quinta-feira, 26 de maio de 2022

MODERNISMO EM PORTUGAL

 

 

As primeiras manifestações modernistas começaram a surgir no período compreendido entre as duas guerras mundiais, período marcado por profundas transformações político-sociais em toda a Europa, não só em Portugal.

Didaticamente, o Modernismo português tem início em 1915, com o lançamento do primeiro número da Revista Orpheu, revista que, inspirada pelos movimentos da Vanguarda Europeia, desejava romper com o convencionalismo, com as idealizações românticas, chocando a sociedade da época.

Vários artistas participaram da elaboração da revista, entre eles destacaram-se: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros. Os escritores do Orfismo, como ficaram conhecidos, queriam imprimir à literatura portuguesa as inovações européias.

Anos depois, em 1927, outra importante revista passa a ser divulgadora dos novos ideais modernistas – A Revista Presença, que teve como maior representante, o escritor José Régio.

Veja o principal representante do Modernismo português:

 


Ilustração de Costa Pinheiro

Fernando Pessoa é a grande figura da produção modernista em Portugal. Mas por que será que essa imagem tem o autor ao centro com três sombras ao redor?

Pessoa criou vários heterônimos que apresentavam características particulares e que por isso escreviam textos bem diversos. Mas o que é um heterônimo? É um desdobramento da própria personalidade do autor, é a criação de outras pessoas. Heterônimo é diferente de pseudônimo, pois atinge uma maior complexidade, o pseudônimo é apenas a criação de nomes fictícios para uma mesma pessoa, heterônimo é mais que um nome diferente, é uma outra pessoa.

Veja esquematicamente o que significa o fenômeno da heteronímia:

                                                    -ORTÔNIMO – “Ele mesmo”

FERNANDO PESSOA

                           -HETERÔNIMOS

                                                     *Alberto Caeiro

                                                     *Ricardo Reis

                                                     *Álvaro de Campos

Existem outros heterônimos menos conhecidos. Como disse o próprio escritor, várias foram as personagens que o acompanharam desde a infância. Segundo ele sua tendência, sua necessidade era multiplicar-se:

“Multipliquei-me, para me sentir,

Para me sentir, precisei sentir tudo,

Transbordei-me, não fiz senão extravasar-me”.

Os heterônimos de Pessoa apresentavam uma biografia, ou seja, tinham data e local de nascimento, profissão e diferentes visões de mundo.

Alberto Caeiro nasceu em 1989 e morreu tuberculoso em 1915, era um homem simples do campo. Sua estatura era mediana, loiro, de olhos azuis, órfão e estudou pouco, até o primeiro ano.

Seus textos são marcados pela ingenuidade e pela linguagem simples, seus versos são livres e falam do amor à natureza e à simplicidade da vida no campo. Recusa qualquer explicação filosófica sobre a vida. Caeiro pensa com os sentidos, não com a razão, para ele a felicidade reside em não pensar.

Identifique as características de Alberto Caeiro no próximo fragmento de um de seus textos:

O Guardador de Rebanhos

“Sou um guardador de rebanhos.

O rebanho é os meus pensamentos

E os meus pensamentos são todos sensações.

Penso com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de gozá-lo tanto.

E me deito ao comprido na erva,

E fecho os olhos quentes,

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, Sei a verdade e sou feliz”.

                             

Alberto Caeiro

 

Ricardo Reis nasceu em 1887, na cidade do Porto e era médico. Era baixo, forte, moreno e um monarquista de formação.

Seus textos caracterizam-se pelo estilo erudito e clássico. Enquanto Alberto Caeiro era sinônimo de sensibilidade, Ricardo Reis é extremamente racional. Sua linguagem é rebuscada e complexa. Usa com muita frequência a mitologia clássica, principalmente a máximas horacianas do Carpe Diem (“aproveite o momento”). Tinha plena consciência da brevidade da vida, o que lhe provocava muito sofrimento.

Identifique as características de Ricardo Reis no próximo fragmento de um de seus textos:

                              Ode VI

“Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.

Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.           (Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida

Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,             Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.

Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.

Mais vale saber passar silenciosamente

            E sem desassossegos grandes (...)”

