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ENTRE GOLPES E PROTESTOS: OS ANOS 60 E 70 DO SÉCULO XX

O poder da juventude

Nas décadas de 60 e 70 as manchetes de jornais de vários países do planeta abordavam a escalada da juventude na sociedade, os jovens, inconformados com os valores e instituições, ideias e tabus existentes na sociedade, buscavam construir, pacífica ou violentamente, um novo mundo. Queriam romper com tudo que consideravam tradicional, conservador e ultrapassado. A palavra de ordem era a contestação.
E contestando o que consideravam “velho”, foram construindo e assumindo novos valores e comportamentos e ousadas formas de fazer política, arte, religião, etc. nos países socialistas, lutaram pela liberdade política, nos países capitalistas industrializados criticavam a sociedade de consumo e os valores e tabus conservadores e nos países de terceiro mundo, lutaram contra as ditaduras e contra o imperialismo.
Nem sempre com sucesso, nem sempre com derrotas. As lutas e a rebeldia da juventude nos anos 60 e 70 mudaram o mundo. Não exatamente como eles queriam, mas com certeza imprimiram na sociedade sua digital: abalaram estruturas e mentalidades, modificaram os modos e a moda, diversificaram e pluralizaram as opiniões, os comportamentos, os estilos e os conceitos. Opondo-se à a moda comportada e sofisticada das décadas anteriores, os estilos de roupas, de cabelos, de maquiagem, os ídolos, os estilos musicais e a forma de ver e viver passaram por uma verdadeira revolução.
Nos anos 60, a moda deixou de ser única e a forma de se vestir tornou-se cada vez mais ligada ao comportamento. Num cenário de afirmação da juventude e de contestação, a moda passou a ter várias propostas e tendências, mas as grandes vedetes da época eram: a minissaia, os shortinhos, os vestidos feitos em linha reta (os famosos tubinhos), as calças masculinas cada vez mais justas, com cintura baixa e barra larga (a famosa boca de sino). Alguns modismos surgiram a partir da cópia dos modelos usados por ídolos e celebridades da época: os terninhos dos Beatles, os óculos de Jackie Onassis, os cabelos curtíssimos e os cílios postiços e delineados da magérrima Twiggy (apelido da inglesa Lesley Hornby, que foi de 1966 a 1969 a modelo símbolo da época e a primeira top model do mundo), os ternos estilo Mao Tsé-tung, as camisas com o rosto de Che Guevara, entre outros.
Os avanços da ciência, as viagens espaciais, a revolução na arte e no design – especialmente a Pop Art, movimento artístico que usava a irreverência e a ironia para contextualizar e contestar a sociedade de consumo – também influenciavam a moda e eram retratados nos modelos, estampas e tecidos. Os desenhos de Andy Warhol, um dos criadores da Pop Art, tais com as latas de sopa Campbell, Elvis Presley e Marilyn Monroe, viraram estampas de tecidos usados para confeccionar vestidos e camisetas. Os tecidos sintéticos com estampas futuristas e geométricas também eram hits nos anos 60 e 70, expressão de uma época que buscava a mudança, a modernidade, o futuro.
Nos anos 60 Londres era o reduto jovem mundial, mas já no final dessa década foi substituída pela cidade de São Francisco nos Estados Unidos, berço dos movimentos de contestação e de lutas das “minorias”: o flower Power, poder da flor (slogan dos hippies que pregavam a paz e o amor; o Black Power (slogan do movimento negro norte-americano), o gay Power e womens’s lib (movimento pela libertação das mulheres). Essas palavras de ordem ecoaram em grande parte do planeta e se tornaram slogans da juventude mundial e base de suas manifestações e lutas.
No final dos anos 60 e início da década de 70, a busca de novos valores, de um outro tipo de vida, a negação da sociedade de consumo, dos preconceitos e das hierarquias, a valorização das classes operárias e camponesas, a busca de uma vida mais espiritualizada, a aproximação com o misticismo oriental promoveram uma nova reviravolta na moda e no comportamento. O movimento hippie, originalmente um estilo de vida que negava a sociedade consumista, competitiva e belicosa, acabou se transformando num modismo e milhares de pessoas passaram a adotar o seu visual: cabelos longos, túnicas batique (indiana), jeans surrados e enfeitados, camisetas com estampas florais e com símbolos de paz e do zodíaco, pantalonas e saias longas estilo cigana, bolsas de couro, carmuças e crochê com franjas e alças e tiracolo, sapatos plataforma e bijuterias viraram verdadeiras manias mundiais.
Nessas décadas, a criatividade e a originalidade estavam a todo vapor e a produção cultural foi extremamente rica e variada. Na música destacaram-se as bandas de rock-and-roll, especialmente Os Beatles, um verdadeiro fenômeno mundial: entre 1962 e 1969 venderam 220 milhões de discos e um de seus integrantes, Jonh Lenon chegou a declarar: “Somos mais populares que Jesus Cristo”. Segundo vários especialistas, os Beatles conseguiram transformar em música a rebeldia e os sonhos dos jovens dos anos 60, registrando em sons a história de uma época.
No final dos anos 60 e início dos 70, outras bandas de rock se destacaram no cenário mundial fazendo um som mais pesado e estridente: Rolling Stones, Led Zeppelin, Black Sabath e os roqueiros Janis Joplin, Jimi Hendrix, Rod Stewart, David Bowie, entre outros. Surgiu nessa época também o chamado “rock progressivo”, cujos maiores representantes foram os grupos Yes, Pink Floyd e Queen. No final dos anos 70, surgiram novos estilos como o disco ou dance music, inaugurando a era das discotecas, e o punk rock.

