domingo, 11 de dezembro de 2022

Chile: da democracia ao golpe

Os anos 1970 foram extremamente difíceis também para outros países da América Latina. Muita violência política aconteceu no Chile, onde o presidente socialista Salvador Allende foi derrubado por um golpe militar, em 1973. Tanto no Brasil como no Chile, o rumo dos acontecimentos foi acompanhado de perto por Washington. Na visão da Casa Branca, a imposição de ditaduras militares nos países latino-americanos fazia parte da luta contra o comunismo.
No Chile, a CIA colaborou com um golpe de Estado contra o presidente Salvador Allende, em 1973. Eleito democraticamente em 1970, Allende estava realizando a reforma agrária e promovendo uma série de programas sociais, como alfabetização e melhoria do sistema de saúde e do saneamento básico. Além disso, estava nacionalizando diversas empresas norte-americanas.
A sociedade chilena, que não votara majoritariamente em Allende, dividia-se diante das nacionalizações e estatizações de bancos, empresas estrangeiras e, sobretudo, da exploração de minérios, base da economia do país. A alta burguesia chilena e os militares começaram a se mobilizar contra o avanço dos setores populares e da participação mais intensa de operários e camponeses no controle da produção.
As pressões estrangeiras sobre o governo de Allende, principalmente do governo norte-americano, aumentaram. Países com governos militares, incluindo o Brasil, auxiliavam silenciosamente a preparação do golpe. 
Boicotes e a diminuição acentuada de investimentos provocaram a queda da produção industrial e o desabastecimento. Nas ruas aumentaram os protestos da classe média, que acusava o governo pelas dificuldades enfrentadas pelo país.
Em conseqüência, Allende passou a sofrer uma campanha de desestabilização estimulada por Washington, que resultou no golpe militar de setembro de 1973. Depois de confrontos armados, o presidente foi encontrado morto no Palácio de La Moneda, sede oficial do governo chileno. O poder passou às mãos de uma junta militar chefiada pelo general Augusto Pinochet. Num clima de forte repressão, Pinochet dissolveu os partidos políticos e perseguiu os adversários do novo regime. O Estádio Nacional foi transformado em campo de concentração, lotado de presos políticos. Muitos deles desapareceram. Houve casos de prisioneiros torturados até a morte, como o cantor Victor Jara, muito querido entre o povo chileno por suas canções sobre os ideais de justiça e solidariedade.
Estrangeiros que viviam no Chile e que não conseguiram fugir a tempo ou refugiar-se dentro de embaixadas ou consulados de países estrangeiros também foram perseguido pelas tropas que apoiavam Pinochet.
A direita civil chilena, que se opunha a Allende e apoiou o golpe, não teve o espaço que esperava no governo militar. Após o terror da repressão dos primeiros anos, o regime de Pinochet passou a adotar medidas liberais de reorganização da economia e a desnacionalizar parte significativa da economia. Pinochet devolveu aos antigos proprietários a maioria das empresas nacionalizadas por Allende. Promoveu a privatização dos setores estatizados durante o governo de Allende e ampliou o ingresso de capital estrangeiro no país. Acelerou o crescimento econômico e superou a crise do período anterior.
Governou com poderes absolutos e impôs, em 1980, uma nova Carta Magna institucionalizando o regime autoritário. Apesar da repressão, a ditadura começou a declinar a partir de 1983, com as manifestações contra os planos econômicos recessivos do governo, que comprimiram os salários, cortaram subsídios à saúde e educação e geraram desemprego. A repressão policial já não era suficiente para intimidar os manifestantes. No final dos anos 1980, porém, a América Latina atravessou uma fase de redemocratização e as pressões internas e externas ao Chile pelo fim da ditadura cresceram.
Em 1988, o general sofreu uma séria derrota política. Num plebiscito sobre sua permanência no poder por mais oito anos, 55% dos votantes disseram não à proposta. O resultado forçou a transição do país para a democracia. As oposições se uniram para eleger à presidência o democrata cristão Patrício Aylwin, em dezembro de 1989. O general Pinochet, no entanto, assegurou sua permanência como chefe das Forças Armadas. Com isso, evitou seu próprio julgamento e o de militares acusados de tortura e de responsabilidade na morte de mais de 2.200 presos políticos durante o regime militar. Em março de 1998, Pinochet deixou o cargo e tornou-se membro vitalício do Senado, em meio a fortes protestos de políticos e de setores da opinião pública chilena.
Se dentro do Chile Pinochet não sofreu nenhuma punição pelos crimes do governo que liderava, fora do país (na Espanha) foi processado por crimes contra a humanidade e chegou a ser preso durante uma viagem à Inglaterra, em 1999. Sua idade avançada e o estado de saúde precário, juntamente com a indisposição do governo inglês de entrega-lo à justiça espanhola, permitiram que fosse libertado e retorna-se ao Chile, onde morreu no final de 2006.


