quinta-feira, 23 de junho de 2022

Os índios antes de Cabral no Brasil

 Os fósseis brasileiros

 No Brasil, os mais antigos vestígios desses povos datam do período paleolítico: sambaquis, utensílios primitivos e pinturas rupestres. O conjunto de vestígios encontrados em determinada região é chamado de sítio arqueológico, e sua análise cabe à Arqueologia, a ciência que estuda os povos pré-históricos. Através desse estudo desenvolveu-se o conhecimento do período anterior à chegada de Cabral ao Brasil, em 1500.

Sambaquis são volumosos montes de conchas e esqueletos de peixes, associados a objetos de pedra, às vezes com mais de 10 metros de altura. Distribuídos por todo o litoral brasileiro, destacadamente no Sul, atestam que ali viveram grupos humanos que se alimentavam de animais marinhos há mais de 10 000 anos.

Sambaqui do Forte, Cabo Frio, Rio de Janeiro.

Utensílios primitivos também foram encontrados em diversos pontos do litoral e do interior do Brasil: pontas de flechas, machados e outros instrumentos, além de potes de barro, alguns decorados e usados como urna para os mortos, dentro dos quais foram achados esqueletos.

Pinturas rupestres, compostas de desenhos de figuras humanas e de animais, cenas de caça e pesca, foram encontradas nas paredes de grutas e cavernas e em lajes de pedras em lugares abertos. São famosas as pinturas rupestres de cavernas em Minas Gerais e em São Raimundo Nonato, no Piauí.

Pintura rupestre encontrada em caverna em São Raimundo Nonato. As descobertas nessa região estão ajudando estudiosos a reconstituir a história dos primeiros habitantes do território brasileiro. estes também deixaram suas marcas nas cavernas em que viviam, fazendo desenhos e pinturas.

Embora, para efeitos de estudo, a Pré-história tenha terminado com o surgimento da escrita, no Brasil e em alguns outros pontos no mundo, muitos grupos indígenas têm até hoje condições primitivas de vida, semelhantes às do período paleolítico.

No século XV, época das grandes navegações, conquistadores e exploradores portugueses e espanhóis aproveitaram-se das condições primitivas dos indígenas americanos para dominá-los com facilidade. Possuidores de técnicas e armas mais eficientes, os europeus subjugaram a América (incluindo o Brasil), sujeitando-a nos séculos seguintes a uma intensa exploração econômica e ligando-a definitivamente à história europeia.

Ainda hoje é comum considerarmos os índios como os europeus os enxergavam: gente incivilizada, selvagem, primitiva, atrasada, ignorante, bárbara.

Ainda há muitas perguntas sem respostas sobre essa longa história dos povos indígenas anterior à chegada dos portugueses. Os indígenas não conheciam a escrita e, para sabermos como viviam, que mudanças ocorreram entre eles, quais eram suas ideias, possuímos apenas uma forma de documento: a cultura material. Isto é, o que sobrou de suas casas, os enfeites que usavam, as ferramentas de trabalho, as armas, os restos de comidas e as fogueiras, as pinturas ou sinais que deixaram nas paredes de cavernas, os mortos que enterraram.

 Muitos povos diferentes

 Quando os portugueses chegaram à América, cerca de seis milhões de pessoas ocupavam todo o território do atual Brasil. Os portugueses conheceram primeiro os povos que viviam no litoral. Por terem traços culturais semelhantes entre si, eles receberam dos colonizadores uma denominação geral: tupi.

Os portugueses tiveram menor contato com os povos que habitavam o interior. Esses povos eram chamados pelos portugueses de tapuias.

Apesar dessas denominações, é importante destacar que a população nativa encontrada pelos portugueses estava organizada em diversos povos, com culturas muito diferentes. Cada grupo tinha, por exemplo, a sua língua, a sua crença, o seu modo de trabalho e a sua organização familiar.

As diferenças existentes entre os povos indígenas daquela época podem ser percebidas até os dias de hoje. Para isso, basta observar os descendentes desses povos que conseguiram sobreviver à colonização portuguesa e aos séculos de exploração. 

Os povos indígenas do Brasil 

Hoje, para estudar as populações indígenas, é comum agrupá-las conforme as semelhanças existentes entre suas línguas. Isso permite reunir povos com características culturais comuns. Assim, são classificados quatro troncos linguísticos principais: o tupi, o , o aruaque e o karib. Existem ainda muitas línguas, como a dos tucanos e a dos ianomâmis, que não foram classificados nesses troncos.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil em 1500, os homens que habitavam as terras brasileiras se agrupavam em várias nações ou tribos. As principais eram:

- tupi-guarani: espalhava-se por quase todo o litoral atlântico e várias áreas do interior;

- gê ou tapuia: ocupava o Planalto Central Brasileiro;

- nuaruaque: ocupava parte da Bacia amazônica até os Andes;

- caraíba: ocupava o norte da Bacia Amazônica.

 A pintura em cavernas brasileiras, que surgido entre 12 mil e 6 mil anos atrás, retrata um pouco dessa evolução cultural e corresponde ao momento de desenvolvimento da arte de fabricar facas, raspadores, furadores e outros objetos pontiagudos.

Finalmente entre os anos 4000 a. C. e 3000 a. C., o homem do Brasil descobriu a agricultura, depois de praticar uma economia baseada na caça e na coleta de alimentos durante mais de 40 mil anos.

Com a agricultura, várias comunidades primitivas do Brasil passaram a se organizar de forma semelhante às comunidades primitivas do período Neolítico na África, Ásia e Europa.

Os meios de produção que os homens dispunham – a terra cultivável, os campos, os rios – pertenciam a todos.

 Entre os povos indígenas existem muitas diferenças. As aldeias indígenas, por exemplo, são diferentes de um povo para o outro. Os xavantes preferem construir suas aldeias em forma de ferradura, já outros povos preferem a forma circular; outros, ainda, constroem uma única habitação coletiva.

Apesar de toda essa diversidade, existem elementos culturais semelhantes, como a organização em tribos.

Uma tribo é um grupo de famílias que fazem sua aldeia numa mesma área, falam a mesma língua, tem os mesmos costumes e um sentimento de união entre si. 

