sexta-feira, 20 de maio de 2022

GAGNÉ

  


ROBERT MILLS GAGNÉnasceu em 1916 na cidade de Andover Norte, Massachusetts, Estados Unidos e morreu em 2002. Seu trabalho mais conhecido é o livro "Como se realiza a aprendizagem". Recebeu Ph.D. em psicologia no ano de 1940, e lecionou na Universidade de Connecticut, para mulheres, de 1940 a 1949. Foi diretor de pesquisa do laboratório da força aérea dos EUA, e consultor do departamento de defesa. Em 1962 publicou um artigo intitulado "Treinamento militar e os princípios da aprendizagem", teorias que revelar sua linha de pensamento, onde dá especial atenção aos valores dos treinamentos militares.


GAGNÉ

As investigações de Gagné nas bases psicológicas do ensino eficaz conduziram-lhe a acreditar que uma tecnologia ou uma teoria instrutiva deve ir além da teoria tradicional de aprendizagem. Ele teve forte influência sob os processos de aprendizagem e trouxe grandes contribuições para o meio educacional onde ele reflete sobre o papel fundamental da motivação, dos conhecimentos prévios e da rememoração como resposta da aprendizagem numa teoria denominada Teoria da Instrução. Os cinco tipos de aprendizado descritos por Gagné são os seguintes: habilidades motoras, informações verbais, habilidades intelectuais, habilidades e estratégias cognitivas e atitudes.

Em 1968 publicou "Hierarquias de aprendizagem", e quatro anos depois adianta seu trabalho identificando cinco categorias originais de aprendizagem: informação verbal; habilidades intelectuais; atitudes; habilidades motoras e estratégias de raciocínio. Gagné chama de hierarquia de aprendizagem as habilidades mais simples enquanto pré-requisitos imediatos que possibilitam a identificação de outras habilidades muito mais simples das quais são formadas. Isso significa um mapa das habilidades subordinadas a alguma habilidade mais complexa que deve ser aprendida. Como ápice desse estudo, publica em 1972 "Domínios da aprendizagem". O alvo principal da teoria de Gagné é ajudar na instrução em sala de aula. Sua teoria principal é que existem diferentes tipos de aprendizado e que, dependendo das condições ambientais que ocorrem, eles serão ativados um ao outro a qualquer momento. Gagné considerou que o conhecimento é criado devido à inter-relação entre uma pessoa e o ambiente em que ela se encontra. Assim, o ambiente é capaz de produzir mudanças em nosso comportamento, atitudes e pensamentos. Sendo assim, quando nosso ambiente muda, nosso conhecimento também muda.

A respeito de seu trabalho, Gagné disse: "Minha escrita começou com artigos em jornais científicos que relatam estudos da aprendizagem humana. Minha experiência como psicólogo da Força Aérea dos Estados Unidos na segunda guerra mundial influenciou em mim uma atitude positiva para aplicações das teorias do conhecimento da aprendizagem. Durante 25 anos passados eu escrevi os artigos e os livros que tentam interpretar e aplicar as descobertas da pesquisa da aprendizagem, e teoria da aprendizagem, para educar principalmente a aprendizagem. Para Gagné, a aprendizagem é um processo interno visível de mudança nas capacidades do indivíduo e ocorre principalmente na interação do sujeito com o seu ambiente físico, social e psicológico.

 A TEORIA DE GAGNÉ

No pensamento de Robert Gagné, a aprendizagem é um processo que permite a organismos vivos modificarem seus comportamentos de maneira bastante rápida e de modo mais ou menos permanente.

Gagné destacou a importância de uma hierarquia de tipos de aprendizagem que vai da mais simples associação de estímulos à complexidade da solução de problemas.

Sua tipologia ou classificação de tipos de aprendizagem é interessante porque cada tipo exige estratégias de ensino mais adequadas que outras.

 Os tipos são:

 - Aprendizagem de signos

Qualquer coisa que substitui ou indica outra coisa graças a algum tipo de associação entre elas.

- Aprendizagem do estímulo-resposta

- Condicionamento operante"

- Aprendizagem em cadeia

Estabelecimento de associação Estrutura-semântica entre duas palavras.

- Aprendizagem de associações verbais

- Aprendizagem de descriminações múltiplas

Associação de vários elementos envolvendo também suas discriminações.

- Aprendizagem de conceitos

- Aprendizagem de princípios

Um princípio é uma relação entre dois conceitos.

- Aprendizagem de resolução de problemas

Consiste em elaborar um novo princípio combinando princípios já aprendidos.

O significativo destas classificações são aqueles tipos diferentes de aprendizagem que requer tipos diferentes de instrução. Assim, Gagné identifica cinco categorias maiores de aprendizagem: 

- Informação verbal

- Habilidades intelectuais

- Estratégias do cognitivo

- Habilidade motora

- Atitudes

Segundo Gagné não basta ver o comportamento do aprendiz, porém é importante analisar o processo de aprendizagem (modelo de aprendizagem e memória).

A educação não é como um simples veículo transmissor de conhecimentos, mas um processo destinado a provocar uma mudança nas disposições ou capacidades do sujeito. Com caráter de relativa permanência, essa mudança pode consistir no aumento de capacidade de realizações ou ainda numa modificação de atitudes e interesses de valores.

Gagné compartilha dos enfoques behavioristas e cognitivistas em sua teoria, para ele as fases da aprendizagem se apresentam associadas aos processos internos que, por sua vez podem ser influenciados por processos externos. Na aprendizagem, a combinação da nova aprendizagem com uma já aprendida é a forma da solução de problemas. Seria uma forma nova da evolução da aprendizagem. Desta forma, chega-se às estratégias mentais, ao aprender e à pensar.

 

Ovide Decroly

Ovide Decroly, pedagogo belga ( nasceu em Renaix(1871) e morreu em Bruxelas (1932). Suas pesquisas em psicologia infantil levaram-no, como a Maria Montessori, à criação de um novo sistema de ensino primário. Para Decroly, a finalidade da Educação seria preparar a criança para a vida. Daí o lema que indicava: "Escola para a vida". Partindo de tal princípio, defendia a acomodação do ensino aos diversos tipos de evolução, levando-se em conta a constituição pessoal e as exigências do meio. donde a necessidade de testes, a fim de obter-se o máximo rendimento do ensino. As crianças devem ser organizadas em classes homogêneas, e as anormais, reunidas em classes especiais. Alguns professores brasileiros fizeram aplicação do sistema de Decroly, como Lourenço Filho e Abner de Moura.

Ovide Decroly

Suas obras principais são: Casos de psicologia individual e de psicologia experimental (1908); Função de Globalização (1923); Evolução da afetividade (1927); Desenvolvimento da Linguagem (1930).

    Sua obra educacional destaca-se pelo valor que colocou nas condições do desenvolvimento infantil; destaca o caráter global da atividade da criança e a função de globalização do ensino. Como pioneiro da chamada Educação Nova, a pedagogia de Decroly é baseada na noção de centros de interesse, um sistema de conhecimentos reagrupados em torno dos interesses e das necessidades fundamentais da criança, a partir do qual se elaboram estudos temáticos. Outra característica é a abordagem global da realidade concreta e da vida, o que o impulsionou a propor um novo método de leitura "global". Além disso, ele atribuiu grande importância aos jogos educativos e às atividades "naturais" (trabalhos manuais, jardinagem, etc.).