sábado, 10 de dezembro de 2022

A revolução sandinista


Nem só de golpes de direita viveu a América Latina nos anos da Guerra Fria. Em 1979, um pequeno país da América Central desafiou o poderio norte-americano e fez sua revolução nitidamente popular chegar à vitória: a Nicarágua. A revolução sandinista marcou mais um capítulo na longa história de luta da Nicarágua pela sua soberania. A ingerência dos Estados Unidos sobre a vida política da Nicarágua vem desde o século XIX. No começo do século XX, o governo de Washington ampliou sua influência, interessado em proteger seu monopólio sobre o canal entre os oceanos Atlântico e Pacífico, inaugurado no vizinho Panamá em 1914.A ostensiva presença norte-americana na Nicarágua gerou a criação de movimentos nacionalistas de resistência.
O principal líder guerrilheiro, Augusto César Sandino, foi morto em 1934 por ordem do então comandante da Guarda Nacional nicaraguense, Anastásio Somoza Garcia. Em 1936, Somoza venceu as eleições presidenciais e inaugurou uma ditadura dinástica que atravessaria quatro décadas. Em 62, três anos depois da revolução cubana, o intelectual marxista Carlos Fonseca lançou o movimento guerrilheiro Frente Sandinista de Libertação Nacional, FSLN, com o objetivo de derrubar a ditadura da família Somoza e implantar um regime socialista no país. Em poucos anos a Frente Sandinista conquistou a simpatia da população, especialmente dos camponeses, que viviam em condições miseráveis e permanentemente aterrorizados pela Guarda Nacional Somozista. Nos anos 70, com a exacerbação da tirania e da corrupção do governo, até mesmo os setores burgueses e da classe média começaram a manifestar simpatia pelos sandinistas.
A crise atingiu um dos pontos mais altos em 1978, quando o jornalista Pedro Joaquín Chamorro, diretor do jornal La Prensa, foi assassinado por agentes de Somoza. Foi o estopim de uma insurreição nacional liderada pelos sandinistas. Os guerrilheiros derrotaram a Guarda Nacional e tomaram o poder em julho de 79. Anastásio Somoza Debayle, ditador desde 1967, conseguiu fugir do país, mas seria morto num atentado em 1980 em Assunção, no Paraguai.
O novo governo, encabeçado por Daniel Ortega e formado por sandinistas e setores liberais, expropriou todos os bens da família Somoza, nacionalizou bancos e companhias de seguro e passou grande parte da economia para o controle do Estado. A convivência pacífica de liberais e sandinistas duraria pouco. Em 1980, Violeta Chamorro e Alfonso Robelo, os dois liberais da junta, romperam com o governo e passaram para a oposição. Estava cada vez mais claro que os sandinistas caminhavam na direção de um regime socialista simpático a Cuba e à União Soviética.


