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A força da Ásia Contemporânea

 O país do Sol nascente

Assim como outras regiões do Oriente, a partir do século VXI o Japão atraiu o interesse de muitos ocidentais por ser considerado o dono de uma cultura “exótica”. Essa forma de ver o mundo esteve centrada na ideia de que todos os que são diferentes dos valores ocidentais são “incivilizados” ou “bárbaros”, como pessoas ou regiões que precisam ser “civilizadas”, ou seja, submetidas à cultura das potências ocidentais.
Com esse discurso, os europeus colonizaram e massacraram milhões de nativos americanos desde o final de século XV. De forma idêntica, ocuparam boa parte da Ásia e oprimiram sua população a partir da metade do século XIX. O interesse pelo cultura do “outro” andava de mãos dadas com os interesses nas riquezas do “outro”.
Fechado para o Ocidente, o Japão não chegou a ser colonizado, como ocorreu com a Índia, por exemplo. De fato, em 1637, seus governantes proibiram o comércio externo e expulsaram os missionários cristãos vindos da Europa. Esse isolamento permitiram mais tarde aos japoneses apropriar-se de valores ocidentais em seu próprio benefício.
Em 1853, no contexto do imperialismo, o governo dos Estados Unidos enviou ao Japão três navios de guerra para tentar forçar o governo japonês a mudar sua política e permitir relações comerciais com outras nações. Os japoneses tiveram de ceder. Na sequência, governos de países europeus assinaram com o Japão contratos semelhantes. Assim, o comércio e as relações diplomáticas entre o Japão e o Ocidente se intensificaram. Teve início então o processo de ocidentalização do arquipélago japonês.

A Era Meiji

Em 1868, assumiu o governo o imperador Mutsuhito (1852-1912). Seu reinado recebeu o nome de Era Meiji, ou Era das Luzes. A palavra meiji significa, além de iluminação, renovação, regeneração e é comumente traduzida por restauração. Isso porque durante esse período o poder centrado o imperador foi restaurado, depois de um logo tempo de governo dos xoguns – chefes militares que tinham o poder de fato no Japão, antes de 1868.
Entre as reformas mais importantes de Mutsuhito estava o fim da servidão, a mudança da capital de Quioto para Edo (rebatizado de Tóquio), a adoção do iene como moeda, a reestruturação do exército, a procura de tecnologia no Ocidente e um forte investimento em setores estruturais da economia para o desenvolvimento industrial no Japão. A reestruturação do exercito pôs fim ao poder dos samurais.
Em pouco tempo, o Japão se tornou uma potência militar e econômica internacional. Entre 1904 e 1905, disputas por territórios levaram o Japão e a Rússia a um conflito armado do qual os japoneses saíram vencedores. Isso contribuiu para que o Japão consolidasse o controle sobre a província chinesa da Manchúria e sobre a Coreia, que, em 1910, foi transformada em colônia. Dessa forma, além de não ser colonizado pelas forças ocidentais, o Japão se tornou, ele próprio, um agente colonizador.

O Japão no século XX

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os militares ampliaram sua participação no governo japonês. No início da década de 1930, eles praticamente assumiram o poder. O país tornou-se uma potência militarizada, com uma política voltada para a conquista e a ocupação de territórios vizinhos. Em 1931, os Japoneses ocuparam a Manchúria e a partir de 1937 deram início a invasão de outras regiões da China.
Com a derrota na Segunda Guerra Mundial, o Japão foi ocupado por tropas norte-americanas comandadas pelo general Douglas McArthur. Durante o período de ocupação, o governo norte-americano implantou políticas que incentivaram o crescimento industrial no Japão. MacArthur foi o executor dessas medidas que modernizaram o país.
Foi elaborada uma Constituição semelhante às dos países ocidentais e adotado o sistema parlamentarista do governo. O imperador continuava com seu papel simbólico. As mulheres ganharam direito de voto. A educação gratuita garantida a todos, com ênfase no ensino de ciências e tecnologia. Foi feita também uma reforma agrária, com a divisão das grandes propriedades, que passaram a ser exploradas de maneira intensiva por pequenos proprietários.
Apesar da destruição provocada pela Segunda Guerra Mundial, o Japão reergueu-se economicamente com o auxílio financeiro dos Estados Unidos, cujo governo procurava garantir seus interesses o Extremo Oriente.

