sexta-feira, 16 de agosto de 2024

BRASIL: TRANSFORMAÇÕES NO CAMPO

O campo brasileiro passou, e continua passando, por muitas transformações:

• mecanização da produção, com a utilização de tratores, semeadeiras, colheitadeiras, ceifadeiras e outros equipamentos;
• aumento do uso de adubos, fertilizantes e agrotóxicos;
• desenvolvimento de pesquisas para aplicação de novos conhecimentos e técnicas, como a criação de espécies resistentes a espécies invasoras e doenças ou que se adaptem melhor a determinado tipo de solo ou clima;
• uso de medicamentos e vacinas nos rebanhos para que se desenvolvam mais rapidamente;
• adoção de inovações, com o objetivo de reduzir os impactos ambientais e fazer melhor uso dos recursos naturais. São usadas, por exemplo, as chamadas Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC), criando-se softwares e aplicativos para diversos fins, como reduzir o desperdício de água na irrigação e evitar o uso excessivo de produtos químicos.

Esse conjunto de transformações promoveu a modernização do campo, proporcionando grande aumento da produtividade. No entanto, a forma como essas transformações aconteceram priorizou o agronegócio em detrimento da agricultura familiar, trazendo aspectos negativos, como:

substituição da produção: os cultivos de alimentos (feijão, milho, mandioca, hortaliças etc.) foram substituídos por cultivos destinados à indústria nacional e à exportação (soja, cana-de-açúcar, algodão, laranja etc.);
concentração de terras e êxodo rural: a produção em grande escala fez muitas propriedades rurais expandirem ainda mais suas terras para aumentar a produção. Com a dificuldade de acesso à terra e a recursos para a produção, muitas pessoas, principalmente a partir da década de 1960, deixaram o campo em busca de melhores condições de vida nas cidades, causando um intenso êxodo rural. A mecanização da produção também contribuiu para o êxodo, pois as máquinas substituíram o trabalho de muitos agricultores;
problemas ambientais: para aumentar a produção, áreas de vegetação nativa foram transformadas em pastos e plantações, intensificando o desmatamento e as queimadas. O peso das máquinas agrícolas e o pisoteio do gado provocam a compactação (endurecimento) do solo ou da terra, dificultando a infiltração da água e o desenvolvimento de raízes de plantas, o que prejudica a prática agrícola. Outro problema é a contaminação do solo e das águas por agroquímicos (como agrotóxicos e fertilizantes).

Xenofobia no Brasil

Os termos racismo, preconceito e discriminação estão presentes no nosso cotidiano. 
No Brasil, grupos historicamente marginalizados, como os indígenas e os negros, são as principais vítimas dessas formas de violência. Os imigrantes, principalmente os refugiados, também são vítimas de preconceito. 
Não é incomum a migração ser interpretada como um problema em vez de como um fenômeno social semelhante a tantos outros. Alguns discursos transmitem a preocupação com a eventual chegada de pessoas “estranhas”, revelando desconhecimento, medo e preconceito em relação ao migrante. 
Esse sentimento de temor, desconfiança, antipatia, quando potencializado, pode desdobrar-se em violência física e moral contra as pessoas originárias de outras localidades e/ou em políticas que visam inibir sua chegada. 
Esse tipo de discriminação contra estrangeiros é denominado xenofobia. Xenofobia é a rejeição, o medo ou o ódio aos estrangeiros. A palavra vem dos termos gregos xeno, que pode ser traduzido como “estrangeiro”, e phóbos, “medo”, “aversão”.
Esse sentimento é manifestado de diversas maneiras, sendo o imigrante:

• obrigado a aceitar salários mais baixos que a média nacional;
• levado a enfrentar dificuldades para arrumar trabalho remunerado;
• alvo de frases agressivas e xingamentos;
• alvo de piadas preconceituosas;
• vítima de isolamento social e de agressões físicas.

