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A expansão marítimo comercial europeia

A grande expansão marítima europeia dos séculos XV e XVI teve à frente Portugal e Espanha, conquistando novas terras e novas rotas de comércio, como o continente americano e o caminho para as Índias pelo sul da África.
Desde o Renascimento comercial da Baixa Idade Média até a expansão ultramarina, as cidades italianas eram os principais polos de desenvolvimento econômico europeu. Elas detinham o monopólio comercial do mar Mediterrâneo, abastecendo os mercados Europeus com os produtos obtidos no Oriente (especiarias), especialmente Constantinopla e Alexandria.
Durante a Idade Média, as mercadorias italianas eram levadas por terra para o norte da Europa, especialmente para o norte da França e Países Baixos. Contudo, no século XIV, diante da Guerra dos Cem Anos e da peste negra, a rota terrestre tornou-se inviável. Neste momento se inaugurou a rota marítima, ligando a Itália ao mar do Norte, via Mediterrâneo e oceano Atlântico.
Esta rota transformou Portugal num importante entreposto de abastecimento dos navios italianos que iam para o mar do Norte, estimulando o grupo mercantil luso a participar cada vez mais intensamente do desenvolvimento comercial europeu. No início do século XV, Portugal partiu para as grandes navegações, objetivando contornar a África e alcançar as Índias, para obter ali, diretamente, as lucrativas especiarias orientais.
A expansão marítima lusa foi acompanhada, em seguida, pela espanhola e depois por vários outros Estados europeus, integrando quase todo o mundo ao desenvolvimento comercial capitalista da Europa.

Navegações no Atlântico e no Pacífico

Entre os séculos XV e XVI, os europeus exploraram os oceanos Atlântico, Índico e Pacífico em busca de rotas para comercializar com regiões do Oriente. Também procuravam controlar territórios extracontinentais e explorar suas riquezas.
A primeira etapa da expansão ultramarina europeia teve início nas viagens do navegador genovês Cristóvão Colombo (1451-1506), que acreditava ser possível chegar à Ásia atravessando o oceano Atlântico em direção ao oeste. Com o apoio dos reis da Espanha, Colombo liderou uma expedição que, em 1492, acabou desembarcando no continente americano. A partir de então, os europeus começaram o processo de conquista de regiões da América.
Enquanto isso, os portugueses chegaram ao Oriente em 1498. Navios portugueses comandados por Vasco da Gama contornaram o extremo sul da África e chegaram a Calicute, na Índia. Em 22 de abril de 1500, outro navegador português, Pedro Álvares Cabral (1467-1520), desembarcou em terras hoje pertencentes ao estado da Bahia, no Brasil.

As expedições se multiplicam

No início do século XVI, o navegador espanhol Nuñez de Balboa (1475-1519) iniciou a exploração do Pacífico, um oceano até então desconhecido pelos europeus. Para isso, ele cruzou o estreito sul da América e abriu caminho para novas explorações marítimas.
Na década de 1520, Fernão de Magalhães (1480-1521) liderou uma expedição espanhola em busca de um caminho até as Ilhas Molucas, atual Indonésia. O local era considerado
central para o controle do comércio com o Oriente. O navegador acabou morrendo durante a expedição, mas parte dos tripulantes seguiu até o destino e depois retornou à Sevilha, importante cidade portuária na Espanha.
A expedição de Fernão de Magalhães possibilitou a criação de rotas de ligação do atual território das Filipinas (na Ásia) ao atual território do México (na América Central). Além disso, ela teve um significado muito especial: foi a primeira viagem de circum-navegação, comprovando, assim, a esfericidade da Terra.
Ao final do século XVI, os ingleses começaram a explorar estratégias para ampliar sua participação no comércio com o Oriente. As navegações inglesas ganharam força no século seguinte, com as expedições de Francis Drake (1537-1596).
Os holandeses também participaram dos empreendimentos marítimos no período, estabelecendo relações comerciais com povos da Ásia, África, América e Oceania. Fundaram colônias nas Américas e ocuparam entrepostos comerciais na África e na Ásia, além de terem sido os primeiros europeus a alcançar a região da Tasmânia e a Nova Zelândia.

