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Guerra do Camboja

Parte integrante dos domínios franceses na Indochina, os protetorados do Laos e do Camboja transformaram-se em nação independentes por ocasião da Conferência de Genebra, em 1954, sendo declarados, neutros e proibidos de instalarem bases militares estrangeiras em seu território.
Em 1955, ela tornou-se independente, instalando-se em suas fronteiras uma Monarquia constitucional. Também esse país passou pela conjuntura revolucionária da Guerra Fria, evidenciando-se a presença de forças favoráveis aos norte-americanos e aos soviéticos. Já na época da independência, o príncipe Norodom Sihanouk procurou manter-se neutro em relação à Guerra do Vietnã, atitude que não agradou aos Estados Unidos.
Durante seu governo (1954-1970), cresceu a influência do Khmer Vermelho (Partido Comunista do Camboja). No entanto, como as forças comunistas acabassem ampliando seu domínio territorial e desse início ao uso sistemático da Trilha de Ho Chi Minh para enviar auxílio aos vietcongues, a direita cambojana articulou um golpe de Estado, chefiado pelo general Lon Nol. Em março de 1970 ele derrubou a monarquia constitucional e instalou uma república, prontamente reconhecida pelos Estados Unidos. Era a ditadura pró-ocidental, a estratégia de Nixon para o sudeste asiático. A partir daí instauraram-se governos instáveis e ditatoriais.
Em 1975, o Khmer Vermelho (grupos guerrilheiros apoiados pela China) derrubou Lon Nol, instalando a República Popular da Kampuchea, recolocando no poder Norodom Sihanouk . No ano seguinte, o líder mais radical do Khmer Vermelho, Pol Pot, derrubou o presidente, implantando uma ditadura tão sangrenta que reduziu a população pela metade.
Sob o comando do Khmer Vermelho, adotou-se a política de absoluta priorização da agricultura no Camboja, com transferência da população urbana para o campo. (A capital, Phnom Penh, que tinha algo próximo a três milhões de habitantes, acabou reduzida a pouco mais de vinte mil). Das outras medidas adotadas pelo governo de Pol Pot, sempre caracterizadas pelo extremismo, destacaram-se a abolição da moeda nacional (riel), da religião e da unidade familiar. Nas perseguições generalizadas, fundadas na definição do "ano zero", ponto de partida de um Camboja que "nascesse de novo", suprimindo todos os vestígios da sociedade anterior, eliminaram-se todos aqueles que fala-se alguma língua estrangeira, universitários, intelectuais, qualquer um que usasse óculos e pequenos proprietários, chegando, segundo dados oficiais, ao extermínio de 2,8 milhões de pessoas, além de 570 mil desaparecidos.
A ditadura Pol Pot, apoiada pela China, foi também responsável por um conflito com o Vietnã, que era então apoiado pela União Soviética. Face à situação, a Frente Unida Nacional para a Salvação do Kampuchea (FUNSK), apoiada por tropas vietnamitas, ocupou a capital (1979) e proclamou a República Popular do Camboja. Pol Pot foi destituído, e assumiu a presidência, o Heng Samrin que sancionou uma nova Constituição (1981). Norodom Sihanouk organizou uma nova frente nacional no exílio e, durante a década de 1980, continuou a ação contra as autoridades do país, que havia adotado a denominação de Estado do Camboja e o budismo como religião nacional (1989).
Em 1989, graças aos acordos entre o grupo pró-Vietnã e o grupo pró-China, os vietnamitas saíram do Camboja, enquanto se buscava, sem sucesso, estabilização política do país. Os remanescente radicais do Khmer Vermelho, que se refugiaram na Tailândia, ainda apoiados pela China e pelos Estados Unidos, continuaram desenvolvendo combates sucessivos no Camboja visando recuperar o controle do país. Os khmers vermelhos, aproveitando a retirada das tropas vietnamitas (completada em 1989), lançaram uma ofensiva. A fronteira da Tailândia, no início dos anos 1980, vivia a ampliação progressiva dos conflitos e, somente na década de 1990, em meio ao colapso do bloco soviético, começou a normalização das relações sino-vietnamitas e da política do Camboja, sob a tutela da ONU. 
A ONU elaborou um plano de paz, criou um Conselho Supremo Nacional presidido (julho de 1991) pelo príncipe Norodom Sihanouk e os quatro grupos rivais assinaram um acordo de paz em Paris (outubro de 1991). Nas eleições de 1993, venceu o Partido do príncipe Norodom Sihanouk, a Frente Unida Nacional para um Camboja Independente, Neutro, Pacífico e Cooperativo (FUNCIPEC); ganhou 58 lugares face aos 51 do Partido do Povo do Camboja (PPC), sendo formado um governo de coligação. A Constituição de setembro de 1993 sancionou o regresso à monarquia parlamentar. Norodom Sihanouk foi proclamado rei, designando copresidentes seu filho, Norodom Ranarid, líder do FUNCIPEC, e H. Sen, líder do PPC. A situação de equilíbrio entre ambas as forças manteve-se estável, apesar das várias situações críticas.
Nos anos 1990, as violentas disputas pelo poder político continuaram, mesmo depois de o Camboja se transformar numa monarquia, em 1993, e do fracasso do governo de coabitação entre as facções inimigas.
O conflito com os khmers vermelhos constituía, ainda em 1995, um fator desestabilizador, mas, a partir de então, estes entraram em uma crise interna: em agosto de 1996, I. Sary e 3.000 dos seus seguidores desertaram e o seu líder histórico, Pol Pot, foi condenado à prisão perpétua por genocídio. As tensões políticas incrementaram-se quando Norodom Sihanouk substituiu H. Sen por U. Huot na copresidência. Em abril de 1998, Pol Pot foi encontrado morto na fronteira com a Tailândia e em novembro desse ano, H. Sen tornou-se o único copresidente ou primeiro-ministro. Em 2002 foram celebradas as primeiras eleições locais depois da queda dos khmers vermelhos. Em julho de 2003 celebraram-se eleições legislativas, nas quais a lista do PPC foi a mais votada mas não obteve a maioria suficiente para governar sozinha. Em setembro de 2004, o príncipe Norodom Sihamoni foi nomeado pelo Conselho do Trono do Camboja novo monarca, após seu pai, o rei Norodom Sihanouk, ter abdicado por motivos de saúde. Nas eleições legislativas de 2008, as primeiras depois da emenda constitucional de 2006, que reduziu a maioria requerida para formar governo de dois terço à maioria simples, o PPC do primeiro-ministro Hun Sen obteve 90 cadeiras com 58 % dos votos.


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