domingo, 24 de setembro de 2023

O Renascimento

 “TRANSFORMAÇÕES NO PENSAMENTO”

No período que se configura como a transição do Feudalismo para o Capitalismo, as artes, o pensamento e o conhecimento científico passaram por um processo de muitas mudanças, que foi denominado Renascimento Cultural. O termo Renascimento deve ser entendido como a retomada (renascer) do estudo de textos da cultura clássica greco-latina.
Durante a Idade Média, a alegria, o prazer, o riso eram associados às forças inferiores, tanto do ser humano corno do mundo sobrenatural. Questionamentos de ordem intelectual ou tentativas de desvendar o funcionamento da natureza eram encarados como heresia. O Renascimento representou a redescoberta do conhecimento e do estudo fora do âmbito daquelas matérias permitidas pela Igreja. 
Entre os séculos XV e XVI, desenvolveu-se na Europa Ocidental um movimento intelectual conhecido como Humanismo. Foram conhecidos como humanistas vários profissionais cultos, como escritores, artistas, professores universitários e médicos. Geralmente, os humanistas estavam ligados à burguesia. Os renascentistas preocupavam-se principalmente com as questões ligadas à vida humana. Por isso o movimento é identificado com o Humanismo.

Humanismo

O Humanismo expandiu-se pelos centros urbanos da Europa Ocidental e, em grande medida, deu origem ao Renascimento. Em cada região, esse humanismo renascentista teve características próprias. Por causa dessa diversidade, os historiadores costumam falar em Renascimentos e Humanismos, no plural.
A princípio, o Humanismo foi identificado com a valorização de disciplinas relacionadas à vida humana, como Matemática, Línguas, História e Filosofia laica. Eram os estudos de humanidades. No primeiro momento, o Humanismo preocupou-se em buscar nas pessoas suas belezas, seus aspectos positivos, em contrapartida ao pensamento medieval, que entendia os seres humanos como frutos do pecado”.
É importante entender que o processo de valorização da humanidade não significou uma ruptura com a religião, as pessoas não se tornaram descrentes. O Humanismo renascentista não rompeu com a ideia criacionista, ou seja, manteve a ideia de que Deus criou a Terra e as pessoas, mas mudou a relação entre esses elementos. O mundo não era mais pensado corno um lugar de sofrimento e sim um lugar de delícias, onde o ser humano, a mais perfeita das criações divinas, foi colocado para ser feliz, para usufruir dos benefícios e das belezas de tudo o que o rodeia, inclusive do próprio corpo.
Posteriormente, o Humanismo passou a identificar aquelas que analisavam de forma crítica as condições sociais, buscando uma outra maneira de viver distanciada daquele universo mágico e sombrio da Idade Média, e mais condizente com a nova realidade social.
Apesar de admirarem elementos da cultura greco-romana, os renascentistas não queriam que a Antiguidade pudesse “nascer de novo”, isto é, não queriam um simples retorno à Antiguidade. Afinal, não é possível fazer uma cultura renascer fora de seu contexto histórico. Além disso, quase todos os renascentistas estavam influenciados pelos princípios cristãos, mesmo que desejassem renová-los.
O Renascimento ocorreu principalmente nos séculos XV e XVI. Porém, o termo “Renascimento” se difundiu entre os historiadores europeus apenas no século XIX.

Um movimento urbano

A vida nas novas aglomerações urbanas que surgiram com o crescimento do comércio na Baixa Idade Média tinha características muito diferentes do modo de vida desenvolvido no feudo, o que levou ao estabelecimento de novas formas de pensar. Portanto, o Renascimento tem sido entendido como um movimento intelectual eminentemente urbano, expressão da sociedade que habitava as cidades livres.
O berço do Renascimento foram as cidades italianas que viviam do comércio, como Veneza, Pisa, Gênova e, principalmente, Florença. Essas cidades italianas mantiveram um contato constante com Bizâncio (Constantinopla), permitindo que os sábios bizantinos, que tiveram de fugir de sua terra por causa das brigas religiosas que marcaram aquela sociedade, se mudassem para a Península Itálica e fossem responsáveis, em grande parte, pelas mudanças culturais que estamos estudando. Da Península Itálica, o Renascimento difundiu-se por outras regiões da Europa. Assim, surgiram movimentos renascentistas em lugares como Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Holanda e Alemanha.

O mecenato

Os burgueses que haviam conquistado suas riquezas com a exploração do comércio e das atividades bancárias, os nobres que ainda conservavam fortuna ou os reis praticavam o mecenato. Tratava-se da ajuda financeira a artistas e intelectuais para que esses pudessem desenvolver seus trabalhos sem a necessidade de realizar outra tarefa que garantisse sua subsistência. Uma das famílias que se destacou no mecenato foi a dos Médici, em Florença, no século XV. O mecenas era, em geral, um adepto da nova forma de pensar e um apreciador das artes, mas muitos mecenas queriam apenas ganhar prestígio social.

A impressão de livros a partir da invenção de Gutenberg

Na Europa, durante a Idade Média, os livros eram co­piados à mão. O trabalho dos copistas era lento e a qualidade não era boa. Em 1450, o alemão Johannes Gutenberg criou a impressão mecânica, utilizando tipos móveis de metal. A nova técnica tornou inúmeras vezes mais veloz a reprodução de livros. A invenção de Gutenberg permitiu atender à crescente demanda por conhecimento. Mas não devemos nos iludir: o livro não se tornou popular, ao contrário, era ainda muito caro, inacessível para as camadas pobres da população.

Um movimento elitista

Esta é uma das questões fundamentais na análise do Renascimento: o seu caráter elitista. Tratou-se de um movimento intelectual e artístico cujas obras estavam ao alcance apenas de pessoas muito ricas. As pessoas que podiam se dedicar somente a estudar grego e latim ou a aprender técnicas de pintura não trabalhavam. Ou eram muito ricas ou eram financiadas por alguém muito rico.
O estudo pressupunha que a pessoa fosse alfabetizada, pré-requisito também inacessível à população pobre. Possivelmente, uma grande parcela da população que foi contemporânea dos renascentistas jamais tenha tocado na capa de um livro." 

Características do Renascimento

Os humanistas se incomodavam com os excessos da religião guiando todas as esferas da vida. Muitos deles criticavam, por exemplo, a visão dualista de que somos compostos de duas partes: espírito e corpo. Nesse dualismo, o espírito era considerado a parte superior e melhor, e o corpo era a parte inferior e pior. Por isso, o espírito deveria governar o corpo. Os humanistas procuravam recompor a integridade do ser humano, relacionando corpo e espírito com igual dignidade.
O Renascimento ocorreu em maior ou menor grau nas várias regiões da Europa. Começou na Itália, como vimos, e se expandiu para França, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Portugal e Holanda. Apesar das diversidades regionais, observamos características comuns e fundamentais do Renascimento, que vamos estudar agora.
• A retomada da cultura clássica: Denominamos cultura clássica o conjunto de obras literárias, filosóficas, históricas e de artes plásticas produzidas pelos gregos e pelos romanos na Idade Antiga. Os pensadores do Renascimento queriam, acima de tudo, conhecer, estudar, aprender, e os textos da cultura clássica foram vistos como portadores de reflexões e conhecimentos a serem redescobertos. O pensamento criado pelo Renascimento originou-se da reflexão sobre os textos da Antiguidade combinada com os valores culturais herdados da Idade Média. Os humanistas resgataram saberes e artes greco-romanos em diversos campos, como na filosofia, literatura, escultura, arquitetura, objetos de decoração etc.;
• antropocentrismo – o papel do ser humano na escolha dos rumos da própria vida era enaltecido. Alguns humanistas, como Pico Della Mirandola (1463-1494), argumentavam que Deus criou o homem dando-lhe liberdade para construir a si
mesmo. Isso entrava em choque com a cultura teocêntrica (centrada em Deus) que predominava desde a Idade Média. Assim, se antes a humildade cristã recomendava “desconfie sempre de si mesmo”, os humanistas cultivavam outra atitude:
“confie em si e amplie suas potencialidades”; “O homem é a medida de todas as coisas.”: Talvez a mais marcante de todas as características do Renascimento tenha sido a valorização do ser humano. O Humanismo ou Antropocentrismo, como é chamado com frequência, colocou a pessoa humana no centro das reflexões. Não se tratava de opor o homem a Deus e medir suas forças. Deus continuou sendo soberano diante do ser humano. Tratava-se na verdade de valorizar as pessoas em si, encontrar nelas as qualidades e as virtudes negadas pelo pensamento católico medieval. Nesse sentido, o “homem tornou-se a medida de todas as coisas”, ou seja. aquilo que servia ao ser humano passou a ser visto como bom, o que não servia, como não bom. Essa ideia de que o homem é a medi­da de tudo foi criada pelos gregos e, como tudo o que é oriundo daquela cultura, aplicava-se à elite. Na Europa renascentista, a situação era a mesma. Parafraseando os gregos, podemos dizer que “o homem da elite é a medida de todas as coisas.
• conhecimento racional – a pesquisa experimental, o estudo da natureza e os cálculos matemáticos eram valorizados. Isso se chocava com a supervalorização da fé (verdades reveladas pela religião) em todos os campos do conhecimento. Assim, se antes predominava o princípio do “crer para compreender”, os humanistas buscavam “compreender para crer”;
• O ideal de universalidade: Os renascentistas acreditavam que uma pessoa poderia vir a aprender e saber tudo o que se conhece. Seu ideal de ser humano era, portanto, aquele que conhecia todas as artes e todas as ciências. Leonardo da Vinci, que foi considerado o modelo de homem renascentista, dominava várias ciências e artes plásticas. Ele conhecia Astronomia, Mecânica, Anatomia, fazia os mais variados experimentos, projetou inúmeras máquinas e deixou um grande número de obras-primas pintadas e esculpidas. Da Vinci foi a pessoa que mais conseguiu se aproximar do ideal de universalidade. 
• individualidade – a curiosidade intelectual, a vontade de fazer ciência, o desejo de aventura e a expansão da criatividade foram estimulados. Expressando admiração pelo
ser humano, Shakespeare (1564-1616) escreveu: “Que obra de arte é o homem: tão nobre no raciocínio, tão infinito em capacidade”. Essa valorização do indivíduo se opunha ao coletivismo da cristandade, ou seja, à ideia de que os seres humanos pertenciam a um mesmo rebanho de Deus, ao qual deviam submissão, obediência e mansidão.