     Suas teorias têm um fundamento psicológico e sociológico e podemos resumir os critérios de sua metodologia no interesse e na auto avaliação. Promove o trabalho em equipe, mas, mantendo a individualidade do ensino com o fim de preparar o educando para a vida. A ausência de ideais religiosos é uma das características de seu modelo pedagógico.

     Como consequência de sua formação tinha a convicção de que somente uma formação científica rigorosa pode ajudar na busca de soluções para os problemas que a humanidade apresenta. Sua proposta contém diversos elementos: um método de análise, uma ética e uma filosofia fortemente impregnadas de cientificismo, influenciado pela corrente filosófica racionalista, especialmente de H. Spencer.

     Postulava que a escola, considerada a instituição humana mais elevada, devia modificar-se de maneira profunda. Sua crítica sobre a escola era bastante severa, já que segundo ele, não cumpria com seus propósitos e para ele o futuro de um povo dependia da organização e influência da escola.

     Para ele, a educação não se constitui em uma preparação para a vida adulta; a criança deve aproveitar sua juventude e resolver as dificuldades compatíveis ao seu momento de vida.

     Como pressuposto básico postulava que a necessidade gera o interesse, verdadeiro móvel em direção ao conhecimento. Essas necessidades básicas do homem em sua troca com o meio, seriam: a alimentação, a defesa contra intempéries, a luta contra perigos e inimigos e o trabalho em sociedade, descanso e diversão. 

     Desse pressuposto deriva sua proposta de organização da escola.

Seu método, mais conhecido como centros de interesse, destinava-se especialmente às crianças das classes primárias. Nesses centros, a criança passava por três momentos:

OBSERVAÇÃO: não acontece em uma lição, nem em um momento determinado da técnica educativa, pois, deve ser considerada como uma atitude, chamando a atenção do aluno constantemente.

ASSOCIAÇÃO: permite que o conhecimento adquirido pela observação seja entendido em termos de tempo e espaço.

EXPRESSÃO: por esse meio a criança poderia externar sua aprendizagem, através de qualquer meio de linguagem, integrando os conhecimentos adquiridos, de maneira globalizadora. A expressão seria a culminância do processo e nela pode-se destacar: Expressão concreta (materialização das observações e criações pessoais; se traduz em desenho livre, trabalhos manuais...).

    Expressão abstrata (materialização do pensamento através de símbolos e códigos convencionais; apresenta-se no texto livre, linguagem matemática, musical...).

      Para ele a atividade globalizadora se exerce de maneira espontânea e permite aquisições como a linguagem, o conhecimento sobre o meio material, vivo e social, assim como a adaptação a uma série de formas de atividades.

    De acordo com *Zabala (p.203, 2002) as justificativas de Decroly baseiam-se em argumentos pragmáticos baseados em sua experiência:

    "A criança é o ponto de partida do método". O fato de partir de uma base biopsicológica e da observação sistemática facilita a percepção de que as diferenças individuais tanto em relação às aptidões, quanto ao tempo de maturação são muito grandes e a origem desse tipo de diversidade encontra-se no próprio indivíduo e no ambiente. Deste modo, a criança é um ser biológico que se adapta evolutivamente às mudanças de seu entorno.

    O respeito à personalidade do aluno. "A educação deve estar para a vida e mediante a vida. A resposta à imobilidade que condena a uma escola passiva é o ensino ativo, que permite ao aluno ou à aluna atuar como o inventor ou o artista, ou seja, fazendo tentativas - ensaios e erros". (Decroly).

    O interesse é a chave de toda a aprendizagem eficaz, mas não qualquer interesse e sim, aquele que advém das necessidades primárias e da manifestação dos instintos.

    A vida como educadora. A eficácia do meio é decisiva. Pelo fato de considerar as aquisições que a criança adquiriu antes de ir para a escola leva Decroly a pensar que a maioria das aprendizagens ocorre de maneira espontânea, pelo contato com o meio imediato.

    As crianças são seres sociais. A escola precisa ser pensada de forma a favorecer o desenvolvimento das tendências sociais latentes na pessoa.

    A atividade mental é organizada em muitos aspectos pela função globalizadora e pelas tendências que predominam nos sujeitos. Decorrem disto as diversas significações que adquirem os objetos, os acontecimentos, etc., para cada pessoa em cada momento de sua vida.

    Concedia muita importância à natureza.

    O principal valor que o preocupava era a liberdade e como conciliar as liberdades individuais com as coletivas.

     Não havia um programa pré fixado. Do ato de comer poderia surgir o estudo da alimentação, a origem dos alimentos, sua classificação, os preços, o preparo, a produção. E, com a curiosidade infantil e o desenvolvimento das crianças, surgiriam noções de geografia, história, ciências, redação, desenho, matemática.

     Decroly não esquece de nada que a escola devesse ensinar à criança; o que ele fez foi transformar a maneira de aprender e ensinar, adequando-as à psicologia infantil. Os exercícios de observação, fundamento das aprendizagens, fazem a inteligência trabalhar com materiais recolhidos pelos sentidos e pela experiência da criança, levando em conta seus interesses. Contrariamente à Montessori, Decroly estimula o uso pela criança de objetos concretos, do mundo real, recorrendo à experiência direta e à intuição. Como Claparède, concedeu amplo espaço ao jogo.

     Não existe uma síntese "doutrinal" reunida por ele do conjunto de suas concepções e princípios educativos ou suas investigações sobre psicologia, o que implica numa certa dificuldade para estudar o conjunto de seus textos.

     Algumas críticas feitas às concepções pedagógicas aqui expostas, apontam que as necessidades básicas postuladas por ele, são as dos adultos, e não a das crianças. E ainda, a de que, o objetivo do trabalho escolar continua sendo a aquisição de conhecimentos predeterminados, pois, os centros de interesse, apenas fariam uma reorganização dos conhecimentos contidos nas matérias escolares, apesar de proporem atividades que vão do empírico ao abstrato e também que deixa de lado a realidade socioeconômica e cultural em que as crianças estão imersas. Alguns autores consideram que o projeto decroliano baseou-se nas preocupações da classe intelectual dirigente de seu tempo: este contexto cultural, social, econômico, político e ideológico constituíram a fundamentação de onde surgiram as bases de quem fundou em 1907, em Bruxelas, a escola de L'Ermitage, com o lema " a escola por e para a vida"


 

Henri Wallon

 


Henri Wallon, médico e psicólogo nasceu na França em 1879. especializou-se em psicologia infantil e lecionou na Sorbonne e em seguida no Collége de France. Antes de chegar à psicologia passou pela filosofia e medicina e  ao longo de sua carreira foi cada vez mais explícita a aproximação com a educação. Sua obra está centrada na noção de desenvolvimento afetivo e intelectual da criança. Wallon foi o primeiro a levar em consideração as  emoções da criança  no contexto da sala de aula. Fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação individual da criança. Suas Principais obras são: As origens do caráter na criança (1934-1949), Do ato ao pensamento (1942), As origens do pensamento na criança (1945).


