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LITERATURA - MODERNISMO NO BRASIL


   Muito influenciadas pelos movimentos da Vanguarda Europeia e pelo Modernismo português, as manifestações modernas no Brasil começam a aparecer muito antes de 1922.
       O marco inicial do Modernismo brasileiro foi a Semana de Arte Moderna de 1922, que ocorreu na cidade mais avançada, mais moderna da época: nos dias 13, 15, 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. Apresentaram-se então, sob vaias, assobios e muita algazarra, escritores, pintores, escultores, arquitetos e músicos que pretendiam não só “assustar a burguesia que cochila na glória de seus lucros”, mas também propagar as novas tendências artísticas europeias para colocar a cultura brasileira em sintonia com elas.

     Entretanto, é importante observamos que o Modernismo brasileiro não começou a partir desse evento. Vários fatos e trabalhos foram responsáveis pelo o que ocorreu na Semana. Entre os principais antecedentes da semana de 22 estão: a volta de Oswald de Andrade da Europa, onde entrou em contato com as inovações propostas pela Vanguarda Europeia, principalmente com o Futurismo de Marinetti; a primeira exposição dos quadros expressionistas de Lasar Segall, chocando-se com a pintura acadêmica da época; a fundação da Revista Orpheu, símbolo do Modernismo em Portugal; a publicação de vários livros dos autores que participariam mais tarde da Semana de 22 e o grande estopim e a grande mola propulsora do Modernismo, segundo muitos estudiosos, a exposição da pintora Anita Malfatti, que como já vimos recebeu uma forte crítica de Monteiro Lobato, no artigo intitulado Paranoia ou Mistificação ?

Contexto Histórico

Ao fim da Primeira Guerra Mundial, impérios da Europa Central dissolveram-se, e seguiu-se uma época de intensos conflitos sociais. Em 1917, a Revolução Russa colocou o proletariado no poder. Em vários países europeus, a democracia liberal começou a entrar em crise, dando lugar a regimes totalitários e nacionalistas, como o nazista e o fascista.

No Brasil, a imigração, a industrialização e a expansão das cidades (em que cresciam a pequena burguesia e o proletariado) começavam a ameaçar a hegemonia política das oligarquias, que se mantinham no poder à custa de meios fraudulentos e até da violência. São Paulo assistiu, em 1917, a uma greve operária que paralisou a cidade. Com a fundação do Partido Comunista, em 1922, propagavam-se os ideais da Revolução Russa. No pós-guerra, o intercâmbio cultural permitiu a chegada ao Brasil dos ecos da renovação artística europeia: a vanguarda.

Vanguarda Europeia  

    A rápida industrialização da Europa — com a introdução da máquina no cotidiano, o surgimento dos transportes modernos (carro, avião) e dos meios de comunicação de massa (rádio, cinema) — transformou o mundo e o modo de vida das pessoas.
    Na estética, diversas tendências refletiram esse momento e influenciaram mais tarde nosso Modernismo: Futurismo, Expressionismo, Cubismo, Dadaísmo e Surrealismo.

 PARTICIPANTES DA SEMANA DE 22

 Veja os principais participantes da Semana:

*  LITERATURA: Mário de Andrade

                        Oswald de Andrade

                        Ronald de Carvalho

*  PINTURA: Anita Malfatti

         Tarsila do Amaral 

          DI CAVALCANTE               

*  MÚSICA: Heitor Villa-Lobos

A Semana foi patrocinada pelas pessoas da elite paulistana e contou até com a presença de um autor já consagrado, membro da Academia Brasileira de Letras. Graça Aranha, pré-modernista autor do livro Canaã, foi o responsável pela cerimônia de abertura.

O evento não foi apenas literário, vários artistas da música, da pintura, da escultura e de outras áreas, puderam mostrar seus trabalhos.