A arrancada econômica

A partir de 1954, teve início no Japão um processo de grande crescimento econômico. Adotou-se então, uma prática que teve papel decisivo no desenvolvimento japonês. Seus técnicos passaram a copiar e aperfeiçoar produtos de todos os tipos, produzindo-os de acordo com suas necessidades e com o gosto do consumidos japonês. Os setores que mais se desenvolveram foram o da indústria eletroeletrônica, automobilística, naval, de aço e de máquinas.
Além de atender ao mercado interno, os japoneses começaram a exportar seus produtos. Pouco a pouco, o mundo foi invadido por mercadorias made in Japan: rádios portáteis, televisores, videocassetes, toca-fitas, walkmans, aparelhos de som, gravadores, telefones, máquinas fotográficas, etc. depois vieram os automóveis e as motocicletas. As exportações tornaram-se o principal recurso da economia japonesa.

O Japão nos nossos dias

Dono do Segundo maior Produto Interno Bruto (PIB), só atrás dos Estados Unidos (e sem contar a União Europeia), o Japão está entre as nações mais desenvolvidas do mudo. Sua renda per capita chegava, em 2007, a 30 mil dólares. A expectativa de vida da população japonesa é a mais alta do mundo: 78 anos para os homens e 85 para as mulheres.
Nas últimas décadas do século XX, numerosas empresas japonesas passaram a transferir fábricas para outros países da Ásia, como China, Indonésia, Tailândia, e Malásia. Com isso, os custos de produtos puderam ser reduzidos, já que a mão de obra nesses países asiáticos é mais barata e os impostos cobrados, menores. No final da década de 1980, o crescimento econômico japonês chegou a ameaçar a hegemonia estadunidense, competindo até mesmo no mercado norte-americano.
Apesar disso, a partir da segunda metade dos anos 1990 o Japão enfrenta uma profunda crise econômica, que tem resultado em alguns momentos de recessão, com aumento no número de desempregados e paralisação do mercado imobiliário.

A emergência da China

Após a morte de Mao Tse-Tung, em 1976, a China passou por um profundo processo de mudanças. Dirigentes moderados assumiram a condição do governo, entre eles Deng Xiaoping, afastado do governo durante a Revolução Cultural. Sob sua liderança, o governo deu início a um programa de reformas econômicas cujo objetivo era alcançar o desenvolvimento do Ocidente, do qual a China estava ainda muito longe.

O socialismo de mercado

Deng Xiaoping pensava em um modelo diferente de socialismo e também no papel que a China deveria desempenhar no cenário internacional. Para ele, a inserção chinesa no mundo como uma força competitiva ocorreria apenas fazendo concessões à economia de mercado.
Assim, a iniciativa privada voltou a ser permitida e as cooperativas agrícolas e comunas populares foram aos poucos desaparecendo. Ao mesmo tempo, as empresas estrangeiras ganharam permissão para investir no país. Essas reformas provocaram uma reviravolta na sociedade chinesa. A economia passou a crescer, com base em empreendimentos de todo o tipo, originados de capital japonês, norte-americano, coreano, etc.
Contundo, a abertura se restringiu apenas ao campo econômico. No plano político, o Partido Comunista continuou monopolizando o poder e manteve-se como partido único. Em 1989, um amplo movimento de estudantes e intelectuais reivindicou mudanças democráticas, levando milhares de pessoas a gigantescas manifestações. A resposta do governo foi extremamente violenta, colocando nas ruas o exército com tanques e carros blindados, que avançavam sobre os manifestantes concentrados na praça Tiananmen (praça da Paz Celestial). A onda de manifestações, denominada Primavera de Pequim, acabava em repressão total. A impressa calculou mais de 2 mil mortos.

