quinta-feira, 26 de maio de 2022

BARROCO NO BRASIL

 

DIVISÃO DA LITERATURA BRASILEIRA

 

Como já vimos em outras aulas, as manifestações literárias são dividas didaticamente, em grandes eras e em períodos menores, chamados estilos de época, escolas ou ainda movimentos literários. Tal divisão também acontece com a Literatura Brasileira que apresenta duas grandes eras:

ERA COLONIAL

ERA NACIONAL

      A primeira grande era, a ERA COLONIAL, tem início com a vinda dos primeiros portugueses, em 1500, e se estende até 1808 com a chegada da família real ao Rio de Janeiro. A ERA NACIONAL tem início em 1836, com o Romantismo e se estende até os dias de hoje. O período entre 1808 a 1836 é conhecido como Período de Transição e envolve todo o processo de independência política.

Essas eras também apresentam subdivisões. Vejamos como está dividida a era colonial.

ERA COLONIAL

Quinhentismo (século XVI)

                                               Barroco (século XVII)

Arcadismo (século XVIII)

Os primeiros textos produzidos em solo brasileiro não são considerados como exemplos de manifestações literárias, caracterizam-se mais como textos históricos. Eram textos informativos voltados para a conquista material, para as descobertas da nova terra, ou textos escritos pelos jesuítas, voltados para a catequese. Esses textos fazem parte do chamado Quinhentismo brasileiro.

Não há um consenso quanto à primeira manifestação de uma literatura realmente brasileira. Alguns consideram o Barroco essa primeira manifestação de uma literatura realmente brasileira. Outros estudiosos preferem falar em literatura brasileira somente a partir do Romantismo, ou seja, a partir do século XVIII. Mas num aspecto todos concordam, é no Barroco que encontramos não só um o primeiro, mas um dos mais talentosos poetas brasileiros – Gregório de Matos.

O movimento Barroco compreende um longo período que se estende de 1601, com a publicação do poema Prosopopeia, de Bento Teixeira até meados do século XVIII (1768), com a fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica, Minas Gerais e a publicação do livro Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa.

 O termo Barroco no Brasil compreende duas grandes manifestações: o Barroco Literário e Arquitetônico do século XVII, principalmente na Bahia, e o Barroco mineiro do século XVIII, conhecido como Barroco tardio, contemporâneo do Arcadismo.

O que nos interessa é esse Barroco Literário. Vejamos esta imagem:

 


Casa de Engenho, Frans Post (1612-1680)

As manifestações brasileiras desse período refletem a visão de mundo e a estrutura de um país-colônia, marcado pelo ciclo econômico açucareiro. As poucas atividades culturais concentravam-se em Salvador, Bahia e em Recife, Pernambuco.

A produção barroca no Brasil foi muito influenciada pelo Barroco europeu. E você se lembra do que foi o Barroco?

 O Barroco, como já vimos, foi o movimento estético literário do conflito, dos impulsos contraditórios, do contraste entre claro/escuro, alma/corpo, céu/inferno, bom/mau. O Barroco foi arte do jogo de palavras e de ideias, que visavam surpreender o leitor não só através da construção cuidadosa do texto, marcado várias vezes por uma linguagem excessivamente rebuscada, mas também através de um alto poder de raciocínio lógico.

Esse jogo, essa atitude lúdica nos faz lembrar das duas faces barrocas:

        CARACTERÍSTICAS: rebuscamento da forma (gongorismo) rebuscamento do conteúdo (conceptismo) tentativa de conciliação de opostos

CULTISMO ou Gongorismo= Corresponde ao jogo de palavras e imagens visando ao rebuscamento da forma do texto, à ornamentação e à erudição vocabular. Nessa vertente barroca é comum o uso exagerado das figuras de linguagem, como metáforas, antíteses, hipérboles, hipérbatos, entre outras. O cultismo também é chamado de Gongorismo, por ter sido muito influenciado pelo poeta espanhol Luís de Gôngora.

CONCEPTISMO ou Quevedismo = Corresponde ao jogo de ideias e de conceitos, pautado no raciocínio lógico, visando ao convencimento à argumentação. O conceptismo também é chamado de Quevedismo, por ter sido muito influenciado pelo também espanhol, Francisco Quevedo.

O cultismo e o conceptismo também influenciaram nossos escritores. Vejamos os principais autores do Barroco no Brasil:

Bento Teixeira

Padre Antônio Vieira

Gregório de Matos

Manuel Botelho de Oliveira

Bento Teixeira, assim como o Padre Antônio Vieira não era brasileiro, ao contrário do que se pensou durante muito tempo, ambos eram portugueses que passaram algum tempo no Brasil. Bento Teixeira destaca-se por ser o autor do marco inicial do Barroco no Brasil, mas seu poema épico Prosopopeia não provocou muito reconhecimento na colônia. É uma imitação de Os Lusíadas, o que era muito comum na época, também escrito em decassílabos e dispostos em oitava rima.