Mas qual foi a reação da sociedade da época? Veja os comentários dos principais jornais da época:

“Foi como se esperava, um notável fracasso a récita de ontem na pomposa Semana de Arte Moderna, que melhor e mais acertadamente deveria chamar-se Semana de Mal – às Artes”.
Jornal Folha da Noite
fevereiro de 1922

“As colunas da secção livre deste jornal estão à disposição de todos aqueles que, atacando a Semana de Arte Moderna, defendam o nosso patrimônio artístico”.
Jornal O Estado de São Paulo fevereiro de 1922

“É preciso que se saiba que nos manicômios se produzem poemas, partituras, quadros e estátuas, e que essa arte de doidos tem o mesmo característico da arte dos futuristas e cubistas que andam soltos por aí”.
Jornal do Comércio fevereiro de 1922

A SEMANA DE ARTE MODERNA DE 22

A Semana foi verdadeiramente um choque, uma afronta direta aos autores e à sociedade da época. Em outras palavras a Semana foi um escândalo público.

Mas o que será que aconteceu de tão diferente nessa semana?

Logo no primeiro dia, depois da abertura de Graça Aranha, o músico Villa-Lobos tem sua apresentação interrompida por vários assobios e vaias da plateia. No segundo dia, a confusão foi ainda maior. Ronald de Carvalho ao declamar o poema “Os Sapos”, de Manuel Bandeira, leva o público à loucura, repetindo bravamente o refrão do texto que se assemelha ao coaxar dos sapos. Mário de Andrade, quebrando todas as formalidades, recita, entre vaias, um poema nas escadarias do teatro e, para fechar a noite com chave de ouro, Villa-Lobos entra no palco de casaca, chinelos e guarda-chuva. A plateia escandalizada quase parte para a agressão física.

Dizem as más línguas que entre “famílias direitas” não se comentavam os acontecimentos da Semana na presença de crianças e mulheres, tamanha sorte de barbaridades que lá aconteceram e que sobre a atitude de Villa-Lobos, na realidade não era uma afronta, mas um calo que o impedia de calçar sapato.

Diante do acontecido, os organizadores ficaram felicíssimos, pois conseguiram o que queriam, ou seja, chocar a sociedade, destruir as estéticas tradicionais e conservadoras.

Veja a célebre foto do grupo organizador, tirada no almoço de confraternização logo após o encerramento da semana:

Veja um fragmento do poema considerado uma espécie de hino do Modernismo:

Os sapos

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.

A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:

_ “Meu pai foi à guerra!”
_ “Não foi! _ “Foi!”
_ “Não foi!”

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: _ “Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte!
E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.

Faço rimas com
Consoantes de apoio.
(...)
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio ...

                                Manuel Bandeira

Os Sapos, de Manuel Bandeira é uma paródia do conhecido poema Profissão de Fé, do parnasiano Olavo Bilac. É um poema-piada, satirizando a extrema preocupação parnasiana com a forma, ou seja, com as rimas com a seleção vocabular.  É crítica uma aos parnasianos. A expressão sapo tanoeiro é uma referência direta a Bilac, pois tanoeiro é um artesão. Lembre-se de que Bilac comparava a tarefa do poeta à do artesão. E sapo-cururu é o poeta moderno, autêntico, simples, sem artificialismos.

DESDOBRAMENTOS MODERNISTAS

    Veja os desdobramentos da semana:
Os acontecimentos da semana ganham expressão nacional. As ideias modernistas aos poucos foram ganhando adeptos por todo o país. No período de 1922 a 1930, conhecido como a primeira fase modernista, a fase heroica, a fase de provocação de ruptura, de inovação, vários grupos, manifestos e revistas difundiram-se no cenário cultural brasileiro. Entre as revistas destacaram-se:

REVISTAS

*   Klaxon (São Paulo)

*   Estética (Rio de Janeiro)

*   Festa (Rio de Janeiro)

*   A Revista (Minas Gerais)

*   Revista Antropofagia (São Paulo)

A revista Klaxon foi a primeira a circular. Seu nome vem do termo em francês buzina, numa aproximação com o que ela queria realmente provocar: barulho, muito barulho. Seus artigos eram inovadores, exaltavam o progresso e recusavam “a arte vista como cópia da realidade”.  Os principais organizadores da Semana participaram ativamente de sua elaboração.

