domingo, 24 de setembro de 2023

Os árabes e o islamismo

Mundo islâmico

A civilização árabe desenvolveu-se na Península Arábica, localizada no sudoeste da Ásia. É uma região de clima quente e seco, onde desertos ocupam 80% do território. Enquanto o Império Romano do Oriente lutava para manter vivas a cultura e as tradições helenísticas, um povo de pastores semitas mudava o curso da História.

Mobilizados pelo profeta Maomé, entraram em choque com a civilização bizantina e com os novos reinos da Europa ocidental. Os muçulmanos construíram a civilização mais brilhante da Idade Média, assimilando o patrimônio cultural dos povos do Oriente Médio e do Extremo Oriente.  Atualmente, o islamismo conta com milhões de seguidores em todo o mundo.

A península dos árabes

A Arábia é um imenso deserto de pedras e areia. Seus escassos habitantes se fixaram na costa do mar Vermelho e nos oásis do interior. A península Arábica era habitada por tribos de beduínos semitas, da mesma origem dos judeus, fenícios e assírios.

Os beduínos da Arábia eram pastores de rebanhos de cabras e camelos. Sua principal atividade era o comércio entre os oásis do interior e o litoral. Nas aldeias, tais como Meca e Yatrib, cultivavam a terra.

Islão

A história da Arábia costuma ser dividida em duas grandes fases:

• Arábia pré-islâmica – período anterior à fundação do islamismo.

• Arábia islâmica – período caracterizado pelo islamismo.

Arábia pré-islâmica 

Viviam na península Arábica diversos povos semitas, destacando-se os:

• Árabes beduínos – povos seminômades que vagavam pelos desertos. Organizados em tribos, dedicavam-se á criação de animais (ovelhas, cabras, camelos);

• Árabes urbanos – povos sedentários que habitavam as cidades próximas ao litoral. Dedicavam-se sobretudo ao comércio, sendo responsáveis pelas caravanas de camelos que transportavam produtos do Oriente para as regiões do mar Mediterrâneo.

Até o século VII, os árabes não formavam um Estado único. Na Península Arábica, grupos de famílias (ou clãs) viviam sob a liderança de alguns homens mais velhos, chamados xeiques. Os diversos clãs compartilhavam laços culturais e de parentesco. Todos tinham elementos comuns, como o idioma (árabe), com variações regionais, e as crenças religiosas. Eram politeístas e adoravam cerca de 360 divindades.
Numa tentativa de dar maior unidade às diversas tribos árabes, foi construído na cidade de Meca um templo religioso, a Caaba (‘casa de Deus’), que reunia as principais divindade de toda a Arábia. Na Caaba encontra-se a pedra negra (pedaço de meteorito), que acreditam ter sido trazida do céu pelo anjo Gabriel.

Devido ao templo, Meca tornou-se o centro religioso e comercial dos árabes, pois a cidade transformou-se em ponto de encontro de pessoas e mercadorias de diversas regiões.

Arábia islâmica

A construção de um Estado árabe ocorreu com a criação do islamismo. A religião islâmica é monoteísta e foi fundada por Maomé (570-632). Os seguidores do islamismo são chamados muçulmanos (do árabe muslim, que significa “entrega a Deus”). Quando jovem, Maomé era um comerciante de Meca. Em suas viagens pela Península Arábica, ele entrou em contato com adeptos do cristianismo e do judaísmo.
Segundo a tradição muçulmana, o anjo Gabriel apareceu a Maomé e revelou que ele era um emissário de Alá (em árabe, “o Deus”). Maomé, então, iniciou suas pregações religiosas. Dizia que as várias divindades cultuadas na Caaba deveriam ser destruídas e que Alá era o único Deus criador do universo. Isso provocou a reação dos sacerdotes de Meca, que eram politeístas e tinham interesses em manter a cidade como centro religioso e comercial dos árabes.

Devido a suas pregações, Maomé foi obrigado a fugir de Meca para Yathrib (posteriormente denominada Medina, ‘a cidade do profeta’), em 622. esse episódio, conhecido como hégira, marca o início do calendário muçulmano.

Formação da Arábia islâmica

Em Medina, Maomé e seus seguidores difundiram o islamismo e construíram a primeira mesquita de que se tem notícia. Também organizaram um exército formado por fiéis.

Em 630, esse exército conquistou Meca e destruiu os ídolos da Caaba. Esse templo tornou-se um local de orações para Alá, e a Pedra Negra foi preservada e incorporada à tradição islâmica e a crença politeísta foi proibida. O islamismo difundiu-se por toda a Arábia, e seus habitantes foram se unificando em torno da nova religião. Foi por meio dessa identidade religiosa que surgiu o primeiro Estado muçulmano.

A partir daí, Maomé expandiu o islamismo por toda a Arábia, unificando as diversas tribos em torno da religião. Assim, através da identidade religiosa, criou os árabes uma nova organização política e social.

Doutrina islâmica:
A submissão a Alá 

O Islamismo prega a submissão total do homem à vontade de Alá, o Deus único, criador de todo universo. Essa submissão é chamada de Islão, e aquele que tem fé em Alá é denominado muçulmano (do árabe muslim).

Os princípios básicos do Islamismo estão contidos nas seguintes regras fundamentais:

• Crer em Alá, o Deus único, e em Maomé, o seu grande profeta.

• Fazer cinco orações diárias.

• Ser generoso para com os pobres e dar esmolas.

• Cumprir o jejum religioso durante o Ramadã (mês do jejum).

• Ir em peregrinação a Meca, pelo menos uma vez na vida. 

Alcorão 

As revelações feitas por Alá a Maomé foram reunidas por seus discípulos no livro sagrado Alcorão (‘a leitura’). Segundo o Corão, a recompensa para os bons e o castigo para os maus virão no dia do Juízo Final. Os maus irão para o inferno e os bons, para o paraíso, onde permanecerão por toda a eternidade.

Além de orientações puramente religiosas, o alcorão que contribui para a preservação da ordem social e dos interesses dos grandes comerciantes. Proíbe, por exemplo, que os fiéis comam carne de porco, consumam bebida alcoólica, pratiquem jogos de azar. O roubo é severamente punido. A poligamia e a escravidão são permitidas.
O Corão também proibiu os muçulmanos de escravizar outra pessoa da mesma religião. Por isso, a partir do século VII, os escravizados que se convertiam ao islamismo eram libertados. No entanto, a escravidão continuou a existir entre os árabes. Eles passaram a escravizar não muçulmanos, como os negros da África ao sul do Saara.

Maomé

Maomé nasceu em Meca em 570. Era pastor e cuidava de caravanas de camelos. A tradição conta que Maomé recebeu uma revelação do Arcanjo Gabriel, segundo a qual Alá o escolhera para pregar a mensagem de salvação entre seus irmãos árabes: o Islã, que significa a “submissão à vontade divina”.


Maomé e a construção da mesquita

Os ensinamentos de Maomé fortaleceram os laços familiares entre os árabes. A mulher deixou de ser escrava para tornar-se companheira. A poligamia, o costume de manter muitas mulheres, teve seu limite fixado em quatro esposas.

