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Primeira Grande Guerra: choque de Imperialismos

 O cenário da guerra

Na preparação da Primeira Guerra Mundial participaram as potências imperialistas, cujo objetivo era a repartição do mundo, a fim de garantir matéria-prima, mercado consumidor e mão-de-obra para sua produção industrial.

A hegemonia alemã preocupava os capitalistas ingleses

Graças ao seu desenvolvimento industrial, a Inglaterra dominava a maioria dos mercados consumidores mundiais. Por sua vez, a Alemanha, logo após a unificação, entrou em grande desenvolvimento industrial e passou a disputar os mercados ingleses. A burguesia alemã lutava por uma nova divisão do mundo para consolidar o seu domínio. Além disso, o país cresceu nos mares, com uma grande frota de navios e várias companhias de navegação.
Para consolidar os seus intentos capitalista e expansionista, o governo alemão projetou a construção de uma estrada de ferro ligando Berlim a Bagdá. Tinha por finalidade o transporte de petróleo do golfo Pérsico aos mercados ocidentais. A Inglaterra se opôs a esse projeto porque traria dificuldades para o comércio com suas colônias.

O revanchismo Francês.


A perda dos territórios da Alsácia-Lorena, devido à derrota na Guerra Franco-Prussiana, prejudicou a economia francesa, que se viu privada das minas de ferro e carvão, fundamentais à sua indústria. Inconformados, os nacionalistas franceses pregavam o revanchismo e a recuperação dos territórios perdidos.

A crise do Marrocos

A disputa entre França e Alemanha pelo domínio de Marrocos, país ao norte da África, provocou diversas crises de1905 a 1911. a raiz dessas crises advinha do inicio do século XX, quando alemães, ingleses e franceses acordaram que teriam direitos iguais na exploração do Marrocos. Entretanto, em 1904, a França e a Inglaterra romperam esse acordo, ficando somente para os franceses a exploração marroquina, com o apoio dos ingleses, os quais dominaram o Egito.
Um ano após o acordo anglo-francês, o imperador alemão, Guilherme II, fez uma visita ao Marrocos e declarou que os alemães defenderiam aquela região, mesmo que tivessem que ir às armas. Essa declaração descontentou profundamente os franceses e os ânimos se acirraram. Finalmente, em 1911, a França anexou o Marrocos, porém, cedeu a Alemanha parte do congo francês.

Políticas de alianças e Paz Armada

As ambições imperialistas associadas o nacionalismo exaltado fomentavam todo um clima internacional de tensões e agressividade. Sabia-se que a guerra entre as grandes potências poderia explodir a qualquer momento. Diante desse risco, as principais potências trataram de prevenir-se, estimulando a produção de armas e fortalecendo seus exércitos. Foi o período da Paz Armada.
Característica desse período foi a elaboração de diversos tratados de aliança entre países. Cada qual procurava, por meio desses tratados, adquirir mais força para enfrentar o país rival.
Ao final de muitas e complexas negociações bilaterais entre governos, podemos distinguir na Europa, por volta de 1907, dois grandes blocos distintos:
A Tríplice Aliança – formada por Alemanha, Áustria e Itália.
A Tríplice Entente – formada por Inglaterra, França e Rússia.
Dessa forma, os focos de tenção e a disputa pela supremacia conduziram os países europeus à corrida armamentista. As crises balcânicas: o estopim da pólvora que detonou a “Paz Armada”.
A crise balcânica de 1914 desencadeou a guerra entre a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente. Vejamos os seus antecedentes.
Em 1906, a Áustria anexou os territórios da Bósnia e Herzegovina, impedindo o crescimento da Sérvia e a possibilidade de formação da Grande Sérvia, com vistas a obter uma saída para o mar Mediterrâneo. Esse fato acentuou a rivalidade entre a Áustria-Hungria e a Sérvia. Os sérvios passaram a se expandir para o sul, confrontando-se com o Império Turco. Essa expansão ocasionou guerras, entre 1911 e 1913, cujo resultado se constituiu no fortalecimento da Sérvia.
No início de 1914, os sérvios, triunfantes devido às sas vitórias nas guerras balcânicas, investiram novamente contra a Áustria, acirrando o nacionalismo dos eslavos do sul, povo dominado pelo Império Austro-Húngaro, na Bósnia e Herzegovina.
Como o movimento nacionalista dos eslavos apresentava-se incontrolável, o arquiduque Francisco Ferdinando – futuro governante do Império Austro-Húngaro – planejava transformar essa monarquia dual em tríplice, incluindo o reino eslavo. Os nacionalistas eslavos e os sérvios não apreciavam essa idéia, pois, se levada à prática, comprometia o nacionalismo separatista eslavo.
No dia 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando, já próximo de assumir o trono, em visita a Sarajevo, capital da Bósnia, foi assassinado com sua esposa. A responsabilidade do assassinato coube ao estudante bósnio Gabriel Princip, que pertencia a uma sociedade secreta da Sérvia – a Mão Negra. Um mês depois, a Áustria declarou guerra à Sérvia, que contou com o apoio da Rússia. O incidente de Sarajevo foi o estopim que desencadeou a Primeira Guerra.

