terça-feira, 31 de maio de 2022

MODERNISMO NO BRASIL – SEGUNDA FASE

 

SEGUNDA FASE (POESIA)

A segunda fase do Modernismo iniciou-se com a Revolução de 30 e terminou com a deposição de Getúlio Vargas pelas Forças Armadas, em 1945. O período entre 1930 e 1940 foi decisivo para o romance, que denunciou os males sociais, voltando-se para o homem humilde e injustiçado. Desenvolveu-se nessa época o romance regionalista, psicológico e urbano. A poesia amadureceu as conquistas de 22 e também voltou-se para temas sociais.
A segunda fase corresponde ao período de amadurecimento e consolidação das conquistas da fase anterior - da geração de 22. Os autores não apresentavam mais o caráter destruidor e irreverente de antes. Devido à grande produção, didaticamente, costuma-se dividir essa fase em produções em prosa e produções em poesia. Hoje falaremos sobre a poesia da segunda geração do Modernismo.
A segunda fase do Modernismo aproveitou e amadureceu as propostas de 22, eliminando exageros e gratuidades. Ao mesmo tempo que continuou as pesquisas estéticas, a primeira geração reabilitou algumas formas tradicionais, como o soneto e o verso rimado. Sua temática foi mais politizada, mas não deixou de lado o espiritualismo e a introspecção.

Veja quais foram os principais poetas desse período:

2ª FASE MODERNISTA (1930-1945) POESIA:

Carlos Drummond de Andrade

Cecília Meireles

Vinícius de Moraes

Murilo Mendes

       É importante deixar claro que os autores da primeira geração (Mário, Oswald e Bandeira) continuaram escrevendo, mas novos autores surgiram. A temática dessa fase é bem variada: Drummond e Murilo Mendes voltaram se mais para os aspectos da sociedade capitalista e para as questões universais do homem. Já Cecília Meireles e Vinícius de Moraes, embora também apresentando aspectos universais, voltaram-se para uma poesia mais espiritualista. Em Cecília e em Murilo Mendes também encontramos fortes marcas religiosas e místicas.

Veja a imagem de um dos importantes poetas dessa geração:

 

Carlos Drummond de Andrade é considerado o grande representante da poesia contemporânea brasileira. Seus textos, embora partindo da realidade brasileira, refletem os problemas universais do ser humano, apresentando textos com uma temática variada: o amor, a metalinguagem, a saudade, o cotidiano e uma forte preocupação política e social.

            Drummond, influenciado pelo contexto histórico de seu tempo (2ª Guerra Mundial, sistemas políticos autoritários), mostrou-se sempre preocupado com a transformação da sociedade a partir da compreensão do tempo presente

Veja um poema em que o coletivo e o tempo presente são temas essenciais:

                    Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.

Estou preso à vida e olho meus companheiros.

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considero a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos.

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

                                                   Carlos Drummond de Andrade

O primeiro grande poema de Drummond, publicado em 1928 na Revista Antropofagia, foi No meio do caminho:

            No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. 

Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.

                                           Carlos Drummond de Andrade


O cotidiano, os acontecimentos banais também viraram temas poéticos nas mãos de Drummond.

Veja o próximo poema em que o cotidiano é retratado de forma irônica e bem humorada, numa aproximação com o poema-piada do momento anterior:

Cidadezinha Qualquer

Casas entre bananeiras mulheres
entre laranjeiras pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.

Carlos Drummond de Andrade

Já apresentando com uma poesia mais intimista nós encontramos uma figura feminina muito importante:

Cecília Meireles trilou um caminho muito particular, o que dificulta sua classificação numa estética literária determinada. Seus versos apresentam características de vários movimentos, em especial do Simbolismo.

Cecília Meireles tornou-se conhecida no meio literário a partir da sua participação na corrente espiritualista da geração de 22. Aos poucos, afasta-se dessa corrente, mas conserva as características introspectivas e intimistas do grupo.

Seus versos, geralmente curtos e cheios de musicalidade, refletem sobre a brevidade da vida, as razões da existência, a solidão e a morte, imprimindo um caráter intimista em toda sua produção poética.

Veja o que Cecília dizia a respeito de sua obra:

“ Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno (...). Em toda minha vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade”.

Cecília Meireles

Esses motivos são responsáveis pelo pessimismo e desencanto que perpassam vários momentos de sua obra.

Veja um de seus poemas mais conhecidos:

        Motivo

Eu canto porque o instante existe e minha vida está completa. 

Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.

(...)

Sei que canto. 

E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo: - mais nada.

                                               Cecília Meireles

Esse é poema metalinguístico, pois nele Cecília faz uma reflexão sobre o próprio ato de escrever, sem, contudo, perder o tom intimista, introspectivo.

Veja a imagem de Vinícius de Moraes, outro importante poeta dessa segunda fase:

Vinícius de Moraes foi um importante nome não só na literatura, mas também na música popular brasileira. Altamente comunicativo, Vinícius definia-se como “poeta e diplomata, o branco mais preto do Brasil, na linha de Xangô. Sarava!”

Didaticamente sua produção poética é dividida em duas fases. Na primeira, mostrou-se intimamente ligado às características simbolistas. Os textos dessa época apresentam temas ligados a aspectos religiosos, à angústia, ao conflito entre o carnal e o espiritual.

 Na segunda fase, seus textos, sem perder o tom espiritual, voltam-se para os aspectos do cotidiano e para o amor. A mulher também passou a ser um tema frequente em seus poemas. Tanto que uma vez, quando perguntado sobre as três coisas mais importantes de sua vida ele respondeu: “Primeiro mulher; segundo mulher; e por fim mulher!”. Garota de Ipanema, música dele e de Tom Jobim, símbolo da bossa nova, é até hoje a canção brasileira mais gravada em todo o mundo.

Vinícius, ao contrário dos primeiros modernistas que abandonaram todas as formas fixas, apresentou um grande apreço pelo soneto (composição muito utilizada pelos clássicos)

Veja um de seus sonetos mais conhecidos:

      Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinícius de Moraes


Os temas mais próximos da realidade também foram tratados pelo poeta. Veja sua preocupação social no poema Operário em construção:

Operário em construção

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia por exemplo,
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão (...)

Vinícius de Moraes

Murilo Mendes foi outra importante figura desse período:

 

Murilo Mendes, assim como Cecília Meireles também pertenceu à corrente espiritualista do Modernismo. A religiosidade voltada para a crítica das injustiças sociais é uma de suas características.

Veja um exemplo dessa religiosidade no poema seguinte:

                        Solidariedade

Sou ligado pela herança do espírito e do sangue

Ao mártir, ao assassino, ao anarquista,

Sou ligado

Aos casais na terra e no ar,

Ao vendeiro da esquina,

Ao padre, ao mendigo, à mulher da vida,

Ao mecânico, ao poeta, ao soldado,

Ao santo e ao demônio,

Construídos à minha imagem e semelhança.

                                                          Murilo Mendes


MODERNISMO NO BRASIL –PRIMEIRA FASE


Esta fase, também chamada de “heroica”, foi a que mais combateu a tradição; marcou-se por intensa produção em poesia, cujas principais características foram:
- utilização do verso livre;
- procura de uma língua “brasileira”, privilegiando por isso a linguagem coloquial;
- uso de linguagem telegráfica, condensada;
- ausência de pontuação;
- valorização do cotidiano;
- uso de paródias com o sentido de dessacralizar a tradição;
- uso do humor (poema-piada);
- criação de neologismos;
- aproximação da linguagem da prosa.

PRIMEIRA FASE - AUTORES

A primeira fase, conhecida como heroica, compreende o período de 1922 a 1930 e apresenta o desejo de liberdade, de ruptura e de destruição do passado como características marcantes. Os principais autores são: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Alcântara Machado.

1ª Fase (1922-1930) HERÓICA

Oswald de Andrade

Mário de Andrade

Manuel Bandeira

Alcântara Machado

Essa primeira fase foi predominantemente poética. Seus autores pregavam, entre outras ideias, a negação do passado, a valorização poética do cotidiano, o nacionalismo e a liberdade linguística, basicamente através da incorporação da linguagem coloquial e o Anarquismo.

Veja a imagem de um importante nome do Modernismo brasileiro desse período:


A primeira tela é de Lasar Segall e a segunda é de Cândido Portinari. Mário de Andrade é considerado o “papa” do Modernismo da geração de 22.

Mário de Andrade era irreverente e criativo, em suas obras buscou incorporar o novo, rompendo com todas as estruturas ligadas ao passado. Preocupou-se com uma língua que fosse próxima do falar do povo, que fosse reflexo da cultura popular. Escreveu tanto poesias como prosa. Seu livro Paulicéia Desvairada é considerado o primeiro do Modernismo brasileiro, pois rompe com o academismo vigente.