                                                 Ricardo Reis

Álvaro de Campos nasceu em outubro de 1890. Era engenheiro naval, alto, magro, cabelos lisos e assemelhava-se a um judeu português.

Álvaro de Campos era o poeta do futuro, da velocidade, das máquinas, do tempo presente, identificado com a Vanguarda Europeia. Seus textos são contraditórios: ora marcados por uma grande energia, ora revelando a crise dos valores espirituais e a angústia do homem de seu tempo, inadaptado às condutas sociais Enquanto Alberto Caeiro pensava com os sentidos e Ricardo Reis com a razão, Álvaro de Campos, pensava com a emoção.

Veja suas características no próximo texto:

Lisbon revisited

“Não: não quero nada.

Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!

Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!

Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) – Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.

Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. Com todo direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus! (...)”

                Álvaro de Campos

Veja agora a imagem de Fernando Pessoa “ele mesmo”:

 



 

Ilustração de Almada Negreiros

Fernando Pessoa foi um dos escritores mais complexos da literatura portuguesa. Começou a se destacar como escritor a partir de seus inúmeros artigos publicados sobre as novas tendências modernistas em Portugal. Mas foi graças a criação de seus heterônimos que ganhou notoriedade mundial.

A produção ortônima de Fernando Pessoa apresenta características bem diferentes das encontradas em seus heterônimos. Fernando Pessoa “ele-mesmo” expressa um profundo sentimento nacionalista e um apego à tradição portuguesa. Sua produção literária é comumente dividida em: lírica e épica. O livro Mensagem é um exemplo da sua obra épica. Nele Fernando Pessoa, numa clara aproximação com Camões, vai falar dos grandes feitos portugueses, dos reis e da época das grandes navegações.

Veja um exemplo de sua obra lírica, através de um de seus poemas mais conhecidos:

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda Que se chama o coração.

                      Fernando Pessoa

Outra figura importante do Modernismo português é Mário de Sá Carneiro, que como vimos, também fez parte do grupo de escritores responsáveis pela publicação da Revista Orpheu em 1915. Ele era o responsável pela parte financeira da revista, tanto que após o seu suicídio, em 1916, com apenas 26 anos, e revista não circulou mais.

Seus textos são marcados por um forte sentimento de inadaptação ao mundo e por muito subjetivismo. Mário de Sá-Carneiro buscou compreender o porquê de sua existência, mas não o encontrou, acabando se perdendo nele mesmo.

Veja o seu texto mais famoso:

Dispersão

“Perdi-me dentro de mim

Porque eu era labirinto,

E hoje, quando me sinto, É com saudades de mim.

(...)

Não sinto o espaço que encerro Nem as linhas que projeto: Se me olho a um espelho, erro – Não me acho no que projeto.

Regresso dentro de mim Mas nada me fala, nada! Tenho a alma amortalhada, Sequinha, dentro de mim.

(...)

Eu tenho pena de mim, Pobre menino ideal...

Que me faltou afinal?

Um elo? Um rastro?... Ai de mim!...

(...)

Perdi a morte e a vida, E, louco, não enlouqueço...

A hora foge vivida

Eu sigo-a, mas permaneço...”

          Mário de Sá-Carneiro


LITERATURA - VANGUARDA EUROPÉIA

 

 

As principais manifestações artísticas do início do século XX foram fundamentais para o desenvolvimento do Modernismo literário.

Costuma-se chamar de Vanguarda Europeia o conjunto de movimentos artísticos, não só na literatura, mas também na pintura e escultura, que apresentavam no início do século XX o comum desejo de renovação, de rompimento com as estéticas tradicionais. Vanguarda europeia é rebeldia, é negação.

Veja quais foram esses movimentos:

*  FUTURISMO

*  EXPRESSIONISMO

*  CUBISMO

*  DADAÍSMO

*  SURREALISMO

O início do século XX caracteriza-se como um período marcado por grandes e rápidas transformações tecnológicas. Literalmente rápidas. Essa é era da eletricidade, do automóvel, do avião, ou seja, é o momento da velocidade, provocada pelo aperfeiçoamento das máquinas e pela crescente industrialização.

O Futurismo foi o primeiro movimento de vanguarda, chocando com sua rebeldia toda a população da época.