 Henri Wallon


    Em 1902, com 23 anos, formou-se em filosofia pela Escola Normal Superior, cursou também medicina, formando-se em 1908.Viveu num período marcado por instabilidade social e turbulência política. As duas guerras mundiais (1914-18 e 1939-45), o avanço do fascismo no período entre guerras, as revoluções socialistas e as guerras para libertação das colônias na África atingiram boa parte da Europa e, em especial, a França. Em 1914 atuou como médico do exército francês, permanecendo vários meses no front de combate. O contato com lesões cerebrais de ex-combatentes fez com que revisse posições neurológicas que havia desenvolvido no trabalho com crianças deficientes. Até 1931 atuou como médico de instituições psiquiátricas. Paralelamente à atuação de médico e psiquiatra consolida-se seu interesse pela psicologia da criança. Na Segunda Guerra atuou na Resistência Francesa contra os alemães, foi perseguido pela Gestapo, teve que viver na clandestinidade. De 1920 a 1937, é o encarregado de conferências sobre a psicologia da criança na Sorbonne e outras instituições de ensino superior. Em 1925 funda um laboratório destinado à pesquisa e ao atendimento de crianças ditas deficientes. Ainda em 1925 publica sua tese de doutorado “A Criança Turbulenta”. Inicia um período de intensa produção com todos os livros voltados para a psicologia da criança. O último livro “Origens do pensamento na criança’, em 1945. Em 1931 viaja para Moscou e é convidado para integrar o Círculo da Rússia Nova, grupo formado por intelectuais que se reuniam com o objetivo de aprofundar o estudo do materialismo dialético e de examinar as possibilidades oferecidas por este referencial aos vários campos da ciência.
    Neste grupo o marxismo que se discutia não era o sistema de governo, mas a corrente filosófica. Em 1942, filiou-se ao Partido Comunista, do qual já era simpatizante. Manteve ligação com o partido até o final da vida. Em 1948 cria a revista ‘Enfance”. Neste periódico, que ainda hoje tenta seguir a linha editorial inicial, as publicações servem como instrumento de pesquisa para os pesquisadores em psicologia e fonte de informação para os educadores. Faleceu em 1962.

A ABORDAGEM DE HENRI WALLON  

 A gênese da inteligência para Wallon é genética e organicamente social, ou seja, "o ser humano é organicamente social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura para se atualizar" (Dantas, 1992). Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Wallon é centrada na psicogênese da pessoa completa.

Henri Wallon reconstruiu o seu modelo de análise ao pensar no desenvolvimento humano, estudando-o a partir do desenvolvimento psíquico da criança. Assim, o desenvolvimento da criança aparece descontínuo, marcado por contradições e conflitos, resultado da maturação e das condições ambientais, provocando alterações qualitativas no seu comportamento em geral.

Wallon realiza um estudo que é centrado na criança contextualizada, onde o ritmo no qual se sucedem as etapas do desenvolvimento é descontínuo, marcado por rupturas, retrocessos e reviravoltas, provocando em cada etapa profundas mudanças nas anteriores. Nesse sentido, a passagem dos estágios de desenvolvimento não se dá linearmente, por ampliação, mas por reformulação, instalando-se no momento da passagem de uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da criança.

Conflitos se instalam nesse processo e são de origem exógena quando resultantes dos desencontros entre as ações da criança e o ambiente exterior, estruturado pelos adultos e pela cultura e endógenos e quando gerados pelos efeitos da maturação nervosa (Galvão, 1995). Esses conflitos são propulsores do desenvolvimento.

 Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano apresentados por Galvão (1995) sucedem-se em fases com predominância afetiva e cognitiva:

Impulsivo-emocional, que ocorre no primeiro ano de vida. A predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas, às quais intermediam sua relação com o mundo físico; Sensório-motor e projetivo, que vai até os três anos. A aquisição da marcha e da apreensão, dão à criança maior autonomia na manipulação de objetos e na exploração dos espaços. Também, nesse estágio, ocorre o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. O termo projetivo refere-se ao fato de a ação do pensamento precisar dos gestos para se exteriorizar. O ato mental "projeta-se" em atos motores. Como diz Dantas (1992), para Wallon, o ato mental se desenvolve a partir do ato motor;

Personalismo, ocorre dos três aos seis anos. Nesse estágio desenvolve-se a construção da consciência de si mediante as interações sociais, reorientando o interesse das crianças pelas pessoas;

Categorial. Os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para as coisas, para o conhecimento e conquista do mundo exterior;

Predominância funcional. Ocorre nova definição dos contornos da personalidade, desestruturados devido às modificações corporais resultantes da ação hormonal. Questões pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona.

Na sucessão de estágios há uma alternância entre as formas de atividades e de interesses da criança, denominada de "alternância funcional", onde cada fase predominante (de dominância, afetividade, cognição), incorpora as conquistas realizadas pela outra fase, construindo-se reciprocamente, num permanente processo de integração e diferenciação.

Wallon, deixou-nos uma nova concepção da motricidade, da emotividade, da inteligência humana e, sobretudo, uma maneira original de pensar a Psicologia infantil e reformular os seus problemas. 

Psicogênese da Pessoa Completa 

Wallon procura explicar os fundamentos da psicologia como ciência, seus aspectos epistemológicos, objetivos e metodológicos.
Admite o organismo como condição primeira do pensamento, pois toda a função psíquica supõe um componente orgânico. No entanto, considera que não é condição suficiente, pois o objeto de ação mental vem do ambiente no qual o sujeito está inserido, ou seja, de fora. Considera que o homem é determinado fisiológica e socialmente, sujeito às disposições internas e às situações exteriores.

Psicologia Genética 

A psicologia genética estuda os processos psíquicos em sua origem, parte da análise dos processos primeiros e mais simples, pelos quais cronologicamente passa o sujeito. Para Wallon essa é a única forma de não dissolver em elementos separados e abstratos a totalidade da vida psíquica. Wallon propõe a psicogênese da pessoa completa, ou seja, o estudo integrado do desenvolvimento. Considera que não é possível selecionar um único aspecto do ser humano e vê o desenvolvimento nos vários campos funcionais nos quais se distribui a atividade infantil (afetivo, motor e cognitivo).

Para ele o estudo do desenvolvimento humano deve considerar o sujeito como “geneticamente social” e estudar a criança contextualizada, nas relações com o meio. Wallon recorreu a outros campos de conhecimento para aprofundar a explicação do fatores de desenvolvimento (neurologia, psicopatologia, antropologia, psicologia animal).

Para ele a atividade do homem é inconcebível sem o meio social; porém as sociedades não poderiam existir sem indivíduos que possuam aptidões como a da linguagem que pressupõe uma conformação determinada do cérebro,  haja vista que certas perturbações de sua integridade, privam o indivíduo da palavra. Vemos então que para ele não é possível dissociar o biológico do social no homem. Esta é uma das características básicas da sua Teoria do Desenvolvimento.

De acordo com Dantas (1992) Wallon concebe o homem como sendo genética e organicamente social e a sua existência se realiza entre as exigências da sociedade e as do organismo. 

Manteve interlocução com as teorias de Piaget e Freud. 

Destacava na teoria de Piaget as contradições e dessemelhanças entre as suas teorias, pois considerava esse o melhor procedimento quando se busca o conhecimento. Por parte de Piaget existia uma constante disposição em buscar a continuidade e complementariedade de suas obras. Os dois se propunham a análise genética dos processos psíquicos, no entanto, Wallon pretendia a gênese da pessoa e Piaget a gênese da inteligência.

Com a psicanálise de Freud mantém uma atitude de interesse e ao mesmo tempo de reserva. 
Embora com formação similar (neurologia e medicina) a prática de atuação os levou a caminhos distintos. Freud abandonando a neurologia para dedicar-se a terapia das neuroses e Wallon mantém-se ligado a esta devido ao seu trabalho com crianças com distúrbios de comportamento.

O método adotado por Wallon é o da observação pura. Considera que esta metodologia permite conhecer a criança em seu contexto, “só podemos entender as atitudes da criança se entendermos a trama do ambiente no qual está inserida”.