Os primeiros instantes da Primeira Grande Guerra

O desdobramento do conflito nos Bálcãs acabou envolvendo também outros países europeus, numa autêntica reação em cadeia, provocada pela política de alianças.
A Itália, que pertencia à Tríplice Aliança, entrou na guerra ao lado da Entente, porque a Inglaterra havia-lhe prometido os territórios irredentos, que não conseguiu conquistar da Áustria desde o período da unificação. O Japão, interessado nas possessões alemãs no Oriente, aderiu aos aliados.

As principais fases da Guerra

As batalhas da Primeira Grande Guerra transformavam-na no primeiro grande conflito armado de repercussão mundial, devido ao envolvimento de várias nações europeias e americanas. Os episódios evidenciavam a mudança radical nas concepções e formas de guerrear. Pela primeira vez, os resultados do grande salto que as forças produtivas haviam dado, com a industrialização, foram utilizados para a destruição da humanidade. No final do conflito, havia o saldo de aproximadamente 10 milhões de mortos.
Geralmente costuma-se dividir a Primeira Grande Guerra em fases: Guerra de Movimentação, de Trincheiras e a 2a fase das movimentações.
- Guerra de Movimentação dos exércitos, quando as forças em conflito apresentavam um certo equilíbrio. Os países que compunham a Entente não possuíam canhões de longo alcance, mas, por outro lado, tinham domínio dos mares. Nesta fase, a Inglaterra decretou o bloqueio naval à Alemanha e aos seus aliados. Enquanto isso, a França conseguia deter o avanço alemão sobre Paris, na Batalha do Marne.
- Guerra das trincheiras, período de 1915 a 1917, quando os aliados tratavam de garantir as suas posições estratégicas, neutralizando as táticas inimigas. A indústria armamentista cresceu, proliferando novas armas como as metralhadoras, os lança-chamas e os projéteis explosivos. Além disso, novos recursos foram utilizados, como o avião e o submarino.
- Guerra de movimentação (2a fase), período de 1917 a 1918. A partir de 1917 ocorreram alterações significativas, que definiram o fim da Grande Guerra: a Rússia retirou-se do conflito mundial, devido à Revolução Socialista que ocorreu no país; os Estados Unidos entraram no conflito, ao lado da Entente, porque temiam a perda de seus investimentos na Europa. Usaram como pretexto o afundamento de navios norte-americanos por alemães e os ataques dos submarinos alemães contra o bloqueio naval inglês, dirigidos também aos países neutros que abasteciam os aliados da Entente.
Com a saída da Rússia, as potências centrais, Alemanha e Império austro-húngaro, puderam lançar toda a sua ofensiva contra a França. Reagindo a essa ameaça, os aliados enviaram uma maciça ajuda militar aos franceses, o que levou ao recuo das tropas alemãs. Os aliados ocuparam, então, a França e a Bélgica. Era o começo do fim! A vitória da Grã-Bretanha e de seus aliados era exemplo de sua supremacia econômica e acesso às fontes primarias, necessárias às armas. Além disso, a sua superioridade naval definiu o término da guerra.
A Alemanha já sofria um profundo desgaste e os primeiros sinais de crise econômica evidenciavam-se e recheavam os discursos dos socialistas alemães, responsáveis por várias manifestações em Berlim. Em 1918, Guilherme II, bastante enfraquecido, abdicou e foi proclamada, em 9 de novembro, a República de Weimar (que durou até 1933), liderada pelo parido Social-Democrata. O novo governo decidiu assinar o armistício de Compiègne, em 11 de novembro de 1918, pelo qual os alemães foram obrigados a desocupar o território ocidental europeu, entregar o material de guerra pesado, libertar os prisioneiros e pagar indenizações.

