Henri Wallon, médico e psicólogo nasceu na França em 1879. especializou-se em psicologia infantil e lecionou na Sorbonne e em seguida no Collége de France. Antes de chegar à psicologia passou pela filosofia e medicina e ao longo de sua carreira foi cada vez mais explícita a aproximação com a educação. Sua obra está centrada na noção de desenvolvimento afetivo e intelectual da criança. Wallon foi o primeiro a levar em consideração as emoções da criança no contexto da sala de aula. Fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação individual da criança. Suas Principais obras são: As origens do caráter na criança (1934-1949), Do ato ao pensamento (1942), As origens do pensamento na criança (1945).
A ABORDAGEM DE HENRI WALLON
A gênese da inteligência para Wallon é genética e organicamente social, ou seja, "o ser humano é organicamente social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura para se atualizar" (Dantas, 1992). Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Wallon é centrada na psicogênese da pessoa completa.
Henri
Wallon reconstruiu o seu modelo de análise ao pensar no desenvolvimento
humano, estudando-o a partir do desenvolvimento psíquico da criança.
Assim, o desenvolvimento da criança aparece descontínuo, marcado por
contradições e conflitos, resultado da maturação e das condições
ambientais, provocando alterações qualitativas no seu comportamento em
geral.
Wallon
realiza um estudo que é centrado na criança contextualizada, onde o
ritmo no qual se sucedem as etapas do desenvolvimento é descontínuo,
marcado por rupturas, retrocessos e reviravoltas, provocando em cada
etapa profundas mudanças nas anteriores. Nesse sentido, a passagem dos
estágios de desenvolvimento não se dá linearmente, por ampliação, mas
por reformulação, instalando-se no momento da passagem de uma etapa a
outra, crises que afetam a conduta da criança.
Conflitos
se instalam nesse processo e são de origem exógena quando resultantes
dos desencontros entre as ações da criança e o ambiente exterior,
estruturado pelos adultos e pela cultura e endógenos e quando gerados
pelos efeitos da maturação nervosa (Galvão, 1995). Esses conflitos são
propulsores do desenvolvimento.
Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano apresentados por Galvão (1995) sucedem-se em fases com predominância afetiva e cognitiva:
Impulsivo-emocional,
que ocorre no primeiro ano de vida. A predominância da afetividade
orienta as primeiras reações do bebê às pessoas, às quais intermediam
sua relação com o mundo físico; Sensório-motor e projetivo, que vai até
os três anos. A aquisição da marcha e da apreensão, dão à criança maior
autonomia na manipulação de objetos e na exploração dos espaços. Também,
nesse estágio, ocorre o desenvolvimento da função simbólica e da
linguagem. O termo projetivo refere-se ao fato de a ação do pensamento
precisar dos gestos para se exteriorizar. O ato mental "projeta-se" em
atos motores. Como diz Dantas (1992), para Wallon, o ato mental se
desenvolve a partir do ato motor;
Personalismo,
ocorre dos três aos seis anos. Nesse estágio desenvolve-se a construção
da consciência de si mediante as interações sociais, reorientando o
interesse das crianças pelas pessoas;
Categorial.
Os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para as
coisas, para o conhecimento e conquista do mundo exterior;
Predominância
funcional. Ocorre nova definição dos contornos da personalidade,
desestruturados devido às modificações corporais resultantes da ação
hormonal. Questões pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona.
Na
sucessão de estágios há uma alternância entre as formas de atividades e
de interesses da criança, denominada de "alternância funcional", onde
cada fase predominante (de dominância, afetividade, cognição), incorpora
as conquistas realizadas pela outra fase, construindo-se
reciprocamente, num permanente processo de integração e diferenciação.
Wallon, deixou-nos uma nova concepção da motricidade, da emotividade, da inteligência humana e, sobretudo, uma maneira original de pensar a Psicologia infantil e reformular os seus problemas.
Psicogênese da Pessoa Completa
Wallon procura explicar os fundamentos da psicologia como ciência, seus aspectos epistemológicos, objetivos e metodológicos.
Admite
o organismo como condição primeira do pensamento, pois toda a função
psíquica supõe um componente orgânico. No entanto, considera que não é
condição suficiente, pois o objeto de ação mental vem do ambiente no
qual o sujeito está inserido, ou seja, de fora. Considera que o homem é
determinado fisiológica e socialmente, sujeito às disposições internas e
às situações exteriores.
Psicologia Genética
A
psicologia genética estuda os processos psíquicos em sua origem, parte
da análise dos processos primeiros e mais simples, pelos
quais cronologicamente passa o sujeito. Para Wallon essa é a única forma
de não dissolver em elementos separados e abstratos a totalidade da
vida psíquica. Wallon propõe a psicogênese da pessoa completa, ou seja, o
estudo integrado do desenvolvimento. Considera que não é possível
selecionar um único aspecto do ser humano e vê o desenvolvimento nos
vários campos funcionais nos quais se distribui a atividade infantil
(afetivo, motor e cognitivo).
Para
ele o estudo do desenvolvimento humano deve considerar o sujeito como
“geneticamente social” e estudar a criança contextualizada, nas relações
com o meio. Wallon recorreu a outros campos de conhecimento para
aprofundar a explicação do fatores de desenvolvimento (neurologia,
psicopatologia, antropologia, psicologia animal).
Para
ele a atividade do homem é inconcebível sem o meio social; porém as
sociedades não poderiam existir sem indivíduos que possuam aptidões como
a da linguagem que pressupõe uma conformação determinada do cérebro,
haja vista que certas perturbações de sua integridade, privam o
indivíduo da palavra. Vemos
então que para ele não é possível dissociar o biológico do social no
homem. Esta é uma das características básicas da sua Teoria do
Desenvolvimento.
De acordo com Dantas (1992) Wallon concebe o homem como sendo genética e organicamente social e a sua existência se realiza entre as exigências da sociedade e as do organismo.
Manteve interlocução com as teorias de Piaget e Freud.
Destacava na teoria de Piaget as
contradições e dessemelhanças entre as suas teorias, pois considerava
esse o melhor procedimento quando se busca o conhecimento. Por parte de
Piaget existia uma constante disposição em buscar a continuidade e
complementariedade de suas obras. Os dois se propunham a análise
genética dos processos psíquicos, no entanto, Wallon pretendia a gênese da pessoa e Piaget a gênese da inteligência.
Com a psicanálise de Freud mantém uma atitude de interesse e ao mesmo tempo de reserva.
Embora com formação similar (neurologia e medicina) a prática de atuação os levou a caminhos distintos. Freud
abandonando a neurologia para dedicar-se a terapia das neuroses e
Wallon mantém-se ligado a esta devido ao seu trabalho com crianças com
distúrbios de comportamento.
O método adotado por Wallon é o da observação pura.
Considera que esta metodologia permite conhecer a criança em seu
contexto, “só podemos entender as atitudes da criança se entendermos a
trama do ambiente no qual está inserida”.
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