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Povos nativos da América espanhola

Os povos nativos da América

Eles são chamados por alguns estudiosos de pré-colombianos. Muito diferentes entre si, esses povos estavam espalhados por todo o continente. Em algumas regiões, a organização da sociedade era mais complexa, com a presença de cidades, comércio, construções religiosas, etc. Em outras, habitavam povos nativos nômades, que viviam da coleta e da caça.

Aos olhos dos europeus, os nativos americanos precisavam ser conduzidos ao mesmo padrão de cultura deles, ou seja, ser convertidos ao catolicismo, responder a um rei e ter os mesmos costumes. Assim, os habitantes da América passaram a ser vistos de forma preconceituosa, o que colaborou para a dominação europeia no continente.
É importante, ainda, voltar a destacar que esse movimento de expansão dos europeus era motivado, em grande parte, pela busca de riquezas: mercadorias que pudessem ser comercializadas na Europa, sobretudo metais preciosos.
Quando Cristóvão Colombo chegou à América, em 1492, ele acreditava ter desembarcado em terras das Índias. Por isso, chamou de índios àquelas pessoas de línguas e costumes tão diferentes dos europeus.
Por causa das diferenças, muito europeus não acreditavam que os índios fossem seres humanos como eles. Muitos nativos tiveram a mesma reação: não podiam crer que aqueles homens de barbas e armaduras fossem semelhantes a eles.

As Principais civilizações Pré-Colombianas

Conhecidos como povos pré-colombianos, os milhões de índios que viviam na América quando Colombo aqui aportou estavam divididos em mais de 3 mil nações com diferentes culturas.
Até a chegada dos conquistadores europeus a partir do século XV, muitos dos agrupamentos humanos que habitavam a América do Norte, o Caribe, o Brasil e a parte sul do continente mantiveram um tipo de vida bastante simples, fundado na caça, pesca e agricultura rudimentar.
Entretanto, algumas sociedades chegaram a apresentar um elevado grau de sofisticação, produzindo brilhantes civilizações como as dos astecas no México, dos maias na América Central e dos incas no Peru. Estas sociedades realizaram significativos avanços na agricultura, na metalurgia, na escrita, na matemática, na organização política e nas construções urbanas, entre outros, que muito as assemelhavam às primeiras grandes civilizações do Egito e da Mesopotâmia.

Os incas

O território inca estendia-se ao longo da cordilheira dos Andes e incluía terras hoje pertencentes a Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Argentina e Chile.
No Império Inca, constituído por algumas cidades e muitas aldeias, concentravam-se cerca de 15 milhões de pessoas que falavam a mesma língua, seguiam a mesma religião e viviam sob um governo centralizado.
A terra e a água pertenciam ao governo. Ele concedia a cada comunidade o direito de permanecer em determinada área, plantando e criando animais. Qualquer revolta significava a perda desse direito. E sem terra e água ninguém podia sobreviver.
Apesar de as terras serem trabalhadas pelas comunidades, elas serviam para atender as prioridades do governo, cujo líder absoluto era uma espécie de imperador, chamado Sapa Inca. Periodicamente, esse imperador contava com a força de trabalho de todas as pessoas e, de forma permanente, com a mão-de-obra de uma parte da população.
Os principais produtos cultivados pelas comunidades eram o milho, o feijão, a batata, o tomate, a goiaba, o abacate e o amendoim.
Além de cultivar a terra, os incas dedicavam-se à criação de Ihamas, guanacos, vicunhas e alpacas. Os Ihamas eram usados como animais de carga, embora ocasionalmente os incas se alimentassem de sua carne. As alpacas forneciam lã, utilizada para confeccionar roupas para a maioria da população. Da vicunha retiravam uma lã mais sedosa e de excelente qualidade, reservada para o vestuário dos chefes incas.
As cidades eram pequenas, pois a maioria da população vivia nas aldeias. Em cada cidade, em geral, havia:
- um templo dedicado ao deus sol, a principal divindade;
- armazéns onde eram guardados a comida e o vestuário, provenientes do pagamento de tributos;
- alojamentos para os soldados e para os artesãos;
- edifícios administrativos.
Nas aldeias, as casas eram construídas com blocos de pedra bruta e as fendas eram tapadas com barro. No lugar da porta, havia apenas um pedaço de couro cru, para proteger contra o vento. Os incas dormiam em esteiras e sentavam-se no chão.
Os principais alimentos eram batata, milho, feijão e diversos vegetais, tudo temperado com fortes condimentos.
Quanto ao vestuário, os homens trajavam uma túnica simples, que mal tocava os joelhos, e uma capa; as mulheres usavam vestidos compridos, adornados com um cinto largo, e uma capa. Nas terras altas, por causa do frio, as roupas eram de lã, e nas regiões costeiras, de algodão.