Veja alguns trechos do prefácio desse livro, chamado pelo próprio Mário de Prefácio Interessantíssimo.

Leitor:

Está fundado o Desvairismo.

            Este prefácio, apesar de interessante, inútil.

                                                     (...)

Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões.

Para quem me aceita são inúteis ambos.

 Os curiosos terão prazer em descobrir minhas conclusões, confrontando obra e dados.

Para quem me rejeita trabalho perdido explicar o que, antes de ler, já não aceitou.

                                                     (...)

Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita.

 Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste prefácio Interessantíssimo.

                                         (...)

O caráter debochado e inovador está presente não só ao longo de todo o livro, mas em toda sua obra. Como podemos ver em Macunaíma, seu romance modernista, ou como ele próprio nomeou, sua rapsódia.


O livro Macunaíma, que apresenta o subtítulo o herói sem nenhum caráter é um romance-rapsódia que discute a nacionalidade brasileira.

Rapsódia é uma composição que mistura elementos da música e do folclore de um povo. E é justamente isso que Mário de Andrade faz ao contar a história de Macunaíma, o índio que nasceu preto e depois virou branco.

Veja um trecho do livro em que é narrado o nascimento de Macunaíma:

“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamara Macunaíma.

Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar, exclamava:

_ Ai! que preguiça! ... e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vicia deitado, mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus (...) No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afasta (...)”

Macunaíma era preguiço, debochado, egoísta, um verdadeiro malandro, muito diferente da figura dos mocinhos dos livros. Ele é considerado um anti-herói, daí a expressão: “o herói sem nenhum caráter”, já sugerida pelo próprio significado do nome Macunaíma, que é mal grande.

Veja a imagem de um outro importante escritor da geração de 22:


Oswald de Andrade é considerado o autor mais irreverente, combativo e polêmico da primeira fase modernista. Foi o idealizador dos principais manifestos modernistas.

Sua obra é muito rica e apresenta claramente o caráter inovador do Modernismo. Seus textos são marcados pela liberdade linguística, pelo nacionalismo e pelo caráter demolidor. Oswald é considerado o criador do poema pílula, do poema curto, direto, mas que nem por isso era menos rico.

Veja dois poemas que ilustram bem as características desse escritor:

        erro de português

Quando o português chegou

Debaixo duma bruta chuva

Vestiu o índio Que pena!

Fosse uma manhã de sol 

O índio tinha despido 

O português.

                         

Pronominais

Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da nação brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada  

Me dá um cigarro.

    Oswald de Andrade

Oswald de Andrade também estava preocupado com a proximidade da poesia com o falar brasileiro, seus poemas são curtos, com versos livres trazendo quase sempre um caráter humorístico, bem diferente dos poemas parnasianos.

 Oswald também se dedicou à prosa:

                       

                    Memórias Sentimentais de João Miramar.

Nesse livro, Oswald rompe com os esquemas tradicionais da narrativa. Os capítulos são curtíssimos, apresentando-se como pequenos fragmentos justapostos, próximos da técnica da pintura cubista, que representava ao mesmo tempo, as várias faces de um objeto ou situação, o que impossibilita uma leitura linear.

Veja a imagem de Manuel Bandeira, outro nome importante desse período:


Manuel Bandeira mostrou-se, no início de sua carreira, ainda preso aos valores parnasianos. Mas aos poucos incorporou as inovações modernistas.

A partir do livro Libertinagem firma-se como modernista. Seus poemas refletem uma linguagem simples, identificada com o falar cotidiano, assim como seus temas. Tudo podia ser motivo de poesia, a própria doença, frases corriqueiras e até mesmo uma notícia retirada de jornal. Sua linguagem coloquial e irônica, que atinge grande dramaticidade em poemas como o famoso "Pneumotórax". A ânsia de libertação e a ausência dolorosa de figuras familiares estão presentes em "Vou-me embora pra Pasárgada", "Poema de Finados", "Evocação de Recife", "Profundamente".

   Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

 

Vou-me embota pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

 

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

 

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

 

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

(In Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Aguilar, 1974. p. 222.)                                             

Veja no poema Pneumotórax, a ironia, outra característica de Bandeira:

          Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.

A vida interia que podia ter sido e que não foi.

Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:

_ Diga trinta e três.

_ Trinta e três ... trinta e três ... trinta e três ...

_ Respire.

_ O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.

_ Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

_Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Manuel Bandeira

Alcântara Machado, autor de Brás, Bexiga e Barra Funda é outra importante figura dessa primeira geração. Nesse livro de contos, Alcântara Machado retratou a vida dos imigrantes italianos moradores dos bairros populares da cidade de São Paulo. Inovando também a linguagem ao incorporar a linguagem popular, a simplicidade sintática e os italianismos, ou seja, a incorporação de expressões italianas ao português, daí a expressão português macarrônico.

Veja um exemplo desse português macarrônico no conto “A sociedade”, do mesmo livro:

_ Parlo assim para facilitar. Non é para ofender. Primo o doutor pense bem. E poi me dê a sua reposta. Domani, dopo domani, na outra semana, quando quiser. Io resto à sua disposição. Ma pense bem!”







quinta-feira, 26 de maio de 2022

LITERATURA - MODERNISMO NO BRASIL


   Muito influenciadas pelos movimentos da Vanguarda Europeia e pelo Modernismo português, as manifestações modernas no Brasil começam a aparecer muito antes de 1922.
       O marco inicial do Modernismo brasileiro foi a Semana de Arte Moderna de 1922, que ocorreu na cidade mais avançada, mais moderna da época: nos dias 13, 15, 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. Apresentaram-se então, sob vaias, assobios e muita algazarra, escritores, pintores, escultores, arquitetos e músicos que pretendiam não só “assustar a burguesia que cochila na glória de seus lucros”, mas também propagar as novas tendências artísticas europeias para colocar a cultura brasileira em sintonia com elas.

     Entretanto, é importante observamos que o Modernismo brasileiro não começou a partir desse evento. Vários fatos e trabalhos foram responsáveis pelo o que ocorreu na Semana. Entre os principais antecedentes da semana de 22 estão: a volta de Oswald de Andrade da Europa, onde entrou em contato com as inovações propostas pela Vanguarda Europeia, principalmente com o Futurismo de Marinetti; a primeira exposição dos quadros expressionistas de Lasar Segall, chocando-se com a pintura acadêmica da época; a fundação da Revista Orpheu, símbolo do Modernismo em Portugal; a publicação de vários livros dos autores que participariam mais tarde da Semana de 22 e o grande estopim e a grande mola propulsora do Modernismo, segundo muitos estudiosos, a exposição da pintora Anita Malfatti, que como já vimos recebeu uma forte crítica de Monteiro Lobato, no artigo intitulado Paranoia ou Mistificação ?

Contexto Histórico

Ao fim da Primeira Guerra Mundial, impérios da Europa Central dissolveram-se, e seguiu-se uma época de intensos conflitos sociais. Em 1917, a Revolução Russa colocou o proletariado no poder. Em vários países europeus, a democracia liberal começou a entrar em crise, dando lugar a regimes totalitários e nacionalistas, como o nazista e o fascista.

No Brasil, a imigração, a industrialização e a expansão das cidades (em que cresciam a pequena burguesia e o proletariado) começavam a ameaçar a hegemonia política das oligarquias, que se mantinham no poder à custa de meios fraudulentos e até da violência. São Paulo assistiu, em 1917, a uma greve operária que paralisou a cidade. Com a fundação do Partido Comunista, em 1922, propagavam-se os ideais da Revolução Russa. No pós-guerra, o intercâmbio cultural permitiu a chegada ao Brasil dos ecos da renovação artística europeia: a vanguarda.

Vanguarda Europeia  

    A rápida industrialização da Europa — com a introdução da máquina no cotidiano, o surgimento dos transportes modernos (carro, avião) e dos meios de comunicação de massa (rádio, cinema) — transformou o mundo e o modo de vida das pessoas.
    Na estética, diversas tendências refletiram esse momento e influenciaram mais tarde nosso Modernismo: Futurismo, Expressionismo, Cubismo, Dadaísmo e Surrealismo.

 PARTICIPANTES DA SEMANA DE 22

 Veja os principais participantes da Semana:

*  LITERATURA: Mário de Andrade

                        Oswald de Andrade

                        Ronald de Carvalho

*  PINTURA: Anita Malfatti

         Tarsila do Amaral 

          DI CAVALCANTE               

*  MÚSICA: Heitor Villa-Lobos

A Semana foi patrocinada pelas pessoas da elite paulistana e contou até com a presença de um autor já consagrado, membro da Academia Brasileira de Letras. Graça Aranha, pré-modernista autor do livro Canaã, foi o responsável pela cerimônia de abertura.

