domingo, 24 de setembro de 2023

As Revoluções Inglesas

No decorrer dos séculos XVI e XVII, a burguesia desenvolveu-se, graças a ampliação da produção de mercadorias e das práticas do mercantilismo - que auxiliaram no processo de acumulação de capitais.

No entanto, a partir de um certo desenvolvimento das chamadas forças produtivas, a intervenção do Estado Absolutista nos assuntos econômicos passou a se constituir em um obstáculo para o pleno desenvolvimento do capitalismo. A burguesia passa a defender a liberdade comercial e a criticar o Absolutismo.
O absolutismo inglês desenvolveu-se sob duas dinastias, a dinastia Tudor e a dinastia Stuart. Durante a dinastia Tudor houve um grande desenvolvimento econômico inglês- principalmente no reinado da rainha Elizabeth I: consolidação do anglicanismo; adoção das práticas mercantilistas; início da colonização da América do Norte e o processo da política dos cercamentos, para ampliar as áreas de pastagens e a produção de lã. Assim, a burguesia inglesa vinha enriquecendo rapidamente, ampliando cada vez mais seus negócios e dominado a economia inglesa.
Além deste intenso desenvolvimento econômico a Inglaterra dos séculos XVI e XVII apresentava uma outra característica: os intensos conflitos religiosos.
A religião oficial, adotada pelo Estado era o anglicanismo, existiam outras correntes religiosas: os protestantes (calvinistas, luteranos e presbiterianos), chamados de modo geral, de puritanos. Havia ainda católicos no país. A monarquia inglesa - anglicana - perseguia católicos e puritanos, gerando os conflitos religiosos.

GRUPOS RELIGIOSOS E POSIÇÕES POLÍTICAS


Os católicos a partir da Reforma Anglicana passam a deixar de ter importância na economia inglesa;
Os calvinistas -grupo mais numeroso -eram compostos por pequenos proprietários e pelas camadas populares. O espírito calvinista, da poupança e do trabalho refletia os interesses da burguesia inglesa.

OS CONFLITOS ENTRE MONARQUIA E PARLAMENTO

No século XVII, o Parlamento inglês contava com um grande número de puritanos- que representavam os interesses da burguesia- e não aceitavam mais a interferência do Estado Absolutista. Com a morte de Elizabeth I, o trono inglês fica com os Stuarts. Foi durante esta dinastia que ocorreram as Revoluções Inglesas.

A DINASTIA STUART

Jaime I (1603/1625) - uniu a Inglaterra à Escócia, sua terra natal, desencadeando a insatisfação da burguesia e do Parlamento, que o consideravam estrangeiro. Realizou uma intensa perseguição a católicos e puritanos calvinistas. Foi em virtude desta perseguição que muitos puritanos dirigiram-se ao Novo Mundo, dando início à colonização da América inglesa -fundação da Nova Inglaterra, uma colônia de povoamento.
Carlos I (1625/1648) - sucessor de Jaime I e procurou reforçar o absolutismo, estabelecendo novos impostos sem a aprovação do Parlamento. Em 1628 o Parlamento impôs ao rei a "Petição dos Direitos",que limitava os poderes monárquicos: problemas relativos a impostos, prisões e convocações do Exército seriam atos ilegais, sem a aprovação do Parlamento. No ano de 1629, Carlos I dissolveu o Parlamento e governou sem ele por onze anos.
Em 1640, Carlos I teve que convocar novamente o Parlamento ­necessidade de novos impostos, negados pelo Parlamento. Diante da negação, Carlos I procura novamente dissolver o Parlamento, desencadeando uma violenta guerra civil na Inglaterra.

Revolução Puritana

A guerra civil mostrou dois lados da sociedade inglesa, de um lado estava o partido dos Cavaleiros, que apoiavam o rei: a nobreza proprietária de terras, os católicos e os anglicanos; de outro estava os Cabeças Redondas ( pois não usavam cabeleiras compridas como os nobres) partidários do Parlamento.
As forças do Parlamento, organizadas em um exército de rebeldes, eram lideradas por Oliver Cromwell. Após uma intensa guerra civil (1641/1649), os Cabeças Redondas derrotaram os Cavaleiros- aprisionando e decapitando o rei, Carlos I, em 1649. Após a morte de Carlos I foi estabelecida uma república na Inglaterra, período denominado "Commonwealth".
A revolução puritana marca, pela primeira vez, a execução de um monarca por ordem do Parlamento, colocando em xeque o princípio político da origem divina do poder do rei- influenciando os filósofos do século XVIII (Iluminismo).

REPÚBLICA PURITANA (1649/1658)

Período marcado por intolerância e rigidez de Oliver Cromwell. Este dissolveu o Parlamento em 1653 e iniciou uma ditadura pessoal, assumindo o título de Lorde Protetor da República.
Em 1651 foi decretado os Atos de Navegações, que protegiam os mercadores ingleses e provocaram o enfraquecimento comercial da Holanda. Com este ato a Inglaterra passa a ter o domínio do comércio marítimo.
Oliver Cromwell, sob o pretexto de punir um massacre que católicos irlandeses tinham realizado contra os protestantes, invadiu a Irlanda, promovendo a morte de milhares de irlandeses, originando um profundo conflito entre Irlanda e Inglaterra, que perdura ainda hoje.
Após a morte do Lorde Protetor (1658), inicia-se um período de instabilidade política até o ano de 1660, quando o Parlamento resolveu restaurar a monarquia.

A Restauração e a Revolução Gloriosa.

Carlos II (1660/1685) -filho de Carlos I, que no ano de 1683 dissolveu o Parlamento. Em seu reinado, o Parlamento dividiu-se em dois partidos: Whig, composto pela burguesia liberal e adeptos de um governo controlado pelo Parlamento e Tory, formado pelos conservadores e adeptos do absolutismo.
Jaime II ( 1685/1688) - Era católico e com a morte de Carlos II assumiu o poder e procurou restaurar o absolutismo monárquico, tendo oposição dos Whigs. No ano de 1688, há o nascimento de um herdeiro ­filho de um segundo casamento com uma católica. Temendo a sucessão de um governante católico, Whigs ( puritanos ) e Torys ( anglicanos), aliaram-se contra Jaime II, oferecendo o trono a Guilherme de Orange, protestante e casado com Maria Stuart - filha do primeiro casamento de Jaime com uma protestante.
Guilherme só foi proclamado rei quando aceitou a Declaração dos Direitos (Bill of Rights ), que limitava os poderes do rei e estabelecia a superioridade do Parlamento. Determinou-se também a criação de um exército permanente, a garantia da liberdade de imprensa e liberdade individual e proteção à propriedade privada.
A Revolução Gloriosa foi um complemento da Revolução Puritana, garantindo a supremacia da burguesia, através do controle do Parlamento. Também garantiu o fim do absolutismo monárquico na Inglaterra e o surgimento do primeiro Estado burguês, sob a forma de uma monarquia parlamentar.

A Conquista e Colonização da América pelos europeus

Os europeus só conheceram a América em fins do século XV. Porém, muito antes disso, as terras desse continente já eram habitadas por pessoas que constituíam grupos sociais com modos de vida diferentes entre si.

A chegada dos europeus provocou uma série de mudanças na vida dos povos da América, muitos aos quais foram explorados, escravizados ou simplesmente dizimados.

1. O Mercantilismo e a Colonização da América

O mercantilismo correspondeu à política e à prática econômica do Estado absolutista. Suas origens remontam à formação dos Estados nacionais, quando da progressiva centralização do poder, atingindo a plenitude com o absolutismo da Idade Moderna.
O traço principal do mercantilismo era a intervenção do Estado nos assuntos econômicos, a fim de dinamizar a economia nacional em proveito do fortalecimento real. Acreditava-se que só um Estado centralizado e empreendedor poderia favorecer o desenvolvimento nacional.

Os Princípios mercantilistas

Os Estados modernos europeus adotaram medidas mercantilistas que, quase sempre, apresentou certos princípios característicos, destacando-se:
Balança de comercial favorável: o intervencionismo absolutista tinha por meta que as exportações, fossem sempre superiores às importações, visando um saldo positivo no comércio com outras nações para viabilizar o entesouramento do Estado.
Metalismo: o ideal que norteava as práticas econômicas era que a riqueza de um país devia ser igual à quantidade de metais preciosos que conseguisse acumular.
Protecionismo: era a prática tarifária que encarecia os produtos importados, protegendo e estimulando a produção interna.
As medidas tomadas pelos Estados mercantilistas variaram de país para país em virtude de condições específicas. Na Espanha teve maior importância a exploração de metais preciosos (prata e ouro) nas colônias, predominando o metalismo. Na França, priorizou-se a indústria , graças a atuação de um dos ministros de Luís XIV, Colbert, daí ser chamado de colbertismo. Já na Inglaterra, destacou-se inicialmente o incentivo maiôs ao comércio, através do desenvolvimento da marinha inglesa, e depois às manufaturas, com um forte protecionismo.

