domingo, 24 de setembro de 2023

Período entre guerras: crise e totalitarismo

 A crise de 1929

Com o fim da Primeira Guerra, os Estados Unidos da América se colocam na condição de primeira potência do globo, como o "celeiro mundial", abastecendo os mercados europeus, afetados pela guerra, além dos seus, internos.
Assiste-se na lavoura e na indústrias americanas uma notável expansão, os bancos tornaram-se credores da reconstrução europeia; a sociedade americana torna-se mundialmente respeitada e admirada. Vise-se aos anos 20 o período da "Grande Euforia".
Poucos se apercebem que a expansão, entretanto, tem como destino um abismo profundo e abrupto; a euforia desenfreada é o caminho para uma crise sem precedentes na história de todo o mundo capitalista e que desemboca em 1929.

As origens da crise:

À medida em que a Europa se recupera dos efeitos da grande guerra, reconstruindo fábricas, recuperando campos, gerando empregos, etc, fica menos dependente do dinheiro e dos produtos norte americanos. O ritmo acelerado da produção dos Estados Unidos, com a crescente redução do mercado europeu (e gradativa concorrência com o mesmo), gera um descompasso entre produção e consumo, fazendo-se notar uma superprodução no país, sem consumidores.
A solução é, no correr dos anos 20, recorrer à necessária redução da produção, o que leva ao desemprego. A escala crescente de desemprego desestimula ainda mais a produção pois diminui o poder aquisitivo médio da população.

A crise:

Em 1929, fazendas e fábricas, sem condições de sobreviver face ao restrito mercado consumidor, vão à falência, ampliando para milhões o número de desempregados. Bancos credores perdem seus capitais investidos no processo produtivo e também falem (o número de falências no sistema bancário norte americano chaga à impressionante cifra de 5 mil bancos).
A situação da ruína conduz à quebra da Bolsa de valores de Nova York, em outubro de 1929. A crise se torna mundial porque as filiais de bancos e indústrias americanas quebram em diversos pontos do globo e a instabilidade levam os governos a se precaverem, adotando uma postura protecionista nos anos 30, através da elevação das taxas alfandegárias e contenção dos gastos com importações.
Assim, a redução do comércio internacional é uma das características do período da Grande Depressão, que o mundo capitalista assiste na década de 30. Essa situação aflige também as nações periféricas, dependentes das compras das grandes potências, sobretudo de produtos primários, agora sem condições de efetuá-las.
No Brasil, a cafeicultura é drasticamente afetada, pois o café, único grande produto nacional não é mais comprado pelos Estados Unidos. Os cafeicultores, detentores inclusive do poder político, perdem muito de sua força econômica, o que abala substancialmente também seu prestígio político, possibilitando a Revolução de 20 que faz emergir novas forças no cenários político nacional.
Apenas a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas não é afetada pela crise por não possuir vínculo com o mundo capitalista.

O New Deal: Uma proposta para amenizar a crise

New Deal, termo aplicado ao programa do presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt, entre 1933 e 1938, pelo qual ele procura recuperar a economia dos Estados Unidos (EUA) e acabar com a Grande Depressão. O termo, que significa "novo acordo", é cunhado pelo juiz Samuel Rosenman e utilizado por Roosevelt em seu discurso de 1932, quando aceita a indicação como candidato a presidente da República. A incapacidade de resolver os problemas surgidos após a Depressão leva à derrota do presidente republicano Hoover para Roosevelt, democrata, em 1933.
A legislação do New Deal é proposta por políticos progressistas, administradores e especialistas a serviço do presidente. A inspiração vem de economistas da escola de Keynes, que prega a intervenção do Estado na economia para diminuir os focos de tensão social, por meio de grandes investimentos públicos: construção de estradas, usinas, escolas etc. O objetivo é melhorar a distribuição de renda, a fim de aumentar a capacidade de absorção do mercado interno.
O plano é aprovado por maioria esmagadora no Congresso. Suas principais medidas são: fechamento temporário dos bancos e a requisição dos estoques de ouro para sanear as finanças; a desvalorização da moeda por meio de uma inflação moderada, com o objetivo de elevar os preços dos produtos agrícolas e permitir que os fazendeiros paguem suas dívidas; emissão de papel-moeda e o abandono do padrão-ouro, que permitem ao Banco Central financiar o seguro-desemprego, para atender a população mais carente.
A legislação emergencial de 1933 acaba com a crise bancária e restaura a confiança pública. As medidas de alívio do chamado primeiro New Deal, de 1933 a 1935, como a criação da Autoridade do Vale do Tennessee, estimulam a produtividade, e a Administração de Projetos de Trabalho reduz o desemprego.
A falência das agências do governo central provoca o segundo New Deal, de 1935 a 1938, devotado à recuperação por meio de medidas como o Ato de Seguridade Social, que garante o seguro-desemprego, dá cobertura previdenciária aos assalariados e estabelece a liberdade sindical. O New Deal estende a autoridade federal em todos os campos e dá atenção imediata aos problemas trabalhistas. Apóia trabalhadores, fazendeiros e pequenos empresários e, indiretamente, negros, que são beneficiados pela legislação, que propõe equiparar as oportunidades e criar padrões mínimos de salário, carga horária, descanso e seguridade. O problema do desemprego, no entanto, só é resolvido às vésperas da II Guerra Mundial, com a reativação da indústria bélica, a partir de 1937, em função do rearmamento dos países da Europa.

O avanço do totalitarismo

No pós-guerra, assistiu-se em diversas partes do mundo ao desenvolvimento das democracias liberais e à ascensão vertiginosa dos regimes totalitários.
Chamamos de totalitário o regime político que considera os interesses do Estado infinitamente mais importantes do que os direitos do indivíduo: “Nada pelo indivíduo, tudo pelo Estado”
As razões gerais da ascensão e consolidação dos regimes totalitários em diversos países do mundo no pós-guerra são semelhantes:

· os efeitos da crise econômica do pós-guerra (aumento da dívida externa, desemprego, fome) agravado pela crise mundial de 1929;

· a intensificação dos conflitos sociais e a incompetência dos governos democráticos na administração desses conflitos;

· o receio que os grupos dominantes (empresários, banqueiros, oficiais das forças armadas) nutriam com relação ao avanço do socialismo (daí o apoio que o nazi-fascismo recebeu desses grupos).

Dois exemplos de regimes totalitários surgidos no pós-guerra foram o fascismo, na Itália, e o nazismo na Alemanha.
O fascismo italiano e o nazismo alemão possuíam inúmeras características comuns:

- o nacionalismo extremado. Consideravam a nação (Itália, no caso do fascismo; Alemanha, no caso do nazismo) como uma das criações mais elaboradas do espírito humano. Por isso a vontade pessoal devia estar submetida à vontade nacional;
- o unipartidarismo. Em cada nação, deveria haver apenas um partido;
- o emprego da violência. Tanto os fascistas quanto os nazistas faziam uso sistemático da violência para aterrorizar e eliminar seus adversários;
- o expansionismo. Diziam que a nação que não se expandisse territorialmente fatalmente acabaria por desaparecer. O ditador alemão Adolf Hitler afirmava, por exemplo, que os alemães precisavam conquistar um espaço vital – para se realizarem plenamente.