Os sunitas e os xiitas 

Após a morte de Maomé, a religião islâmica não conseguiu manter-se plenamente unificada. Dividiu-se em diversas seitas, dentre as quais destacam-se a dos sunitas e xiitas.

As principais diferenças, no plano religioso e político, que separam os sunitas dos xiitas são: 

Sunitas – defendem que o chefe do Estado muçulmano (califa) deve reunir sólidas virtudes (honra, respeito pelas leis, capacidade de trabalho), mas não acham que ele deve ser infalível ou implacável em suas ações. Além do Alcorão, aceitam como fonte de ensinamentos religiosos as Sunas, livro que reúne o conjunto de tradições recolhidas com os companheiros de Maomé.

Xiitas – defendem que a chefia do Estado muçulmano só pode ser ocupada por alguém que seja descendente do profeta Maomé ou com ele aparentado. Acreditam que o Corão é a única fonte sagrada da religião e afirmam que os aiatolás, chefes das comunidades islâmicas, são inspirados diretamente por Alá e que os fiéis lhe devem obediência absoluta. Atualmente, a maioria dos seguidores do xiismo encontra-se no Irã, no Iraque e no Iêmen. Nas demais regiões do mundo islâmico, predominam os seguidores do sunismo (aproximadamente 84% dos atuais muçulmanos).

EXPANSÃO ÁRABE
Formação do Império Islâmico

Com a morte do profeta, seu sogro, Abu-Beker, se proclama califa, palavra que significa sucessor, e governa em nome do profeta. O califa era um misto de chefe político e religioso. Tinha como missão preparar os árabes para a conquistada Terra. Abu-Beker foi sucedido pelo califa Omar. Durante seu governo de onze anos, deu-se o início da expansão muçulmana. Guerreiros do Islã atacaram a Pérsia e o Império Bizantino, ambos debilitados por lutas internas.        

São várias as razões dessa expansão. Entre elas, destacam-se:

- a busca de terras férteis;

- o interesse na ampliação das atividades comerciais;

- as guerras santas contra os “infiéis”, ou seja, a luta para difundir e preservar o islamismo.

Fases da expansão

        As grandes etapas da expansão muçulmana foram:

Primeira etapa (632-661) – período dos califas eleitos que sucederam Maomé. Conquistas da Pérsia, da Síria, da Palestina e do Egito.

Segunda etapa (661-750) – período da dinastia dos califas Omíadas. A capital foi transferida para Damasco. Conquistas, por exemplo, do noroeste da China, do norte da África e de quase toda a península Ibérica. O avanço árabe (ou serracenos) ao Reino Franco foi barrado por Carlos Martel, na Batalha de Poitiers, em 732.

Terceira etapa – (750-1258) – período da dinastia dos califas Abássidas, marcado pela ascensão dos persas rumo ao mundo islâmico. Nessa fase, a capital foi transferida para Bagdá. As conquistas muçulmanas ainda avançaram pela Europa, na parte sul da península Itálica.

Relacionamento com os povos conquistados

O vasto Império Muçulmano era composto por uma grande variedade de povos. Os árabes procuraram relacionar-se com esses povos conquistados de uma maneira prática e, tanto quanto possível, pacífica. Não obrigavam os povos conquistados a aderir ao islamismo, apenas impunham o pagamento de tributos à administração árabe (o imposto do infiel). Quando esses povos eram submetidos às autoridades muçulmanas, costumava-se respeitar a cultura e os costumes locais. Se houvesse, porém, resistência à dominação árabe, o tratamento era rude e impiedoso.

Diversificação econômica

Nas regiões conquistadas, os muçulmanos desenvolveram uma produção agrícola variada graças à construção de grandes obras de irrigação, que tornaram produtivas terras antes estéreis e empobrecidas. Cultivavam lavouras adaptadas ao clima de cada região e destinadas à produção de trigo, algodão, arroz, linho, cana-de-açúcar, espinafre, café, oliveira, laranja e outros produtos.

Ao mesmo tempo em que ampliavam seus territórios, os muçulmanos expandiam a atividade comercial, dominando as grandes rotas, desde as regiões da atual Índia até a península Ibérica.

Viajantes do mar e da terra, os muçulmanos realizaram negócios em diferentes regiões do mundo. Navegavam constantemente pelo mar Mediterrâneo, oceano Índico, mar Vermelho e golfo Pérsico, detendo assim, o controle do comércio entre Oriente e Ocidente. Por terra, percorriam, em caravanas de camelos, regiões da África, Índia, China e Rússia.

Também se tornaram habilidosos comerciantes, criando diversos instrumentos jurídicos para a realização dos negócios: cheques, letras de câmbio, recibos e sociedades comerciais.

O intenso comércio muçulmano foi acompanhado de significativo desenvolvimento da produção artesanal, responsável por grande parte dos artigos comerciais. Em Bagdá (no atual Iraque), por exemplo, produziam-se joias, vidros, cerâmicas e sedas; em Damasco (na atual Síria), destacou-se a produção metalúrgica de armas e ferramentas, além de seu famoso tecido de seda e linho; em Toledo (na atual Espanha), produziam-se ótimas espadas, cobiçadas pelos cavaleiros medievais. 

Declínio do império

A partir do século VIII, o poder central nos vários territórios conquistados pelos muçulmanos passou a enfrentar crises internas, provocadas, em sua maior parte, pelas rivalidades entre os califas. Essas disputas levaram ao desmembramento do Império Islâmico e à formação de Estados muçulmanos independentes, como o de Córdoba (na atual Espanha) e o do Cairo (no atual Egito).

No plano externo, os árabes enfrentaram a reação de povos conquistados. Na península Ibérica, por exemplo, os cristão uniram-se para expulsá-los de seus territórios. Já no Oriente, entre os séculos XIII e XV, uma série de povos invasores acabou conquistando os territórios dominados pelos árabes.

No entanto, o islamismo manteve seu predomínio em grande parte dos novos Estados que surgiram com o fim do Império Islâmico.        Atualmente, países de diferentes regiões do mundo – como o norte da África, parte da Ásia e o sudoeste da Europa – são islâmicos.

Cultura árabe
Difusão de descobertas e conhecimentos

Durante a Idade Média, os árabes assimilaram e reelaboraram produções culturais de diversos povos, criando, ao mesmo tempo, uma cultura rica e singular.

Em muitas situações, eles difundiram aspectos econômicos e culturais do Oriente e do Ocidente. Foi, por exemplo, por intermédio deles que chegaram à Europa inventos dos povos orientais, como a bússola, a pólvora e o papel. E também muitos textos da Antiguidade Clássica, como as obras de Aristóteles.

Na ciência, podemos destacar contribuições árabes nas seguintes áreas:

Matemática – introduziram os algarismos hindus, que ficaram conhecidos como algarismos arábicos, e o numeral zero. Além disso, desenvolveram a álgebra e a trigonometria;

Medicina – descobriram técnicas cirúrgicas e revelaram as causas de doenças contagiosas, como a varíola e o sarampo;

Química – descobriram substâncias como o ácido sulfúrico, o salitre e o álcool, além de desenvolverem o processo de utilização de diversos elementos químicos.

