quinta-feira, 26 de maio de 2022

Camões épico

 

Camões épico – Os Lusíadas

Já vimos que Camões teve uma vida muito atribulada e que viajou bastante, inclusive refazendo a rota de Vasco da Gama na viagem do descobrimento do caminho marítimo para as Índias. Conta a história que numa dessas viagens Camões e sua amada Dinamene naufragam às margens do rio Mekong, no Camboja. Nessa viagem Camões também trazia consigo um manuscrito de sua grande obra, Os Lusíadas. Muitas pessoas brincam com esse episódio dizendo que no momento do naufrágio, com aquela confusão, Camões não sabia a quem salvar, se a amada ou sua obra prima. No final do incidente, a amada morre e o manuscrito permanece intacto.

Publicado em 1572, o texto Os Lusíadas é considerado o maior poema épico da língua portuguesa, não só por sua extensão, mas por seu imenso valor literário e histórico. E porque sua extensão? Muitos alunos se assustam com o tamanho da obra, composta por dez cantos organizados contendo em média cento e dez oitavas, perfazendo um total de oito mil oitocentos e dezesseis (8.816) versos decassílabos. Como já vimos, os versos decassílabos são os versos compostos por dez sílabas poéticas e as oitavas são composições com estrofes de oito versos.

Mas o que é um poema épico ou uma epopeia?

                                EPOPÉIA – DEFINIÇÃO

     A epopeia, uma das formas clássicas, é a narrativa de cunho histórico que registra poeticamente os grandes feitos, as aventuras de um herói ou de um povo. Para facilitar nossa compreensão, podemos falar que a epopeia é um longo poema narrativo.

A linguagem empregada na epopeia é sempre nobre, formal e muito solene, diferentemente da linguagem que usamos no dia-a-dia, daí a dificuldade de muitos alunos para compreender a beleza de tamanha obra. Mas a partir dessa aula eu espero que a linguagem rebuscada e a extensão do texto não sejam empecilhos para a sua leitura.

Todo poema épico apresenta uma estrutura rígida, herdada da Antiguidade Clássica. As partes de uma epopéia são as seguintes:

              1ª - Proposição

              2ª - Invocação

              3ª - Dedicatória

              4ª - Narração

              5ª - Epílogo

1ª - Proposição = parte em que se apresenta o assunto.

2ª - Invocação = parte em que o poeta pede auxílio aos deuses ou às musas (figuras femininas, musas inspiradoras dos poetas) para a realização da sua árdua tarefa, ou seja, escrever o próprio poema.

3ª - Dedicatória ou oferecimento = parte em que o poeta oferece a sua obra a uma figura ilustre.

4ª - Narração = parte em que ocorre a história propriamente dita.

        5ª - Epílogo = é o final da história, é o desfecho da narrativa.

                                        OS LUSÍADAS

 Em Os Lusíadas encontramos todas essas partes muito bem desenvolvidas. Veja agora a capa da sua primeira edição:

Por que será que Camões chamou sua obra de Os Lusíadas? E não O Lusíada? Ou a História de Vasco da Gama?

A palavra lusíadas significa “lusitanos”, palavra derivada do termo luso. Segundo a história, Luso teria sido o primeiro português. A partir dessa explicação fica fácil identificar quem é o herói de Os Lusíadas. Muitos, numa leitura superficial da obra, afirmam que é Vasco da Gama, mas como o próprio título já sugere, o herói de Os Lusíadas, ao contrário das epopeias da Antiguidade Clássica de Virgílio e Homero, é um herói coletivo, ou seja, todo o povo português, do qual com certeza, Vasco da Gama pode ser considerado um digno representante. A confirmação dessa interpretação nos é dada pelo próprio Camões logo na primeira estrofe do texto. Veja:

                       I

“As armas e os Barões assinalados

Que, da Ocidental praia Lusitana,

Por mares nunca dantes navegados,

Passaram ainda além da Taprobana

Em perigos e guerras esforçados,

Mais do que prometia a força humana,

E entre gente remota edificaram

Novo Reino, que tanto sublimaram (...)”

Veja que Camões na PROPOSIÇÃO faz uma introdução do assunto do poema: os grandes feitos dos célebres portugueses “os barões assinalados”. Taprobana era o nome de uma ilha localizada no Oceano Índico, mais tarde denominada Ceilão, atual Sri Lanka. Ir além dessa ilha demonstrava a superioridade náutica dos portugueses que se lançaram nas grandes navegações. Os três últimos versos da estrofe, “Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram (...)” referem-se aos navegadores portugueses que realmente conquistaram as Índias e edificaram o Reino Português no Oriente.

 Camões, além da descoberta do caminho marítimo para as Índias, das grandes navegações portuguesas, da conquista do império Português no Oriente narra também toda a história de Portugal, seus reis, seus heróis e as batalhas por eles vencidas.

Além desses aspectos, a PROPOSIÇÃO nos apresenta outros elementos fundamentais do Classicismo. Veja se você os encontra nas próximas estrofes:

                         II

E também as memórias gloriosas

Daqueles Reis, que foram dilatando

A Fé, o Império e as terras viciosas

De África e de Ásia andaram devastando, E aqueles que por obras valorosas

Se vão da lei da morte libertando:

Cantando espalharei por toda a parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

                                 III

Cessem do sábio Grego, e do troiano, As navegações grandes que fizeram:

Cale-se de Alexandro e de Trajano,

A fama das vitórias que tiveram,

Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

A quem Netuno e Marte obedeceram:

Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevanta (...)”

 

CARACTERÍSTICAS

 

Antropocentrismo = que como já vimos, corresponde à valorização do homem. Camões canta os grandes feitos dos homens, capazes de superar os perigos naturais e as próprias imposições divinas.

Nacionalismo = corresponde à exaltação dos heróis e das virtudes do homem português. “A memória gloriosa dos reis que foram dilatando a Fé e o Império...” Até as musas são nacionalizadas, as Tágides, musas do rio Tejo.

Fusionismo = Ao mesmo tempo em que fala da missão do homem português de expandir o cristianismo, de dilatar a Fé em “terras viciosas” apresenta a intervenção de divindades pagãs, como Netuno, Marte, as ninfas, entre outras personagens mitológicas.