Assim como o mito da democracia racial afirma que os negros não são discriminados, existe o mito de que o brasileiro recebe bem a todos. No entanto, com o aumento do número de imigrantes a partir de 2010, as denúncias de xenofobia também aumentaram. As principais vítimas são os refugiados, os imigrantes latinos e as pessoas de origem árabe ou de religião muçulmana.
No Brasil, a xenofobia é considerada crime (lei no 9.459, de 1997): “serão punidos, na forma desta lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Preocupado com o crescimento da xenofobia e dos atos de violência, o governo brasileiro divulga campanhas para conscientizar a população da necessidade de respeitar e de acolher bem os imigrantes.

domingo, 11 de agosto de 2024

A industrialização brasileira

Do século XX ao XXI: fases da indústria no Brasil 

Até o início do século XX, o Brasil ainda não havia se industrializado, a agropecuária respondia por 45% do PIB brasileiro e a produção de café para exportação era a principal atividade do país. A maioria dos produtos industrializados que eram comercializados no Brasil ainda vinha da Europa, quando a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) eclodiu. O conflito provocou a diminuição da oferta de mercadorias dos países europeus e as tornou mais caras. Nesse período, novas fábricas surgiram no Brasil, substituindo as importações de alguns produtos estrangeiros. 

Crises externas e desenvolvimento industrial brasileiro 

As reduções do preço do café no mercado internacional e os períodos de crise econômica mundial, decorrente em parte da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e da quebra de empresas e da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, levou ao deslocamento de parte dos recursos destinados à produção cafeeira para o desenvolvimento da indústria. Esses fatores criaram novas oportunidades de lucro com a produção e venda de bens até então importados pelo Brasil, para os quais já havia mercado consumidor interno
Na década de 1920, parte dos ganhos obtidos com a venda de café passou a ser investida na criação de bancos e indústrias. Em 1929, uma crise econômica começou nos Estados Unidos e afetou outros países. O preço internacional do café despencou e muitos cafeicultores faliram em nosso país. Com isso, o governo e os investidores se voltaram para a criação de indústrias, e, a partir da década de 1930, o Brasil intensificou sua industrialização. Por essa razão, foi chamado de “país de industrialização tardia”, quando comparado à Inglaterra, à França ou aos Estados Unidos. 
O processo de industrialização brasileiro foi, em grande parte, possibilitado pelo capital acumulado na rede bancária e que não seria reinvestido nas plantações de café, em razão da reduzida possibilidade de lucro diante do contexto econômico mundial. Fabricou-se aqui, sobretudo, bens de consumo não duráveis e semiduráveis, como sapatos, roupas, produtos de higiene, alimentos, bebidas, gráfica (papelaria), móveis, etc., que exigiam pouco investimento financeiro e tecnologias mais simples. Para isso, importou-se máquinas dos países que eram expoentes industriais, deixando de investir no desenvolvimento tecnológico nacional e tornando o país dependente da tecnologia externa. 

Primeiro governo Vargas 

Com o governo do presidente Getúlio Vargas, entre 1930 e 1945 (que exerceria a presidência novamente entre 1951 e 1954), o Estado passou a investir fortemente na industrialização do país, sobretudo nas indústrias de base, que exigem grande volume de investimento e retorno a longo prazo e são essenciais (ainda mais naquela época) ao processo de industrialização, pois favorecem o desenvolvimento dos demais setores industriais. Destacam-se a criação de indústrias estatais de siderurgia (1941: Companhia Siderúrgica Nacional – CSN), bens de capital (1942: Fábrica Nacional de Motores – FNM) e mineração (1942: Companhia Vale do Rio Doce – CVRD). A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) também favoreceu a industrialização brasileira por meio de crises de abastecimento e necessidade de produção local daquilo que ainda era importado e de negociações que o governo fez para vincular seu apoio aos Aliados na guerra (Estados Unidos, Reino Unido e França) em troca de investimento e repasse de tecnologia industrial. Ou seja, novamente a substituição de importações foi um grande motivador do desenvolvimento industrial brasileiro.
Na década de 1940, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o desenvolvimento da indústria nacional foi novamente estimulado pela substituição de produtos importados por nacionais. Esse foi um período de muitos investimentos estatais na produção de energia, aço e máquinas, sem os quais outras indústrias dificilmente surgiriam. 

Pós-Segunda Guerra Mundial 

Ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a industrialização brasileira ganhou uma nova configuração ao se desenvolver por meio da instalação de filiais de empresas estrangeiras (de origem europeia, japonesa e estadunidense) que passaram a se internacionalizar na busca por mercado consumidor, oferta de matéria-prima e energia, mão de obra mais barata e legislação favorável. 

