Na iminência de um governo
marxista no Afeganistão, o primeiro-ministro Hafizullah Amin se
recusa a ceder o poder para Babrak Karmal, então apoiado pela União Soviética.
Este país envia o general Viktor Paputin para Cabul, com o objetivo de negociar
com o governo, mas os resultados são negativos e, logo depois, as tropas
soviéticas invadem o Afeganistão com mais de cem mil soldados motorizados e o
auxílio de veículos e tanques blindados, além de uma artilharia pesada. Sem
recursos, com seus equipamentos sabotados, a sede do governo sitiada, não resta
outra alternativa senão a rendição dos afegãos, principalmente depois da morte
de Amin.
Este confronto dura nove anos, com o líder comunista sustentado pelos
soviéticos, e os rebeldes afegãos, conhecidos como mujahidin, apoiados pelos
Estados Unidos, Paquistão e outros países muçulmanos, mais um dado estratégico
na Guerra Fria entre as duas potências mundiais. Neste mesmo momento histórico
ocorriam também a Revolução do Irã e o confronto entre Irã e Iraque. Alguns
estudiosos acreditam que a Guerra do Afeganistão foi um marco que deu início a
conflitos não mais de ordem ideológica, mas sim de cunho cultural, ou seja,
entre diferentes identidades culturais – de um lado a civilização islâmica, de
outro, a ocidental -, porém não se pode esquecer a preponderância dos
interesses econômicos que hoje regem o mundo globalizado. A União Soviética
principiou sua saída do país invadido no dia 15 de maio de 1988, completando a
retirada em 15 de fevereiro de 1989. Muitos acreditam que a potência soviética
teve prejuízos tão sérios com essa aventura, comparada a dos Estados Unidos no
Vietnã, que acabaram por repercutir, em 1991, na queda da União Soviética.
A história do Afeganistão, porém, é bem mais complexa, e esse é apenas o início
de uma longa e sangrenta guerra civil, que cobra tributos muito altos até os
nossos dias. A derrota dos comunistas, porém, é neste instante uma vitória
fundamental para os ortodoxos fundamentalistas e seus aliados islâmicos. Tanto
quanto o auxílio militar e financeiro norte-americano, os afegãos receberam uma
sustentação valiosa de países como a Arábia Saudita, que investiu até mais do
que os Estados Unidos nesta região. Muitos soldados islâmicos de outros países
entraram no Afeganistão, através do Paquistão, para lutar contra os soviéticos.
Aliás, esta nação foi intermediária no repasse dos recursos ianques para o país
invadido, pois acima de tudo os adeptos do Islamismo são contra os ocidentais,
mais até do que anti-comunistas. Para melhor compreender a instabilidade desta
área, é necessário perceber o caldeirão de etnias e línguas distintas que
compõe o Afeganistão – convivem lado a lado pachtuns, grupo predominante no
país, tadjiques, hazaras, os aimak, uzbeques, turcomenos e outros.
Em 1979, uma Revolução Islâmica triunfou no Irã, logo ao lado do Afeganistão.
Estava aberto o precedente para um feito semelhante neste país, ainda mais
quando ele se encontra acuado por tropas comunistas de um lado, e pressente do
outro o perigo do domínio norte-americano, que já contagiava dois redutos
importantes da região, Israel e Egito, e tudo fazia para seduzir a Arábia
Saudita. É fácil perceber que, com a saída da União Soviética, grupos
fundamentalistas, fortalecidos tecnológica e moralmente pelo apoio
financeiro-militar recebido dos Estados Unidos e de países vizinhos,
sustentados pelo resgate da sua auto-estima e por uma elevada tecnologia
militar ao alcance das mãos – herança do confronto com os comunistas –,
providos de um aparato ideológico pretensamente justificado pelo Islamismo, os
afegãos estavam prontos para a Jihad, a Guerra Santa. Ironicamente este
contexto se voltaria, futuramente, contra os maiores fomentadores destas
circunstâncias, os Estados Unidos.
Após a retirada dos
soviéticos, que abandonam o aliado marxista à própria sorte, os mujahidin
entram em confronto com o governo comunista do então Presidente Mohammed
Nadjibullah. Vitoriosos, eles substituem o comunismo do deposto Brabak Karmal
por um regime muçulmano ultraconservador, o Talibã, contra o qual os
norte-americanos, posteriormente, entrarão em conflito, gerando em 2001 uma
nova Guerra nesta região do Oriente Médio, em conseqüência de um suposto apoio
deste governo ao terrorista Osama Bin Laden, líder da Al-Qaeda.
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