Nazismo

Regime político de caráter totalitário que se desenvolve na Alemanha durante as sucessivas crises da República de Weimar, entre 1919 e 1933. Baseia-se na doutrina do nacional-socialismo, formulada por Adolf Hitler, que orienta o programa do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP). De caráter nacionalista, defende o racismo, a superioridade da raça ariana e a luta pelo expansionismo alemão e nega as instituições da democracia liberal e a revolução socialista. A essência da ideologia nazista encontra-se no livro de Hitler, Minha Luta (Mein Kampf).
Ao final da I Guerra Mundial, além de perder territórios para França, Polônia, Dinamarca e Bélgica, os alemães são obrigados pelo Tratado de Versalhes a pagar altas indenizações aos países vencedores. Essa penalidade faz crescer a dívida externa e compromete os investimentos internos, gerando falências, inflação e desemprego em massa.
As tentativas frustradas de revolução socialista (1919, 1921 e 1923) e as sucessivas quedas de gabinetes de orientação social-democrata criam condições favoráveis ao surgimento e à expansão do nazismo no país. O NSDAP, utilizando-se de espetáculos de massa (comícios e desfiles) e dos meios de comunicação (jornais, revistas, rádio e cinema), consegue mobilizar a população por meio do apelo à ordem e ao revanchismo. Recebe ajuda da grande burguesia, que teme o movimento operário. Favorecidos por uma divisão dos partidos de esquerda, os nazistas são vitoriosos nas eleições de 1932. Em 1933, Hitler é nomeado primeiro-ministro, com o auxílio de nacionalistas, católicos e setores independentes. Um ano depois se torna chefe de governo (chanceler) e chefe de Estado (presidente). Interpreta o papel de führer, o guia do povo alemão, criando o III Reich (III Império).
Com poderes excepcionais, Hitler suprime todos os partidos políticos, exceto o nazista; dissolve os sindicatos; cassa o direito de greve; fecha os jornais de oposição; e estabelece a censura à imprensa. Apoiando-se em organizações paramilitares, SA (guarda do Exército), SS (guarda especial) e Gestapo (polícia política), realiza perseguições aos judeus, aos sindicatos e aos políticos comunistas, socialistas e de outros partidos. O intervencionismo e a planificação econômica adotados por Hitler eliminam, no entanto, o desemprego e impedem a retirada do capital estrangeiro do país. Há um acelerado desenvolvimento industrial, que estimula a indústria bélica e a edificação de obras públicas. Esse crescimento se deve em boa parte ao apoio dos grandes grupos alemães, como Krupp, Siemens e Bayer, a Adolf Hitler.
Em desrespeito ao Tratado de Versalhes, Hitler reinstitui o serviço militar obrigatório, em 1935, remilitariza o país e envia tanques e aviões para amparar as forças conservadoras do general Francisco Franco durante a Guerra Civil Espanhola, em 1936. Nesse mesmo ano promove o extermínio sistemático dos judeus por meio da deportação para guetos ou campos de concentração. Anexa a Áustria e a região dos Sudetos, na Tchecoslováquia (1938). Ao invadir a Polônia, em 1939, dá início à II Guerra Mundial.
Terminado o conflito, instala-se na cidade alemã de Nürenberg um tribunal internacional para julgar os crimes de guerra cometidos pelos nazistas. Realizam-se 13 julgamentos entre 1945 e 1947, 25 alemães são condenados à morte, 20 à prisão perpétua, 97 a penas curtas de prisão e 35 são absolvidos. Dos 21 principais líderes nazistas capturados, dez são executados por enforcamento em 16 de outubro de 1946.
Neonazismo – A partir dos anos 80, na Europa, há uma retomada de movimentos autoritários e conservadores denominados neonazistas, principalmente na Alemanha, Áustria, França e Itália. Eles são favorecidos, entre outros motivos, pela imigração, pela recessão, pelo desemprego e pelo ressurgimento de velhos preconceitos étnicos e raciais. Manifestam-se de forma violenta e têm nos estrangeiros o alvo preferencial de ataque. Em determinados países, os movimentos neonazistas valem-se também da via institucional parlamentar, como o partido político Frente Nacional, na França. No Brasil, carecas, skinheads e white power são alguns dos grupos em evidência nos grandes centros urbanos, promovendo ataques verbais, pichações e agressões dirigidas principalmente contra os migrantes nordestinos.

Fascismo

“Um minuto no campo de luta
vale uma vida inteira de paz.”
Mussolini

Regime político de caráter totalitário que surge na Europa no entreguerras (1919-1939). Originalmente é empregado para denominar o regime político implantado pelo italiano Benito Mussolini entre 1919 e 1943. Suas principais características são o nacionalismo, que tem a nação como forma suprema de desenvolvimento, e o corporativismo, em que os sindicatos patronais e trabalhistas são os mediadores das relações trabalhistas.
O fascismo nasce oficialmente em 1919, em Milão, quando Mussolini funda o movimento intitulado Fascio de Combatimento, cujos integrantes, os camisas pretas (camicie nere), se opõem à classe liberal. Em 1922, as milícias fascistas desfilam na Marcha sobre Roma. Pretendem tomar o poder militarmente e ocupam prédios públicos e estações ferroviárias, exigindo a formação de um novo gabinete. Mussolini é convocado para chefiar o governo do país, que atravessa profunda crise econômica, agravada por greves e manifestações de trabalhadores. Por meio de fraudes, os fascistas conseguem maioria parlamentar. Em seguida, Mussolini dissolve os partidos de oposição, persegue parlamentares oposicionistas e passa a governar por decretos. As características do regime são cerceamento da liberdade civil e política, unipartidarismo, derrota dos movimentos de esquerda e limitação ao direito dos empresários de administrar sua força.

O totalitarismo na Espanha

De 1936 a 1939, a Espanha esteve envolvida numa das mais cruéis guerras civis dos últimos tempos. A origem dessa guerra está na proclamação da república espanhola, em 1931.
Após as eleições de 1931, a república espanhola começou a ser dirigida por um governo liberal, com forte oposição de partidos de esquerda e de direita. Os movimentos de esquerda se impuseram e, em 1936, a república era dominada por uma frente popular composta por republicanos, socialistas e comunistas.
Como reação, as forças mais conservadoras planejaram um golpe militar. Um de seus líderes, o general Francisco Franco, que o governo republicano exilara nas ilhas Canárias, tomou o comando das forças espanholas no Marrocos e invadiu a Espanha.
Em pouco tempo, o país estava dividido: de um lado os partidários de Franco e do Exército, chamados nacionalistas; de outro, os partidários do governo, os republicanos. As forças nacionalistas venceram e entraram vitoriosas em Madri no dia 1º de abril de 1939. Cerca de 750 mil pessoas perderam a vida nesse conflito.
Franco, com o apoio da Falange – partido fascista espanhol –, do exército e da igreja católica, governou ditatorialmente a Espanha até 1975, usando o título de caudilho.
A vitória dos nacionalistas contou com o apoio de Mussolini e de Hitler, que forneceram armas e soldados. Os aviões nazistas chegaram a bombardear o território espanhol, atingindo diversas cidades e vilas, entre elas a de Guernica, que foi totalmente arrasada.
Os republicanos tiveram a ajuda de voluntários das chamadas Brigadas Internacionais, organizadas pelo movimento comunista mundial.
Pela internacionalização do conflito, muitos estudiosos consideram que a Guerra Civil Espanhola foi um ensaio para a Segunda Guerra Mundial, que dava então seus primeiros sinais.

Portugal: a ditadura de Salazar

Em Portugal, Antônio de Oliveira Salazar assumiu, em 1932, a presidência do Conselho de Ministros. A partir de então, passou a conduzir a vida política do país como chefe do governo até 1968.
Salazar implantou uma ditadura autoritária, tendo como base jurídica a Constituição de 1933. Acabou com a atividade dos diversos partidos políticos portugueses existentes, instituindo a União Nacional como partido único. O movimento dos trabalhadores foi severamente controlado pelo Estado.
A libertação política de Portugal deu-se somente após a morte de Salazar, em 1970.

Revolução Russa

Um dos acontecimentos históricos mais importantes ocorridos durante a Primeira Guerra Mundial foi a Revolução Russa. Marca o fim do império dos czares, sendo a primeira tentativa bem-sucedida de implantação de um regime comunista. Divide-se em duas etapas, a democrática, em fevereiro de 1917, e a socialista, com a instalação da ditadura do proletariado, em outubro do mesmo ano.

Sua importância decorre do fato de ter provocado a ruptura da ordem socioeconômica capitalista, que se espalhava pelo mundo sob a hegemonia das grandes potências europeias e dos Estados Unidos.
Com a Revolução Russa de 1917, surgiu pela primeira vez uma proposta concreta de implantação do socialismo, rompendo com a ordem econômica capitalista.

