sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Estado de bem-estar social

O pensamento liberal tornou-se a ideologia da burguesia em ascensão na Europa ocidental e caracterizou-se pela contestação dos privilégios da nobreza. Ao longo do século XIX e no início do século XX, o liberalismo econômico, que defendia a propriedade privada e a mínima intervenção do governo na economia, tornou-se predominante ao redor do mundo. No entanto, nas primeiras décadas do século XX, o mundo capitalista vivenciou um período de instabilidade, marcado por um enorme aumento da desigualdade, sucessivas crises econômicas, sendo a principal delas a crise da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, e o surgimento de um modelo econômico e social alternativo ao capitalismo com a Revolução Russa de 1917. O ponto culminante dessa crise foram as duas grandes Guerras Mundiais

No pós-Segunda Guerra, com a Europa devastada, o liberalismo passou a ser amplamente contestado. Porém, o socialismo soviético ainda era visto como uma ameaça pelos países capitalistas, sobretudo pelos Estados Unidos. Assim, durante a reconstrução da Europa ocidental nas décadas de 1940 e 1950, desenvolveu-se a concepção de que o Estado tinha o dever de intervir na economia e na distribuição das riquezas nacionais, afastando-se das premissas liberais. Diversos países, sobretudo europeus, criaram empresas estatais e programas sociais, dando origem ao Estado de bem-estar social, ou Welfare state.
O consumismo do pós-guerra e o Welfare state Assim como havia ocorrido após a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos passaram por um período de crescimento econômico e otimismo depois de 1945. O Plano Marshall abriu os mercados europeus para os produtos estadunidenses e, internamente, a população começou a ter acesso a bens de consumo. Havia um sentimento de otimismo, principalmente para a classe média branca, que passou a adquirir automóveis, eletrodomésticos e televisores. 
No contexto da Guerra Fria, o consumo tornou-se um símbolo de liberdade, democracia e igualdade. Os Estados Unidos impunham, para si e para o mundo, a ideia de que a escassez de opções de consumo na União Soviética era sinal de atraso econômico. A influência dos Estados Unidos se expandiu sobre o mundo ocidental com os produtos industrializados, mas também por influência do cinema, da televisão, do rádio e da moda, que difundiam o estilo de vida estadunidense (American way of life). 
Os países da Europa ocidental, para se contrapor às políticas de proteção social que existiam nos países socialistas, criaram políticas públicas de bem-estar para sua população. O conjunto dessas medidas ficou conhecido como Estado de bem-estar social (Welfare state). 
O Estado de bem-estar social se caracteriza pela intervenção do Estado na economia, fornecendo benefícios e auxílios para promover segurança social à população. Os governos começaram a fornecer gratuitamente e de forma universal saúde, educação e previdência social.

As transnacionais e o fim do Estado de bem-estar social

Como vimos, há uma profunda conexão entre o fortalecimento das transnacionais e as transformações tecnológicas dos meios de comunicação e transporte. Por exemplo, a compra e a venda de ações foram facilitadas pelas redes de computadores e satélites, favorecendo a especulação financeira promovida pelas grandes empresas. Novas tecnologias microeletrônicas, que desencadearam uma revolução na comunicação, tornaram o papel-moeda ultrapassado. Assim, o modo de conduzir os negócios em escala global foi rapidamente se transformando, especialmente durante os anos 1990, após o fim do socialismo na Europa. As transnacionais adquiriram grande influência sobre a economia mundial, interferindo nos governos e nas relações internacionais. A produção em países ricos que adotavam políticas de bem-estar social tornou-se desvantajosa devido ao alto custo da mão de obra e dos impostos. Um dos resultados desse amplo processo de mudanças nas relações político-econômicas mundiais foi o desmonte do Estado de bem-estar social. Além disso, houve o aumento das desigualdades e uma transformação profunda dos valores sociais, cada vez mais orientados pelos ideais da eficiência e da competitividade.

As calças jeans

Até os anos 1960, a maior parte das roupas usadas na União Soviética era fabricada pelo Estado. Geralmente, os homens vestiam camisas e ternos largos e as mulheres, vestidos simples. Mas, com a abertura gradual, a moda ocidental passou a influenciar o consumo e o vestuário soviético. Na década de 1980, as roupas se diversificaram e peças de marcas estadunidenses começaram a ser contrabandeadas e comercializadas a preços elevadíssimos. Era o caso das calças jeans. Mas por que elas eram tão desejadas? As calças jeans que conhecemos hoje, fabricadas com bolsos e rebites resistentes (aquelas peças de metal nas costuras), foram patenteadas nos Estados Unidos em 1873.

