Causas
Mudanças sociais não são promovidas de um momento para outro, muito
menos pela ação isolada de um indivíduo. A Primavera Árabe foi um conjunto
de manifestações populares que questionaram a falta de liberdade nos países
do norte da África e do Oriente Médio no fim de 2010 e ao longo de 2011. A
luta era por mais democracia, ou seja, a participação do povo no governo, pelo
fim da corrupção, por melhores condições de vida e por mais empregos. Essas
características eram comuns aos países onde ocorreram as manifestações.
Aspectos econômicos, políticos e sociais comuns dos países onde ocorreram
manifestações podem ser associados às causas da Primavera Árabe. A pouca
oferta de vagas de trabalho gerou inquietação nos jovens, que marcaram presença
nas manifestações.
Além disso, os países envolvidos eram governados por ditadores, em alguns
casos com mais de 40 anos no poder. Os jovens queriam conquistar liberdades
individuais, mudar o cenário político e influenciar na escolha dos governantes,
na expectativa de que essas medidas melhorassem as condições de vida.
A elevada desigualdade social é outro aspecto comum aos países que registraram
protestos. A concentração da riqueza nas mãos de poucas famílias da elite gerou
uma situação que poderia explodir a qualquer momento.
Um dos destaques das manifestações populares na Primavera Árabe foi o uso
das redes sociais. Em países autoritários, nos quais a organização popular e as
manifestações públicas críticas ao governo são proibidas, as redes sociais podem
ser uma alternativa para veicular mensagens de cunho político e, com isso, conseguir adeptos para determinada causa.
Tunísia: a Revolução de Jasmim
País de colonização francesa, que se tornou independente em 1956, a Tunísia era governada, em 2010, por Zine El Abidine Ben Ali (1936-) desde 1987.
O ditador criou um sistema no qual foi reeleito cinco vezes.
A família de Ben Ali comandava os negócios de setores estratégicos do país,
como o turismo, que nos últimos anos foi uma aposta do governo. Entretanto,
oferecer suas belezas naturais e seu patrimônio histórico à visita de turistas como
forma de gerar riqueza causou desconforto entre a população. Muita gente
começou a questionar essas ações, dando origem a mais uma fonte de insatisfação contra o governo de Ben Ali, que também era acusado de ser antidemocrático e corrupto.
Em 18 de dezembro de 2010, um jovem chamado Mohamed Buazizi ateou fogo
ao próprio corpo como forma de protesto contra a corrupção policial. Buazizi tinha
uma barraca de frutas, que foi confiscada pela polícia porque o jovem se recusou
a pagar propina. A ação do jovem foi o estopim para que começasse uma onda
de protestos pelo país.
O povo se reuniu em diversas situações nas ruas, com presença maciça dos
jovens, até que, em 14 de janeiro de 2011, Ben Ali fugiu da Tunísia para a Arábia
Saudita. Os vários enfrentamentos com a polícia do governo deram resultado
positivo para os manifestantes. Como as manifestações foram muito bem-sucedidas e duraram menos de um mês, esse movimento popular contra o governo
de Ben Ali foi chamado de Revolução de Jasmim; era a primeira “flor que brotava”
da Primavera Árabe.
Logo após a saída do presidente Ben Ali, foi formado um novo governo de
transição até a posse de outros dirigentes eleitos. A Tunísia é vista pela comunidade internacional como o único caso de sucesso da Primavera Árabe. Eleições
foram realizadas e as tensões entre as forças islâmicas e laicas não se converteram
em um confronto armado graças ao papel de mediação
da sociedade civil que, por isso, obteve o Nobel da Paz
em 2015.
As manifestações na Tunísia inspiraram outras nos
países próximos, alastrando-se por Egito, Líbia, Argélia,
Bahrein, Iêmen, Marrocos, Jordânia e Síria.
A propagação da Primavera Árabe e seus resultados Egito
O general Hosni Mubarak (1928-) foi eleito em 1981 e manteve-se no poder
até a Primavera Árabe. Muitas das suas sucessivas vitórias foram questionadas
pela oposição, como em novembro de 2010, quando a Irmandade Muçulmana,
partido de oposição com matriz islâmica, denunciou fraudes eleitorais e se retirou
do pleito.