Gorbatchev e o fim da Guerra Fria

Quando Mikhail Gorbatchev assumiu o comando político da União Soviética, em 1985, era evidente o descompasso entre o bloco socialista e o capitalista, devido ao crescimento econômico e tecnológico desse último. Em países como Estados Unidos, Japão e Alemanha efetivava-se uma dinâmica produtiva fundada na alta tecnologia, na eletrônica, na biotecnologia, na química fina.
Esse novo momento do desenvolvimento capitalista, chamado por muitos de Terceira Revolução Industrial, exigia grande volume de capitais pra manter as intensas e custosas pesquisas, e a rapidez e o dinamismo na produção de bens. Contando com imensas riquezas e o domínio mercado internacional, as grandes potências capitalistas viviam, assim, nos anos 1980, situação bem diferente da lentidão burocrática do regime soviético. A concorrência e a iniciativa privada, características típicas da economia capitalista, deixavam para trás as estruturas de produção planificadas, sob o comando burocrático dos soviéticos.
Para enfrentar esse quadro, Gorbatchev colocou em prática amplo processo de transformações, fundado em três pilares básicos: a distensão internacional, com acordos que pudessem interromper a corrida armamentista; a reestruturação econômica, chamada perestroika; e a abertura política, acabando com o centralismo do poder, denominado glasnost.
No início das reformas, enquanto Gorbatchev intensificava as pressões para o desarmamento, o governo do presidente norte americano Ronald Reagan voltava a estimular a corrida armamentista. Para isso, lançava o projeto Guerra nas Estrelas, uma espécie de escudo aéreo composto por sofisticados aparelhos capazes de destruir qualquer míssil lançado em direção aos Estados Unidos.
No plano interno, Gorbatchev estabeleceu o fim do regime de partido único, provocando o surgimento de novas agremiações. Libertou opositores do regime, viabilizou o abrandamento da censura e permitiu que os problemas fossem discutidos abertamente pela população. Ao mesmo tempo, os burocratas tradicionais, sentindo-se ameaçados em suas funções, prestígio e privilégios, tudo faziam para emperrar ainda mais a produção nacional, ampliando as já enormes dificuldades da população soviética. essa atitude irradiava descontentamento e provocava desprestígio ao governo do líder Gorbatchev.
Nesse embate, formaram-se duas poderosas facções política: os conservadores, contrários às mudanças defendidas por Gorbatchev; e os ultra-reformistas, defensores da aceleração da perestroika. Entre os principais líderes dessa última facção, destacava-se Boris Yeltsin, presidente da Rússia, principal república a formar a União soviética.
Ao mesmo tempo que Gorbatchev enfrentava pressões internas e avançava nos acordos de distensão, suas reformas se espalharam pelo Leste europeu, quebrando a unidade do bloco socialista. As reformas iniciadas em Moscou logo se refletiram na Europa socialista, onde os movimentos democráticos ganharam força para mudar todo o panorama político do antigo bloco soviético. Esse processo iniciado por Gorbatchev culminou no fim da própria União Soviética, em 1991. 
A partir daí, os Estados Unidos, vencedores da Guerra Fria, tornaram-se a única superpotência mundial e encontraram novos inimigos contra os quais lutar, como os fanáticos do Islã, de um lado, e os narcotraficantes, de outro lado. Ou seja, novos elementos para a mesma fórmula do Bem e do Mal dos tempos da Guerra Fria. É um mundo que enfrenta novos problemas, como o ressurgimento de conflitos nacionais e étnicos; a disputa entre blocos econômicos; e as grandes máfias que controlam o crime organizado internacional. 


Administração Gerald Ford (1974-1976)

Gerald Ford, vice de Nixon, completou seu mandato, no qual se destacaram a derrota norte-americana na Guerra do Vietnã e a contínua desmoralização do Partido Republicano. A derrota árabe na Guerra de Yom Kippur fez a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) aumentar o preço do barril de petróleo, que gerou a crise do petróleo de 1973 e trouxe um novo componente para o já tenso Oriente Médio. A crise provocou, em especial a partir de 1974, recessão mundial e grandes dificuldades para Ford manter com segurança a hegemonia dos Estados Unidos.