A expansão islâmica também levou à difusão do idioma árabe, que era a “língua oficial” do mundo islâmico. Por isso, diversos idiomas contam com muitas palavras de origem árabe, como, no caso do português, as palavras arroz, café, algarismo, álgebra, álcool, frango, sorvete, jarra, alface, azeite, tarifa, açúcar, entre tantas outras.

Arte

A literatura foi marcada pela ampla influência dos contos e das fábulas maravilhosas, destacando-se obras como As mil e uma noites, Rubayat e As aventuras de Simbad, o marujo. Nessas narrativas, encontramos a presença de elementos culturais de diversos lugares, como o Egito, a Pérsia e a Índia.

A arquitetura teve como obra mais representativa as mesquitas (templos religiosos), que utilizavam como elementos os minaretes (imponente torres, as cúpulas douradas, os arcos em ferradura e uma esplendorosa decoração baseada em motivos geométricos ou vegetais, denominada arabescos.

A escultura e a pintura receberam pouca atenção dos muçulmanos, devido a severa proibição religiosa da idolatria, que desaconselhava a reprodução de figuras humanas em estátuas ou em quadros. Disso decorre a grande utilização de arabescos, com suas composições estilizadas, muito empregados na brilhante tapeçaria árabe.

Nem todo muçulmano é árabe

Atualmente, o islamismo é a segunda maior religião do mundo em número de seguidores. São mais de 1 bilhão e 300 milhões de muçulmanos em cerca de 75 países. Isso representa aproximadamente 20% da população mundial.

Muita gente pensa que todos os muçulmanos são árabes (habitantes da Península Arábica ou falantes da língua árabe), mas não é bem assim. Embora o islamismo tenha surgido na Península Arábica, atualmente apenas uma pequena parcela dos muçulmanos do mundo é árabe.

  

 

Império Bizantino

A capital do Império Romano do Oriente era Constantinopla, que foi fundada no lugar onde existia a antiga colônia grega de Bizâncio, por isso o império ficou conhecido também como “Império Bizantino”.

Constantinopla
Cidade entre dois continentes

Devido à crise que afetava sobretudo a porção Ocidental do Império Romano, o imperador Constantino, em 330, transferiu a capital do Império Romano para Bizâncio, cidade fundada por marinheiros gregos em 657 a.C.  Situada na passagem do mar Egeu para o mar Negro, Bizâncio era um importante entroncamento das rotas comerciais que interligavam os dois continentes (Europa e Ásia).

Constantino reuniu arquitetos, engenheiros e artesãos para remodelar a cidade, ordenando a construção de novas estradas, casas, igrejas, muralhas e outras edificações. Essas obras, iniciadas em 324, prolongaram-se até 330, e a cidade foi inaugurada com o nome de Nova Roma. Para a população, contudo, a cidade passou a se chamar Constantinopla, em homenagem a seu fundador, e ficou conhecida por esse nome até o século VII, quando voltou a ser designada por seu antigo nome grego: Bizâncio.

A Era de Justiniano

Desde a divisão do Império Romano (395), os imperadores do Ocidente e do Oriente encontravam dificuldades para governar, devido, principalmente, a ameaça das invasões bárbaras. Foi somente no século V, durante o governo de Justiniano (527-565), que o Império Bizantino se tornou mais bem estruturado e se expandiu para reconquistar territórios que haviam pertencido ao Império Romano, Justiniano promoveu campanhas militares, combatendo germanos, persas e eslavos.

Tantas guerras trouxeram grandes despesas: era preciso pagar os soldados, fornecer armas para o exército e sustentar seu abastecimento. Para cobrir esses gastos, os governantes cobravam altos impostos da população.

Como na “velha” Roma, a população pobre de Constantinopla recebia alimentos gratuitamente e se divertia, por exemplo, assistindo às corridas de cavalos no hipódromo. Essas diversões serviam, também, para aliviar as tensões dos grupos sociais descontentes.

Os trabalhadores livres eram mal remunerados, e a moradia tinha preços elevados, obrigando muitas pessoas a viverem pelas ruas da cidade. Mesmo assim, as condições de vida eram consideradas melhores em Constantinopla do que em outras cidades do império.

Em 532, explodiu nessa cidade uma violenta revolta, fruto da insatisfação popular com a opressão geral dos governantes e os elevados tributos – cobrados da população para sustentar os gastos militares e as demais despesas com a administração do império.

A revolta começou, de forma inesperada, no hipódromo, um dos poucos locais públicos onde a população podia entrar em contato mais direto com as autoridades máximas do governo.

Terminada uma disputada corrida de cavalos, houve dúvida sobre quem vencera a competição. O imperador, presente no hipódromo, quis intervir para escolher o vencedor. A multidão. A multidão, dividida entre grupos rivais (as facções políticas dos azuis e dos verdes), gritava nika, nika (vitória, em grego).

As tensões sociais, até então contidas, extravasaram num movimento de protesto contra as injustiças. Do hipódromo, o conflito ganhou as ruas da cidade e adquiriu o caráter de rebelião contra o governo. Durante seis dias, a capital foi pilhada e incendiada. Tropas imperiais foram reunidas para reprimir a revolta, que resultou na morte de quase 35 mil pessoas.

Revolta de Nika

O Hipódromo de Constantinopla era uma grande arena com capacidade para, aproximadamente, 50 mil pessoas. Lá eram realizados espetáculos teatrais, festas populares e corridas de cavalo. Era um dos poucos lugares públicos onde a multidão tinha certo contato com o imperador, que comparecia frequentemente aos espetáculos.

No hipódromo, dois grandes grupos rivais se reuniam e expressavam suas reivindicações ao imperador. Eram os Verdes, do qual participavam comerciantes e artesãos, e os Azuis, compostos sobretudo de aristocratas rurais. Esses grupos mantinham variadas disputas políticas, esportivas e religiosas. Segundo historiadores, eles se pareciam com as atuais “torcidas organizadas”.

Em 532, o hipódromo estava lotado de torcedores Verdes e Azuis. Após uma corrida de cavalos, houve dúvida sobre quem teria vencido a disputa. O imperador Justiniano estava presente e quis escolher o vencedor. Mas os grupos políticos, que estavam divididos entre os dois competidores, começaram a gritar: Nika! Nika! (“Vitória! Vitória!”, traduzido do grego). Cada grupo desejava que seu competidor favorito fosse o vitorioso.

A confusão do jogo tornou-se um violento protesto popular. Do hipódromo, o conflito foi para as ruas e se transformou em uma rebelião com saques, destruições e incêndios. Justiniano pensou em fugir, mas desistiu depois de ouvir os conselhos de sua esposa, Teodora. Ele mandou reprimir os revoltosos, massacrando cerca de 35 mil pessoas.