Também acusado de corrupção, o governo de Mubarak enfrentou resistências influenciadas pelos fatos que se passaram na Tunísia em 2010. O movimento pela sua derrubada do poder usou as redes sociais para mobilizar a
população para uma greve geral, convocada por sindicatos de trabalhadores e
ativistas sociais. Os manifestantes se concentraram na praça Tahrir, no Cairo,
capital do país, em 25 de janeiro de 2011. Mubarak renunciou no dia
11 de fevereiro daquele mesmo ano.
Em 2012, Mohamed Morsi (1951-), da Irmandade Muçulmana, foi eleito presidente do Egito. Ele tomou medidas que apontavam para a criação de uma nova
constituição baseada em leis islâmicas, além de concentrar muitas decisões
políticas. Esses fatos levaram a novas manifestações que culminaram com a
deposição de Morsi, em 2013, e a ascensão do general Abdul Al-Sisi ao poder.
Entre outras ações, ele coordenou uma perseguição aos membros da Irmandade
Muçulmana, que causou cerca de mil mortos.
Uma onda de violência atingiu o Egito em 2014. Surgiram novos grupos políticos que tentaram, por meio de manifestações públicas (cada vez mais raras,
já que estavam proibidas) e ações contra o Estado, desestabilizar o governo do
general Al-Sisi. Muitos descrevem seu governo como mais brutal e autoritário do
que o de Mubarak. Estima-se que, em quatro anos de governo, 60 mil pessoas
tenham sido presas por razões políticas, com uso recorrente da tortura. Além
disso, devido ao aumento dos casos de terrorismo e à instabilidade política, os
investimentos estrangeiros e o turismo no país diminuíram drasticamente, levando a uma crise econômica.
Líbia
Em 1969, o então coronel Muammar Kadafi (1942-2011) promoveu um golpe
contra o rei e instaurou a ditadura na Líbia (figura 34). Além disso, nacionalizou as
empresas de petróleo, principal fonte de renda do país, e adotou leis islâmicas.
Isso era apenas o começo. Com a entrada de dinheiro estrangeiro, Kadafi investiu
em armas e passou também a apoiar ações de grupos terroristas.
Em 2011, a influência da Primavera Árabe chegou às cidades litorâneas do Mediterrâneo, as mais populosas da Líbia. Mesmo com o melhor padrão de vida entre
todos os países africanos, os líbios queriam mais. Eles aspiravam por liberdade para
escolher seus governantes e, assim, saíram às ruas, principalmente em Benghazi,
em fevereiro de 2011. Os rebeldes avançaram rapidamente e passaram a controlar
várias cidades da Líbia, mas o governo reagiu com a contratação de mercenários.
Diante da nova ofensiva das tropas de Kadafi, os rebeldes recuaram. As imagens
de tropas bombardeando civis levaram o Conselho de Segurança da ONU a impor
uma zona de exclusão aérea à Líbia. O órgão também autorizou medidas mais
drásticas, caso fossem necessárias, com o argumento de que era preciso acabar
com a morte de civis. Logo depois, uma coalizão de países liderados pela França
invadiu a Líbia. Tratava-se de uma ação da Otan, que contou com forte apoio dos
Estados Unidos e do Reino Unido.
Depois da ofensiva das tropas da coalizão, o governo de Kadafi não conseguiu
resistir. Ele foi morto em outubro de 2011, em Sirte (Líbia), sua cidade natal.
Logo após sua morte, a Otan retirou as tropas do país. Foi criado um Conselho
Nacional de Transição para preparar as eleições. Porém, uma série de eventos
ocorreram após a deposição de Kadafi, muitos deles violentos, envolvendo grupos
que defendiam um país sob as leis islâmicas e outro, mais moderado. Em meio às
lutas surgiram grupos terroristas em algumas áreas (o Estado Islâmico dominou
Sirte até 2016) e máfias de traficantes que lucram à custa de migrantes subsaarianos que tentam atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa. Nessa situação,
imagina-se que a instabilidade política deva ser longa na Líbia.