Padre Antônio Vieira, como já vimos, embora escrevendo no Brasil apresentava a visão de mundo do homem europeu.
O Barroco brasileiro foi fruto de manifestações isoladas, visto que a Colônia ainda não dispunha de um grupo intercomunicante de escritores, nem de um público leitor influente, nem de vida cultural intensa, situação agravada pela proibição da imprensa e pela falta de liberdade de expressão.
Reflexo da literatura escrita na Península Ibérica, a produção dessa época também revela a crise do homem do século XVII, dividido entre os valores antropocêntricos do Renascimento e as amarras do pensamento medieval reabilitado pela Contra-Reforma. Essa tensão manifesta-se no confronto pecado/perdão, terreno/celestial, vida/morte, amor platônico/amor carnal, fé/razão, céu/inferno.

Observe essa dualidade neste último terceto do soneto A Jesus Cristo crucificado estando o poeta para morrer, de Gregório de Matos:

Esta razão me obriga a confiar, que, por mais que pequei,
neste conflito espero em vosso amor de me salvar.

Como as outras artes, a literatura empregou uma linguagem adequada à monumentalidade e à ostentação, exagerando no rebuscamento formal ao abusar de:

a)    antíteses, que refletem a contradição do homem barroco, seu dualismo. Dessa vez o exemplo é do soneto A instabilidade das cousas do mundo, do mesmo Gregório:

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,

Depois da luz, se segue a noite escura,

Em tristes sombras morre a formosura,

Em contínuas tristezas, a alegria.

     b) metáforas, que revelam as semelhanças subjetivas que o poeta descobre na realidade e a tentativa de apreendê-la pelos sentidos. O último terceto do soneto A Jesus Cristo Nosso Senhor de Gregório de Matos nos fornece o exemplo:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,

Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.

    c) hipérboles, que traduzem a pompa, a grandiosidade do Barroco. Também de Gregório é o exemplo que vem do soneto Aos afetos e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem, referindo-se o poeta ao pranto:

Ardor em firme coração nascido;

Pranto por belos olhos derramado;

Incêndio em mares de água disfarçado;

Rio de neve em fogo convertido. 

   d) utilização frequente de interrogações, que revelam incerteza e inconstância. Outra vez Gregório em A instabilidade das cousas do mundo:

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?

Se é tão formosa a luz, por que não dura?

Como a beleza assim se transfigura?

Como o gosto da pena assim se fia? 

Há duas correntes barrocas em literatura:

a) cultismo – estilo marcado pelo rebuscamento formal que abusa de antíteses, paradoxos, hipérboles, jogos de palavras, ordem inversa. Essa tendência é também chamada de gongorismo, devido à influência do poeta espanhol Luís de Gôngora. Outro exemplo de Gregório de Matos, neste fragmento do soneto Ao braço do mesmo Menino Jesus quando appareceo:

O todo sem a parte não é todo,

A parte sem o todo não é parte,

Mas se a parte o faz todo, sendo parte,

Não se diga, que é parte, sendo todo.

b) conceptismo – estilo desenvolvido sobretudo na prosa, preocupado em expor ideias e conceitos por meio do raciocínio lógico. O seguinte fragmento do Sermão da Sexagésima, de Vieira, exemplifica essa tendência:
Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermão, há de haver três concursos: há de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a sim mesmo? Para esta vista são necessários olhos, é necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus?

GREGÓRIO DE MATOS 

Gregório de Matos - o grande representante do Barroco no Brasil. 

         Gregório de Matos, filho de uma família abastada nasceu na Bahia, mas foi para Portugal, onde se diplomou em Direito. De volta ao Brasil firma-se como o primeiro poeta brasileiro. Assim como outros poetas, também teve uma vida atribulada e polêmica, sempre metido em desavenças com pessoas poderosas e influentes.

Graças às suas sátiras, marcadas pela linguagem maliciosa, direta e muitas vezes ferina, recebeu o apelido de Boca do Inferno.

Existem muitas dúvidas quanto à autenticidade de sua obra, isto porque Gregório de Matos não publicou nada em vida, não deixou nenhum texto autografado ou produzido de próprio punho. Sua obra permaneceu praticamente inédita até o início do século XX quando a Academia Brasileira de Letras publicou seis volumes com sua produção.

A diversidade e o antagonismo do espírito Barroco também estão presentes em Gregório de Matos. Vejamos as principais características de sua obra.

DUALISMO = Refletindo o dualismo barroco oscilou entre o sagrado e o profano. Ora demonstrava aversão pelo sagrado, pelo religioso, escrevendo textos sensuais e pornográficos, ora seus poemas apresentavam uma profunda devoção a Deus e aos santos.

     INSATISFAÇÃO = Vários textos mostram sua insatisfação com a vida na colônia e sua inadaptação ao ambiente baiano, frequentemente criticado.

