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A Revolução Russa

No começo do século 20, os governos da maioria dos países europeus adotavam regimes políticos liberais. O Império Russo, porém, ainda era governado por uma monarquia absolutista, sob o comando de um czar. O poder do czar não era limitado por instituições legais. Ele comandava o governo segundo costumes e vínculos mantidos com a nobreza rural (latifundiários) e o setor militar.

O Império Russo era o país mais extenso da Europa, reunindo, reunindo em 1914, aproximadamente 175 milhões de pessoas, uma população heterogênea formada por povos de diversas etnias, com línguas e tradições diferentes. Para muitos políticos da época, o Império Russo somente se mantinha unificado devido ao governo forte e centralizado dos czares.
A economia do país era predominantemente rural, com ênfase na produção de trigo. Mais de 80% da população morava no campo, sendo constituída, em sua maioria, por camponeses pobres que, até 1861, viviam submetidos ao regime de servidão. Mesmo depois da abolição legal da servidão, as condições de vida desses camponeses não melhoraram. Faltavam técnicas adequadas para o plantio, e a produção era insuficiente para atender às necessidades da população.

Industrialização e movimento operário

A partir do governo do czar Alexandre III (1881-1894) a realidade socioeconômica do país começou a se alterar: com mais de um século de atraso em relação à Inglaterra, a Rússia começou a se industrializar.
O surto de industrialização teve três estímulos principais:
- a política posta em prática pelo conde Witte, ministro do governo czarista, conhecido como o pai da indústria russa;
- a existência de grande quantidade de mão-de-obra livre, devido à abolição da servidão nos campos;
- a entrada maciça de capitais estrangeiros, principalmente franceses, sob a forma de empréstimo ou investimentos diretos.

Em conseqüência disso, o número de fábricas multiplicou-se, acelerou-se a urbanização e surgiram grandes núcleos industriais em cidades como São Petersburgo, Moscou e na região da Ucrânia. Esses centros passaram a abrigar uma próspera burguesia industrial e um numeroso operariado concentrado em torno de grandes fábricas. O operariado era formado, em sua maioria, por famílias que trocaram o campo pela cidade em busca de uma vida melhor.

O governo de Nicolau II

Quando Nicolau II assumiu o governo, em 1894, o país modernizava-se rapidamente, impulsionado pela crescente urbanização. Porém, as condições de trabalho nos centros industriais eram bastante desfavoráveis. Os operários enfrentavam jornadas de 12 horas de trabalho, sob disciplina rigorosa, em troca de salários baixíssimos. Além disso, suas moradias e alimentação eram precárias. Reagindo a essa situação opressiva, o operariado russo começou a promover greves, motins e passeatas para exigir melhores condições de vida e trabalho.
O governo, através da Okrana (polícia política), reprimia brutalmente toda e qualquer manifestação de rebeldia.
O desenvolvimento da indústria e o maior relacionamento com a Europa Ocidental também aumentaram a influência das novas correntes políticas que combatiam o absolutismo da monarquia russa. Eram marxistas, social-democratas, anarquistas, e muitos outros grupos de oposição. Dentre essas correntes destacou-se o Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR), fundado em 1898 por intelectuais e operários marxistas.
Duramente perseguido pela Okrana, o POSDR logo foi desmantelado na Rússia. Muitos de seus membros foram presos e seus principais líderes, George Plekhanov, Vladimir Ulianov (Lênin) e Lev Bronstein (Trotsky) refugiaram-se no exterior, onde voltaram a se organizar.
Em 1903, os membros do POSDR passaram a ter divergências entre si e o partido dividiu-se em dois grupos: o bolchevique (maioria) e o menchevique (minoria).
O grupo menchevique defendia que os trabalhadores poderiam conquistar o poder estabelecendo alianças políticas com a burguesia liberal. Os mencheviques acreditavam que era necessário esperar o pleno desenvolvimento do capitalismo para dar início à ação revolucionária dos trabalhadores. Entre seus líderes, destacou-se o escritor russo Guiorgui Valentinovitch Plekhanov (1856-1918).
Os bolcheviques acreditavam que os trabalhadores poderiam conquistar o poder de forma imediata, pela luta revolucionária que derrubaria a monarquia absolutista e transformaria a sociedade russa. Pregavam a formação de uma ditadura do proletariado, uma forma de governo em que o poder político, social e econômico estaria nas mãos da classe operária, em torno de um partido que representasse operários e camponeses. Seu principal líder era Lênin.