 

DEWEY e a Escola Progressista

 

John Dewey (1859-1952) foi um filósofo, psicólogo e educador pragmático comumente considerado como o fundador do movimento educacional progressista. Dewey nasceu em Burlington, Vermont, em 20 de outubro de 1859.  tornou-se um dos maiores pedagogos americanos, contribuindo intensamente para a divulgação dos princípios do que se chamou de Escola Nova.
John Dewey
A bibliografia a seguir faz referência a seus trabalhos mais populares sobre educação.
Meu Credo Pedagógico (1897);
A Escola e a Sociedade (1900);
Criança e o Currículo (1902)
Democracia e Educação: Uma Introdução à Filosofia da Educação (1916);
Como pensamos: Uma reafirmação da relação do pensamento reflexivo com o processo educativo (1933);
Experiência e Educação (1938)

     Estudou nas Universidades de Vermont e Johns Hopkins, recebeu nessa última, em 1884, o grau de doutor em filosofia. Ensinou na universidade de Chicago, aonde veio a ser chefe do departamento de filosofia, psicologia e pedagogia, e onde, por sugestão sua, se agruparam essas três disciplinas em um só departamento. Ainda em Chicago fundou uma escola experimental, na qual foram aplicadas algumas das suas mais importantes ideias: a da relação da vida com a sociedade, dos meios com os fins e da teoria com a prática.

    Em 1904 assumiu a direção do Departamento de Filosofia da Universidade de Colúmbia, em New York, na qual permaneceu até retirar-se do Ensino. A partir de primeira guerra mundial interessou-se pelos problemas políticos e sociais. Deu cursos de filosofia e educação na universidade de Pequim em 1919 e em 1931; elaborou um projeto de reforma educacional para a Turquia, em 1924; visitou o México, o Japão e a U.R.S.S., estudando os problemas da educação nesses países. Ao falecer, em 1952, com 92 anos de idade.

    O pragmatismo filosófico de Dewey, a preocupação coma interação, a reflexão e a experiência, e o interesse pela comunidade e pela democracia, foram reunidos para formar uma forma educativa altamente sugestiva. John Dewey é frequentemente deturpado - e erroneamente associado à educação centrada na criança. Em muitos aspectos, seu trabalho não pode ser facilmente inserido em qualquer uma das tradições curriculares que dominaram as tradições de ensino norte-americanas e britânicas.

    Dewey não aceita  a educação pela instrução proposta por Herbart, propondo a educação pela ação; critica severamente a educação tradicional, principalmente no que se refere a ênfase dada ao intelectualismo e a memorização.
   Para Dewey, 
o conhecimento é uma atividade dirigida que não tem um fim em si mesmo, mas está dirigido para a experiência. As ideias são hipóteses de ação e são verdadeiras quando funcionam como orientadoras dessa ação.
     A educação tem como finalidade   propiciar à criança condições para que resolva por si própria os seus problemas, e não as tradicionais ideias de formar a criança de acordo com modelos prévios, ou mesmo orientá-la para um porvir.
     Tendo o conceito de experiência como fator central de seus pressupostos, 
chega à conclusão de que a escola não pode ser uma preparação para a vida, mas sim, a própria vida. Assim, para ele, vida-experiência e aprendizagem estão unidas, de tal forma que a função da escola se encontra em possibilitar uma reconstrução permanente feita pela criança da experiência.

     A educação progressiva está no crescimento constante da vida, na medida em que o conteúdo da experiência vai sendo aumentado, assim como o controle que podemos exercer sobre ela.

     É importante que o educador descubra os verdadeiros interesses da criança, para apoiar-se nesses interesses, pois para ele, esforço e disciplina, são produtos do interesse e somente com base nesses interesses a experiência adquiriria um verdadeiro valor educativo.

     Atribui grande valor às atividades manuais, pois apresentam situações problemas concretas para serem resolvidas, considerando ainda, que o trabalho desenvolve o espírito de comunidade, e a divisão das tarefas entre os participantes, estimula a cooperação e a consequente criação de um espírito social. Dewey concebe que o espírito de iniciativa e independência levam à autonomia e ao autogoverno, que são virtudes de uma sociedade realmente democrática, em oposição ao ensino tradicional que valoriza a obediência.

      A Educação, para ele, é uma necessidade social, os indivíduos precisam ser educados para que se assegure a continuidade social, transmitindo suas crenças, ideias e conhecimentos. Ele não defende o ensino profissionalizante, mas vê a escola voltada aos reais interesses dos alunos, valorizando sua curiosidade natural.

     De acordo com os ideais da democracia, Dewey, vê na escola o instrumento ideal para estender a todos os indivíduos os seus benefícios, tendo a educação uma função democratizadora de igualar as oportunidades.

Advém dessa concepção o "otimismo pedagógico" da escola nova, tão criticado pelos teóricos das correntes crítico-reprodutivistas.

O processo de ensino- aprendizagem para Dewey estaria baseado em:

-Uma compreensão de que o saber é constituído por conhecimentos e vivências que se entrelaçam de forma dinâmica, distante da previsibilidade das ideias anteriores;

-Alunos e professor detentores de experiências próprias, que são aproveitadas no processo. O professor possui uma visão sintética dos conteúdos, os alunos uma visão sincrética, o que torna a experiência um  ponto central na formação do conhecimento, mais do que os conteúdos formais;

-Uma aprendizagem essencialmente coletiva, assim como é coletiva a produção do conhecimento.

        O conceito central do pensamento de Dewey é a experiência, a qual consiste, por um lado, em experimentar e, por outro, em provar. Com base nas experiências que prova, a experiência educativa torna-se para a criança num ato de constante reconstrução.
     A pedagogia de Dewey apresenta muitos aspectos inovadores, distinguindo-se especialmente pela oposição à escola tradicional. Mas, não questiona a sociedade e seus valores como estão propostos no seu tempo; sua teoria representa plenamente os ideais liberais, sem se contrapor aos valores burgueses, acabando por reforçar a adaptação do aluno à sociedade.


 

 

A Trajetória Histórica da Didática

   

A reabertura de estudos e discussões sobre Didática, como disciplina e campo de estudos, parece refletir mais um momento de crise em sua trajetória histórica. Será, pois, conveniente, revisitar esse percurso para que se pondere em que medida os processos de gênese e a evolução dessa disciplina poderão trazer esclarecimentos sobre seu objeto de estudos e a delimitação de seu campo. Pode-se, também, perguntar como o papel e o significado atribuídos a Didática no passado afetam seus problemas atuais, especialmente os que dizem respeito à autonomia do seu campo e ao relacionamento deste com áreas afins. 

Houve Um Tempo de Didática Difusa 

Como adjetivo - didático, didática - o termo é conhecido desde a Grécia antiga, com significação muito semelhante à atual, ou seja, indicando que o objeto ou a ação qualificada dizia respeito a ensino: poesia didática, por exemplo. No lar e na escola, procedimentos assim qualificados -didáticos - tiveram lugar e são relatados na história da Educação. Como objeto de reflexão de filósofos e pensadores, participam da história das ideias pedagógicas. 

A situação didática, pois, foi vivida e pensada antes de ser objeto de sistematização e de constituir referencial do discurso ordenado de uma das disciplinas do campo pedagógico, a Didática. Na longa fase que se poderia chamar de didática difusa, ensinava-se intuitivamente e/ou seguindo-se a prática vigente. De alguns professores conhecemos os procedimentos, podendo-se dizer que havia uma didática implícita em Sócrates quando perguntava aos discípulos: "pode-se ensinar a virtude?" ou na lectio e na disputatio medievais. Mas o traçado de uma linha imaginária em torno de eventos que caracterizam o ensino é fato do início dos tempos modernos, e revela uma tentativa de distinguir um campo de estudos autônomo. 