O sentido da Colonização na América

Para os Estados europeus daquela época, colonizar uma determinada área era povoá-la a fim de explorar suas riquezas. Tais Estados adotavam como política econômica o mercantilismo. Um dos princípios básicos dessa política econômica era que as colônias existiam apenas para atender ao interesses das metrópoles.
O interesse das metrópoles mercantilistas européias era obter o máximo de lucro possível na exploração econômica de suas colônias. Para isso impuseram a elas um conjunto de medidas econômicas e políticas que os historiadores chamaram de sistema colonial.
A principal dessas medidas era o monopólio, compromisso segundo o qual as colônias só podiam comerciar com as respectivas metrópoles. Aproveitando-se disso, as metrópoles impunham às suas colônias os preços de compra e de venda das mercadorias. Compravam delas pelo menor preço admissível e vendiam para elas pelo maior preço possível.
A função principal das colônias, portanto, deveria ser a de enriquecer as burguesias e os reis de suas respectivas metrópoles. De fato, por um longo tempo, foi esse o papel desempenhado pela maioria das colônias européias na América.
A América transformou-se numa importante região complementar ao desenvolvimento europeu, dentro da meta do entesouramento mercantilista, sendo submetida a uma intensa exploração colonialista. Sua integração à Europa obedeceu à função primordial de produzir as riquezas requeridas por suas metrópoles.
A atividade colonizadora concentrou-se, de início, na exploração de metais preciosos existentes na região, ou de gêneros tropicais (cana-de-açúcar, algodão, tabaco) de alto valor no mercado europeu, como no caso e Espanha e Portugal principalmente. Posteriormente, quando a extração de riquezas não era possível, as colônias na América serviam como entrepostos comerciais ou simplesmente refúgio de uma população marginalizada, muitas vezes aliviando algumas nações europeias de sérios problemas sociais.
A colonização, de forma geral, não visou ao progresso colonial da América e sim ao desenvolvimento econômico das metrópoles europeias. Esse sentido complementar e explorado das relações metrópole-colônia, chamado pacto colonial, desdobrou-se nos trabalhos das populações coloniais e na dizimação dos nativos do Novo Mundo, os chamados ameríndios. Por fim, o Estado mercantilista, ansioso por lucros e riquezas, ressuscitou o velho escravismo, integrando-o à empresa colonial.
Cristóvão Colombo, ao chegar a América, em 1492, encontrou uma população de cerca de 100 milhões de habitantes. Dois séculos depois, essa mesma população achava-se reduzida a menos de 4 milhões de habitantes. Esta drástica redução da população nativa estava intimamente relacionada à violência da conquista e a exploração sobre a gente da América.

O Sistema Colonial

Devemos conhecer os seguintes conceitos-chave do sistema colonial mercantilsta:
Metrópole — o país dominador da colônia. Centro de decisões políticas e econômicas.
Colônia de exploração — a região dominada pela metrópole. Servia-lhe como retaguarda econômica.
Regra básica do pacto colonial — à colônia só era permitido produzir o que a metrópole não tinha condições de fazer. Por isso, a colônia não podia concorrer com a metrópole.
Colônias - instrumentos geradores de riqueza

2. A conquista espanhola

A Espanha foi o primeiro Estado europeu a se empenhar na ocupação e exploração das terras americanas. A conquista espanhola da América, cuja população era muito superior ao número dos conquistadores, só foi possível graças à superioridade bélica. As armas de fogo, os equipamentos de ataque e defesa, a utilização do cavalo, animal desconhecidos em terras americanas, deram aos espanhóis as condições de subjugar os povos nativos.
Todo esse equipamento bélico era desconhecido dos ameríndios, que combatiam quase desnudos e utilizavam basicamente arcos, flechas envenenadas e lanças.
Conforme testemunho do escritor frei Bartolomeu de Las Casas, a conquista começou pela ocupação da ilha Hispaniola (atuais Haiti e São Domingos) e de Cuba, realizadas ainda durante as viagens de Colombo à América.
Aos poucos os espanhóis saquearam todo o ouro encontrado nessas ilhas e exterminaram a grande maioria de seus habitantes. Principalmente por causa desse genocídio, não há mais descendentes dos indígenas que habitavam aquela região antes da chegada de Colombo.
Depois, dando prosseguimento à conquista, lançaram-se com fúria desmedida sobre os territórios ocupados pelas civilizações pré-colombianas do continente.
Em 1519, o nobre espanhol Fernão Cortez, acompanhado de 500 soldados, desembarcou nas costas do México e tomou Tenochtitlán, a capital do Império Asteca.
Em 1533, o aventureiro espanhol Francisco Pizzarro e seus 180 soldados conseguiram-se apoderar-se de Cuzco, a magnífica capital do Império Inca.

A economia colonial

Logo nas primeiras décadas do século XVI os espanhóis lançaram-se à exploração das riquezas minerais americanas e, por mais de cem anos, a mineração foi a principal atividade econômica da América espanhola.
A extração de ouro e especialmente a exploração da prata nas ricas minas de Patosi (atual Bolívia) e Zacatecas (atual México enriqueceram a Espanha rapidamente, elevando-a à condição de maior potência mundial do século XVI.
A mineração estimulou também a prática da agricultura, da pecuária e da tecelagem em diversas regiões do território hispano-americano. Essas regiões, como o norte da Argentina, por exemplo, passaram a produzir gêneros agrícolas, animais de tração e panos grosseiros para abastecerem as áreas de mineração.
Durante o século XVII, com o esgotamento das jazidas, a exploração do ouro e da prata decaiu. Com isso, as regiões dedicadas à agricultura e à pecuária tornaram-se mais dependentes das vendas para o mercado externo. O declínio da mineração concorreu também para o aumento do número de plantations, isto é, das grandes propriedades produtoras de gêneros tropicais como o cacau (Venezuela), açúcar e tabaco (Antilhas), destinados à venda em larga escala para o mercado externo. Nessas propriedades, a mão-de-obra mais numerosa era de escravos negros, que passaram a ser trazidos da África em grandes quantidades a partir de meados do século XVII.

A mão-de-obra

A mão-de-obra mais utilizadas pela empresa colonial espanhola no continente americano sempre foi a do indígena. Desde o começo da colonização, os espanhóis foram autorizados pelos reis a forçarem o indígena a trabalhar para eles nas mais diferentes ocupações.
O trabalho forçado do indígena era regulamentado pela encomienda e pela mita.
Originária da Espanha e introduzida na América por Colombo, a encomienda era o direito que o rei concedia ao colono espanhol (o encomendero) de fazer com que um certo número de indígenas (os encomendados) trabalhassem para ele. Em troca, o encomendero tinha o dever de ensinar o cristianismo e cuidar da subsistência do encomendados. Milhares de índios encomendados, porém, morreram por falta de assistência material e sem nenhum conhecimento da religião cristã.
Amplamente utilizada no Império Inca, a mita foi aproveitada pelos colonizadores espanhóis, pois atendia perfeitamente aos seus interesses mercantilistas. Mas, é claro, adquiriu outro significado.
A mita era o direito que os colonos espanhóis se davam de arrancar os indígenas de suas comunidades e forçá-los a trabalhar nas minas por um determinado tempo. Em troca, tais trabalhadores, conhecidos como mitayos, recebiam o equivalente à metade ou a um terço do salário do trabalhador livre.
A encomienda, a mita, as péssimas condições de trabalho no campo e nas minas, as doenças trazidas pelo europeu (varíola, tuberculose, sarampo, tifo, malária e gripe, entre outras) e a guerra foram os principais fatores responsáveis pela eliminação física de milhões de indígenas na América espanhola.
Embora um setor da Igreja Católica, tendo a frente o corajoso frei Bartolomeu de Las Casas, tenha conseguido a aprovação de uma lei proibindo a encomienda, o trabalho forçado do indígena continuou sendo largamente utilizado pela empresa colonial espanhola até o século XIX.

A sociedade

A sociedade colonial hispano-americana era formada basicamente por uma minoria de brancos, que concentrava grande soma de poder e riqueza, e uma grande maioria de não-brancos, composta de índios, negros e mestiços, submetidos a um regime de trabalho forçado e obrigatório ou recebendo baixíssimos salários.
Nessa sociedade havia uma estreita relação entre cor, origem e posição social.
Os chapetones eram os colonos brancos nascidos na Espanha. Ocupavam os mais altos cargos administrativos, políticos, religiosos e militares existentes na sociedade colonial.
Os criollos eram os filhos de espanhóis nascidos na América. Essa camada social era formada por grandes proprietários de terras e por ricos arrendatários de minas. Apesar disso, aos criollos estavam reservados os cargos administrativos, políticos, religiosos e militares, inferiores aos dos chapetones.
Os mestiços eram em sua maioria descendentes e brancos e índios e trabalhavam quase sempre, como comerciantes, artesãos e capatazes.
Os indígenas constituíam a maior parcela da população colonial. Com a chegada dos espanhóis, muitos deles foram sendo destribalizados e incorporados à sociedade hispano-americana para realizar os piores serviços em troca dos mais baixos salários.
Os negros, na condição de escravos, foram trazidos da África principalmente para trabalhar nas regiões que adotaram a plantation, como São Domingos, Haiti, Cuba e Jamaica.

