domingo, 12 de janeiro de 2025

Ásia: diversidade natural e questões ambientais

Localização e algumas características

A Ásia tem uma superfície de aproximadamente 44 milhões de quilômetros quadrados. Constitui com a Europa um único bloco continental, denominado Eurásia. A divisão entre a Europa e a Ásia leva em conta aspectos histórico-culturais. A Rússia, por exemplo, apresenta parte de seu território no continente europeu e parte no continente asiático.

O continente asiático apresenta 11 fusos horários e é banhado pelos oceanos Glacial Ártico, Índico e Pacífico. Há diversos mares e golfos no interior e na costa asiática. Entre eles destacam-se o mar Vermelho — que se comunica com o mar Mediterrâneo através do canal de Suez (figura 2) —, o mar Cáspio, o mar Negro, o mar da China e o do Japão.

O contorno irregular da Ásia forma penínsulas de grande importância: as penínsulas Arábica, do Decã, Malaia, Indochinesa, da Coreia, Kamtchatka e da Anatólia. No litoral do sudeste asiático, situam-se vários arquipélagos de origem vulcânica: o arquipélago da Indonésia (ilhas Java, de Bornéu, de Sumatra), o das Filipinas e o do Japão. Esses arquipélagos fazem parte do Círculo de Fogo do Pacífico, zona de intensa atividade vulcânica e sujeita a abalos sísmicos frequentes. Outra região de importância estratégica é o estreito de Taiwan, também conhecido como estreito de Formosa. Situado entre a China e Taiwan, tem intensa navegação comercial e constitui uma zona de tensão entre os dois países. Outras zonas de tensão estão presentes no mar da China Oriental e no mar da China Meridional, envolvendo Japão, Indonésia, China, Malásia, Filipinas, Vietnã e Coreia do Sul. O canal de Suez, no Egito, foi inaugurado em 1869. Trata-se de um canal artificial com 163 quilômetros que liga o mar Vermelho (cidade de Suez) ao mar Mediterrâneo (cidade portuária de Port-Said). Apesar das reformas realizadas posteriormente, a profundidade do canal não permite a passagem de grandes petroleiros. No Oriente Médio existem dois golfos de intensa navegação comercial: o golfo Pérsico e o golfo de Omã. O limite entre eles é o estreito de Ormuz. Através de suas águas, a produção de petróleo é escoada para o resto do mundo. Por essa razão, a região do golfo Pérsico é alvo de constantes conflitos e constitui uma área estratégica mundial.

O relevo e a atividade sísmica

Na Ásia são encontradas as mais elevadas montanhas e as depressões mais profundas da Terra. Entre Israel e Jordânia, na região do Oriente Médio, situa-se o mar Morto, cujas águas estão a 412 metros abaixo do nível do mar Mediterrâneo. Na cordilheira do Himalaia localiza-se o ponto culminante do relevo terrestre, o monte Everest, com 8.848 metros de altitude, na fronteira entre o Nepal e a China. Essa cordilheira é uma cadeia montanhosa de formação recente na história geológica da Terra (começou a se formar há cerca de 70 milhões de anos, enquanto a história do planeta iniciou-se há cerca de 4,6 bilhões de anos). A cordilheira do Himalaia descreve um arco de 2.800 quilômetros de extensão, constituindo uma “muralha” entre a China e a porção meridional do continente. Muitos dos picos mais altos da Terra estão localizados no Himalaia, como o K2, o Nanda-Devi, o Kanchenjunga e outros, além do Everest. Dezenas de outros picos, mais de 70, ultrapassam a altitude de 7.300 metros.

Diversos países do continente asiático estão sujeitos à instabilidade geológica. As zonas de instabilidade estão concentradas no sul e no leste do continente, próximo às regiões montanhosas e no litoral. Essa instabilidade, responsável pela ocorrência de terremotos, vulcanismo e maremotos, deve-se à colisão das placas tectônicas no continente ou no oceano. Em dezembro de 2004, um abalo sísmico de magnitude 9,15 na escala Richter (o segundo maior da História), originado no fundo do oceano Índico, provocou um tsunami (onda gigante) que causou a morte de aproximadamente 250 mil pessoas e deixou cerca de 1,8 milhão de desabrigados, a maior parte deles na Índia e no Sri Lanka. O fenômeno ocorreu em razão do choque das placas indo-australiana e euro-asiática. Nesse choque entre as duas placas, uma delas é projetada para o alto e desloca a massa de água do oceano que está sobre ela, formando as ondas gigantescas.

Entre esses planaltos e as cadeias montanhosas, situam-se extensas planícies aluviais, formadas pela acumulação de sedimentos transportados pelos rios. A planície da Sibéria, na Rússia, entre os Montes Urais e o planalto Central Siberiano, é a mais extensa do continente (7 milhões de quilômetros quadrados). No norte da Índia, ao sul do Himalaia, localiza-se a planície Indo-Gangética, que é atravessada pelos rios Indo e Ganges e tem grande importância econômica. Essa planície originou-se da acumulação de sedimentos provenientes da erosão das montanhas, trabalho realizado pelas águas que vertem para os rios Indo, Ganges e Brahmaputra. Os deltas e os vales desses rios são muito importantes para a atividade agrícola, pois são muito férteis. No leste da Ásia, destacam-se a planície Chinesa e a da Manchúria. Em parte da planície Chinesa, aparece o solo loess, de grande fertilidade, o que permite desenvolver atividade agrícola em larga escala, onde são cultivados o trigo, a soja, o milho e a batata. Excetuando-se a planície da Sibéria, todas as demais do continente concentram bastante população em função da grande fertilidade dos solos. No sudeste da Ásia, localiza-se a planície da Indochina, que também apresenta grande importância econômica em razão da fertilidade de seus solos. Entre os rios Tigre e Eufrates, em território iraquiano, localiza-se a planície da Mesopotâmia, que constitui parte da região denominada Crescente Fértil, onde se desenvolve intensa atividade agrícola. Acredita-se que foi nessa região que pela primeira vez se estruturou a prática da agricultura, há aproximadamente 10 mil anos. Outra unidade de relevo presente no continente asiático são as depressões. Além da maior depressão absoluta do mundo, o mar Morto, várias outras estão espalhadas ao redor de outros mares e lagos asiáticos, como o mar Cáspio, ao norte do Irã, e o mar de Aral, entre o Usbequistão e o Casaquistão.

A hidrografia

Apesar de haver rios e lagos de grande dimensão no continente, a escassez de água doce já é um problema para alguns países e deverá se ampliar no futuro. A Ásia abriga cerca de 60% da população mundial e apenas 36% dos recursos hídricos (figura 7). O crescimento industrial tem aumentado o consumo e, ao mesmo tempo, a poluição das águas. Além disso, a necessidade de ampliação de áreas irrigadas para agricultura e pecuária deverá comprometer outras fontes de abastecimento. O sul da Ásia concentra o maior despejo de água de esgoto não tratada do mundo. A cordilheira do Himalaia e o planalto do Tibete são os dois grandes dispersores de águas da Ásia. A maioria dos rios asiáticos nasce na parte central do continente. Os rios asiáticos, de modo geral, têm regime misto: são alimentados pelas águas provenientes tanto do derretimento das neves (nival) como das chuvas (pluvial), especialmente as de verão no sul e sudeste asiáticos, onde ocorrem as monções de verão, proporcionando elevados índices pluviométricos. Como vimos, muitas áreas densamente povoadas do continente encontram- -se nos vales e nas desembocaduras dos rios de maior extensão, como o Ganges, o Indo, o Yang-tse (rio Azul), o Huang-Ho (rio Amarelo) e o Mekong. O rio Ganges nasce no Himalaia e deságua no golfo de Bengala, onde forma o maior delta do mundo. Ele apresenta grande importância econômica, pois, na época das cheias, suas águas fertilizam as terras por onde passam. Além disso, é bastante conhecido pelo seu significado religioso. Os praticantes do hinduísmo, por exemplo, banham-se em suas águas em busca de purificação. O Ganges e seus afluentes formam uma bacia hidrográfica com aproximadamente 1 milhão de quilômetros quadrados, a mais povoada do globo, com densidade demográfica de cerca de 400 hab./km2 . O rio Indo nasce no planalto do Tibete e deságua no mar Arábico. Com a construção de uma rede de canais, as áreas secas atravessadas por seu curso médio foram transformadas em regiões agrícolas.

Dois importantes rios que banham a planície da China são o Yang-tse e o Huang-Ho. Este, com 5.200 quilômetros de extensão, atravessa áreas de solo loess e deságua no mar da China Oriental. O Yang-tse nasce no planalto do Tibete e também deságua no mar da China Oriental. Com 5.500 quilômetros, é o mais extenso rio asiático e nele foi construída a maior hidrelétrica do mundo: Três Gargantas. Na planície da Indochina, o principal rio é o Mekong, com 4.180 quilômetros de extensão. Ele nasce na China, na região do Tibete, corta a península de norte a sul e deságua no mar da China Meridional. Em suas margens cultiva-se principalmente arroz. No norte da Ásia, os rios mais importantes são os que atravessam a planície da Sibéria. Entre eles se destacam o Ienissei e o Ob. Esses rios, que têm as águas congeladas no inverno, causam grandes inundações na época do degelo. Na parte ocidental da Ásia, correm os rios Tigre e Eufrates, que cortam a planície da Mesopotâmia, no Iraque. No continente asiático, observa-se também um grande número de lagos e mares interiores. Entre eles se destacam o mar Cáspio, entre o Irã, o Turcomenistão, o Casaquistão, a Rússia e o Azerbaijão; o mar de Aral, entre o Casaquistão e o Usbequistão; o lago Baikal, na Rússia; e o lago Balkash, no Casaquistão. No fim da década de 1960, os técnicos da ex-URSS decidiram utilizar as águas dos rios Sirdaria e Amudaria e do mar de Aral para irrigar as plantações de algodão, vegetais oleaginosos, frutas e outras culturas, nas áreas secas do Casaquistão e do Usbequistão. O desastre ambiental decorrente desse projeto foi alarmante e amplamente divulgado nos anos 1990, depois do fim da URSS. Em 2001, com ajuda financeira do Banco Mundial, foi implantado um programa de recuperação do mar de Aral (em sua porção norte) que vem apresentando resultados positivos.

O clima e a vegetação

A Ásia é um continente de grandes contrastes climáticos. Nela estão localizadas tanto áreas bastante chuvosas quanto desérticas ou regiões de clima polar e regiões de clima tropical.

Para compreender os vários tipos de clima do continente, devem-se considerar os seguintes fatores:

• latitude, uma vez que as terras asiáticas estendem-se desde a linha do equador (baixa latitude) até a região polar Ártica (alta latitude);

• grande extensão territorial, que permite a atuação dominante de massas de ar continentais (secas) em seu interior e proporciona a maior influência da continentalidade, tornando os invernos mais rigorosos no interior da Ásia;

• altitude, pois é o continente que apresenta as altitudes médias mais elevadas (sem considerarmos a Antártida);

• formas de relevo, cujas montanhas muitas vezes formam barreiras que impedem a passagem das massas de ar úmido;

• ventos monçônicos na porção meridional do continente, que sopram ora do continente para o oceano (secos), ora do oceano para o continente (úmidos). De acordo com a influência desses fatores, a Ásia apresenta diversos tipos climáticos. Próximo ao oceano Glacial Ártico (altas latitudes) e nos planaltos e nas montanhas (altitudes elevadas) predomina o clima Frio.

No norte da Ásia, o clima Frio, subdividido em frio ártico (polar) e frio continental, apresenta temperaturas acima de 10 °C apenas durante cerca de quatro meses do ano. Nos outros meses, as temperaturas são bem inferiores. A cidade de Verkhoianski, na Sibéria, por exemplo, registrou as temperaturas mais frias do globo, próximas dos 70 graus abaixo de zero. As vegetações correspondentes a esse tipo de clima são a Tundra (frio ártico) e a Floresta de Taiga ou de Coníferas (frio continental), cuja espécie predominante é o pinheiro, que se desenvolve até mesmo nos solos mais secos.

Na Mongólia, na China e no Oriente Médio, existem extensas áreas de clima Desértico. Os desertos do Oriente Médio são quentes, como ocorre nos desertos da Arábia e do Irã. Os desertos da parte central são frios. É o caso do deserto de Gobi, na Mongólia e na China, e do Takla Makan, na China. Em razão da aridez desse clima, nessas porções ocorrem as vegetações de estepes e desértica. Nos desertos, em terrenos onde há alguma umidade em virtude da pequena profundidade de um lençol de água, formam-se os oásis, com diversas espécies vegetais, entre as quais se sobressai a tamareira. No sul e no sudeste da Ásia, ocorre o clima de Monções, que é influenciado pelos ventos monçônicos. A principal característica do clima de Monções (Tropical) é a variação das precipitações pluviométricas, marcando duas estações, uma seca (inverno) e outra chuvosa (verão), considerando a dinâmica das estações no hemisfério norte.

No verão, os ventos monçônicos sopram do oceano para o continente, carregando grande umidade, o que ocasiona chuvas prolongadas, indispensáveis para a irrigação da cultura do arroz e de outros produtos. Nesse período, ocorrem fortes enchentes nas planícies litorâneas do Índico e em parte do Pacífico. No inverno, os ventos monçônicos sopram do continente para o oceano. Nesse período, as temperaturas no interior do continente são mais baixas do que as do oceano, o que provoca correntes de ventos continentais secos e frios. O clima Equatorial aparece em quase todas as ilhas que compõem a Indonésia, no extremo sudeste do continente. Em razão da umidade e das altas temperaturas, a vegetação, em alguns trechos das regiões abrangidas pelos climas de monções e equatorial, é formada pelas Florestas Tropical e Equatorial.

Problemas ambientais

O crescimento econômico da Ásia — em especial da China, da Índia e de alguns países do Sudeste Asiático — tem colocado o continente no centro do debate ambiental internacional. O recente desenvolvimento econômico exigiu maior consumo de energia, maior queima de combustíveis fósseis para a produção industrial, e elevação do consumo de água, sobretudo para irrigação de lavouras. No mesmo compasso, milhões de pessoas passaram a se alimentar melhor e ingressaram na sociedade de consumo com a elevação do padrão de vida. Isso foi acompanhado por uma intensificação da ocupação e do uso da terra e, em particular, do solo em diferentes regiões do continente asiático, com diversas consequências ambientais, como contaminação de cursos d’água e do solo por agrotóxicos, compactação do solo pela utilização de máquinas agrícolas, redução da cobertura vegetal e poluição marinha e do ar.

A poluição não está associada somente ao crescimento econômico. Diversas localidades degradadas do continente são produto da pobreza, da ausência de investimento em saneamento básico e da intensa utilização de lenha como combustível doméstico, por exemplo. Atualmente, entre as cidades mais poluídas no mundo, cerca de metade está no continente asiático.

A Rússia e a CEI

Rússia: potência geopolítica

A Federação Russa, nome oficial da Rússia, é formada por 21 repúblicas, uma região autônoma, 49 regiões administrativas, seis províncias, dez distritos autônomos e duas cidades com status administrativo especial — Moscou e São Petersburgo. A Rússia detém um dos maiores arsenais nucleares mundiais. Dispõe de uma enorme área territorial, que concentra grande quantidade de recursos minerais, inclusive energéticos, como petróleo e gás natural, detendo cerca de 6% das reservas petrolíferas mundiais e aproximadamente 30% das reservas de gás natural do mundo. A exploração e a comercialização são monopólio da Gazprom, empresa estatal russa. Seu importante peso geopolítico e histórico é reforçado pela expansão econômica, verificada a partir do início do século XXI, que tem como um dos fatores fundamentais as enormes receitas obtidas com as exportações de petróleo e gás natural. Essa expansão econômica, associada a questões demográficas do país (como a reduzida taxa de natalidade), conforme discutido na seção Para começar, é um dos fatores responsáveis pelo crescente aumento da demanda de mão de obra. Diversas potências europeias dependem do petróleo e do gás natural russos. Aproximadamente 40% do gás consumido na Europa é proveniente do território russo. Outros fornecedores de petróleo e, sobretudo, de gás natural para a Europa são o Azerbaijão, o Casaquistão, o Usbequistão e o Turcomenistão, que estão na esfera de influência política e econômica da Rússia. Os gasodutos que escoam o gás natural desses países para a Europa percorrem longos trechos em território russo.

Ucrânia e Rússia

A dependência que a Ucrânia tem em relação ao gás natural russo, além do arsenal nuclear russo, é utilizada como “arma geopolítica”, ou seja, o governo da Rússia pressiona o governo ucraniano a não ingressar na Otan e não pleitear o ingresso na União Europeia. A Rússia tem estimulado o separatismo em regiões do leste e do sul da Ucrânia, inclusive como forma de desestabilizar o governo ucraniano pró-ocidental. Além disso, em março de 2014, anexou a Crimeia, uma península que pertencia à Ucrânia (figura 43). Num referendo, a população da região apoiou a decisão. Países como os Estados Unidos não concordam com essa anexação. Os problemas da transição e a integração da Rússia A transição da economia planejada (socialista) para a economia de mercado (capitalista) proporcionou uma série de mudanças na Rússia, como a gradual liberação de preços de mercadorias e serviços, a privatização das empresas estatais e a abertura para o capital estrangeiro, fundamentais para a reconstrução da economia dos novos Estados nos padrões do sistema capitalista. O crescimento econômico, nos anos de intensas transformações nas estruturas políticas, sociais e econômicas do país, rumo ao capitalismo, foi muito baixo — entre 1992 e 2002, a média anual de crescimento do PIB foi negativa (–0,9%). Tal situação, associada à concentração de riquezas nas mãos de poucas pessoas, contribuiu para piorar as condições de vida da maior parte da população .