Trabalho e família 

A maior parte dos povos indígenas vive da coleta de frutos da floresta (cacau, maracujá, jabuticaba, araçá, etc.), da agricultura (mandioca, milho, batata-doce, abóbora, amendoim, etc.).

Geralmente, as roças pertencentes a toda a tribo, e alimentos colhidos são distribuídos entre todos. Enquanto esperam a colheita, os índios fazem objetos de cerâmica e utensílios para o trabalho. Cada índio costuma ter seus próprios instrumentos de trabalho, bem como seu arco e suas flechas.

Cada tribo tem seu jeito de distribuir as tarefas entre seus membros. Há trabalhos que são feitos pelas mulheres e outros são feitos geralmente pelos homens. As mulheres geralmente fazem as seguintes tarefas: o trabalho agrícola, desde o plantio até a colheita; a coleta dos frutos da floresta; a fabricação de farinha; a comida e os demais serviços domésticos; o cuidado das crianças. Os homens fazem o trabalho mais pesado: a derrubada do mato e a preparação da terra; a caça e a pesca; a fabricação de canoas; a construção das casas. Além disso, são tarefas masculinas as expedições guerreiras; a proteção das mulheres, crianças e velhos.

Os casamentos quase sempre são realizados entre os membros da mesma tribo. Algumas tribos permitem apenas a monogamia, isto é, o casamento de um homem com uma só mulher e de apenas uma mulher com apenas um homem; já em outras sociedades indígenas, a poligamia – um homem casado com várias mulheres – ou a poliandria – uma mulher casada com vários homens – também são permitidas.

Os pais não castigavam os filhos, pois havia entre irmão um forte laço de amor e respeito. As meninas brincavam e ajudavam as mães nos afazeres domésticos e no cuidado com os irmãos menores. Os meninos, com seus arcos e flechas, caçavam pequenos animais, imitando os mais velhos.

Quando os meninos atingiam a puberdade, iam para a Casa Sagrada era um local eminentemente masculino e as mulheres estavam proibidas de ali entrar. 

Guerreiros e artistas 

A guerra era uma atividade sagrada, necessária e desejada. Os homens faziam guerras por vingança, para garantir a superioridade masculina na comunidade e para conquistar terras férteis e campos onde a caça era mais abundante.

Os índios também eram extraordinários artistas. Sua capacidade artística se reflete na música, na dança, na confecção de redes, esteiras e cestos com desenhos de singela beleza, na cerâmica, na pintura do corpo para festas, para rituais religiosos e guerreiros. 

Os povos da floresta 

Há cerca de 6 mil anos a imensa área ocupada hoje pelo Brasil começou a ganhar sua conformação atual: a grande floresta tropical amazônica do Norte, os campos do sul, o cerrado do Centro-Oeste, a mata Atlântica cobrindo o litoral. Durante milênios, os humanos desenvolveram uma série de recursos para enfrentar esse novo meio ambiente.

Sempre agrupados em pequenas famílias, vivendo da caça de pequenos animais e da coleta de tudo o que fosse comestível, povos diferentes criaram culturas específicas em cada área do atual território brasileiro. Mudavam sempre de lugar quando a caça ou os frutos silvestres acabavam. É o que se chama de vida nômade ou nomadismo. Como estavam sempre se mudando, carregavam poucos objetos – apenas o essencial para sobreviver.

Nas florestas do Sul, por exemplo, surgiram povos que os arqueólogos denominam umbus. Não se sabe que língua falavam nem se formavam um único povo. Entre eles havia os que habitavam as cavernas e os que moravam a céu aberto. Nos vestígios que deixaram foram encontrados instrumento de pedra fabricados com muito cuidado. Inventaram a boleadeira (arma de caça) e o arco e a flecha, que difundiram entre os povos da região.

Os povos que moravam nas florestas subtropicais do Sudeste, chamados humaitás, desconheciam o arco e a flecha (ou, pelo menos, a flecha com ponta de pedra). Gostavam das matas próximas aos rios e colhiam pinhão (fruto do pinheiro) e moluscos (animais com conchas) de água doce. Os humaitás não eram tão hábeis como os umbus na fabricação de instrumentos de pedra, mas usavam uma espécie de faca feita desse material, parecida com um bumerangue.

Na região central do território que atualmente corresponde ao Brasil, os primeiros habitantes viviam sobretudo em cavernas ou sob abrigos de rochas. Também se sabe pouco sobre eles; é muito provável que durante milênios tenha havido diversas migrações, o surgimento e o desparecimento de línguas e de uma série de outras mudanças. Em quase todas as cavernas que habitaram, contudo, deixaram pinturas nas paredes, cuja função e significado nem sempre conseguimos entender. 

Os povos das águas

Com a elevação do nível do mar, há cerca de 6 mil anos, o litoral que se estende do atual estado do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul passou a ser ocupado por povos que se alimentavam de frutos do mar. Embora também caçassem pequenos animais (macacos, antas, gambás, tartarugas, por exemplo) e coletassem frutos silvestres, esses povos comiam principalmente peixes e moluscos (ostras, mexilhões, berbigões, etc.). Como essa fonte de alimentos nunca se esgotava, permaneciam no mesmo lugar, perto da praia e, de preferência, próximo a algum rio.

As conchas dos moluscos eram abertas no fogo e abandonadas no local, acumulando-se ao longo do tempo. O consumo era tão grande que as conchas acabaram formando pequenas montanhas chamadas sambaquis -, onde esses povos erguiam suas cabanas e enterravam seus mortos. Destruído recentemente, o sambaqui de Garopaba, em Santa Catarina, media trinta metros de comprimento e cem metros de largura.

Sambaqui na ilha do Cardoso (SP).

Para produzir seus instrumentos, os povos dos sambaquis lascavam as pedras com uma espécie de formão e as esfregavam até deixa-las lisas e regulares. A maioria de seus objetos, porém, era constituída de ossos. Com esse material faziam até mesmo uma espécie de panela, além de enfeites agulhas e anzóis.