A administração

Nas primeiras décadas da conquista, a coroa espanhola decidiu entregar a particulares – os adelantados – a administração dos territórios americanos pertencentes à Espanha. Os adelantados eram, geralmente, homens como Cortez e Pizzarro, que, por terem encabeçado expedições de conquista, receberam o direito de administrar com grande autonomia os territórios por eles conquistados.
Entretanto, à medida que os espanhóis foram conquistando novos territórios e descobrindo metais preciosos na América, o governo da Espanha foi diminuindo os poderes dos adelantados e criando órgãos governamentais para cuidar da administração colonial.
O mais importante desses órgãos foi criado pelo governo espanhol em 1524 e se chamava Conselho das Índias. Além de elaborar leis e nomear funcionários reais para as colônias, o Conselho das Índias estava autorizado a decidir sobre todas as questões coloniais de ordem militar, jurídica ou eclesiástica.
Para facilitar a administração de seu vasto império, a Espanha subdividiu-o em quatro vice-reinos: Nova Espanha (México e América Central), Nova Granada (Colômbia, Equador e Venezuela, Peru (Peru e parte da Bolívia) e Prata (Argentina, Uruguai, Paraguai e a parte restante da Bolívia).

Além dos vice-reinados, a metrópole criou quatro outras unidades administrativas, chamadas de capitanias gerais: Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile. Situadas em áreas estratégicas, essas capitanias estavam encarregadas de defender as colônias de possíveis ataques estrangeiros.
Os vice-reis, principais encarregados da administração colonial, tinha autonomia relativa, sendo, frequentemente, fiscalizados pelo poder central. Nas principais cidades coloniais criaram-se câmaras municipais conhecidas pelo nome de cabildos. Estas câmaras eram formadas por fazendeiros e mineradores ricos, autorizados a decidir sobre questões relativas à administração local.

3. A Colonização Inglesa

Enquanto os espanhóis concentraram seus esforços colonizadores nas regiões auríferas da América Central e do Sul, os ingleses ocuparam a América do Norte a partir de 1584, sob o reinado da rainha Elizabeth I. Nesse ano, Walter Raleigh fundava a colônia da Virgínia.
Contudo, foi só no século XVII que a colonização inglesa da América do Norte recebeu o impulso de que precisava, especialmente das companhias de comércio britânicas (Companhia de Londres e Companhia de Plymouth, por exemplo), que favoreceram a constituição de novas colônias em terras americanas.
A colonização nas treze colônias inglesas iniciais tem algumas peculiaridades, se comparadas às colonizações espanhola e portuguesa. Podemos, por exemplo, identificar características colonizadoras diferentes em diversas regiões da colônia.
Na região Sul, a colonização baseou-se no latifúndio monocultor e escravista (plantation), cuja produção destina-se à exportação. Na região Norte e Centro, a ocupação foi realizada principalmente por pessoas perseguidas ou que fugiam dos conflitos políticos e/ou religiosos. Por isso, desenvolveram-se atividades destinadas à sobrevivência das comunidades, como as manufaturas, o comércio é a agricultura baseada na pequena propriedade e na variedade de produtos. Chama-se este tipo de ocupação de colônia de povoamento.

4. A Colonização Francesa e a Holandesa

Os franceses e holandeses, desejosos de usufruir do vantajoso comércio colonial, criaram, no século XVII, companhias de comércio, cujo objetivo era estimular a ocupação de terras americanas.
Os franceses ocuparam a região que hoje corresponde ao nordeste do território canadense, fundando, em1608, a cidade de Quebec. Posteriormente, ocuparam a foz do rio Mississipi, fundando ali a colônia da Louisiana.
Além de se estabelecerem no Canadá e na Louisiana, os franceses fundaram colônias em algumas ilhas da América Central. Nessa parte do continente, ocuparam a Martinica, Guadalupe, Tobago e a porção ocidental da ilha de São Domingos (atual Haiti), além de várias outras ilhas. Na América do Sul, ocuparam uma das Guianas e lá fundaram a cidade de Caiena.
Interessados no domínio colonial americano, os holandeses fundaram, em 1623, um povoado chamado Nova Amsterdã que mais tarde passou ao domínio inglês, transformando-se na cidade de Nova Yorque. Tal como os franceses, os holandeses fundaram colônias nas Antilhas e na região das Guianas, na América do Sul.
Os holandeses, através da atuação da Companhia de Comércio das Índias Orientais e da Companhia de Comércio das Índias Ocidentais, conseguiram monopolizar grande parte de transporte e mercado europeu dos gêneros coloniais, tornando-se, já no século XVII, numa nação rica e poderosa, assumindo a liderança marítimo comercial da Europa.
Essa liderança estendeu-se até a metade do século XVII, quando a Holanda foi vencida em guerra travada contra a Inglaterra. Depois de vencer a guerra, a Inglaterra passou a ser a nação hegemônica, a “Rainha dos Mares”.
Enfraquecida pela derrota diante da Inglaterra, a Holanda perdeu grande parte de suas possessões. Na América.




Povos nativos da América espanhola

Os povos nativos da América

Eles são chamados por alguns estudiosos de pré-colombianos. Muito diferentes entre si, esses povos estavam espalhados por todo o continente. Em algumas regiões, a organização da sociedade era mais complexa, com a presença de cidades, comércio, construções religiosas, etc. Em outras, habitavam povos nativos nômades, que viviam da coleta e da caça.

Aos olhos dos europeus, os nativos americanos precisavam ser conduzidos ao mesmo padrão de cultura deles, ou seja, ser convertidos ao catolicismo, responder a um rei e ter os mesmos costumes. Assim, os habitantes da América passaram a ser vistos de forma preconceituosa, o que colaborou para a dominação europeia no continente.
É importante, ainda, voltar a destacar que esse movimento de expansão dos europeus era motivado, em grande parte, pela busca de riquezas: mercadorias que pudessem ser comercializadas na Europa, sobretudo metais preciosos.
Quando Cristóvão Colombo chegou à América, em 1492, ele acreditava ter desembarcado em terras das Índias. Por isso, chamou de índios àquelas pessoas de línguas e costumes tão diferentes dos europeus.
Por causa das diferenças, muito europeus não acreditavam que os índios fossem seres humanos como eles. Muitos nativos tiveram a mesma reação: não podiam crer que aqueles homens de barbas e armaduras fossem semelhantes a eles.

As Principais civilizações Pré-Colombianas

Conhecidos como povos pré-colombianos, os milhões de índios que viviam na América quando Colombo aqui aportou estavam divididos em mais de 3 mil nações com diferentes culturas.
Até a chegada dos conquistadores europeus a partir do século XV, muitos dos agrupamentos humanos que habitavam a América do Norte, o Caribe, o Brasil e a parte sul do continente mantiveram um tipo de vida bastante simples, fundado na caça, pesca e agricultura rudimentar.
Entretanto, algumas sociedades chegaram a apresentar um elevado grau de sofisticação, produzindo brilhantes civilizações como as dos astecas no México, dos maias na América Central e dos incas no Peru. Estas sociedades realizaram significativos avanços na agricultura, na metalurgia, na escrita, na matemática, na organização política e nas construções urbanas, entre outros, que muito as assemelhavam às primeiras grandes civilizações do Egito e da Mesopotâmia.

Os incas

O território inca estendia-se ao longo da cordilheira dos Andes e incluía terras hoje pertencentes a Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Argentina e Chile.
No Império Inca, constituído por algumas cidades e muitas aldeias, concentravam-se cerca de 15 milhões de pessoas que falavam a mesma língua, seguiam a mesma religião e viviam sob um governo centralizado.
A terra e a água pertenciam ao governo. Ele concedia a cada comunidade o direito de permanecer em determinada área, plantando e criando animais. Qualquer revolta significava a perda desse direito. E sem terra e água ninguém podia sobreviver.
Apesar de as terras serem trabalhadas pelas comunidades, elas serviam para atender as prioridades do governo, cujo líder absoluto era uma espécie de imperador, chamado Sapa Inca. Periodicamente, esse imperador contava com a força de trabalho de todas as pessoas e, de forma permanente, com a mão-de-obra de uma parte da população.
Os principais produtos cultivados pelas comunidades eram o milho, o feijão, a batata, o tomate, a goiaba, o abacate e o amendoim.
Além de cultivar a terra, os incas dedicavam-se à criação de Ihamas, guanacos, vicunhas e alpacas. Os Ihamas eram usados como animais de carga, embora ocasionalmente os incas se alimentassem de sua carne. As alpacas forneciam lã, utilizada para confeccionar roupas para a maioria da população. Da vicunha retiravam uma lã mais sedosa e de excelente qualidade, reservada para o vestuário dos chefes incas.
As cidades eram pequenas, pois a maioria da população vivia nas aldeias. Em cada cidade, em geral, havia:
- um templo dedicado ao deus sol, a principal divindade;
- armazéns onde eram guardados a comida e o vestuário, provenientes do pagamento de tributos;
- alojamentos para os soldados e para os artesãos;
- edifícios administrativos.
Nas aldeias, as casas eram construídas com blocos de pedra bruta e as fendas eram tapadas com barro. No lugar da porta, havia apenas um pedaço de couro cru, para proteger contra o vento. Os incas dormiam em esteiras e sentavam-se no chão.
Os principais alimentos eram batata, milho, feijão e diversos vegetais, tudo temperado com fortes condimentos.
Quanto ao vestuário, os homens trajavam uma túnica simples, que mal tocava os joelhos, e uma capa; as mulheres usavam vestidos compridos, adornados com um cinto largo, e uma capa. Nas terras altas, por causa do frio, as roupas eram de lã, e nas regiões costeiras, de algodão.