    FUGACIDADE = Gregório de Matos deixou claro sua consciência sobre a transitoriedade da vida. Seus textos mostram frequentemente as vaidades humanas como insignificantes e passageiras.

     OUSADIA = Ao contrário do Padre Antônio Vieira que apresentava um caráter mais conservador, com uma visão europeia, Gregório de Matos é considerado um poeta inovador e irreverente. Mesmo adepto do cultismo, também cultivou o jogo de ideias presente no conceptismo.

Embora conhecido como poeta satírico, criticando não só as pessoas, mas também as instituições da época, Gregório de Matos apresenta uma obra vasta:

                                -SACRA

*POESIA LÍRICA          -AMOROSA

                                -ENCOMIÁSTICA

*POESIA SATÍRICA

POESIA SACRA = Ou religiosa é marcada pelo conflito gerado entre a vida mundana e o a vida espiritual. Entre a consciência do pecado e o desejo de salvação. Vejamos um fragmento de sua poesia religiosa:

“ ... Esta razão me obriga a confiar,

Que, por mais que pequei, neste conflito

Espero em vosso amor de me salvar.”

POESIA AMOROSA = Na poesia amorosa, também encontramos a dualidade barroca oscilando entre o amor elevado, espiritual e o sensualismo e o erotismo do amor carnal. Vejamos dois fragmentos de sua poesia amorosa, em que o autor define o amor:

“ Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:

Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal, em chamas derretido.

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 “O Amor é finalmente um embaraço de pernas, uma união de barrigas, um breve tremor de artérias.

Uma confusão de bocas,
Uma batalha de veias, um rebuliço de ancas;
Quem diz outra coisa, é besta.”


Gregório de Matos também escreveu textos de circunstância, laudatórios, destinados a elogiar pessoas importantes da época, é a chamada POESIA ENCOMIÁSTICA. Em suas sátiras, criticou os vários tipos humanos de sua época, os costumes, os primeiros colonos nascidos no Brasil, conhecidos como “caramurus” e principalmente o relaxamento moral da Bahia, numa posição de recusa em relação à exploração da colônia. Vejamos um exemplo de sua sátira:


“Que os brasileiros são bestas
E estão sempre a trabalhar
Toda a vida por manter
Maganos de Portugal”


Padre Antônio Vieira (1608-1697) 

Vieira nasceu em Portugal e aos seis anos veio para o Brasil. Aqui ordenou-se padre jesuíta e, em 1640, quando terminou o período de dominação espanhola, voltou a Portugal. Atacado pela Inquisição por defender cristãos-novos (judeus convertidos ao catolicismo), voltou ao Brasil em 1652. Expulso do Maranhão por criticar a escravidão a que os colonos submetiam os indígenas, foi proibido de pregar e condenado a prisão domiciliar. Suspensa a pena, Vieira seguiu para Roma para pedir a anulação do processo. Voltou ao Brasil, onde morreu.

Missionário, homem de ação, político doutrinador e mestre no uso da palavra, Vieira talvez tenha vivido na época ideal, pois a Colônia não dispunha de imprensa, o público leitor era extremamente reduzido, sendo a linguagem oral o meio mais adequado para divulgar ideias e persuadir auditórios.

Sua obra divide-se em:

1) obras de profecia: em que conjuga seu estilo alegórico de interpretação da Bíblia à crença no Sebastianismo, segundo a qual um futuro de glórias estaria reservado a Portugal: História do futuro, Esperanças de Portugal e Clavis Prophetarum.

2) cartas: em que discorre sobre sua atuação, a situação da Colônia e a política da época — as relações entre Portugal e Holanda, a Inquisição, os cristãos-novos.

3) sermões (cerca de 200): longos e elaborados segundo raciocínios claros. Seus sermões compõem-se de:

intróito ou exórdio: a parte introdutória, de apresentação;

desenvolvimento ou argumento: defesa da idéia, com base, quase sempre, na exemplificação bíblica;

peroração: a conclusão, a parte final do sermão.

Seus principais sermões são:

a) Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda (Igreja Nossa Senhora da Ajuda, Salvador, 1640): nele Vieira conclama o povo a combater os holandeses que cercam a cidade;

b) Sermão do Mandato (Capela Real de Lisboa, 1645): nele o pregador desenvolve o tema do amor divino em oposição ao humano;

c) Sermão de Santo Antônio aos Peixes (Maranhão, 1654): aqui Vieira critica os colonos do Maranhão e pede que libertem os índios escravizados;

d) Sermão da Sexagésima (Capela Real de Lisboa, 1655): em que resume a arte de pregar.

Observe, neste fragmento do Sermão da Sexagésima, o uso das metáforas para os quatro tipos de corações e sua opinião sobre a efemeridade das coisas no mundo (tema barroco por excelência): 

Sêmen est verbum Dei (A semente é a palavra de Deus)

O trigo, que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e pertubados com a passagem e tropel das coisas do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um: Et fructum fecit centuplum.

Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711) 

Brasileiro, estudou em Coimbra e foi amigo de Gregório de Matos. Publicou Música do Parnaso, uma coletânea de poemas escritos em português, castelhano, italiano e latim. Foi o primeiro poeta brasileiro a editar seus poemas. Dessa obra consta o poema “Ilha da Maré”, em que se percebem traços de nativismo:

Frutas do Brasil

E, tratando das próprias, os coqueiros
Galhardos e frondosos
Criam cocos gostosos,
E andou tão liberal a natureza
Que lhes deu por grandeza,
Não só para bebida, mas sustento,
O néctar doce, o cândido alimento.
De várias cores são os cajus belos;
Uns são vermelhos, outros amarelos,
E, como são vários nas cores
Também se mostram vários nos sabores,
E criam castanha,
Que é melhor que a de França, Itália, Espanha. (...)

No período barroco apareceram entre nós as primeiras academias literárias centralizadas na Bahia: em 1724, é fundada a Academia Brasílica dos Esquecidos e, em 1759, a Academia Brasílica dos Renascidos. Elas foram importantes porque, além de intensificarem o sentimento nativista, representaram a primeira tentativa de intercomunicabilidade literária (reuniram intelectuais e escritores e estabeleceram uma aproximação cultural entre os principais centros urbanos de então) e de contato com o público. As academias também fizeram um importante trabalho de pesquisa histórica. Sebastião da Rocha Pita, cujo pseudônimo era Vago, pertenceu à Brasílica dos Esquecidos e escreveu História da América Portuguesa.


BARROCO EM PORTUGAL E LITERATURA INFORMATIVA


Barroco em Portugal


Em Portugal, o Barroco ou também chamado Seiscentismo (por ter sido estilo que teve início no final do século XVI), tem como marco inicial a Unificação da Península Ibérica sob o domínio espanhol em 1580 e se estenderá até por volta da primeira metade do século XVIII, quando ocorre a Fundação da Arcádia Lusitana, em 1756 e tem início o Arcadismo.
O Barroco corresponde a um período de grande turbulência político-econômica, social, e principalmente religiosa. A incerteza e a crise tomam conta da vida portuguesa. Fatos importantes como: o término do Ciclo das Grandes Navegações, a Reforma Protestante, liderada por Lutero (na Alemanha) e Calvino (na França) e o Movimento Católico de Contra Reforma, marcam o contexto histórico do período e colaboram com a criação do “Mito do Sebastianismo”, crença segundo a qual D. Sebastião, rei de Portugal (aquele a quem Camões dedicou Os Lusíadas), não havia morrido, em 1578, na Batalha de Alcácer Quibir, mas que estava apenas “encoberto” e que voltaria para transformar Portugal no Quinto Império de que falam as Escrituras Sagradas). D. João é visto como o novo messias, o novo salvador.

Mas o que vem a ser a palavra Barroco? Não há um consenso quanto à sua origem. A mais aceita diz que o termo deriva da palavra Barróquia, nome de uma região da Índia, grande produtora de uma pérola de superfície irregular e áspera com manchas escuras, conhecida pelos portugueses como barroco. Aproximando-se assim do estilo, que segundo os clássicos era um estilo “irregular”, “defeituoso”, de “mau gosto”. Lembre-se de que a tradição clássica era marcada pela busca da perfeição e do equilíbrio.

Vejamos quais são as principais características barrocas:

Dualismo = O Barroco é a arte do conflito, do contraste. Reflete a intensificação do bifrontismo (o homem dividido entre a herança religiosa e mística medieval e o espírito humanista, racionalista do Renascimento). É a expressão do contraste entre as grandes forças reguladoras da existência humana: fé x razão; corpo x alma; Deus x Diabo; vida x morte, etc. Esse contraste será visível em toda a produção barroca, é frequente o jogo, o contraste de imagens, de palavras e de conceitos. Mas o artista barroco não deseja apenas expor os contrários, ele quer conciliá-los, integrá-los. Daí ser frequente o uso de figuras de linguagem que buscam essa unidade, essa fusão.

Fugacidade = De acordo com a concepção barroca, no mundo tudo é passageiro e instável, as pessoas, as coisas mudam, o mundo muda. O autor barroco tem a consciência do caráter efêmero da existência.

Pessimismo = Essa consciência da transitoriedade da vida conduz frequentemente à ideia de morte, tida como a expressão máxima da fugacidade da vida. A incerteza da vida e o medo da morte fazem da arte barroca uma arte pessimista, marcada por um desencantamento com o próprio homem e com o mundo.

Feísmo = No Barroco encontramos uma atração por cenas trágicas, por aspectos cruéis, dolorosos e grotescos. As imagens frequentemente são deformadas pelo exagero de detalhes. Há nesse momento uma ruptura com a harmonia, com o equilíbrio e a sobriedade clássica. O barroco é a arte dos contrastes, do exagero.