É possível que os sambaquis tenham sido habitados por populações numerosas, que cresceram durante quase 5 mil anos. Entretanto, quando os portugueses chegaram, elas estavam desaparecendo, derrotados por povos que sabiam cultivar a terra.

 Os povos da terra

A agricultura apareceu há aproximadamente 4 mil anos nas terras do que viria a ser o Brasil. Essa mudança foi muito importante porque, para se alimentarem, cultivando a terra, os seres humanos deixaram de depender do que encontrara na natureza. Derrubando florestas, plantando raízes e sementes e esperando o momento propício de colher, as populações das aldeias melhoraram sua alimentação. Como consequência, não precisavam mais mudar constantemente de lugar e se tornaram mais numerosas.

O cultivo da terra já era conhecido por civilizações de agricultores da cordilheira dos Andes (América do Sul) e da América Central. Talvez tenham sido elas, por meio de algum contato com povos daqui que introduziram a agricultura no que viria a ser o território brasileiro. É provável que as primeiras plantas cultivadas aqui tenham vindo de fora: milho, algodão, tabaco e feijão.

Os primeiros agricultores das terras brasileiras desenvolveram também o cultivo de plantas de que se extraiam corantes, plantas medicinais e palmeiras. Mas seu principal alimento e descoberta foi a mandioca. Os índios descobriram até mesmo como extrair o veneno da espécie venenosa dessa raiz.

A cerâmica apareceu aqui há cerca de 4 mil anos. Feitos de argila cozida no fogo, os objetos cerâmicos serviam para transportar água ou guardar alimento. Alguns eram usados para cozinhar vegetais cultivados na agricultura. Vasos foram encontrados em sambaquis do Pará. Acredita-se que possam ter entre 4 mil e 5 mil anos de idade – possivelmente uma das mais antigas peças de cerâmica da América.

Mas os agricultores evitaram ocupar a densa floresta tropical. Os restos arqueológicos encontrados demonstram que permaneceram nas margens do rio Amazonas e de seus afluentes. Embora pouco estudados, é possível observar pelas peças de cerâmicas o grau de complexidade e sofisticações desses povos.

Ao longo dos rios Tapajós e Trombetas foram encontradas peças daquilo que os arqueólogos chamam tradição inciso-ponteada. O povo que produzia essas obras tinha seu centro onde atualmente se encontra Santarém. É possível que tenham vivido há 2 mil anos, talvez menos.

Para chegar a formas tão complexas, é provável que houvesse artesãos especializados em cerâmica, fato que indica a existência de uma sociedade organizada, na qual existiam pessoas que, além da agricultura, desenvolviam tarefas específicas.

Entretanto, foi na ilha de Marajó que se desenvolveu as mais complexas civilizações amazônicas. Os primeiros povos a habitá-la, chamados ananatubas pelos arqueólogos, chegaram aí há cerca de 3500 anos. Vivendo em regiões entre mata e as praias, construíram casas isoladas em que moravam de cem a 150 pessoas. Além de agricultores, foram também ceramistas e fabricavam potes, pratos e objetos decorados com linhas e pontos, de que restaram apenas fragmentos.

Há aproximadamente 1 800 anos, porém, surgiu a chamada civilização marajoara, ainda pouco estudada. Sabe-se que a maior parte de sua população se concentrava nas margens dos rios ao redor do lago Arari. Os marajoaras erguiam suas casas sobre morros chamados tesos, construídos por eles mesmos ao longo das margens dos rios. Era uma forma de se protegerem das inundações. Alguns desses morros chegaram a medir mais de duzentos metros de comprimento.

Calcula-se que, apenas ao longo do rio Camutins, tenham, tenham vivido 2 mil marajoaras e que a população total da ilha tenha chegado a 100 mil pessoas. Sua agricultura parece ter sido bastante desenvolvida; e alguns arqueólogos supõem que os marajoaras formassem uma sociedade dividida em classes sociais, em que a maioria das famílias cuidava da caça e das plantações, parte se dedicava ao artesanato e a minoria tratava do governo e da religião.

Entretanto, trata-se de uma suposição que precisa ser comprovada por achados nos tesos. Os principais vestígios deixados pelos marajoaras são objetos de cerâmica, decorados com complexidade impressionante. Quando os portugueses chegaram, essa misteriosa civilização, ainda hoje tão desconhecida, já estava desaparecendo. Mas é muito provável que tenha influenciado povos de outras regiões.


terça-feira, 21 de junho de 2022

Revolução Industrial

A substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico pelo sistema fabril constituiu a Revolução Industrial; revolução, em função do enorme impacto sobre a estrutura da sociedade, num processo de transformação acompanhado por notável evolução tecnológica.
A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Completou ainda o movimento da revolução burguesa iniciada na Inglaterra no século XVII.

Etapas da industrialização

 Podem-se distinguir três períodos no processo de industrialização em escala mundial

- 1760 a 1850 – A Revolução se restringe à Inglaterra, a "oficina do mundo". Preponderam a produção de bens de consumo, especialmente têxteis, e a energia a vapor.

- 1850 a 1900 – A Revolução espalha-se por Europa, América e Ásia: Bélgica, França, Alemanha, Estados Unidos, Itália, Japão, Rússia. Cresce a concorrência, a indústria de bens de produção se desenvolve, as ferrovias se expandem; surgem novas formas de energia, como a hidrelétrica e a derivada do petróleo. O transporte também se revoluciona, com a invenção da locomotiva e do barco a vapor.

- 1900 até hoje – Surgem conglomerados industriais e multinacionais. A produção se automatiza; surge a produção em série; e explode a sociedade de consumo de massas, com a expansão dos meios de comunicação. Avançam a indústria química e eletrônica, a engenharia genética, a robótica. 

