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A África Negra

Hoje a África é lembrada, mais frequentemente, pela pobreza dos que a constituem e pelas continuas guerras civis que contrapõem seus habitantes, agravando ainda mais o estado de miséria de sua população.

Atualmente, a África é formada por 54 países, onde vivem cerca de 1,3 bilhão de pessoas, que falam mais de 2000 línguas diferentes. A África é o segundo continente mais populoso do mundo, atrás apenas da Ásia. Tanto hoje como no passado, esse continente sempre se caracterizou pela diversidade de paisagens, sociedades e culturas.
A partir do século XV, foram difundidos muitos preconceitos sobre a África que repercutem até os dias atuais. Desde o século XX, pesquisas históricas vêm contribuindo para superar essas ideias, ampliando a compreensão da cultura africana.
Algumas ideias estereotipadas afirmavam que o continente africano seria um lugar desolado, onde existiriam somente florestas tropicais e desertos áridos, habitados por animais selvagens e povos primitivos.
De acordo com essas ideias, os povos africanos seriam atrasados, não teriam história nem cultura. Nada mais incorreto que isso: como todos os grupos humanos, as sociedades africanas desenvolveram suas culturas. No Egito antigo, por exemplo, nasceu um dos primeiros sistemas de escrita conhecidos. Muito antes da chegada dos europeus àquele continente, os africanos ergueram grandes reinos, poderosos impérios e imensas cidades, com uma agitada vida urbana. Também já realizavam trocas culturais e econômicas entre si e com povos da Europa, do Oriente Médio e da Ásia.
No ensino de história do Brasil, o continente africano é geralmente mencionado apenas como o fornecedor de mão-de-obra escrava para a antiga América portuguesa e o Império, além de berço de características raciais e culturais dos brasileiros.
Na história geral, o Egito e o norte da África parecem um continente apartado do imenso território africano, como se a história deste, por não estar diretamente ligada à da Europa até o século XV, não fosse interessante, o período entre os séculos VIII e XIV da chamada África Negra – a parte do continente povoada por etnias negras –, situada abaixo do Saara de onde saía boa parte das mercadorias consumidas pelos europeus e comercializadas por bizantinos e muçulmanos.

Fontes da história da África

Para estudar a história africana, pesquisadores podem utilizar fontes escritas e não escritas. A seguir, conheça algumas delas:
• fontes escritas – textos de viajantes que passaram pelo continente, como Ibn Batuta (1304-1369), que escreveu Presente oferecido aos observadores (mais conhecido como Viagens de Ibn Batuta), e Leão Africano (1494-1554), cuja obra intitula-se Descrição da África e das coisas notáveis que ali existem;
• fontes não escritas – obras de arte, construções, vestimentas, tradições orais, costumes etc. Entre as fontes não escritas, destacam-se as histórias contadas pelos griôs ou djélis, pessoas originárias da África Ocidental e responsáveis pela transmissão das tradições orais por várias gerações. Eles se especializaram em recitar as histórias de diversos povos africanos em longas narrativas faladas ou cantadas, que podem ser acompanhadas por instrumentos de corda ou percussão.
O conhecimento transmitido oralmente é fundamental para estudar a história dos povos da África, uma vez que muitas informações não foram registradas em papel, permanecendo apenas na memória das pessoas. Essas memórias permitem, por exemplo, conhecer os conflitos sociais, as tradições das famílias dominantes, a vida cotidiana das pequenas famílias e comunidades.

Civilizações ao sul do Saara

O Deserto do Saara ocupa uma longa faixa ao norte do continente africano. Como outros desertos, o Saara não é um lugar fácil de ser habitado. Ali há pouca água e os solos são arenosos. Isso dificulta a prática da agricultura e da pecuária. Porém, no deserto, existem regiões conhecidas como oásis, que têm água e solos férteis. Os muçulmanos que viviam e circulavam em oásis nas regiões desérticas da Arábia e do norte da África mantinham relações comerciais e culturais com os povos da África Equatorial, situada ao sul do Saara. 
A partir do século XI, em função das conquistas militares e da conversão religiosa, a presença dos árabes muçulmanos se consolidou na região. Grande parte dos habitantes da África Equatorial foi islamizada, ou seja, convertida à religião islâmica. Os árabes chamavam a África Equatorial de “terra dos negros”, região onde se desenvolveram várias civilizações.