Linguagem rebuscada = marcada pelo uso dos hipérbatos, inversões na ordem direta das frases, que dificultam a compreensão, ou seja, sujeito nem sempre aparece antes do predicado. Além dessa inversão na estrutura da frase há também, como vimos, a utilização dos decassílabos e da forma fixa, oitava.

Na INVOCAÇÃO o poeta pede inspiração às Tágides, ninfas do Tejo, importante rio português.

Quanto à DEDICATÓRIA, veja esta imagem:

 


O poema é dedicado a D. Sebastião, rei de Portugal na época em que Os Lusíadas foi publicado. D. Sebastião era visto desde pequeno como a garantia de independência de Portugal.

A NARRAÇÃO compreende três principais ações: a Viagem de Vasco da Gama às Índias, a narrativa da história de Portugal e paralelamente Camões narra os conflitos entre os deuses do Olimpo (nome de um monte da Grécia, onde, segundo a mitologia, seria a morada dos deuses).

 Temos em Os Lusíadas uma dupla ação histórica (história de Vasco da Gama e de Portugal) e uma ação mitológica (esse conflito dos deuses - Vênus e Marte eram favoráveis aos portugueses, enquanto Baco e Netuno queriam a todo custo impedir a viagem de Vasco da Gama).

A narrativa começa já no meio da viagem de Vasco da Gama, quando ele e sua tripulação já estavam em pleno Oceano Índico, próximos à Moçambique, onde aportaram. Depois passaram por outros lugares da África até chegarem a Melinde, onde Vasco da Gama narra os acontecimentos anteriores, e a história de Portugal. Saindo de Melinde chegaram finalmente ao destino – Calicute, nas Índias. Na viagem de volta, como recompensa por seus grandes feitos, os heróis portugueses são recepcionados por Vênus e várias ninfas, numa ilha paradisíaca. É o famoso episódio da Ilha dos Amores.

No EPÍLOGO, no final da narrativa, ocorre uma mudança brusca no tom vibrante e ufanista que permeou as outras partes. Nos últimos versos, Camões apresenta um tom pessimista, de descrédito, de crítica aos portugueses que estavam se esquecendo dos valores nacionais. Camões parece prever o que aconteceria anos depois, quando Portugal é forçado a submeter-se ao domínio espanhol.

Hoje em dia, infelizmente, poucas pessoas leem todo o poema. É comum a leitura dos principais episódios dos dez cantos. Os cantos correspondem aos capítulos da prosa ou aos atos do teatro. Entre os mais pedidos nos exames vestibulares de todo o Brasil estão: o episódio da Inês de Castro, no Canto III e o episódio do Velho do Restelo, no Canto IV.

Inês de Castro, no Canto III, é um episódio lírico-amoroso que conta a história amorosa da jovem Inês de Castro com o Príncipe D. Pedro. D. Pedro já era casado e possuía um filho legítimo, mas também tinha outros filhos com a amante Inês. Quando sua esposa morre, o príncipe se vê obrigado a casar novamente, então declara já ser casado com Inês. O rei e a corte com medo de que um de seus filhos bastardos assumissem o trono, na ausência de D. Pedro, mandam matar Inês. Quando fica sabendo do acontecido, D. Pedro ordena que sua amada, mesmo morta, seja coroada rainha. Daí a conhecidíssima frase do episódio de Inês de Castro, “aquela que depois de ser morta foi rainha”.

O Velho do Restelo, no Canto IV é o episódio que narra a saída das naus de Vasco da Gama ainda no Porto de Belém. No momento da partida aparece um velho, o Velho do Restelo, e faz uma série de críticas à ambição expansionista dos portugueses, numa clara postura medieval e conservadora.

O texto Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões é a grande obra épica da língua portuguesa de todos os tempos.


Literatura - Classicismo

 Classicismo

 

O Classicismo, terceiro grande movimento literário da língua portuguesa, marca o início a chamada Era Clássica da Literatura.

A Era Clássica é formada por três movimentos ou escolas literárias:

ERA CLÁSSICA

      Classicismo (século XVI)

      Barroco (século XVII)

      Arcadismo ou Neoclassicismo (século XVIII)

O marco inicial do Classicismo é o retorno de Sá de Miranda a Portugal, em 1527, depois de passar alguns anos na Itália em contato com a nova literatura renascentista, conhecida como “o doce estilo novo”. O fato que marca o final do Classicismo é a unificação da Península Ibérica sob o domínio espanhol em 1580, quando Portugal não consegue mais a sustentação política e econômica do país.

É importante lembrarmos que esta divisão – marco inicial e final de um movimento – é apenas uma classificação para fins didáticos. Como já vimos no Humanismo, antes mesmo do retorno de Sá de Miranda, alguns autores portugueses, como Gil Vicente, já apresentavam antecipações renascentistas.

CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

O Classicismo Português ou também Renascimento em Portugal corresponde ao período de apogeu da nação, marcado por grandes acontecimentos, dentre os quais se destaca a expansão ultramarina. Veja um de seus símbolos:


 

A Torre de Belém localizada na entrada do porto de Lisboa e construída no século XVI simboliza a época das grandes navegações portuguesas.

O século XVI ficou conhecido como a época dos grandes descobrimentos. Entre as grandes conquistas ultramarinas estão: a descoberta do caminho marítimo para as Índias, empreendida por Vasco da Gama, em 1498; o descobrimento do Brasil, em 1500 e o descobrimento de várias regiões da África nos anos seguintes. Essa expansão proporcionou uma grande prosperidade econômica e Lisboa transformou-se em um importante centro comercial da Europa.

 

CARACTERÍSTICAS

 

Entre as várias características do Classicismo, destacam-se:

Racionalismo – De acordo com essa concepção, a razão era quem governava as emoções e os sentimentos, buscando uma harmonia, um equilíbrio entre forma e conteúdo. Nessa concepção mais racional o indivíduo e seu lugar deixavam de ser particularizados, assumindo um caráter mais universal. A arte clássica estava preocupada com o Mundo e com o Homem.