Os astecas e os maias

Os astecas e os desenvolveram-se na região conhecida como Mesoamérica. Os astecas habitavam as terras do atual México; os maias ocupavam a região onde hoje estão a Guatemala, parte de Honduras, El Salvador, Belize e a península de Iucatã, no México.
Na época em que os espanhóis desembarcaram na América, a sociedade maia encontrava-se em crise; a asteca ao contrário, era a principal sociedade da Mesoamérica, dominando diversos povos da região.
Apesar das inúmeras diferenças, é possível estabelecer algumas semelhanças entre astecas e maias. Os dois povos tinham uma economia agrícola, com aperfeiçoadas técnicas de produção, incluindo o uso de adubos e a construção de barragens e canais de irrigação. Entre eles havia também desigualdades sociais.
No planalto mexicano, a ausência de chuvas combinada com clima quente e seco provocava o ressecamento do solo. Por isso, eram utilizados diversos processos de irrigação, feitos a partir do trabalho coletivo, em regime de servidão.
As autoridades militares e religiosas dominavam os trabalhadores com o uso da força. O poder militar era utilizado ainda para conseguir o pagamento de tributos, conquistar novos territórios e submeter as comunidades conquistadas.
Esses povos acreditavam que os governantes eram representantes dos deuses, que não recompensaria as comunidades com boas colheitas se elas não pagassem tributos ao Estado.
Os tributos eram pagos, principalmente, com parte daquilo que era produzido ou com serviços prestados na construção de obras públicas (canais, represas e estradas).
O principal produto agrícola era o milho. Cultivavam também o feijão, a mandioca, a abóbora, a batata-doce, o tomate, o cacau, a batata, além de frutas como o abacaxi, o maracujá e o caju.
Apesar de a economia ser inteiramente voltada para a agricultura, esses povos construíram cidades com extensas e largas passagens, palácios e templos de pedra, terraços e jardins com fontes.
A principal diferença entre os astecas e os maias diz respeito à organização política. Enquanto os astecas viviam submetidos a chefes guerreiros, os maias não tinham uma forma de governo unificada.
Os maias eram povos que falavam línguas aparentadas e viviam em cidades independentes umas das outras que frequentemente lutavam entre si.

Conquista da América
Os espanhóis começaram a conquista da América pelas ilhas do Caribe, que incluem os atuais Haiti, República Dominicana, Cuba, Porto Rico e Jamaica. Nessas ilhas, viviam povos indígenas como os aruaques (entre eles, os tainos) e os caraíbas.
Os primeiros conquistadores que exploraram as ilhas da América Central em nome da Coroa espanhola foram Cristóvão Colombo (a partir de 1492), Rodrigo de Bastidas
(a partir de 1493) e Vasco Núñez de Balboa (a partir de 1501). Eles, assim como outros conquistadores, entraram em guerra com os povos locais para garantir o poder dos espanhóis nas terras americanas.
Durante a colonização, os europeus forçaram os indígenas a trabalhar na extração de metais preciosos, na criação de animais, na agricultura e na construção de cidades, como Santo Domingo (atual capital da República Dominicana), San Juan (atual capital de Porto Rico) e Havana (atual capital de Cuba). Santo Domingo, fundada em 1496, foi a capital da primeira colônia espanhola no Novo Mundo.
Na América Central, os colonizadores rapidamente encontraram pepitas de ouro nas margens e nos leitos dos rios (ouro de aluvião). Mas a quantidade era pequena diante da ambição dos conquistadores. Não demorou para que as reservas se esgotassem e a população indígena fosse dizimada, principalmente devido a doenças e à intensa exploração de seu trabalho.

Conquista dos astecas

Os astecas foram conquistados por tropas espanholas comandadas por Fernão Cortez. Ele desembarcou na região do atual México em 1519, com quinhentos homens, e foram pacificamente recebidos pelos povos nativos. Em breve, porém, surgiu a discórdia entre eles. Cortez fora informado sobre a riqueza do Império Asteca, que possuía quantidades enormes de ouro. Entusiasmado com a notícia, ele decidiu atacar os astecas. Cortez dispunha de aproximadamente seiscentos soldados, dez canhões de bronze, quatro canhões leves, treze mosquetes, dezesseis cavalos e onze embarcações. Era uma força relativamente pequena diante da superioridade numérica dos soldados astecas.
Por isso, os espanhóis estabeleceram alianças com indígenas tlaxcaltecas, que se opunham ao poder asteca. Assim, Cortez e seus homens, acompanhados de um exército tlaxcalteca, marcharam para Tenochtitlán, a capital do império.
Em Tenochtitlán, o imperador Montezuma (1466-1520) ficou surpreso com as notícias que lhe deram sobre as forças dos adversários (armas de fogo, espadas de aço, cavalos). Talvez por isso decidiu receber os espanhóis com presentes e chegou a hospedá-los em seu palácio. Provavelmente, procurou ser diplomático para evitar uma guerra. Quem seriam aqueles estrangeiros inesperados? O fato é que nunca saberemos ao certo as razões que levaram o imperador asteca a tomar essa decisão.
O contato amistoso durou pouco. Combinando habilidade e violência, Cortez aprisionou Montezuma em seu próprio palácio e procurou tomar Tenochtitlán.  Revoltados com as crueldades, os astecas atacaram os espanhóis. Nesse ataque, mataram Montezuma, que tentava acalmá-los. Cortez e seus homens conseguiram fugir. Em maio de 1521, regressaram com reforços e cercaram a capital asteca, Tenochtitlán. 
Os habitantes da cidade resistiram por meses, mas foram atingidos por uma epidemia de varíola. As doenças, a superioridade das armas e as alianças com povos inimigos dos astecas contribuíram para a vitória dos espanhóis em 1521.
O rei espanhol recompensou Hernán Cortez por comandar essa vitória, nomeando-o governador e capitão-geral da Nova Espanha, novo nome atribuído ao antigo território dos astecas.

Conquista dos incas

Os espanhóis também receberam notícias de que havia muito ouro na região da Cordilheira dos Andes, em um território dominado pelo Império Inca. Sabendo disso, o espanhol Francisco Pizarro, organizou uma expedição para conquistar o centro político desse império.
Os incas foram conquistados por tropas espanholas comandadas por Francisco Pizarro, que chegaram à região do atual Peru em 1532. Seus métodos de conquista foram tão brutais quanto os de Cortez. Com uma manobra traiçoeira, as tropas de Pizarro mataram 2 mil incas e prenderam seu chefe, Ataualpa. Para libertá-lo exigiram enorme resgate.
Pizarro contava com aproximadamente duzentos soldados, munições e cerca de trinta cavalos. Porém, essa expedição enfrentou vários problemas como a resistência dos indígenas e a dificuldade de acesso a povoados que estavam localizados a mais de 3 mil metros de altitude.
Na época da conquista, o Império Inca atravessava uma grave crise política. Essa crise começou em 1527, quando o imperador Huayna Cápac (c. 1464-1527) morreu. Seus filhos Atahualpa (c. 1500-1533) e Huáscar (c. 1491-1532) passaram a disputar o trono, dividindo o império em duas partes, uma com sede em Quito e outra em Cuzco. Nessa luta, Atahualpa
derrotou Huáscar, mas se tornou líder de um império enfraquecido.
Em 1532, Pizarro solicitou um encontro pessoal com o imperador Atahualpa, que estava na cidade de Cajamarca (norte do atual Peru) com um exército de cerca de 30 mil homens. Confiante em seu exército, Atahualpa não se sentiu ameaçado pelas tropas espanholas e, por isso, aceitou encontrar-se com Pizarro.
O primeiro encontro entre eles foi amistoso. Porém, logo depois, Pizarro e seus homens armaram uma emboscada e capturaram o imperador. Para libertar Atahualpa, os incas deram um enorme tesouro em ouro e prata para os espanhóis. Contudo, mesmo recebendo o tesouro, Pizarro decidiu matar o imperador.
A morte de Atahualpa provocou forte abatimento moral em suas tropas. Para alguns historiadores, a finalidade da execução de Atahualpa, como também a do imperador asteca Montezuma, era derrubar com um único golpe a figura suprema do império e a autoconfiança dos indígenas que tentavam resistir.
Em 1533, Pizarro comandou o ataque vitorioso à cidade de Cuzco. Posteriormente, em 1535, fundou Lima, capital colonial espanhola e atual capital do Peru.
Durante as guerras de conquista, houve povos que se aliaram aos conquistadores para destruir o Império Inca e povos que resistiram intensamente à dominação espanhola. As batalhas entre o líder inca Túpac Amaru (1545-1572) e os espanhóis, por exemplo, foram os últimos focos de resistência à colonização. Túpac Amaru foi preso e decapitado pelos espanhóis em 1572.