Veja uma imagem futurista:

 


Nesse quadro, chamado O Dinamismo de um automóvel, de Luigi Russolo, encontramos uma característica marcante do Futurismo: a velocidade, o movimento e a força das máquinas representados nas fortes cores e traçados.

O principal representante do Futurismo foi o escritor italiano Marinetti, que, na literatura, pregava a destruição da sintaxe, o menosprezo pela pontuação. Para esse autor tudo deveria ser novo e rápido, seu desejo era a exaltação da vida moderna e o rompimento total com o passado.

O Futurismo apresentou vários manifestos. Veja um fragmento do mais conhecido, escrito por Marinetti:

“Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito à energia e à eternidade.

Os elementos essenciais de nossa poesia serão a coragem, a audácia e a revolta.

Tendo a literatura até aqui enaltecido a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono, nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo ginástico, o salto mortal, a bofetada e o soco.

 Nós declaramos que o esplendor do mundo se enriqueceu com uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida (...) é mais belo que a Vitória de Samotrácia  (...)

 Nós queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destrutor dos anarquistas, as belas idéias que matam, e o menosprezo à mulher.

 Nós queremos demolir os museus, as bibliotecas, combater o moralismo, o feminismo e todas as covardias oportunistas e utilitárias”.

Vitória de Samotrácia é o nome de uma famosa escultura grega que se encontra no Louvre, em Paris, considerada uma das obras de arte mais perfeita de todos os tempos (O Louvre é um dos museus mais famosos do mundo).

O próximo movimento é de origem alemã e caracteriza-se pela expressão do mundo interior, pela expressão das imagens independentemente dos conceitos de beleza. O importante era a expressão, daí ser conhecido como Expressionismo.

Veja uma pintura expressionista:

 


Perceba a densidade expressionista dessa pintura. A imagem parece transformar-se na própria dor do homem que gritava.

As principais características desse movimento foram:

*Composições abstratas

*Subjetivismo

*Ilogismo

Composições abstratas = Assim como na pintura, os escritores expressionistas também gostavam de deformações abstratas do real.

Subjetivismo = O artista expressionista desejava a expressão violenta do subjetivo, das emoções, do mundo interior.

Ilogismo = Uma vez que tudo era expressão não havia a preocupação com a lógica do mundo exterior como nas estéticas anteriores.

 


Lês Demoiselles d’Avignon

Essa pintura de Pablo Picasso, de 1907, é considerada por muitos estudiosos o marco inicial do Cubismo e da arte moderna. Perceba que as formas são geometrizadas, com cores duras e chapadas. Picasso conseguiu romper com séculos de tradição artística.

Na pintura, as formas geométricas e os objetos vistos sob vários ângulos simultaneamente caracterizam o Cubismo.

Veja as características do Cubismo na literatura:

*  Ilogismo

*Linguagem caótica

*  Tempo presente

*  Humor

Ilogismo = Os textos cubistas são marcados pela supressão da lógica formal. O pensamento não é racional, ele aparece entre o consciente e o inconsciente do escritor.

Linguagem caótica = Como não há uma lógica, as palavras são soltas, dispostas aparentemente de uma forma aleatória.

Tempo presente = Para o escritor cubista, ansioso por viver o seu tempo, o tempo presente, tudo passa a ser tema para poesia, como por exemplo: viagens, paisagens e visões exóticas.

Humor = Muito comum nos textos cubistas, provocado não só pelas ironias, mas pela própria disposição gráfica das palavras.

Veja uma imagem do próximo movimento:

 


Perceba nesse quadro, chamado É o chapéu que faz o homem, 1920, de Max Ernst, a justaposição dos objetos, associados livremente. A liberdade artística foi uma grande característica do movimento chamado Dadaísmo.

O Dadaísmo é considerado por muitos, o mais radical de todos os movimentos da Vanguarda Européia. Ele era a negação de todos os valores culturais existentes há séculos. O dadaísmo é a estética do absurdo, do incoerente, do ilógico, a começar pelo próprio nome. Quando indagado sobre o significado da palavra dada, Tristan Tzara, o criador do Dadaísmo, afirma que dada não significava nada, que ele encontrou essa palavra ao acaso, abrindo um dicionário. Os dadaístas estavam preocupados em ridicularizar, em negar tudo e todos.