Retomada da mitologia pagã – Os autores greco-latinos eram imitados como modelos de perfeição - ideais de beleza - e seus deuses eram retomados, aparecendo em grande escala nas produções do período como figuras literárias ou como tema da pintura renascentista.

Verossimilhança – Os clássicos acreditavam que a beleza era o racional, aquilo que era verdadeiro. O verdadeiro por sua vez, era o natural, daí resultou a valorização da natureza e sua imitação constante.

Fusionismo – Correspondia à fusão, à união da mitologia pagã com seus vários deuses e ninfas - com a tradição cristã. Não se esqueça da importância, até hoje, da religião católica para os portugueses.

Medida Nova – Nós já vimos o que era no Humanismo a Medida Velha – utilização de versos redondilhos – formados por cinco ou sete sílabas poéticas. A Nova Medida Clássica correspondia ao uso dos versos decassílabos e das formas fixas:

MEDIDA NOVA

*  Versos decassílabos

*  Formas fixas

O verso decassílabo, como o próprio nome já sugere, é um verso composto por dez sílabas poéticas.

Também influenciados pelo modelo greco-latino os clássicos utilizavam formas fixas de escrita, ou seja, formas determinadas por algumas regras. Entre elas, destacaram-se o soneto (composição fixa com 14 versos, dispostos em dois quartetos e dois tercetos, ou seja, estrofes de 4 e 3 versos respectivamente), o terceto (composição em estrofes de três versos), a oitava (composição de 8 versos decassílabos), entre outras formas.

  Camões

 

O Classicismo Português tem uma figura central. Falar sobre ele é falar sobre o grande Luís Vaz de Camões.

Camões teve uma vida atribulada, marcada por muitos relacionamentos amorosos e por muitas aventuras. Contam os estudiosos que seus vários casos amorosos, geralmente com mulheres da corte, e seu jeito de valentão, foram responsáveis por muitas brigas em Portugal. Mas foi como soldado, que numa batalha no norte da África, perdeu o seu olho direito, ficando por esses motivos conhecido como Trinca Fortes ou Diabo Zarolho. Como aventureiro, fez várias viagens que retomaram a rota de Vasco da Gama na viagem do descobrimento do caminho marítimo para as Índias, viagem esta que será retratada pelo poeta em Os Lusíadas.

Veja a composição da obra camoniana:

*  Poesias líricas

*  Peças teatrais

*  Obra épica – Os Lusíadas

A poesia lírica camoniana é marcada por uma dualidade, ou seja, compreende duas vertentes. Ora são textos de nítida influência medieval (escritos em redondilhos, com motes glosados), ora são brilhantes exemplos da escola clássica, escritos em decassílabos e em formas fixas.

Poucas foram as suas peças, apenas três são conhecidas. Essas peças foram escritas sob a forma de autos. As duas primeiras têm origem na tradição medieval e a última é de inspiração latina.

Os Lusíadas, tema da próxima aula, é sem dúvida, a grande obra de Camões, considerada a maior epopeia da língua portuguesa.

Veja um dos sonetos mais famosos de Camões:

 “Amor é um fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”

Renato Russo, o compositor e músico brasileiro, ao escrever a letra da música Monte Castelo, utilizou-se de trechos desse famoso soneto de Camões e de um trecho bíblico da 1ª carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, no capítulo 13. Veja a semelhança:

          Monte Castelo

Ainda que eu falasse a língua dos homens

E falasse a língua dos anjos,

Sem amor eu nada seria (...)

Amor é fogo que arde sem se ver

É ferida que dói e não se sente

É um contentamento descontente

É dor que desatina sem doer (...)


quarta-feira, 25 de maio de 2022

Literatura - Humanismo

 

Humanismo

É interessante ressaltarmos que o termo Humanismo é polissêmico, podendo ser considerado sob vários enfoques, ao mesmo tempo distintos e interdependentes. Para os limites desta aula, interessa-nos o seu sentido mais estrito ou histórico, entendido enquanto o movimento literário e cultural de uma época marcada por profundas transformações na sociedade europeia.

O Humanismo, segunda Escola Literária Medieval, também conhecido como Pré-Renascimento ou Quatrocentismo, corresponde ao período de transição da Idade Média para a Idade Clássica. Tem como marcos iniciais as nomeações de Fernão Lopes como Guarda-Mor da Torre do Tombo (local onde se guardavam os documentos oficiais), em 1418 e, como Cronista-Mor do Reino, em 1434, quando recebeu de D. Duarte, rei de Portugal, a incumbência de escrever a história dos reis que o precederam.

Historicamente o Humanismo foi um movimento intelectual italiano do final do século XIII que se irradiou para quase toda a Europa, isto porque, após a queda de Constantinopla em 1453, muitos intelectuais gregos (professores, religiosos e artistas) refugiaram-se na Itália e começaram a difundir uma nova visão de mundo, mais antropocêntrica, indo de encontro à visão teocêntrica medieval. Entre as principais ideias humanistas estavam:

 - retomada da cultura antiga, através do estudo e imitação dos poetas e filósofos greco-latinos;

- revalorização da filosofia de Platão, especialmente no que diz respeito à distinção entre o amor espiritual e o carnal neoplatonismo;

- crítica à hierarquia medieval, o homem reivindicando para si uma posição de destaque no Universo - não aceitação passiva das imposições místicas difundidas na ideia de destino;

- bifrontismo, coexistência de características medievais (feudalismo, teocentrismo) e renascentistas (mercantilismo, antropocentrismo, pragmatismo burguês).

 I - CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

No final da Idade Média, Portugal estava passando por profundas transformações. O desenvolvimento de outras atividades econômicas estimulou a crise do sistema feudal e deu início ao chamado mercantilismo – a economia de subsistência é substituída gradativamente por atividades comerciais. Surgem as pequenas cidades, chamadas burgos, e com elas uma nova classe social, a burguesia. Muitas descobertas são feitas, entre elas a invenção da imprensa (em 1448, por Gutenberg) e de instrumentos relacionados à expansão ultramarina. Mas é, sem dúvida, a Revolução de Avis (1383-1385) o marco cronológico da consolidação do Estado Nacional Português. Através dela se estabelece a política centralizadora do poder nas mãos do rei, respaldada pela burguesia mercantilista. A partir da primeira conquista ultramarina portuguesa, a Tomada de Ceuta, em 1415, inicia-se o período das Grandes Navegações, que consolidam o nacionalismo português.