Século XVII: surgimento da Didática 

A inauguração de um campo de estudos com esse nome tem uma característica que vai ser encontrada na vida histórica da Didática: surge de uma crise e constitui um marco revolucionário e doutrinário no campo da Educação. Da nova disciplina espera-se reformas da Humanidade, já que deveria orientar educadores e destes, por sua vez, dependeria a formação das novas gerações. Justifica-se, assim, as muitas esperanças nela depositadas, acompanhadas, infelizmente, de outras tantas frustrações. 

Constata-se que a delimitação da Didática constituiu a primeira tentativa que se conhece de agrupar os conhecimentos pedagógicos, atribuindo-lhes uma situação superior à da mera prática costumeira, do uso ou do mito. A Didática surge graças a ação de dois educadores, RATÍQUIO e COMÊNIO, ambos provenientes da Europa Central, qua atuaram em países nos quais se havia instalado a Reforma Protestante (2). 

COMÊNIO escreveu, entre outras obras, a Didática Magna (3) , instituindo a nova disciplina como "arte de ensinar tudo a todos". Dessa ambição participa também RATÍQUIO, e ambos, pautados por ideais ético-religiosos, acreditam ter encontrado um método para cumprir aqueles desígnios de modo rápido e agradável. Na verdade a instrução popular é crucial para a reforma religiosa, e a busca de procedimentos que propiciassem rendimento ao ensino torna-se importante. Obedecem á utopia da época: a ideia baconiana da atenção á natureza - esta é o modelo que os didatas supõem imitar quando aconselham seguir sempre do fácil ao difícil, ir das coisas às ideias e do particular ao geral, tudo sem pressa. Numa época em que o latim dominava, propunham iniciar o ensino pela língua materna e por meio de livros ilustrados, como exemplificou COMÊNIO. Tem-se notícias de experiências educacionais realizadas conforme os princípios expostos, embora nem todas tivessem tido sucesso. Não existem fronteiras, na obra do século XVII, entre Educação e Ensino, pois o objeto da Didática abrange o ensino de conhecimentos, atitudes e sentimentos. 

Essa etapa da gênese da Didática a faz servir, com ardor, á causa da Reforma Protestante, e esse fato marca seu caráter revolucionário, de luta contra o tipo de ensino da Igreja Católica Medieval. Doutrinariamente, seu vínculo é com o preparo para a vida eterna e, em nome dela, com a natureza como "nosso estado primitivo e fundamental ao qual devemos regressar como princípio(4). 

Observa-se, entretanto, que, na Europa Ocidental Católica, outros pensadores também já haviam discutido, como humanistas, a reforma de procedimentos educacionais, contestando o medievalismo. É o caso de MONTAIGNE (1533-1592) em seus ensaios, e de RAMUS (1515-1572) na prática escolar. Mas é aos reformadores do século XVII que, como disse H. NOHL (5), deve-se a "autoconsciência" do proceder educativo, retirando as cogitações didático-pedagógicas da Filosofia, da Teologia ou da Literatura, onde, até essa época, encontravam abrigo. 

Conheçam Seus Alunos - diz Rousseau 

As instituições dos didatas parecem ter-se estiolado no decurso do tempo e a História da Educação consigna apenas iniciativas esparsas até o final do século XVIII. ROUSSEAU é o autor da segunda grande revolução didática. Não é um sistematizador da Educação, mas sua obra dá origem, de modo marcante, a um novo conceito de infância. O Século das Luzes, que tanto valoriza a razão, tem nos excessos românticos de ROUSSEAU o seu contraponto. Sob certos aspectos ele aparece como um continuador das ideias dos didatas, mas dá um passo além de suas doutrinas quando põe em relevo a natureza da criança e transforma o método num procedimento natural, exercido sem pressa e sem livros. 

A prática das ideias de ROUSSEAU foi empreendida, entre outros, por PESTALOZZI, que em seus escritos e atuação dá dimensões sociais a problemática educacional. O aspecto metodológico da Didática encontra-se, sobretudo, em princípios, e não em regras, transportando-se o foco de atenção às condições para o desenvolvimento harmônico do aluno. 

A valorização da infância (6) está carregada de consequências para a pesquisa e a ação pedagógicas, mas estas vão ainda aguardar mais de um século para concretizar-se. Enquanto COMÊNIO, ao seguir as "pegadas da natureza", pensava em "domar as paixões das crianças", ROUSSEAU parte da ideia da bondade natural do homem, corrompido pela sociedade. É em sua obra O Contrato Social que discute a reforma da sociedade, tão necessária quanto a reforma da Educação: por essa vertente de seu pensamento é que participa da renovação ideológica que precedeu à Revolução Francesa. 

Inflexão Metodológica Herbartiana, no Século XIX 

Na primeira metade do século XIX, João Frederico HERBART (1776-1841) deseja ser o criador de uma Pedagogia Científica, fortemente influenciada por seus conhecimentos de Filosofia e da Psicologia da época. Situa-se no plano didático ao defender a ideia da "Educação pela Instrução", bem como pela relevância do aspecto metodológico em sua obra. 0 método dos passos formais" celebrizou o autor, que o considerava próprio a toda e qualquer situação de ensino. Partindo da concepção de "massas aperceptivas" constituídas por conhecimentos anteriores, graças aos quais se aglutinam os novos, seguia ordem e sequência invariáveis(7) Teve sucesso na Europa, onde suas ideias foram defendidas e adaptadas por discípulos (ZILLER, REIN); e nos Estados Unidos, onde e reconhecida sua influência sobre THORNDIKE, também associacionista.

Os discípulos de HERBART, para dar praticidade a suas ideias, desdobraram essas etapas em: preparação, apresentação, associação, sistematização e aplicação.

HERBART tem o mérito de tornar a Pedagogia o "ponto central de um círculo de investigação próprio". No entanto, a Psicologia ainda não havia deixado o caminho do empirismo sensualista de origem filosófica e não ainda experimental. Seu propósito te futuro, mas os meios para realizá-lo eram ainda inadequados.

 

Seria HERBART um prolongamento da vertente metodológica dos didatas do século XVII? Constituiria um intervalo formalista no impulso que leva de ROUSSEAU à Escola Nova? Observe-se que os fundamentos de suas propostas, e estas mesmas, vieram a merecer críticas dos precursores da Escola Nova cujas ideias começam a propagar-se ao final do século XIX. 

Um Intervalo na Trajetória Histórica: comentário sobre o duplo aspecto da Didática 

Da original proposta didática do século XVII, duas linhas se destacam e estarão daí em diante em conflito. De um lado fica a linha metodológica, que, fundamentada no que se conhecia sobre a natureza no século XVII ou sobre a Psicologia no começo do século XIX, acentua o aspecto externo e objetivo do processo de ensinar, embora o faça em nome do sujeito (criança, aluno, aprendiz) que se pretende ensinar de modo eficiente. A linha oposta parte do sujeito, de seus anseios e necessidades, acentuando o perene interno do educando. 

Ora, esse aspecto metodológico da Didática que coloca sua atenção e força na tarefa do professor, e que acentua a ordem e a gradualidade do processo de ensino, foi esmaecido em ROUSSEAU, em benefício de uma outra ordem, aquela indicada pelo desenvolvimento da criança e dominada, sobretudo, por suas necessidades e inferes: Dá-se precedência ao aspecto subjetivo do processo, aspecto próprio ao aluno que e; aprendendo, sendo interdependentes e relacionados, esses dois polos do processo didático merecem, na história da Educação, localização diferente, destacando-se ora uma ora outra. Há mesmo uma espécie de luta ou competição entre eles, no decurso do tempo. 