O processo de privatização foi muito atraente para o capital estrangeiro, pois o preço das ações das antigas empresas estatais estava bem abaixo do valor real. No entanto, esses investimentos limitaram-se a setores considerados rentáveis, como os de petróleo e gás, eletrônicos, telecomunicações, lazer e hotelaria, equipamentos de transportes e alguns outros, não se difundindo pela economia como um todo. A maioria das empresas não tinha competitividade para funcionar em uma economia de mercado. No setor agropecuário, em 1992, a Rússia iniciou a instauração da propriedade privada para extinguir as fazendas coletivas. Em junho de 2002, foi aprovado um projeto de lei que criou um sistema de comercialização de terras, acabando com a proibição que vigorava desde a Revolução de 1917. Essa comercialização, no entanto, ficou restrita apenas aos russos, vetada aos estrangeiros. A transição para o capitalismo transformou a Rússia em uma nova fronteira para a expansão do capital financeiro e em um mercado emergente, com toda a dependência de capitais externos provocada por essa situação. O país é bastante dependente das exportações de alguns metais, de madeira e, sobretudo, de petróleo (figura 45) e de gás natural. Cerca de 80% das exportações russas referem-se a esses quatro itens. Dessa forma, como os preços do petróleo e do gás natural subiram significativamente em boa parte dos anos da primeira década do século XXI, a economia russa apresentou expressiva recuperação. Alguns analistas alertam sobre o perigo em ter uma economia muito dependente em relação ao petróleo, ao gás natural e a outros recursos minerais, considerando o risco da oscilação de seus preços (que caíram no decorrer de 2014, em razão da expansão da produção do óleo de xisto nos Estados Unidos) e o esgotamento futuro das reservas. Além disso, destacam a necessidade de modernização do parque industrial e de investimentos em tecnologias de ponta, não apenas em armamentos de indústrias aeroespaciais, mas também nos setores de informática, telecomunicações, químico, entre outros.

A sociedade russa também passou por grande transformação com o aumento das desigualdades econômicas. Houve bastante acumulação de riqueza por uma pequena elite, composta de líderes do antigo Estado soviético e de novos empreendedores (empresários capitalistas), particularmente os que atuam nos setores petrolífero e da construção civil.

A Comunidade dos Estados Independentes (CEI)

A estrutura da CEI tem se revelado frágil, o que pode ser comprovado pela análise de seus problemas econômicos e sociais, dos conflitos nacionalistas e das disputas étnicas, além do receio causado pela supremacia russa. A questão dos nacionalismos (disputas étnicas) tem causado violentos combates no interior das ex-repúblicas. A migração forçada promovida por Stalin nas décadas de 1930 e 1940, que levou as repúblicas a receber pessoas de diversas nacionalidades, especialmente russos, é em parte a causa desses problemas étnicos. Conforme você viu na seção Para começar, as rivalidades étnicas nos países da CEI constituem um grande foco de instabilidade política e social, sobretudo na Rússia, que conta com dezenas de grupos étnicos em seu território.

Além desses fatores, há outros sérios empecilhos à concretização da cooperação entre os países:

• o baixo nível de desenvolvimento econômico e social, principalmente nos países da Ásia Central (sobretudo no Quirguistão, no Usbequistão e no Tajiquistão). Nessa região, apenas o Casaquistão se sobressai em termos econômicos, em boa parte graças à produção e à exportação de petróleo (do qual tem enormes reservase de gás natural e à existência de um parque industrial relativamente diversificado — era a região mais industrializada da Ásia Central no período soviético. O Turcomenistão também apresenta riquezas naturais, principalmente gás natural e petróleo — é a quinta maior reserva de gás do mundo. De modo geral, esses países são bastante dependentes da exportação de produtos primários. Vale ressaltar também que a situação socioeconômica do Tajiquistão é particularmente grave, pois se trata de um dos países mais pobres do mundo;

• o número reduzido de regimes democráticos de governo, particularmente na Ásia Central;

• as fortes disparidades entre o nível de desenvolvimento econômico e o volume de comércio exterior de cada um desses países. As exportações da Rússia representam mais que o dobro das de todos os outros membros e incluem grandes quantidades de bens industrializados, enquanto na maior parte dos outros países as exportações restringem-se praticamente a matérias-primas agrícolas ou minerais;

• a preocupação da Rússia em conter o avanço do fundamentalismo islâmico na região da Ásia Central — onde a religião muçulmana é a mais praticada — e a aproximação político-militar e econômica dos países dessa região em relação a Estados-nação muçulmanos vizinhos, onde os grupos fundamentalistas têm forte presença, como no Irã, no Paquistão e no Afeganistão.

A grande extensão territorial da Rússia

O espaço geográfico ocupado pela Rússia é de aproximadamente 17 milhões de km2 , que corresponde a mais de 10% das terras emersas do planeta. É o país mais extenso do mundo, cortado por 11 fusos horários. A maior parte desse imenso território localiza-se ao norte do paralelo de 45º N, o que lhe proporciona um clima bastante rigoroso, com médias térmicas sempre abaixo de 0 ºC no inverno. Cerca de um terço do espaço geográfico da Rússia faz parte do continente europeu; o restante estende-se pela Ásia. A linha divisória entre os dois continentes é representada pelos Montes Urais, que contêm importantes jazidas minerais, principalmente de petróleo. Há 21 repúblicas autônomas, com governo próprio, indicado pelo poder central russo, onde convivem a língua russa (oficial) e os idiomas locais.

Do norte ao sul da Rússia é encontrada uma variedade de coberturas vegetais. Na região ártica, no extremo norte, no verão floresce a Tundra, cobertura vegetal descontínua e rasteira, representada por algumas gramíneas e liquens. Ainda na região ártica, a Tundra vai sendo gradualmente substituída por árvores de grande porte, que constituem a Taiga, cuja espécie principal é o pinheiro. A floresta de Taiga cobre a maior parte da Sibéria e grande extensão da parte europeia ocupada pela Rússia. Muitos de seus trechos são intensamente explorados pela indústria madeireira. Essa porção norte do território russo apresenta temperaturas médias extremamente baixas no inverno, e baixa densidade demográfica (veja o mapa da figura 52, na página 150). A população que vive nessa porção tem seu modo de viver completamente adaptado às rigorosas condições climáticas.

As florestas que cobrem grande parte da Rússia também são utilizadas como fonte de energia (lenha), principalmente no período do inverno, nos locais onde há dificuldade para o abastecimento de gás. Na faixa onde o clima se apresenta um pouco mais quente — na Rússia europeia, ao sul do paralelo de 53º N —, surgem as Pradarias, caracterizadas por vegetação rasteira. Nelas é encontrado o solo tchernoziom. Na porção oeste do território, entre a Taiga e as Pradarias, localiza-se a floresta Temperada, que já foi bastante devastada. Entre o mar de Barents e o mar Cáspio, a oeste dos Montes Urais, encontra-se a planície Russa e, a leste dos Urais, estende-se a da Sibéria. Ambas são imensas planícies cortadas por importantes rios. A leste da planície da Sibéria, localiza-se o planalto central Siberiano, e ao sul desse planalto, o lago Baikal. No extremo leste desse país, distribuem-se diversas cadeias montanhosas, como: montes Verkoiansk, cadeia Cherski, montes Kolima e montes Koryak.

A população russa e as questões étnicas

A Federação Russa é uma colcha de retalhos herdada do império czarista e da antiga União Soviética. Em seu território convivem cerca de 80 grupos étnicos distintos, dos quais o russo é o mais numeroso, que corresponde a 82% da população. Há 3,8% de tártaros, 3% de ucranianos, 0,8% de bielo-russos, 0,6% de alemães e outros grupos em menor número. A grande diversidade étnica e os desejos de independência de algumas repúblicas, sobretudo no norte do Cáucaso (entre o mar Negro e o mar Cáspio), têm provocado conflitos internos na Federação Russa. A região do Cáucaso, atravessada por diversos oleodutos, é rica em petróleo e, portanto, tem importância estratégica para o poder central em Moscou. Em meados da década de 1990, guerrilheiros separatistas da República da Chechênia — que faz parte dessa região — travaram uma guerra contra o exército russo para obter a independência. Eles acabaram conquistando autonomia para a Chechênia, sem, no entanto, atingir seus objetivos separatistas.

O governo russo tem reprimido com violência as lutas por independência, recusando-se a negociar com os separatistas. Além disso, tomou parte da guerra contra o terror empreendida pelos Estados Unidos após o 11 de setembro de 2001, como visto anteriormente. Um exemplo trágico da ação de grupos separatistas ocorreu em setembro de 2004, em Beslan, na República da Ossétia do Norte, vizinha à Chechênia, quando separatistas chechenos invadiram uma escola, fizeram reféns alunos e funcionários e exigiram a libertação de presos compatriotas. O então presidente russo, Vladimir Putin, recusou qualquer negociação e ordenou a invasão da escola por tropas militares. O desfecho foi trágico: 370 pessoas mortas, das quais 160 eram crianças (figura 51). O poder central da Rússia teme que a concessão de independência a uma das repúblicas contribua para que outras requeiram o mesmo, desencadeando processos separatistas em toda a federação. Em razão disso, sobretudo a partir do fim dos anos 1990, tem havido uma interferência maior do governo central russo na vida política das repúblicas. Essa interferência é representada frequentemente por casos de irregularidades em eleições e referendos, como no plebiscito que aconteceu na Chechênia em 2003, no qual, convocada para votar pela separação ou não, a população majoritariamente (96% dos eleitores) decidiu que a república deveria permanecer unida à Federação Russa. Na visão dos estrategistas do governo, a manutenção da Rússia como potência no cenário político-militar internacional depende também da integridade de seu território atual, com repúblicas que representam recursos naturais — sobretudo petróleo — e espaços estratégicos, como a região do Cáucaso. Com relação ao número de habitantes, a Rússia apresentava, no início de 2018, uma população de aproximadamente 143,9 milhões de habitantes (menor que a do Brasil). Nesse mesmo ano, a densidade demográfica do país era de aproximadamente 8 hab./km2 .

Em 2015, o país apresentou expectativa de vida de 70 anos. Desde os anos 1980, a expectativa de vida encontrava-se em declínio, por causa da deterioração das condições de vida da maior parte da população (em 1985 era de 70 anos; em 1991, de 69 anos).

Cerca de 74% dos habitantes vivem em áreas urbanas. Várias cidades russas têm mais de 1 milhão de habitantes. A cidade mais importante — que concentra aproximadamente 20% do PIB russo — é Moscou, capital do país, com mais de 10 milhões de habitantes. Depois dela destaca-se São Petersburgo, importante centro industrial (indústrias têxteis e metalúrgicas), com uma população de quase 5 milhões de habitantes. Além delas, são importantes Nijni Novgorod (ex-Gorki) e Novosibirsk. Na Rússia, em geral, é forte a discriminação contra os homossexuais, apesar de a homossexualidade ter sido descriminalizada em 1993. Há, por exemplo, multas contra paradas e eventos que defendem direitos desse grupo. Diversos atos violentos praticados contra homossexuais não são punidos, ao contrário do que acontece em muitos países.

Principais atividades econômicas da Rússia

Os produtos agrícolas mais importantes da Rússia são: a beterraba branca, com a qual é produzido o açúcar, e o trigo, cultivado principalmente nas terras negras (solo tchernoziom) do sudoeste da parte europeia. A Rússia é também um dos primeiros produtores mundiais de cevada. Merecem destaque ainda as produções de batata e de linho, do qual se extraem excelentes fibras têxteis. Na pecuária russa, destacam-se os rebanhos de bovinos e de ovinos, criados nas regiões de índices pluviométricos mais baixos (Estepes). O país é produtor de grande volume de pescado de água doce e destaca-se também na pesca em alto-mar, onde atuam os “navios-fábricas”, nos quais o pescado passa por um processo de industrialização.

No extrativismo mineral, sobressaem o minério de ferro, o carvão e o petróleo, além do urânio, do níquel e do diamante. A produção de carvão concentra-se em Kuzbass, na Sibéria. Cerca de três quartos da produção de petróleo são extraídos dos poços existentes na Sibéria. O restante provém da região caucasiana. Duas das maiores usinas hidrelétricas do mundo, Krasnoiarsk (no rio Ienissei) e Bratsk (no rio Angara, afluente do Ienissei), localizam-se na Rússia, o que reflete seu alto potencial energético. No setor industrial, apesar das mudanças no rumo dos investimentos, aplicados principalmente nas indústrias de bens de consumo, predominam ainda as indústrias de base.

Entre as principais áreas industriais, destacam-se:

• São Petersburgo, cujo desenvolvimento industrial foi iniciado no governo imperial, antes de 1917. Nessa cidade são importantes as indústrias metalúrgica, química, petroquímica, têxtil e alimentícia;

• Moscou, que sobressai muito mais pela disponibilidade de mão de obra, pelos recursos técnicos e pelo mercado consumidor do que por seus recursos naturais, que provêm de áreas mais distantes para serem transformados industrialmente. Outros centros industriais que merecem destaque são:

• o de Kuzbass, que se desenvolveu sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial;

• o siderúrgico, em estruturação ao redor do lago Baikal;

• o automobilístico, em Togliatti (cidade às margens do rio Volga, 977 km a leste de Moscou), que abriga as instalações da empresa Autovaz. Em razão de problemas de ordem natural, como litorais pouco recortados e baixos e mares com águas congeladas a maior parte do ano, a Rússia não dispõe de grandes portos marítimos. Entre os portos de maior expressão, podemos citar o de Vladivostok, no mar do Japão, e o de São Petersburgo, no mar Báltico.

Europa: realidade socioeconômica

O elevado nível de desenvolvimento da Europa ocidental

O continente europeu, berço da Revolução Industrial, é formado por alguns dos países mais desenvolvidos do mundo. Segundo o relatório de 2017 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que mede a qualidade de vida dos países do mundo, entre os 20 de mais alto IDH (desenvolvimento humano muito alto), 13 eram europeus, destacando-se Noruega (1o ), Suíça (2o ), Irlanda (4o ), Alemanha (5o ), Islândia (6o ), Suécia (7o ), Países Baixos (10o ) e Dinamarca (11o ). O Brasil ocupava o 79o lugar e estava entre os países considerados de alto desenvolvimento humano. Nos países de elevado nível de desenvolvimento da Europa ocidental estão localizadas várias empresas transnacionais, como a British Petroleum e a British American Tobacco, sediadas no Reino Unido; a Volkswagen, a Bayer e a Basf, com sedes na Alemanha; a Fiat, sediada na Itália; a Peugeot-Citröen, a Danone e a Renault, com sedes na França; a Shell e a Unilever (empresas transnacionais de capital inglês e holandês); a Philips, com sede nos Países Baixos (Holanda); a Ericsson, sediada na Suécia; a Nestlé, sediada na Suíça; entre outras. Os grandes grupos industriais europeus e mundiais fazem investimentos elevados em pesquisa e tecnologia, criando e desenvolvendo mercadorias, e modernizando e automatizando suas fábricas para alcançar um menor custo de produção e melhorar sua competitividade global. Os parques industriais da maioria dos países da Europa ocidental são bastante diversificados, com destaque para os ramos de produtos eletroeletrônicos, químicos, farmacêuticos, de telecomunicações, aviões, construção naval (figura 25), energia nuclear, siderurgia e automobilístico. O setor terciário desses países também é bastante diversificado, formado por grandes grupos de empresas transnacionais que atuam nas áreas comercial, como redes de hipermercados (o francês Carrefour); financeira, como bancos (o espanhol Santander, os britânicos Lloyd’s Bank e HSBC, o holandês ABN Amro Bank); de telefonia (a espanhola Telefonica, a italiana Tim).

Divisão do espaço europeu

Em nosso estudo do espaço europeu, adotamos a divisão do continente em Europa ocidental e Europa oriental, considerando o critério socioeconômico. A Europa ocidental engloba os países de elevado nível de desenvolvimento e economia diversificada: Reino Unido, Alemanha, Itália, França, Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo, Suécia, Suíça, Dinamarca, Espanha, Finlândia, Irlanda, Áustria, Noruega, Islândia, Grécia e Portugal. A Europa oriental compreende os países que já foram considerados “economias em transição”, que deixaram o socialismo no final do século XX e que apreentam diversidade em termos de nível de desenvolvimento socioeconômico, mas, comparativamente aos países da Europa ocidental, têm indicadores sociais geralmente inferiores. São eles: Polônia, Hungria, República Tcheca, Eslováquia, Rússia, Romênia, Sérvia, Montenegro, Macedônia, Bulgária, Albânia, Estônia, Letônia, Lituânia, Croácia, Ucrânia, Moldávia, Belarus, Bósnia-Herzegovina, Eslovênia, Geórgia, Armênia e Azerbaijão. Entre os países da Europa oriental, há ainda alguns que se enquadram no grupo dos emergentes, como Rússia e Polônia. Como você constatou, para alguns países da Europa ocidental, como França, Itália e Espanha, a atividade turística é uma importante fonte de divisas. Alemanha e Reino Unido também ganham destaque como destinos turísticos no continente e no mundo. O mercado internacional da moda também movimenta um grande volume de capitais, sendo França e Itália os principais exportadores de produtos de alta-costura, além de abrigarem empresas que detêm patentes de importantes grifes. Esses países são os grandes centros europeus de eventos de divulgação do mundo da moda. Merecem destaque ainda os grandes centros universitários, sobretudo no Reino Unido, na França, na Itália, na Alemanha e na Espanha, que atraem pesquisadores e estudantes do mundo inteiro.

A União Europeia (UE)

A União Europeia, que constitui o maior projeto de integração entre países já realizado. A primeira experiência de integração comercial entre países já havia sido elaborada um pouco antes do fim da Segunda Guerra Mundial. Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo formaram, em 1944, o Benelux, que previa a criação de uma zona de livre-comércio entre seus membros. Entrou em funcionamento em 1948 e, dez anos depois, completaria o processo de unificação econômica. A experiência vem sendo seguida por vários grupos de países e é um dos elementos que caracterizam a ordem mundial nos dias atuais. Em 1952, foi criada a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca), reunindo os países do Benelux, a Alemanha, a França e a Itália. Estabelecia um mercado comum para produtos e matérias-primas ligados à indústria siderúrgica, como carvão, ferro e aço. Em 1957, os membros dessa comunidade criaram, pelo Tratado de Roma, a Comunidade Econômica Europeia (CEE), também chamada de Mercado Comum Europeu (MCE). Mais tarde, no decorrer dos anos 1970 e 1980, uma série de países foi incorporada à CEE. Os objetivos da CEE apontavam para a formação de um bloco que pudesse assegurar aos seus integrantes a livre circulação de mercadorias, pessoas, capitais e serviços, configurando-se, assim, um mercado comum pleno. A realização desses objetivos só seria conquistada com a unificação europeia em 1993, quando as fronteiras nacionais deixaram de ser um obstáculo à expansão capitalista e ao aumento das vendas e dos lucros das grandes empresas transnacionais. No início da década de 1990, os países da CEE resolveram ampliar a abrangência desse organismo, por causa da delineação de uma nova etapa das relações internacionais, marcada pela queda do Muro de Berlim, pelo fim da União Soviética, pela unificação alemã e pelo aumento da concorrência no âmbito comercial. Reunidos em dezembro de 1991, na cidade de Maastricht, nos Países Baixos, os dirigentes dos países da CEE decidiram eliminar, num curto espaço de tempo, todas as barreiras que impediam uma definitiva integração socioeconômica, implantando o mercado único. Uma das principais decisões foi definir o uso de uma nova e única moeda na Europa unificada, com a criação de um Banco Central Europeu.

