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Gorbatchev e o fim da Guerra Fria

Quando Mikhail Gorbatchev assumiu o comando político da União Soviética, em 1985, era evidente o descompasso entre o bloco socialista e o capitalista, devido ao crescimento econômico e tecnológico desse último. Em países como Estados Unidos, Japão e Alemanha efetivava-se uma dinâmica produtiva fundada na alta tecnologia, na eletrônica, na biotecnologia, na química fina.
Esse novo momento do desenvolvimento capitalista, chamado por muitos de Terceira Revolução Industrial, exigia grande volume de capitais pra manter as intensas e custosas pesquisas, e a rapidez e o dinamismo na produção de bens. Contando com imensas riquezas e o domínio mercado internacional, as grandes potências capitalistas viviam, assim, nos anos 1980, situação bem diferente da lentidão burocrática do regime soviético. A concorrência e a iniciativa privada, características típicas da economia capitalista, deixavam para trás as estruturas de produção planificadas, sob o comando burocrático dos soviéticos.
Para enfrentar esse quadro, Gorbatchev colocou em prática amplo processo de transformações, fundado em três pilares básicos: a distensão internacional, com acordos que pudessem interromper a corrida armamentista; a reestruturação econômica, chamada perestroika; e a abertura política, acabando com o centralismo do poder, denominado glasnost.
No início das reformas, enquanto Gorbatchev intensificava as pressões para o desarmamento, o governo do presidente norte americano Ronald Reagan voltava a estimular a corrida armamentista. Para isso, lançava o projeto Guerra nas Estrelas, uma espécie de escudo aéreo composto por sofisticados aparelhos capazes de destruir qualquer míssil lançado em direção aos Estados Unidos.
No plano interno, Gorbatchev estabeleceu o fim do regime de partido único, provocando o surgimento de novas agremiações. Libertou opositores do regime, viabilizou o abrandamento da censura e permitiu que os problemas fossem discutidos abertamente pela população. Ao mesmo tempo, os burocratas tradicionais, sentindo-se ameaçados em suas funções, prestígio e privilégios, tudo faziam para emperrar ainda mais a produção nacional, ampliando as já enormes dificuldades da população soviética. essa atitude irradiava descontentamento e provocava desprestígio ao governo do líder Gorbatchev.
Nesse embate, formaram-se duas poderosas facções política: os conservadores, contrários às mudanças defendidas por Gorbatchev; e os ultra-reformistas, defensores da aceleração da perestroika. Entre os principais líderes dessa última facção, destacava-se Boris Yeltsin, presidente da Rússia, principal república a formar a União soviética.
Ao mesmo tempo que Gorbatchev enfrentava pressões internas e avançava nos acordos de distensão, suas reformas se espalharam pelo Leste europeu, quebrando a unidade do bloco socialista. As reformas iniciadas em Moscou logo se refletiram na Europa socialista, onde os movimentos democráticos ganharam força para mudar todo o panorama político do antigo bloco soviético. Esse processo iniciado por Gorbatchev culminou no fim da própria União Soviética, em 1991. 
A partir daí, os Estados Unidos, vencedores da Guerra Fria, tornaram-se a única superpotência mundial e encontraram novos inimigos contra os quais lutar, como os fanáticos do Islã, de um lado, e os narcotraficantes, de outro lado. Ou seja, novos elementos para a mesma fórmula do Bem e do Mal dos tempos da Guerra Fria. É um mundo que enfrenta novos problemas, como o ressurgimento de conflitos nacionais e étnicos; a disputa entre blocos econômicos; e as grandes máfias que controlam o crime organizado internacional. 


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