiguarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro”.

Depois de muita confusão Quaresma é internado como louco. Ao sair do hospício seu nacionalismo parece ter diminuído um pouco, mas se lança em outra batalha, desejava reformar a agricultura do país.

Veja outro conhecido autor do pré-modernismo brasileiro:

 

Monteiro Lobato foi uma figura muito polêmica, ao contrário da impressão que a maioria das pessoas tem hoje a seu respeito. Hoje, falar em Lobato é lembrar do escritor de livros infantis e criador do Sítio do Pica-pau Amarelo, mas sua produção não se limita a esse gênero.



Monteiro Lobato foi um escritor que retratou como ninguém o atraso das regiões interioranas de São Paulo. Ele foi o criador de um dos símbolos do atraso e da ignorância do caipira. Ele é o criador da figura do Jeca Tatu.

 Lobato tinha um gênio muito forte, desde criança mostrou-se rebelde. Foi um dos primeiros a dizer que havia petróleo em terras brasileiras, chegando a ser preso por isso, durante o período da ditadura militar. Seu jeito explosivo foi responsável por um dos motivadores do movimento modernista. Monteiro Lobato, num artigo intitulado “Paranóia ou mistificação?”, faz duras críticas ao trabalho modernista da pintora Anita Malfatti.

Veja o tom de suas palavras:

“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em conseqüência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres (...)

A outra espécie é formada dos que vêem anormalmente a natureza e a interpretam à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao nascedoiro (...) Embora eles se deem como novos precursores duma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação (...) Sejamos sinceros; futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros tantos ramos da arte caricatural (...)”

Graça Aranha é o autor de Canaã, que juntamente com Os Sertões, dá início ao Pré-Modernismo brasileiro. Nessa obra Graça Aranha narra o processo de colonização alemã no Espírito Santo.

Augusto dos Anjos, como já foi visto, apresenta uma classificação problemática. Ele era conhecido como o autor do pessimismo, do mau gosto, do escarro e dos vermes.

Veja um de seus textos:

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas
– Que o sangue podre das carnificinas
Come e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

SIMBOLISMO EM PORTUGAL E NO BRASIL

 

O Simbolismo, assim como o Realismo-Naturalismo e o Parnasianismo, é um movimento literário do final do século XIX.
No Simbolismo, ao contrário do Realismo, não há uma preocupação com a representação fiel da realidade, a arte preocupa-se com a sugestão.
O Simbolismo é justamente isso, sugestão e intuição. É também a reação ao Realismo/Naturalismo/Parnasianismo, é o resgate da subjetividade, dos valores espirituais e afetivos. Percebe-se no Simbolismo uma aproximação com os ideais românticos, entretanto, com uma profundidade maior, os simbolistas preocupavam-se em retratar em seus textos o inconsciente, o irracional, com sensações e atitudes que a lógica não conseguia explicar. Veja as comparações:
Parnasianismo
1. Preocupação formal que se revela na busca da palavra exata, caindo muitas vezes no preciosismo; o parnasiano, confiante no poder da linguagem, procura descrever objetivamente a realidade.
2. Comparação da poesia com as artes plásticas, sobretudo com a escultura.
3. Atividade poética encarada como habilidade no manejo do verso.
4. Frequentes alusões a elementos da mitologia grega e latina.
5. Preferência por temas descritivos — cenas históricas, paisagens, objetos, estátuas etc.
6. Enfoque sensual da mulher, com ênfase na descrição de suas características físicas.
Simbolismo
1. Preocupação formal que se revela na busca de palavras de grande valor conotativo e ricas em sugestões sensoriais; o simbolista não pretende descrever a realidade, mas sugeri-la.
2. Comparação da poesia com a música.
3. A poesia é encarada como forma de evocação de sentimentos e emoções.
4. Frequentes alusões a elementos evocadores de rituais religiosos (incenso, altares, cânticos, arcanjos, salmos etc.), impregnando a poesia de misticismo e espiritualidade.
5. Preferência por temas subjetivos, que tratem da Morte, do Destino, de Deus etc.
6. Enfoque espiritualista da mulher, envolvendo-a num clima de sonho onde predomina o vago, o impreciso e o etéreo.