Os astecas e os maias

Os astecas e os desenvolveram-se na região conhecida como Mesoamérica. Os astecas habitavam as terras do atual México; os maias ocupavam a região onde hoje estão a Guatemala, parte de Honduras, El Salvador, Belize e a península de Iucatã, no México.
Na época em que os espanhóis desembarcaram na América, a sociedade maia encontrava-se em crise; a asteca ao contrário, era a principal sociedade da Mesoamérica, dominando diversos povos da região.
Apesar das inúmeras diferenças, é possível estabelecer algumas semelhanças entre astecas e maias. Os dois povos tinham uma economia agrícola, com aperfeiçoadas técnicas de produção, incluindo o uso de adubos e a construção de barragens e canais de irrigação. Entre eles havia também desigualdades sociais.
No planalto mexicano, a ausência de chuvas combinada com clima quente e seco provocava o ressecamento do solo. Por isso, eram utilizados diversos processos de irrigação, feitos a partir do trabalho coletivo, em regime de servidão.
As autoridades militares e religiosas dominavam os trabalhadores com o uso da força. O poder militar era utilizado ainda para conseguir o pagamento de tributos, conquistar novos territórios e submeter as comunidades conquistadas.
Esses povos acreditavam que os governantes eram representantes dos deuses, que não recompensaria as comunidades com boas colheitas se elas não pagassem tributos ao Estado.
Os tributos eram pagos, principalmente, com parte daquilo que era produzido ou com serviços prestados na construção de obras públicas (canais, represas e estradas).
O principal produto agrícola era o milho. Cultivavam também o feijão, a mandioca, a abóbora, a batata-doce, o tomate, o cacau, a batata, além de frutas como o abacaxi, o maracujá e o caju.
Apesar de a economia ser inteiramente voltada para a agricultura, esses povos construíram cidades com extensas e largas passagens, palácios e templos de pedra, terraços e jardins com fontes.
A principal diferença entre os astecas e os maias diz respeito à organização política. Enquanto os astecas viviam submetidos a chefes guerreiros, os maias não tinham uma forma de governo unificada.
Os maias eram povos que falavam línguas aparentadas e viviam em cidades independentes umas das outras que frequentemente lutavam entre si.

Conquista da América
Os espanhóis começaram a conquista da América pelas ilhas do Caribe, que incluem os atuais Haiti, República Dominicana, Cuba, Porto Rico e Jamaica. Nessas ilhas, viviam povos indígenas como os aruaques (entre eles, os tainos) e os caraíbas.
Os primeiros conquistadores que exploraram as ilhas da América Central em nome da Coroa espanhola foram Cristóvão Colombo (a partir de 1492), Rodrigo de Bastidas
(a partir de 1493) e Vasco Núñez de Balboa (a partir de 1501). Eles, assim como outros conquistadores, entraram em guerra com os povos locais para garantir o poder dos espanhóis nas terras americanas.
Durante a colonização, os europeus forçaram os indígenas a trabalhar na extração de metais preciosos, na criação de animais, na agricultura e na construção de cidades, como Santo Domingo (atual capital da República Dominicana), San Juan (atual capital de Porto Rico) e Havana (atual capital de Cuba). Santo Domingo, fundada em 1496, foi a capital da primeira colônia espanhola no Novo Mundo.
Na América Central, os colonizadores rapidamente encontraram pepitas de ouro nas margens e nos leitos dos rios (ouro de aluvião). Mas a quantidade era pequena diante da ambição dos conquistadores. Não demorou para que as reservas se esgotassem e a população indígena fosse dizimada, principalmente devido a doenças e à intensa exploração de seu trabalho.