O Tratado de Maastricht, que entrou em vigor em 1o de janeiro de 1993, substituiu o Tratado de Roma e transformou a CEE em UE (União Europeia), cujo projeto de integração foi além dos limites de um mercado único ou comum, pois passou a ter como objetivo a união econômica e monetária, além do estabelecimento de uma política externa comum, ampliando a capacidade de competição de suas mercadorias e empresas em nível global. Dessa forma, um passo importante foi dado em 1o de janeiro de 2002, com a união monetária, quando o euro entrou em circulação em doze países da União Europeia: Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos e Portugal. No entanto, em junho de 2016, após consulta popular, os demais integrantes do bloco na época – Reino Unido, Dinamarca e Suécia – optaram por não adotar essa moeda única. Apesar disso, nesses países (exceto no Reino Unido), o euro serve de referência em negócios privados e pode ser utilizado em outras relações comerciais, como na abertura de contas bancárias. A adoção do euro representou a criação de uma moeda forte, que facilita o comércio e os investimentos dentro do próprio continente. Os negócios antes feitos em dólar passaram a ser realizados em euro, contribuindo para reduzir a supremacia da moeda estadunidense. No entanto, a crise econômica deflagrada em 2008 e intensificada em 2011 demonstrou como a existência de uma moeda única pode gerar entraves para a solução de problemas financeiros em alguns países. Isso porque as decisões tomadas por um país afetam os demais integrantes da união monetária. Por exemplo, se a Grécia declarasse que não tinha condições de pagar toda a dívida pública que se formou, a suspensão do pagamento implicaria problemas para o euro. As soluções encontradas pelos líderes políticos da União Europeia passavam por cortes significativos dos gastos do governo, a fim de liberar recursos para pagar as dívidas, em boa parte, com bancos privados. Isso estava determinando aumento do desemprego e corte nos benefícios sociais, ocasionando, por sua vez, aumento da pobreza.

É preciso ressaltar que uma das causas da crise está diretamente relacionada à enorme expansão da especulação financeira em nível global neste início de século, com uma escalada de empréstimos e com a comercialização de títulos sem garantias, o que ocasionou a falência de bancos e empresas. Muitos desses bancos e empresas foram socorridos, com ajudas financeiras, por governos dos países desenvolvidos. Isso provocou uma ampliação expressiva das dívidas públicas em muitos países. Conforme entendimentos iniciados nos anos 1990, a União Europeia, principal compradora das mercadorias brasileiras, e o Mercosul estão buscando um caminho para se integrarem, por meio da criação de uma zona de livre-comércio.

Expressiva ampliação do bloco

Em 1o de maio de 2004, a entrada de dez novos países na União Europeia, sendo oito oriundos do antigo bloco socialista, colocou fim à tradicional divisão do continente em ocidental e oriental. Chipre e Malta também foram admitidos na organização nessa data. Romênia e Bulgária ingressaram em 2007 e a Croácia, em 2013, quando a UE passou a ser formada por 28 países. Em 2007, a Eslovênia tornou-se o 13o país a adotar o euro. Posteriormente, outros países entraram para a zona do euro: Malta (14o ), Chipre (15o ), Eslováquia (16o ), Estônia (17o ), Letônia (18o ) e, em 2015, a Lituânia. Veja a figura 29. Os novos países-membros apresentam um nível de desenvolvimento inferior ao dos demais, infraestrutura defasada e atraso tecnológico. Comparativamente, sua contribuição ao bloco é menor do que os investimentos que devem receber. Assim, equilibrar interesses e possibilidades dos antigos e dos novos membros é um desafio para a União Europeia. Esses países, no entanto, recebem menos benefícios do que os oferecidos aos que entraram anteriormente, como subsídios agrícolas e ajuda econômica ao desenvolvimento.

Os países da Europa oriental

Os países da Europa oriental apresentam um nível de desenvolvimento socioeconômico diferente dos países da Europa ocidental. Esse conjunto é ainda marcado por uma diversidade socioeconômica e espacial que remonta ao período da Guerra Fria, quando fazia parte da zona de influência do bloco soviético. Nessa região, após a Segunda Guerra Mundial, a atividade da indústria desenvolveu-se com base no planejamento estatal, destacando-se a República Tcheca, na indústria metalúrgica, e a Polônia, na construção naval e na metalurgia. Com o surgimento do modelo industrial baseado nas novas tecnologias, o parque industrial dos antigos países socialistas ficou em grande defasagem tecnológica. A transição para a economia capitalista, a partir do início dos anos 1990, promoveu uma reestruturação industrial com a abertura dos mercados, os cortes de subsídios às empresas estatais e a liberalização dos preços, o que acarretou um surto inflacionário. Muitas dessas empresas faliram, e os países sofreram queda de produção e dos níveis de emprego. Nos últimos anos, os países de maior tradição industrial, como a República Tcheca, a Polônia e a Hungria, iniciaram uma recuperação econômica, marcada pelo aumento dos investimentos estrangeiros e pela instalação de várias empresas transnacionais. Esses três países apresentaram maior nível de industrialização e uma economia mais diversificada e, em 2017, contavam com indicadores sociais próximos aos dos países da Europa ocidental – República Tcheca, IDH 0,888 (27a posição); Hungria, IDH 0,838 (45a posição); Polônia, IDH 0,865 (33a posição). A Eslovênia (IDH 0,896 – 25a posição), a Eslováquia (IDH 0,855 – 38a posição) e a Croácia (IDH 0,831 – 46a posição), apesar de não apresentarem os mesmos níveis de industrialização e de diversificação econômica dos outros três países, contam com bons indicadores sociais.

Todos esses países enquadram-se na classificação de “desenvolvimento humano muito alto”, com IDH superior a 0,800, assim como Estônia (IDH 0,871 – 30a posição), Lituânia (IDH 0,858 – 35a posição) e Letônia (IDH 0,847 – 41a posição), que faziam parte da extinta União Soviética e são denominados países bálticos. Os demais países da Europa oriental, como Bulgária, Romênia, Bósnia-Herzegovina, Albânia e Macedônia, apresentam níveis de industrialização e de diversificação econômica inferiores aos da Polônia, da República Tcheca e da Hungria. Com o avanço do capitalismo, os países da Europa oriental, de modo geral, tornaram-se área de influência da União Europeia, principalmente por meio das relações comerciais e dos investimentos que a Alemanha passou a fazer na região.

Atividades agropecuária e extrativa na Europa

Uma importante característica da agropecuária do espaço europeu são os subsídios (figura 31) concedidos pelos governos aos agricultores, como empréstimos a juros baixos e pagamento a longo prazo, principalmente nos países que fazem parte da União Europeia. A criação, em 1962, da Política Agrícola Comum (PAC) foi uma forma de os governos europeus protegerem seus agricultores da concorrência externa, visando à manutenção da renda e do emprego nas áreas agrícolas e à estabilidade nos preços dos alimentos. Esse apoio dado à agropecuária levou a Europa a tornar-se praticamente autossuficiente nos principais produtos alimentares, mas não resolveu problemas como as disparidades entre regiões e países europeus. Essa política agrícola também é alvo de críticas internacionais, principalmente de instituições como a Organização Mundial do Comércio, dos Estados Unidos e de diversos países emergentes, entre eles o Brasil, que exercem forte pressão para que se reduza o protecionismo agrícola, pois ele bloqueia a entrada de produtos estrangeiros no mercado europeu.

A produção agrícola

A Europa apresenta importante e diversificada produção agrícola, com grande aproveitamento de seus solos, geralmente férteis, com técnicas adequadas e modernas, que proporcionam elevada produtividade. A cultura de cereais é predominante, destacando-se o trigo, produto mais importante. Sua principal área produtora é a região de solos negros da Ucrânia (tchernoziom). Os outros países que se destacam na produção de trigo são Itália, França, Alemanha e Rússia. Outros cereais cultivados são centeio, aveia e cevada — produtos agrícolas das áreas temperadas. A batata é outro importante produto da agricultura europeia. Seus principais produtores são: Alemanha, França, Países Baixos, Polônia, Reino Unido e Rússia.

Nas regiões europeias de clima Mediterrâneo, destaca-se o cultivo da oliveira, destinada à produção de azeitonas e de azeite. Portugal, Espanha, França e Itália são seus maiores produtores mundiais, cujos produtos são reconhecidos como os de melhor qualidade internacional. O cultivo da videira, destinada à produção de vinhos, também se destaca. Alguns tipos de vinho e de azeite só podem ser produzidos nesses países, em virtude das condições especiais do solo e do clima. Em razão desses aspectos geográficos, os países da Europa mediterrânea dispõem de condições especiais de mercado, uma vez que outras nações não conseguem produzir mercadorias com características similares. Nos países europeus, em particular nos da Europa ocidental, vem crescendo a prática da agricultura orgânica, que utiliza, por exemplo, métodos naturais para a correção do solo e o controle de pragas.

Atividade extrativa Na atividade extrativa, os produtos mais importantes do continente europeu são petróleo, carvão, ferro e manganês. O petróleo é explorado no continente e no oceano. Além da Rússia (parte europeia) e do Azerbaijão, outra região rica em petróleo é o mar do Norte, onde a exploração é controlada pelo Reino Unido e pela Noruega. No entanto, em razão do elevado consumo, a maior parte dos países europeus também importa o produto. Os países da Europa dependem muito do gás natural retirado dos países da Ásia central (Usbequistão e Casaquistão), que mantêm fortes relações políticas e econômicas com a Rússia, uma vez que esse gás chega ao continente europeu através de gasodutos que passam por território russo. O carvão é extraído em maior quantidade na Ucrânia, no Reino Unido, na Alemanha e na Polônia. A descoberta de sua utilidade como fonte energética e como componente para a produção de aço permitiu, no século XVIII, o desenvolvimento da atividade industrial. O ferro é explorado principalmente na parte europeia da Rússia (grande produtor mundial), na França e na Suécia. O manganês tem como principais produtores a Rússia e a Ucrânia, além da Romênia e da Hungria. Na Estônia há importantes reservas de xisto betuminoso, bastante aproveitado para a geração de energia depois de ser transformado em óleo de xisto. Em virtude do elevado grau de industrialização e das características geológicas do território, os países europeus são dependentes de uma série de minerais essenciais à atividade industrial. A maior parte importa minerais metálicos (ferro, manganês, bauxita e estanho), necessários às atividades metalúrgicas e siderúrgicas e, consequentemente, à produção de uma série de mercadorias de bens de consumo duráveis, de máquinas e de equipamentos industriais.

Transportes

A Europa é o continente que conta com a melhor rede de transportes do mundo. O transporte hidroviário é altamente utilizado, movimentando grande quantidade de cargas anualmente. Os portos fluviais europeus estão entre os mais importantes do mundo. Quanto aos portos marítimos, o mais importante é o de Roterdã, que se destaca mundialmente. Outros de intenso movimento são o de Londres, na Inglaterra; o de Antuérpia, na Bélgica; o de São Petersburgo, na Rússia; e o de Hamburgo, na Alemanha. As rodovias europeias, como as dos Estados Unidos, são consideradas as mais modernas do mundo, com destaque para as autoestradas, que contam com diversos viadutos e túneis.

Os países mais industrializados Entre os países europeus de elevado nível de desenvolvimento e economia diversificada, destacamos grandes exportadores de produtos industrializados, especialmente de bens de alta tecnologia, como Reino Unido, Alemanha, Itália, França, Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo, Suécia, Suíça, Dinamarca, Espanha e Finlândia. O setor das tecnologias ambientais merece destaque, crescendo cerca de 8% ao ano na última década. Portugal e Grécia, países também desenvolvidos, não têm a mesma expressividade em termos de produção e diversificação da atividade industrial do que os listados no parágrafo anterior. Reino Unido: onde a atividade industrial teve início O Reino Unido é o mais antigo país industrializado do mundo. Com a Revolução Industrial, passou por transformações que o elevaram à condição de mais importante potência mundial no século XIX, detentora de vasto império colonial. No entanto, principalmente a partir do início do século XX, a economia britânica passou a enfrentar a concorrência de outros países que se industrializaram, como Estados Unidos, Alemanha, França, Itália e Japão. Desde os anos 1980/1990, para tentar se manter entre as principais potências do mundo, o Reino Unido vem procurando modernizar seu parque industrial. Para isso, tem se associado a outros países, buscando novos ramos industriais, principalmente de tecnologia de ponta, a fim de criar condições de competir com grandes potências, como Estados Unidos, Japão e Alemanha. Londres, capital da Inglaterra e do Reino Unido, é considerada a cidade mais importante da Europa e a terceira do mundo, superada apenas por Nova York e Tóquio — sedes de grandes empresas multinacionais e de grandes instituições financeiras.

Essa cidade reúne à sua volta o mais importante parque industrial do Reino Unido, como também o principal centro comercial, financeiro e portuário do território. O país vem se especializando em atividades ligadas ao setor terciário, em particular aos setores financeiro, de turismo e de entretenimento, com destaque para a música pop (um dos principais itens da pauta de exportações britânicas), o cinema e os jogos de computador.

Alemanha: a grande potência econômica da Europa

A Alemanha apresenta a maior economia da Europa, mas os gastos consideráveis (1 trilhão de dólares no decorrer dos anos 1990) com a unificação elevaram o déficit público e as taxas de juros. No entanto, no início do século XXI, a porção oriental da Alemanha já dava sinais de que começava a sair da crise, com um grupo de empresas “sobreviventes” bastante competitivas e uma população com formação cultural sólida. Aos poucos, o país se fortaleceu com a unificação, aumentando sua influência sobre os países do Leste Europeu, que se tornaram mercados importantes para os produtos alemães. A Alemanha abriga hoje um dos maiores complexos industriais do mundo. É na região do Ruhr e do Reno, também chamada de região renana, em que estão situados importantes centros industriais, como Dortmund, Essen, Düsseldorf e Duisburg. A região do vale do Ruhr vem passando por importantes transformações espaciais. Muitos prédios industriais foram reestruturados com a alteração de sua função e de seus usos: abrigam, agora, locais para lazer e atividades culturais, o que contribuiu para a ampliação da atividade turística na região.

Atualmente, grandes grupos alemães se associaram a outras empresas e a grandes grupos estrangeiros. Como exemplos, citamos a aquisição de 23% da fábrica de veículos Skoda, da República Tcheca, pela Volkswagen, e a aquisição, em 1998, da estadunidense Chrysler pela Daimler-Benz, que se tornou uma das maiores montadoras da Europa.

Entre os recursos naturais que serviram de base para o desenvolvimento industrial alemão, destacam-se as jazidas de carvão mineral (regiões do Ruhr e do Sarre) e de gás natural (regiões de Munique e Hannover). A Alemanha é uma das maiores potências comerciais do globo. O valor de suas exportações supera o das importações, e a maior parte do comércio é feita com os demais países da União Europeia. São excelentes ainda as hidrovias, interligadas por inúmeros canais. Entre elas destaca-se a do rio Reno, onde se localiza o porto fluvial de Duisburg, o mais movimentado do mundo.

A principal concentração industrial do país encontra-se no vale do rio Pó, região que apresenta grande diversidade de atividades industriais e abriga os setores mais dinâmicos, como o automobilístico, de máquinas, de equipamentos industriais e o siderúrgico. Na região do porto de Nápoles, centro industrial do sul, desenvolvem-se a indústria têxtil e a de construção naval.

França

Um dos países pioneiros na atividade industrial, a França é uma das mais importantes nações da Europa ocidental e está entre as maiores economias mundiais. Para atender às suas necessidades e competir com os demais países do continente e do mundo, a França tem passado por grandes modificações no setor industrial. Desde a década de 1960, vem sendo adotada uma política de descentralização econômica no território francês, visando diminuir a elevada concentração do poder econômico de Paris. Além disso, o país tem intensificado a produção de energia hidrelétrica, obtida principalmente dos rios que descem das áreas mais elevadas dos Alpes, bem como de energia nuclear, solar e da força das marés. A França obtém mais de 50% de sua energia elétrica de centrais ou usinas termonucleares. Somados a isso, há maciços investimentos em tecnologia de ponta. Entre os setores industriais mais importantes do país, destacam-se:

• o automobilístico, concentrado na região de Paris;

• o siderúrgico, cujo principal centro é a região de Lorena — onde se encontra a cidade de Metz —, em razão da presença de minério de ferro;

• o têxtil, localizado na parte norte do país, em Lille, importante produtora de fibras sintéticas.

No setor têxtil também merece destaque a cidade de Lyon, que durante muitos anos foi a capital mundial das indústrias de seda natural. Apesar de sua decadência, em virtude da introdução das fibras sintéticas, como o náilon e o raiom, ainda é uma notável área industrial. Em Lyon desenvolvem-se também outras atividades, como as indústrias química, metalúrgica e eletrônica. O setor ferroviário dispõe de cerca de 30 mil quilômetros de ferrovias. Um dos trens mais velozes do mundo é o TGV francês, que atinge uma velocidade de cerca de 300 km/h e cujas linhas estão se estendendo para todas as direções do país.

Outros países fortemente industrializados da Europa

Países Baixos Atualmente, o porto mais movimentado do mundo é o de Roterdã, nos Países Baixos, considerado, por seu volume de tráfego, a porta de entrada e saída comercial do continente europeu. Os Países Baixos têm grandes grupos de empresas multinacionais, como:

• a Royal Dutch Shell, que atua no setor petrolífero, possui capital misto (holandês e britânico) e é uma das dez maiores empresas do mundo;

• a Unilever, também de capital misto (holandês e britânico), que é uma das maiores empresas no ramo de alimentos e produtos de higiene e limpeza do mundo;

• a Philips, que atua no ramo de eletrônicos e eletrodomésticos. A agricultura holandesa é bastante mecanizada, o que lhe garante os mais altos índices de produtividade da Europa.

Bélgica

A capital da Bélgica (Bruxelas) é sede dos seguintes organismos internacionais:

• UE – União Europeia;

• Euratom – Comunidade Europeia de Energia Atômica;

• Otan – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Os principais setores industriais da Bélgica são o siderúrgico, o têxtil, o químico e o de lapidação de diamantes. As indústrias siderúrgicas estão localizadas na bacia carbonífera do rio Mosa. A indústria têxtil belga situa-se na região de Flandres, no noroeste do país.