Tensão religiosa = Intensifica-se no Barroco, aspectos que já vinham sendo percebidos no Humanismo e no Classicismo:


ANTROPOCENTRISMO X TEOCENTRISMO = TENSÃO


A igreja católica, através da Contra Reforma, tenta recuperar o teocentrismo medieval (Deus como centro de todas as coisas) e o homem barroco não deseja perder a visão antropocêntrica renascentista (O homem como o centro de todas as coisas), assim o Barroco tenta atingir a síntese desses valores, ou seja, tenta conciliar razão e fé, corpo e alma, espiritualismo e materialismo. Poderíamos dizer que seria, em outras palavras, a racionalização da fé, a busca da salvação através da lógica.

O Barroco apresenta duas faces. Vejamos quais são:


- Cultismo

- BARROCO

- Conceptismo


CULTISMO = Corresponde ao jogo de palavras e imagens visando ao rebuscamento da forma do texto, à ornamentação e à erudição vocabular. Nessa vertente barroca é comum o uso exagerado das figuras de linguagem, como metáforas, antíteses, hipérboles, hipérbatos, entre outras. O cultismo também é chamado de Gongorismo, por ter sido muito influenciado pelo poeta espanhol Luís de Gôngora.

CONCEPTISMO = Corresponde ao jogo de ideias e de conceitos, pautado no raciocínio lógico, visando ao convencimento à argumentação. O conceptismo também é chamado de Quevedismo, por ter sido muito influenciado pelo também espanhol, Francisco Quevedo.

O jogo não só de ideias, mas também de palavras pode ser compreendido sob dois aspectos: um primeiro e mais visível se relaciona ao próprio espírito de contradição do Barroco e um segundo e mais sutil, relaciona-se à necessidade que os poetas tinham de escapar da rígida censura da Inquisição, daí o uso exagerado das metáforas (figura de linguagem usada para sugerir ideias de maneira sutil).

Padre Antônio Vieira é sem dúvida o grande nome do Barroco em Portugal. Por ter passado boa parte de sua vida no Brasil, alguns estudiosos costumam dizer que ele, juntamente com Gregório de Matos, é representante do Barroco brasileiro. Entretanto, como mostram outros autores, não podemos esquecer que mesmo escrevendo no e sobre o Brasil, o seu ponto de vista era sempre o do defensor dos interesses do intelectual europeu.

O Sermão da Sexagésima é uma de suas principais obras. Nela, Padre Antônio Vieira faz uma série de reflexões a respeito da arte de pregar, constituindo-se assim uma obra metalinguística, ou seja, se utiliza do próprio sermão para ensinar como fazê-lo, sempre condenando os exageros do cultismo. Vieira era contrário aos que se preocupavam apenas com as palavras, esquecendo-se da Palavra de Deus, com letra maiúscula.
Literatura Informativa


                                  A Primeira Missa, Vítor Meireles (1832-1903).

Quando chegaram aqui os portugueses encontraram uma grande população indígena:

A Dança dos Tapuias, Albert Eckhout (1610-1655)

No Brasil, a população de alfabetizados era pequena e a vida urbana era ainda muito precária. Não se costuma falar de Literatura brasileira propriamente dita neste período. A produção escrita do século XVI limitava-se a um conjunto de relatos escritos registrando as características físicas, étnicas e culturais da nova terra, relaciona-se mais às crônicas históricas que ao gênero literário. A esses relatos dá-se o nome de Literatura de Informação ou Literatura de Viagens.
Ao lado dessa produção começaram a surgir, pelas mãos dos jesuítas, as primeiras ocorrências de prosa, poesia e teatro em solo brasileiro, mas ainda, a partir da visão do europeu.

Camões épico

 

Camões épico – Os Lusíadas

Já vimos que Camões teve uma vida muito atribulada e que viajou bastante, inclusive refazendo a rota de Vasco da Gama na viagem do descobrimento do caminho marítimo para as Índias. Conta a história que numa dessas viagens Camões e sua amada Dinamene naufragam às margens do rio Mekong, no Camboja. Nessa viagem Camões também trazia consigo um manuscrito de sua grande obra, Os Lusíadas. Muitas pessoas brincam com esse episódio dizendo que no momento do naufrágio, com aquela confusão, Camões não sabia a quem salvar, se a amada ou sua obra prima. No final do incidente, a amada morre e o manuscrito permanece intacto.

Publicado em 1572, o texto Os Lusíadas é considerado o maior poema épico da língua portuguesa, não só por sua extensão, mas por seu imenso valor literário e histórico. E porque sua extensão? Muitos alunos se assustam com o tamanho da obra, composta por dez cantos organizados contendo em média cento e dez oitavas, perfazendo um total de oito mil oitocentos e dezesseis (8.816) versos decassílabos. Como já vimos, os versos decassílabos são os versos compostos por dez sílabas poéticas e as oitavas são composições com estrofes de oito versos.