Artes plásticas

As obras renascentistas apresentam algumas características em comum, sobretudo nas artes plásticas. Os artistas renascentistas, por exemplo, representavam temas da mitologia clássica e da religiosidade cristã, paisagens e cenas do cotidiano. Além disso, eles se destacaram pelo interesse no mundo à sua volta e no estudo da natureza.
Os artistas renascentistas preocuparam-se também em realizar obras duradouras. Era a busca da perenidade, isto é, daquilo que permanece por longo tempo. Para isso, desenvolveram novos materiais, como a tinta a óleo, que, quando seca, é mais resistente às mudanças de temperatura e umidade.
Além disso, os pintores renascentistas desenvolveram a técnica da perspectiva para conferir uma aparência tridimensional aos personagens e aos objetos representados.
A perspectiva dá ao observador a ideia de que as figuras representadas têm altura, largura e profundidade, parecendo mais reais aos olhos humanos.
Durante o Renascimento, muitos artistas passaram a assinar suas próprias obras para marcar que elas eram uma criação autoral e individual. Além disso, pintaram autorretratos ou se representaram como um dos personagens da obra. O autorretrato era uma maneira de o artista estudar feições humanas e aperfeiçoar sua técnica.
Os pintores alemães Albrecht Dürer (1471-1528) e Hans Holbein (1497-1543) fizeram vários retratos e autorretratos
que são considerados obras-primas nesse gênero de pintura.

Pensadores do Renascimento

Erasmo de Roterdã
• Erasmo de Roterdã (1466 ou 1467-1536). Nascido nos Países Baixos, é considerado um dos principais humanistas do Renascimento. Seu texto mais conhecido é Elogio da Loucura, no qual faz críticas contundentes aos poderes constituídos, inclusive à Igreja Católica.
• Nicolau Maquiavel (1469-1527). O italiano Maquiavel ganhou notoriedade por ter escrito O Príncipe, que traça as diretrizes do poder no Estado moderno.
• Thomas Morus (1480-1535). De origem inglesa, esse pensador escreveu uma notável crítica à sociedade de sua época no livro Utopia.

O RENASCIMENTO CIENTÍFICO

Um certo distanciamento adotado pelos renascentistas em relação às pregações católicas que condenavam a investigação científica favoreceu, a partir do século XVI, o desenvolvimento de vários ramos da ciência. A principal contribuição do Renascimento ao conhecimento científico foi o desenvolvimento da observação e da experimentação. boi a partir dessas práticas que os renascentistas avançaram no conhecimento.
As duas principais figuras do Renascimento Científico foram Leonardo da Vinci e Nicolau Copérnico (1473 1543). Da Vinci inventou inúmeros mecanismos e instrumentos bélicos. Projetou máquinas novas e aperfeiçoou outras já conhecidas. Dedicou-se ao estudo da anatomia humana, da Física, da Botânica, da Astronomia. Como já foi salientado, ele foi o modelo do renascentista, pois se dedicou a várias áreas de conhecimento.
Copérnico contribuiu na ampliação do da Matemática, da Mecânica e da Astronomia. Formulou em 1543, a teoria heliocêntrica. que afirma que afirma que a Terra gira em torno do Sol, contrariando a doutrina católica medieval que defendia a idéia de que a Terra é o centro do universo.
Às ciências naturais progrediram graças à contribuição de muitos estudiosos, como Gesner e Rondelet, que investigaram a fauna; o geólogo Georg Bauer, que descobriu novas formas de aproveitamento dos minérios; na Medicina, André Vesálio e Miguel Servet aprofundaram os estudos de Leonardo da Vinci sobre anatomia humana e circulação sanguínea, enquanto Ambroise Paré criava a técnica de usar ataduras para estancar a hemorragia.

Artistas e suas obras

• Sandro Botticcili (1444 – 1510) A arte do florentino Botticelli é inegavelmente muito bonita. Os principais temas de sua obre foram as cenas religiosas e as cenas mitológicas. Suas criações mais conhecidas são aquelas que retratam temas da Mitologia, como Nascimento de Vênus e Primavera. Uma de suas imagens sacras. Madona da Magnificat, é uma das mais suaves e belas representações da Virgem com o Menino.

• Leonardo da Vinci (1452-IS 19). Sua inspiração artística foi notável. Assim como nas ciências, o italiano Leonardo foi versátil também nas artes. Era um bom es­cultor, desenhista e pintor genial. Foi o artista que introduziu na pintura o contraste claro/escuro, isto é, o jogo entre as partes claras e as sombras. Suas obras mais conhecidas são as telas A Ultima Ceia, Mona Lisa (ou La Gioconda) e a Virgem dos Rochedos.

• Rafael (1483-1520). Raffaello Sanzio, ou simplesmente Rafael como ficou conhecido, era pintor e arquiteto. Dedicou-se a pintar imagens sacras, as quais A Virgem com o Menino é uma das mais bonitas, e também figuras femininas. Sua obra mais grandiosa e que expressa seu envolvimento com o pensamento renascentista é a Escola de Atenas. Rafael também era italiano.

• Michelangelo Buonarroti (1475- 1564). Também conhecido como Miguel Ângelo. O artista viveu a maior parte de sua vida em Roma e recebeu de seus contemporâneos o título de divino. O que conhecemos de seus trabalhos permite perceber que o título é merecido. Suas esculturas traduzem movimento e sentimento, como se o artista, ao moldar a pedra, lhe desse alma. Como pintor, Michelangelo também foi brilhante. Suas obras mais conhecidas são as esculturas Pietá, Moisés e David e as muitas pinturas que compõem o teto da Capela Sistina.

Literatura

• Dante Alighieri (1265-1321). O italiano Dante é considerado pré-renascentista. Sua obra mais importante, A Divina Comédia, é considerada o ponto mais alto atingi­do pela poesia italiana.

• Giovanni Boccaccio (1313-1375). O florentino Boccaccio era escritor e poeta, e seu texto mais conhecido é O Decameron.

• François Rabelais (1494-1553). O renascentista francês tornou-se conhecido por dois textos, Gargantua e Pantagruel, onde satiriza o comportamento do clero e os dogmas católicos.

• Luís de Camões (1524-1580). A obra mais conhecida do poeta português é Os Lusíadas, um poema épico que narra o heroísmo português na gIaI1de aventura que foi a Expansão Marítima.

• Miguel de Cervantes (1547 1616). () espanhol Cervantes escreveu Dom Quixote. unia verdadeira obra-prima literária e histórica que narra de forma sensível a impossibilidade de manter os valores medievais no mundo burguês em formação, assim como aponta o equívoco histórico da nobreza espanhola que. ao modelo de Quixote. tem a mente povoada de fantasias medievais e não desperta para a realidade dos novos tempos.

• William Shakespeare (1564-1616). O mais importante dramaturgo inglês. Seus textos mais conhecidos são Romeu e Julieta, Hamlet, A Megera Domada, Henrique V, Otelo, Rei Lear e Macheth.



RENASCIMENTO CULTURAL

Período da história europeia caracterizado por um renovado interesse pelo passado greco-romano clássico, especialmente pela sua arte. O Renascimento começou na Itália, no século XIV, e difundiu-se por toda a Europa, durante os séculos XV e XVI.

O renascimento abriu uma porta para o conhecimento e os estudos. Devido a preocupação maior dos renascentistas ser a vida humana, este movimento também foi chamado de Humanismo.
O Renascimento e o Humanismo nasceram na Itália, em função da riqueza das cidades italianas, da presença de sábios bizantinos, da herança clássica da Antiga Roma e da difusão do mecenato. A invenção da Imprensa contribuiu muito para a divulgação de novas ideias.

O Humanismo

O humanismo era a valorização de matérias que envolviam a vida humana, como matemática, línguas, história e filosofia laica. Procurava nas pessoas suas belezas, seus aspectos positivos, ou seja aspectos mais ligados ao pensamento burguês do que ao da igreja. O humanismo , ou seja , o homem sendo o centro das atenções, do universo, daí o termo Antropocentrismo.
Humanista era um sábio que criticava os valores medievais e defendia uma nova ordem de idéias. Valorizava o progresso e buscava revolucionar o mundo através da educação. Foi o grande responsável pela divulgação dos valores renascentista pela Europa.
Outro elemento responsável pela expansão das novas ideias foi a imprensa de tipos móveis, inventada pelo alemão Johan Gutemberg, tornando mais fácil a reprodução de livros.
No Renascimento desenvolveram-se as artes plásticas, a literatura e os fundamentos da ciência moderna.

MOTIVOS PARA SURGIR O RENASCIMENTO

O renascimento foi um movimento urbano, visto que foi muito bem apoiado pelos burgueses. Era a expressão do povo que habitava as cidades livres. Os primeiros focos renascentistas foram nas cidades italianas. Visto que viviam do comércio, entre elas estavam: Veneza, Pisa, Gênova e Florença. Estas cidades receberam uma forte influência dos sábios bizantinos, que haviam fugido de Bizâncio, por causa dos conflitos religiosos.
Outro fator que contribuiu para o renascimento foi o surgimento dos mecenas, estes eram ricos que patrocinavam os artistas renascentistas. Alguns o faziam apenas como forma de ajuda, ou investimento pessoal, outro também queria ganhar prestígio social. Alguns mecenas destacados foram : os Médicis ,em Florença e os Sforza, em Milão.
Além da influencia dos sábios bizantinos, havia os árabes que mantinham contatos comerciais com os italianos.
Em 1450, Johannes Gutenberg, criou a impressão mecânica, através do uso de tipos móveis de metal. Essa invenção facilitou a vida dos apaixonados por livros, já que o trabalho de um copista era manual e demorava muito para a conclusão da obra.
Mesmo com essa invenção o livro ainda não se tornou popular, por que sua fabricação ainda era cara e de difícil acesso para a população em geral.
Um fator importante sobre o renascimento é que ele foi um movimento de caráter elitista, intelectual e artístico, por isso suas obras estavam a disposição somente para os ricos.

As características do renascimento foram:

-o retorno a cultura clássica – o pensamento renascentista originou-se da reflexão sobre os textos greco- romano juntamente com a heranças dos valores medievais.

-Antropocentrismo- o homem passa a ser o centro de tudo. Não é uma tomada do lugar de Deus como o criador, mas sim de uma valorização pessoal e de suas qualidades, antes negadas pelo pensamento medieval.

-O ideal de universalidade- para os renascentistas a pessoa podia conhecer tudo que lhe fosse apresentado. O ser humano ideal era aquele que conhecia todas as ciências e todas as artes.