Conquista dos astecas

Os astecas foram conquistados por tropas espanholas comandadas por Fernão Cortez. Ele desembarcou na região do atual México em 1519, com quinhentos homens, e foram pacificamente recebidos pelos povos nativos. Em breve, porém, surgiu a discórdia entre eles. Cortez fora informado sobre a riqueza do Império Asteca, que possuía quantidades enormes de ouro. Entusiasmado com a notícia, ele decidiu atacar os astecas. Cortez dispunha de aproximadamente seiscentos soldados, dez canhões de bronze, quatro canhões leves, treze mosquetes, dezesseis cavalos e onze embarcações. Era uma força relativamente pequena diante da superioridade numérica dos soldados astecas.
Por isso, os espanhóis estabeleceram alianças com indígenas tlaxcaltecas, que se opunham ao poder asteca. Assim, Cortez e seus homens, acompanhados de um exército tlaxcalteca, marcharam para Tenochtitlán, a capital do império.
Em Tenochtitlán, o imperador Montezuma (1466-1520) ficou surpreso com as notícias que lhe deram sobre as forças dos adversários (armas de fogo, espadas de aço, cavalos). Talvez por isso decidiu receber os espanhóis com presentes e chegou a hospedá-los em seu palácio. Provavelmente, procurou ser diplomático para evitar uma guerra. Quem seriam aqueles estrangeiros inesperados? O fato é que nunca saberemos ao certo as razões que levaram o imperador asteca a tomar essa decisão.
O contato amistoso durou pouco. Combinando habilidade e violência, Cortez aprisionou Montezuma em seu próprio palácio e procurou tomar Tenochtitlán.  Revoltados com as crueldades, os astecas atacaram os espanhóis. Nesse ataque, mataram Montezuma, que tentava acalmá-los. Cortez e seus homens conseguiram fugir. Em maio de 1521, regressaram com reforços e cercaram a capital asteca, Tenochtitlán. 
Os habitantes da cidade resistiram por meses, mas foram atingidos por uma epidemia de varíola. As doenças, a superioridade das armas e as alianças com povos inimigos dos astecas contribuíram para a vitória dos espanhóis em 1521.
O rei espanhol recompensou Hernán Cortez por comandar essa vitória, nomeando-o governador e capitão-geral da Nova Espanha, novo nome atribuído ao antigo território dos astecas.

Conquista dos incas

Os espanhóis também receberam notícias de que havia muito ouro na região da Cordilheira dos Andes, em um território dominado pelo Império Inca. Sabendo disso, o espanhol Francisco Pizarro, organizou uma expedição para conquistar o centro político desse império.
Os incas foram conquistados por tropas espanholas comandadas por Francisco Pizarro, que chegaram à região do atual Peru em 1532. Seus métodos de conquista foram tão brutais quanto os de Cortez. Com uma manobra traiçoeira, as tropas de Pizarro mataram 2 mil incas e prenderam seu chefe, Ataualpa. Para libertá-lo exigiram enorme resgate.
Pizarro contava com aproximadamente duzentos soldados, munições e cerca de trinta cavalos. Porém, essa expedição enfrentou vários problemas como a resistência dos indígenas e a dificuldade de acesso a povoados que estavam localizados a mais de 3 mil metros de altitude.
Na época da conquista, o Império Inca atravessava uma grave crise política. Essa crise começou em 1527, quando o imperador Huayna Cápac (c. 1464-1527) morreu. Seus filhos Atahualpa (c. 1500-1533) e Huáscar (c. 1491-1532) passaram a disputar o trono, dividindo o império em duas partes, uma com sede em Quito e outra em Cuzco. Nessa luta, Atahualpa
derrotou Huáscar, mas se tornou líder de um império enfraquecido.
Em 1532, Pizarro solicitou um encontro pessoal com o imperador Atahualpa, que estava na cidade de Cajamarca (norte do atual Peru) com um exército de cerca de 30 mil homens. Confiante em seu exército, Atahualpa não se sentiu ameaçado pelas tropas espanholas e, por isso, aceitou encontrar-se com Pizarro.
O primeiro encontro entre eles foi amistoso. Porém, logo depois, Pizarro e seus homens armaram uma emboscada e capturaram o imperador. Para libertar Atahualpa, os incas deram um enorme tesouro em ouro e prata para os espanhóis. Contudo, mesmo recebendo o tesouro, Pizarro decidiu matar o imperador.
A morte de Atahualpa provocou forte abatimento moral em suas tropas. Para alguns historiadores, a finalidade da execução de Atahualpa, como também a do imperador asteca Montezuma, era derrubar com um único golpe a figura suprema do império e a autoconfiança dos indígenas que tentavam resistir.
Em 1533, Pizarro comandou o ataque vitorioso à cidade de Cuzco. Posteriormente, em 1535, fundou Lima, capital colonial espanhola e atual capital do Peru.
Durante as guerras de conquista, houve povos que se aliaram aos conquistadores para destruir o Império Inca e povos que resistiram intensamente à dominação espanhola. As batalhas entre o líder inca Túpac Amaru (1545-1572) e os espanhóis, por exemplo, foram os últimos focos de resistência à colonização. Túpac Amaru foi preso e decapitado pelos espanhóis em 1572.

