Na última década do século XX, o mundo bipolar, característico do antagonismo global entre EUA e URSS, foi substituído por uma nova ordem mundial, em que o confronto entre sistemas capitalista e socialista cedeu lugar à disputa dentro do próprio capitalismo. Essa disputa vem se desenvolvendo por meio da formação de blocos regionais de poder político e econômico.
Embora os EUA tenham emergido da Guerra Fria como única superpotência mundial, e ainda possuam a maior economia e o maior poder militar do globo, sua autoridade política no mundo está em declínio. Além disso, outras nações se desenvolveram de forma acelerada, como Japão, Alemanha, França e Inglaterra, passando de países dependentes a concorrentes dos EUA. Nessa nova conjuntura de distribuição do poder econômico, destacam-se três polos: o americano, liderado pelos EUA; o europeu, constituído pelos países da União Europeia; e o oriental, cujo centro é o Japão. Essa nova configuração do poder é conhecida como mundo multipolar.
A formação dos polos econômicos
A formação de diferentes blocos econômicos ocorreu por meio de tratados e acordos oficiais entre os governos ou de maneira informal, ou seja, não institucional. A finalidade de um bloco econômico é ampliar e facilitar as trocas comerciais entre os países-membros. Os meios para atingir esses objetivos implicam na regulação ou eliminação de tarefas alfandegárias e das taxas de impostos sobre os bens e serviços negociados, além da adoção de uma política que visa a solução comum para eventuais problemas comerciais que podem ocorrer entre os países de determinado bloco.
O mais antigo e bem estruturado bloco econômico formou-se na Europa Ocidental, ainda no período da Guerra Fria. A União Europeia, como é chamado esse bloco, começou a se formar logo após a Segunda Guerra Mundial. No início, limitava-se a um setor econômico, formando a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca). Depois, sua expansão abrangeu toda a economia dos países-membros, surgindo a Comunidade Econômica Europeia (CEE) com a assinatura do Tratado de Roma, em 1957. Nessa época, seis países faziam parte da organização, que ao longo do tempo foi ampliada, recebendo a adesão de outros países europeus.
Em fins 1991, esses países assinaram o Tratado de Maastricht, mudando o nome da CEE para União Europeia (EU). O tratado também estabelecia a adoção de uma moeda única, o Euro, que passou a vigorar a partir de 2002 na maioria dos países, com exceção do Reino Unido, Dinamarca e Suécia. Para o controle cambial da nova moeda, foi criado o Banco Central Europeu, sediado em Frankfurt, na Alemanha.
A integração dos países europeus continua ocorrendo de forma progressiva, com a criação de uma legislação social e ambiental comum, assim como um sistema de defesa unificado. O órgão político de maior autoridade da União Europeia é o Parlamento Europeu, no qual são tomadas as decisões que afetam os países-membros.
Outros blocos econômicos
Além da União Europeia, existem outros blocos econômicos criados mais recentemente. Veja a seguir alguns deles.
Acordo Americano de Livre Comércio (NAFTA, na sigla em inglês), formado em 1922 por EUA, Canadá e México. Com esse acordo, entre outros objetivos, esses países se comprometeram a derrubar barreiras alfandegárias e ampliar as exportações e as prestações de serviço entre si.
Mercado Comum do Sul (Mercosul), união aduaneira entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, criada em 1991, que posteriormente teve a adesão de outros países na condição de associados, como Chile, Bolívia e Venezuela.
Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec), criado em 1989. Na região conhecida como bacia do Pacífico, está localizado um dos mais dinâmicos polos da economia capitalista. Composta por mais de vinte países da Ásia, Oceania e América, esse bloco econômico é liderado pelo Japão, embora sua hegemonia seja ameaçada pela participação de países como EUA e China. O bloco asiático não se constitui como um processo de integração institucionalizado, tal como a União Europeia, mas sim um conjunto de economias articuladas que tendem a ser complementares.
A globalização
De maneira geral, a globalização designa a crescente integração e interdependência da economia mundial, que se manifesta na expansão das transações comerciai, no rápido avanço tecnológico dos meios de comunicação e de transporte, e também na disseminação em escala planetária dos valores morais e políticos originários do mundo ocidental. Assim, a globalização pode ser definida como o aceleramento da formação de um sistema mundial cada vez mais integrado nos níveis da produção (de mercadorias, de serviços e de conhecimento), da comercialização e das transações financeiras.