Até os anos 1950, elas eram usadas predominantemente por trabalhadores das áreas rurais do país. Por serem resistentes, duráveis e confortáveis, essas peças eram consideradas adequadas para a realização de trabalhos pesados. Contudo, em 1960, as calças jeans deixaram de ser usadas exclusivamente por trabalhadores rurais. Grandes astros de Hollywood, como Marlon Brando e Elvis Presley, as utilizavam como símbolo de rebeldia. Rapidamente, elas passaram a integrar o guarda-roupa dos jovens ligados aos movimentos de contracultura, popularizando-se ao longo dos anos. Em 2012, os pesquisadores Daniel Miller e Sophie Woodward publicaram um livro sobre as calças jeans.

De acordo com eles, atualmente, sua produção, sua comercialização e seu consumo abrangem o mundo todo. Para Miller, o verdadeiro poder de um objeto pode ser percebido quando o utilizamos sem pensar sobre ele. Ou seja, quando não percebemos o modo como ele restringe ou viabiliza nossas ações e nossa compreensão sobre nós mesmos e o mundo.

Acidente nuclear de Chernobyl

Durante a Segunda Guerra Mundial, as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, mostraram ao mundo o poder de destruição da energia nuclear. Apesar disso, essa tecnologia passou a ser utilizada para a produção de energia elétrica em diversos países, como Estados Unidos, França, Canadá, Espanha, URSS, Brasil, entre outros exemplos. Em meio às crises econômica e política, a URSS foi palco de um dos maiores desastres nucleares da história. Em 1986, houve a explosão de um reator da usina termonuclear de Chernobyl, na Ucrânia soviética. Com o acidente, milhares de pessoas e um número não estimado de animais e plantas foram expostos à radiação. Muitas pessoas morreram rapidamente ou desenvolveram sequelas graves, pois o contato com a radiação causa danos irreversíveis às células, como câncer e doenças cardiovasculares.

Além disso, a nuvem radioativa percorreu o céu da Europa, levando pânico e preocupação a vários países. Para você ter uma ideia, nos dias seguintes à explosão, partículas radiativas foram detectadas na Suécia, aproximadamente a 1 100 quilômetros de Chernobyl. A URSS menosprezou a gravidade da situação, mas teve de assumir a responsabilidade pelo acidente e iniciou um plano de evacuação da região, que até hoje se encontra desabitada por causa dos riscos radioativos. O acidente de Chernobyl chocou o mundo e provocou debates sobre o desarmamento nuclear.

No contexto das reformas, Gorbachev negociou com os Estados Unidos tratados de redução da produção de armas nucleares e de retirada de mísseis do território europeu. Assim, iniciaram-se os acordos pela paz. Além disso, o líder soviético também propôs o fim da KGB (o serviço secreto soviético), da Comecom (organização econômica de assistência mútua entre os países do Leste Europeu) e do Pacto de Varsóvia (aliança militar socialista). Na prática, Gorbachev dava sinais de que a URSS deixaria de intervir nos países que estavam sob sua influência.

Criação da OLP

Em 1964, os palestinos fundaram a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), tendo Yasser Arafat (1929-2004) como um de seus principais líderes. O líder palestino Arafat e o primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin (1922- -1995), assinaram um primeiro acordo de paz em setembro de 1993. Nesse acordo, a OLP reconhecia o Estado de Israel, e o governo israelense aceitava a formação de um Estado palestino. Após esse acordo, formou-se o primeiro governo palestino autônomo (a Autoridade Nacional Palestina), com sede na cidade de Ramallah, que fica próximo a Jerusalém. Entretanto, o assassinato de Yitzhak Rabin, em 1995, por um judeu fundamentalista, fez a negociação retroceder.

Em 2004, Arafat morreu e a Autoridade Nacional Palestina passou a ser presidida por Mahmoud Abbas, que retomou o diálogo com os israelenses. Entretanto, as negociações entre israelenses e palestinos não avançaram rumo a soluções pacíficas e duradouras. Um dos pontos principais das desavenças é a situação de Jerusalém, cidade considerada sagrada por judeus, muçulmanos e cristãos. Enquanto os palestinos pretendem transformar a parte oriental de Jerusalém na capital de seu futuro Estado, os israelenses não querem abrir mão do controle sobre toda a cidade e, também, pretendem tornar Jerusalém a capital de Israel. Para isso, os israelenses contam com o apoio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Negacionismo: História e Ciência

No século XXI, as redes sociais permitiram que movimentos políticos de extrema direita manifestassem suas ideias retrógradas em grande escala. Grupos se formaram nas redes sociais com o objetivo de desqualificar o saber científico, manipular informações, recorrer a falsos especialistas para produzir desinformações e divulgar fake news. Eles negam eventos científicos e históricos que foram pesquisados, estudados e comprovados, preferindo opiniões pessoais, muitas delas estapafúrdias. Um exemplo é a crença de que o planeta Terra é plano. A opinião pessoal se sobrepõe ao conhecimento científico, apesar das provas em contrário.