Luxemburgo

Esse pequeno país em área territorial (2.586 quilômetros quadrados), independente desde 1867, está localizado entre a Alemanha, a Bélgica e a França. A siderurgia, sua principal atividade industrial, já teve maior destaque na economia do país. Desde a década de 1980, outros setores industriais vêm alcançando maior projeção, como é o caso da indústria química.

Suécia

A Suécia, país da Europa nórdica, conta com um parque industrial altamente evoluído e diversificado. Suas indústrias são conhecidas mundialmente, pois possuem filiais em vários países. Alguns exemplos são: a Volvo, fabricante de veículos; a Ericsson, um dos maiores fabricantes de centrais telefônicas e artigos elétricos do mundo; a SKF, de produtos metálicos (rolamentos); e a Saab-Scania, que fabrica automóveis, caminhões, aviões e instalações petrolíferas.

Suíça

A indústria suíça tem por base os setores químico, farmacêutico, relojoeiro, de laticínios e de aparelhos de precisão. Lá se situam as sedes de grandes empresas multinacionais, das quais a mais importante é a Nestlé, conhecida em todo o mundo. Sua capital é Berna, mas Zurique — importante centro financeiro europeu e global — é a cidade mais populosa. Genebra é sede de vários organismos internacionais, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Cruz Vermelha e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Dinamarca

Situa-se na península da Jutlândia, ao norte da Alemanha, mas também fazem parte de seu território algumas ilhas localizadas na península Escandinava. As indústrias de alimentos, maquinaria, equipamentos de escritório, produtos químicos são as mais importantes da Dinamarca. A exportação de produtos industrializados é a principal fonte de divisas do país, que possui escassos recursos minerais e de matérias-primas. A capital dinamarquesa é Copenhague, que abriga aproximadamente 20% da população do país.

Espanha

A partir de seu ingresso no Mercado Comum Europeu, atual União Europeia, com a injeção de capitais e a ajuda econômica visando à melhoria do padrão socioeconômico de sua população, em um curto espaço de tempo a Espanha teve um processo de crescimento econômico, que modernizou a agricultura e diversificou suas atividades industriais. O país está entre os 15 maiores produtores mundiais de aço. A partir de 1983, sua indústria automobilística ultrapassou a do Reino Unido, ficando entre as oito maiores do mundo. A produção energética espanhola aumentou consideravelmente, sobretudo a nuclear — a terceira maior produtora de urânio da Europa. Nos anos 1990, em decorrência dos processos de privatização e abertura econômica na América Latina, principalmente no Brasil e na Argentina, houve uma expressiva participação de capitais de empresas espanholas, que passaram a atuar nesses países. O país foi um dos mais fortemente afetados pela crise econômica de 2008 e, em 2014, o desemprego atingia praticamente 1/4 da população economicamente ativa, mas apresentou sinais de recuperação, atingindo uma taxa de desemprego de 15% no ano de 2018.

Finlândia

O território da Finlândia, país da Europa nórdica, é pontuado por lagos — cerca de 187 mil. A presença da floresta de coníferas possibilita o desenvolvimento da atividade extrativa madeireira e da fabricação de celulose e papel. O país era grande parceiro comercial da ex-URSS. Com o colapso da economia soviética, a economia finlandesa enfrentou sérias dificuldades. Desde então, os investimentos na economia passaram a priorizar os setores de tecnologia de ponta, particularmente o de telefonia celular. A finlandesa Nokia é uma das maiores empresas fabricantes de telefones celulares do mundo.




sábado, 4 de janeiro de 2025

História da Paraíba

Antecedentes da conquista da Paraíba

Demorou um certo tempo para que Portugal começasse a explorar economicamente o Brasil, uma vez que os interesses lusitanos estavam voltados para o comércio de especiarias nas Índias, e alem disso, não havia nenhuma riqueza na costa brasileira que chamasse tanta atenção quanto o ouro, encontrado nas colônias espanholas, minério este que tornara uma nação muito poderosa na época.

Devido ao desinteresse lusitano, piratas e corsários começaram a extrair o pau-brasil, madeira muito encontrada no Brasil-Colônia, e especial devido a extração de  uma tinta, usada para tingir tecidos na Europa.

Esses invasores eram em sua maioria franceses, e logo que chegaram no Brasil fizeram amizades com os índios, possibilitando entre eles uma relação comercial conhecida como "escambo", na qual o trabalho indígena era trocado por alguma manufatura sem valor.

Os portugueses, preocupados com o aumento do comércio dos invasores da colônia, passaram a enviar expedições para evitar o contrabando do pau-brasil, porém, ao chegar no Brasil essas expedições eram sempre repelidas pelos franceses apoiados pelos índios.

Com o fracasso das expedições o rei de Portugal decidiu criar o sistema de capitanias hereditárias. Com o objetivo de povoá-la, a colônia portuguesa foi dividida em 15 grandes faixas de terras; tendo cada uma de 200 a 650 quilômetros de largura. Essas áreas, chamadas capitanias hereditárias, foram entregues a doze pessoas, que deveriam tomar conta delas e fazê-las prosperar. Cada capitania era entregue a um capitão-donatário (senhor das terras e responsáveis por sua exploração), que deveria desenvolvê-la com seus próprios recursos. Elas recebiam esse nome porque a posse passava, por herança, de pai para filho.

As terras que hoje formam a Paraíba pertenciam à Capitania de Itamaracá, cujas terras iam desde a foz do rio Santa Cruz (hoje Igaraçu) em Pernambuco, até as terras próximas ao rio Paraíba, que, nessa época, chamava-se São Domingos.

Nessas terras viviam os índios de dois grupos: no litoral, o grupo dos tupis, formado pelas tribos Tabajaras e Potiguaras. Mais para o interior, o grupo dos tapuias, formado pela tribo dos índios cariris.

                   A fundação da capitania real da Paraíba

Inicialmente essa capitania foi doada a Pero Lopes de Souza, que não pode assumir, vindo em seu lugar o administrador Francisco Braga, que devido a uma rivalidade com Duarte Coelho, deixou a capitania em falência, dando lugar a João Gonçalves, que realizou algumas benfeitorias na capitania como a fundação da Vila Conceição e a construção de engenhos.

Após a morte de João Gonçalves, a capitania entrou em declínio, ficando a mercê de malfeitores e propiciando a continuidade do contrabando de madeira.

Com a tragédia de Tracunhaém (tragédia na qual os índios mataram todos os moradores de um engenho), em 1574, a Corte Portuguesa ficou alarmada com os acontecimentos, o que levou o rei D. Sebastião a separar a Paraíba da Capitania de Itamaracá, elevando-a à categoria de Capitania Real da Paraíba, passando então a ser administrada diretamente pela Corte, que tirara para si todas as vantagens.

O Decreto Real criando a Capitania Real da Paraíba foi editado, possivelmente em janeiro de 1574. Esta foi a terceira Capitania Real do Brasil, sendo a primeira, a da Bahia e a segunda do Rio de janeiro. As terras da nova Capitania tinha os seus limites desde a foz do rio Popoca até a Baía da Traição.

Depois de expulsos do Rio de Janeiro, os franceses tentaram se estabelecer na Paraíba, onde conseguiram aliar-se aos Tupis, que dominava a região e fixaram-se na Baía da Traição, próxima a Mamanguape, onde o comércio era livre. Os franceses comerciavam pau-brasil, algodão, óleos vegetais e animais nativos, que mandavam para sua terra. Eles conseguiam conquistar os índios, em troca de ferramentas, presentes e enfeites, levando-os a não reagirem às suas invasões e até a ajudarem na derrubada de madeira.

Existia uma grande preocupação dos lusitanos em conquistar a capitania que atualmente é a Paraíba, pois havia a garantia do progresso da capitania de Pernambuco, o fim da aliança entre Potiguaras e franceses, e ainda, havia um grande interesse em estender sua colonização ao norte.

    No entanto, a Capitania Real da Paraíba nasceu de duas exigências:

·  compensação do insucesso da capitania de Itamaracá;

· necessidade de apoio ao povoamento já instalado na Capitania de Pernambuco.

 Causas do retardamento da colonização da Paraíba

Entre a criação da Capitania da Paraíba e sua efetiva conquista, decorrem mais de dez anos. Os motivos desse retardamento são gerais e particulares. Gerais porque os problemas do governo português são múltiplos, tanto na política como na economia, afastando-o de um interesse concreto em povoar terras que não davam mostras de possuírem os metais preciosos, uma das grandes ambições dos governantes europeus da época. Particulares porque uma série de circunstâncias ocorreu, ocasionando a demora da ocupação da Paraíba. Esses acontecimentos foram: ação de apresadores de índios, presença de franceses na Baía da Traição, massacre em Tracunhaém e traição aos Tabajaras.

    a)Apresadores de índios: eram aventureiros que procuravam no Nordeste a riqueza fácil e que a partir de 1560 encontraram condições de ação na Capitania de Pernambuco. Infiltrando-se entre aldeias indígenas pacíficas criaram sérios conflitos através de violência que visava contrabandear os nativos a conduzi-los escravizados em navios. Muitas amizades já consolidados entre colonos e índios foram por isso dissolvidas e em toda a região as tribos se levantaram para a guerra;

   b) Presença de franceses na Baía da Traição:  provavelmente os franceses freqüentavam os portos da Paraíba desde 1520, formando aliança com os índios Potiguaras. Essa tribo, provando não ser belicosa por natureza, recebeu os franceses em sua convivência mais íntima, permitindo a miscigenação sem fronteiras, que unia os homens loiros de Franca às mulheres Potiguaras; com eles o comércio de especiarias da terra foi franco, em troca de diferentes objetos trazidos da Europa. As razões de tal amizade foram: em primeiro lugar, os franceses procuravam homenagear os Potiguaras, naquilo que lhes era mais caro, ou seja, sua valentia, o prestígio de seus guerreiros e sua liberdade. Os potiguaras não sofriam dos franceses qualquer afronta: nem mentiras, nem apresamento, nem quebra nos padrões culturais. Em segundo lugar, conquistada a harmonia com o nativo, os franceses passavam a oferecer-lhes ensinamentos úteis, informam sobre melhores métodos de agricultura, doam ferramentas e incentivam a cultura do algodão. Quando surgiram, portanto, os primeiros conquistadores da Paraíba tentando colonizá-la, franceses e potiguaras estavam em bom entendimento para a defesa de seus interesses.

   c) Massacre de Tracunhaém: trata-se de um acontecimento histórico decisivo para a criação da Capitania da Paraíba. O seguinte episódio, ocorreu no vale do rio  Tracunhaém, que pertencia a Itamaracá e hoje se localiza a pequena distância da cidade pernambucana de goiana. Deu-se que, por ali, em 1574, transitaram dois guerreiros potiguares, provenientes de Olinda, onde, por determinação do governador geral Antônio Salema, recapturaram jovem indígena de quinze anos, filha do cacique Iniguaçu, e que fora arrebatada por mameluco das aldeias da serra da Copaoba. A beleza da índia, todavia, tanto fascinou o proprietário Diogo Dias que decidiu ficar com a moça. O rapto irritou os indígenas que insuflados pelos franceses, caíram sobre o engenho de Dias, no Tracunhaém, massacrando seus habitante, a única exceção de um irmão de Diogo. Simultaneamente, os demais centros de povoamento de Itamaracá foram atacados, com os ocupantes refugiando-se na ilha. Diante do fato, o rei D. Sebastião, para colonizar a região e por fim à fúria selvagem, fez com que Portugal ao mesmo tempo tomasse posse da terra; criou, então, a Capitania Real da Paraíba desmembrando-a da capitania de Itamaracá. Toda a ação de conquista que se tentasse, porém compromissava-se com a guerra aos Potiguaras e com a expulsão dos franceses.

    d)Traição aos tabajaras : aconteceu quando essa tribo situava-se na região do rio São Francisco. Em 1573, Francisco Caldas, com mais de 200 homens, pretendendo apresar Tapuias, chegaram até a tribo do chefe Piragibe, já com amizade firmada com os colonos. Conseguindo reforço de índios, viajou para o interior, de onde voltou semanas depois, trazendo carregamento de índios escravizados. Na verdade Francisco Caldas pretendia também cativar Piragibe e toda sua gente. O chefe Tabajara tomando conhecimento da intenção do aventureiro e depois de avisar a Assento de Pássaro, outro chefe e parente, armou uma cilada fatal, de que resultou o massacre de toda a expedição e soltura de escravos. Desde aí, Piragibe junto com Assento de Pássaro, abandonaram sua morada e emigrou com sua família e grande número de índios Tabajara, percorrendo o interior até chegar a Paraíba. Em 1585, aliou-se aos potiguares, contra a conquista da Capitania Real da Paraíba.

                       As lutas pela conquista da Paraíba

Quando foi criada a capitania real da Paraíba, o Brasil vivia o sistema de Governo Geral. Na época, o governador geral era Luís de Brito e Almeida. Este recebeu do rei de Portugal a ordem de punir os índios responsáveis pelo massacre, expulsar os franceses e fundar uma cidade. Assim, começaram as cinco expedições para a conquista da Paraíba. Para isso, o rei de D. Sebastião mandou primeiramente o Ouvidor Geral D. Fernão da Silva.

      a) Primeira expedição (1574): O comandante desta expedição foi o Ouvidor Geral D. Fernão da Silva. Ao chegar no Brasil, Fernão tomou posse das terras em nome do rei sem que houvesse nenhuma resistência, mais isso foi apenas uma armadilha. Sua tropa foi surpreendida por indígenas e teve que recuar para Pernambuco.

     b) Segunda expedição (1575): Quem comandou a segunda expedição foi Governador Geral, D. Luís de Brito. Sua expedição foi prejudicada por ventos desfavoráveis e eles nem chegaram sequer às terras paraibanas. Parte da frota foi devolvida ao porto de origem, com o próprio Governador Geral, e outra conseguiu ancorar em Pernambuco onde, depois de esperar algum tempo também retornou à Bahia.

    c) Terceira expedição (1579): Frutuoso Barbosa impôs a condição de que se conquistasse a Paraíba, a governaria por dez anos. Essa ideia só lhe trouxe prejuízos, uma vez que quando estava vindo à Paraíba, caiu sobre sua frota uma forte tormenta e além de ter forte tormenta e além de ter que recuar até Portugal, ele perdeu sua esposa.

    d) Quarta expedição (1582) : com a mesma proposta imposta por ele na expedição anterior, Frutuoso Barbosa volta decidido a conquistar a Paraíba, mas cai na armadilha dos índios e dos franceses. Barbosa desiste após perder um filho em combate.

    e) Quinta expedição(1584) : esta teve a presença de flores Valdez, Felipe de Moura e o insistente Frutuoso Barbosa, Que conseguiram finalmente expulsar os franceses e conquistar a Paraíba. 

Definindo a conquista

Em 1584, as lutas pela Paraíba registraram a participação dos espanhóis a que, indiretamente, passara a pertencer o Brasil, em razão da união das Coroas de Portugal e Espanha, subordinados a um mesmo soberano - Felipe II da Espanha. Esse acontecimento ocorrido em 1580, na Europa, explica a atuação nas peripécias paraibanas de 1584, de dois espanhóis, o almirante Diogo Flores Valdez e o alcaide Francisco Castejom.

Ao primeiro coube chefiar a Armada que veio combater os franceses no mar e fechar a desembocadura do rio Paraíba, batizado de São Domingos pelos Portugueses. Castejom encarregou-se do comando de baluarte, erguido nas proximidades do estuário do Rio da Guia, afluente da Paraíba. O fortim batizado de São Felipe e São Tiago ensejou a denominação de Forte Velho para a localidade, hoje convertida em centro de turismo.

Não foi desta feita, todavia, que a resistência indígena resultaria dominada. Edificada em local inadequado, a fortaleza viu-se cercada pelos Potiguaras que, em campo aberto, destruíram bandeiras que se aventuraram pelo interior. Quando as desavenças entre o capitão-mor Frutuoso Barbosa, português, e o alcaide Castejom, espanhol, se acentuaram, a situação dos conquistadores tornou-se insustentável. Castejom incendiou o forte e jogou a artilharia ao mar, retirando-se para Olinda, onde foi preso pelo Ouvidor Martim Leitão.

Em 1585, coube a este último organizar expedição para a conquista, somente então consumada. Devido à importância estratégica, a Paraíba fora criada como Capitania Real, isto é, diretamente subordinada à coroa, o que propiciou o emprego de recursos oficiais no empreendimento.

A expedição chefiada militarmente por João Tavares, partiu de Olinda, com aproximadamente mil homens, a cavalo e a pé. Entre os participantes das jornadas encontrava-se militares, proprietários e sacerdotes, com índios “domesticados” e escravos negros compondo a massa restante.

Quando aqui chegaram se depararam com índios que sem defesa, fogem e são aprisionados. Ao saber que eram índios Tabajaras, Martim Leitão manda saltá-los, afirmando que sua luta era contra os Potiguaras.

Após o incidente, Leitão procurou formar uma aliança com os Tabajaras, que por temerem outra traição, a rejeitaram.

O cacique Piragibe, à frente dos Tabajaras, tinha planos de cercar o forte e invadir também as capitanias de Pernambuco e Itamaracá. Mas houve sérios desentendimentos entre os Tabajaras e os Potiguaras, os quais levaram as duas tribos a guerrearem entre si.

Martim Leitão, sabendo desses fatos, preparou-se para tentar as pazes com o valente cacique Piragibe, pois sabia da importância de tê-lo como aliado.

Para essa missão de paz, o escolhido foi o capitão João Tavares, de espírito conciliador. Finalmente, no dia 5 de agosto de 1585, celebraram um acordo, na encosta de uma colina em frente ao rio Sanhauá, onde se construíram um forte de madeira. Nesta data, foi firmada definitivamente a conquista da Paraíba.

A conquista da Paraíba se deu no final de tudo através da união de um português e um chefe indígena chamado Piragibe, palavra que significa Braço de peixe.

Em virtude de ser o dia 5 de agosto dedicado a Nossa Senhora das Neves, a nova cidade recebeu o nome de Nossa Senhora das Neves, passando a chamar-se Filipéia de Nossa Senhora das Neves (29/outubro/1585) em homenagem ao Rei Felipe da Espanha.

Depois passou a chamar-se Frederikstadt (frederica) (26/dezembro/1634) por ocasião da conquista pelos holandeses, em homenagem a Sua Alteza o Príncipe Orange, Frederico Henrique. Em seguida, Parahyba (01/fevereiro/1654) no retorno ao domínio português, recebendo a mesma denominação que teve a capitania, depois província e por último Estado. Finalmente, João Pessoa (04/setembro/1930) homenagem prestada ao presidente do Estado assassinado em recife e que havia negado apoio ao Dr. Júlio Prestes, candidato oficial nas eleições de 1930. 