Antecedentes

Pouco antes do início da Primeira Guerra Mundial, a Rússia tinha a maior população da Europa. Era cerca de 175 milhões de habitantes. Podemos dizer que ela possuía também o maior problema social do continente: a extrema pobreza do povo em geral. Indiferentes à situação, os czares (imperadores russos) e a nobreza levavam uma vida de privilégios. Enquanto isso, as ideologias liberal e marxista penetravam no país, despertando a consciência política de que era preciso mudar. A exigência de mudança se aprofundou com os bolcheviques, e a Rússia entrou no duro caminho da revolução. Como resultado, tornou-se o primeiro Estado socialista do mundo. Depois uniu-se a outras repúblicas e fundou a União Soviética, que se tornaria uma das maiores potências do século XX.
No começo do século 20, os governos da maioria dos países europeus adotavam regimes políticos liberais. O Império Russo, porém, ainda era governado por uma monarquia absolutista, sob o comando de um czar. O poder do czar não era limitado por instituições legais. Ele comandava o governo segundo costumes e vínculos mantidos com a nobreza rural (latifundiários) e o setor militar.
O Império Russo era o país mais extenso da Europa, reunindo, reunindo em 1914, aproximadamente 175 milhões de pessoas, uma população heterogênea formada por povos de diversas etnias, com línguas e tradições diferentes. Para muitos políticos da época, o Império Russo somente se mantinha unificado devido ao governo forte e centralizado dos czares.
A economia do país era predominantemente rural, com ênfase na produção de trigo. Mais de 80% da população morava no campo, sendo constituída, em sua maioria, por camponeses pobres que, até 1861, viviam submetidos ao regime de servidão. Mesmo depois da abolição legal da servidão, as condições de vida desses camponeses não melhoraram. Faltavam técnicas adequadas para o plantio, e a produção era insuficiente para atender às necessidades da população.

Industrialização e movimento operário

A partir do governo do czar Alexandre III (1881-1894) a realidade socioeconômica do país começou a se alterar: com mais de um século de atraso em relação à Inglaterra, a Rússia começou a se industrializar.

O surto de industrialização teve três estímulos principais:

- a política posta em prática pelo conde Witte, ministro do governo czarista, conhecido como o pai da indústria russa;
- a existência de grande quantidade de mão-de-obra livre, devido à abolição da servidão nos campos;
- a entrada maciça de capitais estrangeiros, principalmente franceses, sob a forma de empréstimo ou investimentos diretos.

Em conseqüência disso, o número de fábricas multiplicou-se, acelerou-se a urbanização e surgiram grandes núcleos industriais em cidades como São Petersburgo, Moscou e na região da Ucrânia. Esses centros passaram a abrigar uma próspera burguesia industrial e um numeroso operariado concentrado em torno de grandes fábricas. O operariado era formado, em sua maioria, por famílias que trocaram o campo pela cidade em busca de uma vida melhor.

O governo de Nicolau II

Quando Nicolau II assumiu o governo, em 1894, o país modernizava-se rapidamente, impulsionado pela crescente urbanização. Porém, as condições de trabalho nos centros industriais eram bastante desfavoráveis. Os operários enfrentavam jornadas de 12 horas de trabalho, sob disciplina rigorosa, em troca de salários baixíssimos. Além disso, suas moradias e alimentação eram precárias. Reagindo a essa situação opressiva, o operariado russo começou a promover greves, motins e passeatas para exigir melhores condições de vida e trabalho.
O governo, através da Okrana (polícia política), reprimia brutalmente toda e qualquer manifestação de rebeldia.
O desenvolvimento da indústria e o maior relacionamento com a Europa Ocidental também aumentaram a influência das novas correntes políticas que combatiam o absolutismo da monarquia russa. Eram marxistas, social-democratas, anarquistas, e muitos outros grupos de oposição. Dentre essas correntes destacou-se o Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR), fundado em 1898 por intelectuais e operários marxistas.
Duramente perseguido pela Okrana, o POSDR logo foi desmantelado na Rússia. Muitos de seus membros foram presos e seus principais líderes, George Plekhanov, Vladimir Ulianov (Lênin) e Lev Bronstein (Trotsky) refugiaram-se no exterior, onde voltaram a se organizar.
Em 1903, os membros do POSDR passaram a ter divergências entre si e o partido dividiu-se em dois grupos: o bolchevique (maioria) e o menchevique (minoria).
O grupo menchevique defendia que os trabalhadores poderiam conquistar o poder estabelecendo alianças políticas com a burguesia liberal. Os mencheviques acreditavam que era necessário esperar o pleno desenvolvimento do capitalismo para dar início à ação revolucionária dos trabalhadores. Entre seus líderes, destacou-se o escritor russo Guiorgui Valentinovitch Plekhanov (1856-1918).
Os bolcheviques acreditavam que os trabalhadores poderiam conquistar o poder de forma imediata, pela luta revolucionária que derrubaria a monarquia absolutista e transformaria a sociedade russa. Pregavam a formação de uma ditadura do proletariado, uma forma de governo em que o poder político, social e econômico estaria nas mãos da classe operária, em torno de um partido que representasse operários e camponeses. Seu principal líder era Lênin.

As rebeliões populares de 1905

A situação da Rússia tornou-se ainda mais tensa após a guerra contra o Japão, entre os anos de 1904 e 1905. as sucessivas derrotas militares exibiram a ineficiência do regime czarista e contribuíram para aprofundar a crise interna, aumentando a insatisfação popular.
Para se organizar e lutar por melhorias, os trabalhadores criaram então os sovietes, conselhos formados por delegados eleitos por operários, camponeses e soldados, que conferiram maior representação política à população russa.
Para conter a onda de protestos populares, que vinham se avolumando dia a dia, o governo simplesmente redobrava a violência.
A 9 de janeiro de 1905, em São Petersburgo, os soldados abriram fogo contra operários que apenas pretendiam entregar uma petição ao czar pedindo melhorias nas condições de vida.
Em decorrência desse episódio, que ficou conhecido como “domingo sangrento”, explodiram greves, motins e rebeliões sociais por todo o país. Os militares também se sublevaram. É dessa época a célebre revolta dos marinheiros do encouraçado Potemkin, no mar Negro. Todos esses movimentos rebeldes eram organizados e liderados por comitês de soldados, operários e camponeses chamados sovietes, que nasceram e se multiplicaram rapidamente logo após o “domingo sangrento”.
Disposto a diminuir a pressão popular, Nicolau II prometeu convocar a Duma, ou seja, uma assembleia legislativa que poria fim ao absolutismo dos czares, elaborando uma Constituição para o país.
A promessa conseguiu diminuir e enfraquecer as oposições. Meses depois, porém, com a situação sob o seu controle, o czar mandou reprimir violentamente os rebeldes e seus sovietes. A Duma eleita foi dominada pelo czar.
As rebeliões populares de 1905 não conseguiram derrubar o czarismo. Entretanto, segundo avaliação dos próprios rebeldes, serviram como “ensaio geral” para a revolução de 1917.

Processo Revolucionário
Do fim do czarismo à supremacia bolchevique

A participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial multiplicou as tensões no interior da sociedade russa e possibilitou o nascimento de uma nova e forte onda revolucionária.
Iniciada a Grande Guerra, o governo de Nicolau II enviou para os campos de batalha um exército que, embora possuísse 15 milhões de homens, era extremamente mal treinado e não tinha sequer fuzis, botas e cobertores em quantidade suficiente.
Esse exército sofreu contínuas derrotas frente aos alemães. Decorridos dois anos e meio de guerra, já tinham morrido mais de três milhões de soldados russos e outros tantos haviam desertado.
A população civil russa também padecia com a guerra; o sistema de transportes entrou em colapso, a população agrícola caíra, o desemprego aumentara, os preços dos alimentos haviam disparado e a fome atingia a maioria.
Diante dessa situação desesperadora, uma gigantesca onda de protestos sacudiu o país. Uma passeata organizada por mulheres e operários em março de 1917, em Petrogrado, deu início ao movimento revolucionário. A cavalaria czarista reprimiu os manifestantes, mas várias unidades do exército os apoiaram.
Aproveitando a situação crítica, em 15 de março de 1917, o conjunto das forças políticas de oposição (socialistas e liberais burgueses) tomou o poder, depondo o czar Nicolau II. Tinha início, assim, a Revolução Russa, que colocaria um fim ao czarismo.
Os estudiosos do processo revolucionário russo costumam dividi-lo em três grandes fases:

• Revolução Branca (iniciada em março de 1917) – conhecida também como Revolução Liberal Burguesa, em que o governo foi controlado pelos “brancos”, designação dada aos grupos não bolcheviques (mencheviques, liberais e aristocracia).