Mas o que é um poema épico ou uma epopeia?

                                EPOPÉIA – DEFINIÇÃO

     A epopeia, uma das formas clássicas, é a narrativa de cunho histórico que registra poeticamente os grandes feitos, as aventuras de um herói ou de um povo. Para facilitar nossa compreensão, podemos falar que a epopeia é um longo poema narrativo.

A linguagem empregada na epopeia é sempre nobre, formal e muito solene, diferentemente da linguagem que usamos no dia-a-dia, daí a dificuldade de muitos alunos para compreender a beleza de tamanha obra. Mas a partir dessa aula eu espero que a linguagem rebuscada e a extensão do texto não sejam empecilhos para a sua leitura.

Todo poema épico apresenta uma estrutura rígida, herdada da Antiguidade Clássica. As partes de uma epopéia são as seguintes:

              1ª - Proposição

              2ª - Invocação

              3ª - Dedicatória

              4ª - Narração

              5ª - Epílogo

1ª - Proposição = parte em que se apresenta o assunto.

2ª - Invocação = parte em que o poeta pede auxílio aos deuses ou às musas (figuras femininas, musas inspiradoras dos poetas) para a realização da sua árdua tarefa, ou seja, escrever o próprio poema.

3ª - Dedicatória ou oferecimento = parte em que o poeta oferece a sua obra a uma figura ilustre.

4ª - Narração = parte em que ocorre a história propriamente dita.

        5ª - Epílogo = é o final da história, é o desfecho da narrativa.

                                        OS LUSÍADAS

 Em Os Lusíadas encontramos todas essas partes muito bem desenvolvidas. Veja agora a capa da sua primeira edição:

Por que será que Camões chamou sua obra de Os Lusíadas? E não O Lusíada? Ou a História de Vasco da Gama?

A palavra lusíadas significa “lusitanos”, palavra derivada do termo luso. Segundo a história, Luso teria sido o primeiro português. A partir dessa explicação fica fácil identificar quem é o herói de Os Lusíadas. Muitos, numa leitura superficial da obra, afirmam que é Vasco da Gama, mas como o próprio título já sugere, o herói de Os Lusíadas, ao contrário das epopeias da Antiguidade Clássica de Virgílio e Homero, é um herói coletivo, ou seja, todo o povo português, do qual com certeza, Vasco da Gama pode ser considerado um digno representante. A confirmação dessa interpretação nos é dada pelo próprio Camões logo na primeira estrofe do texto. Veja:

                       I

“As armas e os Barões assinalados

Que, da Ocidental praia Lusitana,

Por mares nunca dantes navegados,

Passaram ainda além da Taprobana

Em perigos e guerras esforçados,

Mais do que prometia a força humana,

E entre gente remota edificaram

Novo Reino, que tanto sublimaram (...)”

Veja que Camões na PROPOSIÇÃO faz uma introdução do assunto do poema: os grandes feitos dos célebres portugueses “os barões assinalados”. Taprobana era o nome de uma ilha localizada no Oceano Índico, mais tarde denominada Ceilão, atual Sri Lanka. Ir além dessa ilha demonstrava a superioridade náutica dos portugueses que se lançaram nas grandes navegações. Os três últimos versos da estrofe, “Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram (...)” referem-se aos navegadores portugueses que realmente conquistaram as Índias e edificaram o Reino Português no Oriente.

 Camões, além da descoberta do caminho marítimo para as Índias, das grandes navegações portuguesas, da conquista do império Português no Oriente narra também toda a história de Portugal, seus reis, seus heróis e as batalhas por eles vencidas.

Além desses aspectos, a PROPOSIÇÃO nos apresenta outros elementos fundamentais do Classicismo. Veja se você os encontra nas próximas estrofes:

                         II

E também as memórias gloriosas

Daqueles Reis, que foram dilatando

A Fé, o Império e as terras viciosas

De África e de Ásia andaram devastando, E aqueles que por obras valorosas

Se vão da lei da morte libertando:

Cantando espalharei por toda a parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

                                 III

Cessem do sábio Grego, e do troiano, As navegações grandes que fizeram:

Cale-se de Alexandro e de Trajano,

A fama das vitórias que tiveram,

Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

A quem Netuno e Marte obedeceram:

Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevanta (...)”

 

CARACTERÍSTICAS

 

Antropocentrismo = que como já vimos, corresponde à valorização do homem. Camões canta os grandes feitos dos homens, capazes de superar os perigos naturais e as próprias imposições divinas.

Nacionalismo = corresponde à exaltação dos heróis e das virtudes do homem português. “A memória gloriosa dos reis que foram dilatando a Fé e o Império...” Até as musas são nacionalizadas, as Tágides, musas do rio Tejo.

Fusionismo = Ao mesmo tempo em que fala da missão do homem português de expandir o cristianismo, de dilatar a Fé em “terras viciosas” apresenta a intervenção de divindades pagãs, como Netuno, Marte, as ninfas, entre outras personagens mitológicas.