A Didática do século XIX oscila entre esses dois modos de interpretar a relação didática ênfase no sujeito - que seria induzido, talvez "seduzido" a aprender pelo caminho com curiosidade e motivação - ou ênfase no método, como caminho que conduz do não-saber ao saber, caminho formal descoberto pela razão humana. 

No fundo revela-se a dialética das relações entre o homem e o meio. Pergunta-se o que é mais poderoso em Educação: o esforço auto-educativo do sujeito ou a pressão externa do meio social e cultural? Vemos que até esse século a questão não é resolvida e prol a dicotomização da Didática, separando um caminho "de fora para dentro" que excluí o outro, "de dentro para fora" e vice-versa. 

Quanto à relação entre Didática e Sociedade ocorre o seguinte: no século XVII, a constituição dos estados nacionais e a modernidade valorizam o ensino e desejam aumentar seu rendimento. O método é interpretado como uma defesa dos interesses da criança, que é peça importante de uma nova sociedade, a sociedade reformada de principados germânicos. Já o final do século XVIII é a época revolucionária, em que o feudalismo e a monarquia absoluta receberam seu golpe mortal. A pedagogia de ROUSSEAU deveria ter uma grande repercussão, pois estaria plenamente de acordo com a Declaração dos Direitos do Homem, de 1789. Tem, no entanto, ambiguidade: o exemplo educacional que propõe em seu romance, Emílio, é o de uma criança de família burguesa abastada, ocupando só para si um preceptor. Talvez por isso suas ideias não tenham sido praticadas senão em pequena escala e por uma personalidade excepcional: PESTALOZZI. São esquecidas diante do prestígio da corrente herbartiana. É o novo formalismo da burguesia que, segundo CHARLOT, volta facilmente á pedagogia dos jesuítas e encontra seu paradigma em HERBART. 

No entanto, estamos já no caminho do que se convencionou chamar o Estado representativo, seja na forma de monarquia constitucional (Inglaterra e França pós-revolução) ou na de república, na Europa e América dos séculos XIX e XX. O pressuposto é a igualdade entre os homens e a Educação política do povo, só conseguida se houver uma Educação liberal. Quanto aos Estados socialistas que se vão desenvolver a partir do primeiro quarto do século XX, a sua própria necessidade de reorganização política impunha um esforço de Educação, mas desconfiava dos rumos escolanovistas, que se anunciam. 

A Escola Nova 

Não é coincidência que a era do liberalismo e do capitalismo, da industrialização e urbanização tenha exigido novos rumos á Educação. Na burguesia dominante e enriquecida, a Escola Nova vai encontrar ressonância, com seus ideais de liberdade e atividade. 

É preciso considerar, no entanto, que já se iniciam as novas doutrinas socialistas que ao final do século vai ser progressivamente dominadas pelo marxismo. Na prática, o século assiste ao despontar dos poderes públicos com relação à escola popular, aos debates entre a escola laica e a confessional e às lutas entre orientações católicas e protestantes, em países atingidos pela Reforma. 

O grande desenvolvimento científico e técnico convive bem com as orientações pragmatistas que se desenvolvem na América, gerando novas ideias educacionais. A lenta descoberta da natureza da criança que a Psicologia do final do século XIX começa a desvendar sustenta uma atenção maior, nos aspectos interno e subjetivo do processo didático. Numa relação que só pode ser plenamente compreendida como de reciprocidade, uma nova onda de pensamento e ação faz o pêndulo oscilar para o lado do sujeito da Educação. 

O movimento doutrinário, ideológico, caracteriza-se por sua denominação mais comum: Escola Nova, também Renovada, Ativa ou Progressista, conforme as vertentes de sua atuação. Contrapõe-se, pois, a concepções consideradas antigas, tradicionais, voltadas para o passado. Apresenta-se com tonalidade crítica, contestadora, revolucionária e seus escritos têm, muitas vezes, um tom panfletário, proselitista, talvez utópico. É caso de distinguir-se o significado de novo e de recente pois o movimento declara, como precursores, todos aqueles que mesmo em outras eras atendem às condições da infância e poderiam entrar na fórmula consagrada de atender às crianças conforme seus Interesses, por meio de suas atividades e de um ambiente de liberdade. Nova seria, sobretudo, a amplidão do movimento e sua roupagem moderna. 

O movimento de ideias, que surge simultaneamente na Europa e na América, apresenta realizações. As primeiras ideias propõem a segregação dos alunos em internatos situados no campo, fórmula essa, certamente, só acessível à burguesia do século XX que enriquece no bojo da industrialização e de demais facetas do capitalismo florescente. Mas a doutrina e as realizações são suficientemente variadas para acolher tendências com vínculo social (KERSCHENSTEINER(8), nas escolas de Hamburgo; Freinet, na França) ou individual (Plano Dalton de H. PARKHURST), com valorização das realizações práticas (projetos) ou intelectuais (problemas) etc. A vertente americana é dominada por John DEWEY, que criou uma escola-laboratório na Universidade de Chicago, defendendo a metodologia da Escola Ativa, no âmbito de uma Escola Progressiva, comprometida com a expansão do ideal democrático americano. A fundamentação psicológica e filosófica encontra-se no pragmatismo de William JAMES, explicando-se assim a tendência de valorizar o conhecimento na medida em que este orienta a ação. 

Na Europa como nos Estados Unidos, pode-se arrolar tendências diferentes: a psicopedagogia com CLAPARÈDE, FERRIÈRE, BOVET; a medicina pedagógica com MONTESSORI e DECROLY ou a sociopedagogia de FREINET, DEWEY, KERSCHENSTEINER e COUSINET. A base psicológica é predominantemente funcionalista, mas afastando-se tanto do pragmatismo americano quanto das influências do associacionismo (9); no entanto, os fundamentos sociológicos divergem, indo da linha socialdemocrata â socialista. 

Um dos representantes do movimento, Adolphe FERRIÈRE, afirma que o termo Escola Ativa era desconhecido até 1918 e só se divulgou amplamente a partir do final da Primeira Guerra Mundial. Na verdade, a expansão da Escola Nova ou Ativa data dessa ocasião. Preocupam-se os pedagogos, já nessa fase, em evitar um novo formalismo, considerando que se tratava de uma experiência aberta, em termos de programas e métodos, mas centrada em torno do ideal de uma "atividade espontânea, pessoal e produtiva". FERRIÈRE reclama a necessidade de que se ponha à prova os princípios teóricos de seus organizadores. 

Mas, haveria uma teoria única, de Educação ou de ensino? Parece-me que, sobretudo, formou-se um amálgama doutrinário que tinha raízes no naturalismo em seu aspecto filosófico do respeito à criança, nas novíssimas pesquisas psicológicas que destacam a atividade interessada e espontânea como fonte de conhecimento, e nos movimentos sociais cujo denominador comum -entre socialismos e democracias - é a exigência da participação de toda a população nas decisões políticas, uma igualdade teórica. 

No Final do Século, a Didática Oscila Entre Diferentes Paradigmas 

“Um paradigma (ou um conjunto de paradigmas) é aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma.” 

O associacionismo ("associação de ideias") vincula-se ao automatismo de um ensino baseado em repetição e exercício. 

