Classicismo
O
Classicismo, terceiro grande movimento literário da língua portuguesa, marca o
início a chamada Era Clássica da Literatura.
A Era
Clássica é formada por três movimentos ou escolas literárias:
ERA CLÁSSICA
•
Classicismo (século XVI)
•
Barroco (século XVII)
•
Arcadismo ou Neoclassicismo (século XVIII)
O marco
inicial do Classicismo é o retorno de Sá de Miranda a Portugal, em 1527, depois
de passar alguns anos na Itália em contato com a nova literatura renascentista,
conhecida como “o doce estilo novo”.
O fato que marca o final do Classicismo é a unificação da Península Ibérica sob
o domínio espanhol em 1580, quando Portugal não consegue mais a sustentação
política e econômica do país.
É
importante lembrarmos que esta divisão – marco inicial e final de um movimento
– é apenas uma classificação para fins didáticos. Como já vimos no Humanismo,
antes mesmo do retorno de Sá de Miranda, alguns autores portugueses, como Gil
Vicente, já apresentavam antecipações renascentistas.
CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL
O
Classicismo Português ou também Renascimento em Portugal corresponde ao período
de apogeu da nação, marcado por grandes acontecimentos, dentre os quais se
destaca a expansão ultramarina. Veja um de seus símbolos:
A Torre
de Belém localizada na entrada do porto de Lisboa e construída no século XVI
simboliza a época das grandes navegações portuguesas.
O século XVI ficou
conhecido como a época dos grandes descobrimentos. Entre as grandes conquistas
ultramarinas estão: a descoberta do caminho marítimo para as Índias,
empreendida por Vasco da Gama, em 1498; o descobrimento do Brasil, em 1500 e o
descobrimento de várias regiões da África nos anos seguintes. Essa expansão
proporcionou uma grande prosperidade econômica e Lisboa transformou-se em um
importante centro comercial da Europa.
CARACTERÍSTICAS
Entre as várias
características do Classicismo, destacam-se:
Racionalismo – De acordo com essa concepção, a
razão era quem governava as emoções e os sentimentos, buscando uma harmonia, um
equilíbrio entre forma e conteúdo. Nessa concepção mais racional o indivíduo e
seu lugar deixavam de ser particularizados, assumindo um caráter mais
universal. A arte clássica estava preocupada com o Mundo e com o Homem.
Retomada da mitologia pagã – Os
autores greco-latinos eram imitados como modelos de perfeição - ideais de
beleza - e seus deuses eram retomados, aparecendo em grande escala nas
produções do período como figuras literárias ou como tema da pintura
renascentista.
Verossimilhança – Os
clássicos acreditavam que a beleza era o racional, aquilo que era verdadeiro. O
verdadeiro por sua vez, era o natural, daí resultou a valorização da natureza e
sua imitação constante.
Fusionismo – Correspondia à fusão, à união
da mitologia pagã com seus vários deuses e ninfas - com a tradição cristã. Não
se esqueça da importância, até hoje, da religião católica para os portugueses.
Medida Nova – Nós já vimos o que era no
Humanismo a Medida Velha – utilização de versos redondilhos – formados por
cinco ou sete sílabas poéticas. A Nova Medida Clássica correspondia ao uso dos
versos decassílabos e das formas fixas:
MEDIDA
NOVA
* Versos
decassílabos
* Formas
fixas
O verso
decassílabo, como o próprio nome já sugere, é um verso composto por dez sílabas
poéticas.
Também influenciados
pelo modelo greco-latino os clássicos utilizavam formas fixas de escrita, ou
seja, formas determinadas por algumas regras. Entre elas, destacaram-se o
soneto (composição fixa com 14 versos, dispostos em dois quartetos e dois
tercetos, ou seja, estrofes de 4 e 3 versos respectivamente), o terceto
(composição em estrofes de três versos), a oitava (composição de 8 versos
decassílabos), entre outras formas.
O Classicismo Português tem uma figura central. Falar sobre ele é falar sobre o grande Luís Vaz de Camões.
Camões
teve uma vida atribulada, marcada por muitos relacionamentos amorosos e por
muitas aventuras. Contam os estudiosos que seus vários casos amorosos,
geralmente com mulheres da corte, e seu jeito de valentão, foram responsáveis
por muitas brigas em Portugal. Mas foi como soldado, que numa batalha no norte
da África, perdeu o seu olho direito, ficando por esses motivos conhecido como
Trinca Fortes ou Diabo Zarolho. Como aventureiro, fez várias viagens que
retomaram a rota de Vasco da Gama na viagem do descobrimento do caminho
marítimo para as Índias, viagem esta que será retratada pelo poeta em Os
Lusíadas.
Veja a
composição da obra camoniana:
* Poesias
líricas
* Peças
teatrais
* Obra
épica – Os Lusíadas
A poesia lírica camoniana é marcada por uma
dualidade, ou seja, compreende duas vertentes. Ora são textos de nítida
influência medieval (escritos em redondilhos, com motes glosados), ora são
brilhantes exemplos da escola clássica, escritos em decassílabos e em formas fixas.
Poucas
foram as suas peças, apenas três são
conhecidas. Essas peças foram escritas sob a forma de autos. As duas primeiras
têm origem na tradição medieval e a última é de inspiração latina.
Veja um dos sonetos mais famosos de Camões:
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
Renato
Russo, o compositor e músico brasileiro, ao escrever a letra da música Monte
Castelo, utilizou-se de trechos desse famoso soneto de Camões e de um trecho
bíblico da 1ª carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, no capítulo 13. Veja a
semelhança:
Monte Castelo
Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria (...)
Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer (...)
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