As rebeliões populares de 1905

A situação da Rússia tornou-se ainda mais tensa após a guerra contra o Japão, entre os anos de 1904 e 1905. as sucessivas derrotas militares exibiram a ineficiência do regime czarista e contribuíram para aprofundar a crise interna, aumentando a insatisfação popular.
Para conter a onde de protestos populares, que vinham se avolumando dia a dia, o governo simplesmente redobrava a violência.
A 9 de janeiro de 1905, em São Petersburgo, os soldados abriram fogo contra operários que apenas pretendiam entregar uma petição ao czar pedindo melhorias nas condições de vida.
Em decorrência desse episódio, que ficou conhecido como “domingo sangrento”, explodiram greves, motins e rebeliões sociais por todo o país. Os militares também se sublevaram. É dessa época a célebre revolta dos marinheiros do encouraçado Potemkin, no mar Negro.
Todos esses movimentos rebeldes eram organizados e liderados por comitês de soldados, operários e camponeses chamados sovietes, que nasceram e se multiplicaram rapidamente logo após o “domingo sangrento”.
Disposto a diminuir a pressão popular, Nicolau II prometeu convocar a Duma, ou seja, uma assembleia legislativa que poria fim ao absolutismo dos czares, elaborando uma Constituição para o país.
A promessa conseguiu diminuir e enfraquecer as oposições. Meses depois, porém, com a situação sob o seu controle, o czar mandou reprimir violentamente os rebeldes e seus sovietes. A Duma eleita foi dominada pelo czar.
As rebeliões populares de 1905 não conseguiram derrubar o czarismo. Entretanto, segundo avaliação dos próprios rebeldes, serviram como “ensaio geral” para a revolução de 1917.

A Revolução Russa de 1917

A participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial multiplicou as tensões no interior da sociedade russa e possibilitou o nascimento de uma nova e forte onda revolucionária.
Iniciada a Grande Guerra, o governo de Nicolau II enviou para os campos de batalha um exército que, embora possuísse 15 milhões de homens, era extremamente mal treinado e não tinha sequer fuzis, botas e cobertores em quantidade suficiente.
Esse exército sofreu contínuas derrotas frente aos alemães. Decorridos dois anos e meio de guerra, já tinham morrido mais de três milhões de soldados russos e outros tantos haviam desertado.
A população civil russa também padecia com a guerra; o sistema de transportes entraram em colapso, a população agrícola caíra, o desemprego aumentara, os preços dos alimentos haviam disparado e a fome atingia a maioria.
Diante dessa situação desesperadora, uma gigantesca onda de protestos sacudiu o país. Uma passeata organizada por mulheres e operários em março de 1917, em Petrogrado, deu início ao movimento revolucionário. A cavalaria czarista reprimiu os manifestantes, mas várias unidades do exército os apoiaram.
A rebeldia alastrou-se rapidamente pelos grandes centros industriais e pelo interior da Rússia. A população exigia o fim do czarismo. Sete dias depois de iniciado o movimento, o czar abdicou.

O governo provisório

Logo após a abdicação de Nicolau II, formou-se um governo provisório, presidido pelo príncipe Lvov mas liderado por Kerenski, um político que, na prática, mostrou-se conservador.
Já no início da sua gestão, o novo governo frustrou as expectativas populares, declarando que não retiraria a Rússia da Guerra e nem aprovaria a reforma agrária pretendida por milhões de camponeses.
Por causa disso, recomeçaram as lutas populares, mais uma vez lideradas pelos sovietes de toda a Rússia, coordenados pelo soviete de Petrogrado.
Vendo-se ameaçado, o governo provisório fez algumas concessões: instituiu o direito de livre expressão e associação, libertou os presos políticos e deu consentimento para que os exilados voltassem ao país.
Beneficiado por essa anistia, Lênin retornou do exílio em abril de 1917 e, no dia seguinte, expôs num congresso bolchevique as suas famosas Teses de Abril.
Nesse documento, ele afirmava que o governo provisório era imperialista e que, por isso, os sovietes deviam lutar para conquistar o poder imediatamente.
Ao mesmo tempo em que o exército russo sofria novos reveses no exterior, internamente o governo provisório não tomava providências para resolver os grandes problemas sociais. Conseqüência disso é que os bolcheviques foram ganhando força junto aos operários e camponeses.
Em outubro, tendo à frente Lênin e Trotsky – o organizador e comandante da Guarda Vermelha –, os bolcheviques ocuparam os principais edifícios públicos de Petrogrado e entregaram a chefia do governo a Lênin, que passou a exercer o cargo de presidente do Conselho de Comissários do Povo.