O Renascimento Italiano

A Itália foi o berço do Renascimento. O acentuado desenvolvimento comercial vivenciado por cidades como Veneza, Florença, Roma, Milão e Nápoles atraiu centenas de artistas, homens das ciências e intelectuais. Os artistas italianos ocuparam lugar de destaque no Renascimento. De acordo com o historiador Nicolau Sevcenko (1952-2014), a obra dos grandes pintores italianos serviu de base para o estilo renascentista e teve enorme influência na arte ocidental até o início do século XX. Os principais nomes do Renascimento italiano foram:

- Dante Alighieri (1265-1321) – autor do poema a Divina Comédia, escrita em dialeto toscano em substituição ao latim, descreve uma imaginária viagem ao inferno, purgatório e paraíso, fazendo ousada crítica à sociedade de seu tempo, especialmente aos membros da Igreja.

- Francesco Petrarca (1304-1374) – poeta considerado “pai do humanismo” escreveu De África e Cancioneiros. De África é um épico sobre as Guerras púnicas, em que o autor realça traços clássicos, especialmente o heroísmo dos homens.

- Giovanni Boccaccio (1313-1375) – autor de Decameron, coletânea de 100 novelas (dez partes de dez contos cada uma), nas quais se exprime numa linguagem muito espontânea, anticlerical e cheia de sensualidade, satirizando o mundo, exaltando o individualismo e os aspectos terrenos da vida.

- Giotto (1267-1337) – pintor florentino, autor de São Francisco Pregando aos Pássaros e de Lamento Ante o Cristo Morto. Em suas obras o divino assume uma feição humana, exprimindo dor ou alegria.
- Sandro Botticelli (1457-1510) – pintor, entre tantas outras obras, de Alegoria da Primavera e Nascimento de Vênus. Seus trabalhos buscam a perfeição, a beleza e a pureza humanas idealizadas.

- Leonardo da Vinci (1452-1519) – foi considerado um grande humanista. Sua obra se estende a diversos campos: anatomia, engenharia, mecânica, física, escultura, pintura etc. Pintou poucas telas e afrescos, mas suas criações são consideradas obras-primas, como A última ceia, Mona Lisa (ou Gioconda) e A virgem dos rochedos; aplicou estudos científicos à pintura, elaborando trabalhos sobre forma, cores, luz e sombra. Homem de inteligência invejável, dedicou-se a vários domínios da arte e da ciência. Famoso também por projetos dos quais destacamos alguns que podem ser considerados precursores do submarino e do helicóptero.

- Nicolau Maquiavel (1469-1527) – considerado o pai da ciência política por seu trabalho O Príncipe. Ao escrevê-lo, Maquiavel demonstra sua preocupação com o esfacelamento da Itália envolvida em guerras e lutas civis, exposta a toda sorte de ameaças estrangeiras. Defende a centralização política, onde o governante – o príncipe – deveria concentrar em si o poder, não importando os de que lançassem mão.

- Michelangelo Buonarroti (1475-1564) –  foi pintor, escultor e arquiteto. Pintou afrescos na Capela Sistina, em Roma (mais tarde integrada ao Vaticano). Como escultor, produziu obras-primas, como Moisés, Pietà e Davi. Como arquiteto, projetou a cúpula da Basílica de São Pedro, também no Vaticano.

- Rafael Sanzio (1483-1520) – pintor que se dedicou principalmente à representação de madonas e da Escola de Atenas, foi outro mestre da pintura influenciado por Leonardo da Vinci e Michelangelo. Esse artista produziu afrescos para decorar o Palácio Apostólico, projetou partes da Basílica de São Pedro (a partir de 1514) e pintou representações da Virgem Maria com o Menino Jesus. 

O renascimento entrou em decadência na Itália quando de sua difusão pelos demais países da Europa. Tal coincidência decorre fundamentalmente do declínio econômico das cidades italianas após a expansão marítima ibérica, e da Contra-reforma, que perseguiu violentamente todos os que se opunham aos dogmas e determinações da Igreja católica, chegando a executar alguns pensadores humanistas.

Europa Renascentista

Partindo da Itália, o Renascimento difundiu-se pelas demais nações europeias, sendo grandemente favorecido pelo desenvolvimento comercial que elas experimentavam naquele momento. Durante esse processo, o movimento foi adquirindo novas características e especificidades.
A seguir, vamos conhecer três grandes escritores renascentistas: o inglês William Shakespeare, o espanhol Miguel de Cervantes e o português Luís Vaz de Camões, que produziram obras de alcance universal, em sintonia com os ideais do Humanismo.
• William Shakespeare (1564-1616) ficou famoso por peças de
teatro como Romeu e Julieta (1595), Hamlet (1601), Otelo (c. 1603) e Macbeth (c. 1607). Romeu e Julieta é uma história de amor entre dois jovens que são impedidos de vivê-lo por causa da rivalidade entre suas famílias.
Miguel de Cervantes (1547-1616) se destacou pela obra Dom Quixote de la Mancha (1605), que satiriza os ideais da cavalaria medieval. Seus protagonistas são Dom Quixote e Sancho Pança. Dom Quixote é um sonhador fascinado por histórias em que heroicos cavaleiros defendem injustiçados e desamparados. Sancho Pança é mais realista e preso a valores materiais.
• Luís Vaz de Camões (1524-1580) ficou conhecido por sua obra Os lusíadas (1572), que narra de forma heroica a história de Portugal, desde sua origem até a época das Grandes Navegações, no século XV. A palavra “lusíadas” significa “portugueses” e deriva de Lusitânia, nome dado pelos antigos romanos para a região de Portugal.
Alguns nomes da Renascença europeia devem ser lembrados, como o dos literatos franceses Rabelais e Montaigne, autores de Gargântua e Pantacruel e Ensaios, respectivamente; dos ingleses Thomas Morus, autor de Utopia,  Albert Dürer pintor alemão autor de Cristo Crucificado e Adoração do Reis Magos; Erasmo de Roterdam, escritor holandês, autor de Elogio da Loucura, violenta crítica dirigida à Igreja;  e os portugueses Gil Vicente (dramaturgo), autor de Auto da Barca e Alta da Alma.

O RENASCIMENTO CIENTÍFICO

No Renascimento, muitos cientistas dedicaram-se a observar fenômenos naturais, fazer experimentos, propor hipóteses, testá-las e reavaliá-las. O próprio Leonardo da Vinci defendia que repetir ensinamentos do passado sem uma verificação pessoal significava apenas valorizar a memória, e não o entendimento verdadeiro dos fenômenos do mundo. A seguir, vamos conhecer cientistas daquela época que contribuíram para o desenvolvimento da astronomia.
As duas principais figuras do Renascimento Científico foram Leonardo da Vinci e Nicolau Copérnico (1473 1543). Da Vinci inventou inúmeros mecanismos e instrumentos bélicos. Projetou máquinas novas e aperfeiçoou outras já conhecidas. Dedicou-se ao estudo da anatomia humana, da Física, da Botânica, da Astronomia. Como já foi salientado, ele foi o modelo do renascentista, pois se dedicou a várias áreas de conhecimento.
O astrônomo e sacerdote polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) contribuiu na ampliação do da Matemática, da Mecânica e da Astronomia, propôs a teoria heliocêntrica, segundo a qual a Terra e outros planetas se movem em torno do Sol. Essa teoria contrariava a interpretação bíblica da época, segundo a qual o Sol se movia em torno da Terra (teoria geocêntrica). Copérnico evitou divulgar suas ideias porque temia a reação das autoridades católicas. Seu livro Da revolução de esferas celestes foi publicado no ano de sua morte, provocando indignação entre os religiosos.
Posteriormente, analisando a teoria de Copérnico, cientistas como o alemão Johannes Kepler (1571-1630) e o italiano Galileu Galilei (1564-1642) passaram a defendê-la, atacando um dos principais argumentos teocêntricos da Igreja. Por isso, Galileu foi acusado de heresia pelas autoridades católicas. No entanto,  para livrar-se das acusações e da pena de morte, ele negou publicamente suas convicções. 
Às ciências naturais progrediram graças à contribuição de muitos estudiosos, como Gesner e Rondelet, que investigaram a fauna; o geólogo Georg Bauer, que descobriu novas formas de aproveitamento dos minérios; na Medicina, André Vesálio e Miguel Servet aprofundaram os estudos de Leonardo da Vinci sobre anatomia humana e circulação sanguínea, enquanto Ambroise Paré criava a técnica de usar ataduras para estancar a hemorragia.
Atualmente, a religião não tem mais a influência que exerceu no passado sobre as pesquisas científicas. Mesmo assim, algumas pesquisas geram polêmicas no campo religioso. É o caso, por exemplo, daquelas feitas com células-tronco, que podem ajudar no tratamento de pessoas afetadas por doenças cardíacas, leucemia, trombose etc. No Brasil, as pesquisas com células-tronco foram autorizadas pela Justiça em 2008, mas esse assunto continua dividindo opiniões.

Renascimento Comercial na Europa Medieval

Durante a Idade Média, a maior parte da população da Europa ocidental vivia no campo. Isso acabou gerando a redução da vida urbana e a diminuição da atividade comercial. Apenas com as Cruzadas, a partir do século XI, é que essa realidade começou a se transformar.

O movimento provocado pelas Cruzadas, trouxe o crescimento das rotas comerciais entre o Oriente e o Ocidente, pelo mar Mediterrâneo, assim como das rotas localizadas no interior da própria Europa, a intensa atividade comercial, por sua vez, favoreceu o desenvolvimento das cidades.
O comércio e a formação das cidades provocaram profundas mudanças no cenário europeu, após alguns séculos, a estrutura da sociedade feudal não seria mais predominante no continente. Surgiriam, então, novos grupos sociais enriquecidos pelo comércio e desejosos de controlar também o poder político.

O ressurgimento do comércio e das cidades

Um dos fatores responsáveis pelo ressurgimento do comércio na Europa foram as Cruzadas, pois elas contribuíram para o restabelecimento das relações entre o Ocidente e o Oriente e para abertura do mar mediterrâneo aos mercadores da Europa ocidental.
Além disso, com as Cruzadas os europeus passaram a usar novos produtos trazidos do Oriente, como gengibre, pimenta, canela, cravo-da-índia, óleo de arroz, açúcar, figos, tâmaras e amêndoas. Tapetes vieram substituir a palha e o junco, usados para forrar o chão dos castelos. As sedas e os brocados modificaram as vestimentas, e espelhos de vidro substituíram os discos de metal polido usados até então.
Muitos desses produtos eram caros e difíceis de ser comprados. Por isso, alguns deles tornaram-se conhecidos como especiarias – é o caso, por exemplo, da pimenta e do gengibre.
O modo de vida dos mercadores não estavam fundamentado na agricultura ou na posse da terra, mas no comércio e no dinheiro. De maneira geral, eles utilizavam como rota comercial as antigas estradas romanas. Transportavam seus bens em caravanas de animais de carga e, muitas vezes, viajavam protegidos contra assaltos.