O estopim da Revolta de Nika ocorreu durante um espetáculo esportivo. No entanto, as causas da revolta eram amplas e profundas. Quando analisadas, revelam, por exemplo, a insatisfação popular em relação aos altos impostos cobrados pelo governo.

O Código de Justiniano

Durante o governo de Justiniano, os juristas bizantinos assimilaram muitos aspectos do antigo Direito romano, adaptando-os às necessidades de uma nova sociedade marcada pelo cristianismo. Esse trabalho deu origem ao corpus juris civilis, uma extensa obra constituída de leis, decretos, normas e códigos, entre eles o chamado Código de Justiniano.

Ao longo do tempo, o Código serviu de referência para a legislação de muitos países ocidentais, como França, Alemanha, Portugal e Brasil.

Economia e sociedade
O controle do Estado

A agricultura e o pastoreio eram atividades fundamentais na economia bizantina. No entanto, a produção de alimentos não era suficiente para atender satisfatoriamente às necessidades da maioria da população. Ao lado da produção agropastoril, o comércio bizantino era uma das principais atividades econômicas do império. Essa atividade era favorecida pela localização de Constantinopla, pois a cidade ficava no caminho de rotas comerciais que ligavam a Europa à Ásia.

Entre os produtos comercializados, podemos citar perfumes, tecidos de seda, porcelanas e peças de vidro – artigos de luxo asiáticos acessíveis à população mais rica da Europa, do Oriente Médio e do norte da África.

No entanto, apesar da importância do comércio, a agricultura era a atividade fundamental da economia bizantina. A maior parte da produção agrícola vinha das grandes propriedades agrárias (os latifúndios), que pertenciam, em sua maioria, aos mosteiros e à nobreza fundiária (proprietária de terras), esta última formada por militares que haviam recebido terras como recompensa por serviços prestados ao imperador. Quase todo o trabalho era feito pelos servos, que dependiam da terra para viver.

O comércio contribuiu para que a vida urbana no Império Bizantino fosse dinâmica. Sua principal cidade Constantinopla, chegou a ter cerca de um milhão de habitantes, seguidas por outras cidades importantes, como Tessalônica, Nicéia, Edessa e Tarso.

Nelas viviam grandes comerciantes, donos de oficinas artesanais, membros do alto clero e destacados funcionários do governo – pessoas que utilizavam artigos de luxo, como vasos de porcelana, tapeçarias e roupas finas de lã e seda ornamentadas com fios de ouro e prata. Além dessa elite, também viviam nas cidades outros grupos sociais, constituídos de artesãos, funcionários de médio e baixo escalão e pequenos comerciantes. Entretanto, a maior parte da população do Império Bizantino era composta de trabalhadores pobres, em sua maioria vivendo no campo.

Por meio de seus funcionários, o governo bizantino controlava as atividades econômicas artesanais e comerciais, supervisionando a qualidade e a quantidade da produção. O objetivo dessa intervenção estatal era controlar os preços e o abastecimento das cidades. A produção estava distribuída em corporação de ofício, formadas por oficinas de um mesmo ramo, como carpintaria, tecelagem ou sapataria, por exemplo.

A vida em Constantinopla era considerada mais confortável do que em outras cidades bizantinas. No entanto, essa condição não era desfrutada por todos. Os trabalhadores livres que ganhavam pouco, por exemplo, nem sempre conseguiam comprar roupas e pagar por uma moradia. Muitos viviam pelas ruas de forma miserável.

Cesaropapismo e ruptura cristã

Justiniano e seus sucessores procuram, por meio da religião, impor sua autoridade e firmar a unidade política do império. Nesse contexto, os imperadores apresentavam-se como os principais representantes de Deus na terra, cabendo-lhes proteger a Igreja e dirigir o Estado. Assim, os imperadores foram chamados. “Vice-reis do Todo-Poderoso”; as suas ordens eram consideradas “ordens celestes” e seu palácio era o “palácio sagrado”.

Se Deus era o centro do Universo, o imperador, como seu representante, devia ser o centro do Estado e da religião, governando os assuntos humanos em nome de Deus. Essa união de poderes (estatal e religioso) é chamada de cesaripapismo ou cesaropapismo, isto é, o comando do Estado e a proteção da Igreja, nas mãos do imperador (que passou a ser chamado de basileu).

O relacionamento entre a Igreja Católica Romana e o Estado Bizantino não foi, porém, pacífico. Houve, ao longo do tempo, depois do reinado de Justiniano, uma série de conflitos teológicos e políticos entre os partidários dos imperadores bizantinos e a hierarquia católica comandada pelos papas. Esses conflitos culminaram, em 1054, com o Grande Cisma do Oriente. O mundo cristão dividiu-se em duas grandes igrejas: de um lado, a Igreja Católica do Oriente, conhecida como Igreja Ortodoxa, com sede em Constantinopla e chefiada pelo patriarca da cidade; de outro, a Igreja Católica Apostólica Romana, com sede em Roma e comandada pelo papa.

Religião e cultura
Integração do Oriente com o Ocidente

A língua predominante em Constantinopla era o grego. Mas o império agrupava povos de diferentes origens, como egípcios, gregos, persas, eslavos e judeus. Essa variedade de povos influenciou a produção cultural bizantina, que mesclou elementos como o idioma grego, a religião cristã, o Direito romano, o gosto pelo requinte oriental, a arquitetura de inspiração persa etc.

No Império Bizantino, a religião oficial era o cristianismo. A Igreja Cristã do Oriente exercia influência sobre diversos setores da sociedade: fundamentava o poder imperial, absorvia boa parte dos recursos econômicos e estava presente em grande parte da vida cotidiana.

A Igreja Cristã do Oriente tinha, entre seus líderes, o patriarca de Constantinopla, que era uma das principais autoridades da hierarquia eclesiástica. Em termos práticos, a autoridade do patriarca subordinava-se ao poder do imperador bizantino, considerado protetor da Igreja e principal representante da fé cristã.

O mundo bizantino foi bastante marcado pelo interesse nas questões religiosas. Gregório de Nissa, um dos padres da Igreja do século IV, deixou registrado que, em todo os lugares de Constantinopla, encontravam-se pessoas envolvidas em debates teológicos. Entre as mais famosas questões debatidas, destacavam-se:

• o monofisismo – doutrina que afirmava que Cristo tinha somente a natureza divina. Sua natureza humana, como alegava a Igreja Católica Romana, era negada.

• a iconoclastia – doutrina que repudiava as imagens dos santos, condenando sua utilização nos templos.

Crise do Império
A conquista de Constantinopla pelos turcos

Uma série de ataques externos foi enfraquecendo a administração central do Império Bizantino. Como consequência, muitos territórios conquistados no século VI acabaram perdidos para exércitos inimigos. Foi somente nos séculos X e XI que o Império Bizantino recuperou parte desses territórios, e Constantinopla voltou a ser sede de importante comércio. A administração tornou-se mais eficaz, a economia estabilizou-se e as fronteiras entre Europa, Ásia e norte da África foram fortalecidas, conferindo mais segurança ao império. A prosperidade durou alguns séculos e deixou suas marcas mais profundas no campo da arte.