50 anos em 5 

Na década de 1960, visando modernizar a indústria, o governo de Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil entre 1956 e 1961, estabeleceu um ambicioso projeto de modernização do país, denominado Plano de Metas.
O projeto tinha como slogan promover o avanço econômico do país de 50 anos em 5 anos. Com especial atenção para as áreas de energia, transporte e indústrias de base (química, siderúrgica, elétrica etc.).
O incentivo à industrialização mobilizou a instalação de infraestrutura viária e desenvolvimento do setor energético. Aumentou-se consideravelmente a geração de energia elétrica e extração de petróleo, assim como a abertura e pavimentação de estradas, estimulando a vinda de montadoras automobilísticas estrangeiras ao país. Por outro lado, o transporte ferroviário foi praticamente abandonado. É desse período também o projeto e construção de Brasília, a sede da nova capital federal. Além disso, foram criados mecanismos fiscais e financeiros que incentivaram a importação de maquinário pelos empresários brasileiros e a entrada de capital estrangeiro na participação nos empreendimentos e na economia nacional. Esse período foi marcado pelo aumento da entrada de empresas multinacionais no território brasileiro. 

Governos militares 

Com a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, quem assumiu foi seu vice, João Goulart, que tentou promover um conjunto de reformas, como a agrária, a cambial, a tributária, a educacional, entre muitas outras que desagradaram os setores mais conservadores da sociedade, uma grande parte da elite urbana e rural, bem como parte de empresas e investidores estrangeiros, que se mobilizaram para impedi-las. Em 1964, os militares brasileiros, com apoio de parte da sociedade civil, destituíram o presidente (Golpe de Estado), fecharam o Congresso e assumiram o poder executivo no país, que deixou de realizar eleições diretas para presidente até 1989.
Os governos militares assumiram uma postura desenvolvimentista e que promoveu a industrialização e a construção de grandes empreendimentos de infraestrutura, com significativo desenvolvimento do setor de bens de produção até por volta de 1980. Entre 1968 e 1973, o país cresceu a uma média de 10% ao ano. Em 1979, pela primeira vez na história do país, a exportação de bens industrializados superou o de gêneros primários (agrícolas, minérios, etc.). Esse desempenho foi chamado de “milagre brasileiro”. Entretanto, também foi o período de grande endividamento externo do país, redução do valor de compra do salário-mínimo, não reajustado adequadamente, e aumento da desigualdade social.

“a década perdida” 

A década de 1980 foi conhecida como “a década perdida” por ter sido marcada pela grande recessão e crise econômica vivida pelo país e que se desdobrou até o início dos anos 2000. Foi um período de estagnação das atividades industriais e muitas fábricas foram deslocadas dos grandes centros urbanos para cidades menores no mesmo estado ou até para outros estados, que ofereciam condições fiscais mais vantajosas.
Na década de 1990, já em governo eleito democraticamente e com grande influência da globalização econômica e financeira, foi promovida no país uma abertura comercial e ampliada à concorrência com empresas estrangeiras. Esse movimento levou a uma maior competitividade interna, falência ou compra de empresas, privatizações e nova onda de modernização e competitividade (mão de obra bastante qualificada e novas tecnologias). Com o término de alguns mecanismos de protecionismo à indústria nacional, ocorreu a facilitação da entrada de máquinas e equipamentos industriais de última geração, possibilitando a modernização de parte do parque industrial brasileiro, melhorando a qualidade de alguns setores, tornando-os mais competitivos. 
Com a economia mais estável, alguns segmentos industriais voltaram a crescer. Outros, porém, tiveram dificuldade para superar a concorrência dos produtos importados após a abertura comercial desse período.
O setor industrial brasileiro no século XXI depende cada vez mais do desenvolvimento tecnológico para melhorar seu desempenho. Apesar de os investimentos em ciência e tecnologia serem crescentes, ainda não têm sido suficientes para tornar o Brasil independente tecnologicamente.