 PRODUÇÃO LITERÁRIA

 A produção literária desse período subdivide-se em:

Poesia Palaciana                

• Prosa     

-crônicas de Fernão Lopes

-prosa doutrinária                  

-novelas de cavalaria

Teatro – Gil Vicente

A Poesia Palaciana, como próprio nome já diz, era poesia produzida no ambiente dos palácios, feita por nobres e destinada à corte. Ao contrário dos códices (manuscritos) trovadorescos, grande parte da produção poética desse período foi recolhida por Garcia Resende, no Cancioneiro Geral, formado por 880 composições, impresso em 1516. Entre suas principais características estão:

-separação entre música e texto – a poesia destina-se à leitura. Assim, a própria linguagem é responsável pelo ritmo e expressividade. O termo trovador aos poucos assume um caráter pejorativo e começa a surgir a figura do poeta;

-utilização dos redondilhos – versos compostos por cinco (redondilhos menores) ou sete sílabas poéticas (redondilhos maiores);

-temática variada – com composições religiosas, satíricas, didáticas, heróicas e líricas. O lirismo amoroso trovadoresco, a partir da influência de Petrarca (um dos precursores do Humanismo italiano), assume uma nova conotação, a mulher idealizada, inatingível, carnaliza-se e a sensualidade reprimida nas cantigas de amor passa a ser frequente.

Fernão Lopes é a principal figura da prosa humanista, considerado o fundador da historiografia portuguesa. Sua importância se deve não só pelo aspecto histórico de sua produção, mas também pelo aspecto artístico de suas crônicas. Em suas crônicas, apesar de regiocêntricas, o povo aparece pela primeira vez com coautor das mudanças históricas portuguesa. Entre suas características destacam-se: a imparcialidade, o registro documental, a criticidade e o nacionalismo. São de autoria de Fernão Lopes:

 Crônica de El-Rei D. Pedro I

Crônica de El-Rei D. Fernando

Crônica de El-Rei D. João I

A prosa doutrinária, também chamada de ensinanças, corresponde a textos de caráter didático, destinados à nobreza. São obras para o aprendizado de certas artes da época, como a montaria.

As novelas de cavalaria conservam basicamente as mesmas características do Trovadorismo.

- O Teatro de Gil Vicente

Antes da produção gilvicentina é praticamente impossível falar-se em teatro. A manifestação teatral da Idade Média limitou-se a encenações de caráter litúrgico, presas aos ritos da religião católica. As encenações religiosas apresentadas no interior das igrejas dividiam-se em:

-mistério – representação da vida de Jesus Cristo

-milagre – representação da vida de santos

-moralidade – representações curtas com finalidade didática ou moralizante.

 As encenações que ocorriam fora dos templos religiosos recebiam o nome de profanas e apresentavam um caráter mais popular e não estavam relacionadas aos cultos católicos. Dividiam-se em:

-arremedilho ou arremedo – imitação cômica de acontecimentos ou pessoas;

-pantomima alegórica – espécie de palhaçada circense da atualidade, na qual atores mascarados imitavam as pessoas.

farsa – encenação satírica com um humor primário, situações absurdas e ridículas;

sotie – (sotie vem do francês sot e significa tolo) semelhante à farsa, mas com um parvo, tolo no papel principal;

momo – encenação carnavalesca com uma temática variada.

As pessoas utilizavam máscaras e imitavam pessoas e animais;

entremeze – encenações breves apresentadas entre os atos de peças mais longas. Sua função era preencher os intervalos;

sermão burlesco – monólogo recitado por um ator mascarado;

écloga – auto pastoril. Atores vestidos de pastores pregavam os valores da vida no campo.

Pouco se sabe sobre os dados biográficos de Gil Vicente. Acredita-se que tenha tido muito prestígio na corte portuguesa, desempenhando a função de organizador das grandes festas palacianas. Para outros, entretanto, desempenhava a função de ourives, atraindo a atenção da rainha Leonor. Mas é unanime o seu reconhecimento como o fundador do teatro português e o maior representante do Humanismo.

Assim como o período, suas peças apresentavam o bifrontismo como característica central. Ora com fortes marcas medievais, ora com antecipações renascentistas.

Gil Vicente criticou toda a sociedade da época, suas peças apresentam indivíduos de todas os segmentos sociais. Só não criticou mordazmente a Família Real, da qual dependia. É importante destacar que todo o moralismo gilvicentino não é contra as instituições, mas contra os indivíduos que as corrompiam. Tanto que em nenhum de seus trabalhos questionou qualquer verdade cristã, apresentava uma visão teocêntrica e conservadora da sociedade. Na realidade, era contra as novidades trazidas pelas mudanças do período que punham em risco a integridade do povo português, seus autos representam uma tentativa de resgate dessa integridade que se perdia través da corrupção, do adultério e da ambição.

Por outro lado, Gil Vicente inovou, mesmo escrevendo em redondilhos, não seguiu a rigidez do teatro clássico vigente até então (unidade de ação, tempo e espaço).

Suas representações apresentavam uma grande variedade temática, povoadas por inúmeros personagens, amplitude temporal e justaposição de lugares. A alegoria, as personagens-tipos e a variedade linguística também o distinguem de seu tempo. Suas personagens não apresentam características particularizadas, ao contrário, são generalizações, estereótipos, que representam toda categoria profissional ou uma classe social (povoam suas peças as alcoviteiras, os fidalgos, os frades, os judeus). Outras vezes, através da abstração, as personagens representam idéias ou instituições (a Fama, a Igreja, a Lusitânia, Todo-o-Mundo e Ninguém). As personagens gilvicentinas expressavam-se através de diversos registros linguísticos: arcaísmos, castelhano, saiaguês (falar típico de Saiago, região que faz fronteira com Portugal), latim, português chulo, coloquial, popular, culto e erudito.