Boris Yeltsin

Boris Yeltsin, político russo, foi o primeiro presidente da Rússia após o desmembramento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Ministro de Mikhail Gorbachev, Yeltsin foi demitido em 1987 por pressionar o governo a acelerar as reformas políticas. Passou para a oposição, acabando por se tornar presidente do Soviete Supremo da Rússia, em 1989.
Em 1991, foi eleito para o recém-criado cargo de presidente da Rússia, defendendo reformas mais radicais que as de Gorbachev, o então secretário-geral do Partido. Yeltsin conduziu o desmembramento da URSS e a formação da Comunidade de Estados Independentes (CEI).
Eleito em 1991 para a presidência da recém-criada Federação Russa, Boris Yeltsin acelerou a transição do socialismo burocrático de Estado para o capitalismo, abolindo os controles de preços e privatizando as empresas estatais. A rapidez e a profundidade das mudanças, entretanto, agravaram os problemas da economia. Entre 1991 e 1998, o PIB registrou quedas sucessivas, o que aconteceu também nos países do Leste europeu.
Enquanto isso cresciam a inflação e o desemprego. A crise levou à rápida expansão do crime organizado. Grupos criminosos se apoderaram de grande parte da economia do país, além de controlar o contrabando, a prostituição e outras atividades ilegais.
Intensificaram-se também as tensões regionais. Em janeiro de 1995, por exemplo, tropas russas invadiram a Chechênia para esmagar uma revolta dos separatistas muçulmanos. O conflito foi suspenso em 1996 por um acordo de paz, mas as tensões étnicas continuaram latentes na região.
Em 1998, A economia russa entrou em colapso, provocando a queda das Bolsas de Valores em todo o mundo. A moeda do país o rublo, foi desvalorizado em 75% e, no ano seguinte, o desemprego chegou a 14,2 %. Em mais uma operação de salvamento, o FMI emprestou ao governo russo cerca de 22 bilhões de dólares, mas a crise não foi totalmente superada, Yeltsin que se reelegera presidente da Rússia em 1996, renunciou no fim de 1999, sendo sucedido por Vladimir Putin.



Revolução Chinesa

Com cerca de 400 milhões de habitantes a china no final do século XIX era um país submetidos aos interesses das principais potências imperialistas. Essa sujeição era tão intensa que, nas praças públicas das cidades chinesas, os ocidentais davam-se o direito de fincar cartazes onde se lia. “É proibida a entrada de cães e de chineses no jardim.” Cobiçada por suas riquezas naturais, pela grande população e pelo potencial de matérias-primas, a China acabou subjugada pelas potências capitalistas no século XIX com guerras e tratados desiguais. Após a Guerra do Ópio e a assinatura do Tratado de Nanquim, Hong Kong passou a ser controlada pelos britânicos em 1842. A cidade representava um ponto fundamental de ligação entre a Europa e a China.
Para exercer sua dominação, as nações imperialistas contavam com o apoio de uma propaganda massiva e a conivência dos imperadores chineses da dinastia Manchu, que dominavam o país desde o século XVII.
Esse contexto marcado por privilégios e humilhações levou inúmeros chineses a organizares atos de rebeldia. Em 1900, por exemplo, os Boxers, membros de uma sociedade secreta que praticava o boxe sagrado, iniciaram uma revolta nacional contra os estrangeiros, mas acabaram massacrados pelos exércitos das potências ocidentais que haviam se unido contra eles. Os Boxers foram vencidos. A semente, porém, estava lançada.
Aos poucos, as camadas populares foram se engajando na luta pela democracia. Finalmente, em 1911, o antigo império chinês desabou. A revolta que pôs fim à monarquia chinesa foi liderada por Sun Yat-sem, nomeado então presidente da República recém proclamada. Sun Yat-sem, junto com seus seguidores, fundou o Kuomintag, Partido Nacional do Povo.
A República chinesa, no entanto, não conseguiu fazer frente às potências estrangeiras e nem aos chefes militares locais, chamados “os senhores da guerra”. Eles possuíam enorme poder nas províncias e controlavam, juntamente com outros grandes proprietários de terra, cerca de 88% das terras produtivas.
Em 1921, com a disposição de organizar os operários, os artesãos e os 30 milhões de collies existentes no país, foi criado o Partido Comunista Chinês (PCC). Seus principais fundadores foram o intelectual Chen-Tu-xiu, o educador Peng-Pai e o ativista político Mao Tse-tung. A princípio, esse partido aliou-se ao Partido Nacional do Povo. Essa aliança, porém durou pouco.