Concentração e relativa desconcentração industrial

Desde o início, a industrialização do Brasil concentrou-se na Grande Região Sudeste, principalmente nas Regiões Metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na metrópole paulista, essa concentração ocorreu no chamado “ABCD”, que reúne os municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema. A Rodovia Anchieta, que liga esses municípios ao Porto de Santos, a disponibilidade de energia elétrica e a proximidade do mercado consumidor foram fatores determinantes para a escolha dessa localização industrial. A partir da década de 1950, intensificou-se a implantação de indústrias ao longo de quatro principais eixos rodoviários paulistas: a Rodovia Presidente Dutra, a Rodovia Presidente Castelo Branco, o Sistema Anchieta-Imigrantes e o Sistema Bandeirantes-Anhanguera-Washington Luís. A instalação de indústrias nesses eixos rodoviários mostra a desconcentração industrial em relação à Região Metropolitana de São Paulo. Entretanto, esse processo vem ocorrendo também em âmbito nacional. Assim, há um declínio relativo na atividade industrial do estado de São Paulo e da Grande Região Sudeste. Em outras palavras, a industrialização do estado de São Paulo e da Grande Região Sudeste está crescendo em um ritmo mais lento do que o de outros estados e regiões do Brasil, produzindo, assim, uma nova distribuição espacial das indústrias.

A desconcentração industrial e suas causas

Apesar da relativa desconcentração industrial em curso, a Grande Região Sudeste, sobretudo o estado de São Paulo e as Regiões Metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro, continua sendo a principal área industrial do Brasil. Porém, é importante destacar os fatores que estão levando a essa desconcentração. Estudaremos, a seguir, quais são eles.

Política industrial do governo militar

Durante o governo militar, no período de 1964 a 1985, instituíram-se diversas políticas de industrialização e planos econômicos de desenvolvimento dirigidos à descentralização industrial no país. Foram realizados investimentos em infraestrutura essenciais para a criação de polos industriais. Destacam-se a exploração de minérios em Carajás (PA), Trombetas (PA), Caraíba (BA) e Patos (MG); os portos de Itaqui (MA) e Tubarão (ES); as petroquímicas de Camaçari (BA), Paulínia (SP) e Canoas (RS); a indústria automobilística em Betim (MG); além de outros.

Elevação dos custos de produção

Ao longo do tempo, a Grande Região Sudeste, sobretudo a Região Metropolitana de São Paulo, perdeu vantagens na produção industrial para outras unidades da federação e regiões do Brasil. Isso porque passou a apresentar altos custos produtivos resultantes de um conjunto de fatores, como congestionamento de trânsito e impostos e salários mais altos.

A guerra fiscal

Principalmente a partir da década de 1990, vem ocorrendo a atração de indústrias para fora da Grande Região Sudeste em razão da intensificação de vantagens fiscais oferecidas por governos estaduais, distrital ou municipais de outras regiões do Brasil. Exemplos dessas vantagens são: incentivo fiscal, doação de terrenos com infraestrutura de saneamento básico, de transporte, de comunicação etc. A chamada guerra fiscal, somada às outras causas da desconcentração industrial apresentadas, ajuda a explicar a atual distribuição das indústrias no Brasil e a participação desse setor da economia em cada região do país.

Indústria, inovação tecnológica e transformações socioeconômicas do território

Durante o século XIX e parte do século XX, um dos fatores que diferenciavam os países do mundo em desenvolvidos, subdesenvolvidos e em desenvolvimento era o nível de industrialização por eles alcançado. As técnicas de produção, que impulsionaram a industrialização nesses séculos, assumiram, por volta da década de 1970, uma nova etapa graças à Terceira Revolução Industrial. Também conhecido como Revolução Técnico-Científico-Informacional, tal processo caracteriza-se pela intensa aplicação de conhecimentos científicos à produção e pelo desenvolvimento tecnológico em diversas áreas, como a informática – com o amplo uso de computadores e de redes de comunicação, como a internet; as telecomunicações – satélites artificiais; a robótica – uso de robôs no processo de produção; além de outras. Certos países já se encontram na Quarta Revolução Industrial, chamada também de Indústria 4.0, que se caracteriza pelo aperfeiçoamento das máquinas e dos equipamentos.