Feiras

Desde o século XII, feiras eram organizadas nos arredores das rotas de comércio. Essas feiras podiam durar semanas e reuniam pessoas de várias regiões para vender e comprar produtos como especiarias, vinho, azeite, seda, perfume, sal, açúcar, madeira, couro e mel. Entre as grandes feiras, destacaram-se as de Champagne, Flandres, Veneza, Gênova, Colônia e Frankfurt. Posteriormente, importantes cidades se desenvolveram nesses locais.
No ponto de confluência das principais rotas comerciais, realizavam-se grandes feiras. Nelas, podiam-se vender e comprar mercadorias vindas de diversas partes do mundo.

Rotas comerciais

As atividades comerciais na Europa também se intensificaram sobretudo a partir do século XI. Para melhorar a circulação de mercadorias, desenvolveram-se rotas comerciais marítimas e terrestres.
As rotas marítimas do norte da Europa passavam pelo Mar do Norte e pelo Mar Báltico, abrangendo cidades como Londres, Lübeck e Hamburgo. Essas rotas eram controladas pela Liga Hanseática, criada em 1241 como uma associação de comerciantes e produtores de Hamburgo e Lübeck.
As rotas marítimas do sul passavam principalmente pelo Mar Mediterrâneo, tendo como portos de destaque Barcelona, Gênova, Veneza, Trípoli e Constantinopla. Os comerciantes mais ativos das rotas do sul eram os genoveses e os venezianos. Essas redes de comércio marítimo eram interligadas por rotas terrestres. Elas aproveitavam, em boa parte, as antigas estradas construídas na época dos romanos. Mas novas vias de transporte também foram construídas. 
À medida que o comércio se expandia, formaram-se vilas e cidades. Por razões de segurança, os mercadores procuravam-se concentrar em lugares próximos a uma zona fortificada, cercada de muralhas, denominada burgo, muitas vezes, nesses lugares fortificados, localizavam-se a catedral, a moradia do bispo e, por vezes, o castelo do senhor das terras.
Nos burgos, além dos mercadores encontravam-se as oficinas dos artesãos, como sapateiros, ourives, ferreiros, oleiros e carpinteiros. Esses moradores eram chamados de burgueses e, aos poucos, foram se constituindo em um novo grupo social no interior do mundo medieval europeu: a burguesia.
Ao lado do comércio, cresceu a produção artesanal. Os artesãos organizaram-se em corporações de ofício, também conhecidas como guildas ou grêmios. Havia corporações de ferreiros, tecelões, carpinteiros, sapateiros, entre outros.
As corporações regulamentavam o exercício da profissão e controlavam o fornecimento, a qualidade e o preço dos produtos.

Corporações e guildas

A expansão do comércio e das cidades provocaram vários conflitos sociais. As áreas que as cidades ocupavam pertenciam aos senhores feudais, bispos, nobres e reis. Esses senhores pretendiam submeter os moradores dos burgos, cobrando deles impostos, taxas e serviços. Essa prática era comum em relação aos servos, mas os burgueses não estavam dispostos a aceitá-la. Eles julgavam que isso constituía um obstáculo para o desenvolvimento de suas atividades.
Em suas andanças, os mercadores haviam aprendido a importância da união. Eles viajavam em grupos por estradas, mares e regiões desconhecidas, para se proteger contra assaltantes e piratas ou mesmo para obter melhores negócios.
Assim, com o tempo, foram surgindo associações de artesãos e de comerciantes, cujo objetivo principal era defender os interesses econômicos de seus membros. As associações de artesãos eram chamadas corporações de ofício, e as de comerciantes, guildas ou ligas. Unidos eles pretendiam evitar a concorrência, fixar preços e regulamentar o trabalho, além de enfrentar os limites impostos pelos senhores e nobres feudais.

As cidades e os burgueses

Durante a Idade Média, surgiram várias cidades cercadas por altas muralhas, formando um núcleo chamado de burgo. Do termo nasceu a palavra burguês, usada para se referir aos comerciantes ou artesãos que viviam no burgo. Com o aumento da população, os burgos estenderam seus limites para fora das muralhas.
O crescimento do comércio e do artesanato contribuiu para que os burgueses ficassem mais independentes dos senhores feudais. A princípio, os burgueses pagavam tributos aos nobres ou ao clero, pois viviam em áreas dominadas por eles. Em troca desse pagamento, negociavam o direito de livre comércio, proteção militar e liberdade para administrar as cidades. Em diversas ocasiões, porém, a autonomia das cidades foi conquistada por meio de lutas.
As cidades que se tornaram independentes ficaram conhecidas na França como comunas e na Península Itálica como repúblicas. Os moradores dessas cidades elegiam um governo, que cuidava da administração e da defesa. Os burgueses mais influentes ocupavam os principais cargos administrativos, elaboravam leis, criavam tribunais e cobravam impostos.
Um antigo ditado alemão dizia que o “ar da cidade torna o homem livre”. A frase reflete o momento histórico em que as cidades medievais conquistavam autonomia em relação aos senhores feudais. Podemos dizer que esse ditado expressa o desejo de muitos trabalhadores de conquistar mais liberdade. A liberdade de escolher seu próprio trabalho e de viver onde quisessem. Tudo isso foi sendo conquistado, mas não de uma hora para outra, nem em todos os lugares.

As transformações na Europa

Com o fortalecimento das cidades e do comércio surgiu na Europa um novo ideal de vida. Até então, em geral, as pessoas só podiam almejar realizações pessoais, como reconhecimento por ser um guerreiro valente. Para o burguês, no entanto, o mais importante era acumular fortuna. Por isso, ele trabalhava intensamente, procurando aumentar cada vez mais os negócios e os lucros.
O aumento da prática comercial fez ressurgir a importância do dinheiro. O comércio, fundamentado antes na simples troca de produtos, passou a se basear na troca de produtos por moeda. O próprio mercador, precisando de dinheiro para viajar e comprar mercadorias, começou a pedi-lo emprestado, propiciando o desenvolvimento das casas bancárias.
Em conseqüência do, algumas regiões passaram a se especializar na produção e comercialização de determinados produtos. Borgonha e o vale do Reno, na atual França, por exemplo, especializaram-se em vinho; Provença, em sal, e assim por diante. Houve também o aumento do número de pessoas que trabalhavam por salário.
Todas essas mudanças alteraram a organização política e social da Europa.

As revoltas camponesas e a peste negra

Com o comércio, a nobreza feudal passou a utilizar novos produtos, sobretudo os de origem oriental. Para garantir os recursos necessários ao sustento desses novos hábitos, a exploração sobre os servos aumentou. Em resposta surgiram revoltas e fugas de camponeses para as cidades.
Além disso, o aumento da população gerou uma expansão das zonas agrícolas, com a ocupação de áreas florestais e de pastagens. A ocupação das pastagens, por sua vez, provocou a falta de adubo animal. Como resultado as colheitas tornaram-se insuficientes, causando fome e subnutrição e tornando os europeus mais vulneráveis às doenças. 
Nos séculos XIV, a peste negra dizimou mais de um terço da população europeia. A peste foi provocada por bactéria originária do Oriente.

A vida nas cidades

O crescimento das cidades era limitado pelas muralhas dos burgos. Ninguém desejava morar fora delas, temendo por sua segurança. Como não era possível destruir os muros, e a população aumentava, as casas cresciam para cima, chegando a ter até três andares. A maior parte das casas era de madeira, o que favorecia os incêndios, que às vezes destruíam completamente uma cidade.
Não existiam calçadas nem esgotos, o que facilitava a proliferação de doenças. A noite quase não havia iluminação. De dia, as vilas também permaneciam bastante sombrias. As pessoas circulavam pela cidade no meio dos animais, que comiam os restos de alimentos jogados pelas janelas.
Artesãos e comerciantes agrupavam-se por ruas conforme suas atividades. Símbolos divertidos, como um gato que pesca, por exemplo, indicavam as lojas àqueles que não sabia ler.
A partir do século XII, com a expansão das atividades comerciais e o crescimento das cidades, os comerciantes sentiram necessidade de saber ler, escrever e contar, para atender a essa necessidade, começaram a se organizar escolas.
As universidades, a partir do século XII, se multiplicaram pela Europa. Veja a data e o lugar das principais universidades que surgiram então: Bolonha (1158), Paris (1200), Cambridge (1209), Pádua (1222). Nápoles (1224), Toulouse (1229).
Nas universidades, os professores e alunos dedicavam-se a diversas áreas do conhecimento, como artes, gramática, matemática, retórica, direito, medicina, teologia. O ensino era dado em latim.

A África Negra

Hoje a África é lembrada, mais frequentemente, pela pobreza dos que a constituem e pelas continuas guerras civis que contrapõem seus habitantes, agravando ainda mais o estado de miséria de sua população.

Atualmente, a África é formada por 54 países, onde vivem cerca de 1,3 bilhão de pessoas, que falam mais de 2000 línguas diferentes. A África é o segundo continente mais populoso do mundo, atrás apenas da Ásia. Tanto hoje como no passado, esse continente sempre se caracterizou pela diversidade de paisagens, sociedades e culturas.
A partir do século XV, foram difundidos muitos preconceitos sobre a África que repercutem até os dias atuais. Desde o século XX, pesquisas históricas vêm contribuindo para superar essas ideias, ampliando a compreensão da cultura africana.
Algumas ideias estereotipadas afirmavam que o continente africano seria um lugar desolado, onde existiriam somente florestas tropicais e desertos áridos, habitados por animais selvagens e povos primitivos.
De acordo com essas ideias, os povos africanos seriam atrasados, não teriam história nem cultura. Nada mais incorreto que isso: como todos os grupos humanos, as sociedades africanas desenvolveram suas culturas. No Egito antigo, por exemplo, nasceu um dos primeiros sistemas de escrita conhecidos. Muito antes da chegada dos europeus àquele continente, os africanos ergueram grandes reinos, poderosos impérios e imensas cidades, com uma agitada vida urbana. Também já realizavam trocas culturais e econômicas entre si e com povos da Europa, do Oriente Médio e da Ásia.
No ensino de história do Brasil, o continente africano é geralmente mencionado apenas como o fornecedor de mão-de-obra escrava para a antiga América portuguesa e o Império, além de berço de características raciais e culturais dos brasileiros.
Na história geral, o Egito e o norte da África parecem um continente apartado do imenso território africano, como se a história deste, por não estar diretamente ligada à da Europa até o século XV, não fosse interessante, o período entre os séculos VIII e XIV da chamada África Negra – a parte do continente povoada por etnias negras –, situada abaixo do Saara de onde saía boa parte das mercadorias consumidas pelos europeus e comercializadas por bizantinos e muçulmanos.