• Revolução Vermelha (iniciada em novembro de 1917) – conhecida também como Revolução Comunista, em que o poder foi tomado pelos “vermelhos”, designação dada aos bolcheviques.

• Guerra civil (1918-1920) – em que os “brancos” tentaram derrubar os “vermelhos” do poder.

Revolução Liberal Burguesa

Com a deposição do czar, em 15 de março, instalou-se um governo provisório, formado em sua maioria por políticos liberais e chefiado pelo príncipe Lvov. O socialista moderado Alexander Kerensky, que ocupou o cargo de ministro da Guerra, tornou-se, em 27 de julho, o principal líder do governo.
Os membros do governo provisório tomaram algumas medidas importantes, exigidas pelas oposições políticas, como:

• Redução da jornada de trabalho de doze para oito horas;
• Anistia aos preços políticos e permissão para que os exilados voltassem ao país;
• Garantia das liberdades fundamentais do cidadão (direitos de expressão e associação).

O novo governo não ofereceu, porém, respostas rápidas aos grandes problemas sociais que afligiam os operários e os camponeses, como terra e alimentos. Além disso, tomaram uma medida impopular: mantiveram a participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial.
Por causa disso, recomeçaram as lutas populares, mais uma vez lideradas pelos sovietes de toda a Rússia, coordenados pelo soviete de Petrogrado.
Vendo-se ameaçado, o governo provisório fez algumas concessões: instituiu o direito de livre expressão e associação, libertou os presos políticos e deu consentimento para que os exilados voltassem ao país.

Oposição Bolchevique

Beneficiado pela medida que permitia a volta dos exilados, Lenin ̶ que, como vimos, fora perseguido e exilado, com outros líderes da oposição, antes da Primeira Guerra ̶ regressou à Rússia em abril de 1917 e passou a liderar a oposição bolchevique ao governo provisório.
Além de ter reorganizado o Partido Bolchevique, em 1903, Lenin publicou as Teses de Abril (1917), nas quais pregava a formação de uma república dos sovietes (denominação dos comitês políticos dos trabalhadores).
Lênin, líder dos bolcheviques, resumiu os interesses populares no lema “Paz, terra e pão”. Os trabalhadores russos desejavam que a Rússia se retirasse da Primeira Guerra, que uma reforma agrária acabasse com a exploração dos camponeses e, finalmente, que a produção econômica do país fosse organizada para acabar com a fome do povo.
Nesse documento, defendia também a nacionalização dos bancos e da propriedade privada. Seu principal lema era: “Todo o poder aos sovietes”.

Revolução Comunista

Contada com um grande número de militantes e com apoio de parte das forças armadas, em 7 de novembro de 1917 (25 de outubro, pelo calendário russo), tendo à frente Lênin e Trotsky – o organizador e comandante da Guarda Vermelha –, os bolcheviques ocuparam os principais edifícios públicos de Petrogrado e entregaram a chefia do governo a Lênin, que passou a exercer o cargo de presidente do Conselho de Comissários do Povo.
Os sovietes da Rússia reuniram-se, então, num congresso e delegaram o poder governamental ao chamado Conselho dos Comissários do Povo, que, presidido por Lenin, tomou as seguintes medidas:

• Pedido de paz imediata – a Rússia declarou unilateralmente sua retirada da Primeira Guerra Mundial. Em março de 1918,os membros do Conselho firmaram a paz como governo da Alemanha, por meio do Tratado de Brest-Litovsk.

• Confisco de propriedade privada – muitas propriedades, cerca de 150 milhões de hectares, foram confiscadas dos nobres e da igreja Ortodoxa, sem pagamento de indenizações, e distribuídas entre os camponeses.

• Estatização da economia – o novo governo passou a intervir duramente na vida econômica do país, nacionalizando diversas empresas (bancos, fábricas).

Guerra civil

Entre 1918 e 1919, para consolidar a chamada revolução socialista, os bolcheviques tiveram de enfrentar uma guerra civil. Do lado oposto, estavam as forças políticas ligadas à monarquia russa, que montaram uma organização contra o novo governo, contando com auxílio econômico e militar de países como Inglaterra, França e Japão, que temiam a repercussão das ideias socialistas.
Após conflitos violentos, o governo bolchevique conseguiu manter-se no poder graças à resistência militar do Exército Vermelho, que, liderado por Trotsky, saiu-se vitorioso. Assim, os membros do Partido Bolchevique (que em 1918 mudara o nome para Partido Comunista) firmaram sua posição no comando do governo.
Derrotaram também as manifestações de outras correntes políticas que haviam lutado contra o czarismo, como os grupos socialistas que não seguiam estritamente os mandamentos bolcheviques, além dos anarquistas e dos liberais.

Isolamento internacional

A Revolução Comunista causou grande temor em grupos no mundo inteiro, principalmente entre os capitalistas, pela ameaça que representava para sua riqueza privada. Depois da vitória dos bolcheviques na guerra civil, esse medo aumentou, e os governos dos países capitalistas ocidentais procuraram isolar a Rússia socialista do cenário internacional. O objetivo dessa estratégia era impedir a expansão do socialismo.

A Nova Política Econômica

Depois de duas guerras consecutivas – uma externa e outra interna –, a economia encontrava-se fortemente abalada, registrando uma queda acentuada da produção agrícola e industrial.
Visando reerguer o país, Lênin adotou a Nova Política Econômica (NEP), um programa econômico que apresentava, ao mesmo tempo, medidas capitalistas e socialistas.

A NEP permitia que:

- as indústrias com menos de vinte funcionários funcionasse em regime de empresa privada;
- os camponeses comercializassem livremente as sobras de suas colheitas;
- os capitais estrangeiros entrassem No país sob a forma de empréstimo e de investimentos diretos.

O Estado socialista, por sua vez, reservava-se o direito de controlar o comércio exterior, a rede bancária, o sistema de transportes e comunicações e a indústria de base.
A Nova Política Econômica surtiu o efeito esperado e o país começou a se reerguer economicamente.
Em dezembro de 1922, um grande congresso, que reuniu diferentes povos do extinto Império Russo, decidiu fundar a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), federação cujo principal Estado era a Rússia.
Em 1924, com a morte de Lênin, assistiu-se na URSS a uma renhida luta pelo poder entre dois líderes bolcheviques: Trotsky e Stálin.

O governo de Stálin

Trotsky, organizador do Exército Vermelho, defendia a ideia de que era necessário expandir o socialismo para outros países. Segundo ele, se a Rússia ficasse isolada, as grandes nações capitalistas liquidariam a revolução socialista soviética.
Já Stálin afirmava que a URSS deveria primeiro se consolidar como nação socialista para, depois, influenciar outros países a fazerem sua revolução.
Stálin venceu a disputa e instalou-se no poder por quase trinta anos. Durante esse tempo, implantou uma ditadura brutal e policialesca. A seu mando, milhares de cidadãos (entre eles centenas de líderes socialistas) foram fuzilados ou exilados nas terras frias da Sibéria.
No plano econômico, Stálin suprimiu a NEP e adotou os chamados planos qüinqüenais. Por meio deles, a União Soviética desenvolveu-se rapidamente, tornando-se uma grande potência mundial.
A NEP, que possibilitara a restauração da economia russa após a guerra civil, não teria utilidade na realização da meta de Stálin: o industrialismo. Então a URSS entrou na era dos Planos Quinquenais. O primeiro plano (1928-1932) visava sobretudo à transformação industrial. O setor privado desapareceu, em proveito do Estado. Foram investidas grandes somas em eletrificação e no desenvolvimento da indústria pesada. No setor agrícola, foram formados os kolkhozes (fazendas coletivas) e os sovkhozes (fazendas estatais), assegurando a mecanização da agricultura.
O segundo plano quinquenal (1933-1937) pretendia desenvolver sobretudo a indústria leve, a de bens de consumo. A economia planificada apresentou resultados excepcionais. A URSS foi o único país do mundo que não sofreu a crise de 1929, fechada em si mesma, vivendo das trocas internas, não conheceu nem a superprodução nem o desemprego. A produtividade energética cresceu consideravelmente e a indústria metalúrgica passou a ocupar a terceira posição do mundo.