Administração colonial

Inicialmente, a Coroa espanhola tinha o objetivo de tomar posse das terras americanas com rapidez, sem gastar muito. Para isso, concedeu o direito de ocupar e explorar essas terras a particulares, chamados adelantados. Homens como Hernán Cortez e Francisco Pizarro foram adelantados. Eles recebiam o direito de controlar a administração, a justiça e a economia. Em troca, eram obrigados a enviar para a Coroa espanhola um quinto de toda a riqueza que extraíam ou produziam.
A fiscalização dos ganhos obtidos pelos adelantados era feita pela Casa de Contratação, instituição da Coroa espanhola criada em 1503, com sede em Sevilha. A Casa estabeleceu que, na Espanha, somente os portos de Sevilha e, depois, de
Cádiz seriam utilizados para controlar a chegada e a saída de navios em viagem para a América. Por sua vez, na América, tanto para sair quanto para entrar, as embarcações deveriam utilizar somente os portos de Havana (Cuba), Vera Cruz (México), Portobelo (Panamá) e Cartagena (Colômbia).

Presença da Coroa

Aos poucos, a Coroa espanhola ampliou o controle sobre as colônias e diminuiu o poder dos adelantados. Para isso, em 1524, criou o Conselho das Índias, que assessorava o rei nas questões da administração colonial. O Conselho tinha a função de nomear funcionários, criar normas e aplicar leis nas colônias espanholas.
A monarquia espanhola passou a administrar diretamente suas colônias. Com esse objetivo, foram criados os vice-reinos da Nova Espanha (1535), do Peru (1543), de Nova Granada (1717) e do Rio da Prata (1776). Os vice-reis atuavam como representantes do rei da Espanha na América. A atuação dos vice-reis era fiscalizada por outros altos funcionários enviados pelo rei.
Para combater invasões de estrangeiros e ataques de povos indígenas resistentes à conquista, foram criadas as capitanias-gerais. Entre elas, destacam-se as capitanias-gerais do Chile, da Guatemala, de Cuba e da Venezuela. Os capitães-gerais eram comandantes militares subordinados aos vice-reis, mas, em muitos casos, mantinham uma relação direta com a Coroa espanhola.
Também foram criados tribunais judiciários chamados audiências, formados por magistrados nomeados pelo rei. Aos poucos, as audiências passaram a ter também funções administrativas.
Nas cidades mais importantes foram criadas as câmaras municipais, chamadas de cabildos ou ayuntamientos. Esses órgãos dedicavam-se, principalmente, à administração e segurança locais, sendo controlados por espanhóis e criollos (descendentes de espanhóis nascidos na América).

Sociedade

Na América espanhola, havia uma divisão social em função da origem de cada indivíduo. Conheça alguns grupos que se formaram:
• chapetones – colonizadores nascidos na Espanha que ocupavam os principais cargos na administração pública, na Igreja e no exército. Além disso, possuíam estabelecimentos comerciais e grandes propriedades de terra;
• criollos – colonos descendentes de espanhóis nascidos na América. Alguns tornaram-se importantes proprietários de terras e comerciantes bem-sucedidos. Mesmo conquistando poder econômico, não tinham os mesmos direitos políticos que os chapetones;
• mestiços – filhos de espanhóis ou de criollos com mulheres indígenas. Formavam um conjunto de pessoas livres que podiam trabalhar como comerciantes, artesãos e capatazes nas fazendas;
• indígenas – povos originários da América que constituíam a maior parte da população. Embora as relações entre indígenas e colonizadores variassem muito, o que predominava era a exploração de seu trabalho nas fazendas, nas minas e nas obras públicas;
• negros – africanos e seus descendentes. Formavam uma população pouco numerosa no início da colonização da América espanhola. Foram escravizados principalmente nas ilhas do Caribe e no vice-reino de Nova Granada.
Economia e trabalho
A busca por ouro e prata foi um dos principais motivos que impulsionaram a colonização espanhola na América. Nas ilhas do Caribe, os conquistadores acabaram rapidamente com o ouro que haviam encontrado. Mas, em 1545, os espanhóis descobriram grandes quantidades de prata em Potosí (atual Bolívia) e, no ano seguinte, em Zacatecas (atual México).
No século XVII, a maior parte da prata extraída no mundo vinha das minas de Potosí. Calcula-se que, em 1573, cerca de 120 mil pessoas habitavam Potosí. Para se ter uma comparação, a importante cidade de Sevilha, na Espanha, tinha 90 mil habitantes na mesma época.
Ao explorar essas minas, os espanhóis usaram técnicas de metalurgia, fizeram obras hidráulicas e outras construções. As minas eram administradas por nobres espanhóis, que pagavam os custos com mão de obra e equipamentos utilizados na extração, bem como os impostos cobrados pela Coroa espanhola.
Além da exploração de metais, os espanhóis implantaram outras atividades econômicas, como agricultura, criação de animais e oficinas de tecelagem. As principais plantas cultivadas foram o milho, o cacau, a batata, o tabaco e a cana-de-açúcar. Criavam animais como mulas, cavalos e bois. Com os bois, produziam couro e charque, que é uma carne salgada e seca ao sol. As mulas e os cavalos foram utilizados como animais de transporte.
As atividades econômicas coloniais visavam produzir artigos tanto para o mercado externo como para o mercado interno. Assim, grandes quantidades de ouro, prata, açúcar e cacau foram exportadas para a Europa. E, ao mesmo tempo, eram produzidos e utilizados nas colônias variados gêneros alimentícios, tecidos, animais para o transporte de carga, metais para cunhar moedas etc.

Formas de trabalho

Durante o processo de colonização, os espanhóis utilizaram diferentes formas de exploração do trabalho. A seguir, vamos estudar quatro delas: a escravidão, a encomienda, o repartimiento e a peonaje.

Escravidão

A escravidão transformava indígenas e negros em mercadorias, que tinham um dono e podiam ser comprados e vendidos. Os escravizados perdiam contato com seu povo e eram obrigados a trabalhar para seu dono pelo resto de suas vidas ou até serem libertados.
A escravização de indígenas ocorreu sobretudo no início da colonização, nas ilhas do Caribe. Em 1542, a Coroa espanhola proibiu a escravização de nativos devido, em parte, a pressões da Igreja Católica. A Igreja denunciou os maus-tratos sofridos pelos indígenas e pretendia convertê-los ao cristianismo.
Apesar da proibição, a escravidão era admitida se os indígenas resistissem ao domínio espanhol e à conversão religiosa. A escravização de africanos, por sua vez, continuou a existir na América espanhola, principalmente nas fazendas de Santo Domingo, Cuba e Nova Granada (correspondente aos atuais Equador, Panamá, Colômbia e Venezuela). Foi chamada de plantation a grande fazenda que tinha as seguintes características: a) utilizava mão de obra escrava; b) produzia um gênero agrícola tropical (cana-de-açúcar, tabaco etc.); c) destinava sua produção à exportação.

Encomienda: tributos em produtos e trabalho

A encomienda era um sistema pelo qual o colono fazia um acordo com a Coroa espanhola para explorar o trabalho dos indígenas. Nesse acordo, o colono (chamado “encomendero”) recebia o direito de cobrar tributos de uma comunidade indígena na forma de produtos e de trabalhos na agricultura, na pecuária ou nas minas. Em contrapartida, o encomendero tinha o dever de alimentar os indígenas e promover o ensino da religião católica.
A encomienda era diferente da escravidão, pois preservava um pouco da liberdade dos indígenas. Nesse sistema, os nativos poderiam manter relação com sua aldeia de origem, deviam trabalhar por tempo determinado e não seriam comprados e vendidos como mercadorias.
Porém, muitos encomenderos usufruíram de seus direitos sem cumprir seus deveres. Na prática, milhares de indígenas foram forçados a trabalhar por tempo indeterminado e morreram por maus-tratos. Além disso, com o tempo, os encomenderos se tornaram tão poderosos que representavam uma ameaça ao poder da Coroa espanhola nas colônias americanas. Tudo isso contribuiu para que ocorressem mudanças nas formas de exploração do trabalho indígena.
Na luta pela defesa dos povos indígenas, destacou-se o frei dominicano espanhol Bartolomeu de Las Casas (c. 1474-1566). Ele argumentava que a evangelização dos indígenas deveria seguir os princípios fundamentais do cristianismo. Isso significa levar a mensagem cristã de forma pacífica, dialogando com as culturas indígenas para transformá-las pelo convencimento, e não pela violência física.

Repartimiento: pagamento pelo trabalho forçado

O repartimiento era uma forma de trabalho forçado na qual cada comunidade indígena tinha que ceder aos espanhóis, por certo período, uma parcela de sua população masculina. Esses homens eram pagos por seu trabalho, mas recebiam salários menores do que os trabalhadores livres.
O repartimiento era administrado por um funcionário real. Com esse sistema, a Coroa tinha maior controle sobre o trabalho indígena. O repartimiento foi chamado mita no Peru e cuatequil no México, pois era uma adaptação de formas de trabalho já utilizadas pelos incas e astecas para dominar outros povos vizinhos.
De acordo com o pesquisador Charles Gibson, a principal forma de trabalho utilizada pelos espanhóis nas minas de Potosí era a mita. Para a região de Potosí, foram recrutados milhares de trabalhadores que, juntamente com suas famílias, atingiram imensas proporções na história da colonização espanhola.