1. MOTIVOS PARA AS EXPANSÕES

Entre as principais razões que levaram a Europa à expansão, destacam-se as seguintes:
• visto que a rota do Mediterrâneo era monopólio das cidades italianas, havia a ambição de descobrir uma nova rota comercial que possibilitasse às demais nações da Europa estabelecer relações comerciais com o Oriente. Com isso, elas também poderiam usufruir do lucrativo comércio de especiarias (cravo, canela, pimenta, gengibre, noz-moscada, etc.). 
Uma nova rota poderia, ainda, baratear os preços demasiadamente altos dos produtos, intensificando o comércio europeu, já que as especiarias italianas passavam por vários intermediários no seu transporte do Oriente para o Ocidente;
• o acesso aos metais preciosos para cunhagem de moedas, muito escassos na Europa e essenciais para a manutenção do desenvolvimento econômico obtido nos séculos anteriores;
• o aumento do poder econômico dos mercadores (burguesia) e consequente ambição por ampliar os negócios;
• o aumento do poder real, fundamental para a organização das expedições marítimas;
• o desenvolvimento tecnológico europeu alcançado com o progresso comercial dos séculos anteriores, como a bússola, o astrolábio, a pólvora e a melhoria das técnicas de navegação e construção de navios, que possibilitaram o sucesso das empresas marítimas europeias.
Ë importante destacar que a tomada de Constantinopla (principal entreposto comercial entre o Ocidente e o Oriente), pelos turco-otomanos em 1453, bloqueou o acesso dos mercadores às valiosas especiarias orienta is. Isto veio apenas acrescentar um novo elemento às dificuldades comerciais que já se apresentavam. Na verdade, a expansão marítima tivera seu início muito antes, em 1415, quando os portugueses tomaram a cidade de Ceuta, no norte da África.

Os aventureiros do mar Tenebroso

Há muitos séculos o oceano Atlântico atraía a curiosidade dos navegantes europeus mais ambiciosos. Mas pouquíssimas expedições que se aventuraram mar adentro voltaram. Essas tentativas malogradas criaram na Imaginação popular as mais fervilhantes fantasias acerca do oceano desconhecido: monstros marinhos, águas ferventes e pedras-ímã, que puxavam as embarcações para o fundo, na altura do Equador. Por volta do ano 1400 não se conhecia o real formato da Terra. Era senso comum considerá-la plana como uma mesa, terminando em abismos sem fim. Mas havia aqueles que a imaginavam redonda e finita.
O desconhecimento completo dos oceanos nos dá uma medida dos riscos enfrentados pelos navegantes do século XV, que ousaram desbravá-los em precários barcos, com aproximadamente, ente 25 metros de comprimento.
As técnicas de navegação empregadas tradicionalmente no mar Mediterrâneo, no Báltico e na costa europeia eram insatisfatórias para as novas circunstâncias. Foi com o objetivo de aprimorá-las que o infante dom Henrique, filho do rei dom João I de Avis, reuniu os mais experimentados cartógrafos, astrônomos, construtores navais e pilotos da Europa. Essa reunião ficou conhecida como Escola de Sagres.