A Revolução Russa

No começo do século 20, os governos da maioria dos países europeus adotavam regimes políticos liberais. O Império Russo, porém, ainda era governado por uma monarquia absolutista, sob o comando de um czar. O poder do czar não era limitado por instituições legais. Ele comandava o governo segundo costumes e vínculos mantidos com a nobreza rural (latifundiários) e o setor militar.

O Império Russo era o país mais extenso da Europa, reunindo, reunindo em 1914, aproximadamente 175 milhões de pessoas, uma população heterogênea formada por povos de diversas etnias, com línguas e tradições diferentes. Para muitos políticos da época, o Império Russo somente se mantinha unificado devido ao governo forte e centralizado dos czares.
A economia do país era predominantemente rural, com ênfase na produção de trigo. Mais de 80% da população morava no campo, sendo constituída, em sua maioria, por camponeses pobres que, até 1861, viviam submetidos ao regime de servidão. Mesmo depois da abolição legal da servidão, as condições de vida desses camponeses não melhoraram. Faltavam técnicas adequadas para o plantio, e a produção era insuficiente para atender às necessidades da população.

Industrialização e movimento operário

A partir do governo do czar Alexandre III (1881-1894) a realidade socioeconômica do país começou a se alterar: com mais de um século de atraso em relação à Inglaterra, a Rússia começou a se industrializar.
O surto de industrialização teve três estímulos principais:
- a política posta em prática pelo conde Witte, ministro do governo czarista, conhecido como o pai da indústria russa;
- a existência de grande quantidade de mão-de-obra livre, devido à abolição da servidão nos campos;
- a entrada maciça de capitais estrangeiros, principalmente franceses, sob a forma de empréstimo ou investimentos diretos.

Em conseqüência disso, o número de fábricas multiplicou-se, acelerou-se a urbanização e surgiram grandes núcleos industriais em cidades como São Petersburgo, Moscou e na região da Ucrânia. Esses centros passaram a abrigar uma próspera burguesia industrial e um numeroso operariado concentrado em torno de grandes fábricas. O operariado era formado, em sua maioria, por famílias que trocaram o campo pela cidade em busca de uma vida melhor.

O governo de Nicolau II

Quando Nicolau II assumiu o governo, em 1894, o país modernizava-se rapidamente, impulsionado pela crescente urbanização. Porém, as condições de trabalho nos centros industriais eram bastante desfavoráveis. Os operários enfrentavam jornadas de 12 horas de trabalho, sob disciplina rigorosa, em troca de salários baixíssimos. Além disso, suas moradias e alimentação eram precárias. Reagindo a essa situação opressiva, o operariado russo começou a promover greves, motins e passeatas para exigir melhores condições de vida e trabalho.
O governo, através da Okrana (polícia política), reprimia brutalmente toda e qualquer manifestação de rebeldia.
O desenvolvimento da indústria e o maior relacionamento com a Europa Ocidental também aumentaram a influência das novas correntes políticas que combatiam o absolutismo da monarquia russa. Eram marxistas, social-democratas, anarquistas, e muitos outros grupos de oposição. Dentre essas correntes destacou-se o Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR), fundado em 1898 por intelectuais e operários marxistas.
Duramente perseguido pela Okrana, o POSDR logo foi desmantelado na Rússia. Muitos de seus membros foram presos e seus principais líderes, George Plekhanov, Vladimir Ulianov (Lênin) e Lev Bronstein (Trotsky) refugiaram-se no exterior, onde voltaram a se organizar.
Em 1903, os membros do POSDR passaram a ter divergências entre si e o partido dividiu-se em dois grupos: o bolchevique (maioria) e o menchevique (minoria).
O grupo menchevique defendia que os trabalhadores poderiam conquistar o poder estabelecendo alianças políticas com a burguesia liberal. Os mencheviques acreditavam que era necessário esperar o pleno desenvolvimento do capitalismo para dar início à ação revolucionária dos trabalhadores. Entre seus líderes, destacou-se o escritor russo Guiorgui Valentinovitch Plekhanov (1856-1918).
Os bolcheviques acreditavam que os trabalhadores poderiam conquistar o poder de forma imediata, pela luta revolucionária que derrubaria a monarquia absolutista e transformaria a sociedade russa. Pregavam a formação de uma ditadura do proletariado, uma forma de governo em que o poder político, social e econômico estaria nas mãos da classe operária, em torno de um partido que representasse operários e camponeses. Seu principal líder era Lênin.

As rebeliões populares de 1905

A situação da Rússia tornou-se ainda mais tensa após a guerra contra o Japão, entre os anos de 1904 e 1905. as sucessivas derrotas militares exibiram a ineficiência do regime czarista e contribuíram para aprofundar a crise interna, aumentando a insatisfação popular.
Para conter a onde de protestos populares, que vinham se avolumando dia a dia, o governo simplesmente redobrava a violência.
A 9 de janeiro de 1905, em São Petersburgo, os soldados abriram fogo contra operários que apenas pretendiam entregar uma petição ao czar pedindo melhorias nas condições de vida.
Em decorrência desse episódio, que ficou conhecido como “domingo sangrento”, explodiram greves, motins e rebeliões sociais por todo o país. Os militares também se sublevaram. É dessa época a célebre revolta dos marinheiros do encouraçado Potemkin, no mar Negro.
Todos esses movimentos rebeldes eram organizados e liderados por comitês de soldados, operários e camponeses chamados sovietes, que nasceram e se multiplicaram rapidamente logo após o “domingo sangrento”.
Disposto a diminuir a pressão popular, Nicolau II prometeu convocar a Duma, ou seja, uma assembleia legislativa que poria fim ao absolutismo dos czares, elaborando uma Constituição para o país.
A promessa conseguiu diminuir e enfraquecer as oposições. Meses depois, porém, com a situação sob o seu controle, o czar mandou reprimir violentamente os rebeldes e seus sovietes. A Duma eleita foi dominada pelo czar.
As rebeliões populares de 1905 não conseguiram derrubar o czarismo. Entretanto, segundo avaliação dos próprios rebeldes, serviram como “ensaio geral” para a revolução de 1917.

A Revolução Russa de 1917

A participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial multiplicou as tensões no interior da sociedade russa e possibilitou o nascimento de uma nova e forte onda revolucionária.
Iniciada a Grande Guerra, o governo de Nicolau II enviou para os campos de batalha um exército que, embora possuísse 15 milhões de homens, era extremamente mal treinado e não tinha sequer fuzis, botas e cobertores em quantidade suficiente.
Esse exército sofreu contínuas derrotas frente aos alemães. Decorridos dois anos e meio de guerra, já tinham morrido mais de três milhões de soldados russos e outros tantos haviam desertado.
A população civil russa também padecia com a guerra; o sistema de transportes entraram em colapso, a população agrícola caíra, o desemprego aumentara, os preços dos alimentos haviam disparado e a fome atingia a maioria.
Diante dessa situação desesperadora, uma gigantesca onda de protestos sacudiu o país. Uma passeata organizada por mulheres e operários em março de 1917, em Petrogrado, deu início ao movimento revolucionário. A cavalaria czarista reprimiu os manifestantes, mas várias unidades do exército os apoiaram.
A rebeldia alastrou-se rapidamente pelos grandes centros industriais e pelo interior da Rússia. A população exigia o fim do czarismo. Sete dias depois de iniciado o movimento, o czar abdicou.