A produção teatral de Gil Vicente divide-se em três fases:

Primeira Fase – marcada pelos traços medievais e pela influência espanhola de Juan del Encina. São desta fase: O Monólogo do Vaqueiro, o Auto Pastoril Castelhano, o Auto dos Reis Magos, entre outros.

Segunda Fase – aparecem a sátira dos costumes e a forte crítica social. São desta fase: Quem tem farelos? O Velho da Horta, o Auto da Índia e a Exortação da Guerra.

Terceira Fase – aprofundamento da crítica social através da tragicomédia alegórica, da variedade temática e linguística, é o período da maturidade expressiva. São desta fase: A Trilogia das Barcas, a Farsa de Inês Pereira, o Auto da Lusitânia.

 A Farsa de Inês Pereira

 Conta a história que a Farsa de Inês Pereira surgiu por volta de 1523, quando a autoria dos textos de Gil Vicente foi questionada. Ele, a fim de provar sua inocência, pediu que lhe dessem um tema qualquer para que produzisse uma peça. O tema dado foi um dito popular: “mais quero um asno que me leve que cavalo que me derrube”, expressão conhecidíssima da célebre farsa.

Inês Pereira, jovem ambiciosa e namoradeira, cansada dos afazeres domésticos decide se casar, mas não com qualquer rapaz de sua classe social, deseja um casamento nobre, com um homem que seja galante, discreto e que saiba cantar. Recusa o casamento com Pêro Marques, que mesmo rico era camponês e casa-se com Brás da Mata, falso escudeiro que a maltrata após o casamento.

Com a morte do marido, a jovem casa-se novamente com o primeiro pretendente, mesmo sem amá-lo. Ingênuo e devotado, Pêro Marques não percebe a traição da mulher com um falso religioso e, na cena final da farsa, leva a própria esposa para os braços do amante, daí a frase: “mais quero um asno que me leve que cavalo que me derrube”.


Literatura em Portugal e no Brasil

 

Periodização da Literatura em Portugal e no Brasil:

A história da literatura portuguesa, tal qual conhecemos hoje, tem início em meados do século XII, quando Portugal se constitui como um estado independente.

Os mais de oito séculos de produção literária portuguesa são divididos em três grandes eras:

ERA MEDIEVAL

•ERA CLÁSSICA

•ERA ROMÂNTICA OU MODERNA

Em função dos estilos individuais dos artistas (maneira particular de utilizar a língua), do contexto histórico e das tendências de cada período, estas eras literárias foram subdivididas em fases menores, chamadas Estilos de Época ou Escolas Literárias.

                                               TROVADORISMO

O início das chamadas literaturas de línguas modernas ocorre com a produção dos poetas da Idade Média, conhecidos como trovadores. O termo trovador origina-se de trobadour, que significava “achar”, “encontrar”. Cabia ao poeta “encontrar” a música e adequá-la aos versos. Neste período as composições eram basicamente compostas para serem cantadas ao som de instrumentos como a lira, a cítara, harpa ou viola, daí serem chamadas de cantigas.

Os artistas medievais eram classificados em:

Trovador – geralmente nobre, possuidor de uma cultura erudita, não recebia por suas composições;

Jogral – compositor, saltimbanco ou ator que recebia por suas apresentações;

Segrel – fidalgo decaído que se apresentava nas cortes, em troca de dinheiro, juntamente com seu jogral. Pode ser considerado um trovador profissional;

Menestrel – artista que servia a uma determinada corte;

Jogralesa ou soldadeira – moça que acompanhava os artistas dançando, cantando e tocando castanholas.

O primeiro texto literário português que se tem registro é a “Cantiga da Guarvaia” ou “Cantiga da Ribeirinha” (1189 ou 1198), cantiga de amor de autoria de Paio Soares de Taveirós. 

CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL 

Os séculos XI e XII são marcados pelo feudalismo, no plano político-econômico e pelo espírito teocêntrico (deus como o centro de todas as coisas), no plano religioso.  A sociedade medieval, composta basicamente pelo clero, nobreza e camponeses, estava estruturada numa relação de suserania e vassalagem, através da qual os vassalos (povo) serviam e obedeciam ao suserano (senhor feudal) em troca de proteção e assistência econômica. Tal estrutura era mantida graças ao teocentrismo, que difundia a ideia de destino, fazendo com que o povo aceitasse sua posição subalterna sem contestação, uma vez que esta era ordem divina.

Este dois traços histórico-culturais irão influenciar toda a produção literária trovadoresca, não só na poesia mas também na prosa. 

PRODUÇÃO LITERÁRIA
CANTIGAS

O que conhecemos da poesia trovadoresca, anterior ao aparecimento da escrita, está contido em obras conhecidas como cancioneiros, manuscritos antigos encontrados a partir do final do século XVIII. Os três mais importantes são:

•Cancioneiro da Ajuda ou do Real Colégio dos Nobres – reúne 310 composições, das quais 304 são cantigas de amor, foi organizado por D. Dinis e é o mais antigo de todos. Encontra-se na Biblioteca da Ajuda, em Portugal.

•Cancioneiro da Vaticana – reúne 1205 poesias, de autoria de 163 trovadores. Conserva-se ainda hoje na Biblioteca do Vaticano, em Roma.

•Cancioneiro da Biblioteca Nacional – também conhecido por Cancioneiro de Colocci-Brancuti, em homenagem a um de seus antigos possuidores. É o mais completo de todos, contendo 1647 cantigas de todos os gêneros. Encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, em Portugal.

Há ainda, segundo alguns estudiosos, as Cantigas de Santa Maria, um cancioneiro de poesias religiosas composto por 426 produções acompanhadas das respectivas músicas.

 PROSA

A prosa medieval, posterior à poesia, é representada basicamente pelas novelas de cavalaria, narrativas de cunho cavaleiresco e religioso que contavam as aventuras de grandes reis e seus cavaleiros. Destacam-se entre elas a História de Merlim, José de Arimatéia e a Demanda do Santo Graal. Havia também outros textos em prosa, assim divididos:

Hagiografias – biografia de santos

Livros de Linhagens ou Nobiliários – relatos genealógicos de famílias nobres

•Cronicões – livros de crônicas

Costuma-se afirmar, didaticamente, que o Trovadorismo termina com a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo, em 1418, marcando o início do Humanismo.