Etapas do processo de produção

O artesanato, primeira forma de produção industrial, surgiu no fim da Idade Média com o renascimento comercial e urbano e definia-se pela produção independente; o produtor possuía os meios de produção: instalações, ferramentas e matéria-prima. Em casa, sozinho ou com a família, o artesão realizava todas as etapas da produção.
A manufatura resultou da ampliação do consumo, que levou o artesão a aumentar a produção e o comerciante a dedicar-se à produção industrial. O manufatureiro distribuía a matéria-prima e o artesão trabalhava em casa, recebendo pagamento combinado. Esse comerciante passou a produzir. Primeiro, contratou artesãos para dar acabamento aos tecidos; depois, tingir; e tecer; e finalmente fiar. Surgiram fábricas, com assalariados, sem controle sobre o produto de seu trabalho. A produtividade aumentou por causa da divisão social, isto é, cada trabalhador realizava uma etapa da produção.
Na maquinofatura, o trabalhador estava submetido ao regime de funcionamento da máquina e à gerência direta do empresário. Foi nesta etapa que se consolidou a Revolução Industrial. Quatro elementos essenciais concorreram para a industrialização: capital, recursos naturais, mercado, transformação agrária. 

Origens da Revolução Industrial

No decorrer do século XVIII, a Europa Ocidental passou por uma grande transformação no setor da produção, em decorrência dos avanços das técnicas de cultivo e da mecanização das fábricas, a qual se deu o nome de Revolução Industrial. A invenção e o uso da maquina permitiram o aumento da produtividade, a diminuição dos preços e o crescimento do consumo e dos lucros.
As origens da Revolução Industrial podem ser encontradas nos séculos XVI e XVII, com a política de incentivo ao comércio adotada pelos países absolutistas A acumulação de capitais nas mãos dos comerciantes burgueses e a abertura dos mercados proporcionada pela expansão marítima estimularam o crescimento da produção, exigindo mais mercadorias e preços menores. Gradualmente, passou-se do artesanato disperso para a produção em oficinas e destas para a produção mecanizada nas fábricas.

Pioneirismo Inglês

Foi a Inglaterra o pais que saiu na frente no processo de Revolução Industrial do século XVIII. Este fato pode ser explicado por diversos fatores. A Inglaterra possuía grandes reservas de carvão mineral em seu subsolo, ou seja, a principal fonte de energia para movimentar as máquinas à vapor e as locomotivas à vapor. Além da fonte de energia, os ingleses possuíam grandes reservas de minério de ferro, a principal matéria-prima utilizada neste período.

A mão-de-obra disponível em abundância (desde a Lei dos Cercamentos de Terras), também favoreceu a Inglaterra, pois havia uma massa de trabalhadores procurando emprego nas cidades inglesas do século XVIII. A burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fábricas, comprar matéria-prima e máquinas e contratar empregados. O mercado consumidor inglês também pode ser destacado como importante fator que contribuiu para o pioneirismo inglês.

Outro fator determinante, foi a existência de um Estado liberal na Inglaterra, que desde 1688 com a Revolução Gloriosa. Essa revolução que se seguiu à Revolução Puritana (1649), transformou a Monarquia Absolutista inglesa em Monarquia Parlamentar, libertando a burguesia de um Estado centralizado e intervencionista, que dará lugar a um Estado Liberal Burguês na Inglaterra um século antes da Revolução Francesa. 

Os principais recursos tecnológicos

Na segunda metade do século XVIII, foram introduzidas importantes inovações tecnológicas na Inglaterra, como a máquina de fiar, a máquina a vapor e o tear mecânico. Essas inovações acabaram provocando grandes transformações no modo de organização do trabalho.






Empresários e proletários

O novo sistema industrial transforma as relações sociais e cria duas novas classes sociais, fundamentais para a operação do sistema.   Os empresários (capitalistas) são os proprietários dos capitais, prédios, máquinas, matérias-primas e bens produzidos pelo trabalho. Os operários, proletários ou trabalhadores assalariados, possuem apenas sua força de trabalho e a vendem aos empresários para produzir mercadorias em troca de salários.

Exploração do trabalho

No início da revolução os empresários impõem duras condições de trabalho aos operários sem aumentar os salários para assim aumentar a produção e garantir uma margem de lucro crescente. A disciplina é rigorosa, mas as condições de trabalho nem sempre oferecem segurança. Em algumas fábricas a jornada ultrapassa 15 horas, os descansos e férias não são cumpridos e mulheres e crianças não têm tratamento diferenciado.

Mulheres e crianças operárias recebiam salários inferiores àqueles pagos aos homens adultos. Nesta fotografia, vemos crianças trabalhando numa fábrica de ferramentas na França, por volta de 1880.

Surgem dos conflitos entre operários, revoltados com as péssimas condições de trabalho, e empresários.

Desdobramentos sociais

A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida do trabalhador braçal, provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades, com enormes concentrações urbanas. A produção em larga escala e dividida em etapas irá distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores irá dominar apenas uma etapa da produção.

Na esfera social, o principal desdobramento da revolução foi o surgimento do proletariado urbano (classe operária), como classe social definida. Vivendo em condições deploráveis, tendo o cortiço como moradia e submetido a salários irrisórios com longas jornadas de trabalho, a operariado nascente era facilmente explorado, devido também, à inexistência de leis trabalhistas.

O desenvolvimento das ferrovias irá absorver grande parte da mão-de-obra masculina adulta, provocando em escala crescente a utilização de mulheres a e crianças como trabalhadores nas fábricas têxteis e nas minas. O agravamento dos problemas socioeconômicos com o desemprego e a fome, foram acompanhados de outros problemas, como a prostituição e o alcoolismo.

Os trabalhadores reagiam das mais diferentes formas, destacando-se o movimento “ludista” (o nome vem de Ned Ludlan), caracterizado pela destruição das máquinas por operários, e o movimento “cartista”, organizado pela “Associação dos Operários”, que exigia melhores condições de trabalho e o fim do voto censitário. Destaca-se ainda a formação de associações denominadas “trade-unions”, que evoluíram lentamente em suas reivindicações, originando os primeiros sindicatos modernos.

O divórcio entre capital e trabalho resultante da Revolução Industrial, é representado socialmente pela polarização entre burguesia e proletariado. Esse antagonismo define a luta de classes típica do capitalismo, consolidando esse sistema no contexto da crise do Antigo Regime.