Finalmente, depois de onze séculos de existência, bizâncio foi conquistada pelos turcos otomanos, em meados do século XV.

Uma das principais consequências da conquista de Constantinopla pelos turcos foi a migração de intelectuais bizantinos para a península Itálica, levando muitos conhecimentos da cultura clássica, preservada no Império Bizantino. Esse fato teve influência no movimento conhecido como Renascimento. Outra consequência importante do domínio turco sobre Constantinopla foi o aumento nos preços e nos tributos cobrados dos comerciantes europeus que compravam ali mercadorias provenientes da Ásia. Esse fato estimulou europeus ocidentais – como portugueses e espanhóis – na busca de um novo caminho até os fornecedores orientais, contribuindo para o movimento das Grandes Navegações.

A conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453 é um marco tradicionalmente utilizado para assinalar o fim da Idade Média.

CIVILIZAÇÃO BIZANTINA

No passado, ela era conhecida como Constantinopla, o principal centro econômico político do que havia sobrado do Império Romano. Foi edificada na cidade grega de Bizâncio, entre os Mares Egeu e Negro, pelo imperador Constantino. (aí o motivo do nome da cidade ser Constantinopla).

Com uma localização tão estratégica, logo foi tornada na nova capital do império. Por estar entre o Ocidente e o Oriente, desenvolveu um ativo e próspero comércio na região, além da produção agrícola, fazendo com que se destacasse do restante do império romano, que estava parado e na crise.

O Império Romano do Oriente tinha por base um poder centralizado e despótico, junto com um intenso desenvolvimento do comércio, que serviu de fonte de recursos para enfrentar as invasões bárbaras. Já  a produção agrícola usou grandes extensões de terra e trabalho de camponeses livres e escravos.

O Império Romano do Oriente ou Império Bizantino conseguiu resistir às invasões bárbaras e ainda durou 11 séculos.

A mistura de elementos ocidentais e orientais só foi possível devido a intensa atividade comercial e urbana, dando grande esplendor econômico e cultural. As cidades tornaram-se bonitas e luxuosas, a doutrina cristã passou a ser mais valorizada e discutida em detalhes entre a sociedade.

De início, os costumes romanos foram preservados. Com direito a estrutura política e administrativa, o idioma oficial foi o latim. mas depois tudo isso foi superado pela cultura helenística(grega-asiática). Com esse impulso o grego acabou se tornando o idioma oficial, no séc. VII.

Um forte aspecto da civilização bizantina foi o papel do imperador, que tinha poderes tanto no exército como na igreja, sendo considerado representante de Deus na terra, (não muito diferente de outras civilizações). o mais destacado imperador foi: Justiniano.

Era de Justiniano (527-565)

Depois da divisão do império romano, pelo imperador Teodósio em 395, dando a parte ocidental para seu filho Honório e a parte oriental para o outro Arcádio. Com essa divisão, criou-se muitas dificuldades entre os imperadores para manter um bom governo, principalmente devido as constantes invasões bárbaras. Por isso no século V, com o imperador Justiniano que o Império Bizantino se firmou e teve seu apogeu.

Com Justiniano, as fronteiras de império foram ampliadas, com expedições que foram até à Península Itálica, Ibérica e ao norte da África. claro que com tantas conquistas houve muitos gastos! Logo já que os gastos aumentaram, os impostos também e isso serviu de estopim para estourar diversas revoltas, da parte dos camponeses, que sempre ficava com a pior parte- ou o pagamento de impostos abusivos ou o trabalho pesado.

Uma destas, foi a Revolta de Nika, em 532, mas logo foi suprimida de maneira bem violenta pelo governo. Com a morte de 35 mil pessoas.

Mas a atuação de Justiniano foi mais expressiva dentro do governo. Um exemplo, entre 533 e 565, iniciou-se a compilação do direito romano. Este era dividido em:

- código: conjunto das leis romanas a partir do século II.

- digesto: comentários de juristas sobre essas leis.

- institutas: princípios fundamentais do direito romano.

- novelas: novas leis do período de Justiniano.

E tudo isso resultou no: corpo do direito civil, no qual serviu de base para códigos e leis de muitas nações à frente. Resumindo: essas leis determinavam os poderes quase ilimitados do imperador e protegiam os privilégios da igreja e dos proprietários de terras, deixando o resto da população à margem da sociedade.

Na cultura, com Justiniano teve a construção da Igreja de Santa Sofia, com seu estilo arquitetônico próprio – o bizantino – cujo o esplendor representava o poder do Estado junto com a força da Igreja Cristã.

Na política, após a revolta de Nika, Justiniano consolidou seu poder monárquico absoluto por meio do cesaropapismo.

Cesaropapismo: ter total chefia do estado (como César) e da igreja( como  o papa).

GRANDE CISMA

Essa supremacia sobre o imperador sobre a igreja causou conflitos entre o imperador e o Papa. Em 1054, ocorreu o cisma do oriente, dividindo a igreja Católica em duas partes:

Igreja Ortodoxa- com sede em Bizâncio, e com o comando do imperador bizantino.

Igreja Católica Apostólica Romana- com sede em Roma e sob a autoridade do Papa.

DECADÊNCIA DO IMPÉRIO

Depois da morte de Justiniano (565), houve muito ataques que enfraqueceram a administração do Império. Bizâncio foi alvo da ambição das cidades italianas. Sendo que Veneza a subjugou e fez dela um ponto comercial sob exploração italiana.

Essa queda não foi imediato, levou algum tempo, o império perdurou até o séc. XV, quando a cidade caiu diante dos  turcos-otomanos, em 1453.  data que é usada para marcar o fim da idade média e o início da idade moderna.

 As consequências da tomada de Constantinopla foram:

- o surgimento do grande império Turco-Otomano, que também foi uma ameaça para o Ocidente.

- a influência da cultura clássica antiga, preservada em Constantinopla, e levada para a Itália pela migração dos sábios Bizantinos.

- com a interrupção do comércio entre Europa e Ásia, ocorre a aceleração da busca de um novo caminho para o Oriente.

SOCIEDADE E ECONOMIA

O comércio era fonte de renda do império. Sua posição estratégica entre Ásia e Europa serviu de impulso para esse desenvolvimento comercial.

O estado fiscalizava as atividades econômicas por supervisionar a qualidade e a quantidade das mercadorias. Entre estes estavam: perfumes, seda, porcelana e peças de vidro. Além das empresas dos setores de pesca, metalurgia, armamento e tecelagem.

Cultura bizantina

No Império Bizantino, viviam pessoas de diferentes povos: egípcios, gregos, persas, eslavos, sírios e judeus. As trocas culturais entre esses povos resultaram na diversidade cultural bizantina, caracterizada por elementos de diversas origens, como a religião cristã, a língua grega, o Direito romano e a arquitetura de inspiração persa.