Economia do conhecimento

A atividade industrial, considerada o “motor” do desenvolvimento econômico e social dos países durante os séculos XIX e XX, passou a disputar importância, de alguns anos atrás para os dias atuais, com a produção de conhecimento sobre as técnicas; daí se falar, hoje, em economia do conhecimento. O “saber fazer” tornou-se uma valiosa mercadoria, sendo produzida e comercializada em escala global, beneficiando países, instituições e pessoas que produzem conhecimento e desenvolvem novas tecnologias. No início da década de 1950, algumas empresas de tecnologia se estabeleceram no Vale do Silício (Silicon Valley), no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, região onde há universidades importantes, como Stanford e Berkeley. Logo, a região transformou-se em importante polo de tecnologia avançada nos setores de eletrônica, informática e comunicação. O elemento químico silício inspirou o nome dado à região por ser a matéria-prima usada na produção de grande parte dos pequenos circuitos eletrônicos (chips). Várias empresas de tecnologia dinamizaram e promoveram uma reorganização do território na região. Elas atraíram pessoas de outras áreas dos Estados Unidos e do mundo, induziram o crescimento urbano, a construção de infraestruturas, o desenvolvimento do comércio e de indústrias etc. Não tardou para que surgissem polos de tecnologia avançada em outros países, como França, Alemanha, Japão, Reino Unido, Coreia do Sul e Países Baixos.

O Brasil e a economia do conhecimento

A inserção do Brasil na economia do conhecimento ainda é modesta se comparada à dos grandes centros mundiais de produção científica e tecnológica. No país, as pesquisas são realizadas principalmente em universidades e instituições governamentais e, em menor proporção, em empresas do setor privado – diferentemente dos Estados Unidos, onde a maior quantidade de pesquisadores trabalha em empresas privadas. No Brasil, os pesquisadores de instituições governamentais enfrentam diversos problemas, entre eles a escassez de recursos financeiros, a ineficiência dos órgãos públicos para autorizar a aquisição de materiais e substâncias necessárias para a realização de pesquisas, além de outros.

Parques científicos e tecnológicos no Brasil

Um parque tecnológico corresponde a uma concentração geográfica de instituições dedicadas a atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e envolvidas na produção de bens e serviços, como universidades, centros de pesquisa, laboratórios e empresas. A instalação de um parque científico e tecnológico exige investimentos em infraestrutura e mão de obra qualificada. Porém, pode estimular a economia e integrar territórios com os espaços nacional e internacional.

Parques científicos e tecnológicos e reorganização espacial

Além de atrair populações e empresas, os parques científicos e tecnológicos dinamizam a economia e estimulam o crescimento do setor terciário (comércio e serviços), favorecendo, assim, as comunidades locais. Têm, nesse sentido, uma função de reorganização do espaço geográfico. De modo geral, atraem e criam demanda por empreendimentos, como agências bancárias, hotéis, centros de convenção, lojas, lanchonetes, hospitais, entre outros. Além disso, quando são implantados, geram a necessidade de infraestrutura básica (como a criação de vias de circulação, energia, saneamento e telecomunicações); fomentam a construção civil por meio de edificações para a instalação de empresas, laboratórios e outros espaços de trabalho etc.; e favorecem o surgimento de empresas de serviços (limpeza, segurança, alimentação, entre outras) para atender à sua estrutura administrativa.
Por exemplo, a implantação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), respectivamente nos anos de 1950 e 1971, no município de São José dos Campos, no estado de São Paulo, reorganizou o território do município e de suas proximidades.
Em 1960, a população de São José dos Campos somava 40 mil habitantes e sua economia era predominantemente de base agrícola. Em 2021, sua população chegou a 730 mil habitantes e sua economia passou a ser de base industrial. O município conta com várias universidades e faculdades, atraindo estudantes de todo o Brasil e do exterior.

O combate aos preconceitos no Brasil

Nas últimas décadas, os diferentes tipos de preconceito têm sido debatidos pela sociedade brasileira de forma cada vez mais ampla e aberta. A luta por igualdade e justiça e a melhoria das leis buscam não só evitar e punir o preconceito, mas também promover a diversidade cultural e a liberdade de qualquer indivíduo em fazer suas próprias escolhas sem ser por isso discriminado. Apesar dos avanços, a intolerância ainda faz parte do cotidiano, em particular entre crianças e jovens.