O governo provisório

Logo após a abdicação de Nicolau II, formou-se um governo provisório, presidido pelo príncipe Lvov mas liderado por Kerenski, um político que, na prática, mostrou-se conservador.
Já no início da sua gestão, o novo governo frustrou as expectativas populares, declarando que não retiraria a Rússia da Guerra e nem aprovaria a reforma agrária pretendida por milhões de camponeses.
Por causa disso, recomeçaram as lutas populares, mais uma vez lideradas pelos sovietes de toda a Rússia, coordenados pelo soviete de Petrogrado.
Vendo-se ameaçado, o governo provisório fez algumas concessões: instituiu o direito de livre expressão e associação, libertou os presos políticos e deu consentimento para que os exilados voltassem ao país.
Beneficiado por essa anistia, Lênin retornou do exílio em abril de 1917 e, no dia seguinte, expôs num congresso bolchevique as suas famosas Teses de Abril.
Nesse documento, ele afirmava que o governo provisório era imperialista e que, por isso, os sovietes deviam lutar para conquistar o poder imediatamente.
Ao mesmo tempo em que o exército russo sofria novos reveses no exterior, internamente o governo provisório não tomava providências para resolver os grandes problemas sociais. Conseqüência disso é que os bolcheviques foram ganhando força junto aos operários e camponeses.
Em outubro, tendo à frente Lênin e Trotsky – o organizador e comandante da Guarda Vermelha –, os bolcheviques ocuparam os principais edifícios públicos de Petrogrado e entregaram a chefia do governo a Lênin, que passou a exercer o cargo de presidente do Conselho de Comissários do Povo.

O governo de Lênin

Assim que assumiu o poder, o governo leninista adotou um conjunto de medidas de grande repercussão social:
- enviou imediatamente um pedido de paz aos alemães. Em 3 de março de 1918, pelo Tratado de Brest-Litovsk, assinou a paz com a Alemanha;
- efetuou a reforma agrária. Confiscou milhões de hectares de terra dos grandes proprietários e os distribuiu entre milhares de camponeses;
- nacionalizou bancos, indústrias e estradas de ferro. Várias dessas empresas passaram a ser controladas por representantes dos operários.

No entanto, os graves problemas que o novo governo teria de enfrentar estavam apenas começando.

A guerra civil

Em poucas semanas, os chamados russos-brancos, inimigos da revolução socialista, montaram um numeroso exército sob a liderança de antigos oficiais czaristas a fim de investir contra o governo bolchevique.
Para auxiliar os russos brancos, as grandes nações capitalistas, como Inglaterra França e Estados Unidos, desembarcaram topas em diversos pontos do território russo.
Disposto a resistir, os bolcheviques criaram o Exército Vermelho, cujo comando coube a Trotsky.
Em 1918, iniciou-se, então, uma sangrenta guerra civil, que se prolongou por três anos e foi vencida pelo Exército Vermelho.
Com a vitória sobre seus inimigos, os bolcheviques, organizados pelo Partido comunista, firmaram-se no poder.

A Nova Política Econômica

Depois de duas guerras consecutivas – uma externa e outra interna –, a economia encontrava-se fortemente abalada, registrando uma queda acentuada da produção agrícola e industrial.
Visando reerguer o país, Lênin adotou a Nova Política Econômica (NEP), um programa econômico que apresentava, ao mesmo tempo, medidas capitalistas e socialistas.

A NEP permitia que:
- as indústrias com menos de vinte funcionários funcionasse em regime de empresa privada;
- os camponeses comercializassem livremente as sobras de suas colheitas;
- os capitais estrangeiros entrassem No país sob a forma de empréstimo e de investimentos diretos.

O Estado socialista, por sua vez, reservava-se o direito de controlar o comércio exterior, a rede bancária, o sistema de transportes e comunicações e a indústria de base.
A Nova Política Econômica surtiu o efeito esperado e o país começou a se reerguer economicamente.
Em dezembro de 1922, um grande congresso, que reuniu diferentes povos do extinto Império Russo, decidiu fundar a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), federação cujo principal Estado era a Rússia.
Em 1924, com a morte de Lênin, assistiu-se na URSS a uma renhida luta pelo poder entre dois líderes bolcheviques: Trotsky e Stálin.

O governo de Stálin

Trotsky, organizador do Exército Vermelho, defendia a ideia de que era necessário expandir o socialismo para outros países. Segundo ele, se a Rússia ficasse isolada, as grandes nações capitalistas liquidariam a revolução socialista soviética.
Já Stálin afirmava que a URSS deveria primeiro se consolidar como nação socialista para, depois, influenciar outros países a fazerem sua revolução.
Stálin venceu a disputa e instalou-se no poder por quase trinta anos. Durante esse tempo, implantou uma ditadura brutal e policialesca.
A seu mando, milhares de cidadãos (entre eles centenas de líderes socialistas) foram fuzilados ou exilados nas terras frias da Sibéria.
No plano econômico, Stálin suprimiu a NEP e adotou os chamados planos quinquenais. Por meio deles, a União Soviética desenvolveu-se rapidamente, tornando-se uma grande potência mundial.


A Primeira Guerra Mundial (1914–1918)

Ao iniciar o século XX, o avanço do capitalismo, agora na fase monopolista ou financeira, provocou uma desigualdade entre as nações europeias. A disputa por novas áreas, por novos mercados, pela hegemonia do continente acabou por causar uma grande guerra, que ficou conhecida como Primeira Guerra Mundial.

POR QUE ACONTECEU A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

a) Disputas imperialistas entre a Inglaterra e a Alemanha.
b) Revanchismo francês – A França desejava recuperar os territórios Alsácia-Lorena, perdidos em 1871, na Guerra Franco-prussiana.
c) Os Incidentes nos Bálcãs – A Áustria anexou as províncias turcas da Bósnia e da Herzegovina, provocando reação da Rússia e da Sérvia.
d) Os Incidentes no Marrocos – O Marrocos, país africano governado por um sultão, era cobiçado pela França que já conquistara a Argélia. Assinou acordo com a Inglaterra, dona de Gibraltar, e com a Espanha, que dominava algumas praças ao Norte de Marrocos. O kaiser Guilherme II impediu a penetração francesa, proclamando a liberdade do Marrocos. A Alemanha acabou reconhecendo o direito dos franceses de estabelecer seu protetorado ao Marrocos. Franceses e alemães estavam descontentes com a situação.
e) Causa imediata (estopim) – O Assassinato do Príncipe Francisco Ferdinando (28/06/1914) – herdeiro do trono austríaco. Foi assassinado por um fanático estudante bosníano, Gravilo Princip, na cidade de Serajevo. A Áustria -Hungria exigiu uma satisfação da Sérvia, onde o crime fora tramado, por meio de um ultimato. A Rússia, decidida a não admitir uma humilhação à Sérvia, rejeitou as propostas conciliatórias da Alemanha e decretou a mobilização geral. A Alemanha, aliada da Áustria, declarou guerra à Rússia no dia 1.o de agosto e, dois dias depois, à França. Tinha inicio a Primeira Guerra Mundial.

POLÍTICA DE ALIANÇAS

Foi celebrada uma aliança defensiva entre a Alemanha e a Áustria em 1879. Com a entrada da Itália em 1882, surgiu a “Tríplice Aliança”.
1907, formou-se a “Triple Entente”, constituída pela Inglaterra, Rússia e França. A Inglaterra estava preocupada com o crescimento econômico da Alemanha e com o desenvolvimento da marinha alemã, que ameaçava sua soberania marítima. A “Triple Entente”, assinada por Eduardo VII, da Inglaterra, iniciou a política de cerco à Alemanha.
Desde o fim do século XIX até 1914, as nações européias fortaleceram-se, aumentando seu poderio bélico. Uma verdadeira corrida armamentista foi alimentando os países. Eles estavam em paz, mas ao mesmo tempo reforçando-se, armando-se para o grande conflito. Foi o período da Paz Armada.