Administração colonial

Inicialmente, a Coroa espanhola tinha o objetivo de tomar posse das terras americanas com rapidez, sem gastar muito. Para isso, concedeu o direito de ocupar e explorar essas terras a particulares, chamados adelantados. Homens como Hernán Cortez e Francisco Pizarro foram adelantados. Eles recebiam o direito de controlar a administração, a justiça e a economia. Em troca, eram obrigados a enviar para a Coroa espanhola um quinto de toda a riqueza que extraíam ou produziam.
A fiscalização dos ganhos obtidos pelos adelantados era feita pela Casa de Contratação, instituição da Coroa espanhola criada em 1503, com sede em Sevilha. A Casa estabeleceu que, na Espanha, somente os portos de Sevilha e, depois, de
Cádiz seriam utilizados para controlar a chegada e a saída de navios em viagem para a América. Por sua vez, na América, tanto para sair quanto para entrar, as embarcações deveriam utilizar somente os portos de Havana (Cuba), Vera Cruz (México), Portobelo (Panamá) e Cartagena (Colômbia).

Presença da Coroa

Aos poucos, a Coroa espanhola ampliou o controle sobre as colônias e diminuiu o poder dos adelantados. Para isso, em 1524, criou o Conselho das Índias, que assessorava o rei nas questões da administração colonial. O Conselho tinha a função de nomear funcionários, criar normas e aplicar leis nas colônias espanholas.
A monarquia espanhola passou a administrar diretamente suas colônias. Com esse objetivo, foram criados os vice-reinos da Nova Espanha (1535), do Peru (1543), de Nova Granada (1717) e do Rio da Prata (1776). Os vice-reis atuavam como representantes do rei da Espanha na América. A atuação dos vice-reis era fiscalizada por outros altos funcionários enviados pelo rei.
Para combater invasões de estrangeiros e ataques de povos indígenas resistentes à conquista, foram criadas as capitanias-gerais. Entre elas, destacam-se as capitanias-gerais do Chile, da Guatemala, de Cuba e da Venezuela. Os capitães-gerais eram comandantes militares subordinados aos vice-reis, mas, em muitos casos, mantinham uma relação direta com a Coroa espanhola.
Também foram criados tribunais judiciários chamados audiências, formados por magistrados nomeados pelo rei. Aos poucos, as audiências passaram a ter também funções administrativas.
Nas cidades mais importantes foram criadas as câmaras municipais, chamadas de cabildos ou ayuntamientos. Esses órgãos dedicavam-se, principalmente, à administração e segurança locais, sendo controlados por espanhóis e criollos (descendentes de espanhóis nascidos na América).