O evento não foi apenas literário, vários artistas da música, da pintura, da escultura e de outras áreas, puderam mostrar seus trabalhos.

Mas qual foi a reação da sociedade da época? Veja os comentários dos principais jornais da época:

“Foi como se esperava, um notável fracasso a récita de ontem na pomposa Semana de Arte Moderna, que melhor e mais acertadamente deveria chamar-se Semana de Mal – às Artes”.
Jornal Folha da Noite
fevereiro de 1922

“As colunas da secção livre deste jornal estão à disposição de todos aqueles que, atacando a Semana de Arte Moderna, defendam o nosso patrimônio artístico”.
Jornal O Estado de São Paulo fevereiro de 1922

“É preciso que se saiba que nos manicômios se produzem poemas, partituras, quadros e estátuas, e que essa arte de doidos tem o mesmo característico da arte dos futuristas e cubistas que andam soltos por aí”.
Jornal do Comércio fevereiro de 1922

A SEMANA DE ARTE MODERNA DE 22

A Semana foi verdadeiramente um choque, uma afronta direta aos autores e à sociedade da época. Em outras palavras a Semana foi um escândalo público.

Mas o que será que aconteceu de tão diferente nessa semana?

Logo no primeiro dia, depois da abertura de Graça Aranha, o músico Villa-Lobos tem sua apresentação interrompida por vários assobios e vaias da plateia. No segundo dia, a confusão foi ainda maior. Ronald de Carvalho ao declamar o poema “Os Sapos”, de Manuel Bandeira, leva o público à loucura, repetindo bravamente o refrão do texto que se assemelha ao coaxar dos sapos. Mário de Andrade, quebrando todas as formalidades, recita, entre vaias, um poema nas escadarias do teatro e, para fechar a noite com chave de ouro, Villa-Lobos entra no palco de casaca, chinelos e guarda-chuva. A plateia escandalizada quase parte para a agressão física.

Dizem as más línguas que entre “famílias direitas” não se comentavam os acontecimentos da Semana na presença de crianças e mulheres, tamanha sorte de barbaridades que lá aconteceram e que sobre a atitude de Villa-Lobos, na realidade não era uma afronta, mas um calo que o impedia de calçar sapato.

Diante do acontecido, os organizadores ficaram felicíssimos, pois conseguiram o que queriam, ou seja, chocar a sociedade, destruir as estéticas tradicionais e conservadoras.

Veja a célebre foto do grupo organizador, tirada no almoço de confraternização logo após o encerramento da semana:

Veja um fragmento do poema considerado uma espécie de hino do Modernismo:

Os sapos

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.

A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:

_ “Meu pai foi à guerra!”
_ “Não foi! _ “Foi!”
_ “Não foi!”

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: _ “Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte!
E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.

Faço rimas com
Consoantes de apoio.
(...)
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio ...

                                Manuel Bandeira

Os Sapos, de Manuel Bandeira é uma paródia do conhecido poema Profissão de Fé, do parnasiano Olavo Bilac. É um poema-piada, satirizando a extrema preocupação parnasiana com a forma, ou seja, com as rimas com a seleção vocabular.  É crítica uma aos parnasianos. A expressão sapo tanoeiro é uma referência direta a Bilac, pois tanoeiro é um artesão. Lembre-se de que Bilac comparava a tarefa do poeta à do artesão. E sapo-cururu é o poeta moderno, autêntico, simples, sem artificialismos.

DESDOBRAMENTOS MODERNISTAS

    Veja os desdobramentos da semana:
Os acontecimentos da semana ganham expressão nacional. As ideias modernistas aos poucos foram ganhando adeptos por todo o país. No período de 1922 a 1930, conhecido como a primeira fase modernista, a fase heroica, a fase de provocação de ruptura, de inovação, vários grupos, manifestos e revistas difundiram-se no cenário cultural brasileiro. Entre as revistas destacaram-se:

REVISTAS

*   Klaxon (São Paulo)

*   Estética (Rio de Janeiro)

*   Festa (Rio de Janeiro)

*   A Revista (Minas Gerais)

*   Revista Antropofagia (São Paulo)

A revista Klaxon foi a primeira a circular. Seu nome vem do termo em francês buzina, numa aproximação com o que ela queria realmente provocar: barulho, muito barulho. Seus artigos eram inovadores, exaltavam o progresso e recusavam “a arte vista como cópia da realidade”.  Os principais organizadores da Semana participaram ativamente de sua elaboração.