Disputas pelo poder

Em 1927, o general Chiang Kai-shec assumiu o comando das tropas do Partido Nacional do Povo, disposto a submeter os chefes militares locais e impor-se ao país todo. Durante as lutas que então se travavam. Chiang Kai-shec voltou-se também contra os comunistas, ordenando que os massacrassem. A partir daí, a união entre os nacionalistas e os comunistas cedeu lugar a uma guerra entre eles.
Um dos episódios marcantes dessa guerra foi a Longa Marcha, uma caminhada de 10 mil quilômetros que o principal líder comunista, Mao Tse-tung, empreendeu com mais de 100 mil pessoas em direção ao noroeste do país com o objetivo de escapar ao cerco inimigo. Durante a caminhada, muitas pessoas morreram, outras ficaram pelo caminho organizando os camponeses, que haviam se transformado na principal base de apoio dos comunistas. Apenas 9 mil chegaram ao destino final, a província de Shensi, onde se ergueu o quartel-general das tropas maoístas.
A prolongada guerra entre nacionalistas e comunistas foi interrompida apenas duas vezes. A primeira, em 1937, quando se uniram para lutar contra o Japão que havia invadido a Manchúria, no norte do país. A segunda, durante a Segunda Guerra Mundial, para enfrentar as forças nazifascistas.
Com o final da Segunda Guerra, os japoneses foram expulsos do território chinês e as tropas de Chiang Kai-shec, com o apoio bélico dos Estados Unidos, lançaram uma ofensiva contra os “vermelhos” de Mao Tse-tung, reiniciando, então, o conflito armado.
A revolução popular liderada por Mao criou um modelo socialista independente, tendo os camponeses como base. Mesmo sem a ajuda da maior potência comunista, a União Soviética, dirigida na época por Stálin, as forças de Mao conseguiram a vitória.
Os comunistas venceram os nacionalistas e, em 1949, conquistando o poder e proclamaram a República Popular da China. Chiang Kai shec e o que restava de seu governo, refugiaram-se na ilha de Formosa (Taiwan), onde instalaram a China Nacionalista.


Bloco socialista - União Soviética

Após a Segunda Guerra, o mundo se bipolarizou: de um lado, estavam os países que passaram a seguir o modelo soviético; do outro, os que continuaram sob influência norte-americana. Eram dois sistemas distintos – o socialismo e o capitalismo –, que as superpotências representavam e defendiam. Sem travar um confronto bélico direto, Estados Unidos e União Soviética viveram momentos de tensão durante a Guerra Fria clássica, opuseram seus sistemas econômicos durante a Coexistência Pacífica e, já na década de 70, iniciaram uma política de "afrouxamento" – a Détente. Enquanto isso, vários presidentes e líderes estiveram à frente dessas superpotências.
O primeiro país a adotar o socialismo como forma de governo e de organização da sociedade foi a união soviética, com a Revolução de 1917. Nas décadas de 20 e 30 fortaleceram-se os Partidos Comunistas de vários países, mas suas tentativas revolucionárias, como na Hungria em 1926, fracassaram. Só após a Segunda Guerra Mundial é que a maioria dos países do leste europeu se tornou comunista.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os comunistas se destacaram nos movimentos de resistência contra a ocupação nazista. À medida que o exército soviético avançava, libertando a Europa da ocupação alemã, governos comunistas iam sendo instalados nos países dessa região. Em alguns países, o socialismo se implantou nos anos seguintes ao fim da guerra. Em 1948 já tinham governo socialista a Albânia, a Bulgária, a Tchecoslováquia, a Hungria, a Polônia, a Romênia e a Iugoslávia.