Fontes da história da África

Para estudar a história africana, pesquisadores podem utilizar fontes escritas e não escritas. A seguir, conheça algumas delas:
• fontes escritas – textos de viajantes que passaram pelo continente, como Ibn Batuta (1304-1369), que escreveu Presente oferecido aos observadores (mais conhecido como Viagens de Ibn Batuta), e Leão Africano (1494-1554), cuja obra intitula-se Descrição da África e das coisas notáveis que ali existem;
• fontes não escritas – obras de arte, construções, vestimentas, tradições orais, costumes etc. Entre as fontes não escritas, destacam-se as histórias contadas pelos griôs ou djélis, pessoas originárias da África Ocidental e responsáveis pela transmissão das tradições orais por várias gerações. Eles se especializaram em recitar as histórias de diversos povos africanos em longas narrativas faladas ou cantadas, que podem ser acompanhadas por instrumentos de corda ou percussão.
O conhecimento transmitido oralmente é fundamental para estudar a história dos povos da África, uma vez que muitas informações não foram registradas em papel, permanecendo apenas na memória das pessoas. Essas memórias permitem, por exemplo, conhecer os conflitos sociais, as tradições das famílias dominantes, a vida cotidiana das pequenas famílias e comunidades.

Civilizações ao sul do Saara

O Deserto do Saara ocupa uma longa faixa ao norte do continente africano. Como outros desertos, o Saara não é um lugar fácil de ser habitado. Ali há pouca água e os solos são arenosos. Isso dificulta a prática da agricultura e da pecuária. Porém, no deserto, existem regiões conhecidas como oásis, que têm água e solos férteis. Os muçulmanos que viviam e circulavam em oásis nas regiões desérticas da Arábia e do norte da África mantinham relações comerciais e culturais com os povos da África Equatorial, situada ao sul do Saara. 
A partir do século XI, em função das conquistas militares e da conversão religiosa, a presença dos árabes muçulmanos se consolidou na região. Grande parte dos habitantes da África Equatorial foi islamizada, ou seja, convertida à religião islâmica. Os árabes chamavam a África Equatorial de “terra dos negros”, região onde se desenvolveram várias civilizações.

A Etiópia e as cidades da costa oriental africana

Até o século VIII da era cristã, o contato dos povos da Ásia e da Europa com os do centro e do sul da África foi dificultado pelo deserto do Saara. Este, extremamente árido e inóspito, começou a ser atravessado pelos muçulmanos, que buscavam não só as riquezas dos reinos ao sul do rio Nilo, como também a conversão de sua população.
Essa travessia ocasionou o contato com povos até então pouco conhecidos ou mesmo ignorados por europeus e asiáticos. Os povos africanos se organizavam de formas diversas. Muitas tribos viviam da caça, da pesca e da colheita de frutos silvestres. Outras se fixaram sobretudo às margens dos rios, onde desenvolveram a agricultura, constituindo-se em reinos.
O mais antigo reino africano era a Etiópia, conhecida dos gregos e dos romanos. “Etiópia” é uma palavra grega que significa o país dos “caras queimadas”. Na Antiguidade, os gregos chamavam todas as terras onde viviam negros de “Etiópia”, sem distinção.
Durante a dominação bizantina no Egito e na Núbia, a Etiópia converteu-se ao cristianismo, religião a que permaneceu fiel mesmo depois de os dois reinos vizinhos terem sido conquistados pelos muçulmanos.
Do século VIII ao XIII, o reino etíope forneceu à Arábia marfim, ouro, âmbar, almíscar, peles de pantera e escravos – principalmente eunucos (homens castrados) de pele clara –, vendidos a altos preços no mar Vermelho e no golfo Pérsico.
Durante os primeiros séculos da era cristã, mais ao sul, principalmente nas ilhas da costa banhada pelo oceano Índico, já havia pequenos entrepostos comerciais. Por eles passavam navios romanos, árabes e persas em busca de incenso, marfim, carapaças de tartaruga, chifres de rinoceronte, escravos, peles de pantera, etc. Deixavam em troca lanças, adagas e machados de ferro, tecidos de algodão, objetos de vidro, vasos de cerâmica e um certo “mel extraído de uma cana” – o açúcar.
O islamismo difundiu-se lentamente na região a partir do século VIII até o final do XII. Constituída basicamente por cidades autônomas, quase nada se sabe sobre sua estrutura política. O intenso comércio com as tribos somalis ou bantas que as circundavam explica a ausência de muralhas cercando essas cidades. Para estas, numa rede de sucessivos escambos, vinham os escravos o ouro, o marfim e as peles obtidos no interior africano, que recebia em troca sal, peixe seco, panos, ferro, contas e cauris (espécie de concha usada como moeda). A partir do século XV, os europeus disputarão esses portos com os muçulmanos.

O reino Aksum

A Etiópia moderna, criada no século XX, originou-se do antigo reino de Askum. Segundo a tradição lendária, a monarquia aksumita foi fundada no ano 1000 a.C. por um suposto descendente da união do rei Salomão, de Israel, com a rainha de Sabá, cidade da antiga Arábia.
O mais provável é que judeus ou pessoas convertidas ao islamismo tenham chegado à Etiópia vindos da Arábia do Sul. Desembarcaram em pequenos grupos e prosseguiram, na Etiópia, o processo de conversão das populações ao judaísmo.
Grande parte dos aksumitas dedicava-se à agricultura e à criação de animais. Eles cultivavam o trigo e outros cereais, conheciam também o cultivo da uva e usavam arados puxados por bois, carneiros, cabras, asnos e mulas.
Em aksum diversos artesãos trabalhavam os metais e construíam casas. Utilizavam um tipo de cimento que permitia construir casas de pedra e madeira.
A organização política do reino de Aksum centrava-se na figura de um rei, que controlava outros reinos que lhe pagavam tributos. Os parentes do rei trabalhavam na direção dos negócios públicos e na organização dos exércitos.
O reino de Askum foi o primeiro reino africano a ter moedas de ouro, prata e cobre. As moedas aksumitas tinham legenda em grego, língua corrente entre as pessoas mais próximas do rei, e nelas eram gravados os nomes dos soberanos. Na população em geral, o etíope antigo era a língua mais usada.
Aksum controlava rotas comerciais que o ligavam ao Egito, à Síria e às regiões do interior da África. Comerciantes aksumitas ofereciam mármore, chifres de rinoceronte, couro de hipopótamo, macacos e escravos.

Um reino cristão na África

O cristianismo foi introduzido em Askum por volta do século IV. Após a conversão dos reinos vizinhos ao islamismo, no século VII, Askum, um reino cristão, isolou-se do restante do mundo.
No século XIV, uma delegação aksumita em visita à Europa reacendeu naquele continente o desejo pela busca do reino do “Preste João”. Segundo a lenda, Preste João seria um rei cristão do Oriente que ajudaria os europeus na luta contra os muçulmanos. Até então, os europeus acreditavam que esse rei vivesse na Ásia. A partir dos relatos dos viajantes aksumitas, muitos aventureiros europeus partiram para Aksum, em busca desse soberano.

Os reinos de Gana e Mali

Com a utilização do camelo como meio de transporte, ao longo dos primeiros séculos da era cristã, as terras ao sul do Saara e a região do Mediterrâneo estabeleceram contatos comerciais, intermediados pelas tribos berberes. Desde fins do século III, o ouro, em pequenas quantidades, começou a atravessar o deserto, rumo ao norte da África. Não por acaso, Cartago funcionou como importante centro de cunhagem de moedas durante a dominação bizantina.
Com o tempo, pequenas aldeias transformaram-se em centros de comércio, riqueza e poder na região de origem do metal precioso. Cada um desses centros procurava controlar o comércio com as caravanas, o acesso às salinas do deserto (o sal servia principalmente de moeda de escambo com outros povos) e o domínio das rotas caravaneiras.
O ouro – tão importante para a economia da Europa e do Oriente – e o sal foram as fontes de riqueza que sustentaram o poder de Gana. É provável que Gana existisse desde o século IV. Já no final de século VIII, os muçulmanos se referiam a ele como o País do Ouro, embora entre seus habitantes “gana” fosse o título usado pelos reis.

Gana, o primeiro grande reino

Na África, ao sul do Deserto do Saara, havia grandes reinos. O reino de Gana, no oeste do continente, desenvolveu-se a partir de 300 d.C. e durou quase mil anos. 
O Reino de Gana foi um dos primeiros Estados formados ao sul do Saara. Localizado na região das nascentes dos rios Senegal e Níger, esse reino conquistou grande poder político e econômico entre os séculos IV e XII. Havia diversas atividades econômicas, mas o ouro era a principal fonte da riqueza de Gana. Por isso, esse reino ficou conhecido como “terra do ouro”.
Nessa sociedade, o rei era visto como o elo entre os deuses e os homens. Uma hierarquia composta de sacerdotes, nobres e funcionários cuidava da administração do reino. Cada cidade tinha seu governante, que devia obediência ao rei. Entre os membros da elite, podemos citar: os sacerdotes das religiões politeístas tradicionais, os nobres e os altos funcionários do governo.
A população do reino dedicava-se à agricultura, criação de gado, comércio e ao artesanato (marcenaria, cestaria, tecelagem, metalurgia etc.). Por meio da metalurgia, eram fabricados objetos como armas, utensílios agrícolas, máscaras e adornos.
No comércio, era comum os ganenses trocarem ouro por diversos produtos. Entre eles, destaca-se o sal, que era raro e muito apreciado. As trocas comerciais eram feitas com povos vizinhos e com comerciantes que cruzavam o Deserto do Saara. O comércio era essencial para a economia do reino, assim como as minas de ouro.
Os domínios e o poderio de gana atingiram o apogeu entre o final do século X e o início do século XI, quando seus soberanos se converteram ao islamismo. Um de seus reis, Tunca Menin, que chegou ao trono em 1062 ou 1063, podia reunir sob seu comando até 200 mil soldados, sendo 40 mil deles arqueiros.
A partir do século XI, a influência muçulmana se intensificou na região. Isso pode ser observado pela construção de mesquitas e pela conversão de muitos ganenses ao islamismo. 
A prosperidade que o comércio trouxe ao reino também atraiu as tribos vizinhas, que o pilhavam, ocasionando a invasão da capital – Koumbi – por nômades do Saara. Embora tenha durado pouco essa ocupação provocou desarranjos no comércio e disputas pelo poder em Gana, enfraquecendo e desorganizando o reino. No século XII, o Reino de Gana se desestruturou após ser conquistado por tropas do Reino do Mali.
Por volta de 1240, Koumbi foi ocupada pelos malinês, então já convertidos ao islamismo. Os domínios do Máli, cujo soberano era chamado mansa, estenderam-se sobre as antigas minas auríferas de Gana e sobre os povos mineradores vizinhos.