Jovens, mulheres e negros querem mudar o mundo

· Década de rebeldia e contestação

A década de 60 foi realmente explosiva. Em várias partes do mundo ocorreram movimentos populares que exigiam mudanças sociais e políticas tanto nos regimes socialistas como nos países capitalistas. Havia um forte sentimento de recusa e toda forma de opressão, discriminação e autoritarismo.
Nos países capitalistas, a luta era por ampliação dos direitos civis dos negros e das mulheres, pela reforma do sistema educacional arcaico e tradicional e pelo fim das guerras. Para exigir seus direitos, os estudantes, os negros e as mulheres foram às ruas, criando formas alternativas de organização e manifestação. Apesar do caráter pacífico da maioria desses movimentos, eles foram enfrentados pelo poder instituído com violência e repressão, demonstrando a resistência em relação às mudanças. Em geral, os manifestantes eram acusados de subversivos, baderneiros e imorais.
Além dos métodos tradicionais de luta, como as greves, passeatas, barricadas, a geração jovem dos anos 60 e 70 criou fórmulas alternativas de protestar contra o modelo social vigente: o movimento hippie e a contracultura.
Nos países socialistas, o aparato repressor do Estado não conseguiu impedir a explosão da insatisfação de vários segmentos da população com o autoritarismo do regime e a ausência de liberdade e de participação popular. Esses movimentos contra-revolucionários, traidores e inimigos do povo.
Como podemos observar, tanto no socialismo como no capitalismo, as diferenças não eram respeitadas e aceitas, ao contrário, eram inferiorizadas e discriminadas.
Apesar disso, o movimento estudantil, o movimento feminista e o movimento negro mantiveram suas lutas (com períodos de avanços e de refluxo) e ao longo dos anos foram conquistando espaço voz na sociedade, contribuindo direta ou indiretamente para as grandes mudanças políticas, sociais e culturais pela quais o mundo passou a partir dos anos 60 até hoje.
O estopim das lutas ocorreu em 1968. Nunca um ano provocou tantos movimentos e protestos populares: na França, a “revolta de maio”; na Tchecoslováquia, o “massacre da Primavera de Praga”; na Polônia, as manifestações contra o regime burocrático; na América Latina, o apogeu do movimento estudantil contra as ditaduras militares.