A literatura brasileira, desde suas origens (com a Carta de Pero Vaz de Caminha) até meados do século XVIII, foi reflexo e prolongamento da portuguesa, pois as precárias condições da Colônia impediram que houvesse um processo literário autônomo. Por isso, alguns críticos falam em isoladas manifestações literárias nesse período ou “ecos” da literatura portuguesa. 

Não houve no Brasil, pelo menos até a primeira metade do século XVIII, as condições necessárias para o surgimento da literatura, ou seja:

a) grupo de escritores conscientes de seu papel e que, num processo coeso de intercomunicação e interdependência, assegurassem a continuidade literária;

b) grupo de receptores ativos que pudessem influenciar a produção dos escritores;

c) vida cultural intensa.

Esse quadro perdurou até o momento em que, em função do ciclo da mineração, começaram a surgir não só as cidades, mas também escritores unidos pelo sentimento de independência da Colônia e comprometidos com a Inconfidência Mineira. No entanto, nossa literatura, que se esboçou como sistema na primeira metade do século XVIII, só adquiriu plena nitidez e autonomia no século XIX, quando o Brasil deixou de ser colônia.

Não devemos nos esquecer de que, nos primeiros tempos de nossa história, a comunicação entre os agrupamentos urbanos era praticamente nula. Predominava o isolamento das capitanias em que se explorava a cana-de-açúcar em latifúndios.

A maioria da população da Colônia, nessa época, era analfabeta e preocupava-se antes com problemas práticos de sobrevivência do que com literatura.

A vida cultural na Colônia foi abafada pela proibição de atividade editorial, pela censura, pela inexistência de centros ou instituições culturais e pela precariedade do ensino. 

Em função desse quadro, a literatura brasileira divide-se em duas grandes eras: a Colonial e a Nacional.

ERA COLONIAL (1500-1808) 

- Quinhentismo – 1500-1601
- Seiscentismo ou “ecos” do Barroco – 1601-1768
- Setecentismo ou Arcadismo –1768-1808

PERÍODO DE TRANSIÇÃO – (1808-1836 )

ERA NACIONAL (a partir de 1836)

- Romantismo – 1836-1881
- Realismo/Naturalismo/Parnasianismo –1881-1893
- Simbolismo – 1893-1902
- Pré-Modernismo – 1902-1922
- Modernismo – 1922 ➟

Esta delimitação cronológica, recurso puramente didático, não deve ser entendida de forma rígida, como se as Escolas fossem compartimentos estanques presos a certas datas arbitrariamente estabelecidas. Ao contrário, um mesmo autor pode apresentar características de várias escolas, independentemente da época e, as datas representam apenas marcos históricos, isto porque, sempre há um período de transição entre a ascensão de um Estilo e o declínio de outro.

QUINHENTISMO: século XVI

Contexto histórico:

a)    na Europa

- ascensão da burguesia

- invenções

- progresso científico

- Reforma

- Contra-Reforma

- Grandes Navegações

    b) no Brasil

1500 – descobrimento do Brasil – exploração do pau-brasil

1530 – início das expedições de exploração e povoamento

1534 – criação das capitanias hereditárias

1549 – vinda dos jesuítas – catequese dos índios e fundação dos primeiros colégios

Características:  — literatura documental sobre o Brasil escrita por portugueses (que acompanhavam as expedições) e por viajantes estrangeiros

— literatura pedagógica dos jesuítas visando à catequese dos índios e à orientação moral e espiritual dos colonos. 

Quinhentismo (1500-1601) 

A literatura do século XVI foi uma literatura sobre o Brasil. Refletindo ideais do Renascimento e da Contra-Reforma, traduziu o espírito de aventura, a sedução do exótico, o expansionismo geográfico e a propagação da cristandade. 

Contexto Histórico 

A Europa do século XVI assistiu à desestruturação da sociedade feudal. Os florescentes centros urbanos atraíam a população rural e neles se desenvolveu o comércio que propiciou o aparecimento da burguesia mercantil. Por sua vez, esta financiou as Grandes Navegações, cujo objetivo era a procura de novos mercados produtores e consumidores.

Portugal gozava de uma situação privilegiada: a precoce centralização política na figura do rei, a posição geográfica estratégica (seus portos eram passagem obrigatória entre as cidades italianas, que monopolizavam o comércio do Oriente, e o norte da Europa), a rápida formação de uma burguesia mercantil, a Escola de Sagres – o mais completo e inovador centro de estudos náuticos da época – propiciaram a expansão de Portugal na procura de novas rotas comerciais, uma vez que o comércio no Mediterrâneo era monopólio das cidades italianas. Essa expansão iniciou-se com a Tomada de Ceuta, em 1415, e estendeu-se da conquista e colonização da África e da Ásia até a descoberta do Brasil.

No entanto, o Feudalismo não foi minado somente pelo aparecimento da burguesia mercantil, mas também pela Reforma Protestante, que atraiu essa mesma burguesia. A reação da Igreja não se fez esperar e a ContraReforma, sustentada pela Companhia de Jesus, iniciou um movimento de reconquista espiritual.

As Grandes Navegações e a Contra-Reforma determinaram as duas tendências da produção literária do século XVI:

preocupação com a conquista material: literatura informativa que descreve as riquezas da terra;

preocupação com a conquista espiritual: literatura dos jesuítas, voltada para a catequese do índio e para a orientação moral e espiritual dos colonos. 

A Literatura Informativa 

Em 1500, Cabral “descobriu” o Brasil e Pero Vaz de Caminha, cronista de sua armada, escreveu a Carta a EL-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil, documento que marca o início da literatura brasileira.

 Portugal, no entanto, não explorou de imediato a nova terra. Interessado no ouro da África e no comércio garantido com o Oriente, de onde vinham especiarias, sedas e pedrarias, arrendou a exploração da costa brasileira a comerciantes que exploravam o pau-brasil, mas que eram impotentes para evitar ataques de estrangeiros.

 Endividado com os investimentos nas viagens ao Oriente, Portugal iniciou a colonização do Brasil com a expedição de Martim Afonso de Sousa, em 1530, esperando aqui encontrar metais e pedras preciosas.