Funcionalismo e pragmatismo, por sua vez, acentuam a função do conhecimento, a "aprendizagem com um fim em vista “. Tornam-se, na prática, mais ou menos utilitaristas, conforme os objetivos valorizados. 

Trocando-se a palavra "científica" por "educacional" obtém-se uma afirmativa que merece ser considerada. Qual o paradigma compartilhado, quanto á Didática? Como é que a comunidade educacional interpreta esse paradigma? 

Considero que a dificuldade de responder a essas questões encontra-se no fato de que não há um paradigma, mas talvez paradigmas em conflito. E atrevo-me a dizer que boa parte dessa situação se deve a uma espécie de contaminação entre a Didática disciplina e o conteúdo dos cursos. Explicando melhor, o continente didático acolhe diferentes conteúdos, em termos de tendências doutrinárias ou teóricas. Ou seja, algumas obras ou cursos privilegiam determinadas inflexões-sociológicas, psicológicas, filosóficas -, mas nem sempre as mesmas. Interpretam o Ensino de muitos modos. Há diferenças entre posições teóricas e diretrizes metodológicas ou tecnológicas. E condena-se o continente por seu conteúdo.

Na verdade, há uma ação de "retorno" do segundo sobre o primeiro e pode-se acusar certas restrições à Didática (quando se torna somente uma série de técnicas docentes ...) ou certas expansões da área (quando se expande até tornar-se uma sociopolítica do ensino). Há outros exemplos, facilitados pela complexidade do fenômeno didático, por seus múltiplos aspectos, pelo comprometimento da sala de aula com a escola, com a comunidade, com a sociedade, com a cultura que interpreta a realidade da vida. 

Tomar consciência que a Didática hoje oscila entre diferentes paradigmas pode ser algo muito auspicioso para a comunidade pedagógica. Na verdade, ela nunca foi monolítica: é o que prova a própria necessidade de adjetivação adotada tantas vezes: Didática renovada, ativa, nova, tradicional, experimental, psicológica, sociológica, filosófica, moderna, geral, especial etc. Hoje, menos do que nunca. Mas o exame crítico de seus contornos, e sobretudo do núcleo de sua contribuição à Educação, tem a obrigação de evitar que se peça a essa disciplina que dê mais do que lhe compete produzir, ou bem menos do que dela se espera: inchar ou encolher não são sintomas de boa saúde. Também não será um bom remédio aquele que mate o paciente: colocando-se a disciplina como derivação ou parte de outra de caráter tecnológico ou sociológico. Pois é certo que a Didática tem uma determinada contribuição ao campo educacional, que nenhuma outra disciplina poderá cumprir. E nem a teoria social ou a econômica, nem a cibernética ou a tecnologia do ensino, nem a psicologia aplicada à Educação atingem o seu núcleo central: o Ensino. Esse núcleo, que tantas vezes ficou obscurecido pelo conceito de Método, algo que deveria ser entregue, "presenteado" ao professor, e outras pela relevância do sujeito-aluno, unilateralmente e individualmente, sem que se pudesse discernir a dialética professor - aluno (no singular, como no plural) que deve nortear as pesquisas sobre o processo. 

É como decorrência desse conceito nuclear que se situam as inquietações da Didática atual. É esse conceito que é objeto de controvérsias teóricas, que às vezes levam a disputa ao campo interdisciplinar do "currículo", como que exigindo da Didática que proceda ã sua invasão, já que o conteúdo do ensino - o "o quê" se ensina - tanto pode ser problema didático quanto curricular. Outras vezes leva a outro campo inter-relacionado, o da Psicologia do Desenvolvimento ou Aprendizagem, já que o êxito do processo de Ensino, aquilo mesmo que justifica tentá-lo, é a Aprendizagem. E, conforme a Teoria, surge todo o problema do desenvolvimento intelectual, afetivo, moral, social, igualmente interdisciplinar. Mais um problema de limites, e crucial, está nas outras questões: por que ensinar? e para quê? E chegamos aos limites da Filosofia da Educação, da Sociologia, da Política, pelo menos. Já se disse que, tomando de empréstimo ideias exteriores à Pedagogia, esta se encontrava sempre em atraso em relação aos sistemas filosóficos interpretativos do mundo. Aplica-se essa crítica á Didática? 

Dei esses exemplos para mostrar que o inter-relacionamento da Didática com outras áreas do conhecimento é intenso e constante, o que de modo algum prejudica sua autonomia, mas, ao contrário, vem enriquecê-la. Há alguns anos, visualizei a situação didática como um tronco de cone no qual uma secção menor (a) refletindo o plano da relação humana, vivido na situação didática típica; uma secção intermediária (b) destacando o aspecto técnico do ensino; e a mais ampla (c), que chamei de região cultural, na qual se decidem objetivos e conteúdo. Mas a situação repousa sobre bases que abrangem todos os aspectos da sociedade. Ora, a Didática como disciplina continente deverá abranger conteúdos capazes de resolver os problemas dos três planos em sua dimensão diacrônica ou evolutiva (níveis, etapas) e sincrônica ou horizontal (diversidade de conteúdos), considerando, ainda, como o fez o Prof. Luiz Alves de MATTOS, o ciclo docente (previsão, execução, avaliação). 

Qual a Situação Atual da Didática? 

Chegou o momento de procurar responder às questões iniciais, que giram em torno do objeto de estudos e da delimitação do campo da Didática, de sua autonomia e relacionamento com outras áreas de conhecimento e reflexão. 

Verificou-se que o título Didática iniciou-se há cerca de três séculos, com os "didatas", o que não significa que sejam estes os autores da palavra, já corrente como qualificativo. Passa a reunir sob essa rubrica os conhecimentos que cada época valoriza sobre o processo de ensinar. No decurso do tempo outros termos tentam tomar a si os conteúdos didáticos (Pedagogia, Metodologia etc.), mas a Didática persiste em manter seu conteúdo. 

Há um significado ambíguo que ora acentua o Ensino como modelagem/armazenagem, ora o entende como desenvolvimento/desabrochamento. Não seria tão importante delimitar o campo e distinguir o objeto da Didática, não fora a estranha questão que encontrei. 

Novos modos de interpretar o fenômeno Ensino, orientações práticas derivadas de teorias diferentes, desencadeiam, parece-me, a necessidade de encontrar um novo nome para um procedimento e uma reflexão que se alteraram: se chamam o ensino de "direção da aprendizagem", exigem nova denominação para a disciplina que dele se ocupa. Os adjetivos que são acrescentados à Didática parecem periodicamente cumprir esse papel de alterá-la ao sabor do seu conteúdo. 

Acontece, no caso, uma confusão entre uma disciplina e o que se conhece a respeito de seu campo. Ora, uma disciplina, campo de estudos, ciência ou arte, não pode ser confundida com os conhecimentos que constituem o seu conteúdo próprio. Se este é impreciso e mutável, é porque ainda não se "pôs a casa em ordem". Inventariar, ordenar, organizar o que se conhece sobre Didática, á base da abundante experimentação desta segunda metade do século, seria um dos meios de trabalhar esse setor. Refletir e interpretar esses conhecimentos seria o fundamental. 

Condenar a Didática porque seu conteúdo não é satisfatório não resolve nossos problemas práticos, seria como condenar a Medicina porque ainda não resolveu o problema do resfriado comum. Se é indefinido o conteúdo, parece mais lógico que se procure o núcleo fundamental da Didática do que suas fronteiras, nesta era em que a interdisciplinaridade não só é aceita, mas procurada.