Esse também é o caso daqueles que negam a eficácia das vacinas desenvolvidas contra a covid-19, preferindo não se vacinar e expondo-se ao risco de morte. Outro exemplo de negacionismo é desacreditar o fenômeno do aquecimento global. O negacionismo também atua de maneira perversa na história. Há os que negam o assassinato de 6 milhões de judeus pelos nazistas, embora as provas do genocídio sejam inúmeras, variadas e evidentes. A negação do Holocausto é um exemplo, mas há vários outros, como o de que o ser humano não pisou na Lua ou de que não houve ditadura militar no Brasil. Esses movimentos negam e recusam os fatos, as evidências, as pesquisas e as comprovações dos campos da Ciência e da História. O negacionista prefere a crença, a opinião pessoal e a produção da ignorância.

Ocupe Wall Street

Nos Estados Unidos e em vários países europeus, jovens, trabalhadores, sindicalistas e movimentos sociais se mobilizaram em atos de protesto contra a ganância dos investidores, a corrupção e a desigualdade social. O primeiro deles ocorreu em Nova York, em 17 de setembro de 2011, em um movimento chamado Ocupe Wall Street (Occupy Wall Street), em referência à rua onde fica sediada a Bolsa de Valores da cidade. A partir de então, milhares de jovens passaram a protestar em apoio ao movimento, em várias cidades dos Estados Unidos e da Europa. O lema dos manifestantes era “Nós somos 99%”, pois afirmavam que faziam parte da maioria do povo que sofria com a crise econômica provocada pelo 1% que ganhou muito dinheiro no mercado financeiro nos anos anteriores

A crise econômica de 2008

Na década de 1990, as políticas neoliberais de Thatcher e Reagan tornaram-se regra para vários governos do mundo: o Estado deixou de regulamentar as relações econômicas, permitindo que as empresas agissem livremente no mercado. Empresas estatais foram privatizadas. Os governos controlavam suas despesas, reduzindo investimentos nas áreas de saúde e educação. Essas foram algumas regras econômicas que se tornaram dominantes na Nova Ordem Mundial.

Ocorre que, em 2008, o projeto neoliberal entrou em crise. Naquele ano, muitas empresas estadunidenses anunciavam prejuízos, particularmente os bancos. Bancos especializados em financiamento de imóveis quebraram e um dos mais importantes bancos de investimentos dos Estados Unidos, o Lehman Brothers, declarou falência, além de outros bancos e empresas de seguros. 
A crise era gravíssima. Bancos, seguradoras e empresas que até então haviam mostrado solidez no mercado estavam falindo. A Bolsa de Valores de Nova York teve violenta queda – uma das maiores de sua história.
Os governos de George W. Bush e de seu sucessor Barack Obama (1961-) tomaram medidas que, até então, os economistas neoliberais consideravam negativas para a economia: emprestaram milhões de dólares para que bancos, seguradoras e empresas não fechassem as portas. A seguradora AIG e a fábrica de automóveis General Motors foram estatizadas para evitar falência.

Os efeitos da crise 

Com a economia globalizada, a crise logo chegou aos países europeus. Falências de empresas geravam o desemprego de trabalhadores. Sem salários, não havia como comprar mercadorias. Os que estavam empregados, com receio, não gastavam seu dinheiro. Isso provocou queda no consumo e, por consequência, mais falências de empresas e mais trabalhadores desempregados. No Brasil, para combater os efeitos da crise, o governo reduziu impostos sobre produtos industrializados e, com o aumento da renda vivido pela população brasileira, o consumo interno cresceu. O Brasil foi pouco atingido pela crise de 2008. No entanto, alguns países que integram a União Europeia já estavam com grandes problemas antes da crise de 2008. Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda tinham dívidas elevadíssimas e viram as dificuldades crescerem.

As medidas de austeridade 

O resultado da grave crise econômica e social na Grécia, em Portugal, na Espanha e na Irlanda levou a um altíssimo número de desempregados. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE) exigiram a redução de direitos e benefícios sociais dos trabalhadores, o reajuste dos impostos e dos preços da energia elétrica e dos combustíveis e, por fim, o aumento do tempo de trabalho exigido para a aposentadoria. Na Grécia, na Espanha e em Portugal, ocorreram grandes protestos contra as medidas impopulares. Em 2012, em Portugal, uma das manifestações reuniu 1 milhão de portugueses

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