O poder da Igreja na Idade Média

A religião cristã nasceu durante o Império Romano. Por séculos se expandiu, conquistando poder e grande número de adeptos. Em 313 obteve do governo romano o direito ao culto; em 391 foi transformada em religião oficial do império.
Entretanto, o poder da Igreja só se consolidaria com a conversão dos povos germânicos ao catolicismo. Com isso, a Igreja sobreviveria à desagregação do Império Romano do Ocidente, ao mesmo tempo que se transformava na mais poderosa instituição de seu tempo.

            Igreja Católica - instituição basilar da Idade Média

Em uma sociedade fragmentada, a Igreja católica garantia não só a unidade religiosa, mas também a política e cultural. Com o controle da fé, ela ditava a forma de nascer, morrer, festejar, pensar, enfim, de todos os aspectos da vida dos seres humanos no mundo medieval.

No tempo das catedrais

A Igreja católica foi a instituição mais poderosa da Idade Média. Numa época em que a riqueza era medida pela quantidade de terras, a Igreja chegou a ser proprietária de quase dois terços das terras da Europa ocidental. Era a grande senhora feudal, participando das relações de suserania e vassalagem e controlando a servidão dos camponeses.
Todos os bispos dominavam porções significativas de terras. Aliás, ser bispo podia significar o controle de muita riqueza.
Ao contrário da nobreza – que tinha seus bens repartidos por heranças, casamentos, lutas pela posse da terra, etc. –, a Igreja só acumulava riquezas, já que os bens não pertenciam aos religiosos, mas a própria instituição.
Assim, usufruindo do poder que tinha sobre as consciências, a Igreja católica pôde acumular grande riqueza material. À medida que essa riqueza crescia, o alto clero, constituído por aqueles que ocupavam cargos mais elevados na hierarquia interna da Igreja, distanciava-se dos assuntos religiosos.
Controlando o poder espiritual e material, a Igreja foi responsável por manter, em grande parte, a ordem social da Idade Média.

Organização do clero

Os sacerdotes da Igreja dividiam-se em duas grandes categorias:
Clero secular – formado por sacerdotes que viviam fora dos mosteiros, hierarquizados em padres, bispos, arcebispos etc. No ponto mais alto dessa hierarquia estava o papa, que era o bispo de Roma e, segundo a tradição católica, o sucessor de São Pedro – um dos doze apóstolos de Cristo e considerado pela Igreja Católica como o primeiro papa. Nem sempre a autoridade papal foi aceita por todos os membros da Igreja, mas em fins do século VI ela acabou se firmando, em grande parte, devido ao talento político-administrativo do papa Gregório Magno (540-604).
Clero regular – formado por sacerdotes que viviam nos mosteiros e obedeciam às regras de sua ordem religiosa (beneditinos, franciscanos, dominicanos, carmelitas, agostinianos). Afastados do contato direto com o cotidiano das pessoas não consagradas exclusivamente à religião, os monges dedicavam seu tempo à vida religiosa e a realização de atividades agrícolas, pastoris e artesanais, bem como aos trabalhos intelectuais.

A vida nos mosteiros

Nem todos os cristãos eram a favor de a Igreja acumular riquezas e criticavam a vida luxuosa que muitos bispos e padres levavam. Procurando retomar os ensinamentos e a vida pobre de Cristo, muitos religiosos optaram por uma vida mais simples, recusando os bens materiais. Surgiram assim as ordens monásticas.
Dentre as novas ordens, destacaram-se as criadas por São Bento, em 529, por São Francisco de Assis, em 1210, e por São Domingos de Gusmão, em 1217. As ordens compreendiam mosteiros que abrigavam homens ou mulheres.
A ordem dos beneditinos defendia que os monges deveriam levar uma vida simples, rezando, trabalhando, estudando e obedecendo a seus superiores.
Os membros dessa ordem eram eruditos. Foram eles que transcreveram a maior parte das obras literárias gregas e romanas, sendo, em grande parte, responsáveis por sua preservação.
Inspirados no Evangelho, os franciscanos procuravam ajudar os pobres e professavam votos de pobreza, castidade e obediência. O mesmo ocorria com os membros da ordem dominicana.
Desta forma, essas ordens passaram a representar uma oposição às práticas do alto clero medieval.

Abadias: centros de oração, trabalho e produção intelectual

Na Idade Média foram fundadas inúmeras abadias. Algumas tornaram-se muito famosas e existem até hoje, como a de Melk, na Áustria.
Recebe o nome de abadia a residência de monges ou de monjas governados por um abade ou por uma abadessa.
As abadias medievais eram praticamente autossuficientes. Tinham geralmente igrejas, bibliotecas, muitos quartos (celas), oficinas para a produção e conserto de ferramentas e carroças, estrebarias e cocheiras, cozinhas, etc.
Localizavam-se sempre no centro de uma grande propriedade, onde eram cultivados trigo, cevada, centeio, videiras, frutas, etc. eram também criados porcos, galinhas, perus, patos, bois, vacas, cavalo, etc.
Os próprios monges trabalhavam no cultivo e na criação. Alguns, porém, passavam todo o tempo na biblioteca, copiando e estudando as obras dos gregos e romanos. Eram os monges copistas. Eles produziram verdadeiras obras de arte. Nas margens das páginas, desenhavam ilustrações, chamadas iluminuras, utilizando um tipo de letra que hoje, conhecemos como gótica.
Nas abadias, além do trabalho, grande parte do tempo era dedicada à oração e ao canto sacro.
As abadias contavam também com numerosos servos, que executavam os trabalhos mais pesados.

As heresias

Apesar de todo o seu poder, a Igreja católica encontrava resistência por parte de grupos ou pessoas que se opunham a alguns de seus dogmas. O ato de se opor à Igreja era chamado de heresia; quem a praticava era considerado herege e condenado pela Igreja. É importante destacar que na Europa medieval não se questionava a existência de Deus, mas apenas a forma como essa fé deveria ser manifestada.
Um exemplo de heresia era a seita dos valdenses, surgidas no século XII. Eles adotavam a pobreza absoluta, não aceitavam os juramentos e a pena de morte. Defendiam ainda que qualquer pessoa podia rezar a missa.
Para combater seitas e pessoas hereges, a Igreja católica adotou uma série de medidas que culminou com a criação dos Tribunal do Santo Ofício, no século XIII. Esses tribunais mandavam investigar os casos suspeitos, havia julgamentos e castigos, muitas vezes a condenação à morte. Para obter a confissão, os inquisidores faziam uso da tortura física.