A fundação da cidade e a consolidação da conquista

    1 – O início da cidade de Nossa Senhora das Neves

Celebrado o acordo com os Tabajaras, os portugueses puderam fundar a cidade sede da capitania. Por escolha de Martim leitão, João Tavares e Frutuoso Barbosa, que percorreram a cavalo a planície situada entre o rio Paraíba e o oceano Atlântico, a nova cidade foi edificada a partir de quatro de novembro de 1585, na parte mais elevada, visava assegurar-lhe a defesa, a proximidade do rio possibilitaria através dessa exportação dos produtos elaborados ou encontrados – açúcar, peles, couro, âmbar, madeiras e algodão. Incluindo no conjunto de trocas da economia mundial, a capitania integrava o sistema econômico mercantilista.

Nossa Senhora das Neves foi a terceira cidade criada no Brasil, sem nunca ter sido Vila. Este privilégio lhe coube porque fora fundada pela cúpula da Fazenda Real, uma Capitania da Coroa. 

2 – Consolidação da conquista

Martim Leitão, artífice primeiro da cidade de Nossa Senhora das Neves e de sua consolidação, trouxe consigo pedreiros, carpinteiros, engenheiros e outros para edificar a cidade. As primeiras medidas de Martim Leitão foram para a construção de galpões de trabalho, levantamento de um forte, projeção de uma casa para servir de almoxarifado e demais construções essenciais à moradia.

A principal fortificação teve construção iniciada em1586, no lugar denominado Cabedelo – palavra equivalente a ponta de terra – onde o rio Paraíba se encontra com o mar. Tornava-se essencial fortalecer esse sítio porque quem o controlasse teria acesso à cidade, dezoito quilômetro rio abaixo.

Datou daí a instalação da fortaleza de Santa Catarina, de Cabedelo, ou ainda do Matos, em homenagem a seu primeiro comandante, Francisco Cardoso  do Matos. A munição era assegurada pela Casa da Pólvora, a terceira e mais importante das quais tomou o lugar do forte do Varadouro, em 1710.

A colonização da Paraíba é pontilhada de momentos difíceis. Além dos problemas de subsistência do pequeno grupo pioneiro de Martim Leitão e João Tavares era necessário: 

- Proteger os locais escolhidos para dar início ao povoamento;

-  Vigiar a barra do rio Paraíba, porta aberta aos franceses e aventureiros;

-  Ter cautela com tribos Cariri, que podiam atacar vindos do interior;

-  Sustentar defesa contra investidas Potiguaras;

-  Expulsar os franceses;

-  Conservar a aliança com os Tabajaras;

-  Transferir colonos e fixa-los na Capitania;

-  Estabelecer uma economia estável.

 3 – Economia e ocupação colonial

Naquela época, a riqueza vegetal da Paraíba era a base inicial de sua economia. As madeiras exploradas eram o pau-brasil e outras, como o pau-brasil e outras, como o cedro, o jacarandá, resistentes e duráveis que s destinavam ao fabrico de barcos e móveis para a nobreza.

Logo a cana-de-açúcar, plantada nas várzeas da Capitania Real da Paraíba, foi sendo reconhecida como da melhor qualidade. Numa época em que o açúcar dava bastante lucro, não se perdeu muito tempo e, nas proximidades da capital, apareceram os primeiros canaviais. Em 1587 funda-se o Engenho Real no Tibiri, onde se inicia a plantação de cana de açúcar, integrando a Paraíba a rede do comércio colonial.

Logo os engenhos ficaram de “fogo aceso” nas várzeas da Paraíba. Tanto é que em 1610, 25 anos depois da implantação a agroindústria açucareira na capitania, já funcionavam 12 engenhos fabricando açúcar e enviando para a Europa.

O florescimento da cultura açucareira deu-se durante todo o século XVI e primeira metade do século XVII, quando veio a crise da produção regional, provocada pela concorrência do açúcar das Antilhas.

Ainda no século XVII, a ocupação do sertão foi determinada pela necessidade de prover a área açucareira de animais para o trabalho e alimento para a população. Foi então que a pecuária sertaneja surgiu, revestindo-se de grande importância geoeconômica, à medida que extensa faixa territorial pôde ser ocupada por reduzida população. Nesta área, o grande proprietário baseou sua economia em duas atividades: pecuária e cultura do algodão. A cultura do algodão que ficou conhecido como ouro branco. sua produção proporcionou um desenvolvimento considerável na economia local. O criação de gado também teve uma importância singular na Paraíba. Sua atividade econômica estava voltada para o mercado interno e, consequentemente, os lucros oriundos de sua comercialização permaneciam na mesma. Sua fase áurea ficou conhecida como ciclo do couro.

A construção do forte de cabedelo na foz do Rio Paraíba  serviu de ponto de apoio para a continuidade da conquista do norte da capitania (vales Mamanguape e Camaratuba), do Rio Grande do Norte e mais tarde da penetração para oeste rumo ao sertão.

Entre 1585 e 1634 se processou a consolidação do povoamento do litoral. Este se deteve, até meados do século XVII, na Borborema, onde a presença de densas florestas, índios e o relevo acidentado retardaram a ocupação.

O sertão já tinha sido batido pelos bandeirantes baianos, paulistas e paraibanos. a primeira penetração fora a de Elias Heckman, por ordem de Maurício de Nassau(durante o domínio holandês), em 1641, à procura de ouro. Os franceses conheceram muito cedo, por via marítima, a baía da Traição: Mamanguape já era visitada, antes da conquista, por portugueses, franceses e mamelucos de Olinda.

Foram os missionários de catequeses que avançaram primeiro para a área dos cariris, surgindo depois da de Pilar, a aldeia de Campina Grande. Teodósio de Oliveira Ledo lançou-se até o boqueirão na serra do Carnoió, onde instalou um acampamento. em vez das missões, já era a guerra. Essa bandeira trágica atravessou a chapada e, descendo, atingiu Piranhas. Foi mais além. Em 1697 seu guia já era capitão mor de Piranhas e Piancó. No final do século XVII, o apresamento e o morticínio dos índios e os maus-tratos recebidos pelos que eram escravizados provocaram a revolta indígena conhecida como Confederação dos Cariris.

4 – A organização político-administrativa

 A nova cidade teve uma administração, de 1585 a 1634, de capitães-mores ou governadores.

Nos primeiros tempos, a capitania da Paraíba era dirigida por um governador, o capitão-mor (denominação que significava que ele dirigia os capitães).

Com a dilatação da conquista, as populações do interior também tiveram os seus capitães-mores, que comandavam as ordenanças, supervisionavam o policiamento dos sertões, respondia pela paz e ordem das suas circunscrições e eram subordinados ao governador.

Havia outras autoridades: o Ouvidor-Geral que cuidava da justiça, dos juízes de órfãos e certos juízes inferiores denominados almotacés incumbidos de tomar conhecimento dos negócios pequenos. O Provedor da Fazenda presidia à arrecadação das rendas da Fazenda Real.

Existia em cada Capitania no tempo colonial (que, aliás, foi até o Império) o Senado da Câmara, órgão que zelava pelos interesses do povo perante os governos da Capitania, da Colônia e do Reino. Ainda havia na capitania da Paraíba a Casa do Conselho, com o pelourinho, onde funcionava o Tribunal de Justiça.

O período governamental era de três anos geralmente. Entretanto, poderia ser excedido, dependendo de circunstâncias. 

 Propriedade, escravidão e organização familiar

Do ponto de vista social, ou seja, da composição de classes, a capitania da Paraíba, tal como o restante da sociedade brasileira, fundamentou-se na grande propriedade territorial, a chamada sesmaria.

A primeira sesmaria paraibana foi concedida ainda no século XVI, quando seu número não passou de cinco, no século XVII, esse número cresceu, mas na primeira metade, sua localização não ultrapassou os vales dos rios Paraíba e Mamanguape, o que significa colonização ainda restrita ao litoral. Na segunda metade do século XVII e, principalmente no século XVIII, essas sesmarias alcançaram os pontos mais distantes do território Paraibano, o que representou a expansão deste, com incorporação das terras sertanejas à colonização. No século XIX, as sesmarias concedidas aos que desejavam lavrar a terra baixaram de número, tanto por o território já se encontrar quase inteiramente ocupado, quanto pela Lei de Terras, de 1850, que extinguiu o sistema sesmarial. Daí em diante, as chamadas terras devolutas somente puderam ser adquiridas mediante compra.

A sesmaria, que originou o latifúndio, monocultor com a cana-de-açúcar no litoral e brejo, e binômio pecuária – algodão, no sertão, responsabilizou-se pela ocupação da Paraíba. O proprietário, todavia, não trabalhava diretamente a terra. Desde o início recorreu=se ao braço do negro africano, para cá importado. Surgia assim, na zona da mata, onde rios, solo de tipo massapé e, principalmente demanda dos mercados externos ensejavam partidos de cana e engenhos, o latifúndio monocultor e escravista.  Sua força de trabalho residia na mão-de-obra negra, não porque o índio fosse indolente ou inapto ao trabalho, mas porque na escravidão africana residiam os maiores lucros do sistema econômico mercantilista, baseado na circulação de mercadorias.

Essa sociedade era também patriarcal. Isso porque o grande proprietário,  dispunha de poderes absolutos, nos limites de sua propriedade. A mulher, filhos, agregados e escravos deviam-lhe fidelidade. Não raro, castigos físicos acompanhavam as transgressões. A mulher teve alguma importância nesse tipo de organização social, mas seus poderes limitavam-se ao interior da casa grande. Quanto aos filhos, casavam-se mediante recomendação dos pais, verificando-se muitos casamentos entre parentes para impedir divisão da propriedade. O despotismo patriarcal  ampliava os limites da família, de modo  que, ao lado da família legítima, sobrevinha outra, ilegítima, mediante multidão de filhos naturais. 

 Algumas das Primeiras vilas da Paraíba na Época colonial

Com a colonização foram surgindo vilas na Paraíba. No primeiro decênio do século XVII, a Paraíba já era considerada a terceira capitania mais desenvolvida do Nordeste, perdendo apenas para a Bahia, capital da colônia, e para Pernambuco. A cidade já contava com mais de 1.000 habitantes e a região possuía aproximadamente 20 engenhos. A seguir temos algumas informações sobre as primeiras vilas da Paraíba. Não especificamente na ordem cronológica.

PILAR

O início de seu povoamento aconteceu no final do século XVI, quando as fazendas de gado foram encontradas pelos holandeses.   Pilar originou-se a partir da Missão do Padre Martim Nantes naquela região. Foi elevada a categoria de vila em 14 de setembro de 1758. Em 1670, Jesuítas, acompanhados pelos índios Cariris, fundaram um colégio. Em torno do mesmo, formou-se o povoado, cuja população era constituída principalmente de garimpeiros, que para ali se deslocavam em busca do ouro existente.

A produção de açucareira trouxe grande prestígio para Pilar, em virtude dos inúmeros engenhos distribuídos pelas várzeas e baixios do território, tanto que, em 1859, teve a honra de receber a visita do Imperador D. Pedro II, hospedado no solar do Barão de Maraú, onde recebeu grandes homenagens.

Pilar foi elevada a município em 1985, quando o cultivo  da cana-de-açúcar se tornou na principal atividade da região. 

SOUSA

A fertilidade da região atraiu moradores interessados no cultivo das terras. Nesta localização, Bento Freire de Sousa e José Gomes de Sá também situaram as suas fazendas.
Assim, o povoado desenvolvia-se e, em 1730, contava com 1.468 habitantes, segundo informações do Cabido de Olinda.
Esse crescimento chamou atenção de Bento Freire que, residindo na Fazenda Jardim, tomou a iniciativa de organizar um povoado.

Conhecida como Jardim do Rio do Peixe, nome primitivo da localização, foi elevado à categoria de Vila por decisão do Reino, expressa por força de autoridade da Carta Régia de 22 de julho de 1766. Mesmo ostentando a condição de distrito, permaneceu o povoado com o seu nome primitivo. Foi através da Lei Provincial de Nº 28, de 10 de julho de 1854, que a Vila de Sousa foi elevada à categoria de cidade passando, na oportunidade, a denominar-se Sousa, em homenagem ao seu benfeitor, Bento Freire de Sousa, conhecida hoje por "cidade sorriso".

Hoje a sexta cidade mais populosa do estado e dona de um dos mais importantes sítios arqueológicos do país (Vale dos Dinossauros), onde encontra-se várias pegadas de repteis pré-históricos.    

CAMPINA GRANDE

Sua colonização teve início em 1697. O capitão-mor Teodósio  de Oliveira Ledo instalou na região um povoado. Os indígenas formaram uma aldeia. Em volta dessa aldeia surgiu uma feira nas ruas por onde passavam camponeses. Percebe-se que as características comerciais de Campina Grande nasceram desde sua origem.

Campina foi elevada à freguesia em 1769, sob a invocação de nossa senhora da Conceição. Sua elevação à vila com o nome Vila Nova da Rainha se deu em 20 de abril de 1790. A cidade de Campina Grande tem, entre vários destaques, o Açude Velho, construído em 1828 por consequência da forte seca de 1824/1828, que assombrou o Nordeste. Sua conclusão deu-se em 1830.Em épocas passadas, o Açude Velho foi o maior reservatório da Serra da Borborema, responsável pela manutenção da Vila, e depois, cidade. Às suas margens encontramos o monumento aos Tropeiros da Borborema, um dos símbolos da cidade. Hoje Campina Grande é a maior cidade do interior do Nordeste. 

Guarabira

Foi fundada no Engenho Morgado, do senhor Duarte Gomes da Silveira. Os primeiros habitantes da localidade foram os índios Potiguares. Eles viviam em constantes conflitos com os colonizadores (franceses e portugueses), por volta do século XVI.

José Gonçalves da Costa Beiriz foi o fundador do município que recebeu o nome de Guarabira. Antes, era chamada pelos índios de "Guaraobira" ou "Guirabira", mas a Lei 841, de 26 de novembro de 1877 elevou a localidade a categoria de cidade, com a denominação de Guarabira.

SÃO JOÃO DO CARIRI

Tendo sido povoada em meados do século XVII pela enorme família Cariri que povoava o sítio São João, entre outros, esta cidade que atualmente não se destaca muito à nível estadual foi elevada à vila em 22 de março de 1800. Sua emancipação política é datada de 15 de novembro de 1831.

POMBAL

 No final do século XVII, Teodósio de Oliveira Ledo realizou uma entrada através do rio Piranhas. Neste venceu o confronto com os índios Pegas e fundou ali uma aldeia que inicialmente recebeu o nome do rio (Piranhas).

Devido ao sucesso da entrada não demorou muito até que passaram a chamar o local de Nossa Senhora do bom sucesso, em homenagem a uma santa.

Em 1721 foi construída no local a Igreja do Rosário, em homenagem a padroeira da cidade considerada uma relíquia histórica nos dias atuais.

Foi em 03 de março de 1772 que o ouvidor da Paraíba.  José Januário de Carvalho encaminhou — em nome dos habitantes da povoação do Piancó — representação ao governador de Pernambuco Manuel da Cunha de Meneses, propondo a instalação de uma vila nos sertões da Paraíba, nos termos de uma Carta Régia autorizando a criação de novas Vilas na jurisdição de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte. 

Por carta régia de 22 de julho de 1766 foi elevada à categoria de vila, com o nome de Pombal. Homenagem ao ao famoso Marquês de Pombal. Elevada à categoria de vila deu-se a instalação oficial a 4 de maio de 1772. Data hoje considerada como sendo também a da criação do município. De imediato, fizeram-se eleições livres para o preenchimento dos cargos oficias da Câmara e elegeu-se presidente e Judiciário da Câmara o capitão-mor Francisco de Arruda Câmara.

AREIA

Areia foi a principal civilização do Alto Brejo paraibano durante o século XIX, final do século XVIII e início do século XX a tal ponto de ter tido o primeiro teatro do estado.
Conhecida antigamente pelo nome de Bruxaxá, Areia foi elevada à freguesia com o nome de Nossa Senhora da Conceição pelo Alvará Régio de 18 de maio de 1815. Esta data é considerada também como a de sua elevação à vila.
Sua emancipação política se deu em 18 de maio de 1846, pela lei de criação número 2. Hoje, areia se destaca como uma das principais cidades do interior da Paraíba. Em se tratando de história e cultura, esta cidade é um patrimônio paraibano.
Em Areia, José Américo de Almeida nasceu para crescer e escrever livros como "A Bagaceira", um clássico da literatura brasileira. José Américo viveu 93 anos e morreu na cidade de João Pessoa. Além de grande figura literária, José Américo se destacou também na área política, onde chegou a ser ministro no governo de Getúlio Vargas. José Américo viveu grande parte de sua vida na praia do Cabo Branco, em João Pessoa, onde hoje se encontra um museu.

Alhandra

Inicialmente as terras que hoje comporta a cidade de Alhandra, eram habitadas pelos índios Arataquís, que viviam em constantes combates contra os Tabajaras, que ocupavam a região onde hoje se localiza a Capital João Pessoa.

Em 1758, foi elevada à categoria de 1ª Vila da Paraíba, sendo apenas instalada em 1765. e elevada à categoria de cidade com a denominação de Alhandra, no dia 24 de abril de 1959. Após Alhandra se seguiram quatro vilas, a de Pilar (1758), a de São Miguel da Baía da Traição (1762), a de Monte-Mor da Preguiça (atual Rio Tinto em 1762) e a de Jacoca, (atual Conde em 1768). Todas elas fundadas a partir de aldeias indígenas. Nota-se que todas foram criadas em um curto espaço de tempo, e todas além de serem aldeias indígenas, ficavam também na faixa litorânea. 

  Primeiros governadores da Paraíba

 1 – João Tavares (1585-1588)

Martim Leitão ao deixar a Paraíba após a sua conquista e fundação. Deixou aqui como capitão-mor, João Tavares, sendo este o nosso primeiro governador.

Foi fundado por João Tavares o primeiro engenho – o Engenho Real – às margens do Tibiri, e o forte de São Sebastião, construído por Martim Leitão para a proteção do engenho.

Os jesuítas ficaram responsáveis pela catequização dos índios. Eles ainda fundaram um Centro de Catequese e em Passeio Geral edificaram a capela São Gonçalo.