Veja como escrever um poema dadaísta a partir de uma receita dada pelo próprio criador do movimento:

        “Pegue um jornal.

Pegue a tesoura.

Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.

Recorte o artigo.

Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.

Agite suavemente.

Tire em seguida cada pedaço um após o outro.

Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.

O poema se parecerá com você.

E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público”.

                                                            Tristan Tzara

 

Nessa conhecida pintura de Salvador Dali, chamada A persistência da Memória, encontramos relógios derretendo, numa espécie, de sonho, de sugestão sobre a brevidade do tempo e da vida. Esse quadro é um dos símbolos do Surrealismo.



Os escritores surrealistas, influenciados pelos estudos de Freud, mostraram grande interesse pelo inconsciente humano e pelo sonho, considerado a expressão máxima da liberdade humana. Através do sonho o homem estava livre de toda crítica, de toda censura e principalmente da lógica.

Veja um texto surrealista:

 As realidades

                 (fábula)

Era uma vez uma realidade com suas ovelhas de lã real a filha do rei passou por ali

E as ovelhas baliam que linda que está a re a re a realidade.

Na noite era uma vez

uma realidade que sofria de insônia Então chegava a madrinha fada e realmente levava-a pela mão a re a re a realidade.

No trono havia uma vez um velho rei que se aborrecia e pela noite perdia o seu manto e por rainha puseram-lhe ao lado a re a re a realidade.

CAUDA: dade dade a reali

Dade dade a realidade

A real a real

Idade idade dá a reali

Ali

A re a realidade

Era uma vez a REALIDADE.

                          Louis Aragon


PRÉ-MODERNISMO - LITERATURA

 

O Pré-Modernismo é um movimento literário tipicamente brasileiro. Convencionou-se chamar de Pré-Modernismo o período anterior à Semana de Arte Moderna de 1922. Didaticamente, esse movimento literário tem início em 1902 com a publicação do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha e com a publicação do livro Canaã de Graça Aranha. O Pré-Modernismo é um período de transição, pois ao mesmo tempo em que encontrávamos produções conservadoras como as poesias parnasianas e simbolistas, encontrávamos as primeiras produções de caráter mais moderno, preocupadas com a realidade brasileira da época.

O Pré-Modernismo oscilou entre:

a)  produção conservadora: com características realistas/naturalistas, na prosa e parnasiano-simbolistas, na poesia;

    b) produção inovadora: profundo interesse e preocupação em registrar, na prosa, os desequilíbrios sociais da época. Na poesia, Augusto dos Anjos usa palavras antipoéticas que insultam a sensibilidade parnasiana.

Contexto Histórico

    As primeiras décadas do século XX foram marcadas por um notável desenvolvimento técnico e científico. As inúmeras invenções e descobertas realizadas de 1900 a 1920 alteraram profundamente a face do mundo, criando novas maneiras de pensar e um novo ritmo de vida para a humanidade. Os novos tempos, guiados pela ciência, entravam definitivamente na vida quotidiana do homem.

   O início do século XX foi marcado pelo acirramento das rivalidades internacionais, que resultou na Primeira Guerra Mundial (1914-18) e no surgimento de uma nova potência: os Estados Unidos da América.

Em 1917, com a Revolução Russa, o proletariado toma o poder. Começaram, então, a delinear-se dois regimes antagônicos: o comunismo e o capitalismo.

No Brasil, o Pré-Modernismo desenvolveu-se na época de transição da República da Espada (marcada pela presença de militares no poder), para a República das Oligarquias ou República do café-com-leite, em que o Brasil foi governado ora por donos de fazenda de café de São Paulo, ora por fazendeiros de Minas, os dois estados mais ricos do país.