A quarta economia mundial

Após a morte de Deng Xiaoping, em 1997, as reformas na economia prosseguiram. A prosperidade econômica, contudo, gerou os problemas típicos dos países capitalistas desenvolvidos, como desigualdade social, prostituição, contrabando, tráfico de drogas e aumento considerável da poluição nas cidades mais industrializadas.
Nos primeiros anos do século XXI, a China aparece como um dos mais fortes polos da economia mundial. Tornou-se grande exportadora de produtos industrializados: tecidos, calçados, roupas, brinquedos, etc. desde os anos 1980, o país cresce a taxas anuais em torno de 9% ou 10%.
Em 2006, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês chegou a 10,7%. Em 2007, foram 11,9% de expansão. Em valores absolutos, o PIB chinês foi de 3,6 trilhões de dólares em 2007. Isso coloca a economia chinesa em quarto lugar no mundo, atrás do Estado Unidos, Japão e Alemanha. Suas exportações de produtos industrializados passaram de 4 bilhões de dólares em fins dos anos 1970 para mais de 250 bilhões em 2004. Calcula-se que em 2030 o PIB chinês será maior do que o dos Estados Unidos.

Liberdade para o Tibete!

A liberalização econômica, como vimos, não foi acompanhada de uma abertura política que fizesse da China um país mais democrático. Em março de 2008, por exemplo, a opinião pública internacional foi surpreendida pela repressão chinesa contra manifestações populares no Tibete que reivindicavam a independência da região, hoje uma província da China. (O Tibete foi ocupado militarmente pelos chineses em 1950. A invasão obrigou o dalai-lama, chefe espiritual dos tibetanos, a fugir para a Índia. Desde então seus sucessores passaram a viver no exílio.).
As manifestações ocorreram em um memento particularmente delicado para o governo chinês. Isso porque em 2008 se realizou as Olimpíadas de Pequim (capital da China) e, por razões de propaganda, os líderes chineses tem todo interesse em transmitir uma imagem positiva de seu próprio regime. Esse dilema revela que não há modernização possível sem liberdade de pensamento e de expressão, sem pluralismo político e sem respeito pelos direitos humanos.
Em maio de 2008, cedendo a pressão internacional para que dialogasse como o dalai-lama, o governo chinês aceitou receber uma delegação de tibetanos para negociar uma solução pacífica para a crise.

A Índia contemporânea

A Índia se tornou independente em 1947. Seu primeiro governante, já como república autônoma, foi Jawaharlal Nehru (1947-1964), um discípulo de Mahatma Gandhi. Nerhu manteve a Índia em uma posição de neutralidade em relação aos Estados Unidos e a União Soviética, integrando-a ao bloco de países não-alinhados.
Até 1966, sua filha Indira Gandhi assumiu o poder. Indira seria a primeira-ministra em duas oportunidades: entre 1966 e 1977 e entre 1980 e 1984. Durante seu governo, cresceram as tensões étnicas e religiosas. Para enfrenta-las, Indira suspendeu as liberdades constitucionais e reprimiu a oposição. Em 1971, apoiou os separatistas bengalis do Paquistão Oriental, que queriam se desligar do Paquistão Ocidental. Esse ato provocou uma guerra entre a Índia e o Paquistão. E Índia venceu o conflito e o governo paquistanês reconheceu a independência do Paquistão Oriental, que passou a se chamar Bangladesh.
Em 1984, o exército indiano invadiu o templo de uma minoria étnica e religiosa – os sikhs – e matou 400 fiéis. A resposta dos sikhs foi o assassinato de Indira em outubro de 1984. Em 1991, o filho e sucessor de Indira, Rajiv Gandhi, também seria assassinado. Os autores do atentado, porém seriam separatistas tâmes do Sri Lanka.