FASES DA GUERRA

a) Guerra do Movimento (1914) – Os alemães começaram a luta com um ataque à Bélgica, neutra, marchando depois rumo a Paris. O plano francês era invadir Alsácia e Lorena e proteger a fronteira belga; os alemães atacaram Liège. Na batalha do Marne os alemães foram derrotados pelo general Joffre, obrigando-os a retroceder para Leste, depois de perderem milhares de soldados e armamentos. Essa batalha salvou momentaneamente a França. Mas os alemães, não podendo levar avante a investida inicial, firmaram-se no Nordeste da França, abrindo trincheiras, como o fizeram também os franceses, os ingleses e os belgas.

b) Guerra de Trincheiras (1915-1917) – Abriram-se trincheiras em toda a frente ocidental. O armamento e o aparelhamento aéreo despertaram um novo surto industrial acelerado. Novas armas apareceram. Em 1916, os alemães atacaram Verdun, defendida pelo general Pétain. Foi um insucesso dos alemães. Morreram cerca de 600 mil homens. Na batalha naval da Jutlândia, os ingleses foram os vencedores.

c) Saída da Rússia – Com o triunfo da Revolução Russa de 1917, onde os bolcheviques estabeleceram-se no poder, foi assinado um acordo com a Alemanha para oficializar sua retirada do grande conflito. Este acordo chamou-se Tratado de Brest-Litovsk, que impôs duras condições para a Rússia.

d) Entrada dos Estados Unidos – Os norte-americanos tinham muito investimentos nesta guerra com seus amigos aliados (Inglaterra e França). Era preciso garantir o recebimento de tais investimentos. Utilizou-se como pretexto o afundamento do navio "Lusitânia", que conduzia passageiros norte-americanos.

e) Participação do Brasil – Os alemães, diante da superioridade naval da Inglaterra, resolveram empreender uma guerra submarina sem restrições. Na noite de 3 de abril de 1917, o navio brasileiro "Paraná" foi atacado pelos submarinos alemães perto de Barfleur, na França. O Brasil, presidido por Wenceslau Brás, rompeu as relações com Berlim e revogou sua neutralidade na guerra. Novos navios brasileiros foram afundados. No dia 25 de outubro, quando recebeu a noticia do afundamento do navio "Macau", o Brasil declarou guerra à Alemanha. Enviou auxilio à esquadra inglesa no policiamento do Atlântico e uma missão médica.

CONSEQÜÊNCIAS DA GUERRA

- 11 milhões de mortos (destes, 8 milhões eram combatentes).
- Fim dos impérios Russo, Austro-Húngaro, Alemão e Otomano.
- Surgimento de novos Estados europeus:
- Do desmembramento do Império Austro-Húngaro: Áustria, Hungria, Checoslováquia e Iugoslávia (nome oficial da “Grande Sérvia”, criado em 1931).
- Do desmembramento do Império Russo: URSS, Finlândia, Polônia, Lituânia, Letônia e Estônia.
- Crise econômica generalizada, com especial gravidade na URSS, Itália e Alemanha.
- Surgimento dos regimes totalitários, tanto de esquerda (comunismo) como de direita (fascismo).
- Ascensão dos EUA à posição de maior potência mundial.
- Criação da Sociedade das Nações ou Liga das Nações – um dos poucos itens dos “14 Pontos” que foram aproveitados.
- Existência de minorias étnicas com tendência separatista em vários países da Europa Central e Oriental, criando graves focos de tensão.

TRATADO DE VERSALHES (1919)

Em Versalhes, em 1919, reuniu-se a Conferência da Paz, sob a liderança dos 4 grandes: Clemenceau, representante da França; Lloyd George, representante da Inglaterra; Woodrow Wilson, representante dos Estados Unidos; e Orlando, representante da Itália. Este tratado impôs duras determinações aos alemães.

Consequências das deliberações do Tratado de Versalhes:

- Cessão de territórios.
- Desmilitarização de regiões fronteiriças à França.
- Diminuição dos exércitos alemães em cem mil homens.
- Território alemão dividido por um “corredor” que dava acesso ao mar para a Polônia.

LIGA DAS NAÇÕES

Woodrow Wilson, presidente dos Estados Unidos, lançou a ideia de abolir a “diplomacia em segredo” e de unir os povos com o intuito de evitar uma nova guerra, numa Liga das Nações que tinha os seguintes princípios fundamentais:

a) Autonomia dos povos.
b) Renúncia à política de alianças.
c) Governo de acordo com os governados.
d) Liberdade dos mares.
e) Desarmamento geral.

Genebra passava a ser a sede da Liga das Nações.

Primeira Grande Guerra: choque de Imperialismos

 O cenário da guerra

Na preparação da Primeira Guerra Mundial participaram as potências imperialistas, cujo objetivo era a repartição do mundo, a fim de garantir matéria-prima, mercado consumidor e mão-de-obra para sua produção industrial.

A hegemonia alemã preocupava os capitalistas ingleses

Graças ao seu desenvolvimento industrial, a Inglaterra dominava a maioria dos mercados consumidores mundiais. Por sua vez, a Alemanha, logo após a unificação, entrou em grande desenvolvimento industrial e passou a disputar os mercados ingleses. A burguesia alemã lutava por uma nova divisão do mundo para consolidar o seu domínio. Além disso, o país cresceu nos mares, com uma grande frota de navios e várias companhias de navegação.
Para consolidar os seus intentos capitalista e expansionista, o governo alemão projetou a construção de uma estrada de ferro ligando Berlim a Bagdá. Tinha por finalidade o transporte de petróleo do golfo Pérsico aos mercados ocidentais. A Inglaterra se opôs a esse projeto porque traria dificuldades para o comércio com suas colônias.

O revanchismo Francês.


A perda dos territórios da Alsácia-Lorena, devido à derrota na Guerra Franco-Prussiana, prejudicou a economia francesa, que se viu privada das minas de ferro e carvão, fundamentais à sua indústria. Inconformados, os nacionalistas franceses pregavam o revanchismo e a recuperação dos territórios perdidos.

A crise do Marrocos

A disputa entre França e Alemanha pelo domínio de Marrocos, país ao norte da África, provocou diversas crises de1905 a 1911. a raiz dessas crises advinha do inicio do século XX, quando alemães, ingleses e franceses acordaram que teriam direitos iguais na exploração do Marrocos. Entretanto, em 1904, a França e a Inglaterra romperam esse acordo, ficando somente para os franceses a exploração marroquina, com o apoio dos ingleses, os quais dominaram o Egito.
Um ano após o acordo anglo-francês, o imperador alemão, Guilherme II, fez uma visita ao Marrocos e declarou que os alemães defenderiam aquela região, mesmo que tivessem que ir às armas. Essa declaração descontentou profundamente os franceses e os ânimos se acirraram. Finalmente, em 1911, a França anexou o Marrocos, porém, cedeu a Alemanha parte do congo francês.

Políticas de alianças e Paz Armada

As ambições imperialistas associadas o nacionalismo exaltado fomentavam todo um clima internacional de tensões e agressividade. Sabia-se que a guerra entre as grandes potências poderia explodir a qualquer momento. Diante desse risco, as principais potências trataram de prevenir-se, estimulando a produção de armas e fortalecendo seus exércitos. Foi o período da Paz Armada.
Característica desse período foi a elaboração de diversos tratados de aliança entre países. Cada qual procurava, por meio desses tratados, adquirir mais força para enfrentar o país rival.
Ao final de muitas e complexas negociações bilaterais entre governos, podemos distinguir na Europa, por volta de 1907, dois grandes blocos distintos:
A Tríplice Aliança – formada por Alemanha, Áustria e Itália.
A Tríplice Entente – formada por Inglaterra, França e Rússia.
Dessa forma, os focos de tenção e a disputa pela supremacia conduziram os países europeus à corrida armamentista. As crises balcânicas: o estopim da pólvora que detonou a “Paz Armada”.
A crise balcânica de 1914 desencadeou a guerra entre a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente. Vejamos os seus antecedentes.
Em 1906, a Áustria anexou os territórios da Bósnia e Herzegovina, impedindo o crescimento da Sérvia e a possibilidade de formação da Grande Sérvia, com vistas a obter uma saída para o mar Mediterrâneo. Esse fato acentuou a rivalidade entre a Áustria-Hungria e a Sérvia. Os sérvios passaram a se expandir para o sul, confrontando-se com o Império Turco. Essa expansão ocasionou guerras, entre 1911 e 1913, cujo resultado se constituiu no fortalecimento da Sérvia.
No início de 1914, os sérvios, triunfantes devido às sas vitórias nas guerras balcânicas, investiram novamente contra a Áustria, acirrando o nacionalismo dos eslavos do sul, povo dominado pelo Império Austro-Húngaro, na Bósnia e Herzegovina.
Como o movimento nacionalista dos eslavos apresentava-se incontrolável, o arquiduque Francisco Ferdinando – futuro governante do Império Austro-Húngaro – planejava transformar essa monarquia dual em tríplice, incluindo o reino eslavo. Os nacionalistas eslavos e os sérvios não apreciavam essa idéia, pois, se levada à prática, comprometia o nacionalismo separatista eslavo.
No dia 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando, já próximo de assumir o trono, em visita a Sarajevo, capital da Bósnia, foi assassinado com sua esposa. A responsabilidade do assassinato coube ao estudante bósnio Gabriel Princip, que pertencia a uma sociedade secreta da Sérvia – a Mão Negra. Um mês depois, a Áustria declarou guerra à Sérvia, que contou com o apoio da Rússia. O incidente de Sarajevo foi o estopim que desencadeou a Primeira Guerra.