Preconceitos no contexto escolar

Uma pesquisa realizada pelo IBGE, em 2019, mostrou que diversas formas de preconceito fazem parte do cotidiano de professores e alunos nas escolas brasileiras.
Nessa pesquisa, quase um terço dos alunos afirmou ter sofrido algum tipo de humilhação por sua aparência física. Essa prática está enquadrada em um dos artigos do Projeto de Lei do Novo Código Penal e, caso aprovado, será considerada crime. Quase 5% dos alunos sofreram algum tipo de discriminação racial. O Estatuto da Igualdade Racial (Lei no 12288, de 2010) é destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades e a combater a discriminação e as demais formas de intolerância étnica. Em 2019, o Supremo Tribunal Federal decidiu que ofensas com motivação na orientação sexual da pessoa e identidade de gênero poderão ser consideradas crimes de racismo até que o Congresso Nacional vote lei específica sobre o tema. A Lei Federal no 7716, de 1989, além de definir os crimes resultantes de raça ou de cor, protege a liberdade de prática religiosa para todos os cidadãos.

Humilhações na internet

A humilhação de alguém na internet por suas escolhas, crenças ou por sua aparência, também conhecida como bullying virtual, é comum. Uma pesquisa realizada em 2014 com crianças e adolescentes de 9 a 17 anos revelou uma realidade preocupante.

Redes antissociais

De acordo com a pesquisa, 64% dos jovens já sofreram algum tipo de humilhação e/ou foram tratados de forma ofensiva nas redes sociais. E quase metade foi ofendida por meio de mensagens instantâneas.

Uso responsável

Se a internet é um dos ambientes de propagação de ofensas e humilhações, as redes sociais são os principais meios transmissores desses comportamentos e, por essa razão, exigem um uso cauteloso e responsável.

Punição

Esse tipo de comportamento ofensivo está previsto como crime em um dos artigos do Projeto de Lei do Novo Código Penal.

Os afro-brasileiros no Brasil atual

As comunidades remanescentes de quilombos

São comunidades formadas por descendentes de negros africanos escravizados que fugiram das fazendas de açúcar, de café, da atividade mineradora e de outras a partir do século XVII. Eles se autodenominam quilombolas. Essas comunidades persistiram e são encontradas em praticamente todos os estados brasileiros. Durante muito tempo ficaram desconhecidas ou isoladas. Com a Constituição Brasileira de 1988, que concedeu aos quilombolas o direito à propriedade de suas terras e à manutenção de suas culturas, essas comunidades ganharam mais visibilidade na sociedade brasileira. Até 2002, haviam sido identificadas 743 comunidades quilombolas no Brasil. Atualmente, graças às iniciativas do governo federal e das comunidades quilombolas em busca do autorreconhecimento, o número de comunidades identificadas chega a quase 3500. No entanto, por causa da demora no processo de reconhecimento oficial e titulação da maior parte delas, há ainda muitos conflitos entre quilombolas, fazendeiros e posseiros.

Desigualdade entre negros e não negros

Vários estudos comprovam que a população negra, em seu conjunto, possui as piores condições de vida se comparadas às de outros grupos. A expressão mais dramática dessa desigualdade é a incidência da pobreza na população negra: no Brasil, de cada dez pobres, seis são negros. Além disso, os negros recebem cerca de metade dos rendimentos obtidos pelos não negros e apresentam as maiores taxas de desemprego. No mercado de trabalho, ainda é alta a desigualdade entre negros e não negros, sobretudo em relação às mulheres negras. Elas são as que mais sofrem com a discriminação: apresentam a menor taxa de participação no mercado de trabalho, a menor taxa de ocupação, a maior taxa de desemprego e o menor rendimento. A desigualdade persiste na educação: a taxa de analfabetismo na população negra e parda é mais do que o dobro em relação à da população branca. Isso significa que, quanto maior o nível de ensino (da educação básica ao ensino superior), menor é a presença dos negros.
Os movimentos dos afro-brasileiros Nos últimos anos, os movimentos de luta dos afrodescendentes por igualdade social e melhores condições de vida vêm contribuindo para a superação de barreiras sociais e culturais, permitindo-lhes destacar- -se em várias atividades. Eles reforçam, com isso, que não é a cor da pele que determina a capacidade das pessoas. Logo após a abolição da escravidão em 1888, surgiram as primeiras organizações de afrodescendentes, já que os ex-escravos não foram incorporados como trabalhadores livres e continuaram excluídos da sociedade. Nas décadas de 1960 e 1970, os movimentos em busca de direitos civis para os negros ganharam maior força no Brasil, sob influência dos movimentos negros dos Estados Unidos e pela independência das colônias europeias na África. Por intermédio da música e da dança, como exemplos de expressões contestatórias, explicitaram as injustiças a que são submetidos. O rap (rhythm and poetry: ritmo e poesia), por exemplo, aborda o racismo, a violência policial, as precárias condições de rendimento e outras temáticas sociais.