Sociedade

Na América espanhola, havia uma divisão social em função da origem de cada indivíduo. Conheça alguns grupos que se formaram:
• chapetones – colonizadores nascidos na Espanha que ocupavam os principais cargos na administração pública, na Igreja e no exército. Além disso, possuíam estabelecimentos comerciais e grandes propriedades de terra;
• criollos – colonos descendentes de espanhóis nascidos na América. Alguns tornaram-se importantes proprietários de terras e comerciantes bem-sucedidos. Mesmo conquistando poder econômico, não tinham os mesmos direitos políticos que os chapetones;
• mestiços – filhos de espanhóis ou de criollos com mulheres indígenas. Formavam um conjunto de pessoas livres que podiam trabalhar como comerciantes, artesãos e capatazes nas fazendas;
• indígenas – povos originários da América que constituíam a maior parte da população. Embora as relações entre indígenas e colonizadores variassem muito, o que predominava era a exploração de seu trabalho nas fazendas, nas minas e nas obras públicas;
• negros – africanos e seus descendentes. Formavam uma população pouco numerosa no início da colonização da América espanhola. Foram escravizados principalmente nas ilhas do Caribe e no vice-reino de Nova Granada.
Economia e trabalho
A busca por ouro e prata foi um dos principais motivos que impulsionaram a colonização espanhola na América. Nas ilhas do Caribe, os conquistadores acabaram rapidamente com o ouro que haviam encontrado. Mas, em 1545, os espanhóis descobriram grandes quantidades de prata em Potosí (atual Bolívia) e, no ano seguinte, em Zacatecas (atual México).
No século XVII, a maior parte da prata extraída no mundo vinha das minas de Potosí. Calcula-se que, em 1573, cerca de 120 mil pessoas habitavam Potosí. Para se ter uma comparação, a importante cidade de Sevilha, na Espanha, tinha 90 mil habitantes na mesma época.
Ao explorar essas minas, os espanhóis usaram técnicas de metalurgia, fizeram obras hidráulicas e outras construções. As minas eram administradas por nobres espanhóis, que pagavam os custos com mão de obra e equipamentos utilizados na extração, bem como os impostos cobrados pela Coroa espanhola.
Além da exploração de metais, os espanhóis implantaram outras atividades econômicas, como agricultura, criação de animais e oficinas de tecelagem. As principais plantas cultivadas foram o milho, o cacau, a batata, o tabaco e a cana-de-açúcar. Criavam animais como mulas, cavalos e bois. Com os bois, produziam couro e charque, que é uma carne salgada e seca ao sol. As mulas e os cavalos foram utilizados como animais de transporte.
As atividades econômicas coloniais visavam produzir artigos tanto para o mercado externo como para o mercado interno. Assim, grandes quantidades de ouro, prata, açúcar e cacau foram exportadas para a Europa. E, ao mesmo tempo, eram produzidos e utilizados nas colônias variados gêneros alimentícios, tecidos, animais para o transporte de carga, metais para cunhar moedas etc.

Formas de trabalho

Durante o processo de colonização, os espanhóis utilizaram diferentes formas de exploração do trabalho. A seguir, vamos estudar quatro delas: a escravidão, a encomienda, o repartimiento e a peonaje.

Escravidão

A escravidão transformava indígenas e negros em mercadorias, que tinham um dono e podiam ser comprados e vendidos. Os escravizados perdiam contato com seu povo e eram obrigados a trabalhar para seu dono pelo resto de suas vidas ou até serem libertados.
A escravização de indígenas ocorreu sobretudo no início da colonização, nas ilhas do Caribe. Em 1542, a Coroa espanhola proibiu a escravização de nativos devido, em parte, a pressões da Igreja Católica. A Igreja denunciou os maus-tratos sofridos pelos indígenas e pretendia convertê-los ao cristianismo.
Apesar da proibição, a escravidão era admitida se os indígenas resistissem ao domínio espanhol e à conversão religiosa. A escravização de africanos, por sua vez, continuou a existir na América espanhola, principalmente nas fazendas de Santo Domingo, Cuba e Nova Granada (correspondente aos atuais Equador, Panamá, Colômbia e Venezuela). Foi chamada de plantation a grande fazenda que tinha as seguintes características: a) utilizava mão de obra escrava; b) produzia um gênero agrícola tropical (cana-de-açúcar, tabaco etc.); c) destinava sua produção à exportação.

