quinta-feira, 25 de julho de 2024

Problemas habitacionais nas cidades globais

O fenômeno da urbanização intensifica-se a partir dos anos 1940 não apenas na Europa e na Ásia, mas também em vários lugares do mundo. Como estudamos anteriormente, a urbanização acelerada gerou diversos problemas sociais nas cidades, uma vez que o espaço urbano não estava preparado para receber o grande contingente de pessoas vindas do campo. Muitos desses migrantes tiveram que se instalar em áreas distantes do centro, onde as habitações eram precárias e não havia infraestrutura básica. Agora vamos abordar alguns exemplos desses problemas nos continentes europeu e asiático.

Na França, políticas públicas adotadas nos anos 1950 e 1960 ajudaram a erradicar as habitações precárias do país já na década de 1980. O governo investiu grande quantidade de recursos na construção de moradia acessível para essa população. No entanto, décadas depois, as chamadas bidonvilles são novamente uma realidade em algumas cidades francesas. As bidonvilles são um conjunto de habitações precárias construídas próximo a linhas de trens, viadutos e rodovias, semelhantes às favelas brasileiras.
As ameaças de despejo e remoção são constantes. Estima-se que, atualmente, em Paris, haja mais bidonvilles que na década de 1960, quando houve uma explosão demográfica no
país. De acordo com a Delegação Interministral do Alojamento e do Acesso à Moradia (Dihal), existem cerca de 571 de favelas pela França, onde vivem cerca de 16 mil habitantes.
Na Espanha, a capital Madrid abriga a maior favela da Europa, chamada Cañada Real. Aproximadamente 44 mil pessoas vivem no bairro onde falta saneamento básico e as moradias são precárias, geralmente de madeira ou lonas. Com a crise econômica enfrentada pela Espanha a partir de 2008, muitas pessoas perderam as suas casas e buscaram outros lugares para sobreviver, como Cañada Real.
A pandemia de covid-19 intensificou os problemas relacionados à moradia nos grandes centros urbanos. Os grupos vulneráveis, como pessoas que estão em situação de rua e que habitam moradias precárias, sofreram de maneira desproporcional os efeitos da doença, uma vez que não puderam praticar o isolamento social de maneira apropriada e, muitas vezes, não dispunham de itens de higiene de básica que os auxiliariam a evitar o contágio.
Além disso, houve o fechamento de indústrias, empresas e estabelecimentos do setor de serviços, o que aumentou o número de desempregados e, consequentemente, de pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Os altos valores dos aluguéis, somados ao baixo valor ou até
mesmo à falta de auxílios sociais, fizeram com que milhares de pessoas fossem despejadas de suas casas e ficassem sem lugar para morar. Uma das formas encontradas por essas pessoas foi morar dentro de barracas de camping montadas no meio de locais públicos da cidade, como calçadas, embaixo de viadutos e pontes, marquises, lotes vazios, praças, entre outros lugares. Na cidade de São Paulo, dados da prefeitura revelam que 6,1 mil pontos da cidade eram ocupados por pessoas que viviam em barracas em 2021, um aumento de 330% comparado com os dados de 2019.
Na Índia, país que abriga quatro das maiores megacidades do mundo, os problemas habitacionais atingem mais de 400 milhões de pessoas segundo dados do governo indiano. Muitos deles vivem em casas com seis pessoas e apenas dois cômodos, com banheiro compartilhado com outros vizinhos. Em cidades como Délhi e Nova Délhi, muitas dessas moradias estão nos pisos superiores dos mercados de especiarias da cidade.