O governo de João Tavares foi demasiadamente auxiliado por Duarte Gomes da Silveira, natural de Olinda. Silveira foi um senhor de engenho e uma grande figura da Capitania da Paraíba durante mais de 50 anos. Rico, ajudou financeiramente na ascensão da cidade. Em sua residência atualmente se encontra o Colégio Nossa Senhora das Neves.

Apesar de ter se esforçado muito para o progresso da capitania, João Tavares foi posto para fora em 1588, devido à política do Rei.

 2 – Frutuoso Barbosa (1588-1591)

      Devido à grande insistência perante a corte e por defender alguns direitos, Frutuoso Barbosa foi, em 1588, nomeado o novo capitão-mor da capitania da Paraíba, auxiliado por D. Pedro Cueva, ao qual foi encarregado de controlar a parte militar da capitania.

Neste mesmo período, chegaram alguns frades franciscanos, que fundaram várias aldeias e por não serem tão rigorosos no ensino religioso como os jesuítas, entraram em desentendimento com esses últimos. Esse desentendimento prejudicou o governo de Barbosa, pois se aproveitando de alguns descuidos, os índios Potiguaras invadiram propriedades. Vieram em auxílio de Barbosa o capitão-mor de Itamaracá, com João Tavares, Piragibe e seus índios.

No caminho, João Tavares faleceu de um mal súbito. Quando o restante do grupo chegou a Paraíba, desalojou e prendeu os Potiguaras.

Com o objetivo de evitar a entrada dos franceses, Barbosa ordenou a construção de uma fortaleza em Cabedelo. Piragibe iniciou a construção do forte com os Tabajaras, porém, devido à interferência dos jesuítas, as obras foram concluídas pelos franciscanos e seus homens.

Em homenagem a Felipe II, da Espanha, Barbosa mudou o nome da cidade de Nossa  Senhora das Neves para Filipéia de Nossa Senhora das Neves.

Devido às infinitas lutas entre o capitão Pedro Cueva e os Potiguaras e os desentendimentos com os jesuítas, houve a saída de Cueva e a decisão  de Barbosa de encerrar o seu governo.

 3 – André de Albuquerque Maranhão (1591-1592)

André de Albuquerque governou apenas por um ano. Nele, expulsou os Potiguaras e realizou algumas fortificações. Entre elas a construção do forte de Inhobin para defender alguns engenhos próximos a este rio.

Ainda nesse governo os Potiguaras incendiaram o forte de Cabedelo. O governo de Albuquerque se finalizou em 1592.

4 – Feliciano Coelho de Carvalho (1592-1600)

Somam-se os fatos importantes, durante o governo de Feliciano Coelho Carvalho:

a)     Ofensiva contra os índios: No ataque, o capitão-mor foi mais de uma vez a serra de Capaoba, movendo guerra aos Potiguaras e seus; na cautela, repensou o ponto fraco que cercavam a defesa da cidade de Filipéia transferindo a aldeia de Braço de Peixe, da Ilha do Bispo, para a várzea do Paraíba, dividindo-a em duas partes.

b)    Definitiva expulsão dos franceses: Em 1595 deu-se a interferência de um fato político europeu, que ativaria a exploração francesa sobre o Nordeste brasileiro: foi o começo de uma guerra entre Espanha e França. O principal efeito para a Capitania Real  da Paraíba aconteceu quando uma Armada francesa, composta de 13 naus e conduzindo cerca de 350 homens, atacou o Forte de Santa Catarina, em 1597, defendido por apenas 20 homens, a fortificação agiu heroicamente, expulsando o invasor. Essa vitória tem muito significado histórico, pois marca a definitiva expulsão dos franceses da Paraíba, permitindo a ação integradora da Capitania, no conjunto do litoral brasileiro.

c)     Auxílio à conquista do Rio Grande do Norte:  A expedição marítima que passou pela Paraíba em direção ao Rio Grande do Norte, em fins de 1597, objetivando conquistá-la, contou com a participação do capitão-mor; na primeira tentativa de ajuda, Feliciano não conseguiu fazer muito, pois os membros da expedição foram acometidos de uma epidemia de varíola, obrigando-os a retornarem à cidade de Filipéia. Assim que o mal foi afastado, Feliciano Coelho de Carvalho organizou nova expedição armada, chegando ao Rio Grande do Norte exatamente quando aquela Capitania se encontrava em plena dificuldade, diante das suspeitas de que  haveria abandono das instalações já começadas, se o reforço paraibano não tivesse chegado a tempo. Em 6 de janeiro de 1598, fundava-se o Forte dos Reis Magos.

d)     Acordo de paz com os Potiguaras: Aconteceu em 1599, depois de vários entendimentos que procuraram solucionar o problema comum à Paraíba e ao Rio Grande do Norte. No dia 11 de junho o acordo foi celebrado solenemente, com a presença das maiores autoridades do Nordeste, na época. Pelos Potiguaras, falou o índio Pau-Seco, representando o cacique Zorobabé, acompanhado por cerca de 50 guerreiros; em nome dos Tabajaras compareceram o cacique Braço de Peixe e seus filhos Pedra Verde e Braço Preto; Feliciano Coelho de Carvalho, juntamente com a população branca e mestiça da Paraíba, comandou a solenidade, ao lado das pessoas mais importantes das capitanias de Itamaracá, Pernambuco e Rio Grande do Norte, que haviam sido especialmente convidadas.

A paz com os Potiguaras e sua consequente submissão teve grande importância para o desenvolvimento da Capitania Real da Paraíba e os motivos de tão esperado      acontecimento estão relacionados a os seguintes fatos:

-       Rompimento forçado da aliança dos Potiguaras com os franceses, resultante de sua expulsão da Paraíba, em 1597, assegurado pela heróica ação dos que defendiam o Forte de Santa Catarina. Perder os franceses como amigos, significou para os índios, perder armas, navios, pólvora e incentivos;

-       As guerras movidas por Martim Leitão, João Tavares, Pero Lopes e Feliciano Coelho de Carvalho, causou significativas baixas no número de guerreiros Potiguaras, provocando também imigrações em massa, para o Norte.

-       A fundação do Forte dos Reis Magos, no Rio Grande do Norte, significou uma grande ameaça aos índios rebeldes, reforçando a defesa e o ataque dos colonizadores, aliados em suas tarefas de povoar e produzir;

-       A epidemia de varíola que alcançou os Potiguaras, em 1597, devastou grande quantidade de índios, indefesos ao “vírus” da alarmante doença. 

A Paraíba teve 11 governadores entre os anos de 1585 a 1634, até cair nas mãos dos holandeses. Seguiu o seu ritmo de progresso com a lavoura do açúcar e, juntamente com Pernambuco e Bahia, tornou-se o maior centro comercial do mundo ocidental, atraindo assim a cobiça dos invasores flamengos.

A relação dos governadores da Paraíba no período que vai da conquista ao domínio holandês, nem sempre a nomeação importava em posse do cargo, muitas das vezes ficavam aguardando a vacância para exercer as suas funções, porque os providos no cargo só o deixavam quando recebiam ordens para isso, e que foram os seguintes:

de 1585 a 1588 = João Tavares
de 1588 a 1591 = Frutuoso Barbosa
de 1591 a 1592 = André de Albuquerque
de 1592 a 1600 = Feliciano Coelho de Carvalho
de 1600 a 1603 = Francisco de Souza Pereira
de 1603 a 1605 = André de Albuquerque
de 1605 a 1608 = João de Barros de Correia
de 1608 a 1612 = Francisco Coelho de Carvalho
de 1612 a 1616 = João Rabelo de Lima
de 1616 a 1620 = Francisco Nunes Marinho de Sá
de 1620 a 1623 = João de Brito Corrêa
de 1623 a 1627 = Afonso de França
de 1627 a 1634 = Antônio de Albuquerque

 A Presença Holandesa na Paraíba

Portugal desde 1580 estava sob domínio espanhol, e consequentemente, o Brasil. A instalação da empresa açucareira no Brasil contou com a participação holandesa, desde o financiamento das instalações até a comercialização no mercado europeu. Assim, quando Felipe II proibiu a manutenção dessas relações comerciais, tirou dos holandeses uma grande fonte de lucros, levando-os a reagirem com a invasão ao Nordeste brasileiro. Para isso, os holandeses organizaram uma Companhia – a Companhia das Índias Ocidentais –, e decidiram invadir a capital, em 1624. Prenderam o Governador Geral e o enviaram para a Holanda.

Não conseguiram, no entanto, governar a região. Sob o comando de D. Marcos Teixeira, as forças brasileiras mataram vários chefes batavos, enfraquecendo as tropas holandesas. Em maio de 1625, eles foram expulsos da Bahia pela esquadra de Fradique Toledo Osório. 

As invasões holandesas atingem também a Paraíba e através de ataques contínuos a Cabedelo, onde a resistência foi muito acentuada, tentam se fixar em nossas terras, porém só concretizando em 1634, quando desembarcam ao norte da foz do Jaguaribe e conseguiram vitória sobre as tropas do governador paraibano Antônio de Albuquerque Maranhão e partindo para dominar Cabedelo, onde tiveram êxito.

Em dezembro de 1634 os holandeses entraram na cidade de Filipéia de Nossa Senhora das Neves e passaram a administra-las até 1645.

A preocupação inicial dos holandeses consistiu em manter defesas, para estabilizar a conquista, e atrair a simpatia dos habitantes da Paraíba, cuja capital teve a denominação mudada para Frederica. A Fortaleza de Santa Catarina, no Cabedelo, foi rebatizada como Margareth.

Alguns dos nossos moradores pressentindo a derrota e não querendo se submeter aos inimigos, retiraram-se da Capitania. Porém antes da retirada, queimavam os canaviais e inutilizavam os engenhos. André Vital de Negreiros foi o primeiro a tocar fogo no engenho do seu pai e muitos seguiram-lhe o exemplo.

Para impedir possível rebelião, os holandeses tanto fortificaram a Igreja de São Francisco e o convento de Santo Antônio, a cujas portas instalaram entrincheiramentos e bateria, quanto ocuparam a inacabada Igreja de São Bento, na Rua Nova. Quando os religiosos franciscanos tentaram desobedecer às ordens dos novos senhores, foram expulsos da Capitania.   

Nova organização política, social e econômica

Os holandeses reconheceram a desvantagem de ver a terra desamparada, engenhos abandonados, outros danificados. Então se prestaram a fazer com os moradores uma espécie de pacto. Duarte Gomes da Silveira foi um dos primeiros a se apresentar ao inimigo e serviu de mediador entre os moradores e os invasores. Não traindo os seus, mas para não entregar de tudo o que lhes custara tanto trabalho.

O primeiro governador da província holandesa da Paraíba e Rio Grande do Norte foi Servaes Carpentier que em nome do Príncipe de Orange, dos Estados Gerais e da Companhia fez aos paraibanos, em ata de 13 de janeiro de 1635, as seguintes promessas: ofereceram anistia, liberdade de consciência e de culto católico, manutenção do regime de propriedade, proteção aos negócios e observâncias das leis portuguesas nas pendências aos naturais da terra.

Tais recomendações surtiram efeito, daí porque não foram poucos os que aderiram aos invasores. O padre jesuíta Manoel Morais abjurou a fé católica e embarcou para a Holanda, onde se fez calvinista e casou.

No plano administrativo, conservou-se parte da antiga administração, subordinada, porém, ao diretor geral, função inicialmente ocupada pelo conselheiro Servaes Carpentier. Funcionários denominados escabinos e escoltetos encarregou-se de administra a justiça e cobrar impostos.

No plano econômico-social, os holandeses mantiveram a escravidão. Com esse objetivo, ocuparam, preliminarmente, a província portuguesa de angola, na África, principal fonte de fornecimento de cativos. Introduzindo aperfeiçoamentos técnicos como moendas metálicas, no lugar das antigas, feitas de madeira, ofereceram empréstimos aos proprietários de engenhos. A maior parte destes, liderados por Duarte Gomes da Silveira aceitou a oferta.

A principal colaboração recebida pelos holandeses proveio dos índios Potiguaras enquadrados pelos caciques Pedro Poti e Paraupaba. Em troca, os holandeses chegaram a realizar assembleia de índios para a qual os principais do Ceará e Pernambuco enviaram representantes à vila de Itapessirica, em Pernambuco. 

A Resistência anti-holandesa

O controle holandês sobre a Paraíba durou apenas vinte anos, de 1634 a 1654, e nunca se fez total. Isso porque, desde cedo, os que não o aceitaram partiram para a luta armada que assolou a várzea do Paraíba. Nesta os flamengos nunca conseguiram firmar-se.

Já em 1636, o segundo diretor geral Ippo Eyssens, tido como arbitrário, foi morto numa emboscada, quando assistia a farinhada no engenho Santo Antônio. O principal responsável foi o capitão Francisco Rabello, o Rabellinho. Reagindo, os holandeses procuraram apresentar combate no Tibiri, que foi evitado pelos luso-brasileiros que pretendia retrair-se e recorrer a ataques rápidos e de surpresa. Era a guerrilha. Por conta desta os holandeses nunca se sentiram seguro na Paraíba, salvo durante algum tempo na Capital e, mais tarde, no interior da Fortaleza de Santa Catarina. A repressão holandesa caracterizou-se pela brutalidade. Alguns engenhos e propriedades foram confiscados. A pena capital foi igualmente aplicada, e, em 1645, o diretor geral Paul Linge, responsável por enforcamentos, mandou arrastar pela cidade o corpo de condenado que morrera na prisão.

A tensão somente aliviou entre 1638 e 1644, durante a administração dos diretores Elias Hercman e Gisberth Wirth. Por essa época, chegou ao Brasil o conde Maurício de Nassau, que se instalou no Recife, com artistas, cientistas, e estudiosos do melhor nível.

Emancipados da Espanha, em 1640, os portugueses encontravam-se com as finanças abaladas, de modo que alguns conselheiros do rei, com o padre Antônio Vieira, o maior sábio do mundo luso da época, elaboraram documento que propunha a preservação de todo Norte pelos holandeses que se absteriam de invadir o restante do Brasil e as possessões lusas no Oriente.

Esse documento ganhou a denominação de papel forte, tão convincente pareciam suas razões. Na Paraíba, os proprietários e altos funcionários, beneficiários da invasão flamenga, concordaram com os termos.

Não foi esse, porém, o caso do jovem André Vital de Negreiros. Paraibano, filho de proprietários portugueses, participou da campanha anti-holandesa de 1624, na Bahia , onde ficou por algum tempo. Em 1630, encontrava-se em Olinda, quando os flamengos dominaram a cidade. Novamente na Paraíba, entre 1634 e 1636, nunca pactuou com invasor que o respeitava.

De 1636 a 1644 permaneceu em Portugal onde, em vão, tentou mobilizar os espíritos em prol da resistência. Sem conseguir o intento, retornou ao Brasil, desembarcando na praia pernambucana de Tamandaré, acima da qual, em Santo Antônio do Cabo, fez junção com as tropas pernambucanas de João Fernandes Vieira. A luta doravante, iria travar-se em campo aberto, e, nela, Vidal de Negreiros revelaria dons de estrategista. Participante das duas batalhas dos Montes Guararapes, figurou entre os chefes que receberam a rendição holandesa, na Campina da Taborda. Anteriormente, não hesitara em atear fogo aos canaviais do próprio pai, na Paraíba. 

A Capitania da Paraíba na época da invasão holandesa

Na época da invasão holandesa, a população era dividida em dois grupos: os homens livres (holandeses, portugueses e brasileiros) e os escravos (de procedência brasileira ou africana). A mistura de raças não era bem vista pelo governo holandês, portanto, durante vinte e quatro anos de domínio holandês no Brasil, sabe-se de raras uniões entre holandeses e nativos, sendo consideradas uma exceção.

Ao contrário do que ocorreu em Pernambuco a presença dos holandeses não trouxe muitas vantagens à Paraíba. Houve apenas algum aumento na produção de açúcar, mas de caráter temporário, pois, com a volta de Meurício de Nassau para Holanda (1644), a capitania da Paraíba entrou em completa desordem.

A Capitania da Paraíba de 1635 a 1645 teve como administradores alguns governadores holandeses:

-       Servaes Carpentier: Também governou o Rio Grande do Norte, e sua residência oficial foi no Convento São Francisco de onde para execução do seu intento, expulsaram os franciscanos que lá moravam. O Convento de São Francisco, além de ser a residência oficial do governo holandês, servia também para abrigo dos mercadores neerlandeses em ocasiões necessárias, servindo também de quartel, para os soldados da guarnição que serviam na cidade.

- Ippo Elyssens: Foi um administrador violento e desonesto. Apoderou-se dos melhores engenhos da capitania. Foi morto quando assistia a uma farinhada no povoado do Espírito Santo.

-   Elias Herckman: Governador holandês importante, que governou por cinco anos. Bastante estimado pela população, pelo modo distinto como tratava os moradores, como pela capacidade administrativa demonstrada. Era homem de sensibilidade, poeta, escritor.

- Sebastian Von Hogoveen: Governaria no lugar de Elias Heckman, mas morreu antes de assumir o cargo.

-    Daniel Aberti: Substituto do anterior.

-   Gisbert De Withtambém considerado um dos melhores da província, razão pela qual foi feito um abaixo-assinado pedindo sua permanência, quando do término de seu mandato. Trabalhador incansável, não descuidou dos interesses da comunidade. Mesmo assim, o Alto Conselho holandês, designou outro para substituí-lo: Paulo de Linge.

- Paulo de Linge: Foi derrotado pelos “Libertadores da Insurreição”, e retirou-se para Cabedelo.

Restauração

O Brasil comemorou festivamente, em 1640 a restauração do trono português, livre agora do jugo espanhol. Os representantes da Holanda participaram também das alegrias, visto que eram inimigos da Espanha. Mas os nativistas almejavam a liberdade. Nunca os paraibanos aceitaram o domínio holandês  e quase não se consideravam filhos de colonos, pois tinham Portugal como pátria mãe.

A dominação holandesa de 1634 a 1645, na Paraíba, foi vista e sentida como uma imposição a que obedeciam constrangidos, mas não aceitavam. Ao assumir o lugar do Conde Maurício de Nassau, a Companhia holandesa impôs uma política contrária a que foi proposta por Nassau, confiscando fazendas e engenhos, perseguindo católicos e judeus, aumentando impostos.

Insatisfeito com a "virada holandesa", o senhor de engenho, João Fernandes Vieira, parte para a luta armada comandando seu exército de libertação. O negro Henrique Dias ofereceu-se como voluntário para lutar contra os holandeses, tendo recrutado um grande número de negros alforriados, oriundos dos engenhos conquistados pelos invasores.. O índio Potí, batizado católico em 1614 com o nome de Filipe Camarão, à frente dos guerreiros de sua tribo organizou ações de guerrilha que se revelaram essenciais para conter o avanço dos invasores. 