RELIGIÃO

O cristianismo era a religião oficial do império. O patriarca de Constantinopla era o chefe da Igreja Ortodoxa, mas ele estava subordinado, na prática, ao imperador bizantino, considerado representante de Deus. A religião bizantina foi uma mistura de diversas culturas, como gregos, romanos e povos do oriente. Em Constantinopla, aconteciam diversos debates sobre doutrinas religiosas. As questões mais debatidas eram:

Monofisismo: estes negavam a natureza terrestre de Jesus Cristo. Para eles Jesus possuía apenas a natureza divina, espiritual. Esse movimento teve início no século V com auge no reinado de Justiniano. 

Iconoclastia: palavra que significa “quebra de imagens”. Os ícones eram representações de imagens sagradas, de santos ou de Jesus Cristo. Os adeptos da iconoclastia se opunham ao culto das imagens dos santos e pregavam a destruição das estátuas das igrejas.

A questão iconoclasta estava associada a disputas políticas entre o imperador e os sacerdotes dos mosteiros, que produziam imagens de santos às quais atribuíam poderes milagrosos. Para conter o poder dos mosteiros, o imperador Leão III proibiu a adoração de imagens em 730. A proibição durou até 787 e foi retomada em 813, quando o imperador Leão V procurou novamente estabelecer a iconoclastia, que mais uma vez foi banida em 843.

Após o declínio do Império Bizantino, o cristianismo ortodoxo chegou a outras partes do mundo, inclusive ao Brasil, graças às migrações ocorridas nos séculos XIX e XX. Atualmente, calcula-se que existam no mundo cerca de 250 milhões de cristãos ortodoxos, sendo uma das principais religiões de libaneses, sírios, gregos, russos, ucranianos, sérvios e outros povos da Ásia e da Europa Oriental.

Língua grega e produção artística

Inicialmente, as obras literárias bizantinas eram escritas em latim, mas, com o tempo, a língua grega tornou-se a mais importante do império, sendo utilizada nos textos do governo e da Igreja. O grego era falado na capital e em outras regiões do império.

As obras literárias, em prosa ou poesia, eram manuscritas e recebiam ricas decorações, chamadas iluminuras. Além de escrever obras originais, muitos autores bizantinos também reuniram, copiaram e traduziram textos da Antiguidade greco-romana, ajudando a preservá-los.

Os bizantinos também se destacaram por suas pinturas, mosaicos e esculturas. Os afrescos representando anjos, santos e autoridades religiosas foram um tipo de pintura decorativa frequente no Império Bizantino. Grande parte dessas obras era encontrada nas igrejas e em casas mais luxuosas.

Os mosaicos bizantinos eram feitos geralmente com pedaços de pedras e vidros coloridos, colados sobre um vidro claro e recobertos por folhas de ouro. Os mosaicos bizantinos costumavam representar animais, plantas e figuras religiosas ou políticas. 

Já as esculturas bizantinas serviram principalmente aos ideais religiosos. Feitas em ouro, marfim ou vidro e em baixo-relevo, essas obras podiam ser encontradas tanto em edifícios como em capas de livros.

O Império Carolíngio

Os romanos chamavam todos os povos que habitavam além de suas fronteiras de bárbaros. Isso pelo fato de falarem uma língua diferente e terem costumes muito diversos dos seus.

Apesar disso, os romanos permitiram que muitos desses povos bárbaros ocupassem parte de seu território. Na qualidade de aliados, eles ajudavam a defender as fronteiras contra invasões inimigas, além de cultivarem as terras e criarem animais.

A presença dos povos invasores no Império Romano aumentaria com a chegada dos hunos à Europa. Assustados com os hunos, os povos que habitavam a região próxima das fronteiras passariam a ocupar o território romano nem sempre de forma pacífica.

Com o tempo e a desagregação do Império Romano do Ocidente, essas ocupações iniciais dariam origem a reinos independentes. No interior deles, estariam presentes tanto costumes romanos quanto dos povos invasores.

Formado na Gália (atual França), o Reino Franco foi o mais duradouro desses reinos.

Ao chegarem à Gália, os romanos construíram grandes vias de comunicação ligando as principais vilas. Essas vias favoreceram o desenvolvimento do comércio e do artesanato. Foram ainda os romanos que introduziram na região técnicas de cultivo de videiras e de fabricação de vinho.

Por um longo período, a região, dominada pelos romanos, ficou protegida contra invasões. Entretanto, no princípio do século V, um povo de origem germânica atravessou o rio Reno e entrou na Gália. Eram os francos. Eles conquistaram grande parte do território, estabelecendo-se no Norte e, sobretudo, no Nordeste.

O Reino Franco

Os primeiros reis francos descendiam de Meroveu. Por isso, os reis dessa dinastia chamam-se merovíngios.

Meroveu, na metade do século V, lutou ao lado dos romanos contra os invasores hunos.

Clóvis, neto de Meroveu, venceu os alamanos, os borgúndios e os visigodos, ampliando as fronteiras do reino. Com isso, no final do século V, os francos já dominavam grande parte da Europa central.

A importância de Clóvis aumentou quando ele se converteu ao cristianismo, em 496, depois de derrotar os alamanos. Com a conversão, conquistou total apoio de condes cristãos e bispos da Gália.


Batismo de Clóvis - rei dos francos

Com a morte de Clóvis, em 511, o reino franco foi dividido entre seus quatro filhos, ocasionando rivalidades e disputas entre eles. Por fim, em 628, Dagoberto subiu ao trono e estabeleceu que, daí por diante, os reis fracos teriam um único sucessor.

Após o reinado de Dagoberto, vieram os reis indolentes, assim chamados por não cumprirem as funções administrativas. O prefeito do palácio, uma espécie de primeiro ministro, era quem efetivamente administrava o reino.

Um desses prefeitos, Pepino de Heristal, tornou o cargo hereditário e passou-o a seu filho Carlos Martel. Carlos Martel notabilizou-se por vencer os árabes, em 732, na batalha de Poitiers, detendo a invasão muçulmana na região central da Europa.

Em 743, foi coroado o último rei dos merovíngio, Childerico III.


Carlos Magno e Pepino o Breve

O filho de Carlos Martel, Pepino, o Breve, incentivado pelo papa Zacarias, depôs Childerico III, assumiu o trono e fez-se aclamar rei. Com isso, iniciou-se uma nova dinastia, a dos carolíngios, nome derivado Carolus (Carlos, em latim). O sucessor de Pepino, o Breve, foi seu filho Carlos Magno.

O Império Carolíngio

Carlos Magno assumiu o trono em 768 e, por suas realizações, é considerado o mais importante rei dos francos. Destacou-se por conquistas militares e pela organização administrativa implantada nos territórios sob seu domínio.

Para as conquistas militares, Carlos Magno organizou um exército forte, do qual faziam parte, além de seus soldados, os grandes proprietários de terras acompanhados de certo número de camponeses equipados para a guerra. Com esse exército, ele expandiu as fronteiras do reino, constituindo o Império Carolíngio.

Nas regiões conquistadas, eram construídas fortalezas e igrejas em volta das quais organizaram-se vilas que, posteriormente, passaram a ser ligadas por estradas. Sendo cristão, Carlos Magno obrigava os povos conquistados a converterem-se ao cristianismo.