O poderoso reino do Máli

O Reino do Mali desenvolveu-se às margens dos rios Níger e Senegal, onde vestígios indicam a existência de uma sociedade organizada desde o século III. As águas desses rios fertilizavam o solo e também eram usadas como via de transporte. O solo fértil favorecia a produção agrícola que alimentava a população do reino.
O reino do Mali surgiu ao redor da cidade de Timbuktu, fundada por volta do ano 1100. A cidade nasceu como ponto de apoio e abastecimento das caravanas que traziam sal das minas do Deserto do Saara. O sal era trocado por ouro e escravos trazidos pelo Rio Níger. Os malineses tornaram-se os principais fornecedores do metal precioso para a Ásia e, em menor quantidade, para a Europa.
No século XIII, esse reino se fortaleceu sob a liderança de Sundiata Keita (1217-1255), que se converteu ao islamismo. Nessa época, o Reino do Mali iniciou a conquista de territórios vizinhos. O Mali tornou-se um império influente na região e sua expansão prosseguiu até o século XIV, sobre áreas do Reino de Gana e dos atuais Senegal e Gâmbia.
Uma das mais importantes cidades do mundo muçulmano na época, Timbuktu , pertencia ao Império do Mali. Nessa cidade, foi construída a Universidade de Sankore, criada por volta do século XII e frequentada por milhares de estudantes.
No século XIV, Timbuktu fazia parte do poderoso Império Máli, que controlava o lucrativo negócio do sal em toda a região. O império atingiu o seu auge sob o governo de Mansa Musa, que se converteu ao islamismo.
Timbuktu tornou-se o centro intelectual e espiritual islâmico da África ocidental. Grandes mesquitas, universidades, escolas e bibliotecas foram construídas durante o Império Máli. A cidade foi habitada por muçulmanos, cristãos e judeus durante centenas de anos, sendo um centro de tolerância étnica e religiosa.
Além de Timbuktu, destacavam-se outras cidades malinesas, como Djenné. Na cidade de Djenné, foi construída uma mesquita que é considerada a maior construção em adobe do mundo. 
Entre as principais atividades econômicas do Mali, estavam a produção de tecidos, cestas, barcos, objetos de ferro e ouro. Praticavam-se ainda o cultivo de cereais, a pesca fluvial e a criação de bois, camelos e cabras.
O Mali manteve-se como um império poderoso até o século XV. O Império Máli foi destruído com a invasão marroquina no século XVI e enfrentou rebeliões dos povos que havia conquistado.
O povo do Mali também era chamado de mandinga, nome pelo qual ficaram conhecidos homens e mulheres escravizados e enviados dessa região para o Brasil. Hoje, os territórios do antigo Império Malinês correspondem ao Mali e a Burkina Faso, entre outros países.

Reinos de Ifé e do Daomé

Nas regiões das atuais Nigéria, Benin e Togo, viviam povos como os iorubás e os jejes. Os iorubás fundaram diversos reinos que se fortaleceram entre os séculos XIII e XIV. 
Um deles foi o Reino de Ifé, que era governado por um soberano intitulado oni. O poder do oni era sobretudo político e religioso. Os demais reinos iorubás eram governados por chefes chamados obás.
Os jejes formaram o Reino do Daomé. Esse reino desenvolveu-se entre os séculos XVII e XIX e possuía um exército poderoso, sendo parte dele formado por mulheres. Viajantes europeus que estiveram na região associaram essas mulheres guerreiras às lendárias amazonas da Antiguidade. Os daometanos as chamavam de ahosi, palavra que significa “esposas do rei”, pois eram mulheres treinadas militarmente para serem guardiãs do rei do Daomé.
As mulheres guerreiras do Daomé eram nascidas no próprio reino ou capturadas em conflitos com os povos vizinhos. Como as guerras eram constantes nesse período, as forças militares masculinas e femininas aumentaram bastante nesse reino.

Tráfico de escravizados

Uma das principais fontes de riqueza do Daomé era o tráfico de pessoas escravizadas. A escravidão marcou a história de vários Estados africanos, principalmente depois da conquista europeia.
Entre os séculos XVI e XIX, milhares de iorubás e jejes foram escravizados e trazidos para o Brasil, Cuba e outras partes da América, enriquecendo os reis do Daomé e os traficantes europeus.

Zimbábue, o reino do sul

O reino do Zimbábue, localizado na porção sul do continente africano, tinha como característica a centralização política sob o governo de uma dinastia real.
Sendo o pastoreio a atividade desenvolvida pela maioria da população, era necessário criar meios de proteção, tanto dos rebanhos de animais como do amplo território utilizado para pastagens. O poder centralizado cumpria esse papel.
Além da atividade pastoril, havia a extração de ouro e marfim, negociado com comerciantes da Índia e da Arábia. Em troca, os mercadores africanos recebiam tecidos finos, porcelana chinesa e louças da Tailândia.
O luxo e o poder proporcionados pelo ouro ficam evidentes na Grande Zimbábue, uma cidade, hoje em ruínas, erguida entre 1100 e 1600, e que chegou a ter 17 mil habitantes. Em seu interior encontra-se o Grande Recinto, uma construção cuja muralha tinha 244 metros de comprimento e 10 metros de altura.

Reino do Congo

Em meados do século XIII, um dos povos bantos (bacongos) formou o Reino do Congo. Esse reino desenvolveu-se nos territórios dos atuais Estados do Congo, da República Democrática do Congo e de Angola.
As atividades econômicas mais importantes do reino eram a agricultura, a criação de animais, o comércio e o artesanato. No Reino do Congo, as trocas comerciais eram facilitadas pelo uso de conchas, que serviam como dinheiro para aquisição de produtos agrícolas, gado e objetos de uso cotidiano.
Na monarquia congolesa, o rei era chamado manicongo (“senhor do Congo”) e concentrava os poderes político e econômico. Ele atribuía poderes a funcionários de destaque, como o chefe de palácio, chefes das províncias, coletores de impostos, juiz supremo e sacerdote principal.
A capital do reino era M'banza Congo, uma cidade grande, cercada por muralhas e que existia antes da chegada dos portugueses. Historiadores consideram que M'banza Congo (situada na atual Angola) era uma cidade tão grande quanto as maiores cidades da Europa no mesmo período.
Na capital, o rei e sua corte viviam em belas construções que se destacavam das demais por sua arquitetura imponente e pela decoração sofisticada. Além da elite, vivia na cidade uma numerosa população que se dedicava às mais variadas atividades e que pagava impostos ao manicongo por meio de alimentos, tecidos de ráfia, sal e cobre.
M'banza Congo era o ponto de encontro de rotas comerciais que ligavam diversas aldeias do reino. A população dessas aldeias estava submetida ao governo central, a quem devia fidelidade e, em troca, recebia proteções terrena e espiritual.

Congoleses e portugueses

Em 1483, os portugueses chegaram ao Reino do Congo. Depois dos primeiros contatos, portugueses e congoleses estabeleceram relações amistosas e parcerias comerciais. Consolidando a aliança com os portugueses, o rei congolês Nzinga-a-Nkuwu (1440-1506) abandonou sua religião tradicional e converteu-se ao cristianismo em 1491. Rebatizou a cidade de M'banza Congo com o nome de São Salvador do Congo e adotou para si o nome de dom João I. Em 1506, o trono do Congo foi ocupado por seu filho Mbemba-a-Nzinga, rebatizado de Afonso I.
Afonso I (1456-1543) continuou o projeto de criar um reino cristão no Congo. Enviou seu filho Henrique para estudar em Portugal. Em 1518, o papa Leão X nomeou dom Henrique bispo de Útica, cidade na região da atual Tunísia. No entanto, a conversão ao cristianismo ficou limitada à família real e aos nobres. A maioria da população congolesa manteve a religião que praticava anteriormente, politeísta e com a presença de elementos da natureza.
O Reino do Congo sobreviveu até as primeiras décadas do século XVII, quando foi destruído pelas disputas entre portugueses e holandeses pelo tráfico de pessoas escravizadas.

O reino de Kush

O reino de Kush existiu onde hoje é o Sudão, na África ocidental, na região então conhecida como Núbia. O território núbio foi inicialmente explorado pelos faraós do Egito devido às suas riquezas, sobretudo o ouro. O próprio nome, Núbia, deriva de uma palavra que significava ouro na escrita egípcia.
A partir do século VIII a.C., com o declínio do poder egípcio, a Núbia ganhou maior autonomia. A primeira capital do reino de Kush foi a cidade de Napata, depois transferida para Méroe. Na capital moravam o rei e seus funcionários.
A organização política do reino centrava-se no rei, que era eleito pelos chefes militares, altos funcionários e líderes locais. O rei era considerado o filho adotivo de várias divindades.
A população de Kush era formada basicamente por agricultores, criadores de gado e por escravos obtidos em guerras. Artesãos e pequenos comerciantes também estavam presentes. No artesanato destacavam-se os produtos de ferro, couro e cerâmica, além de joias.
A criação de gado era a principal atividade econômica no reino de Kush, mas também se destacava o cultivo de trigo, lentilha, pepino, melão e abóbora. Assim como no Egito, construíram-se canais para aproveitar as cheias do Rio Nilo.