Questão das Investiduras

A quem caberia nomear sacerdotes para os cargos eclesiásticos: ao papa ou ao imperador?
Esse problema, conhecido como Questão das Investiduras, remonta a meados do século X, quando o imperador Oto I, do Sacro Império Romano Germânico, passou a intervir nos assuntos da Igreja. Fundou bispados e abadias, nomeou seus titulares e, em troca da proteção que concedia à Igreja, controlava as ações do papa. As investiduras (nomeações) feitas pelo imperador visavam interesses pessoais e do reino, dando margem a corrupção entre os membros do clero. Bispos e padres colocavam seu compromisso com o soberano acima da fidelidade ao papa.
No século XI surgiu um movimento reformista liderado pela Ordem Religiosa de Cluny, que pretendia recuperar o poder da Igreja. Em 1703, os ideais de Cluny ganharam força, com a eleição do papa Gregório VII. Ele adotou uma série de medidas reformistas, entre as quais: a instituição do celibato (1074) e a proibição da investidura de sacerdotes a cargos eclesiásticos pelo Imperador (1075).
Reagindo à atitude do papa, Henrique IV, imperador do Sacro Império, considerou-o deposto. Gregório VII, em resposta, excomungou-o. Desenvolveu-se, então um conflito aberto entre o Imperador e o papa. Esse conflito só foi resolvido em 1122, pela Concordata de Worms, que adotou uma solução de meio termo: caberia ao papa a investidura espiritual dos bispos, e ao imperador, a investidura temporal – antes de assumir a posse da região que lhe foi designada (bispado), o bispo também deveria jurar fidelidade ao Imperador.


segunda-feira, 20 de junho de 2022

Pré-história brasileira

1- As culturas do Pleistoceno (até 12 mil anos atrás)

Uma periodização da Pré-história brasileira muito aceita pelos arqueólogos leva em consideração principalmente os aspectos culturais dos grupos que habitavam o Brasil na Pré-história. Essa periodização, que adotaremos aqui, apresenta dois grandes períodos: cultura do Pleistoceno e culturas do Holoceno.

Na geologia, Pleistoceno é o nome dado ao período em que ocorreram as glaciações e que se estende de 1,8 milhão de anos até 12 mil anos atrás.

As culturas brasileiras do Pleistoceno correspondem às mais antigas do Brasil. São encontrados vestígios dessas culturas em Minas Gerais, goiás, Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Os grupos pleistocenos eram nômades e mais ou menos coesos, sendo formados por um número reduzido de membros. Viviam em cavernas e abrigos sob rochas no topo de colinas ou próximas a rios. Produziam ferramentas em pedras para abater os animais e retirar sua pele.

No período pleistoceno, o clima era mais frio e seco. A natureza oferecia fauna abundantes, fornecendo caça de pequeno e médio porte, que podia ser apanhada com porretes e armadilhas.

Nessa época também encontramos a chamada megafauna, composta por grandes animais, como o cliptodonte (tatu gigante) e a preguiça-gigante. A megafauna também era alvo da caça dos homens pré-históricos, mas em menor grau, tanto pela dificuldade na captura quanto pelo fato de esses animais competirem com os humanos os mesmos recursos.

O que dizem as evidencias

As pesquisas arqueológicas feitas em sítios do Pleistoceno descobriram ossadas humanas, artefatos de pedra (como seixos lascados, batedores e lascas) restos de fogueiras contendo detritos alimentares. Esses restos orgânicos mostram o consumo de carne de anta, capivara, veado, paca, tatu, tamanduá, lagarto, ema e peixe. Além de caça, esses grupos se alimentavam de frutos, raízes e tubérculos, que eram abundantes no período.

Os fósseis humanos mais antigos já encontrados no Brasil datam do pleistoceno. Eles foram encontrados no século XIX em uma caverna na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais. No mesmo local, na década de 1970, foram encontrados ossos e o crânio de uma mulher, batizada pelos arqueólogos de Luzia, em referência a Lucy, o mais antigo fóssil humano encontrado na África.

A análise do crânio de Luzia indica que ela tem parentesco com grupos ligados às correntes migratórias da Austrália e do Pacífico do que com grupos das estepes asiáticas que vieram pelo Estreito de Bering, o que reforça o debate sobre a antiguidade do homem na América.

2-As culturas do Holoceno (de 12 mil anos atrás até o presente)

O Holoceno divide-se em duas fases, a pré-ceramista (entre 12mil e 5 mil anos atrás) e a ceramista (a partir de 5 mil anos atrás). Essa divisão tem como critério a produção de cerâmica, considerada uma evolução tecnológica muito importante em qualquer cultura.

Nesse período, com o domínio da agricultura, as populações pré-históricas tiveram um crescimento demográfico sensível e alguns grupos deixaram de ser nômades para se tornar sedentários. O cultivo da terra proporcionou uma mudança nas atividades econômicas e no nível tecnológico dessas populações pré-históricas, acarretando mudanças em todos os aspectos do seu modo de vida.

As culturas pré-ceramistas

Por volta de 12 mil anos atrás, ocorreu uma mudança climática global, que marcou o fim da era glacial. O aumento da temperatura e o derretimento da camada de gelo que cobria grande parte da superfície terrestre levaram a destruição de muitas savanas, que eram o habitat dos grandes animais, e a formação de amplas florestas. Na América, a destruição das savanas levou a extinção de muitos animais, como o mamute, o mastodonte e a preguiça-gigante.

Nas regiões Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, as culturas pré-ceramistas ainda são pouco conhecidas, mas se sabe que no cerrado e na caatinga havia uma concentração forte de caçadores-coletores em sítios a céu aberto e abrigos sob rochas. Os instrumentos em pedra desses grupos, utilizados para raspar couro ou madeira, eram lascados em apenas uma das faces, dentro da tradição Itaparica. Mais tarde, a partir de 8 mil anos atrás, esses instrumentos em pedra foram substituídos por lascas simples.