O governo de Carlos Magno não tinha uma sede fixa. Com sua corte, que se constituía basicamente de familiares, amigos, membros do clero e funcionários administrativos, viajava de um lugar para outro. As decisões políticas mais importantes, em geral, eram tomadas no palácio de Aix-la-Chapelle, no noroeste da atual França.

No ano 800, em Roma, na noite de Natal. Carlos Magno foi coroado imperador pelo papa Leão III. Com a coroação de Carlos Magno, a Igreja católica pretendia fazer reviver o Império Romano do Ocidente e, ao mesmo tempo, unificar a Europa sob o comando de um monarca cristão.

Administração do Império Carolíngio

Para administrar o império, Carlos Magno contou com funcionários e nobres. Entre os nobres, destacamos:
• os condes: responsáveis por territórios conhecidos como condados;
• os marqueses: responsáveis por territórios conhecidos como marcas, que ficavam nas fronteiras do império;
• os missi dominici: inspetores reais que fiscalizavam os administradores locais. Como líder de um império guerreiro, Carlos Magno selecionou um grupo de 12 homens para formar seu conselho de guerra, conhecidos como os Doze Pares de França. Esses conselheiros participavam de batalhas contra os inimigos dos francos e acabaram se tornando uma lenda no mundo cristão, inspirando obras da literatura medieval e festas populares até mesmo no Brasil, como as cavalhadas.

Carlos Magno e a educação

Carlos Magno tinha pouca instrução. Com idade avançada, aprendeu a ler e escrever em latim. Valorizou o ensino, promovendo obras para sua difusão em todo o império. Queria funcionários instruídos para ler os textos oficiais, que eram redigidos em latim.

Fundou, ao lado de cada igreja, escolas gratuitas para a população e, nos mosteiros, escolas para os sacerdotes. No próprio palácio abriu uma escola que era frequentada, sem distinção de tratamento, por meninos de famílias pobres e por filhos de nobres.

Renascimento Carolíngio

Apesar de ter permanecido analfabeto até a vida adulta, Carlos Magno preocupou-se com o desenvolvimento das artes e da literatura. Durante seu governo, artistas e estudiosos receberam proteção e patrocínio. Além disso, foram construídos mosteiros e escolas.

Nos mosteiros, alguns monges se dedicavam a traduzir e copiar livros de antigos autores gregos e romanos. Assim, preservou-se uma parte da cultura da Antiguidade Clássica.

Em função desse desenvolvimento cultural, historiadores chamam essa época de Renascimento Carolíngio. Porém, a maioria da população permaneceu analfabeta e não teve acesso às obras que foram produzidas ou recuperadas. Essas obras ficaram restritas a uma elite de nobres e sacerdotes que viviam nos palácios e nos mosteiros.

A fragmentação do Império Carolíngio

Carlos Magno morreu em 814. foi sucedido por seu filho, Luís, o Piedoso, que governou até 840. O império ainda se manteve unido, embora tenha enfrentado problemas políticos, como a excessiva influência do clero (sacerdotes da Igreja) sobre o monarca.

Os filhos de Luís disputaram, durante três anos, a sucessão do império. Em 843, pelo Tratado de Verdun, o Império Carolíngio foi dividido em três reinos distintos, cabendo a parte ocidental a Carlos, o Calvo; a parte oriental a Luís, o Germânico; e a parte central a Lotário. O desmembramento do Império Carolíngio pôs fim à tentativa de unificação da Europa ocidental sob o comando de um único monarca cristão.

Essa divisão abriu caminho para que administradores locais (condes, marqueses, bispos) conquistassem mais poder e autonomia. Além disso, a partir do século IX, muçulmanos, hunos e vikings fizeram novas invasões à Europa Ocidental.
Entre o século X e meados do século XV, ocorreram diversas modificações no modo de vida  das pessoas na Europa Ocidental. Com medo das invasões e das guerras, os povos
dessa região reorganizaram-se em busca de segurança. Foi nesse período que muitos castelos foram construídos, pois ajudavam a proteger seus senhores dos inimigos externos.

  

Invasões Bárbaras: A era da dispersão

A partir do século III, o extenso território controlado pelos romanos, sobretudo na Europa ocidental, começou a ser ocupado por inúmeros povos, às vezes de forma pacífica, outras vezes pela força. Em sua grande maioria, os povos invasores eram de origem germânica. Dentre eles, destacam-se: os anglos, os saxões, os francos, os lombardos, os suevos, os borgúndios, os vândalos e os ostrogodos.
Para os romanos, bárbaros eram todos os povos que habitavam além de suas fronteiras e não falava o latim. Tinham hábitos alimentares diferentes e de higiene pouco condizentes com os costumes romanos. Mas foi graças à convivência entre esses diferentes povos que surgiu no território europeu uma nova estrutura social. Nela são perceptíveis tanto elementos da cultura romana quanto dos povos germânicos. Essa sociedade, que então surgia, durou pelo menos mil anos. E até hoje podemos notar algumas de suas características, no mundo ocidental, como a forte presença do cristianismo.

Estes povos organizavam-se em função da subsistência. Sua economia baseava-se na caça, na pesca e, principalmente, nos saques de guerra. Agrupavam-se em tribos e algumas delas chegaram a desenvolver atividades agrícolas e pastoris rudimentares. Cada tribo possuía um chefe e a terra era propriedade coletiva.

Os bárbaros eram politeístas, cultuavam seus ancestrais e as forças da natureza, como o trovão, que, entre os germanos, era o deus Thor. O mais importante deus do panteão germânico, entretanto, era Odin, o protetor dos guerreiros.

Este conjunto de povos “não-romanos” achava-se dividido em grupos segundo sua origem, dentre os quais destacavam-se: 

• tártaros-mongóis: tribos de origem asiática como os hunos, turcos, búlgaros e húngaros;

• eslavos: originários da Europa oriental e parte da Ásia, compreendiam as tribos dos russos, polacos, tchecos, sérvios, bósnios, entre outras;

• germanos: povos de origem indo-europeia, ocupavam a parte ocidental da Europa, que fazia fronteira com o Império Romano: francos, visigodos, ostrogodos, hérulos, anglos, saxões.

Dentre todos os povos bárbaros, os germanos foram os que, com suas invasões, mais contribuíram para a desintegração da parte ocidental do Império Romano e, consequentemente, para a formação do feudalismo.    

Nas fronteiras do Império Romano

Durante os três primeiros séculos da era cristã, os romanos, apesar das diferenças de costumes, mantiveram relações pacificas com muitos dos povos germânicos. Mantinham trocas comerciais e, com o tempo, o próprio exército romano passou a contar com grande número de voluntários germânicos em suas fileiras.

Os primeiros grupos germânicos romperam as fronteiras do Império Romano de forma pacífica. Atraídos pelas riquezas e em busca de climas amenos e terras férteis, solicitaram permissão para se fixar no território. Para isso, ofereciam-se como soldados, para defender as fronteiras, ou como agricultores, para cultivar os campos. Os romanos, para proteger suas terras, geralmente aceitavam a oferta.