O leitor não deveria tentar entender os textos, mas se deixar levar pelas sensações.

Em Portugal, esse movimento literário tem início, em 1890, com a

publicação do poema Oaristos, de Eugênio de Castro. (Oaristo é um termo grego que significa “diálogo íntimo” ou “diálogo amoroso”).

Entre as principais características parnasianas estão:

*

Espiritualismo e Misticismo

*

Sugestão

*

Imprecisão

*

Sinestesias

*

Musicalidade

 

Maiúsculas alegorizantes

Espiritualismo e Misticismo = Para os simbolistas a arte era uma forma de religião. Os textos simbolistas apresentam muitas vezes uma visão cristã. Era comum a distinção entre corpo e alma e o desejo de purificação, de sublimação: anulação da matéria para a libertação da alma. Era também comum a utilização de vocábulos ligados ao místico e ao religioso, como missal, breviário, hinos, salmos, entre outros.

Sugestão = Para a arte simbolista mais importante que nomear as coisas era sugeri-las. Segundo os simbolistas os leitores é que deveriam adivinhar o enigma de cada poema.

Imprecisão = Atrelada à característica anterior, a realidade deveria ser expressa de maneira vaga e imprecisa. O Simbolismo buscava a essência do ser humano, os estados da alma, o inconsciente.

Sinestesias = Na poesia simbolista era comum a presença de sinestesias. A sinestesia é uma figura de linguagem que consiste na fusão de várias sensações, sem que necessariamente haja lógica:

“Nasce a manhã, a luz tem cheiro ... Ei-la que assoma Pelo ar sutil ... Tem cheiro a luz, a manhã nasce ...

Oh sonora audição colorida do aroma!”

                                                              Alphonsus de Guimaraens

Musicalidade = A poesia deveria se aproximar da música. Para conseguirem essa aproximação os simbolistas usaram em grande escala as figuras de linguagem associadas à sonoridade, como as rimas, o eco, a aliteração, entre outras. Daí a expressão simbolista: “A música antes de qualquer coisa”.

 Veja um exemplo de aliteração. Lembre-se de que a aliteração é a repetição de sons consonantais:

“E as cantinelas de serenos sons amenos fogem fluidas fluindo à fina flor dos fenos”.

                                                                      Eugênio de Castro

Maiúsculas alegorizantes = Correspondem à utilização de letras maiúsculas no meio do texto sem que haja alguma razão gramatical para o seu uso. Elas são usadas para enfatizar as palavras:

“Indefiníveis músicas supremas, 

Harmonias da Cor e do Perfume ...

Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,

Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume ...”

 

Cruz e Souza

Procure identificar as características simbolistas no próximo texto:

Arte Poética

Paul Verlaine (tradução de Augusto de Campos)

Antes de tudo, a Música. Preza
Portanto, o Ímpar. Só cabe usar
O que é mais vago e solúvel no ar,
Sem nada em si que pousa ou que pesa.

Pesar palavras será preciso,
Mas com algum desdém pela pinça:
Nada melhor do que a canção cinza
Onde o Indeciso se une ao Preciso.
(...)
Pois a Nuance é que leva a palma,
Nada de Cor; somente a nuance!
Nuance, só, que nos afiance
O sonho ao sonho e a flauta na alma!
(...)
Que teu verso seja a aventura
Esparsa ao árdego ar da manhã
Que enchem de aroma o timo e a hortelã...
E todo o resto é literatura.

Nesse poema encontramos várias características simbolistas, entre elas a musicalidade, a presença do sonho e a imprecisão na forma de expressar a realidade.

 SIMBOLISMO EM PORTUGAL – AUTORES

 

Veja os três maiores representantes do Simbolismo português:

-Eugênio de Castro

-Antônio Nobre

-Camilo Pessanha

A importância de Eugênio de Castro para o Simbolismo português deve-se mais ao fato de ter sido ele o autor do marco inicial do movimento. Antônio Nobre publicou um único livro, com um nome bem sugestivo . é um livro marcado pelo saudosismo e sentimentalismo, além de apresentar uma rica musicalidade.

