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A guerra civil na Iugoslávia

 O Reino da Iugoslávia (1918-1941)

Com a derrota dos três grandes impérios (austro-húngaro, o russo e o otomano), a região finalmente se viu livre da tutela estrangeira. Pelos tratados de Paris, em 1919, garantiu-se a liberdade dos Reinos da Iugoslávia (formada pela Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Macedônia) com capital em Belgrado. Em 1941 o rei da Iugoslávia, cedendo à pressão dos nazistas, resolveu assinar um tratado de aliança com Hitler. Foi o que bastou para que uma rebelião popular tomasse conta das ruas de Belgrado. Hitler aproveitou-se da situação confusa e ordenou que suas divisões ocupassem o país, em abril de 1941.

A Grande Sérvia e a Primeira Guerra Mundial

Em 1908 um grupo de jovens oficiais otomanos deu início a uma revolução que pretendia modernizar o Império Turco, mergulhando na estagnação. Ao deporem o Sultão terminaram por provocar uma onda de descontentamento geral contra o domínio otomano. Aproveitando-se da confusão provocada pelas reformas, o governo da Sérvia aliou-se aos búlgaros e romenos para dar início a uma guerra que tinha como por objetivo afastar os turcos dos Balcãs. Foi a primeira Guerra dos Balcãs, de 1911-13, que assegurou a independência da área. Logo em seguida as ambições da Sérvia voltaram-se para a formação da Grande Sérvia que visava anexar a Croácia (então sob domínio austríaco) para desta forma chegar ao Mar Adriático. Os austríacos viram por trás dessa ambição expansionista os interesses de Moscou. Como os czares da Rússia não tinham conseguido abrir caminho para o Mediterrâneo devido ao controle que os turcos exerciam sob as duas margens do Bósforo, estavam-se utilizando da Sérvia para obter tal fim.

Em julho de 1914 o herdeiro do trono austro-húngaro, Francisco Ferdinando, foi assassinado com sua esposa quando fazia uma visita oficial à capital da Bósnia-Herzegóvina, Saravejo. O autor do atentado era um jovem estudante nacionalista sérvio Gravilov Pincip que, com aquele ato, desejava protestar contra a presença dos austríacos numa região que deveria estar na órbita da Sérvia. Para o governo austro-húngaro tal atentado serviu de pretexto para uma declaração de guerra à Sérvia o que provocou a mobilização dos protetores dos sérvios, o Império Russo. Em pouco tempo a Europa inteira entrou em guerra, que se estendeu até 1918.

O Acirramento do Ódio

Aproveitando-se da presença das tropas nazistas os croatas, que se diziam oprimidos pelos sérvios, fizeram um grande massacre junto à população civil que vivia na área da Croácia. Registraram-se mais de 40 mil mortos pelas milícias croatas. Quem terminará por organizar uma oposição militar à ocupação será o Partido Comunista Iugoslavo liderado pelo guerrilheiro Josef Broz, conhecido como Tito, que assumiu o controle das montanhas tornando a vida dos alemães um inferno. Quando a guerra estava para se encerrar, nos começos de 1945, os guerrilheiros de Tito haviam derrotado a maioria das 37 divisões que os nazistas haviam enviado para lá, o mesmo ocorrendo na vizinha Albânia, com os comandados por Hoxa. As matanças ocorridas devido à presença das tropas estrangeiras e aquelas outras que seguiram, praticadas contra os colaboracionistas pró-nazistas, deixaram marcas profundas entre a população local.

O ódio entre as várias repúblicas, formadas depois de 1945, foi contido devido à política hábil e repressiva de Tito. O comunismo aparentemente agia como um elemento integrador que atenuava as diferenças existentes na região (entre católicos, ortodoxos, muçulmanos, entre as culturas alemã, russa e turca) Tito tratou de diminuir a influência dos dois maiores grupos, os sérvios e os croatas, dando estatuto de maior representatividade para os outros. Quando ele veio a falecer em 1980, havia sido aprovada uma constituição que tinha por objetivo alcançar a rotatividade do poder executivo. Em cada período Legislativo seria uma etnia quem assumiria a chefia do governo. Não era possível adotar o sistema democrático na sua totalidade porque se houvesse eleições para a Presidência da República Iugoslava sempre um sérvio as venceria pois eles são a maioria: rapidamente o sistema montado por Tito degenerou numa série de declarações unilaterais de independência.

A guerra civil na Iugoslávia

Até 1991, Iugoslávia era uma federação socialista formada por seis repúblicas; Sérvia, Eslovênia, Croácia, Macedônia, Bósnia-Herzegovina e Montenegro. A mais forte e mais populosa dessas repúblicas era a Sérvia, cujos habitantes professam a religião cristã ortodoxa, em contraste com os bósnios, que são muçulmanos, e com os croatas, católicos em sua maioria.

A despeito dessas diferenças, a Iugoslávia permaneceu unificada durante várias décadas, sob a liderança do marechal Josip Broz Tito. Em 1980, porém, com a morte do líder, estabeleceu-se um sistema de rodízio no governo, pelo qual a Presidência do país passou a ser exercida, a cada ano, pelo representante de uma das repúblicas. Em 1991, entretanto, a Croácia e a Eslovênia se separaram da federação, declarando sua independência.

Em represália, o Exército iugoslavo, controlado pelos sérvios, invadiu os dois países, dando início à guerra civil. No ano seguinte, a Macedônia e a Bósnia-Herzegovina também se declararam independentes. A decisão não foi aceita pelos sérvios residentes na Bósnia, provocando uma rebelião que degenerou em violenta guerra civil no interior da pequena república.

A Iugoslávia via-se, assim, às voltas com duas guerras civis: uma envolvendo a Sérvia, a Croácia e a Eslovênia: a outra colocando em confronto os sérvios e os bósnios na Bósnia-Herzegovina. Esses conflitos foram suspensos em 1995, por meio de alguns acordos de paz mediados pelos Estados Unidos. A partir de então, a Iugoslávia ficou reduzida às repúblicas da Sérvia e de Montenegro.

‘A partir de 1997 teve início nova guerra civil envolvendo a província de Kosovo, na Sérvia. A Iugoslávia, que a essa altura contava apenas com as repúblicas da Sérvia e Montenegro, tentou reprimir o movimento separatista dos albaneses muçulmanos, a maioria da população do Kosovo. A guerra acabou com o bombardeio da sérvia pelas tropas da Otan lideradas pelos EUA, em 1999. Com o fim da ocupação da Otan, Kosovo ficou sob a tutela da ONU, declarando sua independência em 2008.’

Com o fim do conflito, em 1999, e o afastamento do presidente Slobodan Milosevic, a Iugoslávia ingressou finalmente na transição para a democracia. Em fevereiro de 2003, a República Federal da Iugoslávia foi declarada extinta pelo Parlamento iugoslavo em sua última sessão. Em seu lugar foi criado o Estado da Sérvia e Montenegro.

Em maio de 2006, foi realizado um plebiscito em Montenegro para que a população decidisse sobre a independência em reação a Sérvia. O resultado indicou a vitória da opção separatista. Com isso, o Parlamento de Montenegro proclamou a independência de Montenegro em relação à Sérvia.

Vale lembrar que a Otan, que interveio no conflito, foi criada em 1949 e reunia os Estados Unidos e países da Europa na luta contra a suposta ameaça de o bloco socialista avançar sobre esses países do bloco capitalista. No início do século XXI, o papel da Otan vem sendo rediscutido, já que a luta entre os blocos não mais existe. Essa foi a única vez em que as tropas da Otan participaram de um conflito armado.




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