Na região Sul do país destacam-se outras duas tradições: a umbu e a humaitá. A tradição umbu é associada à presença de caçadores-coletores das regiões de planalto, que se espalharam mais tarde pelos vales. Seus utensílios em pedra, principalmente pontas de flechas e lascas, tinham como característica serem adornados em ambos os lados, sendo produzidos a partir de vários tipos de pedras.

Da tradição umbu à tradição humaitá

Existem indícios claros de que os grupos da tradição umbu sepultavam seus mortos, colocando-os sobre cinzas de fogueiras e enterrando o corpo com alguns objetos, como colares e conchas. Além de utilizarem pedras e conchas, essa tradição também produzia objetos com ossos (furadores retocados, agulhas e anzóis curvos) e adornos de dentes de tubarão.

Pouco mais tarde, percebemos que a tradição umbu desapareceu em algumas regiões, dando lugar à tradição humaitá, correspondente a grupos que habitavam os barrancos e terraços próximos a rios, tendo uma economia baseada ainda na coleta de vegetais e na pesca. Seus instrumentos de pedra eram mais pesados, compostos por machados bifaces e pedras com lascamento simples, mais sem ponta de flecha.

A cultura dos sambaquis

Um traço comum da ocupação do litoral marítimo e fluvial brasileiro são elevações formadas por areia, conchas e moluscos, por vezes de grandes dimensões. Essas elevações são conhecidas como sambaquis, palavra que em tupi significa “amontoado de conchas”.

Os sambaquis são encontrados em boa parte do Sul e do Sudeste do país (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo), bem como em alguns estados do Nordeste (Maranhão, Bahia e Rio Grande do Norte). A formação dos sambaquis se deve à presença de grupos coletores marinhos que viveram no litoral entre 8 mil anos atrás, e que se alimentavam de moluscos e peixes, abundante nas costas brasileiras. Os sambaquis eram morros artificiais erguidos por esses grupos, com finalidade ainda não definida pelos estudiosos. Suas dimensões variavam de dois a dez metros de altura, mas existem alguns em Santa Catarina que chegam a atingir 70 metros de altura.

Os povos dos sambaquis baseavam seu sustento principalmente da coleta de moluscos, que eram abundantes nas lagoas do litoral do Brasil. Alguns arqueólogos consideram que os sambaquis podiam servir de área de acampamento, pela quantidade de restos de caça e de alimentação escavados.

Nos sambaquis são encontradas esculturas de pedra e ossos que sugerem algum tipo de organização social rígida. Algumas sepulturas mostram também quantidades de objetos e cuidados diferenciados com os corpos, o que indicaria certa diferenciação social.

Os sambaquis sofreram por muito tempo danos causados pelo vandalismo e pela exploração econômica do material, rico em cálcio, utilizado na produção de cal. Outros ainda foram destruídos pata construção de rodovias ou por imobiliárias. Essa depredação só foi interrompida na década de 1960, quando os sambaquis foram reconhecidos como sítios arqueológicos a serem preservados pela Constituição Federal.

As culturas ceramistas

Por volta de 5 mil anos atrás, boa parte dos grupos que habitavam o Brasil passou a cultivar produtos agrícolas, especialmente a mandioca e o milho. A cerâmica tornou-se importante para esses grupos porque permitiu a preservação dos alimentos, a criação de novas técnicas de preparação de alimentos cozidos em panelas, sem ter de coloca-los diretamente sobre o fogo. Além disso, ela passou a ser usada por alguns povos como urna para enterrar os mortos.

Uma das maiores culturas agrícolas desse período foi a tupi-guarani, formada pela associação de dois ramos diferentes de povos, os tupinambás e os guaranis. Os tupi-guaranis eram povos agricultores e ceramistas que, por volta de 2mil anos atrás, se espalharam por boa parte do território brasileiro, acompanhando principalmente o litoral, estendendo-se também por países vizinhos, como o Paraguai.

A população tupi-guarani se difundiu de tal maneira que no século XVI chegava a um milhão de indivíduos, sendo até hoje uma das populações indígenas mais significativas no país. Por ser uma cultura que ainda estava presente na época da chegada dos europeus, há diversos relatos de cronistas estrangeiros que tiveram contato com esses grupos e descreveram suas crenças e costumes.

Na Amazônia podemos encontrar vários indícios de culturas expressivas da pré-história brasileira. Desde o período pré-ceramista, por volta de 12 mil anos atrás, há sinais de ocupação da Bacia Amazônica por populações de caçadores, pescadores e coletores. As culturas mais marcantes dessa região são a marajoara e a tapajônica, associadas a duas tradições ceramistas.

A cultura marajoara está ligada à tradição policroma, ou seja, que utilizava uma gama de diferentes cores em suas peças. Essa tradição surgiu na ilha de Marajó, criada pelo povo que ali habitava por volta de 3,5 mil anos atrás. A cerâmica marajoara possuía uma decoração composta por sinais padronizados que expressava mitos desse povo.

A cultura tapajônica está associada à tradição inciso-ponteada, da qual a cerâmica tapajônica é apenas a representante mais destacada. Ela é composta de vasos com figuras humanas e de animais bem modeladas e bastante estabilizadas, dos quais os vasos de cariátides (com suportes em forma de figura humana e de animal) e os de gargalo são os exemplos mais famosos.

3- As descobertas arqueológicas no Brasil

Desde o século XIX são realizadas pesquisas arqueológicas no brasil. Entre 1834 e 1846, o dinamarquês Peter Lund, pesquisando na região de Lagoa Santa, no interior de Minas Gerais, encontrou vestígios de grupos de caçadores que viveram no local há milhares de anos.

No século XX, as pesquisas se multiplicaram. Em 1975, no sítio arqueológico de Lapa Vermelha, próximo a Lagoa Santa, foi encontrado o esqueleto mais antigo da América. Com 11 500, esse esqueleto pertence a uma mulher de mais ou menos 20 anos e 1,50 m. Com traços negroides, ela ganhou o nome de Luzia.

As pesquisas na região de Lagoa Santa permitiram conhecer os hábitos dos povos que habitavam a região há milhares de anos. Esses povos são conhecidos como Homens de Lagoa Santa.