André Vidal de Negreiros, paraibano, filho de proprietários portugueses,  fez se chefe da Guerra de Libertação Nacional (Insurreição Pernambucana). Na Paraíba, a insurreição contra os flamengos propagou-se com tanta rapidez que, em 1645, o capitão Lopo Curado Garro, autor de relação das pugnas contra os holandeses no Nordeste, já dominava a região do Tibiri. Daí suas colunas ingressaram, nesse mesmo ano, na capital, de onde os holandeses se retiraram para a Fortaleza de Santa Catarina. Nos últimos nove anos de permanência na Paraíba, limitaram-se ao controle dessa fortificação. Após 20 ano de domínio os holandeses foram expulsos da Paraíba em 1654. 

Considerado um dos maiores Paraibanos de todos os tempos Vidal de Negreiros fez-se indiscutível chefe da Guerra de Libertação Nacional que a insurreição contra os holandeses representou. Sua carreira foi uma sucessão de êxitos. Escolhidos para levar a Portugal os resultados da insurreição contra os holandeses, foi nomeado governador dos estados do Maranhão e Grão-Pará, que constituíam territórios independentes do restante do Brasil. Em 1662, designaram-no governador de Angola, onde fortificou a capital, Luanda. Ao falecer, em 1680, seus restos mortais foram transladados para a Igreja dos Prazeres, nos montes Guararapes.

 Cultura e contribuições holandesas

O capítulo das invasões holandesa na Paraíba não deve ser  encarado apenas do ponto de vista militar. Bem mais importante fez-se a contribuição cultural dos invasores – e cultura é o que fica. Nesses termos, os flamengos contribuíram para o conhecimento da terra.

Tal deveu-se, em primeiro lugar, aos relatórios que produziram.

O primeiro, de autoria do conselheiro Servaes Carpentier, revela caráter ecológico, ao recomendar as áreas mais adequadas ao plantio da cana-de-açúcar, fumo e mandioca, além de criação de gado. Entusiasmado com a fertilidade da terra, Carpentier deteve-se, longamente, sobre as árvores, frutos e animais que nela se encontravam.

Descrição das Capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Parahyba e Rio Grande do Norte intitula-se o relatório assinado por Adriaen Verdonck, que teve um fim trágico. Segundo esse autor, a Paraíba, dispunha, em 1630, de dezoito a dezenove engenhos responsáveis por cento e cinquenta mil arrobas anuais que significavam seiscentas a setecentas caixas de açúcar, embarcadas nos navios. Contudo, havia pouco, movimento de negócios na capital.

Em matéria de produção açucareira, o melhor documento de origem holandesa é o minucioso Relatório sobre as Capitanias Conquistadas no Brasil pelos Holandeses, datado de 1639, e de autoria de Adriaen Van Der Dussen. De portos, rios, cidades, freguesias, aldeias, escravos, pau-brasil e madeiras, fortificações, religião e abastecimento ocupa-se Dussen cujo texto detalha os vinte engenhos existentes na Paraíba, com as respectivas tarefas e lavradores.

O mais completo relatório sobre a Paraíba proveniente do domínio holandês, é a Descrição geral da Capitania da Paraíba, de Elias Herckman, objeto, em 1982, de duas edições, ambas em João Pessoa. Geógrafo, poeta e cartógrafo, Herckman que na condição de Diretor da Companhia das Índias Ocidentais, governou a Paraíba de 1636 a 1639, elaborou documento verdadeiramente modelar. A primeira parte é dedicada a capital, a segunda aos engenhos do vale do Paraíba e a terceira aos costumes dos índios Tapuias. Geografia Urbana, Economia e antropologia combinam-se, dessa forma, harmoniosamente.

A crise do século XVIII e a anexação à Pernambuco

Na Paraíba, a criação da Capitania Real ocorreu em 1574. Em 1694, se tornou independente. Entretanto, em janeiro de 1756, a capitania da Paraíba foi anexada à de Pernambuco, por ordem do Marquês de Pombal.
A recuperação econômica da capitania da Paraíba após a guerra holandesa, encontrou dificuldades não apenas internas, em função da decadência em que ficou a própria capitania, mas também externas relacionadas com a depressão da economia europeia do século XVII.
O período entre 1756-1799, de anexação da capitania da Paraíba à de Pernambuco, corresponde a uma fase de expansão da economia europeia, cuja tendência não é acompanhada por Portugal. Esse país enfrenta uma das maiores crises econômicas de sua história, reflexo da queda da produção brasileira.

A dependência em relação a Pernambuco

O papel histórico que Pernambuco desempenhou, como centro da conquista portuguesa e da expansão demográfica do nordeste na segunda metade do século XVI, determinou, em parte, a sua situação de ascendência sobre as capitanias reais conquistadas, como foi o caso da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Durante todo o período colonial, o Recife foi o mais importante centro comercial desta área, contando com o porto mais bem equipado, com boas condições de armazenagem e centralizando as casas exportadoras dos comerciantes portugueses, detentores do monopólio comercial na colônia.
A conquista do litoral da Paraíba – procedentes dos núcleos de Olinda e Igarassu – só logrou sucesso a partir de 1585, com a fundação da cidade de Filipéia de Nossa Senhora das Neves e com a instalação do primeiro engenho de açúcar.
Nos anos seguintes a produção açucareira se desenvolveu, sendo que já nas primeiras décadas do século XVIII estavam instalados mais de vinte engenhos. A produção era escoada pelo porto de Pernambuco, devido às facilidades de embarque, apesar da Paraíba contar então com o Porto em Cabedelo, o de Jacumã e o da Baía da Traição.
È preciso lembrar que a paraíba, como todo o Brasil, era colônia de Portugal. Dessa forma, era explorada duplamente: pela metrópole e pelos comerciantes de recife.

Situação da Paraíba após a guerra contra os holandeses

Com a invasão holandesa (1634-1645), a estrutura produtiva da capitania foi praticamente arrasada, abrindo um longo período de crise que culminaria com a anexação a Pernambuco.
A guerra contra os holandeses devastou a capitania. Os moradores na medida em que se retirava para Pernambuco queimavam suas fazendas, engenhos e canaviais.
Após a expulsão dos holandeses a capitania enfrentou inúmeras dificuldades para se recuperar. A situação da produção e do comércio era desanimadora. A população se queixava da ausência de navios no porto da Paraíba (provavelmente devido à sua baixa produção) e, ao mesmo tempo temendo os prejuízos de não conseguirem embarcar a sua produção, acabaram por envia-la para Pernambuco.
Na primeira metade do século XVIII o açúcar enfrenta novas dificuldades com um longo período de seca, falta de escravos e as pragas, o que leva a maior parte dos a ficar de “fogo morto” ou funcionando em precárias condições. Acrescente-se a isso o fato de apesar de sua condição de capitania real, a Paraíba nunca ter recebido qualquer estimulo de desenvolvimento por parte da Coroa portuguesa.
A recuperação da capitania era de responsabilidade do governo da metrópole, o qual, ao se omitir, transferiu ao governo de Pernambuco problema que não lhe dizia respeito, tentando assim, livrar-se dos encargos e responsabilidades que a desejada recuperação impunha.
O marquês de pombal, ministro durante todo o reinado de dom José (1755-1777), foi o responsável pelas mudanças necessárias para que Portugal superasse a crise em que mergulhara.

Monopólio, Companhia de Comércio e perda da autonomia

Essa situação consumou-se na Paraíba da segunda metade do século XVIII, e face do regime de monopólio e da Inquisição. O primeiro implicou no funcionamento de companhia de Comércio, inspiradas no modelo holandês. Tendo como consequência a perda de autonomia da capitania entre 1756-1799. Já a Inquisição relacionou-se com a expulsão dos Jesuítas. Foram ambos decisões modernizadoras e autoritárias do Marquês de Pombal, compreendendo o atraso do Reino, em relação a outros países como Inglaterra, de quem Portugal se tornara dependente, e Holanda.
Em 1756, como parte da política pombalina de contenção de gastos e concentração de recursos e, atendendo os interesses da burguesia comercial portuguesa instalada em Recife, a Coroa determinou a anexação da Paraíba a Pernambuco, que perdurou até 1799. A situação paraibana agravou-se ainda mais com a criação da companhia de comércio de Pernambuco e da Paraíba (1759) que visava explorar mais racional as riquezas dessas áreas.
Nesse sentido, a Companhia de Comércio de Pernambuco e Paraíba, deveria monopolizar todo o comércio com a Paraíba. Esse somente poderia ser exercido pela companhia que se obrigava, no caso paraibano, a adquirir a produção de açúcar, couros, madeira, algodão e peles, comprometendo-se em contrapartida, abastecer a capitania de vinhos, azeite, manteiga, tecidos, queijos e bacalhau (denominados “do reino”).
Mas as reclamações começaram a se registrar. A companhia falhava na remessa de artigos essenciais. Com a escassez das mercadorias o preço destas aumentava. Além disso, a companhia cobrava juros elevados e os nossos moradores bem depressa foram se endividando. Como consequência, a produção açucareira entrou em colapso, arrastando consigo o comércio. Este somente poderia desenvolver-se por Pernambuco, daí porque, até a extinção da Companhia de Comércio, em 1777, não havia, na Paraíba, uma só casa de comércio para custear carregamento, adiantamento de despesas e custeio de navios. Os senhores de engenho experimentavam dificuldades porque os implementos de que necessitavam – tachos, moendas, alambiques e ferramentas – eram fornecidos a preços elevadíssimos. A companhia também falhava no fornecimento de escravos.
Por outro lado, o governo da capitania de Pernambuco, que centralizava as decisões nas esferas administrativa, militar e financeira, não tinha interesse, ou não conseguiu, porque aquela também estava passando por um período de crise, sendo impossível assim remediar a situação da economia paraibana.
A concentração das rendas da capitania da Paraíba em mãos de Pernambuco prejudicava o bom andamento dos negócios da capitania subordinada, pois Pernambuco retinha esse dinheiro sem sequer mandar anualmente a remessa para pagamento da infantaria, a que estava obrigado a atender. Por esse motivo, ficava o capitão-mor da Paraíba sem poder fazer o menor benefício na capitania, em função da centralização das rendas. O fato de se pedir para Pernambuco remeter dinheiro à Paraíba não significava um favor, como bem dissera a rainha D. Maria I, mas algo que por direito pertencia à Paraíba e, no entanto, ficava esse dinheiro retido.

O resgate da autonomia

Em 1777, com a morte de dom José I e a aclamação de sua filha dona Maria I, Pombal foi imediatamente substituído por Martinho de Castro e Melo. Este comandou a chamada viradeira – mudanças políticas e econômicas que tentaram alterar os rumos tomados pela administração pombalina. Assim, ainda em 1777, foi extinta a Companhia de Comércio de Pernambuco e Paraíba.
Convenceu-se a rainha D. Maria I de que a subordinação não melhorara a capitania, antes contribuía para o seu declínio. Ciente de que a dependência não convinha aos interesses da Paraíba, resolveu D. Maria desanexar a capitania da de Pernambuco, pela Carta Regia de 17 de Janeiro de 1799, mas só foi consumada muito depois, porque a Paraíba permaneceu ligada a Pernambuco nas questões relativas à defesa, e às finanças até pelo menos 1808.
Mesmo com o fim da anexação, a situação da Paraíba era muito difícil, com uma constante oscilação nos níveis da produção (em especial, de cana e de algodão), o aumento dos preços dos alimentos, a estagnação do comércio e a falta de assistência do Estado.
Os navios não frequentavam o porto por falta de carga, muitos engenhos estavam de “fogo morto” e a maior parte dos proprietários de terra e mesmo dos comerciantes locais compravam seus suprimentos em recife, onde hipotecavam suas futuras produções.
Consolidou-se assim na Paraíba a submissão do espaço açucareiro e também algodoeiro (cujos proprietários, em especial do sertão estabeleciam vínculos comerciais diretamente com a capital pernambucana), aos interesses do capital comercial sediado em Recife.
Restaurada a autonomia da capitania da Paraíba, não se pode afirmar que o seu desenvolvimento foi rápido. Ainda enfrentou dificuldades. A sua receita, no início do século XIX, mostra aumento razoável em comparação as receitas entre 1756 e 1798. Não somente receitas, mais também rendas, consequência do aumento de sua produção.

 Bandeirantes e os Oliveira Ledo, na Conquista do Sertão

  Verificam-se, então, duas grandes linhas de penetração do sertão paraibano. Uma, longitudinal, isto é, do sul para o norte, partiu do Rio São Francisco e, através de afluente deste, penetrou a Paraíba, através da fronteira de Pernambuco. Percorreram-na bandeirantes paulistas, baianos e pernambucanos.

     A essa corrente incorporou-se o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho que após esmagar o Quilombo dos Palmares, marchou sobre a Paraíba para fazer o mesmo com os índios da Confederação dos Cariris.

     Os bandeirantes, todavia, não ocuparam a terra, no sentido de faze-la render, economicamente. Apenas a devassaram, sufocando, onde foi o caso, a resistência indígena.A ocupação produtiva, isto é, a colonização do sertão da Paraíba, coube, além dos colonos que seguiram os bandeirantes, à família Oliveira Ledo e os sesmeiros articulados a estes desbravadores. Esses dois últimos ingressaram nos sertões da Paraíba, latitudinalmente, isto é, no sentido horizontal, de leste para oeste, com a maioria operando por conta própria e alguns sob o patrocínio do governo. Os responsáveis por expedições denominadas entradas tornaram-se conhecidos como entradistas.

     Os Oliveira Ledo, situados na origem de tantos municípios paraibanos, a partir de Campina Grande, e região do Cariri, tanto levaram para o interior seus cabedais como se responsabilizaram por entradas. O patriarca do grupo, Antônio de Oliveira Ledo, estabeleceu vias de penetração sertanejas, através de duas direções:

. A primeira, partindo da missão de Boqueirão, pelo curso do Paraíba até o Rio Taperoá, afluente daquele, cruzou o pequeno Rio Farinha e subindo o curso do Espinharas, nas vizinhanças de Patos, lançou-se para o nordeste, a fim de através do Rio Piranhas, alcançar a região do atual município de Brejo do Cruz e penetrou o Rio Grande do Norte, cuja zona do Seridó pertencia, então, a jurisdição da Paraíba.

. A segunda via de penetração de Antônio de Oliveira Ledo desviou-se para o sul, desde boqueirão, a fim de, pelas nascentes do Rio Paraíba, ingressar em território Pernambucano, onde chegando ao Pajeú, encontrou os colonos da Casa da Torre que por ali subiam, rumo ao alto sertão da Paraíba e ao Ceará.

     Dois outros Oliveira Ledo, Custódio, irmão de Antônio, e Constantino, filho de Custódio, também participaram da conquista do sertão da Paraíba. Quem, todavia, exerceu essa função com maior veemência foi outro filho de Custódio e sobrinho de Antônio, Teodósio de Oliveira Ledo.

     A penetração de Teodósio partiu do aldeamento Cariri, de Pilar, no sentido noroeste, e, virando para o sul, alcançou o Rio Taperoá. Seguindo em frente, atravessou o planalto da Borborema até Pau Ferrado, sobre o Rio Piancó, de onde inflectindo para nordeste, alcançou, no vale do Rio do Peixe, a localidade Jardim, atual Sousa. Descrevendo longo círculo, penetrou o Seridó norte-rio-grandense pela serra de Luiz Gomes e, desviando-se para o sul, alcançou a confluência do Rio Piancó com o Piranhas onde, em 1698, fundou o arraial de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancó.

     Esse povoado, do qual deriva a atual cidade de Pombal, constituiu o principal centro de irradiação de povoamento que compreendem não apenas o sertão da Paraíba,  mas territórios do Rio grande do Norte e Ceará.

     Assim podemos observar que Teodósio de Oliveira Ledo consolidou a Conquista do Sertão.

  5 – A resistência indígena – a Guerra dos Bárbaros

      A presença de entradistas e bandeirantes, pelo sertão da Paraíba, dispunha de outra motivação, além de espalhar o gado pelos campos do criatório. Tratava-se de prear índios, reduzidos ao cativeiro para a vendagem no litoral. Entradistas e bandeirantes como Teodósio de Oliveira Ledo, Domingos Jorge Velho, Domingos Afonso Sertão e Bernardo Vieira de Melo encontravam-se, confessadamente, comprometidos com essa empreitada.

     Fosse por isso, por defenderem suas terras ou porque recebessem estímulos dos franceses, ativos na embocadura do Rio Açu, no caso o Piranhas, que muda de nome, no Rio Grande Do Norte, os índios decidiram reagir. Essa reação, que gerou a chamada Guerra do Bárbaros, vigentes nos sertões nordestinos, de 1680 a 1730, recebeu igualmente a denominação de Confederação dos Cariris. Uma vez mais, fazia-se o tema da História da Paraíba. Só que não foram os Cariris responsáveis por esse procedimento, mais os Tarairiús.

     Três fases experimentou a Guerra dos Bárbaros. A primeira rebentou na região norte-rio-grandense do Açu, onde os indígenas se apresentaram com armas de fogo e munições contrabandeadas pelos franceses. A segunda de maior duração, teve lugar na Paraíba, ao longo de toda povoação de Bom Sucesso do Piancó. Expulsos da área, os índios refugiaram-se no Ceará, onde ocorreu a derradeira fase da guerra dos Bárbaros.

     A crueldade com que essa foi travada fez-se tão acentuada que, a certa altura, as autoridades lisboetas dirigiram-se ao governador da Paraíba pedindo explicações sobre o que aí acontecia. Aldeias inteiras estavam sendo incendiadas e seus habitantes massacrados, sem constituir exceção mulheres e crianças. Quanto aos adultos que se recusavam à escravidão eram passados pelo fio da espada.

     Na violência empregada contra os índios destacou-se Teodósio de Oliveira Ledo, cujas milícias desempenharam o papel de polícia de segurança da época. Em 1710, como rebentasse em Pernambuco a chamada Guerra dos Mascates, os senhores de engenhos de Olinda e os comerciantes “mascates” do Recife, o governador paraibano João de Maia Gama, partidário dos últimos, deslocou Teodósio  para guarnecer a fronteira do litoral paraibano com Pernambuco. Outro caudilho sertanejo, Luiz Soares, encarregou-se de proteger o lado oposto, na Fronteira com o Rio Grande do Norte.