Mas Camilo Pessanha é o grande representante do Simbolismo português:


    Camilo Pessanha morou muito tempo em Macau, colônia portuguesa na China. Contam os historiadores que ele era viciado em ópio e que retornou a Portugal para tratar da saúde debilitada. Ele foi um dos poetas que mais influenciou o Modernismo português.
   Seus textos apresentavam uma linguagem moderna e precisa, com temas ligados à fugacidade da vida. Eram comuns imagens de naufrágios, rios e água. A frequente recorrência à brevidade da vida, deixou em seus textos um forte pessimismo.

Veja um fragmento de um de seus textos:

“Passou o Outono já, já torna o frio ...
_ Outono de seu riso magoado.
Álgido Inverno! Oblíquo o sol, gelado ...
_ O sol, e as águas límpidas do rio.

Águas claras do rio! Águas do rio,
Fugindo sob o meu olhar cansado,
Para onde me levais meu vão cuidado?
Aonde vais, meu coração vazio?(...)”

 SIMBOLISMO NO BRASIL – AUTORES

    No Brasil, o Simbolismo tem início em 1893, com a publicação de Missal (textos em prosa) e Broquéis (poesias), de Cruz e Souza. Didaticamente, permaneceu no cenário literário até 1902 quando ocorre a publicação do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, considerado o texto introdutor do Pré-Modernismo.

   Missal é o nome de um livro que contém orações utilizadas nas missas e broquéis vem de broquel, tipo de um escudo espartano, numa clara aproximação com o parnasianismo e seu gosto por objetos antigos.

O Simbolismo surgiu como reação à objetividade e descritivismo parnasianos. Entre nós, no entanto, foi abafado pela produção parnasiana que correspondia mais intensamente aos anseios da burguesia em ascensão.

À confiança ilimitada na ciência, sucederam um descrédito e um desânimo sem formas definidas; ao racionalismo e ao materialismo, a valorização da intuição e as manifestações espirituais e metafísicas.

    O Simbolismo no Brasil não teve muita aceitação por parte do público leitor. A maior parte dos leitores preferia os textos parnasianos. Os parnasianos tinham a imprensa como aliada, pois seus poemas vendiam muito mais. É por isso que se costuma dizer que o Brasil não teve um momento tipicamente simbolista, ele ficou meio à margem da literatura oficial da época.

Veja os maiores representantes do Simbolismo brasileiro:

*  Cruz e Sousa

*  Alphonsus de Guimaraens

 Cruz e Sousa é considerado não só o maior poeta do Simbolismo brasileiro, mas também um dos maiores representantes do Simbolismo mundial:

    Cruz e Sousa era chamado de “O cisne negro” ou “Dante negro”. Por ser negro foi vítima de muitos preconceitos.
    Partindo de seus sofrimentos enquanto homem negro, alcançou a dor e o sofrimento do ser humano. Suas poesias eram marcadas por um forte misticismo e religiosidade, na busca de um mundo mais espiritualizado. Outra característica interessante de sua obra é a recorrência direta e indireta à cor branca, vista na maioria das vezes como símbolo da pureza. Cruz e Sousa escrevia muito sobre “véus brancos”, “neve”, “luar”, “virginais brancores”, entre outras sugestões.
Veja um fragmento de um de seus textos mais conhecidos:

Violões que choram

Ah! Plangentes violões dormentes, mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.
(...)
Sutis palpitações à luz da lua.
Anseio de momentos mais saudosos,
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando.
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem.
(...)
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas (...)”

Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)

Na obra de Afonso Henriques da Costa Guimarães, o tema constante é a morte da mulher amada ao qual os outros — natureza, religião, arte — se relacionam. Influenciado pelo poeta simbolista francês Verlaine, Alphonsus privilegia a camada sonora do signo, trabalhando as aliterações, onomatopeias, repetições. Em versos simples manifesta uma constante preocupação mística atestada, também, em seus poemas dedicados à Virgem Maria em Setenário das dores de Nossa Senhora. “Ismália” é um de seus poemas mais conhecidos:


Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu

As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu

Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

PARNASIANISMO NO BRASIL

 

O Parnasianismo, manifestação poética do Realismo, ocorreu só na França (onde nossos poetas foram buscar todos os modelos) e no Brasil. Contemporâneo do Realismo-Naturalismo, o Parnasianismo não pode ser entendido apenas como a manifestação em poesia das características realistas e naturalistas presentes na prosa. Embora existam alguns aspectos comuns, há uma grande diferença: o Parnasianismo não se preocupava com a temática do cotidiano, com a descrição dos costumes da época e com o cientificismo, características marcantes do Realismo. As primeiras poesias parnasianas datam de 1870 e, teoricamente, terminam em 1922, com a Semana de Arte Moderna. Não foi o que ocorreu na prática, pois nas primeiras décadas do século XX ainda ocorreram manifestações parnasianas.

  O Parnasianismo foi um movimento literário essencialmente poético, contemporâneo do Realismo-Naturalismo. É interessante destacar, que ao contrário de outros movimentos que ocorreram em Portugal e no Brasil, o Parnasianismo apresentou características significativas somente no Brasil e na própria França, onde teve origem.

    A palavra parnasianismo vem de Parnaso, nome de um monte grego, que segundo a mitologia era a morada de Apolo, deus das artes.

Entre as principais características parnasianas estão:

      Esteticismo

      Impassibilidade

      Poesia descritiva

      Retomada dos modelos clássicos

      Perfeição formal

Esteticismo = A poesia parnasiana estava preocupada com o belo, com a parte estética, daí a palavra esteticismo. Era uma poesia descompromissada com os problemas sociais. Sua única preocupação era a arte pela arte, ou seja, a arte deveria existir em função dela mesma.

Impassibilidade = A impassibilidade é a negação do sentimentalismo exagerado presente no Romantismo. Os parnasianos negavam qualquer expressão de subjetividade em favor da objetividade temática.

Poesia descritiva = A poesia parnasiana é marcadamente descritiva, frequentemente aparecem descrições pormenorizadas de objetos e cenas da natureza.

Retomada dos modelos clássicos = O Parnasianismo, assim como fez o Classicismo, também se voltou para a Antiguidade greco-romana, tida como modelo de perfeição e beleza.

Perfeição formal = A maior preocupação dos poetas parnasianos era a forma, o conteúdo ficava num segundo plano. O importante era a palavra, a aparência e a sonoridade. Tamanha era a preocupação formal que os parnasianos ficaram conhecidos como “poetas de dicionário”.

        Ao contrário da liberdade romântica, em que apareciam os versos livres e brancos, ou seja, não rimados, os parnasianos valorizaram a utilização das rimas, buscando principalmente as rimas ricas e raras.

 

            

                         -POBRES

*RIMAS            -RICAS

                         -RARAS

As rimas pobres ocorrem quando as palavras rimadas pertencem à mesma classe gramatical:

“Entre as ruínas de um convento,

De uma coluna quebrada

Sobre os destroços, ao vento

Vive uma flor isolada

                                      Alberto de Oliveira

Nessa estrofe, a palavra convento, do primeiro verso, rima com a palavra vento, do terceiro verso, e ambas são substantivos. Já a palavra quebrada, do segundo verso, rima com a palavra isolada, do quarto verso, e ambas são adjetivos.

As rimas ricas ocorrem quando as palavras rimadas pertencem a classes gramaticais diferentes:

“Sonha ... Porém de súbito a violento Abalo acorda. Em torno as folhas bolem ...

É o vento! E o ninho lhe arrebata o vento”.

                                                  Alberto de Oliveira

Nessa estrofe, a palavra violento, do primeiro verso, é um adjetivo e rima com a palavra vento, do terceiro verso, que é um substantivo.

As rimas raras ou perfeitas ocorrem quando as palavras rimadas apresentam terminações incomuns:

“Que ouço ao longe o oráculo de Elêusis.