Hoje existem muitos outros sítios arqueológicos sendo estudados. Vamos conhecer com mais detalhes os de São Raimundo Nonato e Pedra Pintada, dois dos principais sítios arqueológicos do país.

Vestígios arqueológicos no Brasil

No Brasil, os mais antigos vestígios desses povos datam do período paleolítico: sambaquis, utensílios primitivos e pinturas rupestres. O conjunto de vestígios encontrados em determinada região é chamado de sítio arqueológico, e sua análise cabe à Arqueologia, a ciência que estuda os povos pré-históricos. Através desse estudo desenvolveu-se o conhecimento do período anterior à chegada de Cabral ao Brasil, em 1500.

Sambaquis são volumosos montes de conchas e esqueletos de peixes, associados a objetos de pedra, às vezes com mais de 10 metros de altura. Distribuídos por todo o litoral brasileiro, destacadamente no Sul, atestam que ali viveram grupos humanos que se alimentavam de animais marinhos há mais de 10 000 anos.

Utensílios primitivos também foram encontrados em diversos pontos do litoral e do interior do Brasil: pontas de flechas, machados e outros instrumentos, além de potes de barro, alguns decorados e usados como urna para os mortos, dentro dos quais foram achados esqueletos.

Pinturas rupestres, compostas de desenhos de figuras humanas e de animais, cenas de caça e pesca, foram encontradas nas paredes de grutas e cavernas e em lajes de pedras em lugares abertos. São famosas as pinturas rupestres de cavernas em Minas Gerais e em São Raimundo Nonato, no Piauí.

O Homem de Lagoa Santa

Desde o século XIX são realizadas pesquisas arqueológicas no Brasil. Muitos artistas e estudiosos europeus vinham pesquisar a natureza exótica do Brasil. Entre eles, o dinamarquês Peter Lund, que veio estudar nossas plantas e animais tropicais.

A descobertas dos primeiros fósseis humanos no Brasil se deve às pesquisas do naturalista dinamarquês Peter Lund. Considerado o pioneiro da paleontologia brasileira. Lund trabalhou nas grutas de Lagoa Santa, em Minas Gerais, entre 1835 e 1845. Lund, ficou fascinado com as pinturas rupestres que viu no município de Lagoa Santa. Essas pinturas retratavam animais já extintos. Escavando no interior das cavernas de Lagoa Santa, encontrou fósseis de tigres-dente-de-sabre, de megatérios e de outros animais desaparecidos há muito tempo.

Em 1840, Lund fez sua maior descoberta: desenterrou as ossadas de trinta pessoas. Junto estavam ossos de animais, machados, pontas de flecha, furadores e outros instrumentos de pedra lascada. Esses achados foram datados em cerca de 11 mil anos e ficaram conhecidos como os fósseis do Homem de Lagoa Santa.

As pesquisas permitiram conhecer os hábitos dos povos que viveram na região de Lagoa Santa, há milhares de anos. Hoje existem muitos outros sítios arqueológicos sendo estudados. Em 1975, no sítio arqueológico de Lapa Vermelha, próximo a Lagoa Santa, foi encontrado o esqueleto mais antigo da América, com 11500 anos. Esse esqueleto pertenceu a uma mulher (de mais ou menos 20 anos e 1m50cm de altura), com traços negroides, que recebeu o nome de Luzia.

O Sítio Arqueológico de Pedra Furada

A serra da Capivara, localizada no município de São Raimundo Nonato, no Piauí, é considerada um dos sítios arqueológicos mais importantes do Brasil.

As descobertas arqueológicas nessa região motivaram a criação do Parque Nacional da Serra da Capivara e a Fundação Museu do Homem Americano. Em 1991, a UNESCO tombou o parque como patrimônio da humanidade.

O sítio de Pedra Furada, foi encontrado na década de 1960. Vem sendo estudado desde o início da década de 1970, por uma equipe de estudiosos coordenada por Niède Guidon, arqueóloga franco-brasileira.

A equipe de arqueólogos, pesquisa supostos vestígios da presença humana, que teriam entre 48 mil e 40 mil anos. No local, foram encontrados além de pinturas rupestres, instrumentos de pedras lascadas, vestígios de fogueiras e cacos de cerâmicas de diferentes épocas. Submetidos ao Carbono 14, esses indícios foram datados em até 50 mil anos. Portanto, as pesquisas arqueológicas dirigidas por Niède Guidon, sugerem que os homens pré-históricos habitavam o Brasil há, aproximadamente, 50 mil anos.

Entretanto, existem dúvidas em relação aos vestígios encontrados em Pedra Furada. Como não encontraram fósseis humanos da mesma época, alguns críticos alegam que as pedras lascadas e as fogueiras podem ser resultados de causas naturais (consequência de raios, por exemplo). Caso sejam comprovadas essas estimativas sobre a antiguidade da presença humana no local, feitas pela equipe de Niède Guidon, será preciso rever as teorias sobre as rotas de imigração e de datação da presença humana no continente americano.

Povos do litoral

Por volta de 6 mil anos atrás, parte do litoral brasileiro (do Espirito Santo ao Rio Grande do Sul) foi habitada por povos seminômades, com certa unidade cultural em função da adaptação ao ambiente litorâneo. Deixaram como vestígios de sua presença os sambaquis, palavra de origem tupi que significa “monte de mariscos”.

Os sambaquis foram utilizados para enterrar os mortos com seus objetos pessoais (enfeites, utensílios e armas), o que indica uma provável preocupação religiosa com a morte.

Os estudos dos sambaquis revelam aspectos da cultura dos povos litorâneos de nossa Pré-história. Esses povos formavam aldeias com cerca de 100 a 150 habitantes em média. Viviam da coleta, da caça e principalmente da pesca. Utilizavam instrumentos feitos de pedra (enfeites, facas, flechas, machados) e de ossos (arpões, agulhas, anzóis). Tinham o domínio do fogo e assavam os alimentos, que eram divididos entre os membros do grupo.

Durante cerca de 5 mil anos, os povos do sambaquis expandiram-se com brilho e vigor. Sofreram, por fim, o ataque dos índios tupi-guaranis, vindos do interior do território brasileiro.


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