Críticos da Sociedade Brasileira

    Nas primeiras décadas do século XX, surgiram no Brasil alguns escritores que, diferentemente da grande maioria, tiveram uma outra atitude perante a nossa realidade sociocultural.
    Expressando uma visão mais crítica e penetrante dos problemas brasileiros, autores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Graça Aranha e Lima Barreto, em maior ou menor grau, acabaram por antecipar uma das tendências que marcaram decisivamente o Modernismo, que é justamente a criação de uma literatura que investigasse e questionasse mais profundamente o Brasil. Por essa característica, portanto, esses autores podem ser considerados pré-modernos.
    Como já vimos anteriormente, o desenvolvimento do regionalismo contribuiu para que aumentasse o interesse pela descrição da "realidade" brasileira. No entanto, ainda não existia um agudo senso crítico, pois os escritores regionalistas, de modo geral, preocuparam-se apenas em "retratar" o interior do Brasil no que ele apresentava de pitoresco e curioso, sem intenções de analisá-lo profundamente.
    Portanto, podemos dizer que a diferença principal entre esses autores e os considerados pré-modernos está em que estes últimos expressaram em suas obras a consciência de alguns dos problemas que afetavam a realidade nacional, fazendo a denúncia de certos desequilíbrios socioculturais importantes, tais como: a dramática situação do sertanejo nordestino; o contrastante nível de vida das diversas camadas da população brasileira; a decadência e pobreza de muitas regiões isoladas do interior etc.
    Veja as principais características do Pré-Modernismo brasileiro:

*  Ruptura com o passado

*  Denúncia da realidade

*  Regionalismo

*  Tipos humanos marginalizados

Ruptura com o passado = As novas produções rompem com o academismo e com os modelos preestabelecidos pelas antigas estéticas.

Denúncia da realidade = A realidade não oficial passa a ser a temática do período.

Regionalismo = São retratados o sertão nordestino, o interior paulista, os subúrbios cariocas, entre outras regiões brasileiras.

Tipos humanos marginalizados = Nas obras desse período, encontram-se retratadas muitas figuras marginalizadas pela elite, como o sertanejo nordestino, o caipira, o mulato, entre outros tipos.

Veja os principais autores do Pré-Modernismo brasileiro:

      Euclides da Cunha

      Lima Barreto

      Monteiro Lobato

      Graça Aranha

      Augusto dos Anjos *

Euclides da Cunha = retratou a miséria do subdesenvolvido nordeste do país.

Lima Barreto = retratou a vida carioca urbana e suburbana do início do século XX.

Monteiro Lobato = retratou a miséria dos moradores do interior do sudeste e a decadência da economia cafeeira.

Graça Aranha = retratou a imigração alemã no Espírito Santo.

Augusto dos Anjos  = apresenta uma classificação problemática, não podendo ser apenas estudado como um autor pré-modernista. Sua obra apresenta elementos de várias estéticas. Mas para fins didáticos costuma-se estudá-lo como pré-modernista.

 


     
Euclides da Cunha era engenheiro, mas se destacou no cenário brasileiro do começo do século XX como escritor.
     Euclides da Cunha também era jornalista e foi mandado a Canudos, na Bahia como correspondente do jornal “O Estado de São Paulo”, com a tarefa de registrar as operações do exército na revolta baiana. 
    Essa imagem retrata a grande quantidade de prisioneiros refugiados. A Guerra de Canudos será o tema principal de seu livro mais famoso: Os Sertões.
    O Livro Os Sertões é um livro que se localiza entre a sociologia e a literatura, tamanha a riqueza de detalhes e a preocupação em retratar a realidade da maneira em que ela se apresentava.

Os Sertões é uma das primeiras obras a romper com a visão romântica do Brasil enquanto terra paradisíaca. Nesse livro, Euclides da Cunha construiu uma espécie de narrativa negativa de um povo massacrado pela miséria e pela injustiça social. Segundo o autor, a realidade da guerra era muito diferente da que o governo dizia. Aparentemente o motivo desencadeador da revolta foi o fanatismo religioso e o cangaço, mas na realidade os profundos motivos foram o sistema latifundiário, a servidão e o abandono social da região.

O livro está dividido em três partes: na primeira, Euclides descreve a terra, o cenário em que se desenvolverá o enredo; no segundo, o autor faz uma descrição do homem, explicando a origem dos jagunços e cangaceiros. Destaca-se nesse momento a descrição do líder do movimento, Antônio Conselheiro. Na terceira parte, encontra-se a grande talvez a maior riqueza do livro, nela Euclides da Cunha apresenta o conflito em si. Somente depois de várias expedições é que os revoltados são vencidos. Dos mais de 20 mil brasileiros em Canudos, restaram apenas 4: um velho, dois homens feitos e uma criança na frente de um exército de 5 mil homens.