 Nesse cenário, cronistas portugueses e estrangeiros escreveram textos que revelam seu deslumbramento frente à nova terra tropical, exótica, misteriosa. Não são textos propriamente literários, mas têm um valor documental inestimável para a história de nossos primeiros tempos e já contêm um sentimento nativista que encontrará sua expressão máxima no Romantismo.

A origem do nome Brasil

Muita gente diz que o nome Brasil deriva do pau-brasil, uma madeira que era extraída do litoral brasileiro e a partir da qual se fabricava uma tinta cor de brasa, usada para tingir

tecidos. A história não é bem assim. Nos mapas medievais, o mundo conhecido aparecia rodeado de ilhas imaginárias. Uma delas era a Ilha Brasil, que se situava a oeste da Irlanda. Essa localização foi encontrada em um mapa de 1324 e repetida em diversos planisférios. Também chamada “Hy Brazil”, essa ilha mitológica afastava-se no horizonte sempre que os marujos se aproximavam.

A raiz de Brasil é bress, que, na língua celta, significa “feliz, encantado, sortudo”. A Ilha Brasil seria, portanto, a ilha da felicidade, um verdadeiro paraíso. Logo, o nome Brasil é de origem celta, grupo de línguas faladas pelos antigos habitantes da Irlanda, da Escócia e do País de Gales. Já o pau-brasil era conhecido entre os italianos, que o importavam do Oriente, durante a Idade Média. O nome científico da madeira é Lignum brasile rubrum, derivado da Ilha Brasil, pois se acreditava que o pau-brasil seria seu produto principal. O nome Brasil, logo adotado pela maioria das pessoas, fez com que todos os outros fossem deixados de lado, tornando-se oficial em poucos anos. 

Pero Vaz de Caminha (1437? -1500) 

Com a Carta de 1o de maio de 1500, Caminha fundou a literatura brasileira. Numa linguagem pitoresca e agradável, que revela um observador minucioso, relatou ao rei D. Manuel tudo o que vira na nova terra: 

De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu-nos do mar muito grande, porque a estender a vista não podíamos ver senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro; nem as vimos. Mas, a terra em si é muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho, porque, neste tempo de agora, assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente; e esta deve ser a principal semente que Vossa alteza nela deve lançar. 

Nesse texto podemos perceber os dois objetivos que nortearam as Grandes Navegações: conquista de bens materiais (ouro, prata, metais) e conquista espiritual (conversão dos indígenas, dilatação da fé cristã).

Muitos outros cronistas, portugueses e estrangeiros, descreveram nossa terra. Entre eles destacam-se:

Pero de Magalhães Gândavo, português de origem flamenga, amigo de Camões, cujas obras Tratado da terra do Brasil e História da Província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos de Brasil (1576), além de descreverem a gente, os bens e o clima da Colônia, aconselham os portugueses, que vivem em extrema miséria na Metrópole, a que venham para cá.

Gabriel Soares de Sousa escreveu Tratado descritivo do Brasil (1587), a mais rica fonte de informações sobre o Brasil no século XVI. Nele fez um inventário da flora e da fauna da Bahia e alertou o rei para a necessidade de povoar e fortificar certas regiões para que estrangeiros não as tomassem.

Hans Staden, alemão que esteve no Brasil por volta de 1520, escreveu Viagem ao Brasil (1557).

A Literatura dos Jesuítas

Desde que chegaram à Bahia em 1549 com Tomé de Sousa (o primeiro governador-geral do Brasil), os jesuítas, comandados pelo Padre Manuel da Nóbrega, incumbiram-se de catequizar os indígenas, educar e dar orientação moral e espiritual aos colonizadores. Escreveram poesia, teatro pedagógico, sermões e cartas, nas quais informavam os superiores da Companhia de Jesus sobre o desenvolvimento de seus trabalhos na Colônia.

Quem mais se destacou entre os jesuítas foi Padre José de Anchieta.

Padre José de Anchieta (1534-1597)

O fundador de São Paulo chegou ao Brasil em 1553 com o segundo governador-geral, D. Duarte da Costa. Foi uma das figuras mais importantes do século XVI pela relevância literária de sua obra e por ter sido o primeiro a escrever para brasileiros.

Anchieta escrevendo na areia, de Benedito Calixto.

Sempre com intenção pedagógica, produziu sermões, autos (de inspiração medieval, seguindo o modelo de Gil Vicente) e poemas simples e ingênuos, mas cheios de lirismo. Dentre estes destaca-se “De Beata Virgine Dei Matre Maria” (“Poema à Virgem”).

Devido à intenção didática de seus textos, usa linguagem de fácil assimilação e imagens claras. Anchieta escreveu em latim, tupi e português e foi o autor da primeira gramática em língua tupi: Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil.

Observe neste fragmento, como as redondilhas menores e as rimas (sem esquema rígido) dão ao texto um ritmo que facilita a memorização, enfatizando sua função pedagógica. 

A Santa Inês

Cordeirinha linda,

como folga o povo

porque vossa vinda

lhe dá lume novo!

Cordeirinha santa,

de Iesu querida,

vossa santa vinda

o diabo espanta.

Por isso vos canta

com prazer, o povo,

porque vossa vinda

lhe dá lume novo.


CÉLULA ANIMAL

 


Glicocalix


A primeira estrutura que encontramos, sem precisar penetrar na célula, é conhecida como glicocalix. Ele pode ser comparado a uma "malha de lã", que protege a célula das agressões físicas e químicas do meio externo. Mas também mantem um microambiente adequado ao redor de cada célula, pois retém nutrientes e enzimas importantes para a célula. O glicocalix é formado, basicamente, por carboidratos e está presente na maioria das células animais.