· Pela igualdade racial

A partir de meados dos anos 50, começou nos Estados Unidos um vigoroso movimento pelos direitos civis dos negros liderados pelo pastor Martin Luther King (1929-1968). O método pacifista defendido por Martin para combater o racismo e a violência contra os negros era a desobediência civil, ou seja, não obedecer as proibições e limitações legais a que eram submetidos. Sua filosofia de não-violência era baseada nas ideias e lutas do líder indiano Mahatma Gandhi e nos princípios cristãos.
A luta de Luther King pelos direitos civis dos negros nos EUA começou em 1955, quando ele liderou um boicote ao transporte coletivo em protesto a um ato discriminatório a uma passageira negra. O movimento, que durou 381 dias, provocou reações violentas e King teve sua casa bombardeada.
Em 1957, ajudou a fundar a Conferência da Liderança Cristã no Sul (SCLC), uma organização de igrejas e sacerdotes negros, que tinha como objetivo acabar com as leis de segregação por meio de manifestações e boicotes pacíficos. Em 1960, como resultado de uma série de protestos contra a segregação racial em hotéis, restaurantes, escolas, etc., o movimento negro liderado por King conseguiu aprovar uma lei concedendo livre acesso dos negros aos lugares públicos.
No ano de 1963, Martin L. King liderou várias passeatas, marchas e protestos em prol dos direitos civis de todos os cidadãos dos Estados Unidos, contando sempre com a adesão de milhares de participantes. Mas, apesar dos métodos de não-violência e resistência passiva, milhares de manifestantes foram presos durante as marchas e protestos e até mesmo Luther King foi preso várias vezes, acusado de perturbar a ordem pública.
Apesar da resistência de uma grande parcela da sociedade branca norte-americana, a luta dos negros americanos passou a ter ressonância internacional, especialmente após a passeata em Washington (28 de agosto de 1963), onde Luther King proferiu seu famoso discurso “I have a dream” (“Eu tenho um sonho”). A partir daí, a luta sem violência contra a discriminação e intolerância racial ganhou força. Foram organizados grandes comícios e passeatas reunindo milhares de negros nas grandes cidades norte-americana, principalmente em Memphis, berço do movimento.
Em dois de julho de 1964, os negros conseguiram sua primeira vitória, com a aprovação da Lei dos Direitos Civis, que tornou ilegal a discriminação racial no registro de eleitores e em estabelecimentos públicos – restaurantes, postos de gasolina, hotéis, etc. – e estabeleceu punições para escolas e hospitais que recusassem atendimento por preconceitos raciais.
Apesar do grande avanço, essa lei limitava o direito de cidadania aos negros, pois exigia uma escolaridade mínima (algo equivalente à nossa escolaridade primária) como requisito ao direito de voto. Como grande parte dos negros não tinha acesso às escolas até então, milhares deles ficaram sem registro eleitoral. Novos protestos levaram o governo a aprovar a Lei dos Direitos de Voto, em seis de agosto de 1965, garantindo a igualdade desse direito para brancos e negros.
Apesar desses avanços, a situação dos negros norte-americanos estava longe da igualdade pretendida. A superioridade branca ainda era bastante visível e controlava o poder político e econômico no país. Para combater o “o poder branco”, surgiu um novo movimento negro nos EUA, chamado de Black Power (Poder Negro), que a partir de 1967 passou a promover saques, incêndios e protestos violentos para atingir seus objetivos.
Liderados por Stokely Carmichael e Malcolm X, esses movimentos negros eram contrários à integração da comunidade negra com os brancos e defendiam a valorização da cultura negra. Seus métodos radicais espalharam uma onda de violência racial que se aprofundou ainda mais em 1968 após o assassinato de Martin Luther King, em quatro de abril, e de Bob Kennedy, em cinco de junho, este candidato à presidência identificado com a causa negra.
A explosão da luta racial nos EUA fez acelerar a aprovação de uma série de novas leis a favor dos direitos civis negros. Apesar disso, ainda hoje, persiste uma mentalidade racista violenta, que provoca continuamente nos e explosivos conflitos.

· Pela igualdade entre os sexos

Nos anos 60, influenciado pelas lutas dos negros americanos e pelos movimentos contra a guerra do Vietnã, ressurgiu com força o movimento. Foi decisiva a influência de Simone de Beauvoir (que publicou, em 1949, o livro O segundo sexo) e de Betty Friedam (que publicou o livro A mística feminina) – escritoras que analisavam a condição da mulher na sociedade e denunciavam o machismo. Nessa década ocorrem centenas de passeatas e protestos das mulheres em diversas partes do mundo, principalmente nos EUA, França, Inglaterra e Itália.
Defendendo a bandeira da igualdade entre os sexos e combatendo a discriminação das mulheres no mercado de trabalho, o movimento feminista procurava conscientizar as mulheres dos seus direitos, ao mesmo tempo que exigia das autoridades avanços nas leis contra a discriminação da mulher na sociedade. Em consequência desse movimento e do surgimento da pílula anticoncepcional, o mundo conheceu uma verdadeira revolução sexual: tabus e preconceitos como a virgindade, o casamento eterno (mesmo que infeliz), o papel social da mulher como “rainha do lar” e sua submissão e passividade em relação ao marido, entre outros, foram aos poucos sendo destruídos.
Tradicionalmente ensinadas a se realizar (e acomodar-se) por meio do casamento e da maternidade, as mulheres passaram a lutar por espaços na vida pública (direitos iguais, oportunidades no mercado de trabalho, acesso à educação formal e à profissionalização, etc.) e liberdade e domínio sobre sua vida e seu corpo na vida privada.
A partir das lutas das mulheres nos anos 60 e 70, o comportamento e a mentalidade das mulheres, especialmente as ocidentais, passaram por um profundo processo de mudanças. Cenas raras até a década de 50 foram tornando-se cada vez mais comuns: mulheres com dupla jornada de trabalho (no lar e no mercado), frequentando lugares públicos sem acompanhantes masculino, mulheres divorciadas (embora em muitos países fossem ainda alvo de discriminação) mulheres fumando (o cigarro nessa época foi para muitas mulheres um símbolos ou uma forma de liberdade) e mulheres participando ativamente de movimentos políticos, sociais e culturais.
Na década de 70, o movimento feminista diversificou suas reivindicações e a luta das mulheres teve como eixos centrais a denúncia contra a violência no lar e a defesa da descriminalização do aborto. Um dos momentos marcantes do movimento foi em 1975, instituído pela ONU como o Ano Internacional da Mulher.