AS CIDADES INTELIGENTES

O desenvolvimento acelerado das tecnologias no campo da comunicação, da inteligência artificial e das engenharias de software tem feito com que muitos países planejem e construam cidades inteligentes.
Podem ser chamadas de Smart Cities (expressão em inglês) as localidades com projetos ou iniciativas de reformulação de suas áreas urbanas que empregam inovação tecnológica para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, ou seja, para ser considerada uma Cidade Inteligente, o projeto da localidade deve unir os avanços científicos disponíveis às necessidades urbanas em geral, fazendo com que as soluções para determinados tipos de problema sejam eficientes.
Para isso, nas Cidades Inteligentes utiliza-se a Internet das Coisas (conhecida pela sigla IoT, do inglês Internet of Things) para desenvolver e executar ações no cotidiano urbano. Isso quer dizer que, nessas cidades, objetos pessoais e equipamentos urbanos – como aparelhos celulares, semáforos, sensores de abastecimento e distribuição de água, entre outros – conectam-se uns com outros e trocam informações de maneira automatizada e em tempo real, sem que uma pessoa precise operá-los.
Um exemplo são os sensores em semáforos, que se autorregulam ao detectarem congestionamentos, por exemplo, liberando o fluxo dos veículos ou dando prioridade ao transporte público de passageiros. Outro exemplo são cidades que investiram em sistemas digitais de segurança, que monitoram e controlam o fluxo de pessoas em lugares públicos, ou, ainda, alagamentos ou deslizamentos de terra em áreas de risco.

As cidades inteligentes apresentam características para além de tecnologias digitais em boa parte do seu funcionamento, como acesso à educação de qualidade em todos os níveis de ensino, acesso a sistemas de saúde, boa conectividade de dados e utilização de diferentes modais de transporte.

A redução dos níveis de estresse, o aumento da quantidade de empregos formais e a redução do custo de vida são indicadores de boa qualidade de vida para a população. Em contrapartida, a implantação dessas cidades demanda alto custo e necessidade de mão de obra qualificada, o que faz com que se concentrem, sobretudo, em países desenvolvidos.

As cidades que comandam a economia mundial do século XXI dedicam-se às atividades do setor terciário e são as que centralizam a produção inteligente, reunidas em start-ups, escritórios organizados em coworking, verdadeiros centros estruturados para produzir inovações no setor informacional.

Melbourne, Dubai, Shenzhen, Hong Kong, entre outras, são exemplos de cidades voltadas à produção de sistemas de alta tecnologia, sobretudo aqueles relacionados à indústria da informação, da comunicação digital e de desenvolvimento de softwares e entretenimento (games).

Além do Vale do Silício, na Califórnia, os complexos industriais tecnológicos e informacionais difundiram-se para outras cidades estadunidenses e europeias desde 2010, formando o Beco do Silício (em Nova York), as Pradarias do Silício (Nebraska, Texas, Boston) e as Docas do Silício, em Dublin, Irlanda.
A cidade de Curitiba, capital do Paraná, é considerada um bom exemplo de Cidade Inteligente do país. Ela foi pioneira em implantar um sistema inteligente de transporte coletivo urbano e de monitoramento do tráfego que proporcionou maior mobilidade à população.

O VALOR DA AGRICULTURA: COMMODITIES

No mundo, o mercado de commodities é um dos maiores e pode afetar a economia de um país a depender do valor do produto. Isso acontece, por exemplo, com o trigo: se o preço aumenta, isso interfere no preço da farinha e, consequentemente, do pão, impactando a vida das pessoas.
O comércio mundial de produtos agropecuários abrange tanto os produtos alimentícios (cereais, frutas, carne, laticínios etc.) como as matérias-primas para a indústria e o setor energético. Essa comercialização acontece principalmente na forma de commodities, cujos preços são estabelecidos em escala internacional nas bolsas de mercadorias, como as de Chicago e Nova York, nos Estados Unidos, e Londres, no Reino Unido.