A globalização não é um fenômeno recente, mas seu desenvolvimento se acelerou no início da década de 1990. Seu estágio atual pode ser caracterizado pelo aumento vertiginoso dos fluxos de rocas de mercadorias, capital e serviços entre as nações e entre os blocos econômicos.
Embora possa parecer, a globalização não criou uma mundialização homogênea da vida econômica e social, pois ela é seletiva e visa integração apenas de algumas regiões, atividades econômicas e grupos sociais, enquanto exclui a maioria da população mundial, deixando-as às margens do sistema. Isso causa uma grande concentração de riquezas, aumentando as desigualdades entre os Estados. Enquanto no Japão, por exemplo, muitos têm acesso a aparelhos de última geração, na Índia, grade parte da população vive sem fazer o uso dessas novas tecnologias.
CONFLITOS RECENTES NO MUNDO
A configuração do mundo multipolar na eliminou as enormes desigualdades sociais e econômicas entre os países, nem as que existem no interior deles. Além disso, por todo o mundo, vêm ocorrendo conflitos pela autonomia política e também de ordem étnica e religiosa. Veja.
Conflitos na Caxemira
No território da Caxemira, na Índia, vários grupos étnicos mulçumanos lutam pelo reconhecimento de suas nacionalidades, geralmente por meios pacíficos. Outros, entretanto, recorrem ao terrorismo a fim de transformar a Caxemira em um Estado independente, governado sob leis islâmicas.
Alguns desses grupos terroristas são acusados pelo governo indiano de receberem apoio do governo paquistanês, que é um tradicional aliado dos EUA. Por causa dessas acusações, a Índia e o Paquistão enfrentam conflitos diplomáticos, o que preocupa a comunidade internacional, já que ambos possuem arsenal atômico. Além disso, a Caxemira transformou-se em rota de tráfico de armas, que chegam a diversos grupos terroristas do Oriente Médio.
Tensões entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte
Desde o final da Guerra da Coreia, em 1953, permanece uma tensão entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul. A violência dessa guerra, que possuía caráter ideológico (capitalistas contra socialistas), gerou grandes empecilhos para que as duas nações convivessem pacificamente. Atualmente, a Coreia do Sul, capitalista, é um grande polo industrial e tecnológico da região, aliado ao capital do Japão e dos EUA.
A Coreia do Norte, por sua vez, é um país socialista que desenvolve um programa nuclear, causando preocupações em outras nações, principalmente em seus vizinhos japoneses e sul-coreanos. Os testes nucleares realizados em 2006 e em 2009 foram repudiados pelo governo de vários países, que temem a retomada da guerra entre as duas nações rivais. Apesar disso, tentativas de negociar a paz entre as duas Coreias vêm sendo promovidas pela comunidade internacional.
Lutas pela independência do Tibete
O Tibete foi anexado pela China em 1951, tornando-se um Estado nominalmente autônomo, mas governado pelos chineses. A partir de então, o governo socialista chinês passou a enfrentar vários grupos tibetanos, como proprietários de terra, que lutavam contra a desapropriação e coletivização de suas terras. Em 1959, um levante de tibetanos contra o governo chinês foi duramente reprimido, deixando milhares de mortos.
Nessa época, grupos de chineses radicais realizaram um “genocídio cultural”, destruindo templos e monastérios budistas do Tibete. Atualmente, muitos tibetanos têm reivindicado a independência de seu país de forma pacífica, acusando a China de cometer atos violentos contra seu povo. Um deles é Tenzi Gyatso, o Dalai Lama, monge budista que é herdeiro do trono do Tibete.
Conflitos étnicos em Ruanda
Tutsis e hutus são dois grupos étnicos, culturalmente semelhantes, que habitam a África Central. Em Ruanda, essas duas etnias entraram em conflito por causa da segregação implantada pelo governo colonial belga, no início do século XX. Nessa época, os tutsis foram escolhidos pelos colonizadores para comporem a elite governamental, relegando os hutus à servidão.