Peonaje: trabalho livre assalariado

Importantes proprietários de terra adotaram formas de trabalho livre, como a peonaje, palavra que deriva de “peón” (peão, trabalhador não qualificado). Nesse sistema, o trabalhador tinha acesso à terra e se comprometia a fazer as tarefas combinadas em troca de empréstimos financeiros, pois o salário era baixíssimo.
Com o tempo, os indígenas que trabalhavam nas haciendas (grandes propriedades ou fazendas) tornavam-se praticamente servos, pois só podiam deixar a terra quando pagassem as dívidas que tinham contraído com seus patrões.
Os patrões cobravam dos indígenas uma parte do que produziam e lhes emprestavam dinheiro a juros altos. Famílias inteiras de nativos ficavam, assim, presas às fazendas.

Mortes, saques, doenças

As consequências da presença europeia na América foram desastrosas. Entre 1500 e 1600, o número de nativos na América passou de cerca de 40 milhões para pouco mais de 10 milhões. Muitas das sociedades americanas foram destruídas e milhões de índios, mortos. Com isso, os europeus puderam promover uma verdadeira pilhagem nas novas terras.
Na região da América dominada pelos espanhóis, os conquistadores construíram um império à custa da submissão dos povos nativos, apoiados pela Igreja e estimulados pelos reis e pela burguesia. As riquezas saqueadas no Novo Mundo transformaram a Espanha na maior potência da Europa naquele período. Entre 1503 e 1660, chegaram à Espanha 185 toneladas de ouro e 25 mil toneladas de prata, entre muitas outras riquezas.

A América Pré-colombiana

A América Antiga

A história dos povos americanos não começou com a chegada dos europeus. Quando estes aqui chegaram, encontraram várias sociedades plenamente organizadas. Ao longo dos séculos, entretanto, a ação dos colonizadores acabou por eliminar em grande parte a história desses povos.

Aos olhos dos europeus, os nativos americanos precisavam ser conduzidos ao mesmo padrão de cultura deles, ou seja, ser convertidos ao catolicismo, responder a um rei e ter os mesmos costumes. Assim, os habitantes da América passaram a ser vistos de forma preconceituosa, o que colaborou para a dominação européia no continente.
É importante, ainda, voltar a destacar que esse movimento de expansão dos europeus era motivado, em grande parte, pela busca de riquezas: mercadorias que pudessem ser comercializadas na Europa, sobretudo metais preciosos.
Quando Cristóvão Colombo chegou à América, em 1492, ele acreditava ter desembarcado em terras das Índias. Por isso, chamou de índios àquelas pessoas de línguas e costumes tão diferentes dos europeus.

Por causa das diferenças, muito europeus não acreditavam que os índios fossem seres humanos como eles. Muitos nativos tiveram a mesma reação: não podiam crer que aqueles homens de barbas e armaduras fossem semelhantes a eles.

O continente americano foi habitado por diversos povos. Entre eles, destacamos os olmecas, os maias, os astecas, os incas e os Tupi-guarani. Cada um desses povos desenvolveu culturas singulares, com modos de falar, pensar e trabalhar próprios. Um dos elementos em comum entre esses povos foi o cultivo do milho, cereal cultivado pela primeira vez por povos antigos da América.

América indígena

Ao longo do tempo, os povos originários que viviam no continente americano receberam diversos nomes por parte dos estudiosos. Vejamos alguns deles:
pré-colombianos – termo que tem como referência a chegada do navegador e explorador genovês Cristóvão Colombo à América;
nativos – termo que designa aqueles que nascem e vivem em um local;
índios – termo que se popularizou por conta de um equívoco de Colombo, que não sabia que havia encontrado um novo continente, acreditando ter chegado às Índias.
Todos esses nomes são convenções criadas para se referir a mais de 3 mil povos diferentes que viviam na América antes da chegada dos europeus no século XV.
Apesar dessa diversidade, atualmente esses povos preferem termos como povos originários ou indígenas para se autoidentificar, lutar por seus direitos e valorizar suas culturas.

As Principais civilizações Pré-Colombianas

Conhecidos como povos pré-colombianos, os milhões de índios que viviam na América quando Colombo aqui aportou estavam divididos em mais de 3 mil nações com diferentes culturas.
Até a chegada dos conquistadores europeus a partir do século XV, muitos dos agrupamentos humanos que habitavam a América do Norte, o Caribe, o Brasil e a parte sul do continente mantiveram um tipo de vida bastante simples, fundado na caça, pesca e agricultura rudimentar.
Entretanto, algumas sociedades chegaram a apresentar um elevado grau de sofisticação, produzindo brilhantes civilizações como as dos astecas no México, dos maias na América Central e dos incas no Peru. Estas sociedades realizaram significativos avanços na agricultura, na metalurgia, na escrita, na matemática, na organização política e nas construções urbanas, entre outros, que muito as assemelhavam às primeiras grandes civilizações do Egito e da Mesopotâmia.

Mesoamericanos e andinos

Os olmecas, os maias e os astecas viviam em uma região chamada Mesoamérica, que corresponde à parte sul do México e a países como Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Costa Rica, Nicarágua e Panamá. Já os incas viviam nas regiões andinas da América do Sul, entre a Cordilheira dos Andes e o litoral do Oceano Pacífico. 

Olmecas

Os olmecas se desenvolveram, aproximadamente, entre 1200 a.C. e 400 a.C. A cultura olmeca espalhou sua influência por uma vasta área que se estende, atualmente, do México (estados de Veracruz e Tabasco) ao Panamá.
Pesquisas arqueológicas indicam a existência de, ao menos, quatro grandes centros urbanos olmecas, cujos nomes atuais são: São Lourenço, Três Zapotes, Laguna de Los Cerros e La Venta. Nesses lugares, os arqueólogos encontraram vestígios de uma rica cultura que construiu, entre outras obras, pirâmides, templos, praças e imensas esculturas de basalto. La Venta foi, provavelmente, o centro olmeca mais populoso, abrigando cerca de 18 mil habitantes.
Os olmecas cultivavam plantas como milho, feijão e abóbora. Também caçavam e recolhiam frutas silvestres. Extraíam látex e produziam borracha. Por isso, ficaram conhecidos como “povo da borracha”.
A religião desse povo era politeísta. Eles cultuavam vários deuses, simbolizados por animais e forças da natureza, como o jaguar, a serpente, o Sol, a água, as montanhas e certas plantas agrícolas. Em alguns cultos, os dirigentes olmecas podiam atuar como sacerdotes, pois acreditava-se que eram dotados de poderes sobrenaturais.
Além disso, os olmecas desenvolveram um calendário que servia para orientar as atividades agrícolas, do plantio à colheita. Inventaram também um sistema de numeração e de escrita com base em sinais (glifos) que eram gravados ou pintados.
A sociedade olmeca não formou um império unificado, dirigido por um governo centralizado. O que havia eram centros regionais que organizavam sua sociedade. Nesses centros, os historiadores perceberam a existência de diversos grupos sociais, constituídos por camponeses, artesãos, comerciantes, escribas, sacerdotes e dirigentes políticos.

A civilização asteca

Os astecas eram um povo que migrou de regiões norte-americanas e foi ocupando a região conhecida como Vale do México, entre os séculos XII e XIII. Chegaram ao fértil vale do México em busca de terras, aproveitando-se das rivalidades existentes entre os grupos que ali habitavam para conquistá-los. Também chamados de mexicas (de onde deriva o nome “México”), eles falavam o nahuatl, que é a língua indígena mais falada hoje nesse país, mesmo após ter passado por transformações. Em algumas dezenas de anos, construíram um vasto império, que se estendia do oceano Pacífico ao Atlântico, cuja capital era a exuberante cidade de Tenochtitlán.
Os astecas estabeleceram núcleos de povoamento em torno do Lago Texcoco. Fundaram ali a cidade de Tenochtitlán, que se tornou a capital. No centro dessa cidade havia um imponente templo construído em forma piramidal. Os historiadores calculam que Tenochtitlán chegou a ter entre 100 mil e 230 mil habitantes, alcançando uma área de 13,5 quilômetros quadrados. Para ter uma ideia do tamanho dessa cidade asteca, podemos compará-la à movimentada Sevilha, que tinha cerca de 150 mil habitantes e era a maior cidade espanhola no século XVI.
Por meio de alianças e conquistas militares, os astecas expandiram seus territórios, dominando regiões centrais do atual México, desde o Atlântico até o Pacífico. Calcula-se que a população desse império atingiu cerca de 6 milhões de pessoas.
Grandes centros urbanos, como Tenochtitlán, eram sustentados por tributos, muitas vezes pagos sob a forma de alimentos que vinham das diferentes regiões dominadas pelos astecas.
Na conquista e consolidação de seu império, os astecas assimilaram as ricas culturas dos povos vencidos, especialmente as dos toltecas e dos olmecas, ao mesmo tempo que passaram a cobrar deles um pesado tributo anual em espécie (comida, ouro, pedras preciosas etc.).

