Ovide Decroly, pedagogo belga ( nasceu em Renaix(1871) e morreu em Bruxelas (1932). Suas pesquisas em psicologia infantil levaram-no, como a Maria Montessori, à criação de um novo sistema de ensino primário. Para Decroly, a finalidade da Educação seria preparar a criança para a vida. Daí o lema que indicava: "Escola para a vida". Partindo de tal princípio, defendia a acomodação do ensino aos diversos tipos de evolução, levando-se em conta a constituição pessoal e as exigências do meio. donde a necessidade de testes, a fim de obter-se o máximo rendimento do ensino. As crianças devem ser organizadas em classes homogêneas, e as anormais, reunidas em classes especiais. Alguns professores brasileiros fizeram aplicação do sistema de Decroly, como Lourenço Filho e Abner de Moura.
Suas obras principais são: Casos de psicologia individual e de psicologia experimental (1908); Função de Globalização (1923); Evolução da afetividade (1927); Desenvolvimento da Linguagem (1930).
Sua obra educacional destaca-se pelo valor que colocou nas condições do desenvolvimento infantil; destaca o caráter global da atividade da criança e a função de globalização do ensino. Como pioneiro da chamada Educação Nova, a pedagogia de Decroly é baseada na noção de centros de interesse, um sistema de conhecimentos reagrupados em torno dos interesses e das necessidades fundamentais da criança, a partir do qual se elaboram estudos temáticos. Outra característica é a abordagem global da realidade concreta e da vida, o que o impulsionou a propor um novo método de leitura "global". Além disso, ele atribuiu grande importância aos jogos educativos e às atividades "naturais" (trabalhos manuais, jardinagem, etc.).
Suas teorias têm um fundamento psicológico e sociológico e podemos resumir os
critérios de sua metodologia no interesse e na auto avaliação. Promove o
trabalho em equipe, mas, mantendo a individualidade do ensino com o fim de
preparar o educando para a vida. A ausência de ideais religiosos é uma das
características de seu modelo pedagógico.
Como consequência de sua formação tinha a convicção de que somente
uma formação científica rigorosa pode ajudar na busca de soluções para os
problemas que a humanidade apresenta. Sua proposta contém diversos elementos:
um método de análise, uma ética e uma filosofia fortemente impregnadas de
cientificismo, influenciado pela corrente filosófica racionalista,
especialmente de H. Spencer.
Postulava que a escola, considerada a instituição humana mais elevada, devia
modificar-se de maneira profunda. Sua crítica sobre a escola era bastante
severa, já que segundo ele, não cumpria com seus propósitos e para ele o futuro
de um povo dependia da organização e influência da escola.
Para ele, a educação não se constitui em uma preparação para a vida adulta; a
criança deve aproveitar sua juventude e resolver as dificuldades compatíveis ao
seu momento de vida.
Como pressuposto básico postulava que a necessidade gera o interesse, verdadeiro móvel em direção ao conhecimento. Essas necessidades básicas do homem em sua troca com o meio, seriam: a alimentação, a defesa contra intempéries, a luta contra perigos e inimigos e o trabalho em sociedade, descanso e diversão.
Desse
pressuposto deriva sua proposta de organização da escola.
Seu método,
mais conhecido como centros de interesse,
destinava-se especialmente às crianças das classes primárias. Nesses centros, a
criança passava por três momentos:
OBSERVAÇÃO: não acontece em uma lição, nem em um momento determinado da
técnica educativa, pois, deve ser considerada como uma atitude, chamando a
atenção do aluno constantemente.
ASSOCIAÇÃO: permite que o conhecimento adquirido pela observação seja
entendido em termos de tempo e espaço.
EXPRESSÃO: por esse meio a criança poderia externar sua aprendizagem,
através de qualquer meio de linguagem, integrando os conhecimentos adquiridos,
de maneira globalizadora. A expressão seria a culminância do processo e nela
pode-se destacar: Expressão concreta (materialização das
observações e criações pessoais; se traduz em desenho livre, trabalhos manuais...).
Expressão abstrata (materialização
do pensamento através de símbolos e códigos convencionais; apresenta-se no
texto livre, linguagem matemática, musical...).