Iêmen
Manifestantes forçaram a renúncia do ditador Ali Abdullah
Saleh (1942-2017), presidente do Iêmen de 1978 a 2012. Foram
convocadas eleições no mesmo ano e Abdrabbuh Mansour
Hadi (1945-), que era vice de Saleh, chegou ao poder, mas enfrentou resistências. Universitários, separatistas do sul, rebeldes
hutis do norte, desprestigiados partidos políticos e ativistas islâmicos: cada um passou a defender os próprios interesses.
Em janeiro de 2015, a situação culminou em uma guerra entre os
hutis – apoiados pelo Irã e por iemenitas descontentes com a transição
da administração – e o governo de Mansour Hadi – apoiado pelos sunitas
e pela Arábia Saudita. Os hutis cercaram o palácio e colocaram o presidente e
seu gabinete em prisão domiciliar. Mansour Hadi conseguiu fugir para a cidade de
Áden, de onde passou a governar.
A ONU tentou negociar um acordo de paz três vezes, sem sucesso. O ex-
-presidente Saleh foi morto pelos hutis em 2017. Os jihadistas da Al Qaeda na
Península Arábica e rivais de organizações parceiras do Estado Islâmico têm se
aproveitado do caos, confiscando territórios no sul e cometendo ataques mortais.
Em 2017, a ONU classificou a situação no Iêmen como a pior crise humanitária
do mundo. Além da guerra civil, havia milhões de pessoas desabrigadas morrendo
de fome e uma epidemia de cólera.
Síria
Bashar al-Assad (1965-), que governa o país desde o ano 2000, reprimiu duramente os manifestantes, que exigiam sua saída. Estima-se que mais de 220 mil
pessoas tenham morrido nos confrontos com a polícia do governo, acusada de
usar armas químicas contra a população. Essa ação gerou respostas de potências
militares, que pressionaram al-Assad a destruir suas armas químicas em 2013. Em
2014, em reunião em Genebra (Suíça), o governo sírio não aceitou as condições
dos rebeldes para pôr fim à guerra, que consistia em formar um governo de transição que convocaria novas eleições no país
A guerra civil na Síria não pode mais ser vista apenas como uma tentativa de
democratizar o país. Diversos grupos islâmicos disputam o poder e possuem visões
distintas das leis islâmicas. Parte da maioria sunita da Síria combate os
alauitas, minoria à qual pertence al-Assad e muitos membros do governo. Em
2014, o Estado Islâmico passou a apoiar os sunitas na guerra civil da Síria, o que
levou a intervenções militares dos Estados Unidos. Além das mortes, estima-se
que cerca de 5 milhões de sírios tiveram de abandonar suas casas, indo para campos de refugiados em países vizinhos ou migrando para outros países.
As duas principais fontes de renda do país – petróleo e agricultura – foram dizimadas pelos conflitos. A guerra destruiu quase metade dos centros médicos e
escolas da Síria. Em 2017, a guerra se refreou, com as tropas de Bashar al-Assad
retomando dois terços do país.
Em dezembro de 2010, teve início na Tunísia, no norte da África, um movimento popular por democracia e contra a corrupção. Milhares de pessoas saíram às ruas para exigir o afastamento do presidente, que governava o país desde 1987. O movimento triunfou e logo se estendeu a outros países do norte da África e do Oriente Médio. Como envolveu países de população árabe e muçulmana em sua maioria, esse movimento foi chamado de Primavera Árabe. Uma das características da Primavera Árabe foi o uso das redes sociais digitais pela população civil para disseminar as ideias em favor da democratização
e convocar a sociedade para os protestos.
O processo iniciou-se na Tunísia, em dezembro de 2010, quando um jovem ambulante teve suas frutas e legumes apreendidos pela polícia local. Inconformado com a situação de desempregado, com a corrupção e com a repressão que imperava no país, ateou fogo ao próprio corpo, o que o levou à morte. O episódio escancarou o clima de indgnação e penúria pelo qual passsava o país, presidido por uma ditadura familiar desde 1987. Esse fato levou a uma onda de revolta contra o regime que saqueava o país hasvia anos: o ditador Zine el Abidine Ben Ali cairia no início de 2011. A partir daí, o movimento alastrou-se de forma rápida e contagiante por todo o mundo árabe.