As revistas Estética e Festa, divulgaram as ideias modernistas no Rio de Janeiro. A primeira, a partir de um forte nacionalismo, buscou uma arte genuinamente brasileira. A segunda, ao contrário da maioria, apresentou um caráter mais espiritualista, identificado com os valores simbolistas. Uma das principais colaboradoras da revista Festa, foi a poetisa Cecília Meireles.

A Revista, foi uma publicação mineira de periodicidade irregular e que contou, em seu primeiro número, com a colaboração de Carlos Drummond de Andrade.

A mais polêmica de todas foi sem dúvida a Revista Antropofagia, que segundo seus criadores apresentou duas “dentições”, ou seja, duas fases. A primeira com publicações mensais e a segunda com publicações semanais.

Juntamente com as revistas, vários manifestos foram escritos, de acordo com a ideologia adotada pelos grupos.

MOVIMENTOS MODERNISTAS

 Veja os principais movimentos ou correntes desse período:

CORRENTES MODERNISTAS

*  MOVIMENTO PAU-BRASIL

*  MOVIMENTO VERDE-AMARELO

*  MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO

*  MOVIMENTO ESPIRITUALISTA

Veja a capa da 1ª edição do manifesto Pau-Brasil:

 
O movimento Pau-brasil, criado por Oswald de Andrade, tinha como objetivo a redescoberta e revalorização da cultura primitiva brasileira.

Oswald queria uma poesia de exportação, daí o nome Pau-Brasil, nome do primeiro produto exportado pelo Brasil.

O movimento Verde-Amarelo foi um movimento de reação ao movimento Pau-Brasil, pois ao contrário do primeiro, propunha uma arte livre das influências europeias, buscando uma identidade realmente nacional. Para seus adeptos, o nacionalismo de Oswald era um nacionalismo importado.

O movimento Antropofágico origina-se no trabalho da pintora Tarsila do Amaral.

 

Abaporu é um termo indígena que significa “aquele que come gente,“antropófago”. Segundo uma crença indígena, comer o inimigo significava assimilar suas qualidades.

Esses quadros fazem parte da chamada galeria antropofágica de Tarsila. E é com o quadro Abaporu, que tem início o movimento.

Segundo a própria pintora, a ideia do movimento surgiu quando ela resolveu dar esse quadro de presente ao então marido Oswald de Andrade.

O movimento antropofágico queria justamente isso, “devorar” a cultura estrangeira, para reelaborá-la com autonomia.

O movimento espiritualista, como o próprio nome já sugere, voltou-se para o interior do ser humano, para o misticismo e a religião, mostrando-se um pouco distante da irreverência dos outros movimentos. Buscava uma conciliação entre o passado e o futuro.

Há também uma corrente regionalista, voltada para a valorização da cultura regional, especialmente a nordestina.

FASES MODERNISTAS

 Costuma-se dividir o Modernismo brasileiro em três grandes fases.

Veja quais são:

1ª Fase (1922-1930) HERÓICA

      Oswald de Andrade

      Mário de Andrade

      Manuel Bandeira

      Alcântara Machado

2ª Fase (1930-1945) CONSOLIDAÇÃO

POESIA:

              Carlos Drummond de Andrade

              Cecília Meireles Vinícius de Moraes

PROSA:

              José Lins do Rego

              Graciliano Ramos

              Jorge Amado

3ª Fase (1945 em diante) REFLEXÃO

      Guimarães Rosa

      Clarice Lispector

      João Cabral de Melo Neto

A primeira fase, conhecida como heroica, compreende o período de 1922 a 1930 e apresenta o desejo de liberdade, de ruptura e de destruição do passado como características marcantes. Os principais autores são: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Alcântara Machado.

A segunda se estende de 1930 a 1945 e é conhecida como a fase da consolidação das conquistas anteriores. Essa segunda fase subdivide-se em dois grupos: a poesia, em que se destacam: Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e Vinícius de Moraes e a prosa, representada entre outros autores, por José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Jorge Amado.

A terceira fase, de 1945 em diante, é conhecida como a fase da reflexão e da universalidade temática. Os principais autores desse período são: Guimarães Rosa, Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto.


Geografia da Paraíba

    Localização e Área Territorial  da Paraíba     A população paraibana chegou a 4.059.905 em 2021, segundo nova estimativa divulgada pelo ...