Em 1959, os hutus iniciaram um levante popular, que derrubou a aristocracia tutsi para, em 1962, proclamar a independência do país. Diante disso, milhares de tutsis se refugiaram na República Democrática do Congo e em outros países da região. A minoria tutsi de Ruanda passou a ser cada vez mais hostilizada, até que uma guerra civil eclodiu no início da década de 199. Em 1994, hutus radicais assassinaram cerca de 800 mil pessoas, entre hutus moderados e tutsis. Depois de muitos massacres e migrações forçadas, o poder central foi tomado por um grupo paramilitar tutsi – a Frente Patriótica Ruandesa. Atualmente, Ruanda é uma democracia multipartidária, governada por uma coalizão de ambas as etnias que tenta reorganizar o país.
Grupos paramilitares na Colômbia
A Colômbia é uma das regiões mais tensas da América do Sul, onde atuam grupos paramilitares como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), de orientação socialista. Fundada na década de 1960, as FARC vêm disputando o poder político da Colômbia desde então com o apoio de parte da comunidade rural.
As FARC dominam várias regiões da floresta amazônica, entrando em constantes choques com o exército colombiano e com outros grupos paramilitares. A situação no país é agravada pela forte influência de narcotraficantes e pelos interesses estratégicos dos EUA, que têm buscado aumentar sua influência militar na região.
Movimento libertário no México
Em 1994, formou-se no estado mexicano de Chiapas o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), formado por mexicanos excluídos da sociedade, principalmente indígenas. De ideologia libertária e anticapitalista, o movimento critica a situação dos indígenas e exige maior participação política para o povo mexicano.
No ano da sua formação, o EZLN lutou contra o exército mexicano e conquistou a autonomia para os indígenas mexicanos. Atualmente, o grupo atua pacificamente, percorrendo todo o país, a fim de divulgar os problemas do povo e reivindicar o respeito aos direitos dos indígenas.
Guerras nos Bálcãs
A Iugoslávia era habitada por povos de várias etnias que viviam espalhadas pelas diversas repúblicas que formavam esse país, o qual também abrigava três religiões (católica, cristã-ortodoxa e mulçumana). Toda essa multiplicidade de povos e culturas se manteve unida enquanto durou o regime centralizado pelo Partido Comunista, mas, com a crise dos regimes socialistas no Leste Europeu, os sentimentos nacionalistas e separatistas desses povos foram despertados.
Em 1991 começou a desagregação do país, mesmo com a oposição da Sérvia, que desejava manter a Iugoslávia unida e sob a sua direção. Em 1992, as lideranças muçulmanas e croatas da Bósnia-Herzegóvina declararam sua independência. No entanto, nessa república havia uma importante minoria sérvia (31,4%) que, contando com apoio iugoslavo, formou milícias para combater os mulçumanos e croatas.
Teve início, então, uma sangrenta guerra civil em que morreram cerca de 300 mil pessoas em combates e em práticas de limpeza étnica,, realizadas principalmente pelos bósnio-sérvios. Com a intervenção de forças da ONU, em 1995, um acordo de paz foi firmado, e a Bósnia-Herzegóvina se tornou independente, mas dividida em duas repúblicas autônomas: uma para os muçulmanos e croatas, e outra para os sérvios-bósnios.
Em 1998, surgiu novo conflito, dessa vez na província sérvia de Kosovo. A Iugoslávia, que a essa altura contava apenas com as repúblicas da Sérvia e Montenegro, tentou reprimir o movimento separatista dos albaneses mulçumanos, a maioria da população do Kosovo. A guerra acabou com o bombardeio da Sérvia pelas forças da OTAN lideradas pelos EUA, 1999. Com o fim da ocupação pela OTAN, kosovo ficou sob a tutela da ONU, declarando sua independência em 2008.
Disputas no Cáucaso
Desde o início dos anos 1990,ocorreram conflitos na região do Cáucaso envolvendo grupos étnicos que, com a extinção da URSS, passaram a exigir o reconhecimento de suas nacionalidades e a formação de repúblicas independentes. Isso vem ocorrendo na Geórgia, república independente que fazia parte da antiga URSS. No território georgiano, etnias da Ossétia do Sul e da Abkházia lutam pela sua independência, com o apoio do governo da Rússia.
Em 2008, o exército russo interveio em defesa dos interesses separatistas dos ossetas que habitam a Ossétia do Sul. Iniciou-se, então, uma guerra entre a Geórgia e a Rússia, que resultou na morte de centenas de pessoas. As montanhas do Cáucaso continuam sendo palco de conflitos entre grupos separatistas, inclusive no território russo, onde a etnia dos chechenos luta pela formação da República da Chechênia.