A expansão marítima portuguesa

Enquanto a Europa achava-se envolvida com os efeitos da crise do século XIV Portugal organizava um governo centralizado, forte e aliado da burguesia. A precoce centralização política lusitana, conjugada a outros fatores, valeu-lhe o pioneirismo no processo de expansão marítima comercial europeia.
O infante D. Henrique, filho do rei D. João, compreendendo a importância de uma modernização tecnológica para o desenvolvimento comercial português, fundou a Escola de Sagres, na qual se realizaram importantes avanços na arte de navegar. O infante reuniu no promontório de Sagres, no Algarve, os maiores especialistas em navegação, cartografia, astronomia, geografia e construção naval. Formando, assim, o mais completo e inovador centro de estudos náuticos da época.
Desfrutando de uma localização privilegiada, os navegadores lusos lançaram-se ao oceano Atlântico, visando, primordialmente, romper com o monopólio comercial italiano sobre as especiarias orientais.
Em 1415, os portugueses estabeleceram seu domínio sobre Ceuta, um importante entreposto comercial árabe no norte da África. A partir de então, Portugal deu início à conquista progressiva de toda a costa atlântica africana. Passo a passo, os portugueses foram contornando a África, estabelecendo feitorias e fortificações milhares por toda a costa, dando início ao périplo africano.
Durante o reinado de D. João II (1485-1495), os portugueses alcançaram o extremo sul africano, o cabo da Boa Esperança (1488), com a viagem de Bartolomeu Dias, definindo a rota a ser seguida para se atingir as índias, o principal celeiro das tão desejadas especiarias. Finalmente, em 1498, Vasco da Gama desembarcou em Calicute, na índia, passando Portugal a deter o controle sobre o comércio das mercadorias orientais. Dois anos depois, em 1500, Pedro Álvares Cabral e sua esquadra chegavam ao Brasil. Dessa forma, no limiar do século 16, a cidade de Lisboa transformara-se num dos mais importantes centros econômicos da Europa e o Atlântico Sul convertera-se numa região de predomínio português.

A expansão marítima espanhola

Antes que Vasco da Gama chegasse às Índias, também a Espanha decidiu entrar na corrida expansionista, motivada pêlos mesmos interesses dos portugueses. Uma série de acontecimentos políticos, decorrentes das guerras contra os árabes, tornara possível aos espanhóis, como acontecera com os portugueses, constituírem uma monarquia centralizada. No entanto, foi só com o casamento de Fernando II, do reino de Aragão, com Isabel I, de Castela, em 1469, que se acelerou o processo espanhol de centralização política. Os chamados "reis católicos" se esforçaram para organizar um Estado unificado e forte que vencesse os muçulmanos. Criaram um tesouro real capaz de financiar as ações do Estado; estabeleceram um direito comum, aplicável a todos os súditos do novo reino; mantiveram um exército forte, sob o controle dos monarcas; e estabeleceram seu domínio sobre o reino de Navarra. Uma de suas maiores conquistas foi a vitória contra os muçulmanos em Granada, recuperando o sul da península ao domínio espanhol, no ano de 1492.
Foi sob estas condições que a coroa espanhola iniciou seu processo expansionista. Procurando antecipar-se aos portugueses na descoberta de uma nova rota comercial para as Índias, patrocinou a viagem do genovês Cristóvão Colombo. O navegador italiano pretendia atingir o Oriente navegando para o Ocidente (ele defendia que a Terra era uma grande esfera, com mares navegáveis). A 12 de outubro de 1492, chegou às Antilhas, na América, convencido, porém, de que alcançara as índias. Por muitos anos, os europeus denominaram Índias Ocidentais as terras da América, pensando ser ela uma continuação da Ásia. A conclusão de que as terras que Colombo descobrira eram um novo continente só veio em seguida, a partir dos estudos do cartógrafo Américo Vespúcio, cujo nome serviu para balizar as novas terras: América.

A expansão inglesa e francesa

As guerras internas, como a das Duas Rosas, na Inglaterra, e a dos Cem Anos, entre a França e a Inglaterra, além do demorado pro­cesso de centralização do poder nas mãos do rei, atrasaram e dificultaram a conquista de novas terras por parte desses dois países. Mas, estimulados pelo êxito de portugueses e espanhóis, vários navegadores a serviço dos reis da França e da Inglaterra exploraram a costa atlântica da América do Norte. Contudo, a ocupação e exploração econômica dessas terras só aconteceria nos inícios do século XVII.
Os holandeses, enfim, puderam iniciar sua participação no processo de expansão marítima europeia quando, no século XVI, obtiveram sua independência em relação à Espanha. Entretanto, o papel mais importante que desempenhou a Holanda foi o de financiar a empresa oficial portuguesa no Brasil e o comércio de especiarias do Oriente.