Os primeiros instantes da Primeira Grande Guerra

O desdobramento do conflito nos Bálcãs acabou envolvendo também outros países europeus, numa autêntica reação em cadeia, provocada pela política de alianças.
A Itália, que pertencia à Tríplice Aliança, entrou na guerra ao lado da Entente, porque a Inglaterra havia-lhe prometido os territórios irredentos, que não conseguiu conquistar da Áustria desde o período da unificação. O Japão, interessado nas possessões alemãs no Oriente, aderiu aos aliados.

As principais fases da Guerra

As batalhas da Primeira Grande Guerra transformavam-na no primeiro grande conflito armado de repercussão mundial, devido ao envolvimento de várias nações europeias e americanas. Os episódios evidenciavam a mudança radical nas concepções e formas de guerrear. Pela primeira vez, os resultados do grande salto que as forças produtivas haviam dado, com a industrialização, foram utilizados para a destruição da humanidade. No final do conflito, havia o saldo de aproximadamente 10 milhões de mortos.
Geralmente costuma-se dividir a Primeira Grande Guerra em fases: Guerra de Movimentação, de Trincheiras e a 2a fase das movimentações.
- Guerra de Movimentação dos exércitos, quando as forças em conflito apresentavam um certo equilíbrio. Os países que compunham a Entente não possuíam canhões de longo alcance, mas, por outro lado, tinham domínio dos mares. Nesta fase, a Inglaterra decretou o bloqueio naval à Alemanha e aos seus aliados. Enquanto isso, a França conseguia deter o avanço alemão sobre Paris, na Batalha do Marne.
- Guerra das trincheiras, período de 1915 a 1917, quando os aliados tratavam de garantir as suas posições estratégicas, neutralizando as táticas inimigas. A indústria armamentista cresceu, proliferando novas armas como as metralhadoras, os lança-chamas e os projéteis explosivos. Além disso, novos recursos foram utilizados, como o avião e o submarino.
- Guerra de movimentação (2a fase), período de 1917 a 1918. A partir de 1917 ocorreram alterações significativas, que definiram o fim da Grande Guerra: a Rússia retirou-se do conflito mundial, devido à Revolução Socialista que ocorreu no país; os Estados Unidos entraram no conflito, ao lado da Entente, porque temiam a perda de seus investimentos na Europa. Usaram como pretexto o afundamento de navios norte-americanos por alemães e os ataques dos submarinos alemães contra o bloqueio naval inglês, dirigidos também aos países neutros que abasteciam os aliados da Entente.
Com a saída da Rússia, as potências centrais, Alemanha e Império austro-húngaro, puderam lançar toda a sua ofensiva contra a França. Reagindo a essa ameaça, os aliados enviaram uma maciça ajuda militar aos franceses, o que levou ao recuo das tropas alemãs. Os aliados ocuparam, então, a França e a Bélgica. Era o começo do fim! A vitória da Grã-Bretanha e de seus aliados era exemplo de sua supremacia econômica e acesso às fontes primarias, necessárias às armas. Além disso, a sua superioridade naval definiu o término da guerra.
A Alemanha já sofria um profundo desgaste e os primeiros sinais de crise econômica evidenciavam-se e recheavam os discursos dos socialistas alemães, responsáveis por várias manifestações em Berlim. Em 1918, Guilherme II, bastante enfraquecido, abdicou e foi proclamada, em 9 de novembro, a República de Weimar (que durou até 1933), liderada pelo parido Social-Democrata. O novo governo decidiu assinar o armistício de Compiègne, em 11 de novembro de 1918, pelo qual os alemães foram obrigados a desocupar o território ocidental europeu, entregar o material de guerra pesado, libertar os prisioneiros e pagar indenizações.

O triunfo dos aliados

O armistício de Compiègne significou a derrota da burguesia industrial e a falência dos banqueiros alemães. Para sacramentar o êxito sobre os inimigos, no principio de 1919 aconteceu a Conferência de Paris, onde as potências vencedoras - a Entente e os seus aliados – se reuniram para impor pesadas penas aos derrotados. A Conferência foi liderada por Lloyd George, representante inglês, Clemenceau, francês, e Woodrow Wilson, presidente dos Estados Unidos. Da conferência surgiu, no dia 28 de junho de 1919, o Tratado de Versalhes, fruto dos interesses das potências hegemônicas vencedoras, composto de 440 artigos, os quais obrigavam a República de Weimar a:
- Restituir a região de Alsácia-Lorena à França;
- Ceder as regiões ocupadas à Bélgica, Dinamarca e Polônia;
- Entregar as minas de carvão da região do Sarre à França;
- Desmilitarizar a região da Renânia, limítrofe entre a Bélgica e a França, cujo objetivo era evitar possíveis agressões futuras. Nesse sentido, os alemães deviam entregar a maioria dos navios mercantes à França, à Inglaterra e à Bélgica;
- Indenizar os aliados da Entente, numa astronômica cifra de 33 milhões de dólares, visto que a Alemanha foi considerada a única responsável pela guerra;
- Ceder uma faixa de terra à Polônia, o Corredor Polonês, que lhe permitiu acesso ao mar.
O povo alemão considerou injustas, vingativas e humilhantes as condições impostas pelo Tratado de Versalhes, pois perdia 2/10 da população ativa, 1/6 das terras cultiváveis, 2/5 do carvão, 2/3 do ferro e 7/10 do zinco, gerando problemas econômicos sérios ao governo republicano de Weimar.
Durante a Conferência de Paris, o presidente Wilson apresentou à opinião pública internacional os “Quatorze Pontos”, propondo a paz onde não houvesse vencidos nem vencedores, portanto, um projeto utópico, altamente liberal entre o capitalismo selvagem e monopolista.
O resultado dos Quatorze Pontos foi a criação, em 1919, da Sociedade das Nações, com sede em Genebra, na Suíça, que tinha por finalidade a manutenção da Paz Mundial. Porém, essa liga fracassou, pois lhe faltava poder coercitivo contra os países ricos, capitalistas e agressores, e também porque havia conflitos de interesses entre os países integrantes da liga. Mais tarde, os Estados Unidos saíram da Liga das Nações, pois o Senado norte-americano não quis ratificar o Tratado de Versalhes.
No biênio 1919-1920, as potências vencedoras procuravam ajustar o espaço geográfico oriental da Europa à nova realidade e aos interesses capitalistas. Foram assinados os seguintes tratados de paz que corroboravam o caráter imperialista da Guerra:

Os efeitos da primeira grande guerra

- A Europa perdeu 10 milhões de homens e ficou com 40 milhões de inválidos.
- Os campos destruídos afetaram a produção agrícola, portos e estradas arrasados prejudicaram o comércio e as cidades ficaram arruinadas.
- A ascensão dos Estados Unidos, como nação mais poderosa do mundo ocidental, devido aos enormes lucros obtidos com a guerra. O Império Britânico entrou em declínio econômico. Os impérios aristocráticos (Autro-Húngaro, Alemão, Russo e Turco) desapareceram, a as dinastias da Áustria e da Alemanha caíram.
- O aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho durante o período da guerra ocasionou o movimento em prol da adoção do voto feminino, logo após o término do conflito.
- O desemprego se acentuou nos países europeus.
- O abalo do liberalismo econômico. O capitalismo liberal experimentou uma profunda crise e cedeu ao intervencionismo, onde alguns governos passaram a controlar, cada vez mais, as economias nacionais. Ocorreu a progressiva degradação dos ideais liberais e democráticos.
- O avanço das ideias socialistas, consagradas pela Revolução Russa de 1917.
- O avanço e o fortalecimento dos nacionalismos, que se tornaram radicais na Itália, na República de Weimar, na Espanha e em Portugal.


Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...