Expansão soviética

Apesar das perdas humanas e materiais, a URSS sai da guerra como grande potência econômica e militar. Aumenta a centralização política, a pretexto de uma rápida recuperação econômica e do perigo de uma nova guerra, desta vez contra as potências ocidentais, tendo os Estados Unidos à frente. A economia é restaurada através da planificação centralizada, com prioridade para a indústria pesada. Em 1950 a produção industrial e agrícola atinge os níveis anteriores à guerra. As regiões industriais no oeste do país são reconstruídas e tem início a exploração da Sibéria. Intensifica-se a mecanização agrícola e as áreas de cultivo são ampliadas. Entra em execução um plano de massificação do ensino básico e técnico e tem início o rearmamento. O V Plano Quinquenal, entre 1951 e 1955, é voltado para a realização de obras energéticas e de irrigação e transporte fluvial. São executados projetos de armas modernas, centradas em artefatos nucleares e foguetes, e começa a pesquisa espacial.

Governo Stálin: o fim do ideário socialista.

Na disputa pela sucessão no governo russo, após a morte de Lênin, Stálin obteve vitória e passou a controlar a União Soviética. Durante seu governo ele tomou medidas que centralizaram diversos papéis nas mãos do Estado. Com esse inchaço de atribuições do governo, os ideais socialistas foram se perdendo com o passar do tempo. Além disso, Stálin foi responsável por exercer forte repressão sobre seus inimigos políticos.
Primeiramente, Stálin aboliu a NEP e criou os planos quinquenais. Neles eram estabelecidas as metas da economia russa em um prazo de cinco anos. De forma geral, Stálin priorizou o desenvolvimento industrial dando maior ênfase na expansão das indústrias de base (mineração, máquinas e energia). Com o alcance de números positivos, os planos quinquenais posteriores buscaram desenvolver os demais aspectos da indústria nacional.
No campo, a socialização das terras foi parcialmente adotada. Dividindo atribuições, as terras cultiváveis foram subdivididas em sovkhozes (fazendas do Estado) e kolkhozes (fazendas cooperativas). Muitos camponeses tiveram suas terras apropriadas pelo governo de Stálin, o que gerou alguns conflitos no meio rural. Aqueles que se negaram a entregar suas terras eram mortos ou deportados para a Sibéria e a Ásia Central.
Sob o aspecto político, Stálin exerceu forte controle sobre as atividades do Partido Comunista. Os setores intelectuais e políticos da época só tinham espaço na medida em que concordavam com as ideologias stalinistas. Dessa forma, o stalinismo se firmou com trações claramente ditatoriais que contrariavam as ideias libertárias e igualitárias do socialismo.
A ditadura stalinista prendia e torturava seus opositores, mandando para trabalhos forçados na Sibéria, internando-os em hospitais psiquiátricos ou fuzilando-os. Além disso, manteve rígida censura sobre os meios de comunicação.
Em 1953, depois de governar o país por 29 anos, Stálin morreu e foi sucedido por Nikita Kruschev.

O governo de Kruschev

Durante os onze anos e seu governo (1953-1964), Kruschev deu inicio à desestalinização da União Soviética, ou seja, a anulação gradativa das medidas autoritárias baixadas por Stálin.
No XX Congresso do Partido Comunista, realizado em 1956, Kruschev ousou afirmar que “Stálin era homicida, megalomaníaco e inimigo do povo” e, a seguir, enumerou vários crimes praticados pelo ditador.
No plano externo, Kruschev notabilizou-se por defender a política de coexistência pacífica, segundo a qual os países capitalistas e socialistas deveriam conviver em paz.
Foi também durante o seu governo que o astronauta soviético Iúri Gagárin realizou o primeiro voo em torno da Terra.