As commodities são mercadorias principalmente agropecuárias e minerais, que são a base de outros processos de fabricação de mercadorias. A produção é em larga escala e suas características não variam de país para país. As commodities são importantes na economia mundial, influenciando o valor dos produtos consumidos pela população. Países cuja economia é estruturada com base no setor primário e na exportação dependem da cotação elevada das commodities e do volume das exportações para manter a balança comercial positiva. Os valores são definidos nas bolsas de valores.
A variação dos preços das commodities reflete em toda a economia, já que são matérias-primas usadas para a fabricação de diversos produtos. Em caso de elevação, os alimentos ficam mais caros, prejudicando os consumidores – especialmente a população mais pobre, que, em geral, destina grande parte de seu rendimento para a aquisição de alimentos.
Os preços das commodities sofrem grandes alterações ao longo do tempo. Por exemplo, em períodos de alta da produção e grande oferta de produtos, os preços tendem a cair. Em contrapartida, quando há escassez do produto no mercado, os preços sobem. É o caso do trigo em 2022: a alta dos preços desse produto está relacionada com o conflito envolvendo a Ucrânia, pois 50% da produção de trigo ucraniana encontra-se armazenada e sem possibilidade de escoamento, uma vez que seus portos no Mar Negro se encontram sob bloqueio russo.
No entanto, as projeções econômicas de valor das commodities tendem a diminuir, uma vez que a China, principal comprador desses produtos, fechou temporariamente seus portos devido à pandemia de covid-19 e houve redução do consumo na Europa devido ao conflito na Ucrânia.
Além dos problemas que envolvem o estoque e o transporte da produção, as alterações climáticas podem interferir diretamente na produção agrícola mundial, resultando em aumento ou redução do valor desses produtos. Essas alterações no valor e na produção de commodities afetam todo o setor de alimentos, uma vez que eles são utilizados também para a produção de ração para produção pecuária.
O mercado mundial de commodities é controlado por um restrito conjunto de trading companies, que são, principalmente, transnacionais. Elas têm grande poder, influenciam a formação de preços no mercado internacional, o valor dos fretes marítimos para transportá-las etc.
No Brasil, as tradings de commodities atuam na comercialização de soja, milho, açúcar, café, algodão e outros produtos e, nos últimos anos, têm atuado na aquisição de usinas de açúcar e etanol e no financiamento de sementes, agrotóxicos e fertilizantes para o agronegócio.
Países que são grandes exportadores de produtos agropecuários, mas não se destacam como produtores e exportadores de produtos industrializados, estão mais suscetíveis e vulneráveis à oscilação dos preços das commodities. Essa característica se aplica principalmente aos países em desenvolvimento, bem como aos emergentes, que em geral são economias dependentes da produção e da exportação de commodities, como é o caso do Brasil.

A População Economicamente Ativa (PEA)

Uma contradição demográfica atual está relacionada aos índices de População Economicamente Ativa (PEA). Esse índice nos mostra a quantidade da população com potencial para vender sua força de trabalho. Com o aumento da população, tem-se um crescimento da demanda produtiva e, consequentemente, a necessidade de mão de obra. No entanto, nem sempre esse fato ocorre sem problemas e desafios socioeconômicos.

Com a transição demográfica que vem ocorrendo, principalmente nos países europeus, há muitas pessoas classificadas como população economicamente inativa, ou seja, pessoas consideradas sem potencial para vender sua força de trabalho, como jovens abaixo de 15 anos e, sobretudo, idosos acima de 60 anos. Analise o gráfico a seguir, que mostra a porcentagem da população economicamente ativa nos países do G20.
Os países pertencentes à União Europeia apresentam 64,2% da população na PEA. Como forma de reduzir os impactos da redução de mão de obra disponível, países como Itália, Portugal, Países Baixos e Alemanha, entre outros, têm investido em condições de trabalho e de vida atrativas para imigrantes, além de políticas públicas que incentivem seus cidadãos a ter filhos.
Nos Países Baixos, por exemplo, o governo oferece os itens básicos para montar o enxoval, como fraldas e leite, para famílias que optam por ter filhos, além de disponibilizar uma enfermeira para acompanhar a mãe no primeiro mês após o parto. Na Alemanha, os jovens recebem bolsas de estudo e financiamento estudantil para qualificação profissional.
Já a China, a principal economia asiática, tem quase 70% da população disponível para o mercado de trabalho, acima da média mundial, que é de 64,3%, e uma das mais altas do G20, atrás de Coreia do Sul e Arábia Saudita.

A indústria do futebol

A disseminação do futebol pelo mundo ocorreu a partir do século XX, acompanhada da expansão do modo de vida urbano, das atividades industriais e, a partir dos anos 2000, do investimento de capital da indústria de petróleo árabe no futebol mundial. A fundação da Federação Internacional de Futebol (Fifa), em 1904, em Paris, e a criação da Copa do Mundo de Futebol, em 1930, fortaleceram ainda mais o esporte como prática globalizada.

As empresas de diversos setores passaram a investir no futebol e a expor suas marcas, aumentando potenciais mercados consumidores. Também houve inovações relacionadas à ciência e à tecnologia ao fabricar uniformes e acessórios e ao construir arenas e estádios. Os jogadores passaram a ter um papel maior do que apenas em campo: suas imagens agregam valor e geram renda às marcas, o que resulta em rendimentos muito altos. Analise a fotografia a seguir.