O governo de Lênin

Assim que assumiu o poder, o governo leninista adotou um conjunto de medidas de grande repercussão social:
- enviou imediatamente um pedido de paz aos alemães. Em 3 de março de 1918, pelo Tratado de Brest-Litovsk, assinou a paz com a Alemanha;
- efetuou a reforma agrária. Confiscou milhões de hectares de terra dos grandes proprietários e os distribuiu entre milhares de camponeses;
- nacionalizou bancos, indústrias e estradas de ferro. Várias dessas empresas passaram a ser controladas por representantes dos operários.

No entanto, os graves problemas que o novo governo teria de enfrentar estavam apenas começando.

A guerra civil

Em poucas semanas, os chamados russos-brancos, inimigos da revolução socialista, montaram um numeroso exército sob a liderança de antigos oficiais czaristas a fim de investir contra o governo bolchevique.
Para auxiliar os russos brancos, as grandes nações capitalistas, como Inglaterra França e Estados Unidos, desembarcaram topas em diversos pontos do território russo.
Disposto a resistir, os bolcheviques criaram o Exército Vermelho, cujo comando coube a Trotsky.
Em 1918, iniciou-se, então, uma sangrenta guerra civil, que se prolongou por três anos e foi vencida pelo Exército Vermelho.
Com a vitória sobre seus inimigos, os bolcheviques, organizados pelo Partido comunista, firmaram-se no poder.

A Nova Política Econômica

Depois de duas guerras consecutivas – uma externa e outra interna –, a economia encontrava-se fortemente abalada, registrando uma queda acentuada da produção agrícola e industrial.
Visando reerguer o país, Lênin adotou a Nova Política Econômica (NEP), um programa econômico que apresentava, ao mesmo tempo, medidas capitalistas e socialistas.

A NEP permitia que:
- as indústrias com menos de vinte funcionários funcionasse em regime de empresa privada;
- os camponeses comercializassem livremente as sobras de suas colheitas;
- os capitais estrangeiros entrassem No país sob a forma de empréstimo e de investimentos diretos.

O Estado socialista, por sua vez, reservava-se o direito de controlar o comércio exterior, a rede bancária, o sistema de transportes e comunicações e a indústria de base.
A Nova Política Econômica surtiu o efeito esperado e o país começou a se reerguer economicamente.
Em dezembro de 1922, um grande congresso, que reuniu diferentes povos do extinto Império Russo, decidiu fundar a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), federação cujo principal Estado era a Rússia.
Em 1924, com a morte de Lênin, assistiu-se na URSS a uma renhida luta pelo poder entre dois líderes bolcheviques: Trotsky e Stálin.

O governo de Stálin

Trotsky, organizador do Exército Vermelho, defendia a ideia de que era necessário expandir o socialismo para outros países. Segundo ele, se a Rússia ficasse isolada, as grandes nações capitalistas liquidariam a revolução socialista soviética.
Já Stálin afirmava que a URSS deveria primeiro se consolidar como nação socialista para, depois, influenciar outros países a fazerem sua revolução.
Stálin venceu a disputa e instalou-se no poder por quase trinta anos. Durante esse tempo, implantou uma ditadura brutal e policialesca.
A seu mando, milhares de cidadãos (entre eles centenas de líderes socialistas) foram fuzilados ou exilados nas terras frias da Sibéria.
No plano econômico, Stálin suprimiu a NEP e adotou os chamados planos quinquenais. Por meio deles, a União Soviética desenvolveu-se rapidamente, tornando-se uma grande potência mundial.


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