Fim da Idade Média

 O comércio e as cidades transformam a Europa

Tradicionalmente, a queda do Império Romano do Ocidente marca o fim da Antiguidade e o início da Idade Média.
O período medieval europeu costuma ser dividido em duas grandes etapas:
Alta Idade Média (século V a X) – fase da completa decomposição da sociedade romana antiga e da formação do sistema feudal.
Baixa Idade Média (século XI a XV) – fase da decadência do sistema feudal e da formação do sistema capitalista.
A Idade Média, na Europa, foi caracterizada pelo aparecimento, apogeu e decadência de um sistema econômico, político e social denominado feudalismo. Este sistema começou a se estruturar na Europa ao final do Império Romano do Ocidente (século V), atingiu seu apogeu no século X e praticamente desapareceu ao final do século XV.

A ALTA IDADE MÉDIA

No feudalismo vimos que os aspectos sociais e econômicos se uniram com os culturais e ideológicos. Mas o modo de produção feudal não surgiu do nada. Foi um processo contínuo de ascensão até a decadência. Pode-se dizer que cada região teve sua influência nas características feudais.
O processo de formação do mundo feudal teve um aceleramento a partir do século V, com a queda do Império Romano do Ocidente, iniciando a Alta Idade Média.
As transformações que ocorreram na Europa, que foi dominada pelos bárbaros germânicos, nesse período, resultou em reinos quase sempre frágeis e efêmeros.

Características da alta idade média (séc. V ao X)

-Formação do feudalismo
-Decadência do comércio
-Ruralização econômica
-Fortalecimento do poder local por meio dos senhores feudais
-Ascensão da igreja e do teocentrismo
-Invasão bárbara na Europa

Baixa Idade Média

"A Baixa Idade Média corresponde ao período entre os séculos XII e meados do século XV. Nesse momento histórico ocorreram inúmeras transformações no feudalismo, como o renascimento do mundo urbano e o reaquecimento das atividades comerciais; o fim do trabalho servil; o surgimento da burguesia; a centralização política nas mãos dos monarcas; e as crises da Igreja Católica. Toda a trama histórica levou o sistema feudal ao seu limite, produzindo uma grave crise que desembocou na transição para o capitalismo.

As transformações internas do feudalismo

A partir do século XI até o século XV, a Europa passou por profundas transformações econômicas, políticas e sociais, que levaram à desagregação do feudalismo.
O sistema feudal começou a desmoronar a partir do século XI, dando origem ao capitalismo ou sistema capitalista de produção. A desagregação do feudalismo e as origens do capitalismo decorreram de um conjunto de fatores, tais como:

· crescimento populacional europeu;
· desenvolvimento das técnicas agrícolas de produção;
· renascimento comercial.

Isso ocorreu de forma lenta e contínua, pois nenhum sistema é substituído por outro repentinamente. O crescimento do mercado consumidor exigiu o aumento da produtividade da terra e, para isso, foi necessário aumentar as áreas de produção e desenvolver as técnicas agrícolas. Com o tempo, a comercialização do excedente produzido nos feudos provocou profundas mudanças nas relações entre servos e senhores feudais. Muitos senhores, interessados nos lucros provenientes da comercialização do excedente produzido no feudo, aumentaram a exploração dos servos, provocando a fuga em massa desses para as cidades, em busca de liberdade e de melhoria de vida.
A passagem do século X ao XI foi um momento de mudanças na Europa feudal. Com o fim das invasões bárbaras (vikings e magiares), o mundo medieval conheceu um período de paz, segurança e desenvolvimento.
O primeiro dado importante refletindo esse novo momento foi o aumento da população. O crescimento demográfico foi ocasionado pelo fim das guerras contra os bárbaros e pelo recuo das epidemias, gerando uma queda da mortalidade. Além disso, ocorreu uma suavização do clima, proporcionando mais terras férteis e colheitas abundantes.
Esse crescimento implicou maior demanda de alimentos, estimulando o aperfeiçoamento das técnicas agrícolas para aumentar a produção. Assim, o arado de madeira foi substituído pela charrua (arado de ferro), facilitando o trabalho de aragem; a atrelagem dos animais foi aperfeiçoada, permitindo o uso do cavalo na tração; os animais passaram a ser ferrados; os moinhos foram melhorados; e o sistema trienal se estendeu por toda a Europa, proporcionando melhor qualidade e maior quantidade de produtos agrícolas.
No entanto, todo esse inegável desenvolvimento técnico foi limitado, não atendendo ao crescimento da população e, portanto, do consumo. Inicialmente novas terras foram ocupadas e desbravadas. Além disso, ocorreu um fenômeno histórico novo para a Idade Média, o êxodo rural, ou seja, parcelas consideráveis das populações rurais dirigiram-se para as cidades.

Um novo cenário

Durante o predomínio do sistema feudal, a economia era basicamente agropastoril, o poder estava descentralizado e a sociedade dividia-se entre nobreza, clero e trabalhadores. No entanto, todo esse cenário foi sendo modificado aos poucos.

Trabalho e práticas agrícolas

A partir do século XI, em diversas regiões da Europa, os servos conseguiram melhorar suas relações de trabalho. Às vezes, conseguiam aliviar o peso de obrigações como a talha e a corveia. Ocasionalmente, conseguiam contratos de arrendamento por meio dos quais os senhores cediam lotes de terra por preços e prazos determinados.
Nessa época, houve ampliação das áreas de plantação e foram introduzidos novos instrumentos e técnicas agrícolas. Entre eles, podemos destacar:
• rotação de culturas – divisão da terra em três áreas; enquanto duas áreas eram cultivadas, a outra parte descansava. Essa prática permitia que o solo se recuperasse mais rapidamente;
• charrua – tipo de arado grande puxado por bois ou cavalos, que permitia arranhar e revirar solos mais duros, trazendo para cima os nutrientes acumulados nas camadas mais profundas da terra;
• ferradura – peça de ferro colocada nos cascos dos cavalos que evitava que se machucassem ao andar;
• moinho – equipamento utilizado para moer cereais, esmagar olivas, quebrar minérios etc. Durante a Idade Média, os moinhos movidos pela força da água ou do vento foram aperfeiçoados e difundidos. Em geral, eram mais eficientes do que os moinhos movidos pela força animal.

O ressurgimento do comércio e das cidades

Um dos fatores responsáveis pelo ressurgimento do comércio na Europa foram as Cruzadas, pois elas contribuíram para o restabelecimento das relações entre o Ocidente e o Oriente e para abertura do mar mediterrâneo aos mercadores da Europa ocidental.
Além disso, com as Cruzadas os europeus passaram a usar novos produtos trazidos do Oriente, como gengibre, pimenta, canela, cravo-da-índia, óleo de arroz, açúcar, figos, tâmaras e amêndoas. Tapetes vieram substituir a palha e o junco, usados para forrar o chão dos castelos. As sedas e os brocados modificaram as vestimentas, e espelhos de vidro substituíram os discos de metal polido usados até então.
Muitos desses produtos eram caros e difíceis de ser comprados. Por isso, alguns deles tornaram-se conhecidos como especiarias – é o caso, por exemplo, da pimenta e do gengibre.
O modo de vida dos mercadores não estavam fundamentado na agricultura ou na posse da terra, mas no comércio e no dinheiro. De maneira geral, eles utilizavam como rota comercial as antigas estradas romanas. Transportavam seus bens em caravanas de animais de carga e, muitas vezes, viajavam protegidos contra assaltos.
No ponto de confluência das principais rotas comerciais, realizavam-se grandes feiras. Nelas, podiam-se vender e comprar mercadorias vindas de diversas partes do mundo.

As rotas comerciais

Com o desenvolvimento das relações mercantis, o comércio do sul da Europa passou a ser monopolizado pelas cidades italianas, principalmente Gênova e Veneza, as mais importantes distribuidoras das especiarias orientais. Para maior intercâmbio entre os principais centros de comércio, foram criadas rotas comerciais, como as seguintes:

Rota do Mediterrâneo – Ligava as cidades italianas a Constantinopla e a outros pontos do litoral oriental do Mediterrâneo.
Rota de Champagne – Ligava a Itália a Flandres, passando por Champagne, na França.
Rota do Mediterrâneo – Atlântico Norte – Ligava o Mediterrâneo a centros comerciais do Atlântico Norte, como Inglaterra, França e outros.

Os burgos

À medida que o comércio se expandia, formaram-se vilas e cidades. Por razões de segurança, os mercadores procuravam-se concentrar em lugares próximos a uma zona fortificada, cercada de muralhas, denominada burgo. Muitas vezes, nesses lugares fortificados, localizavam-se a catedral, a moradia do bispo e, por vezes, o castelo do senhor das terras.
Nos burgos, além dos mercadores encontravam-se as oficinas dos artesãos, como sapateiros, ourives, ferreiros, oleiros e carpinteiros. Esses moradores eram chamados de burgueses e, aos poucos, foram se constituindo em um novo grupo social no interior do mundo medieval europeu: a burguesia.
Como inicialmente as cidades eram patrocinadas pelos senhores feudais, os burgueses se submetiam à sua autoridade. Todavia, com o crescimento do comércio e o fortalecimento da burguesia, as cidades iniciaram movimentos de independência (movimentos comunais).
Essas lutas ocorreram basicamente de duas maneiras:
· as cidades alcançavam sua liberdade de forma pacífica, pela compra de cartas de franquia, que lhes asseguravam autonomia política e administrativa;
· ou então através da luta violenta, muitas vezes com o apoio de alguns monarcas que procuravam se fortalecer diante dos senhores feudais.
Obtida a liberdade, as cidades passavam a ser governadas pelos setores mais enriquecidos do comércio e da manufatura, que organizavam seus setores e propiciavam o desenvolvimento econômico dos centros urbanos. Cada setor artesanal organizava-se de acordo com sua especialização (ferreiro, alfaiate, marceneiro, etc.), constituindo corporações de oficio (também conhecidas como guildas ou grêmios). Sua função era evitar a concorrência e, por isso, fixavam os preços dos produtos e os salários, controlavam a qualidade e a quantidade das mercadorias.