Encomienda: tributos em produtos e trabalho

A encomienda era um sistema pelo qual o colono fazia um acordo com a Coroa espanhola para explorar o trabalho dos indígenas. Nesse acordo, o colono (chamado “encomendero”) recebia o direito de cobrar tributos de uma comunidade indígena na forma de produtos e de trabalhos na agricultura, na pecuária ou nas minas. Em contrapartida, o encomendero tinha o dever de alimentar os indígenas e promover o ensino da religião católica.
A encomienda era diferente da escravidão, pois preservava um pouco da liberdade dos indígenas. Nesse sistema, os nativos poderiam manter relação com sua aldeia de origem, deviam trabalhar por tempo determinado e não seriam comprados e vendidos como mercadorias.
Porém, muitos encomenderos usufruíram de seus direitos sem cumprir seus deveres. Na prática, milhares de indígenas foram forçados a trabalhar por tempo indeterminado e morreram por maus-tratos. Além disso, com o tempo, os encomenderos se tornaram tão poderosos que representavam uma ameaça ao poder da Coroa espanhola nas colônias americanas. Tudo isso contribuiu para que ocorressem mudanças nas formas de exploração do trabalho indígena.
Na luta pela defesa dos povos indígenas, destacou-se o frei dominicano espanhol Bartolomeu de Las Casas (c. 1474-1566). Ele argumentava que a evangelização dos indígenas deveria seguir os princípios fundamentais do cristianismo. Isso significa levar a mensagem cristã de forma pacífica, dialogando com as culturas indígenas para transformá-las pelo convencimento, e não pela violência física.

Repartimiento: pagamento pelo trabalho forçado

O repartimiento era uma forma de trabalho forçado na qual cada comunidade indígena tinha que ceder aos espanhóis, por certo período, uma parcela de sua população masculina. Esses homens eram pagos por seu trabalho, mas recebiam salários menores do que os trabalhadores livres.
O repartimiento era administrado por um funcionário real. Com esse sistema, a Coroa tinha maior controle sobre o trabalho indígena. O repartimiento foi chamado mita no Peru e cuatequil no México, pois era uma adaptação de formas de trabalho já utilizadas pelos incas e astecas para dominar outros povos vizinhos.
De acordo com o pesquisador Charles Gibson, a principal forma de trabalho utilizada pelos espanhóis nas minas de Potosí era a mita. Para a região de Potosí, foram recrutados milhares de trabalhadores que, juntamente com suas famílias, atingiram imensas proporções na história da colonização espanhola.

Peonaje: trabalho livre assalariado

Importantes proprietários de terra adotaram formas de trabalho livre, como a peonaje, palavra que deriva de “peón” (peão, trabalhador não qualificado). Nesse sistema, o trabalhador tinha acesso à terra e se comprometia a fazer as tarefas combinadas em troca de empréstimos financeiros, pois o salário era baixíssimo.
Com o tempo, os indígenas que trabalhavam nas haciendas (grandes propriedades ou fazendas) tornavam-se praticamente servos, pois só podiam deixar a terra quando pagassem as dívidas que tinham contraído com seus patrões.
Os patrões cobravam dos indígenas uma parte do que produziam e lhes emprestavam dinheiro a juros altos. Famílias inteiras de nativos ficavam, assim, presas às fazendas.

Mortes, saques, doenças

As consequências da presença europeia na América foram desastrosas. Entre 1500 e 1600, o número de nativos na América passou de cerca de 40 milhões para pouco mais de 10 milhões. Muitas das sociedades americanas foram destruídas e milhões de índios, mortos. Com isso, os europeus puderam promover uma verdadeira pilhagem nas novas terras.
Na região da América dominada pelos espanhóis, os conquistadores construíram um império à custa da submissão dos povos nativos, apoiados pela Igreja e estimulados pelos reis e pela burguesia. As riquezas saqueadas no Novo Mundo transformaram a Espanha na maior potência da Europa naquele período. Entre 1503 e 1660, chegaram à Espanha 185 toneladas de ouro e 25 mil toneladas de prata, entre muitas outras riquezas.

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