O triunfo dos aliados

O armistício de Compiègne significou a derrota da burguesia industrial e a falência dos banqueiros alemães. Para sacramentar o êxito sobre os inimigos, no principio de 1919 aconteceu a Conferência de Paris, onde as potências vencedoras - a Entente e os seus aliados – se reuniram para impor pesadas penas aos derrotados. A Conferência foi liderada por Lloyd George, representante inglês, Clemenceau, francês, e Woodrow Wilson, presidente dos Estados Unidos. Da conferência surgiu, no dia 28 de junho de 1919, o Tratado de Versalhes, fruto dos interesses das potências hegemônicas vencedoras, composto de 440 artigos, os quais obrigavam a República de Weimar a:
- Restituir a região de Alsácia-Lorena à França;
- Ceder as regiões ocupadas à Bélgica, Dinamarca e Polônia;
- Entregar as minas de carvão da região do Sarre à França;
- Desmilitarizar a região da Renânia, limítrofe entre a Bélgica e a França, cujo objetivo era evitar possíveis agressões futuras. Nesse sentido, os alemães deviam entregar a maioria dos navios mercantes à França, à Inglaterra e à Bélgica;
- Indenizar os aliados da Entente, numa astronômica cifra de 33 milhões de dólares, visto que a Alemanha foi considerada a única responsável pela guerra;
- Ceder uma faixa de terra à Polônia, o Corredor Polonês, que lhe permitiu acesso ao mar.
O povo alemão considerou injustas, vingativas e humilhantes as condições impostas pelo Tratado de Versalhes, pois perdia 2/10 da população ativa, 1/6 das terras cultiváveis, 2/5 do carvão, 2/3 do ferro e 7/10 do zinco, gerando problemas econômicos sérios ao governo republicano de Weimar.
Durante a Conferência de Paris, o presidente Wilson apresentou à opinião pública internacional os “Quatorze Pontos”, propondo a paz onde não houvesse vencidos nem vencedores, portanto, um projeto utópico, altamente liberal entre o capitalismo selvagem e monopolista.
O resultado dos Quatorze Pontos foi a criação, em 1919, da Sociedade das Nações, com sede em Genebra, na Suíça, que tinha por finalidade a manutenção da Paz Mundial. Porém, essa liga fracassou, pois lhe faltava poder coercitivo contra os países ricos, capitalistas e agressores, e também porque havia conflitos de interesses entre os países integrantes da liga. Mais tarde, os Estados Unidos saíram da Liga das Nações, pois o Senado norte-americano não quis ratificar o Tratado de Versalhes.
No biênio 1919-1920, as potências vencedoras procuravam ajustar o espaço geográfico oriental da Europa à nova realidade e aos interesses capitalistas. Foram assinados os seguintes tratados de paz que corroboravam o caráter imperialista da Guerra:

Os efeitos da primeira grande guerra

- A Europa perdeu 10 milhões de homens e ficou com 40 milhões de inválidos.
- Os campos destruídos afetaram a produção agrícola, portos e estradas arrasados prejudicaram o comércio e as cidades ficaram arruinadas.
- A ascensão dos Estados Unidos, como nação mais poderosa do mundo ocidental, devido aos enormes lucros obtidos com a guerra. O Império Britânico entrou em declínio econômico. Os impérios aristocráticos (Autro-Húngaro, Alemão, Russo e Turco) desapareceram, a as dinastias da Áustria e da Alemanha caíram.
- O aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho durante o período da guerra ocasionou o movimento em prol da adoção do voto feminino, logo após o término do conflito.
- O desemprego se acentuou nos países europeus.
- O abalo do liberalismo econômico. O capitalismo liberal experimentou uma profunda crise e cedeu ao intervencionismo, onde alguns governos passaram a controlar, cada vez mais, as economias nacionais. Ocorreu a progressiva degradação dos ideais liberais e democráticos.
- O avanço das ideias socialistas, consagradas pela Revolução Russa de 1917.
- O avanço e o fortalecimento dos nacionalismos, que se tornaram radicais na Itália, na República de Weimar, na Espanha e em Portugal.


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