Ações afirmativas

Até recentemente não havia em nosso país uma política nacional articulada e contínua para a promoção da igualdade das pessoas segundo a cor da pele, apesar de os movimentos negros no Brasil denunciarem o racismo há décadas e proporem políticas para sua superação. Em 21 de março de 2003, data em que é celebrado no mundo todo o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, o governo federal criou a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), que desenvolve ações voltadas para a promoção da igualdade e do combate à discriminação racial.
Um exemplo das iniciativas que buscam promover a igualdade são as chamadas ações afirmativas, que correspondem ao tratamento preferencial dado a pessoas de grupos desfavorecidos em uma sociedade. Isso pode ser feito por meio de cursos de qualificação profissional, bolsas de estudo, cotas de ingresso nas universidades etc. Apesar de ser um antigo desejo, não só da população afro-brasileira, mas também de mulheres e de pessoas portadoras de necessidades especiais, apenas no dia 13 de maio de 2002 foi instituído por decreto presidencial o Programa Nacional de Ações Afirmativas. Por meio dele, os afro-brasileiros, entre outros grupos, passaram a ter, por exemplo, maior acesso ao ensino superior no Brasil.

Brasil: migrações internas e emigração

O que é migração 

Migração é o deslocamento de indivíduos de uma região para outra ou de um país para outro, envolvendo mudança permanente de residência. Quando os deslocamentos ocorrem no interior de um país, recebem o nome de migrações internas ou nacionais. Quando ocorrem entre países, trata-se de migrações externas ou internacionais.
As migrações da população de uma região geográfica para outra são explicadas, principalmente, pelo fator econômico. Se em uma localidade, sub-região ou região há dificuldade de conseguir emprego e de a população possuir condições mínimas de sobrevivência, é comum que pessoas e famílias migrem para outros espaços geográficos que ofereçam possibilidades de melhores condições de vida – melhor acesso à alimentação, à habitação, ao vestuário, à saúde, à educação, ao lazer etc. Migrações internas no Brasil em tempos recentes Identificar os motivos que levam as pessoas a migrar torna possível compreender a influência de fatores econômicos ou sociais sobre a distribuição da população em um território. Vamos considerar, por exemplo, as migrações internas no Brasil, a partir de 1950.

De 1950 a 1970

Desde os anos de 1950, a Grande Região Nordeste do Brasil tornou-se a principal Grande Região de repulsão ou de saída de migrantes para outras regiões do país. Isso ocorreu em razão da baixa oferta de empregos, do baixo rendimento da população, das secas no Sertão, entre outros fatores. A industrialização da Grande Região Sudeste, principalmente dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, como também a construção de Brasília, na Grande Região Centro-Oeste, atraíram muitos migrantes em busca de melhores condições de vida. Assim, essas duas Grandes Regiões tornaram-se áreas de atração de população nesse período.

De 1970 a 1990

Embora o fluxo populacional do Nordeste para o Sudeste tenha continuado após 1970, entre as décadas de 1970 e 1990 houve um grande fluxo de migrantes do Sudeste, do Sul e do Nordeste para as Grandes Regiões Centro-Oeste e Norte. Vários fatores contribuíram para essas migrações: a construção de rodovias, os incentivos dos governos estaduais, distrital e federal – por meio da doação de lotes de terra para a prática da agricultura –, as descobertas de ouro e diamante em Roraima e o avanço da agricultura e da pecuária em terras antes não usadas para esse fim, processo conhecido como expansão da fronteira agropecuária.
▪ De 1990 a 2010 A partir da década de 1990, os fluxos populacionais que mais despertam a atenção são os de volta aos locais de origem, chamados de migração de retorno, e a diminuição substancial do tradicional fluxo do Nordeste para o Sudeste: no período de 1995 a 2000, migraram 965 mil pessoas, e entre 2001 e 2006 esse fluxo declinou para 539 mil. Os programas sociais governamentais de transferência de rendimentos e o crescimento econômico do Nordeste, tanto no setor industrial como no de serviços, têm sido apontados como responsáveis pela diminuição dos fluxos migratórios Nordeste-Sudeste na década passada.
Outra forma de estudar as migrações internas é considerar o saldo migratório, ou seja, a diferença, em determinado período, entre a quantidade de entrada e a de saída de migrantes de uma localidade ou região para outras. Observe os quadros A e B, que mostram os saldos migratórios do Brasil em diferentes períodos e permitem identificar a ocorrência de saldos migratórios positivos ou negativos. São positivos quando a quantidade de migrantes que entra em determinada unidade da federação ou região é maior do que a quantidade que dela sai; são negativos quando a saída de migrantes é maior que a entrada.