Para
ele a atividade globalizadora se exerce de maneira espontânea e permite aquisições
como a linguagem, o conhecimento sobre o meio material, vivo e social,
assim como a adaptação a uma série de formas de atividades.
De acordo
com *Zabala (p.203, 2002) as justificativas de Decroly baseiam-se em
argumentos pragmáticos baseados em sua experiência:
"A
criança é o ponto de partida do método". O fato de partir de uma base
biopsicológica e da observação sistemática facilita a percepção de que as
diferenças individuais tanto em relação às aptidões, quanto ao tempo de
maturação são muito grandes e a origem desse tipo de diversidade encontra-se no
próprio indivíduo e no ambiente. Deste modo, a criança é um ser biológico que
se adapta evolutivamente às mudanças de seu entorno.
O respeito
à personalidade do aluno. "A educação deve estar para a vida e mediante a
vida. A resposta à imobilidade que condena a uma escola passiva é o ensino
ativo, que permite ao aluno ou à aluna atuar como o inventor ou o artista, ou
seja, fazendo tentativas - ensaios e erros". (Decroly).
O interesse
é a chave de toda a aprendizagem eficaz, mas não qualquer interesse e sim,
aquele que advém das necessidades primárias e da manifestação dos instintos.
A vida como
educadora. A eficácia do meio é decisiva. Pelo fato de considerar as aquisições
que a criança adquiriu antes de ir para a escola leva Decroly a pensar que a
maioria das aprendizagens ocorre de maneira espontânea, pelo contato com o meio
imediato.
As crianças
são seres sociais. A escola precisa ser pensada de forma a favorecer o
desenvolvimento das tendências sociais latentes na pessoa.
A atividade
mental é organizada em muitos aspectos pela função globalizadora e pelas
tendências que predominam nos sujeitos. Decorrem disto as diversas
significações que adquirem os objetos, os acontecimentos, etc., para cada
pessoa em cada momento de sua vida.
Concedia
muita importância à natureza.
O principal
valor que o preocupava era a liberdade e como conciliar as liberdades
individuais com as coletivas.
Não
havia um programa pré fixado. Do ato de comer poderia surgir o estudo da
alimentação, a origem dos alimentos, sua classificação, os preços, o preparo, a
produção. E, com a curiosidade infantil e o desenvolvimento das crianças,
surgiriam noções de geografia, história, ciências, redação, desenho, matemática.
Decroly não esquece de nada que a escola devesse ensinar à criança; o que ele
fez foi transformar a maneira de aprender e ensinar, adequando-as à psicologia
infantil. Os exercícios de observação, fundamento das aprendizagens, fazem a
inteligência trabalhar com materiais recolhidos pelos sentidos e pela
experiência da criança, levando em conta seus interesses. Contrariamente à
Montessori, Decroly estimula o uso pela criança de objetos concretos, do mundo
real, recorrendo à experiência direta e à intuição. Como Claparède, concedeu
amplo espaço ao jogo.
Não existe uma síntese "doutrinal" reunida por ele do conjunto de
suas concepções e princípios educativos ou suas investigações sobre psicologia,
o que implica numa certa dificuldade para estudar o conjunto de seus textos.
Algumas críticas feitas às concepções pedagógicas aqui expostas, apontam que as necessidades básicas postuladas por ele, são as dos adultos, e não a das crianças. E ainda, a de que, o objetivo do trabalho escolar continua sendo a aquisição de conhecimentos predeterminados, pois, os centros de interesse, apenas fariam uma reorganização dos conhecimentos contidos nas matérias escolares, apesar de proporem atividades que vão do empírico ao abstrato e também que deixa de lado a realidade socioeconômica e cultural em que as crianças estão imersas. Alguns autores consideram que o projeto decroliano baseou-se nas preocupações da classe intelectual dirigente de seu tempo: este contexto cultural, social, econômico, político e ideológico constituíram a fundamentação de onde surgiram as bases de quem fundou em 1907, em Bruxelas, a escola de L'Ermitage, com o lema " a escola por e para a vida"
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