As consequências da expansão ultramarina

A expansão marítima propiciou aos europeus o estabelecimento de contatos com todas as regiões do planeta, as quais passaram a integrar-se ao modo de vida europeu. A atividade comercial, que até então se desenvolvia lentamente, recebeu um grande impulso com o afluxo dos novos produtos americanos, especialmente os metais preciosos. Essa atividade passou a constituir-se no eixo da vida econômica da Europa da idade Moderna, estabelecendo o capitalismo comercial, em que a acumulação de capital se dá, principalmente, na esfera da circulação de mercadorias. A burguesia teve, então, aumentada sua riqueza e prestigio saciar e os monarcas ampliaram seus próprios poderes, transformando-se em governantes absolutistas, O eixo comercial deslocou-se do mar Mediterrâneo para o oceano Atlântico, com as cidades italianas perdendo a primazia comercial que desfrutavam desde a Baixa Idade Média. A difusão do cristianismo e das línguas ibéricas (português e espanhol) foi outra importante conseqüência do expansionismo.

Tratado de Tordesilhas

Na época das grandes navegações, os europeus acreditavam que os povos não cristãos e não civilizados poderiam ser dominados e por esta razão achavam que podiam ocupar todas as terras que iam descobrindo mesmo se essas terras já tivessem dono.
Começou assim uma verdadeira disputa entre Portugal e Espanha pela ocupação de terras. Para evitar que Portugal e Espanha brigassem pela disputa de terras, os governos desses dois países resolveram pedir ao papa que fizesse uma divisão das terras descobertas e das terras ainda por descobrir. Em 1493, o papa Alexandre VI criou um documento chamado Bula Inter Coetera. Nesse documento, ficava estabelecido que as terras situadas até 100 léguas a partir das ilhas de Cabo Verde seriam de Portugal e as que ficassem além dessa linha seriam da Espanha. O medo que Portugal tinha de perder o domínio de suas conquistas foi tão grande que, por meio de forte pressão, o governo português convenceu a Espanha a aceitar a revisão dos termos da bula e assinar o Tratado de Tordesilhas (1494). Então os limites foram alterados de 100 para 370 léguas.
De acordo com o Tratado de Tordesilhas, as terras situadas até 370 léguas a oeste de Cabo Verde pertenciam a Portugal, e as terras a oeste dessa linha pertenciam a Espanha. O Brasil ainda não havia sido descoberto e Portugal não tinha ideia das terras que possuía. Hoje sabemos onde passava a linha de Tordesilhas: de Belém (Pará) à cidade de Laguna (Santa Catarina). De acordo com o Tratado, boa parte do território brasileiro pertencia a Portugal, mesmo se fosse descoberto por espanhóis. Portugueses e brasileiros não respeitaram o tratado e ocuparam as terras que seriam dos espanhóis. Foi assim que o nosso território ganhou a forma atual.
Apesar dessa invasão, os espanhóis não se defenderam, pois estavam ocupados demais com as terras que descobriram no resto da América, ao norte, a oeste e ao sul do Brasil. Mesmo após 250 anos de descobrimento, os brasileiros continuavam avançando para o interior, não respeitando a linha de Tordesilhas. A maioria nem sabia que ela existia. E assim, terras que seriam da Espanha, foram habitadas por brasileiros.
Várias nações europeias mostraram-se totalmente insatisfeitas com as determinações do Tratado de Tordesilhas, celebrado entre Portugal e Espanha.
O rei Francisco I da França, por exemplo, deixou claro que não respeitaria o Tratado de Tordesilhas, dizendo: “Desconheço a clausula do testamento de Adão que dividiu o mundo entre Portugal e Espanha”.

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