Linguagem rebuscada = marcada pelo uso dos hipérbatos, inversões na ordem direta das frases, que dificultam a compreensão, ou seja, sujeito nem sempre aparece antes do predicado. Além dessa inversão na estrutura da frase há também, como vimos, a utilização dos decassílabos e da forma fixa, oitava.

Na INVOCAÇÃO o poeta pede inspiração às Tágides, ninfas do Tejo, importante rio português.

Quanto à DEDICATÓRIA, veja esta imagem:

 


O poema é dedicado a D. Sebastião, rei de Portugal na época em que Os Lusíadas foi publicado. D. Sebastião era visto desde pequeno como a garantia de independência de Portugal.

A NARRAÇÃO compreende três principais ações: a Viagem de Vasco da Gama às Índias, a narrativa da história de Portugal e paralelamente Camões narra os conflitos entre os deuses do Olimpo (nome de um monte da Grécia, onde, segundo a mitologia, seria a morada dos deuses).

 Temos em Os Lusíadas uma dupla ação histórica (história de Vasco da Gama e de Portugal) e uma ação mitológica (esse conflito dos deuses - Vênus e Marte eram favoráveis aos portugueses, enquanto Baco e Netuno queriam a todo custo impedir a viagem de Vasco da Gama).

A narrativa começa já no meio da viagem de Vasco da Gama, quando ele e sua tripulação já estavam em pleno Oceano Índico, próximos à Moçambique, onde aportaram. Depois passaram por outros lugares da África até chegarem a Melinde, onde Vasco da Gama narra os acontecimentos anteriores, e a história de Portugal. Saindo de Melinde chegaram finalmente ao destino – Calicute, nas Índias. Na viagem de volta, como recompensa por seus grandes feitos, os heróis portugueses são recepcionados por Vênus e várias ninfas, numa ilha paradisíaca. É o famoso episódio da Ilha dos Amores.

No EPÍLOGO, no final da narrativa, ocorre uma mudança brusca no tom vibrante e ufanista que permeou as outras partes. Nos últimos versos, Camões apresenta um tom pessimista, de descrédito, de crítica aos portugueses que estavam se esquecendo dos valores nacionais. Camões parece prever o que aconteceria anos depois, quando Portugal é forçado a submeter-se ao domínio espanhol.

Hoje em dia, infelizmente, poucas pessoas leem todo o poema. É comum a leitura dos principais episódios dos dez cantos. Os cantos correspondem aos capítulos da prosa ou aos atos do teatro. Entre os mais pedidos nos exames vestibulares de todo o Brasil estão: o episódio da Inês de Castro, no Canto III e o episódio do Velho do Restelo, no Canto IV.

Inês de Castro, no Canto III, é um episódio lírico-amoroso que conta a história amorosa da jovem Inês de Castro com o Príncipe D. Pedro. D. Pedro já era casado e possuía um filho legítimo, mas também tinha outros filhos com a amante Inês. Quando sua esposa morre, o príncipe se vê obrigado a casar novamente, então declara já ser casado com Inês. O rei e a corte com medo de que um de seus filhos bastardos assumissem o trono, na ausência de D. Pedro, mandam matar Inês. Quando fica sabendo do acontecido, D. Pedro ordena que sua amada, mesmo morta, seja coroada rainha. Daí a conhecidíssima frase do episódio de Inês de Castro, “aquela que depois de ser morta foi rainha”.

O Velho do Restelo, no Canto IV é o episódio que narra a saída das naus de Vasco da Gama ainda no Porto de Belém. No momento da partida aparece um velho, o Velho do Restelo, e faz uma série de críticas à ambição expansionista dos portugueses, numa clara postura medieval e conservadora.

O texto Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões é a grande obra épica da língua portuguesa de todos os tempos.


Literatura - Classicismo

 Classicismo

 

O Classicismo, terceiro grande movimento literário da língua portuguesa, marca o início a chamada Era Clássica da Literatura.

A Era Clássica é formada por três movimentos ou escolas literárias:

ERA CLÁSSICA

      Classicismo (século XVI)

      Barroco (século XVII)

      Arcadismo ou Neoclassicismo (século XVIII)

O marco inicial do Classicismo é o retorno de Sá de Miranda a Portugal, em 1527, depois de passar alguns anos na Itália em contato com a nova literatura renascentista, conhecida como “o doce estilo novo”. O fato que marca o final do Classicismo é a unificação da Península Ibérica sob o domínio espanhol em 1580, quando Portugal não consegue mais a sustentação política e econômica do país.

É importante lembrarmos que esta divisão – marco inicial e final de um movimento – é apenas uma classificação para fins didáticos. Como já vimos no Humanismo, antes mesmo do retorno de Sá de Miranda, alguns autores portugueses, como Gil Vicente, já apresentavam antecipações renascentistas.

CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

O Classicismo Português ou também Renascimento em Portugal corresponde ao período de apogeu da nação, marcado por grandes acontecimentos, dentre os quais se destaca a expansão ultramarina. Veja um de seus símbolos:


 

A Torre de Belém localizada na entrada do porto de Lisboa e construída no século XVI simboliza a época das grandes navegações portuguesas.

O século XVI ficou conhecido como a época dos grandes descobrimentos. Entre as grandes conquistas ultramarinas estão: a descoberta do caminho marítimo para as Índias, empreendida por Vasco da Gama, em 1498; o descobrimento do Brasil, em 1500 e o descobrimento de várias regiões da África nos anos seguintes. Essa expansão proporcionou uma grande prosperidade econômica e Lisboa transformou-se em um importante centro comercial da Europa.

 

CARACTERÍSTICAS

 

Entre as várias características do Classicismo, destacam-se:

Racionalismo – De acordo com essa concepção, a razão era quem governava as emoções e os sentimentos, buscando uma harmonia, um equilíbrio entre forma e conteúdo. Nessa concepção mais racional o indivíduo e seu lugar deixavam de ser particularizados, assumindo um caráter mais universal. A arte clássica estava preocupada com o Mundo e com o Homem.

Retomada da mitologia pagã – Os autores greco-latinos eram imitados como modelos de perfeição - ideais de beleza - e seus deuses eram retomados, aparecendo em grande escala nas produções do período como figuras literárias ou como tema da pintura renascentista.

Verossimilhança – Os clássicos acreditavam que a beleza era o racional, aquilo que era verdadeiro. O verdadeiro por sua vez, era o natural, daí resultou a valorização da natureza e sua imitação constante.

Fusionismo – Correspondia à fusão, à união da mitologia pagã com seus vários deuses e ninfas - com a tradição cristã. Não se esqueça da importância, até hoje, da religião católica para os portugueses.

Medida Nova – Nós já vimos o que era no Humanismo a Medida Velha – utilização de versos redondilhos – formados por cinco ou sete sílabas poéticas. A Nova Medida Clássica correspondia ao uso dos versos decassílabos e das formas fixas:

MEDIDA NOVA

*  Versos decassílabos

*  Formas fixas

O verso decassílabo, como o próprio nome já sugere, é um verso composto por dez sílabas poéticas.

Também influenciados pelo modelo greco-latino os clássicos utilizavam formas fixas de escrita, ou seja, formas determinadas por algumas regras. Entre elas, destacaram-se o soneto (composição fixa com 14 versos, dispostos em dois quartetos e dois tercetos, ou seja, estrofes de 4 e 3 versos respectivamente), o terceto (composição em estrofes de três versos), a oitava (composição de 8 versos decassílabos), entre outras formas.

  Camões

 

O Classicismo Português tem uma figura central. Falar sobre ele é falar sobre o grande Luís Vaz de Camões.

Camões teve uma vida atribulada, marcada por muitos relacionamentos amorosos e por muitas aventuras. Contam os estudiosos que seus vários casos amorosos, geralmente com mulheres da corte, e seu jeito de valentão, foram responsáveis por muitas brigas em Portugal. Mas foi como soldado, que numa batalha no norte da África, perdeu o seu olho direito, ficando por esses motivos conhecido como Trinca Fortes ou Diabo Zarolho. Como aventureiro, fez várias viagens que retomaram a rota de Vasco da Gama na viagem do descobrimento do caminho marítimo para as Índias, viagem esta que será retratada pelo poeta em Os Lusíadas.

Veja a composição da obra camoniana:

*  Poesias líricas

*  Peças teatrais

*  Obra épica – Os Lusíadas

A poesia lírica camoniana é marcada por uma dualidade, ou seja, compreende duas vertentes. Ora são textos de nítida influência medieval (escritos em redondilhos, com motes glosados), ora são brilhantes exemplos da escola clássica, escritos em decassílabos e em formas fixas.

Poucas foram as suas peças, apenas três são conhecidas. Essas peças foram escritas sob a forma de autos. As duas primeiras têm origem na tradição medieval e a última é de inspiração latina.

Os Lusíadas, tema da próxima aula, é sem dúvida, a grande obra de Camões, considerada a maior epopeia da língua portuguesa.

Veja um dos sonetos mais famosos de Camões:

 “Amor é um fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”

Renato Russo, o compositor e músico brasileiro, ao escrever a letra da música Monte Castelo, utilizou-se de trechos desse famoso soneto de Camões e de um trecho bíblico da 1ª carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, no capítulo 13. Veja a semelhança:

          Monte Castelo

Ainda que eu falasse a língua dos homens

E falasse a língua dos anjos,

Sem amor eu nada seria (...)

Amor é fogo que arde sem se ver

É ferida que dói e não se sente

É um contentamento descontente

É dor que desatina sem doer (...)


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