Entre 2010 e 2011, uma série de manifestações populares ocorreram em
países árabes, muitas delas organizadas por meio das redes sociais. Denominado Primavera Árabe, o movimento teve início na Tunísia e espalhou-se para
outros países, como Egito, Líbia e Síria. Os manifestantes foram às ruas reivindicar, entre outras coisas, a democratização dos regimes políticos. Na Tunísia,
após o movimento houve eleições para a formação de um novo governo. Já na
Líbia e na Síria, a reação às manifestações foi violenta, o que deu início a uma
guerra civil que vitimou milhões de pessoas.
A segunda mobilização no Egito, contra o regime de Hosni Mubarak, líder apoiado pelos Estados Unidos. Foi um movimento espontâneo e anárquico que causou a queda do ditador meses depois.
Ao contrário da Tunísia, o Egito é um país cental na geopolítica do Oriente Médio e de todo o mundo árabe. Desde tempos remotos esteve no centro da história dos povos árabes. Nos últimos anos exerceu papel de mediador no conflito Israelo-palestino, o que foi, o que visto com desconfiança por grande parte da população crítica das ações israelenses. Na visão de muitos egípcios, a postura de Mubarak era condescendente demais com Israel e Estados Unidos.
O Egito é marcado por um interessante mosaico estratégico. como a "ponte geográfica" entre África e Ásia, o país faz parte do cenário regional do Oriente Médio e da África setentrional. O Canal de Suez, construído no final do século XIX, ainda hoje é uma importante rota de petróleo mundial, apesar de sua absolescência. Internamente, a sombra do fundamentalis é problema antigo. Após o asssassinato do Presidente Anwar al sadat, em 1981, Hosni Mubarak também foi vítima de atentado do terror islâmico, em 1995; escapou por pouco. Com o objetivo de prejudicar as finanças do país, os extremistas realizaram atentados contra turistas nas pirâmides do Egito nos anos 1990.
Al-Gama'a al-Islamiyya, jihad Islâmica e a tradicional Irmandade Islâmica (ou Fraternidade Muçulmana) são os mais importantes grupos. Os dois primeiros são fundamentalmente extremistas, enquanto o último tem uma longa trajetória política na história do Egito. Apesar da atuação parlamentar, a Irmandade foi colocada na clandestinidade tanto por Gamal Abdul Nasser como por Mubarak. Sua bandeira é a contrução de um Estado Islãmico no Egito. Foi taxado como grupo terrorista por esses governos, mas tem respaldo popular. já recorreu a métodos extremistas, porém renunciou a tais propósitos. Com a realização das eleições parlamentares após a queda de Mubarak, o partido ligado a Irmandade Islãmica foi o mais votado e elegeu o presidente Muhammad Mursi. Seu slogan: "o Islã é a solução". No entanto, o presidente eleito ficou apenas um ano no poder e foi derrubado por um golpe de Estado. Questionáveis eleições foram convocadas e os militares, maior força política do país, voltaram ao poder em 2013 na figura do general Abdul al Sisi.
A Líbia é outro país inserido nesse contexto de transformações no mundo árabe. Lá se configurou o lado mais violento das revoltas, culminando com com a execução do líder líbio, Muammar Kadafi, que estava há mais de quarenta anos no poder.
Nesse período, Kadafi oscilou entre a inimizade e a proximidade com as potências ocidentais. Chamado de "cachorro louco" pelo ex-presidente, Ronald Reagan (1981-1989), e colocado no isolamento, encaminhou uma reaproximação com líderes europeus e com outro ex-presidente estadunidense, George W. Bush (2001-2009). Além do interesse no petróleo do país, a busca por informações sobre a rede terrorista Al Qaeda foi uma justificativa dada por líderes ocidentais para a reaproximação com Kadafi, após os atentados terroristas aos Estados Unidos em 2001.