A convivência pacifica entre os povos germânicos e os romanos foi interrompida pelas sucessivas e violentas invasões, que duraram cerca de dois séculos, acabaram por destruir a unidade do Império Romano, sobretudo da parte ocidental. A principal causa da invasão do império foi a chegada dos hunos à Europa durante os séculos IV e V. originários do leste da Ásia, os hunos passaram a percorrer as regiões ocupadas pelos povos germânicos, empurrando-os ainda mais para dentro das fronteiras romanas. Os hunos, liderados por Átila, tornaram-se famosos pela violência de seus ataques e pela crueldade do tratamento que dispensavam aos que derrotavam.

Ao se estabelecerem no interior do Império Romano do Ocidente, os vários povos invasores foram aos poucos organizando suas sociedades. Muitas delas, com um rei e certa estrutura administrativa, se transformariam em reinos independentes.

A conquista de Roma, determinando a desintegração do Império Romano do Ocidente, originou inúmeros reinos bárbaros, alguns com existência bastante efêmera, conquistados por outros povos mais poderosos. Dentre os reinos bárbaros que se formavam, vale destacar:

• O Reino Visigodo, formado na região da Península Ibérica, seu domínio estendeu-se até o século VIII, quando das conquistas do árabe Tarik. Os visigodos, contudo, refugiaram-se nas montanhas e acabaram organizando vários reinos cristãos que, mais tarde, formariam a Espanha;

• O Reino Ostrogodo, constituído na Península Itálica, após a expulsão dos hérulos, seu rei, Teodorico, destacou-se pela construção da capital Ravena. Este reino acabou sendo conquistado por Justiniano. Imperador de Bizâncio;

• O Reino Vândalo, organizado no sul da Península Ibérica, deslocou-se, em seguida, sob o comando de Genserico, para o norte da África. Tal como o reino ostrogodo, foi incorporado ao Império Bizantino;

• Os Reinos Anglo-saxões, estabelecidos na região que hoje corresponde à Inglaterra, constituíram sete reinos, conhecidos por heptarquia saxônica;

• O Reino Franco: estabeleceu-se no norte da Itália, região da Gália, e transformou-se no principal reino da Idade Média.

As invasões dos bárbaros à Europa ocidental acarretaram mudanças profundas na vida de suas populações: a fragmentação e a desorganização do Império Romano; a formação de vários reinos que além de alguns valores culturais romanos, acabaram por adotar o cristianismo; a intensificação do processo de ruralização, dada a dificuldade de manutenção das atividades comerciais e urbanas, em função da insegurança gerada pelos ataques bárbaros; e a substituição do latim como língua predominante por línguas bárbaras ou originárias da mistura do latim com essas línguas.

Na formação desses reinos foi importante a relação entre os povos invasores e as populações locais. A partir dessa relação se consolidaram as estruturas econômicas, sociais e políticas da Europa ocidental. Por exemplo, a tradição cristã, surgida no Império Romano, tornou-se ao longo do tempo um elo de coesão social, e a estrutura de poder fragmentada seria, por sua herança dos povos germânicos.

De todos os reinos, o que perdurou por mais tempo foi o dos francos. Como não se distinguiam pelo espírito aventureiro, característico de outros povos germânicos, os francos fixaram-se nos atuais territórios da França e da Bélgica, próximos a sua região de origem. Com isso puderam manter suas características culturais. Outro motivo que fortaleceu o reino dos francos foi a ligação que ele estabeleceu com a Igreja cristã. 

REINOS ROMANO-GERMÂNICOS 

A partir do século V, os anglos e os saxões desembarcam nas ilhas britânicas, expulsando os celtas que lá viviam. Suevos e visigodos instalam-se na península Ibérica, borguinhões ocupam a Gália, ostrogodos migram para a península Itálica e os vândalos assentam-se no norte da África. Os francos avançam primeiro sobre os borguinhões, gauleses e visigodos, na Gália e na península Ibérica e, depois, atacam os lombardos ou longobardos na península Itálica.

Francos - Vivem na planície norte do Reno até o século IV. No século seguinte, com a eliminação dos pequenos reinados existentes, unificam-se sob o reinado de Clóvis.

Dinastia merovíngia - Iniciada por Meroveu, em 482. Na sua expansão inicial, elimina os restos do domínio romano ocidental com sua vitória sobre os gauleses. Em 496 triunfam sobre os alamanos e, em 497, convertem-se ao cristianismo, o que facilita a consolidação de suas conquistas e a posterior expansão sobre os borguinhões, visigodos e ostrogodos. Clóvis forma um reino em que se fundem francos e gauleses. Em 561 começam os conflitos internos entre a monarquia unitária e a nobreza, resultando na formação de três reinos distintos. Em 613 Clotário II consegue a adesão da nobreza para reunificar o reino, mas a monarquia se enfraquece e acelera o declínio do poder merovíngio.

Dinastia carolíngia - Em 751, Pepino, o Breve, destrona Childerico III, o último rei merovíngio, e consolida a dinastia carolíngia. Pepino, o Breve, atendendo apelo do papa, derrota os lombardos na península Itálica e coloca Roma sob sua proteção. Após novas campanhas vitoriosas, obriga o rei lombardo a devolver os territórios romanos conquistados. Entrega-os então ao papa para que constituam, junto com o ducado de Roma, o Estado Pontifício. Em 768 Pepino divide o reino entre seus dois filhos, mas a morte prematura de Carloman II deixa o reino em mãos de Carlos Magno.

Carlos Magno (747-814), primogênito de Pepino, o Breve, rei dos francos e imperador do ocidente. Famoso por sua altura (1,92 m) e habilidade política. Aprende a ler aos 32 anos. Durante os 46 anos de seu reinado, promove grande desenvolvimento cultural e realiza mais de 50 guerras, para expandir o cristianismo e Constantino impor sua hegemonia no ocidente. Recebe o título de maior soberano da Europa Medieval. No natal de 800 é coroado imperador do ocidente pelo papa Leão III, que diz "A Carlos Magno, coroado por Deus, vida e vitória". É canonizado em 1165. Após sua morte, o império fragmenta-se.

DESMEMBRAMENTO DO IMPÉRIO 

Luís I, o Piedoso, sucessor e filho de Carlos Magno, se faz coroar pelo papa Estêvão IV. Disputas e guerras sucessórias envolvem os filhos de Luís I e resultam na divisão do Império Franco. Em 840 os irmãos Luís, o Germânico, e Carlos, o Calvo, unem-se contra Lotário, o primogênito herdeiro. A aliança é reforçada em 842 pelo Juramento de Estrasburgo, o mais antigo documento redigido em alto alemão e francês antigo. A guerra fratricida termina em 843, com o Tratado de Verdun, pelo qual o Império Franco permanece dividido em três reinos. A divisão prolonga-se até 987, quando Hugo Capeto é eleito e coroado rei da França.

 

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