Conseguindo-se apontar o núcleo dos estudos didáticos, ou seja, o Ensino, como intenção de produzir aprendizagem e sem delimitação da natureza do resultado possível (conhecimento físico, social, artístico, atitudes morais ou intelectuais, por exemplo), e de desenvolver a capacidade de aprender e compreender, é fácil entender que suas fronteiras devem sei fluidas. E que essa fluidez é qualidade e não defeito, pois permite sua aproximação com conhecimentos psicológicos, sociológicos, políticos, antropológicos, filosóficos ou outros. 

Mas, afinal, será mesmo a Didática apenas uma orientação para a prática, uma espécie de receituário do bom ensino? Esse é um dos mais discutidos problemas da disciplina. Se assim fosse não valeria a atenção de tantos, embora possa até chegar lá, como qualquer disciplina que comporta aplicações práticas. Mas a teorização em Didática é quase uma fatalidade: em todas as discussões há, explícita ou implicitamente, uma tomada de posição teórica. Disse um eminente pensador, há muitos anos, que o pedagogo quase nunca foi o filósofo de sua pedagogia ... Assim é a Didática, que, como vimos, se aproxima de outras teorias, em sua necessidade de explicar as relações entre os eventos que estuda, pois, a função da teoria é a explicação.

Há alguns anos muitas esperanças foram depositadas nas teorias de Ensino ou da Instrução, que apareceram. Seriam, talvez, prematuras, de onde não se terem firmado. Ou não teriam, na ocasião, suporte empírico? Faltaria a elas, talvez, a organização dos termos teóricos e das relações predominantes para atingir as explicações aceitas pela comunidade educacional"? 

Não suponho que uma única teoria possa, de momento, dominar o campo da Didática. As eorias promissoras são interdisciplinares, o que não tem nada de estranho nem pejorativo, já que o ensino (já se disse como e por que) é basicamente complexo, só podendo ser compreendido a partir de outros elementos das ciências humanas e sociais. Assim, teríamos, talvez, de integrar modelos provenientes de diferentes áreas, desde que não fossem entre si contraditórios. Esta é a questão básica da interdisciplinaridade: a percepção de relações comuns, explicações coerentes, utilização dos mesmos métodos de pensamento. 

A Didática deve conviver com essa dupla feição, teórica e prática. Como a Medicina. E uma prática muito especial, pela responsabilidade social que a envolve, já que tem uma grande impregnação social. Mas são diferentes a elaboração de um rol de prescrições e o traçado de conjecturas, de proposições com diferentes graus de probabilidade, de hipóteses conduzidas pela teoria. Pois os caminhos didáticos, ao contrário do que julgam alguns tecnodidatas, são amplos e diferenciados e não estritos e exclusivos. 

Os novos rumos da experimentação didática oferecem uma libertação dos cânones estritos da pesquisa quantitativa, objetivada e controlada pela estatística. Não é o caso da substituição pura e simples de um tipo de investigação por outro, já que, conforme o problema, continua-se recorrendo a diferentes instrumentos. Aliás, a Humanidade, quando inventa novas técnicas, sempre ganha se não despreza as antigas, mas integra-as às modernas. Trata-se, pois, de ampliar o campo e absorver as auspiciosas modalidades da pesquisa qualitativa, hoje à disposição da Didática. 

É certo que alguns problemas surgem, específicos para a pesquisa em países por muito tempo dependentes, política ou economicamente. Aponta-se que tais países acentuam, a partir dos anos 60, as pesquisas de caráter socioeducativo, que versam sobre as relações entre a Educação e outros processos sociais, deixando de lado a pesquisa concernente aos processos individuais de aprendizagem e de ensino, "embora hoje se comece a entender", disse LATAPI(10), "que a solução de numerosos problemas sócio-educacionais depende em grande parte desse tipo de pesquisa". Mas a recíproca também é verdadeira, acrescento. 

Considerações Finais 

O percurso feito, do século XVII até nossos dias, indicou alguns marcos no desenvolvimento histórico da Didática. Viu-se que seu primeiro objeto, o Método, correspondendo ao modo de agir sobre o educando, recuou ao fundo do palco quando sua outra face, o próprio educando ou aprendiz, reclamou seus direitos. Um reviver metodológico, no século XIX, pôs em relevo as características de ordem e sequência, no processo didático, antes que a Escola Nova, retornando ao puerocentrismo, em sua aspiração científica, recorresse à psicologia da criança. 

O panorama do final do século XX não é simples. A Didática está impregnada de todas as inquietações da época e, entre as muitas frentes de pesquisa e exploração, ora requer auxílio da psicologia profunda de origem freudiana, ora recorre às correntes neomarxistas. A oscilação entre uma tendência psicológica que acentua a relevância da compreensão da inteligência humana e sua construção e outra que se apoia na visão sociológica das relações escola-sociedade, parece dominar o conteúdo da disciplina. Esta, em consequência, vai-se familiarizar com teorias de origem epistemológica e social, sem perder, no entanto, seu compromisso com a prática do ensino. Nos programas de Didática, essa fermentação ideológica nem sempre consegue um resultado harmônico: os novos temas ainda não tiveram função aglutinadora e veem-se programações enviesadas com exclusividade, de um lado ou de outro. Não se entenda, entretanto, que defendo a possibilidade de uma "Didática Marxista" ou "Didática Sociológica" ou "Didática Cognitivista (11) ou qualquer outra adjetivação que indique um ponto de vista exclusivo sobre seu campo de estudos. Pois ocorre que, por constituir-se a Didática numa disciplina que pode ser desmembrada em vários planos (exemplifiquei com os planos humano, técnico e cultural), vê-se que, em cada um deles, contribuições de áreas diferentes se tornam úteis e mesmo necessárias. Sua dupla dimensão (vertical e horizontal) e o ciclo didático sempre recomeçado, por outro lado, vinculam-na diretamente à prática e esta, em sua complexidade, exige recursos e técnicas, cuja eficiência é objeto de pesquisa e experimentação. Mas não existem duas Didáticas, uma teórica e outra prática: são duas faces da mesma moeda, e, como elas, interdependentes. 

Um esclarecimento final, sobre o conceito foco da Didática: o Ensino. Revela uma intenção: a de produzir aprendizagem; é palavra-ação, palavra-ordem, palavra-prospectiva, palavra que revela um resultado desejado. Mas, depois de PIAGET, não se pode mais entender o ensino como a simples apropriação de um conteúdo: uma informação, um conhecimento ou uma atitude, por exemplo. O ato assimilador, essência da aprendizagem legítima, correspondente ao ensino que merece esse nome, terá como subproduto (sub ou super?) alguma mobilização da inteligência redundando em progresso cognitivo, em capacidade ampliada para conhecer (ou aprender). É desse fenômeno que trata a Didática: do ensino que implica desenvolvimento, melhoria. E mais:

não se limita o bom ensino ao avanço cognitivo intelectual, mas envolverá igualmente progressos na afetividade, moralidade ou sociabilidade, por condições que são do desenvolvimento humano integral. 

Quero, ainda, deixar claro que, do meu ponto de vista, a Didática, como disciplina e campo de estudos, parece acelerar o progresso no sentido de uma autoconsciência de sua identidade - encontrada em seu núcleo central - e de sua necessária interdisciplinaridade. Conseguir plenamente a autonomia, sem prejudicar suas fecundas relações com disciplinas afins, é um projeto que, a meu ver, depende tanto de um esforço teórico e reflexivo, quanto de um avanço no campo experimental.

Amélia Domingues de Castro



 

 

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