O governo Brejnev

Em 1964, Kruschev foi deposto sob acusação de “abuso de poder” e sucedido por Leonid Brejnev, que governou o país até 1982.
Brejnev procurou dar continuidade à aproximação com os Estados Unidos, assinando com esse país importantes acordos do ponto de vista da preservação da paz mundial.
Durante seu mandato, entretanto, o gasto com a produção de armas aumentou enormemente, a KGB (polícia secreta) continuou tão poderosa quanto antes, os funcionários do governo passaram a ter mais privilégios e mordomias e a corrupção alastrou-se pela sociedade.
No plano econômico, a partir de meados da década de 70, o país mergulhou numa grave crise:
· A URSS, um dos maiores produtores de matérias-primas, combustíveis e grãos para alimentação, passou a ter de importá-los, pois houve uma queda acentuada da produção agrícola e industrial;
· A qualidade dos serviços de saúde, educação e transporte decaiu;
· Havia escassez de habitação, empregos qualificados e bens de consumo.
No início dos anos 80, os problemas socioeconômicos continuaram crescendo. Em conseqüência, o alcoolismo, o consumo de drogas e o crime aumentaram.
Com a morte de Brejnev, em 1982, o país foi governado por Andropov e depois por Tchernenko, mas a realidade soviética permaneceu inalterada, com a morte deste último, em 1985, o poder passou às mãos de Mikhail Gorbatchev.

O governo Gorbatchev e a crise soviética

Profundo conhecedor dos problemas soviéticos, Gorbatchev propôs-se a combatê-los por meio de um vasto programa de reformas.
Às reformas econômicas deu o nome de perestroika – palavra que quer dizer reestruturação – e as reformas sociopolíticas e culturais chamou de glasnost, que significa transparência.
A perestroika visava estimular o crescimento e aumentar a eficiência da economia soviética.
Para isso, propunha a descentralização das decisões econômicas (redução da interferência do Estado na economia), autorizava a existência de pequenas empresas privadas no país, permitia a atuação das multinacionais em alguns setores da economia e estimulava a renovação tecnológica e a competitividade entre as empresas.
A glasnost objetivava democratizar a sociedade, combatendo o autoritarismo dos antigos dirigentes políticos, a corrupção e a ineficiência na administração pública.
Os presos políticos foram soltos (vários deles saíram do país), funcionários desonestos foram afastados, a imprensa falada e escrita passou a veicular críticas ao governo, livros proibidos foram publicados... Concedeu-se, enfim, liberdade de pensamento e expressão.
À medida que as reformas de Gorbatchev foram se intensificando, cresciam as divergências entre os conservadores (elementos da “velha guarda” do Partido Comunista, que desejavam o fim das reformas) e os ultra-reformistas, como Boris Ieltsin, que pretendiam o aprofundamento das reformas.
Gorbatchev, que defendia uma posição intermediária, viu-se em meio a um fogo cruzado.
Em agosto de 1991, a “velha guarda” do Partido Comunista da União Soviética desfechou um golpe de Estado, afastando Gorbatchev do poder. Mas a população soviética, liderada por Boris Ieltsin, reagiu e conseguiu recolocá-lo à frente do governo.
Entretanto, Gorbatchev já não conseguia ter controle sobre o processo de reformas que ele próprio iniciara. Assim que reassumiu o governo, defrontou-se com uma nova tempestade: as repúblicas soviéticas reivindicavam independência.
Em 21 de dezembro de 1991, várias dessas ex-repúblicas fundaram a Comunidade dos Estados Independentes (CEI) da qual fazem parte, por exemplo, Rússia, Ucrânia, Bielo-Rússia, Cazaquistão e Uzbequistão.
Com a criação da CEI, a União Soviética, que existiu por 69 anos, foi oficialmente extinta. Reconhecendo o desmoronamento da União Soviética, Gorbatchev afastou-se do governo em 25 de dezembro de 1991.


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