 Se um dia eu fosse teu e fosses minha,

 O nosso amor conceberia um mundo  E de teu ventre nasceriam deuses.

                                                 Raul de Leôni

Nessa estrofe, o substantivo próprio Elêusis, do primeiro verso, rima com o substantivo comum deuses, do quarto verso. Mas atenção: o que importa na rima é o som e não a letra, por isso, não há nenhum problema em Elêusis com i e deuses com e.

Ao lado da utilização das rimas, os poetas parnasianos retomaram as formas fixas, principalmente o soneto e elegeram o verso alexandrino (verso composto por 12 sílabas poéticas) como modelo de métrica.

Veja os três maiores representantes do Parnasianismo brasileiro:

TRINDADE PARNASIANA

*Alberto de Oliveira

*Raimundo Correia

*Olavo Bilac

Alberto de Oliveira é considerado o representante mais fiel do Parnasianismo, pois mostrou em sua obra uma grande preocupação com a descrição objetiva e com a forma. Seus textos são marcados por uma sintaxe bem rebuscada. Veja sua imagem:


 

Alberto de Oliveira também foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

Vários textos de Alberto de Oliveira apresentam uma poesia visual, essencialmente descritiva, tendo por tema desde cenas naturais até a pura descrição de objetos antigos. Veja um exemplo dessa poesia descritiva a partir do conhecido poema Vaso Grego:

      Vaso Grego

Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.

Depois ... Mais o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, à bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce.

Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

                             Alberto de Oliveira

Perceba que nesse poema não há subjetividade, pelo contrário, há um predomínio da descrição objetiva. Há também uma grande quantidade de inversões sintáticas, pois segundo os parnasianos a ordem inversa dava mais requinte ao poema.

O segundo poeta da Trindade Parnasiana é Raimundo Correia. Raimundo Correia foi acusado de plagiador, devido ao grande contato que manteve com os parnasianos franceses. Mas para alguns estudiosos na realidade o que fazia não era um plágio, uma cópia, mas sim uma recriação dos textos em francês, imprimindo-lhes características pessoais. Veja sua imagem: 


Raimundo Correia destacou-se pela concisão e escolha vocabular. Fugindo um pouco das características parnasianas, construiu poemas em que a temática social e política se faziam presentes.

Veja um de seus poemas:

Plena Nudez

Eu amo os gregos tipos de escultura;
Pagãs nuas no mármore entalhadas;
Não essas produções que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.

Quero em pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres: da carne exuberante e pura
Todas as saliências destacadas ...

Não quero, a Vênus opulenta e bela
De luxuriantes formas, entrevê-la
Da transparente túnica através:

Quero vê-la, sem pejo, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus ... toda nua, da cabeça os pés!

                                      Raimundo Correia

Repare que nesse texto além da descrição, Raimundo Correia também apresenta um caráter mais erótico, mais sensual, ao contrário dos românticos, a figura feminina deixa de ser idealizada, aproximando-se mais dos relacionamentos humanos. O Parnasianismo apresenta uma visão mais carnal do amor.

Veja a imagem do maior representante do parnasianismo

Brasileiro:



 

Olavo Bilac também participou da fundação da Academia Brasileira de Letras. Embora poucos saibam, ele também é o autor do nosso Hino à Bandeira.

Desde o início da sua produção, Olavo Bilac sempre se manteve fiel aos preceitos parnasianos, buscando a perfeição formal e a retomada dos ideais clássicos. Bilac também se dedicou à produção de obras didáticas, que durante muito tempo foram utilizadas nas escolas brasileiras. Veja um fragmento de seu poema mais famoso, fundamental para a compreensão dos princípios parnasianos:

Profissão de Fé

(...)
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,
A ideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito.(...)
Assim, procedo.

Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir,
Deusa serena,
Serena Forma!”

                             Olavo Bilac

Olavo Bilac nesse poema faz uma comparação entre o trabalho do poeta e o trabalho do ourives. Escrever poesia era para ele um trabalho artesanal. A rima era comparada a uma pedra preciosa, como um rubi, reafirmando assim, a ideia parnasiana de que o poeta era o artesão da palavra.


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