Lutas e conquistas no Brasil

No Brasil, a luta das mulheres contra a violência, cujo lema era “Quem ama não mata”, conquistou importantes vitórias com a criação do SOS – Mulher no final da década de 70 e com a aprovação da lei do divórcio em 1977. Em 1985, surgiu a primeira Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher – DEAM, em São Paulo e, logo depois outras Deçegacias da Mulher foram implantadas em vários Estados brasileiros.
Em 1985, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 7353, que criou o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Nas eleições de 1986, 26 mulheres se elegeram deputadas constituintes que conseguiram aprovar, através do “Lobby do Batom” uma emenda na Constituição Federal, garantindo igualdade a todos os brasileiros perante a lei, sem distinção de qualquer natureza e assegurado que homens e mulheres tenham direitos iguais no Brasil.
Nos anos 90, vários seminários e conferências mundiais importantes – tais como Planeta Fêmea, Agenda 21, ECO 92 – tiveram expressiva participação de mulheres brasileiras. Em 1996, o Congresso Nacional incluiu o sistema de cotas na Legislação Eleitoral, obrigando os partidos políticos a inscreverem, no mínimo, 20% de mulheres em suas chapas proporcionais (Lei nº 9.100/95 - § 3º, art. 11).

· 1968: explode a revolta estudantil

O movimento de contestação dos anos 60 atingiu seu ponto máximo em 1968, quando a agitação estudantil iniciada em Paris espalhou-se por várias universidades e ruas das grandes cidades nos EUA, Inglaterra, Brasil, Tchecoslováquia, Polônia, China, Japão, etc.
A revolta estudantil em Paris começou no dia três de maio, quando universitários organizaram uma passeata exigindo do governo francês reformas nas leis e instituições educacionais dos países. Eles protestavam contra a queda do nível de ensino e a rigidez da disciplina acadêmica. A inabilidade do governo detonou a crise: mandou reprimir com violência o protesto estudantil, estimulando, assim, a radicalização do movimento.
Na semana de seis a 13 de maio, o protesto estudantil se transformou em rebelião. Os estudantes ocuparam o Quartier Lati,onde organizaram barricadas e enfrentaram a polícia com os paralelepípedos das ruas. A violência policial fez crescer o apoio da opinião pública aos estudantes.
No dia 13, uma manifestação de 800 mil pessoas em Paris apoiava os estudantes e condenava a violência da repressão policial. No dia 22 deste mesmo mês um movimento de greve e ocupação operária espalhou-se pela França: quase dez milhões de operários pararam de trabalhar.
Apesar disso, centenas de estudantes foram presos e a Universidade Sorbonne, principal fortaleza do movimento estudantil, foi desocupada. Além dos mais de 400 feridos, os dias de confronto deixaram como saldo de destruição dezenas de lojas, ruas e carros destruídos.
O protesto estudantil, apesar de desmantelado pela repressão policial, acendeu a chama da participação estudantil não só na França, mas em diversos pontos do mundo que, inspirados neste episódio, passaram a protestar e participar politicamente em seus países.
Na Tchecoslováquia, um dos países socialistas no Leste Europeu, os protestos estudantis começaram em 1967, exigindo a democratização do regime socialista.
Em outubro, ocorreram várias passeatas de estudantes e dos operários em greve pelas rua capital, Praga, que foram brutalmente reprimidas pela polícia. Entretanto, alguns membros Ca cúpula do Partido Comunista Tcheco começavam a reconhecer o direito dos estudantes e dos demais cidadãos de participarem e protestarem publicamente, dando origem, em abril de 68, a um forte movimento de mudanças na estrutura do regime socialista, conhecido como “Primavera de Praga”.
Essa decisão contrariava os interesses da União Soviética na região. Os russos temiam que a abertura política tcheca servisse de exemplo aos demais regimes socialistas do Leste Europeu.
No dia 19 de agosto de 1968, centenas de tanques e tropas russos iniciaram a invasão da Tchecoslováquia, ocupando todos os pontos estratégicos do país (a sede do governo, a Assembleia Nacional e a Sede do Partido Comunista) e prendendo todos os líderes tchecos. A violência da invasão russa foi ainda maior com os populares que protestavam e tentavam resistir à dominação soviética: diversos jovens foram brutalmente assassinados, o que transformou a invasão num verdadeiro massacre.
Apesar da vitória soviética, os estudantes e a população das cidades tchecas continuaram uma resistência passiva: não falavam e não vendiam nada aos soldados russos, desprezavam sua presença e ignoravam suas ordens. Essa resistência muito contribuiu para expor ao mundo a política repressora dos soviéticos, desgastando ainda mais sua imagem e contribuindo para o aprofundamento da crise do “socialismo real”, burocrático e autoritário, que, a partir dos anos 80 do século XX, tornou-se irreversível.