Sociedade, economia e saberes

A sociedade asteca era fortemente hierarquizada. Era composta de nobres, comerciantes, artesãos e camponeses. Entre os nobres, estavam o imperador, os sacerdotes, os chefes militares, os governadores de províncias e os altos funcionários do Estado. Também havia uma elite de ricos comerciantes e artesãos. A maioria da população era formada por camponeses obrigados a pagar tributos para o governo.
Os astecas desenvolveram uma agricultura complexa. Drenaram pântanos, abriram canais de irrigação e construíram chinampas, ilhas artificiais destinadas ao cultivo agrícola.
A economia asteca baseava-se principalmente na agricultura. Cultivavam o milho – o principal alimento dos povos do império –, o feijão, a abóbora, a pimenta, o abacate, o algodão e o fumo. O artesanato – especialmente a tecelagem e a ourivesaria – e o comércio astecas eram também bastante desenvolvidos.
Além disso, os astecas criavam animais como perus, patos e cachorros. Comercializavam bens como tecidos, peles, cerâmicas, sal, ouro e prata. Dominavam técnicas de ourivesaria, cerâmica, tecelagem e engenharia, que aplicavam, por exemplo, na construção de diques, templos e aquedutos. Produziam obras de arte como máscaras em forma de mosaico, muitas vezes representando divindades. Os astecas desconheciam o uso do ferro e da roda.
No plano político, o Império Asteca era uma teocracia militar em que o chefe do governo considerado por todos como um ser semidivino, tinha o título de “chefe dos guerreiros” e concentrava enormes poderes em suas mãos. Eleito por um conselho supremo dentre os aristocratas das famílias mais poderosas, o imperador tinha como principal função o comando do exército e era, além disso, o responsável pela política externa.
A religião asteca era politeísta e seus deuses mais cultuados eram o da guerra, o da chuva e a mãe-terra, o que não é de se estanhar numa sociedade que valorizava o comportamento guerreiro e se apoiava na agricultura.
A arte asteca era fortemente influenciada pela religião e suas principais manifestações deram-se no campo da arquitetura e da escultura. A capital asteca possuía jardins erguidos em terraços, ruas retas e largas, aquedutos que forneciam água, templos, oratórios e mercados que maravilharam os espanhóis. A escultura era rica em detalhes e usava a argila, a pedra, o barro cozido, o jade e a madeira.
Assim como os maias, os astecas desenvolveram um calendário, um sistema de escrita baseado em signos e produziram códices (livros). O Códice Boturini e o Códice Mendoza foram criados por volta de 1540, cerca de vinte anos após a chegada dos espanhóis.
Os astecas eram politeístas, ou seja, cultuavam diversos deuses. Entre eles, estavam:
Huitzilopochtli – deus da guerra e do Sol;
Tlaloc – deus da chuva e do trovão;
Quetzalcóatl – também conhecido como serpente emplumada, deus da água, da terra, da escrita, do calendário e das artes.
Para cultuar esses deuses, os astecas erguiam templos com forma de pirâmide e realizavam rituais de sacrifício humano. As pessoas sacrificadas eram, em sua maioria, prisioneiros de guerra. Na cultura asteca, esse ritual era um momento de renovação da aliança entre deuses e seres humanos.
Os astecas possuíam profundos conhecimentos de astronomia (como se pode concluir por seu calendário, que dividia o ano em 365 dias). A escrita desenvolvida por eles utilizava desenhos para representar pensamentos ou idéias, uma vez que não chegaram a desenvolver um alfabeto.

A civilização maia

A história maia tem suas origens no século VIII a.C. Antropólogos e historiadores apontam que o grande desenvolvimento dessa civilização ocorreu entre 300 d.C. e 900 d.C. A civilização maia floresceu nas planícies da península de Iucatã na região onde hoje situam-se a Guatemala, Honduras e Belize. Nesse período, os maias construíram cidades-Estado como Copán (na atual Honduras),
Tikal (na atual Guatemala), Chichén Itzá e Palenque (ambas no atual México). Eram cidades autônomas, que tinham governos, leis e costumes próprios. Apesar da autonomia, essas cidades-Estado mantinham certas alianças e relações comerciais. Eram comercializados bens como cacau, sal, conchas e jade, um tipo de pedra ornamental.
Dois problemas dificultam um conhecimento maior dessa civilização: a escrita hieroglífica dos maias não está totalmente decifrada e, além disso, muitos dos seus documentos (bem como de outros povos pré-colombianos) foram queimados pelos espanhóis durante a conquista.

Sociedade, economia e saberes

A sociedade maia tinha divisões hierárquicas entre os diferentes grupos. Havia uma elite composta de nobres, sacerdotes e guerreiros. Mas a maioria da população era formada por agricultores e artesãos, que pagavam tributos para o governo. Cada cidade tinha um chefe de governo que era considerado um representante dos deuses.
A sociedade maia era dividida em quatro grandes camadas: a dos militares e dos sacerdotes, cujos cargos eram hereditários, e que constituíam a elite dominante; abaixo deles situava-se a dos trabalhadores livres, agricultores em sua maioria; e, por fim, a dos escravos (prisioneiros de guerra ou condenados pela justiça).
A camada dos sacerdotes era a única que possuía o domínio da escrita e do saber científico, o que lhes permitia, por exemplo, organizar um calendário agrícola e, por meio dele, determinar o tempo de adubar, plantar e colher.
A principal atividade econômica dos maias era a agricultura. Entre os alimentos que cultivavam, destacam-se milho, algodão, feijão, cacau, abacate e chili (pimenta). Eles empregavam uma técnica agrícola chamada coivara, que incluía a derrubada e a queima das plantas nativas, abrindo espaço para o cultivo.
Não utilizavam o arado, nem a roda. O milho – principal alimento maia – tinha uma importância muito grande para essa civilização, pois uma de suas lendas dizia que os homens foram criados a partir do milho.
Entre eles havia grandes construtores e talentosos artesãos, que produziam principalmente estatuetas, vasos e tecidos belíssimos.
Homens e mulheres desse povo dominavam as técnicas de cerâmica, o ofício de modelar ouro e prata (ourivesaria), a fiação e a tintura de tecidos. Entre as belas criações da arte maia, podemos destacar as obras arquitetônicas, as esculturas em baixo-relevo e os murais. Os maias também dominavam técnicas de produção de diferentes tipos de borracha, utilizando látex e extratos de plantas.
Politicamente, os maias nunca chegaram a formar um império. Cada cidade, como Palenque, Copán ou Tical, por exemplo, era um Estado independente. Daí se dizer que, assim como os antigos gregos, os maias também estavam organizadas em cidades-Estados. Eram governados por um imperador considerado semidivino, que, ao morrer, passava o cargo para o parente mais próximo. Ou seja, o governo maia era uma teocracia de caráter hereditário.
A religião influenciou fortemente diversos aspectos da vida e da produção dos maias. A arquitetura, por exemplo, era marcadamente religiosa, como se pode concluir observando as ruínas dos templos construídos sobre pirâmides monumentais, que serviam de palco para rituais religiosos. A escultura e a pintura também revelavam a importância dos deuses, os “senhores do destino”.
A partir do ano 900, verificou-se uma dispersão paulatina da população maia, que, na época, era formada por 15 milhões de pessoas, aproximadamente. Aos poucos os maias abandonaram os grandes centros em que viviam e mesclaram-se com outros grupos. Conforme estudos recentes, esse processo deveu-se principalmente ao esgotamento dos solos férteis.
Belos palácios e templos em forma de pirâmide foram erguidos em várias cidades maias. Em Tikal, por exemplo, arqueólogos encontraram mais de 3 mil construções, entre elas o Templo do Grande Jaguar. Esse templo tinha aproximadamente a altura de um prédio de 20 andares. Hoje, a área da antiga cidade de Tikal foi transformada em um parque nacional e declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

Escrita e calendário

Os maias criaram um sistema de escrita e produziram livros chamados códices. Embora a maioria dos códices tenha sido destruída pelos conquistadores europeus, alguns deles foram preservados e decifrados na segunda metade do século XX. Os códices são fontes históricas importantes, pois apresentam
aspectos da cultura maia. Nesses livros, os maias registraram, por exemplo, o cotidiano, as crenças religiosas e os conhecimentos científicos. A escrita maia foi grafada também em monumentos de pedra e artigos de cerâmica.
Além da escrita, os maias desenvolveram conhecimentos astronômicos e matemáticos (sistema numérico e o conceito do número zero). Observando o movimento da Lua, do Sol e de outras estrelas, eles elaboraram calendários de muita precisão, que os ajudavam a organizar as atividades agrícolas e as festividades religiosas.
A partir do século IX, a civilização maia entrou em declínio por razões que ainda são estudadas pelos historiadores. Várias possíveis causas foram apontadas para explicar o abandono das cidades maias: secas prolongadas, insuficiência da produção de alimentos para abastecer as populações, epidemias, invasões de povos vizinhos e rebeliões internas, entre outras.
A brilhante civilização maia sobreviveu até o início do século XVI, quando foi quase totalmente destruída pelos espanhóis.