O êxodo rural

O êxodo rural, ou migração campo-cidade, é o principal movimento populacional interno do Brasil. Em 1950, de cada 100 habitantes, cerca de 64 moravam no campo, formando a população rural; 36 viviam nas cidades e compo.
O ritmo acelerado da industrialização brasileira, somado aos problemas no campo – como baixos salários e o difícil acesso à propriedade da terra pelos trabalhadores rurais –, foi a grande mola propulsora do êxodo rural. Em 1970, a população urbana já era de 56%.
Esse processo continuou após 1970, levando o Brasil a ser um país predominantemente urbano. Em 2015, de acordo com o IBGE, quase 85% da população brasileira vivia em áreas urbanas.

Deslocamentos temporários de população

As migrações temporárias caracterizam-se pelo deslocamento de indivíduos para localidades onde há trabalho durante tempo determinado e que retornam para o lugar de origem depois de concluírem a tarefa. É o que ocorre com aqueles que se deslocam da Grande Região Nordeste para trabalhar em colheitas no Sudeste. Outra forma de deslocamento temporário é a migração pendular: deslocamento populacional diário de ida e volta, semelhante ao movimento do pêndulo de um relógio. É o caso de milhares de habitantes de cidades vizinhas que se deslocam diariamente para os grandes centros urbanos, onde estão localizados seus empregos e locais de estudo.

Emigrantes brasileiros

Na década de 1970, o governo do Paraguai autorizou o loteamento de terras próximas à fronteira com o Brasil, com permissão para que brasileiros pudessem adquiri-las. Esses emigrantes, cerca de 350 mil, ficaram conhecidos como brasiguaios. Durante a década de 1980, uma crise na economia brasileira, marcada pela elevada taxa de desemprego e pelo aumento persistente dos preços, estimulou a saída de brasileiros para outros países. Em 2020, segundo estimativas do Ministério das Relações Exteriores, mais de 4,2 milhões de brasileiros viviam no exterior. Desse total, 1775000 nos Estados Unidos e 276200 em Portugal.

Brasil: produção agropecuária e extrativista

O Brasil é um país muito extenso territorialmente, por isso há grande diversidade de paisagens, climas, relevos e tipos de solo. Essa variedade se reflete também na economia. Todos esses elementos resultam em recursos extrativistas, agropecuários e industriais que movimentam o comércio brasileiro. A produção agropecuária é um setor importante da economia brasileira. Além de empregar muitas pessoas, é fonte de alimentos e de matéria-prima para as indústrias. A produção não é igual em todas as regiões porque os fatores determinantes variam, como condições climáticas, tipos de solo, posse de terra, destino da produção e investimento de capital. O Brasil também se destaca na economia mundial pelos produtos do extrativismo vegetal, animal e mineral, como ouro, ferro, bauxita e cassiterita. Além disso, nos últimos anos a produção petrolífera nacional apresentou crescimento, chegando a cerca de 3 milhões de barris de petróleo por dia, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
O Brasil é um dos principais exportadores de alimentos do mundo, com forte participação da agropecuária no total de produtos exportados. De acordo com o Ministério da Agricultura, China, Holanda e Estados Unidos estão entre os principais compradores dos produtos agrícolas brasileiros.
Além da agricultura de exportação, merecem destaque também os pequenos produtores agrícolas, responsáveis por parte expressiva da produção de mandioca, feijão, arroz, milho, leite e hortifrutigranjeiros, entre outros itens que abastecem o mercado interno de alimentos. Essa produção atende também a compras governamentais (por exemplo, em sistemas de venda de produtos destinados à merenda escolar diretamente do produtor para as prefeituras) e gera menos impactos ambientais do que a agricultura de exportação.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...