· “faça amor, não faça a guerra”

Os Estados Unidos também viveram um período de efervescência cultural nos anos 60. Os conflitos e as contradições de uma economia capitalista avançada provocavam uma séria crise de valores na sociedade americana.
O consumismo e o excessivo materialismo, típicos do modo de vida americano, passaram a ser contestados. Concepções e valores conservadores em relação à estrutura familiar, como o casamento, monogamia, repressão sexual, machismo, também eram questionados por uma parcela considerável da juventude americana que ansiava criar uma nova sociedade, diferente, alternativa.
A participação norte-americana na Guerra do Vietnã contribuiu para o aprofundamento dos questionamentos da juventude, que acusava sua sociedade de desumana e repressora.
As cenas de horror da guerra, pela primeira vez transmitidas pela televisão, chocavam a opinião pública norte-americana, reforçando sua posição contrária ao conflito. A brutalidade da intervenção armada dos EUA e sobretudo sua inutilidade provocaram o surgimento de campanhas, passeatas e movimentos organizados para que o governo retirasse suas tropas do Vietnã.
Os reflexos dessa realidade foram o surgimento de atitudes críticas e desafiadoras como o movimento da contracultura e de movimentos de total negação da ordem social como o movimento hippie.
Formado por jovens de classe média que estavam desacreditados com o sistema capitalista, os hippies passaram a organizar modelos d comunidades alternativas, livres e integradas à natureza. Movidos pelo lema “paz e amor”, defendiam o amor e sexo livre, o espírito comunitário, a libertação dos costumes, a não-violência e a tolerância com as diferenças.
Nessas comunidades, praticamente tudo que era necessário à sobrevivência era produzido pelos integrantes do grupo. A alimentação desses jovens era naturalista (comida integral, sem agrotóxicos e vegetariana), as roupas eram artesanais e coloridas, usavam cabelos compridos e muita bijuteria. A educação dos filhos era comunitária e totalmente liberal. As drogas chamadas naturais, como a maconha, eram livres e seu uso, além das “viagens”, funcionava como negação do tempo e da produção capitalista.
Os hippies chocavam tanto a sociedade conservadora, que os considerava vagabundos, como os militantes de esquerda, que os acusavam de alienados e omissos. Apesar disso, a influência dos hippies norte-americanos atravessou fronteiras e seu estilo comunitário e alternativo foi seguido por jovens de vários países, inclusive o Brasil.
Na música, o estilo livre e ousado dos hippies e a influência da contracultura fizeram surgir os grandes festivais de rock-and-roll, onde se destacaram Bob Dylan, Rolling Stones, além dos ídolos rebeldes Janis Joplin, Jimi Hendrix e The Doors.

“Sexo, drogas e rock-and-roll”

No dia 17 de agosto de 1969, começou o Festival de Woodstock, na cidade de Bethel, estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos, o maior evento de música e arte de todos os tempos.
Aproximadamente 500 mil jovens participaram dos três dias de festival cantando, dançando, nadando nus e “enlouquecendo” ao som das encantadas e estridentes guitarras dos conjuntos de rock. Nem os engarrafamentos, a falta de água e comida e nem as chuvas tiraram o ânimo dos participantes que usavam e abusavam das drogas e praticavam sexo livre e casual.
O lema do festival poderia ser resumido em “paz, amor e liberdade” e entre as estrelas presentes estavam Jimi Hendrix e Janis Joplin. Segundo dados oficiais, durante o Festival nasceram dois bebês, morreram três pessoas e cinco mil foram hospitalizados por abusos de drogas.


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