Em 2022, o jogador francês Kylian Mbappé, de 23 anos, era o mais valioso do mundo do futebol, com valor de mercado superior a R$ 1 bilhão. 

Os principais investidores e patrocinadores dos times de futebol são empresas de telecomunicações e indústrias petroquímica e automobilística, o que reforça a influência do capital industrial sobre todos os setores da economia, incluindo as modalidades esportivas.

Grandes eventos relacionados ao futebol, como a Copa do Mundo, geram grandes impactos socioambientais nos lugares que recebem esses eventos. Eles envolvem a construção de estádios e outras infraestruturas para receber os jogos, o que muitas vezes acarreta na desapropriação da população que vive no entorno das obras e na transformação de paisagens que possuem importância histórica e cultural.
Atualmente, a cadeia produtiva relacionada a futebol integra diversos países e setores da economia. As atividades envolvem desde o desenvolvimento de designs e tecnologia para uniformes, chuteiras e meias até a produção das bolas, além de todas as matérias-primas utilizadas nos processos.
Isso resulta em um fluxo comercial e cultural intenso entre os países. Um exemplo é a cidade de Sialkot, localizada na região central do Paquistão, onde são costuradas milhões de bolas de futebol utilizadas em grandes campeonatos, como a Copa do Mundo.

Hallyu: a onda cultural sul-coreana

A partir dos anos 2000, com a expansão do acesso à internet e às redes sociais, o consumo dos k-dramas (séries  coreanas) e do k-pop (gênero musical produzido no país) vem aumentando exponencialmente em diversos países.
Essa divulgação da cultura coreana é chamada de Hallyu, a “onda coreana”. Essa palavra representa os investimentos econômicos que a Coreia do Sul tem feito na cultura do país ao longo das últimas décadas. É possível notar, por exemplo, a maior presença dessas produções em grandes plataformas de streaming do mundo todo.
É provável que você já tenha ouvido falar de K-pop e doramas, tenha usado um produto de beleza importado da Coreia do Sul ou assistido ao aclamado filme “Parasita”, ganhador do Oscar de Melhor Filme em 2020.
Além do cinema e da música, outros produtos como cosméticos, jogos de vídeo game, roupas e alimentos, por exemplo, também sofreram um aumento das importações em decorrência da Hallyu.
Esses, e outros movimentos, são resultado dos esforços do governo sul-coreano para sair da crise econômica nos anos 90. Impulsionar a cultura internacionalmente para atrair turistas e aquecer a produção interna foi a solução que, especialmente nos últimos anos, tem dado incríveis resultados para o país

A influência cultural estadunidense

Os Estados Unidos, além de serem uma potência política, econômica e bélica, são também uma potência cultural da indústria do entretenimento. Os Estados Unidos não apenas influenciam, mas fazem escola no cinema, nas histórias em quadrinhos, nos programas de televisão, entre outros.
A partir da segunda metade do século XX, os Estados Unidos têm ampliado sua influência imperialista, tanto no campo da política e da economia, quanto na cultura. Eles foram responsáveis pelos empréstimos para reestruturação econômica dos países europeus pós Segunda Guerra Mundial, dolarizando a economia mundial.
Assim, os Estados Unidos passaram a exercer influência nos costumes, hábitos e estilos de vida, principalmente por meio da indústria cinematográfica e televisiva. Um exemplo são as constantes propagandas sobre o modo de vida estadunidense, conhecido como American Way of Life. A indústria cinematográfica foi o principal meio de propaganda dos aspectos culturais estadunidenses, passando uma imagem idealizada de suas condições de vida.
A presença da cultura estadunidense no mundo pode ser percebida de diversas formas, como a adoção de palavras e expressões da língua inglesa, os hábitos de consumo e a organização produtiva em vários países. Esses valores foram aos poucos sendo consolidados nos países da América Latina e em outros no mundo. 
Na imagem podemos observar pessoas em Dubai, consumindo em um restaurante fast-food, uma característica da cultura estadunidense mais difundida no mundo.
Atualmente, a preocupação dos Estados Unidos em manter seu status de maior potência bélica e econômica mundial é intensificada com a bipolarização causada pelo crescimento econômico e bélico da China, colocando-a como nova potência mundial.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...