O Império Inca

Os incas, um grupo da nação quíchua, eram originários da alta floresta Amazônica. Por volta de 1200, chegaram ao altiplano peruano, instalando-se nas imediações da cidade de Cuzco.
Atualmente, milhares de turistas visitam todos os anos a cidade de Cuzco, no Peru. Essa cidade foi a capital do Império Inca, civilização que habitava essa região desde antes do século XII.
Além de Cuzco, os incas construíram diversas cidades. Uma delas é Machu Picchu, que fica no topo de uma montanha, a 2400 metros de altitude. Provavelmente, essa cidade era visitada pelo imperador para descansar, caçar e receber autoridades estrangeiras. Machu Picchu foi abandonada pouco depois da conquista espanhola, no século XVI. Séculos depois, em 1911, uma equipe de arqueólogos liderada pelo estadunidense Hiram Bingham chegou à cidade, que estava coberta pela vegetação, mas era conhecida pelos moradores do entorno. Em 1983, Cuzco e Machu Picchu foram declaradas Patrimônios da Humanidade pela Unesco.
Ao longo de sua história, os incas foram se tornando mais poderosos que as sociedades andinas anteriores, como os reinos de Huari ou Chimu. Ao expandir seu território, os incas dominaram vários povos, alcançando uma população de cerca de 12 milhões de pessoas. No seu apogeu, o território inca abrangia uma área que hoje se estenderia do Equador ao Chile. Essa área era atravessada por uma rede de caminhos de cerca de 40 mil quilômetros. Por esses caminhos, os incas levavam suas leis, língua e crenças a centenas de povos submetidos. 
A partir de então, apoiados numa sólida formação guerreira, os incas tomaram Cuzco e, aos poucos, impuseram o seu domínio aos vários povos andinos. Com isso, constituíram um império imenso, que abrangia parte do território onde é hoje o Peru, o Equador, a Bolívia e uma parte do Chile.

Imperadores incas

O imperador inca era considerado uma divindade que recebia o nome de Sapa Inca e de “Filho do Sol”. Quando morria, o Sapa Inca era mumificado e cultuado. Entre os imperadores incas, podemos destacar Pachacuti, que governou de 1438 a 1471.

Sociedade, economia e saberes

Além do imperador, a elite inca era composta de sacerdotes, chefes militares, governadores locais e funcionários do Estado. Também havia grupos privilegiados de artesãos, guerreiros, projetistas e contabilistas.
A maioria da população era formada por camponeses, que se dedicavam, sobretudo, ao cultivo de milho, batata, feijão, quinoa, tomate e tabaco e à criação de animais como lhamas e alpacas. Esses animais eram utilizados para o transporte de cargas e para a obtenção de lã, leite e carne. Durante um período do ano, os camponeses eram obrigados a realizar serviços para o Estado, trabalhando como agricultores, pastores e construtores.
Os incas desenvolveram a tecelagem, a cerâmica, a metalurgia do bronze e do cobre e a ourivesaria de ouro e prata. Construíram palácios, templos, estradas pavimentadas, aquedutos, canais de irrigação e terraços de cultivo na encosta de montanhas.
O Império Inca, cuja capital era Cuzco, possuía cerca de 16 mil quilômetros de estradas bem construídas, que possibilitavam rápido trânsito das informações utilizadas pelo governo para manter um minucioso e rígido controle sobre a população. A economia inca era essencialmente agrícola. Plantavam dezenas de variedades, especialmente o milho, o feijão e a batata, valendo-se de um complexo sistema de irrigação composto por canais e grandes represas.
No Império Inca não havia propriedade privada da terra. Esta pertencia ao Estado, que concedia às comunidades aldeãs (ayllus) o direito de ocupar parte delas e de usufruir de sua produção.
Além das terras concedidas aos ayllus havia ainda as terras do Inca (Imperador) cuja função era sustentar as famílias de linhagem real; as terras do Sol, que serviam para alimentar os sacerdotes; e as dos curacas (administradores dos ayllus nomeados pelo governo). Todas essas terras eram trabalhadas coletivamente pelos membros dos ayllus, que nada recebiam em troca. Eles eram obrigados, ainda, a realizar serviços gratuitos para o Estado, tais como construir e reparar estradas, templos, canais de irrigação e represas. Essa obrigação chamava-se mita.
A sociedade inca obedecia a uma divisão rígida. A nobreza era formada pelo Inca e seus números parentes. Dessa elite saíam os comandantes do exército, os sacerdotes e os altos funcionários públicos.
A camada média era formada por artesãos profissionais (tapeceiros, ceramistas, ourives), soldados, contabilistas, projetistas e médicos. Eles habitavam as cidades e recebiam do Estado aquilo de que necessitavam para viver.
A grande maioria da população era composta por milhares de camponeses pertencentes às comunidades aldeãs. Com seu trabalho os camponeses sustentavam a nobreza guerreira, sacerdotal e administrativa do império.
Politicamente, o império era teocrático e autoritário. O imperador, conhecido como Inca ou filho do sol, era considerado como um ser semidivino e, como tal, era adorado, reverenciado e obedecido por todos. Possuía enormes poderes e privilégios, e o seu cargo era hereditário.
Abaixo do Inca havia um numeroso corpo de funcionários, militares, religiosos e civis, que zelava pela segurança e rigorosa administração do império. Cada ayllu era governado por um curaca, representante do imperador, cuja própria função era exigir as famílias camponesas a realizações de serviços obrigatórios para o Estado.
A religião dos incas era politeísta, e a divindade mais cultuada por eles era o Sol, de quem julgavam ser descendentes. Por acreditar na vida além da morte, os incas, assim como os antigos egípcios, preocuparam-se em mumificar seus soberanos.
A arquitetura dos incas era notável, como se pode notar ainda hoje pelas ruínas de Machu Picchu, cidade construída numa região quase inacessível, a 2500m de altitude.

Um império interligado

As cidades incas eram interligadas por uma vasta rede de estradas. Eram caminhos que atravessavam vales, desfiladeiros e montanhas. Ao longo das principais estradas, havia abrigos, armazéns e postos com jovens corredores. Esses jovens deveriam memorizar mensagens e transmiti-las oralmente até o próximo posto. Isso permitiu a rápida comunicação entre diversas regiões do império.
Os incas não conheciam a escrita, mas possíam um sistema de registro de informações em quipos (nós feitos num cordão). Os quipos eram feitos em uma série de cordões coloridos nos quais a posição e a quantidade de nós representam números. Serviam para registrar, por exemplo, impostos e divisões do tempo.
As cores e os agrupamentos de cordõezinhos permitiam identificar as categorias dos objetos. Os nós identificam as categorias dos objetos. Os nós indicavam números e datas. Por exemplo, o nó mais próximo da ponta do cordãozinho correspondia à unidade, o que se seguia Referia-se às dezenas, e assim sucessivamente. Por meio dos quipos, os funcionários imperiais conseguiam informações sobre a economia, administração e a população do vasto império.
Muitos quipos foram destruídos pelos conquistadores espanhóis, mas aqueles que resistiram se tornaram importantes fontes para o estudo da história dos incas.
Uma das línguas adotadas pelos incas foi o quíchua (ou quéchua). Hoje, essa língua é falada por cerca de 10 milhões de pessoas na América do Sul. O quíchua influenciou também
o português brasileiro, dando origem a palavras como condor, chácara, mate e pampa.
As civilizações inca, asteca e maia, bem como muitas outras culturas pré-colombianas, com seus modos de existência e conhecimentos variados, foram praticamente destruídas pelos europeus durante o processo de conquista da América. Além disso nesse processo, foram mortos milhões de ameríndios.

Os Tupi-guarani

Até o começo do século XVI, ninguém chamava de Brasil as terras que hoje formam nosso país. Essas terras eram habitadas há milhares de anos por povos indígenas que tinham uma rica cultura e desenvolviam atividades como a caça, a pesca, a coleta de alimentos, a agricultura e o artesanato.
Entre os povos que viviam no território do atual Brasil, estão os Tupi-guarani. Há indícios de que esses povos iniciaram um movimento de migração do sul da Floresta Amazônica em direção ao litoral por volta de 500 d.C. Eles buscavam a mitológica “Terra sem Mal”, um lugar onde havia fartura e não se morria.
Como vários povos em diferentes espaços e tempos históricos, os Tupi-guarani buscavam um mundo imaginário onde a existência seria mais feliz e plena para todos.

Localização dos povos indígenas

Apesar de terem certa unidade linguística e cultural, os Tupi-guarani não formavam um único povo. Eles se subdividiam em grupos que falavam línguas diferentes, mas parecidas entre si, como Carijó, Tupiniquim, Tupinambá, Potiguar, Guarani etc.
Segundo alguns pesquisadores, havia uma população de aproximadamente 1 milhão de Tupi-guarani antes do contato com os europeus. Essa população ocupava longos trechos do litoral e do interior, acompanhando o vale dos rios.
Havia também outros povos no território brasileiro. Os Tupi-guarani chamavam esses povos de tapuias, os “inimigos” que falavam outras línguas. Eram Cariri, Aimoré, Tremembé etc.
O mapa a seguir mostra as áreas ocupadas, no século XVI, por alguns povos indígenas no território que hoje abrange o Brasil.

Mortes, saques, doenças

As consequências da presença europeia na América foram desastrosas. Entre 1500 e 1600, o número de nativos na América passou de cerca de 40 milhões para pouco mais de 10 milhões. Muitas das sociedades americanas foram destruídas e milhões de índios, mortos. Com isso, os europeus puderam promover uma verdadeira pilhagem nas novas terras.
Na região da América dominada pelos espanhóis, os conquistadores construíram um império à custa da submissão dos povos nativos, apoiados pela Igreja e estimulados pelos reis e pela burguesia. As riquezas saqueadas no Novo Mundo transformaram a Espanha na maior potência da Europa naquele período. Entre 1503 e 1660, chegaram à Espanha 185 toneladas de ouro e 25 mil toneladas de prata, entre muitas outras riquezas.


Produção de energia no Brasil

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