As revistas Estética e Festa, divulgaram as ideias modernistas no Rio de Janeiro. A primeira, a partir de um forte nacionalismo, buscou uma arte genuinamente brasileira. A segunda, ao contrário da maioria, apresentou um caráter mais espiritualista, identificado com os valores simbolistas. Uma das principais colaboradoras da revista Festa, foi a poetisa Cecília Meireles.

A Revista, foi uma publicação mineira de periodicidade irregular e que contou, em seu primeiro número, com a colaboração de Carlos Drummond de Andrade.

A mais polêmica de todas foi sem dúvida a Revista Antropofagia, que segundo seus criadores apresentou duas “dentições”, ou seja, duas fases. A primeira com publicações mensais e a segunda com publicações semanais.

Juntamente com as revistas, vários manifestos foram escritos, de acordo com a ideologia adotada pelos grupos.

MOVIMENTOS MODERNISTAS

 Veja os principais movimentos ou correntes desse período:

CORRENTES MODERNISTAS

*  MOVIMENTO PAU-BRASIL

*  MOVIMENTO VERDE-AMARELO

*  MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO

*  MOVIMENTO ESPIRITUALISTA

Veja a capa da 1ª edição do manifesto Pau-Brasil:

 
O movimento Pau-brasil, criado por Oswald de Andrade, tinha como objetivo a redescoberta e revalorização da cultura primitiva brasileira.

Oswald queria uma poesia de exportação, daí o nome Pau-Brasil, nome do primeiro produto exportado pelo Brasil.

O movimento Verde-Amarelo foi um movimento de reação ao movimento Pau-Brasil, pois ao contrário do primeiro, propunha uma arte livre das influências europeias, buscando uma identidade realmente nacional. Para seus adeptos, o nacionalismo de Oswald era um nacionalismo importado.

O movimento Antropofágico origina-se no trabalho da pintora Tarsila do Amaral.

 

Abaporu é um termo indígena que significa “aquele que come gente,“antropófago”. Segundo uma crença indígena, comer o inimigo significava assimilar suas qualidades.

Esses quadros fazem parte da chamada galeria antropofágica de Tarsila. E é com o quadro Abaporu, que tem início o movimento.

Segundo a própria pintora, a ideia do movimento surgiu quando ela resolveu dar esse quadro de presente ao então marido Oswald de Andrade.

O movimento antropofágico queria justamente isso, “devorar” a cultura estrangeira, para reelaborá-la com autonomia.

O movimento espiritualista, como o próprio nome já sugere, voltou-se para o interior do ser humano, para o misticismo e a religião, mostrando-se um pouco distante da irreverência dos outros movimentos. Buscava uma conciliação entre o passado e o futuro.

Há também uma corrente regionalista, voltada para a valorização da cultura regional, especialmente a nordestina.

FASES MODERNISTAS

 Costuma-se dividir o Modernismo brasileiro em três grandes fases.

Veja quais são:

1ª Fase (1922-1930) HERÓICA

      Oswald de Andrade

      Mário de Andrade

      Manuel Bandeira

      Alcântara Machado

2ª Fase (1930-1945) CONSOLIDAÇÃO

POESIA:

              Carlos Drummond de Andrade

              Cecília Meireles Vinícius de Moraes

PROSA:

              José Lins do Rego

              Graciliano Ramos

              Jorge Amado

3ª Fase (1945 em diante) REFLEXÃO

      Guimarães Rosa

      Clarice Lispector

      João Cabral de Melo Neto

A primeira fase, conhecida como heroica, compreende o período de 1922 a 1930 e apresenta o desejo de liberdade, de ruptura e de destruição do passado como características marcantes. Os principais autores são: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Alcântara Machado.

A segunda se estende de 1930 a 1945 e é conhecida como a fase da consolidação das conquistas anteriores. Essa segunda fase subdivide-se em dois grupos: a poesia, em que se destacam: Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e Vinícius de Moraes e a prosa, representada entre outros autores, por José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Jorge Amado.

A terceira fase, de 1945 em diante, é conhecida como a fase da reflexão e da universalidade temática. Os principais autores desse período são: Guimarães Rosa, Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto.


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