Membrana Plasmática


Membrana plasmática é uma película finíssima e muito frágil composta, principalmente, por fósfolipídios e proteínas. Ela tem importantes funções na célula, e uma delas é isolar a célula do meio externo. Seu tamanho é tão pequeno que se a célula fosse aumentada ao tamanho de uma laranja, a membrana seria mais fina do que uma folha de papel de seda. Água, substâncias nutritivas e gás oxigênio são capazes de entrar com facilidade através da membrana, que permite a saída de gás carbônico e de resíduos produzidos dentro da célula. A membrana é capaz de atrair substâncias úteis e de dificultar a entrada de substâncias indesejáveis. Exercendo assim um rigoroso controle no trânsito através das fronteiras da célula. É comum compará-la a um "portão" por suas funções e a um saco plástico pela sua aparência.


Citoesqueleto


Citoesqueleto é complexa rede de finos tubos interligados. Estes tubos, que são formados por uma proteina chamada tubolina, estão continuamente se formando e se desfazendo. Outros componentes do citoesqueleto são fios formados por queratina, formando os chamados filamentos intermediários. Finalmente existem os chamados microfilamentos, formados por actina.
Suas funções são: organizar internamente, dar forma e realizar movimentos da célula.


Citoplasma


Após atravessar a Membrana Plasmática, mergulhamos na parte mais volumosa da célula: o Citoplasma. Ele é o espaço entre a membrana e o núcleo. Sua forma não é definida e é nele que se encontram bolsas, canais membranosos, organelas citoplasmáticas que desempenham funções específicas nas células e um fluido gelatinoso chamado Hialoplasma


Parede Celular


A parede celular é um componente exclusivo das célula vegetal. Ela é uma feita a partir de longas e resistentes microfibrilas da celulose. Estas ficam juntas por meio de uma matriz feita de glicoproteínas (proteínas ligadas a açúcares), hemicelulose e pectina (polissacarídios).

A membrana esquelética celulósica (parede celular) é formada por duas paredes: a primária e a secundária. A primeira é presente nas células mais jovens, sendo finas e flexíveis (possibilitando o crescimento da célula). A segunda só é formada após o término do crescimento da célula. Esta, mais espessa e rígida, é secretada através da ámembrana plasmtica depositando-se entre esta e a superfície interna da parede primária.


Hialoplasma


É no hialoplasma que ocorrem a maioria das reações químicas da célula e também o armazenamento de energia para a célula. Sua concentração no citoplasma varia entre o Ectoplasma e o Endoplasma.


Retículo Endoplasmático -O labirinto intracelular


Nossa primeira visita no citoplasma é o Retículo Endoplasmático. Ele é um sistema de tubos e canais que pode-se destinguir em 2 tipos: rugoso e liso. Mesmo sendo de diferentes tipos eles estão interligados. Este complexo sistema, é comparável à uma rede de encanamentos, onde circulam substâncias fabricadas pela célula.


Aparelho de Golgi (ou complexo de Golgi)


O aparelho de Golgi (cujo nome é uma homenagem ao cientista que o descobriu, Camillo Golgi) é um conjunto de saquinhos membranosos achatados e empilhados como pratos. E estas pilhas, denominadas dictiossomos, se encontram no citoplasma perto do núcleo. O complexo é a extrutura responsável pelo armazenamento, transformação, empacotamento e "envio" de substâncias produzidas na célula. Portanto é o responsável pela exportação da célula. É comum compará-lo a uma agência do correio, devido ambos terem funções semelhantes. Este processo de eliminação de substâncias é chamado de secreção celular. Praticamente todas as células do corpo sintetizam e exportam uma grande quantidade de proteinas que atuam fora da célula.


Lisossomos - Reciclando Resíduos


As células possuem no citoplasma, dezenas de saquinhos cheios de enzimas capazes de digerir diversas substâncias orgânicas. Com origem no complexo de golgi, os lisossomos existem em quase todas as células animais. As enzimas são produzidas no RER , depois são transferidas para o dictiossomo do complexo de golgi. Lá, são identificadas e enviadas para uma região especial do complexo e por fim serão empacotadas e liberadas como lisossomos.

Eles são as organelas responsáveis pela digestão da célula (a chamada digestão intracelular). Num certo sentido, eles podem ser comparados a pequenos estômagos intracelulares. Além disso, os lisossomos tem a função de ajudar no processo de autofagia. Também podem ser comparados à centros de reciclagem, ou até mesmo a desmanches pois digerem partes celulares envelhecidas e desgastadas, de modo a reaproveitar as substâncias que as compõem.


Mitocôndrias- Casas de força da célula


Todas as atividades celulares consomem energia. Para sustentar , as células são dotadas de verdadeiras usinas energéticas: AS MITOCÔNDRIAS.

As mitocôndrias são pequenos bastonetes membranosos(lipoproteica),que flutuam dentro do citoplasma. Dentro delas existem uma complexa maquinaria química, capaz de liberar a energia contida nos alimentos que a célula absorve. Isso acontece da seguinte forma: as substancias nutritivas penetram nas mitocôndrias, onde reagem com o gás oxigênio, em um processo comparável à queima de um combustível. Essa reação recebe o nome de respiração celular. A partir daí é produzido energia em forma de ATP.


Finalmente, O Núcleo


Núcleo, o cérebro da célula. É ele que possui todas as informações genéticas, comanda e gerencia toda a célula. Dentro dele, esta localizado um ácido chamado DNA (ácido desoxirribonucléico). Este, formado por uma dupla hélice de nucleotídeos (formado por uma molécula de açúcar ligada a uma molécula de ácido fosfórico e uma base nitrogenada. O DNA é responsável por toda e qualquer característica do ser vivo. É ele que manda fazer as proteínas, determina a forma da célula etc. No homem, o DNA é que diz de que cor será os olhos, o tamanho dos pés etc.

O núcleo é composto por uma carioteca, cromatina e nucléolos. A carioteca é um tipo de membrana plasmática composta por duas membranas lipoprotéicas. Essa membrana possui vários poros em sua superfície. Esses são compostos por uma complexa estrutura proteica que funciona como uma válvula que escolhe que substância deve entrar e qual deve sair.

A cromatina é um conjunto de fios formados por uma longa molécula de DNA associada a moléculas de histonas chamados de cromossomos. É aonde parte das informações estão guardadas. Por último, o nucléolo é um corpo redondo e denso, constituído por proteínas, RNA e um pouco de DNA. É dentro dele que se forma os ribossomos, presentes em toda a célula.



 

 

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