Os mais implacáveis sertanistas acudiram as regiões do Piranhas e Piancó durante as batalhas do alto sertão da Paraíba. um deles, o coronel Manoel de Araújo, deslocou-se com gado e cento e cinqüenta homens bem armados, de fazendas do Rio São Francisco para a zona ocupadas pelos índios Coremas, que eram cariris. A rápida submissão destes ofereceu aos conquistadores que pelejavam mais acima, retaguarda que decidiu a sorte das armas. Só então os Tarairiús foram subjugados. A ocupação do sertão da Paraíba fez-se sangrenta e nele, escaramuças estenderam-se até 1750.

 6 – O Povoamento do Sertão

      Com os índios pacificados e dominados, os sertanistas puderam continuar a fundar as suas fazendas de gado, que se tornaria mais tarde núcleo de povoação.

     A princípio criando o gado para abastecer as regiões vizinhas, depois as feiras, as pousadas foram progredindo a ponto de irem se tornando em povoamento, vilas e hoje cidades.

     De acordo com o historiador Irinêo Joffily, a sequência bandeira-curral-fazenda-arraial responsabilizou-se pela formação da sociedade sertaneja na Paraíba.

     De fato, como os bandeirantes, percorrendo o curso dos rios, se deslocassem com seu gado seguia-se, inevitavelmente, a concentração deste em currais, campos cercados dotados de rústicas habitações, geralmente de pau-a-pique. Tratava-se das primitivas fazendas, localizadas em datas de terra dotadas de capelas que lhes legitimavam a posse. Se a de Nossa Senhora do Rosário representa, entre 1701 e 1721, no arraial do Piranhas, embrião da futura vila e cidade de Pombal, as capelas de cabaceiras em 1730, Jardim do Rio do Peixe (Sousa), Piancó em 1748, Patos em 1772, Catolé do Rocha e Santa Luzia em 1773 e Monteiro em 1800, significaram o elemento gerador dessas cidades.

     Outro elemento formador dos arraiais que se converteram com o tempo, em povoados, vilas e cidades, foram os sítios. Na qualidade de “maior figura patriarcal do sertão da Paraíba”, o capitão-mor José Gomes de Sá possuía fazendas arrendadas à Casa da Torre, como Acauã e Riachão, atuais distritos da região de Sousa. A cidade de Conceição fez-se, originalmente, data de terra pertencente a Pedro Monteiro, no vale do Piancó, em cujos sertões, fazendas como São Gonçalo, Lagoa Tapada e Santo Antônio (atual Piancó), também originaram sedes de distritos e municípios da Paraíba.

     A disputa pela terra gerou, no sertão, sociedade violenta que se prolongou no cangaço e lutas de famílias, até bem pouco visíveis em municípios como Catolé do Rocha, Teixeira, Misericórdia (atual Itaporanga) e Piancó.

     O povoamento da região ficou a cargo dos colonos que eram mamelucos, resultantes de cruzamento do branco com o índio, mais amplo que o cafuzo, proveniente da mistura do índio com o negro e também aí encontrado.

As ordens religiosas, os mosteiros e as igrejas na Capitania da Paraíba

 1 – Os Jesuítas

Foram os jesuítas os primeiros missionários que chegaram à capitania da Paraíba, acompanhando todas as suas lutas de colonização. Vieram desde as primeiras expedições de conquista.

Chegaram primeiro dois padres, Simão Travassos e Jerônimo Machado; depois vieram outros, entre os quais, Francisco Fernandes, Manuel Correia e Baltasar Lopes. O visitador da Companhia, Cristóvão de Gouvêa, mandou que o padre Jerônimo Machado relatasse todas as lutas da Paraíba, escrevendo-as no “Sumário das Armadas”.

Sabe-se que em 1591 já havia residência dos padres jesuítas nesta Capitania, em são Gonçalo Era o local de moradia deles.

Ao mando de Frutuoso Barbosa, os jesuítas se puseram a construir um colégio na Filipéia. Porém, devido a desavenças com os franciscanos, que não usavam métodos de educação tão rígidos como os jesuítas, a idéia foi interrompida.

Aproveitando esses desentendimentos, o rei que andava descontente com os jesuítas pelo fato de estes não permitirem a escravização dos índios, culpou os jesuítas pela rivalidade com os franciscanos e expulsou-os da capitania. Cento e quinze anos depois, os jesuítas voltaram a Paraíba fundando um colégio onde ensinavam latim, filosofia e letras. Passando algum tempo, fundaram um Seminário junto à igreja de Nossa Senhora da Conceição. Atualmente essa área corresponde ao jardim do Palácio do Governo.

Em 1728, os jesuítas foram novamente expulsos. Em 1773, o Ouvidor-Geral passou a residir no seminário onde moravam os jesuítas, com a permissão do Papa Clemente XIV.

 2 – Os Franciscanos

Atendendo a Frutuoso Barbosa, chegaram os padres franciscanos, com o objetivo de catequizar os índios.

O Frei Antônio do Campo Maior chegou com o objetivo de fundar o primeiro convento da capitania. Seu trabalho se concentrou em várias aldeias, o que o tornou importante.

No governo de Feliciano Coelho, começaram alguns desentendimentos, pois os franciscanos, assim como os jesuítas, não escravizavam os índios. Ocorreu que depois de certos desentendimentos entre os franciscanos, Feliciano e o governador geral; Feliciano acabou se acomodando junto aos frades.

A igreja e o convento dos franciscanos foram construídos em um sítio muito grande, onde atualmente se encontra a praça São Francisco.

 3 – Os Beneditinos

O superior dos beneditinos tinha interesse em fundar um convento na Capitania da Paraíba.

O governador da capitania recebeu o abade e conversou com o mesmo sobre a tal fundação. Resolveu doar um sítio, que seria a ordem do superior geral dos beneditinos.

A condição imposta pelo governador era que o convento fosse construído em até dois anos. O mosteiro não foi construído em dois anos, mesmo assim, Feliciano manteve a doação do sítio.

A igreja de São Bento se encontra atualmente na Rua Nova, onde ainda há um cata-vento em lâmina, construído em 1753.

 4 – Os missionários carmelitas

Os carmelitas vieram à Paraíba a pedido do cardeal D. Henrique. Quando chegaram à Paraíba o Brasil estava sob domínio espanhol. Os carmelitas chegaram fundaram um convento e iniciaram trabalhos missionários.

O convento de Nossa Senhora do Carmo deve ter sido construído na Paraíba em 1591, com a sua igreja. Ele foi todo edificado em pedra. Era um edifício simples de um só andar.

A história dos carmelitas aqui na Paraíba é incompleta, uma vez que vários documentos históricos foram perdidos nas invasões holandesas.

Em 1763, Frei Manuel de santa Teresa restaurou o convento, mas logo este foi demolido para servir de residência ao primeiro bispo da Paraíba, D. Adauto de Miranda Henriques.

 5 – O prestígio da Igreja e o Tribunal do Santo Ofício

    A Igreja naquela época dispunha de enorme prestígio. Habitualmente a obtenção de sesmarias era acompanhada do levantamento de capelas, pelos sesmeiros, como símbolo da posse da terra. No interior das casas grandes e fazendas não faltava o oratório, para o terço em família, sendo que também se rezava as refeições. Nas vilas e cidades, as missas faziam-se obrigatórias e o sino das igrejas regulava a vida das habitantes. As eleições eram paroquiais e, cedo, as famílias da classe dominante adquiriram o costume de converter um dos filhos em padre.

Ressalte-se que o clero regular, de franciscanos, jesuítas, beneditinos e carmelitas, dispunha de propriedades, engenhos e escravos, na sede da capitania e fora dela, com o que participava da ocupação da terra.

Com o clero secular chegou à Paraíba, em 1595, a terrível Inquisição cujo Tribunal do Santo Ofício perseguia os acusados de práticas diferentes das permitidas pela Igreja católica e, principalmente, os judeus. Instalada pelo visitador Heitor Furtado  de Mendonça, a primeira visitação do Santo Ofício fez-se tão rigorosa que alcançou o vigário da freguesia de N. S. das Neves. Acusado de ascendência árabe e práticas judaizantes, o padre João Vaz de Salem, homem rico e influente, teve seus bens confiscados. Vários desses reverteriam à ordem beneditina. 

Análise Social; Igrejas


Duarte Coelho Pereira fundou uma nova Lusitânia, composta apenas por nobres. Alguns nobres de Pernambuco se refugiaram para a Paraíba, antes que ocorresse alguma invasão holandesa. Ao chegarem, fizeram seus engenhos, onde viviam com muito luxo, desfrutando de tudo.   Ocorre que nem toda a população vivia tão bem como a nobreza, uma vez que haviam mulheres e moças analfabetas, que só faziam os afazeres domésticos   Havia também outras classes sociais, compostas por comerciantes e aventureiros, que enriqueciam rapidamente, faziam parte da burguesia, querendo chegar a fazer parte da nobreza.   Os integrantes da máquina administrativa constituíam outra classe. Eles eram considerados os homens bons, viviam uniformizados.   O fator mais importante para a sociedade foi a Igreja, devido à sua maneira de catequizar o povo.

     As principais igrejas da época colonial foram as seguintes:

-       A Matriz de Nossa Senhora das Neves;

-       A Igreja da Misericórdia;

-       A Igreja das Mercês;

-       A igreja de N. S. do Rosário dos Pretos;

-       A Capela de N. S. da Mãe dos Homens;

-       A Igreja do Bom Jesus do Martírio 

   Povoados, Vilas, Cidades e seus Padroeiros

Quase todas as povoações, vilas e cidades nasceram ao redor de uma capela que o fervor religioso erigia em homenagem a uma das muitas entidades celestiais cujo santo ou santa de sua invocação passava a padroeiro do lugar com a criação da vila. As santas eram as na escolha dos oragos que predominavam o nome de nossa senhora na variedade de sua nomenclatura hagiológica, e inúmeras freguesias consagraram Nossa Senhora da Conceição como padroeira que foram Areia, Campina Grande, Jacoca, Gurinhém, Ingá, Itabaiana, Araruna, Cabeceiras, Taperoá e Misericórdia e apenas cinco freguesias invocaram nomes de santos que foram Santo Antônio para Painço, São Sebastião para Piauí, São José para São José dos Piranhas, São Miguel para Baia da Tradição e São Paulo para Mamanguape, e as festas de padroeiras davam vida ao lugar pois as musicas, foguetórios, novenas e procissão de encerramento.

 A Economia Paraibana Colonial

A ocupação econômica do território paraibano, como aconteceu em todo o Brasil, esteve desde as origens, ligadas às necessidades do desenvolvimento mercantil metropolitano: uma economia voltada para o mercado externo, baseada no latifúndio, na monocultura e na mão-de-obra escrava. Assim implantou-se a grande produção açucareira (a partir do séc. XVI) e mais tarde a algodoeira (séc. XVIII), enquanto no agreste e no sertão desenvolveu-se a pecuária para atender as necessidades das cidades, povoados e das áreas voltadas para as culturas comerciais.

1 – Ciclos Econômicos
a) Pau-brasil

O ciclo do pau-brasil predominou em todo o período Pré-colonial. A sua exploração não fixava o homem a terra, levando apenas a instalação de feitorias. Constitui-se o primeiro produto de comércio não só na Paraíba, mas em todo o Brasil. Foi também o motivo das tentativas de fixação dos franceses no nosso litoral.
O seu valor como matéria prima de tinturaria foi atestado na Europa e na Ásia. Daí sua importância econômica. Pernambuco e Paraíba figuravam entre os pontos do Brasil onde a madeira era mais encontrada. Foi o primeiro monopólio estatal da Paraíba: pelas leis do Mercantismo só a Metrópole poderia explorá-la. Destaca-se ainda, a incômoda presença francesa, que desde cedo, contando com o apoio dos índios contrabandeavam a madeira. Haja vista, que esse tipo de exploração não exigia a ocupação do território. Tanto portugueses quanto franceses, negociavam, nas costas do Brasil, desde os primeiros anos do século XVI. Em 1634, o pau-brasil das matas de Baía da Traição e do Mamanguape era explorado mais intensamente, enquanto o curso inferior desse rio enchia-se de currais, representando fazendas para criação de gado.

b) Cana-de-açúcar

Da mesma forma, que em todo o litoral nordestino, a ocupação da faixa litorânea, baseou-se na exploração da cultura canavieira em grandes unidades produtivas: os engenhos. A conquista da Paraíba, por exemplo, é uma consequência natural da cultura da cana-de-açúcar.
E o progresso dessa indústria foi espantoso no fim do século XVI, e na Paraíba, a primeira tentativa de introdução da cultura da cana foi em 1579, na ilha da Restinga, fracassada pela invasão dos piratas franceses na região. A implantação definitiva da cultura da cana na Paraíba surgiu com seu primeiro engenho, em 1587. Logo após a fundação da cidade de Nossa Senhora das Neves, Martin Leitão instalou o engenho real de Tibiri. Depois de passar da zona da mata para o agreste, a lavoura migrou para as regiões úmidas do sertão.
Segundo assinala Varnhagen, em 1610 a capitania da Paraíba já possuía dez engenhos de açúcar. Por ocasião da conquista holandesa (1634), a estrutura produtiva canavieira já estava implantada a pleno vapor para abastecer o mercado externo. O número de engenhos subia a dezoito, dos quais dois na área de Mamanguape, junto aos rios Camaratuba e Miriri. Os demais distribuíam-se pelo vale do Paraíba, aproveitando a extensa rede de afluentes destes - Tibiri, Tambiá, Inhobim, Gargaú - alguns dos quais navegáveis.
Os primeiros núcleos de povoamento e expansão do processo colonizador se implantaram como função da exportação do açúcar. A conformação econômica da Paraíba, no seu primeiro século de existência, mostrava a atividade canavieira como núcleo central em torno da qual gravitava uma economia de produção de alimento para a população ali ocupada. O milho, o feijão e a mandioca eram culturas inteiramente secundárias e somente eram cultivadas em quantidades mínimas para a alimentação dos trabalhadores, escravos, índios ou pessoas livres. A introdução do boi nas terras sertanejas tinha como função prover de alimentos a força do trabalho que movia a atividade dinâmica do território.
O engenho colonial, a grande propriedade produtora de açúcar, era constituído, basicamente por dois grandes setores: o agrícola que era formado pelos canaviais, e o de beneficiamento – a casa do engenho, onde a cana-de-açúcar era transformada em açúcar e aguardente. Muitos engenhos possuíam também destilarias para produzir a aguardente (a cachaça), utilizada como escambo no tráfico de negros da África.
Além dos escravos, o engenho utilizava também o trabalho de homens livres nas atividades de administração e em atividades técnicas. Em torno dos engenhos desenvolveram-se uma série de pequenas atividades – os ofícios – e também áreas utilizadas para a cultura de alimentos.
O caráter da produção açucareira baseava-se numa economia monocultura, latifundiária e escravista. Em fim do século XVI, com a implantação dos primeiras sesmarias, ela foi iniciada na Paraíba, na várzea do Rio Paraíba do Norte. Já no início do século XVII, toda a área encontrava-se povoada e ocupada por numerosos engenhos.

c) Pecuária

Com a expansão da cultura canavieira, novas terras foram sendo incorporadas ao plantio, ao mesmo tempo que as necessidades de combustível (a lenha) para atender os engenhos também aumentavam. O resultado foi a destruição das florestas que cobriam todo o litoral; o que levou os colonos a procurar madeira em áreas cada vez mais distantes, aumentando assim, a necessidade de animais de carga.
Por outro lado, a expansão da cana engolia os pastos, o que impossibilitava a convivência das duas atividades. Desta forma, a atividade criatória foi se interiorizando e se desenvolveu, em especial no sertão, para abastecer os engenhos de animais de tração e de carne, que era destinado também aos pequenos centros urbanos litorâneos.
O gado chegou à Paraíba representando um novo elemento econômico para região. Bois, cavalos, cabras foram ocupando os currais das sesmarias e fizeram do sertão conhecida "civilização do couro". Os portugueses enxergaram futuro enriquecido com a criação de gado e com a escravidão indígena, o que os levou a investirem e a ocuparem cada vez mais regiões do sertão paraibano. Em meados do século XVII todo o território paraibano já estava conquistado, com uma concentração demográfica maior no litoral que no sertão.
A penetração rumo ao sertão paraibano processou-se principalmente através dos rios, ao longo dos quais foram se instalando as grandes fazendas de gado. A pecuária tinha um caráter extensivo devido à pobreza das pastagens (caatinga) aos longos períodos de estiagem e a utilização de técnicas rudimentares. A dispersão explica-se pela reduzida utilização de mão-de-obra nesta atividade.

d) Algodão

Até o início do século XIX era a agromanufaturas do açúcar o principal sustentáculo da economia paraibana. Mas o açúcar, que desde a invasão holandesa não conseguira recuperar a sua posição no mercado mundial, decaia intensamente, através de sucessivas crises, terminando por ceder a sua primazia ao algodão, que assumiu o lugar de principal produto de exportação.
A expansão da lavoura algodoeira que, primitivamente fixada no sertão, invade o brejo, chegando até a zona úmida dos canaviais, depois de excelentemente aclimatadas nas zonas acatingadas de Ingá e Itabaiana, a sudeste, e vila de Independência (Guarabira), a nordeste.
Em meados do século XIX, o desenvolvimento da cultura algodoeira daria novo á ocupação do espaço paraibano. Neste período, devido a Guerra de Secessão, os EUA foram afastados do mercado produtor internacional. Assim, a Inglaterra – maior centro têxtil – passou a estimular a plantação de algodão noutras áreas no Brasil, o nordeste tornou-se o mais importante produtor e exportador de algodão. Na Paraíba, a cultura foi responsável pela consolidação da ocupação do sertão e do povoamento do agreste e brejo. Assim como a cana-de-açúcar, o algodão, nas fases de cultivo e processamento para a exportação, também constituem um dos exemplos típicos de "plantation" tropical.
O escoamento da produção do algodão sertanejo e mesmo do açúcar do litoral era dificultado pelos longos percursos feitos por tropas de animais. Para vencer estas distâncias e garantir a rápida chegada das mercadorias aos portos, principalmente ao recife, é que foi instalada a estrada de ferro.
Na primeira metade do século XX foi concluída a ligação ferroviária de Souza a campina grande, o que permitiu a esta cidade aumentar o seu papel comercial sobre o sertão e também incrementar as exportações do algodão através do Porto de Cabedelo (na época um dos principais terminais algodoeiros do nordeste).
A ferrovia completou o processo de ocupação do território paraibano. A cana-de-açúcar, o gado e o algodão comandavam este processo, com base na implantação de uma economia agrário exportadora.




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