Kadafi foi derrubado por um movimento armado que se iniciou na parte oriental do país. Os insurgentes foram gradativamente se organizando e contaram com o apoio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que lhes dera retaguarga aérea enquanto as forças terrestre avançavam até Trípoli, sede do poder. Kadafi fugiu para o interior até ser capturado e, em seguida, executado.
Outro país importante na história dos povos árabes é a Síria, cuja capital, damasco, foi sede do primeiro califado árabe, o Omíada. O país também foi atingido pela Primavera Árabe em ondas de protestos contra o governo de Bashar al-Assad, que assumira o poder em 2000, substituindo seu pai, Hafez al-Assad, que por sua vez, ficara trinta anos no comando do país.
Os protestos iniciaram-se em março de 2011 e se estenderam até março de 2013, sendo violentamente reprimidos pelas forças policiais; estimativas da ONU falavam em mais de setenta mil mortes em dois anos de conflito, levando ``a condenação internacional do governo sírio.
A Síria é um complexo mosaico cultural, onde há várias comunidades religiosas; distribuição do poder não reflete a paridade dessa divisão. O presidente sírio é membro de um clã minoritário, os alauitas, enquanto o país é majoritariamente sunita, embora haja outras comunidades islãmicas e cristãs.
Tal qual o Egito e ao contrário da Líbia, a Síria é fundamental para o equilíbrio do Oriente médio, pois está localizada no centro da região não apenas geográfica, mas também no que se refer às questões políticas: é rival de Israel, com a qual, inclusive, tem pedências territoriais em relação às Colinas de Golã. Além disso, tem uma aliança velada com o Irã contra Israel; apoia o regime do Hezbollah uma força política no Líbano, igualmente anti-israelense, além de ter uma histórica influência no país libanês.
A importância estratégica da Síria a colocou no centro das preocupações das revoltas árabes e o confuso cenário geopolítico tinha nesse país um elento decisivo para o futuro da região.
Inicialmente vista como esperança por dias melhores ao mundo árabe, a Primavera árabe síria, somada aos distúrbios do Iraque, trouxe a cena o grupo Estado Islâmico (ou Organização do Estado Islâmico, novo protagonista na geopolítica do Oriente Médio.
Vários países da região são hoje governados por ditaduras, monarquias absolutistas ou grupos religiosos fundamentalistas. Além da Tunísia, os protestos levaram à queda dos chefes de Estado do Egito e da Líbia e provocaram inúmeras manifestações na região. No entanto, alguns anos depois do início da Primavera Árabe, não se pode dizer que a democracia avançou na região.
No Egito, em 2013, ocorreu um golpe de Estado liderado por militares. Isso
barrou os movimentos que lutavam por reformas democráticas e criou um regime autoritário que governa o país até hoje. No Egito atual, por exemplo, a repressão permanece. Milhares de oposicionistas estão presos; há restrições ao uso das mídias e à presença de ONGs e grupos de direitos humanos.
Em 2019, o Parlamento egípcio aprovou uma emenda constitucional que concentra os poderes nas mãos do presidente Abdel Fattah El-Sisi (1954-) e assegura sua permanência no poder até 2030. A Tunísia viveu um processo de democratização, viabilizado por meio da realização de eleições presidenciais. Porém, em julho de 2021, o presidente tunisiano, Kais Saied (1958-), dissolveu o parlamento após uma série de protestos, revelando que a democracia no país é ainda frágil e precisa percorrer um longo caminho.
No Iêmen, parte da população que se manifestou para derrubar o governo
daquele país acabou desiludida com as reformas implementadas a partir de
2012 e começou a apoiar um golpe para derrubar o governo. Isso deu início a uma guerra civil
em 2015. Até o fim de 2021, o conflito, ainda em
andamento, havia provocado a morte de mais de
10 mil crianças.
Todas essas situações demonstram o fracasso
das aspirações sociais e democráticas da Primavera Árabe. Com exceção da Tunísia, que passou
por um processo de efetiva democratização do
Estado, os demais países acabaram mergulhados
em conflitos ou sofreram golpes de Estado que
implantaram novos governos autoritários.