Corporações e guildas

A expansão do comércio e das cidades provocaram vários conflitos sociais. As áreas que as cidades ocupavam pertenciam aos senhores feudais, bispos, nobres e reis. Esses senhores pretendiam submeter os moradores dos burgos, cobrando deles impostos, taxas e serviços. Essa prática era comum em relação aos servos, mas os burgueses não estavam dispostos a aceitá-la. Eles julgavam que isso constituía um obstáculo para o desenvolvimento de suas atividades.
Em suas andanças, os mercadores haviam aprendido a importância da união. Eles viajavam em grupos por estradas, mares e regiões desconhecidas, para se proteger contra assaltantes e piratas ou mesmo para obter melhores negócios.
Assim, com o tempo, foram surgindo associações de artesãos e de comerciantes, cujo objetivo principal era defender os interesses econômicos de seus membros. As associações de artesãos eram chamadas corporações de ofício, e as de comerciantes, guildas ou ligas. Unidos eles pretendiam evitar a concorrência, fixar preços e regulamentar o trabalho, além de enfrentar os limites impostos pelos senhores e nobres feudais.
Em cada corporação havia uma rígida hierarquia, organizada do seguinte modo:
• mestre (dono da oficina);
• jornaleiro (assalariado);
• e o aprendiz, que trabalhava em troca de aprendizado do ofício, casa e alimentação.
No final da Idade Média essa divisão se acentuou com a monopolização da riqueza pelos mestres, que começaram a explorar a mão-de-obra assalariada. Portanto, lentamente o trabalhador servil foi desaparecendo das cidades.
Os comerciantes também organizavam suas corporações, conhecidas como hansas. As hansas eram sociedades mercantis poderosas, organizadas com o objetivo de ampliar o sistema de comércio e proteger os interesses dos seus associados.
A Liga Hanseática, reunião de várias hansas, destacou-se a partir de meados do século XIII (reunia inúmeras hansas de cidades da região de Flandres).
Mais ao norte, a Hansa Teutônica foi muito influente nas atividades comerciais, agrupando várias hansas na região da Alemanha.

As transformações na Europa

Com o fortalecimento das cidades e do comércio surgiu na Europa um novo ideal de vida. Até então, em geral, as pessoas só podiam almejar realizações pessoais, como reconhecimento por ser um guerreiro valente. Para o burguês, no entanto, o mais importante era acumular fortuna. Por isso, ele trabalhava intensamente, procurando aumentar cada vez mais os negócios e os lucros.
O aumento da prática comercial fez ressurgir a importância do dinheiro. O comércio, fundamentado antes na simples troca de produtos, passou a se basear na troca de produtos por moeda. O próprio mercador, precisando de dinheiro para viajar e comprar mercadorias, começou a pedi-lo emprestado, propiciando o desenvolvimento das casas bancárias.
Em conseqüência do, algumas regiões passaram a se especializar na produção e comercialização de determinados produtos. Borgonha e o vale do Reno, na atual França, por exemplo, especializaram-se em vinho; Provença, em sal, e assim por diante. Houve também o aumento do número de pessoas que trabalhavam por salário.
Todas essas mudanças alteraram a organização política e social da Europa.

Crises medievais

A partir do século XIV, houve uma queda na produção agrícola, grandes epidemias, revoltas populares e longas guerras. Isso gerou uma crise na sociedade medieval.
Nesse período, as melhores terras já tinham sido ocupadas para a produção de alimentos e ficou difícil continuar a expansão agrícola. Muitos nobres, por exemplo, impediram que mais florestas fossem derrubadas para o cultivo, pois queriam preservar essas áreas para a caça e a extração de madeira, mel e frutas.
Além disso, os problemas na agricultura se agravaram em função de guerras, fatores climáticos (secas, geadas, inundações) e técnicas inadequadas de cultivo. Assim, iniciou-se um período de escassez de alimentos, que levou milhares de pessoas à fome. Enfraquecidos pela fome ou pela subnutrição, muitos europeus ficaram vulneráveis a doenças. Algumas delas tornaram-se verdadeiras epidemias, como foi o caso da peste negra, nome dado a uma doença contagiosa e mortal que vitimou milhões de pessoas no século XIV.

Revoltas camponesas, guerras e a peste negra

Nos séculos XIV e XV, ocorreram diversas revoltas de camponeses e guerras entre nobres, com destaque para a Guerra dos Cem Anos. Esses conflitos contribuíram ainda mais para agravar a crise medieval.
Com o comércio, a nobreza feudal passou a utilizar novos produtos, sobretudo os de origem oriental. Para garantir os recursos necessários ao sustento desses novos hábitos, a exploração sobre os servos aumentou. Em resposta surgiram revoltas e fugas de camponeses para as cidades.
Diante do sofrimento causado pela fome e pelas mortes decorrentes da peste negra, os camponeses se revoltaram. Em 1358, milhares de camponeses franceses mataram nobres e destruíram castelos. Posteriormente, em 1381, camponeses ingleses exigiram do rei o fim da servidão e a diminuição de impostos. As duas revoltas camponesas foram severamente reprimidas pelos nobres, que, dispondo de armamentos e treinamento militar, massacraram os rebeldes.
Além disso, o aumento da população gerou uma expansão das zonas agrícolas, com a ocupação de áreas florestais e de pastagens. A ocupação das pastagens, por sua vez, provocou a falta de adubo animal. Como resultado as colheitas tornaram-se insuficientes, causando fome e subnutrição e tornando os europeus mais vulneráveis às doenças. 
Nos séculos XIV, a peste negra dizimou mais de um terço da população europeia. A peste foi provocada por bactéria originária do Oriente.
Essa doença era provocada por um microrganismo encontrado com frequência em ratos e podia ser transmitida por pulgas que picavam esses animais e depois picavam os seres humanos ou pela tosse de pessoas contaminadas. Naquela época, não havia remédios para a peste negra.
Em termos práticos, a melhor solução para evitar a doença era ficar isolado dos focos da epidemia. Muitos acreditavam que a doença era um castigo de Deus e organizavam orações e procissões suplicando a misericórdia divina. Estudiosos calculam que cerca de um terço da população europeia tenha morrido em razão dessa doença.

A vida nas cidades

O crescimento das cidades era limitado pelas muralhas dos burgos. Ninguém desejava morar fora delas, temendo por sua segurança. Como não era possível destruir os muros, e a população aumentava, as casas cresciam para cima, chegando a ter até três andares. A maior parte das casas era de madeira, o que favorecia os incêndios, que às vezes destruíam completamente uma cidade.
Não existiam calçadas nem esgotos, o que facilitava a proliferação de doenças. A noite quase não havia iluminação. De dia, as vilas também permaneciam bastante sombrias. As pessoas circulavam pela cidade no meio dos animais, que comiam os restos de alimentos jogados pelas janelas.
Artesãos e comerciantes agrupavam-se por ruas conforme suas atividades. Símbolos divertidos, como um gato que pesca, por exemplo, indicavam as lojas àqueles que não sabia ler.

O surgimento das Universidades

A partir do século XII, com a expansão das atividades comerciais e o crescimento das cidades, os comerciantes sentiram necessidade de saber ler, escrever e contar, para atender a essa necessidade, começaram a se organizar escolas.
As universidades, a partir do século XII, se multiplicaram pela Europa. Veja a data e o lugar das principais universidades que surgiram então: Bolonha (1158), Paris (1200), Cambridge (1209), Pádua (1222). Nápoles (1224), Toulouse (1229).
Nas universidades, os professores e alunos dedicavam-se a diversas áreas do conhecimento, como artes, gramática, matemática, retórica, direito, medicina, teologia. O ensino era dado em latim.

Mulheres na Idade Média

Assim como na Grécia e na Roma antigas, predominava na Idade Média o ideal de que as mulheres deveriam desempenhar os papéis de esposa e de mãe.
Porém, no dia a dia, havia mulheres que não ficavam limitadas à vida doméstica. Elas participavam de várias atividades nas ruas e praças, nos mercados, nas feiras e oficinas artesanais. Além disso, a condição das mulheres dependia de sua posição social: a opressão atingia de forma diferente as nobres e as camponesas livres e servas.
De modo geral, durante a Idade Média, as mulheres eram menos valorizadas do que os homens, sendo consideradas frágeis, emotivas e instáveis. Esses julgamentos foram usados como justificativa para a dominação masculina. Eram os homens que controlavam importantes instrumentos de poder como a Igreja, a guerra e os feudos.
Em uma sociedade profundamente influenciada pela Igreja, alguns pensadores cristãos defendiam que Eva havia cometido o pecado original, trazendo a maldade e a imperfeição ao mundo. Entretanto, a partir do século XI, desenvolveu-se o culto à Maria, “mãe de Cristo”, considerada santa e redentora. Essas duas figuras contrastantes marcaram o imaginário ocidental acerca da mulher.
Apesar das dificuldades enfrentadas, houve mulheres que administraram feudos, oficinas artesanais, comércios e que se dedicaram a atividades intelectuais, atuando como bibliotecárias, professoras e copistas, sobretudo em mosteiros femininos.
Também houve figuras femininas que se destacaram na vida social:
• Catarina de Siena (1347-1380): foi membro da ordem dominicana e desempenhou papel importante em sua época. Ela queria reformar a Igreja, promover a paz na Península Itálica e fortificar a Europa, ainda que fosse por meio das Cruzadas;
• Cristina de Pisano (c. 1364-1430): escreveu obras literárias e filosóficas, nas quais defendia os direitos das mulheres. No Livro da Cidade de Senhoras, por exemplo, a autora criou uma cidade fictícia habitada por mulheres famosas da história;
• Joana d’Arc (c. 1412-1431): liderou uma tropa francesa na Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra. Sua tropa venceu a batalha de Orleans, feito decisivo para o fim da guerra. Por razões políticas e religiosas, foi acusada de praticar bruxaria e condenada à morte na fogueira em 1431, aos dezenove anos de idade. No século XX, foi canonizada pela Igreja Católica e tornou-se padroeira da França.

A Guerra dos Cem Anos

O longo período de luta entre a França e a Inglaterra, que foi de 1337 a 1453, é conhecido como a Guerra dos Cem Anos. Foi um conflito que, na verdade, durou cerca de 116 anos com inúmeras interrupções. Esse conflito envolveu disputas pelo trono francês e por territórios na rica região de Flandres. Ao longo do conflito, houve vitórias importantes de ambos os lados. Porém, no final, o exército francês expulsou os ingleses de quase todos os territórios da França.
Fatores principais – Os principais fatores que desencadearam essa guerra eram:
· A disputa pela posse de Flandres (atuais Bélgica e Países Baixos), rica região produtora de tecidos.
· As pretensões de Eduardo III, rei da Inglaterra, ao trono francês.
Até 1380, os ingleses conseguiram uma série de vitórias, conquistando uma parte do território francês. Mas o rumo da guerra mudou com o aparecimento da jovem Joana D’Arc, cuja coragem despertou o exército francês. O exército francês reanimou-se, libertou Orleans e conquistou muitas vitórias até que, em 1453, os ingleses foram definitivamente expulsos da França.

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