Veja a imagem de outro importante autor pré-modernista:

 


Lima Barreto teve uma vida muito atribulada, principalmente por ser pobre e negro, numa época marcada por várias formas de preconceito. Ao contrário de Machado de Assis, que alcançou a notoriedade ainda em vida, Lima Barreto sofreu muito com o preconceito racial, com o alcoolismo e com as frequentes crises depressivas.

Lima Barreto, sentindo as dores do preconceito e da pobreza, mostrou grande identificação com as pessoas marginalizadas da sociedade da época, com as quais sempre conviveu. Sua obra é uma literatura sobre o povo e para o povo, seus textos apresentam uma linguagem simples e direta, assemelhando-se à linguagem jornalística, panfletária. O que lhe causou muitas críticas.

Lima Barreto soube como nenhum outro pré-modernista retratar com muito realismo a vida dos subúrbios cariocas e as desigualdades sociais do Rio de janeiro do início do século XX, uma época de grande desenvolvimento e transformações.

Entre seus livros mais conhecidos está Triste Fim de Policarpo Quaresma. Nesse romance narrado em terceira pessoa, através de uma forte carga humorística, Lima Barreto conta a história do Major Policarpo Quaresma. O livro é uma caricatura da vida política brasileira no período posterior à proclamação da República.

Policarpo Quaresma é um fanático, uma espécie de Dom Quixote brasileiro. Possuidor de um nacionalismo extremo, Quaresma tenta evitar a todo custo a influência da cultura europeia na cultura brasileira.

Entre suas várias tentativas de preservar a cultura nacional o major chega a escrever uma carta ao Congresso Nacional. Veja com que objetivo:

“Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por este fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários do língua; sabendo, além, que, dentro de nosso país, os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma, usando o direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupiguarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro”.

Depois de muita confusão Quaresma é internado como louco. Ao sair do hospício seu nacionalismo parece ter diminuído um pouco, mas se lança em outra batalha, desejava reformar a agricultura do país.

Veja outro conhecido autor do pré-modernismo brasileiro:

 

Monteiro Lobato foi uma figura muito polêmica, ao contrário da impressão que a maioria das pessoas tem hoje a seu respeito. Hoje, falar em Lobato é lembrar do escritor de livros infantis e criador do Sítio do Pica-pau Amarelo, mas sua produção não se limita a esse gênero.



Monteiro Lobato foi um escritor que retratou como ninguém o atraso das regiões interioranas de São Paulo. Ele foi o criador de um dos símbolos do atraso e da ignorância do caipira. Ele é o criador da figura do Jeca Tatu.

 Lobato tinha um gênio muito forte, desde criança mostrou-se rebelde. Foi um dos primeiros a dizer que havia petróleo em terras brasileiras, chegando a ser preso por isso, durante o período da ditadura militar. Seu jeito explosivo foi responsável por um dos motivadores do movimento modernista. Monteiro Lobato, num artigo intitulado “Paranóia ou mistificação?”, faz duras críticas ao trabalho modernista da pintora Anita Malfatti.

Veja o tom de suas palavras:

“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em conseqüência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres (...)

A outra espécie é formada dos que vêem anormalmente a natureza e a interpretam à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao nascedoiro (...) Embora eles se deem como novos precursores duma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação (...) Sejamos sinceros; futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros tantos ramos da arte caricatural (...)”

Graça Aranha é o autor de Canaã, que juntamente com Os Sertões, dá início ao Pré-Modernismo brasileiro. Nessa obra Graça Aranha narra o processo de colonização alemã no Espírito Santo.

Augusto dos Anjos, como já foi visto, apresenta uma classificação problemática. Ele era conhecido como o autor do pessimismo, do mau gosto, do escarro e dos vermes.

Veja um de seus textos:

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas
– Que o sangue podre das carnificinas
Come e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Geografia da Paraíba

    Localização e Área Territorial  da Paraíba     A população paraibana chegou a 4.059.905 em 2021, segundo nova estimativa divulgada pelo ...