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GUERRA DO LÍBANO

Quando o Líbano se tornou independente da França, em 1946, o poder passou a ser dividido entre os vários grupos religiosos do país. O território do Líbano viveu uma guerra civil a partir de 1958, causada pela disputa de poder entre grupos religiosos do país: os cristãos maronitas, os sunitas (muçulmanos que acreditam que o chefe de Estado deve ser eleito pelos representantes do Islã, são mais flexíveis que os xiitas), drusos, xiitas e cristãos ortodoxos. O poder, no Líbano, era estratificado. Os cargos de chefia eram ocupados pelos cristãos maronitas, o primeiro ministro era sunita e os cargos inferiores ficavam com os drusos, xiitas e cristãos ortodoxos.
Durante anos o Líbano prosperou, tornando-se o principal centro financeiro e comercial do Oriente Médio. Porém, a medida que crescia a população muçulmana, o pacto de poder impedia a ascensão desse grupo aos cargos mais importantes. Em 1958, as tensões sociais explodiram numa guerra civil. A intervenção dos Estados Unidos impediu que o Estado libanês se desintegrasse nessa ocasião.
Após a retirada das tropas americanas, a pedido da ONU, foi encontrada uma solução política para o problema, com a organização de um governo composto pelos líderes dos vários grupos religiosos do país. O frágil equilíbrio de poder, no entanto, seria rompido na década de 1970, principalmente com a chegada de grande números de palestinos, expulsos da Jordânia, e a atuação cada vez mais independente dos guerrilheiros da OLP em território libanês.
As tensões entre as comunidades se intensificam com o aumento populacional dos muçulmanos, que passam a reivindicar maior participação no poder, e com a presença maciça de guerrilheiros da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), expulsos da Jordânia em 1970, que passam a interferir nas disputas internas libanesas. 
Os cristãos maronitas, acusando o governo de ineficácia, integraram-se às milícias do Partido Falangista, de extrema direita, que defendia a expulsão imediata dos palestinos e a manutenção do poder nas mãos dos cristãos. Por outro lado, milhares de jovens drusos, sunitas e xiitas alistaram-se nas forças de suas respectivas organizações políticas.
A guerra aberta entre as várias facções iniciou-se em 1975, quando um atendado falangista a um ônibus provocou a morte de dezenas de palestinos e libaneses muçulmanos. O exército regular, comandado por oficiais cristãos, acabou se desestruturando sob o impacto de uma rebelião de jovens oficiais muçulmanos. Desde então, cada grupo político-religioso ampliou suas milícias com soldados desertores, e a guerra civil atingiu o país com uma violência sem precedentes.
Uma série de vitórias dos muçulmanos coligados com a OLP alarmou a Síria que, rompendo sua aliança com os muçulmanos, resolveu intervir no conflito a favor dos maronitas. Em junho de 1976, a Síria intervém militarmente para garantir o governo do cristão conservador Elias Sarkis. Porém, a presença das Forças Armadas sírias provocou protestos imediatos dos árabes. Franceses, norte-americanos e soviéticos deslocaram-se para a região, o que forçou o Encontro de Riad, em outubro de 1976. Nesse encontro a Síria foi obrigada a se reconciliar com a OLP e renunciar a seu pretenso direito de intervir no Líbano.
Uma comissão formada por Egito, Arábia Saudita, Síria e Kuwait ficou encarregada de supervisionar a paz na região. Entretanto, o assassinato do líder druso Kamal Jumblatt, em 1977, desencadeou uma nova onda de violência. Os combates foram retomados com toda força, agravados por incursões sucessivas de Israel que, através da operação ironicamente batizada Paz na Galileia, tentava banir a OLP do Líbano. Foi durante a ocupação israelense que ocorreram os massacres dos campos palestinos de Sabra e Chatila.
Amin Gemayel, eleito presidente em 1982, reforçou o poder dos maronitas, respaldado pelas tropas de fuzileiros navais norte-americanos, que desembarcaram no país para intimidar a Síria e seus aliados: as milícias drusas,, sunitas e xiitas e a União soviética. Mas a retirada das tropas americanas, seguida pelas de Israel, enfraqueceu os cristãos. Os drusos dominara a região do Chuf - área montanhosa ao sul e a leste de Beirute - expulsando as comunidades maronitas que ali viviam há séculos, numa significativa derrota dos falangistas em 1984 e 1985.
A perda de controle da capital enfraqueceu muito o presidente libanês, criando uma situação favorável ao regime sírio de Hafez Assad e seus partidários libaneses, que recorreram a explosões de veículos nos bairros cristãos e a tentativas de assassinato dos auxiliares de Amin Gemayel.
A partir de então, a intolerância religiosa e o sectarismo político chegaram a pontos extremos: vários estrangeiros foram sequestrados; o primeiro-ministro Rashid Karame foi assinado, em junho de 1987; a rivalidade entre o Amal (grupo da comunidade xiita, pró-Síria) e o Hezbolá (Partido de Deus) - dissidentes xiitas radicais ligados ao Irã - culminou em sangrentos combates nos subúrbios de Beirute.
Totalmente desacreditado, Gemayel, terminou seu mandato em 1988, sem conseguir restabelecer a autonomia política do país. Com efeito, no ano seguinte a Síria empreendeu nova ofensiva no sentido de fortalecer sua influência no Líbano. Em novembro de 1989 foi eleito novo presidente, que no entanto foi assassinado duas semanas depois. Um novo mandatário foi escolhido pelo parlamento.
Em meados de 1997, a situação do Líbano era a seguinte: a partir do final da guerra civil, em 1985, o país deu início a  reconstrução de sua economia e suas cidades.


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