Ricos e pobres

Com a população de 1,1 bilhão de habitantes a Índia está hoje entre os países de maior crescimento econômico do mundo, logo atrás da China. Em 2006, seu Produto Interno Bruto (PIB) chegou a 911 bilhões de dólares. Entretanto, a sociedade indiana continua a ser uma das mais desiguais do mudo. Por um lado, o país vem se tornando um centro de produção de tecnologia na área de informática e que se destaca também na indústria farmacêutica e de biotecnologia. Por outro lado existem na Índia 380 milhões de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia. Essas pessoas estão abaixo da linha de pobreza.
Essa extrema desigualdade levou o primeiro-ministro Manmohan Singh a afirmar, durante as comemorações dos 60 anos de independência da Índia, em agosto de 2007: “o sonho de Mahatma Gandhi de uma Índia livre só estará totalmente completo quando erradicarmos a pobreza”.
Apesar da pequenez territorial, a expansão econômica dessas três regiões foi tão rápida que elas passaram a ser chamadas, juntamente com a coreia do Sul, de Tigres Asiáticos.

A Coreia do Sul e Taiwan

Produzindo automóveis, tecidos sintéticos, aparelhos eletroeletrônicos e outros produtos similares, nos anos 1980 a Coreia do Sul deixou de ser considerada pelos organismos internacionais um país em desenvolvimento (como hoje são o Brasil e China), passando a ser um país desenvolvido, ao lado da Inglaterra, Alemanha, Japão, etc. seu maior problema consiste hoje na aproximação com a Coreia do Norte, de regime comunista.
Taiwan, também conhecida como Formosa, abrigou o governo que dirigia a China antes da Revolução Comunista de 1949. Historicamente, pertenceu à China. Seguindo a política de produzir para exportar, também Taiwan conseguiu enorme crescimento econômico, basicamente com a mesma linha de produtos fabricados pelo Japão e pela Coreia do Sul na primeira etapa de seu desenvolvimento. Atualmente, a indústria desse país domina o mercado de diversos produtos da áreas de informática.

Cingapura e Hong Kong

Cidade-Estado, como vimos, Cingapura é sede de grandes bancos e empresas de exportação. O nível de vida de sua população é dos mais altos do mundo. Já Hong Kong fez parte da China ate 1958. A partir desse ano, que marcou a derrota chinesa para os ingleses na Guerra do Ópio (1839-1858), passou à condição de colônia da Inglaterra. Em 1977, contudo, voltou a pertencer à China. Nem por isso perdeu algumas de suas características de cidade-Estado, embora sem autonomia própria.

Os novos Tigres

A partir da década de 1990, outros países do Sudeste Asiático passaram a apresentar ritmos de crescimento semelhantes aos dos Tigres Asiáticos. São eles: Malásia, Tailândia e Indonésia, chamados de Tigres Asiáticos se segunda geração.
A Indonésia é o país de maior população muçulmana do mudo, com mais de 230 milhões de habitantes e até pouco tempo atrás dominava o Timor Leste, região na qual se fala português. Timor Leste tornou-se independente em 2002.

Crise e recuperação

A partir de 1977, tanto os Tigres Asiáticos quanto os Tigres de segunda geração entraram em crise quando suas economias sofreram ataques especulativos. A crise teve início na Tailândia e atingiu inicialmente Hong Kong, Cingapura, a Indonésia e Malásia. Mas logo chegou à Coreia do sul.
Nesses países, as exportações caíram, a produção industrial diminuiu, as taxas de desemprego elevaram-se. Em alguns deles, a moeda foi desvalorizada. A recessão durou até 1999, mas em 2002 a maioria deles, principalmente a Coreia do Sul, apresentava um bom nível de recuperação.

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