A Etiópia e as cidades da costa oriental africana

Até o século VIII da era cristã, o contato dos povos da Ásia e da Europa com os do centro e do sul da África foi dificultado pelo deserto do Saara. Este, extremamente árido e inóspito, começou a ser atravessado pelos muçulmanos, que buscavam não só as riquezas dos reinos ao sul do rio Nilo, como também a conversão de sua população.
Essa travessia ocasionou o contato com povos até então pouco conhecidos ou mesmo ignorados por europeus e asiáticos. Os povos africanos se organizavam de formas diversas. Muitas tribos viviam da caça, da pesca e da colheita de frutos silvestres. Outras se fixaram sobretudo às margens dos rios, onde desenvolveram a agricultura, constituindo-se em reinos.
O mais antigo reino africano era a Etiópia, conhecida dos gregos e dos romanos. “Etiópia” é uma palavra grega que significa o país dos “caras queimadas”. Na Antiguidade, os gregos chamavam todas as terras onde viviam negros de “Etiópia”, sem distinção.
Durante a dominação bizantina no Egito e na Núbia, a Etiópia converteu-se ao cristianismo, religião a que permaneceu fiel mesmo depois de os dois reinos vizinhos terem sido conquistados pelos muçulmanos.
Do século VIII ao XIII, o reino etíope forneceu à Arábia marfim, ouro, âmbar, almíscar, peles de pantera e escravos – principalmente eunucos (homens castrados) de pele clara –, vendidos a altos preços no mar Vermelho e no golfo Pérsico.
Durante os primeiros séculos da era cristã, mais ao sul, principalmente nas ilhas da costa banhada pelo oceano Índico, já havia pequenos entrepostos comerciais. Por eles passavam navios romanos, árabes e persas em busca de incenso, marfim, carapaças de tartaruga, chifres de rinoceronte, escravos, peles de pantera, etc. Deixavam em troca lanças, adagas e machados de ferro, tecidos de algodão, objetos de vidro, vasos de cerâmica e um certo “mel extraído de uma cana” – o açúcar.
O islamismo difundiu-se lentamente na região a partir do século VIII até o final do XII. Constituída basicamente por cidades autônomas, quase nada se sabe sobre sua estrutura política. O intenso comércio com as tribos somalis ou bantas que as circundavam explica a ausência de muralhas cercando essas cidades. Para estas, numa rede de sucessivos escambos, vinham os escravos o ouro, o marfim e as peles obtidos no interior africano, que recebia em troca sal, peixe seco, panos, ferro, contas e cauris (espécie de concha usada como moeda). A partir do século XV, os europeus disputarão esses portos com os muçulmanos.

O reino Aksum

A Etiópia moderna, criada no século XX, originou-se do antigo reino de Askum. Segundo a tradição lendária, a monarquia aksumita foi fundada no ano 1000 a.C. por um suposto descendente da união do rei Salomão, de Israel, com a rainha de Sabá, cidade da antiga Arábia.
O mais provável é que judeus ou pessoas convertidas ao islamismo tenham chegado à Etiópia vindos da Arábia do Sul. Desembarcaram em pequenos grupos e prosseguiram, na Etiópia, o processo de conversão das populações ao judaísmo.
Grande parte dos aksumitas dedicava-se à agricultura e à criação de animais. Eles cultivavam o trigo e outros cereais, conheciam também o cultivo da uva e usavam arados puxados por bois, carneiros, cabras, asnos e mulas.
Em aksum diversos artesãos trabalhavam os metais e construíam casas. Utilizavam um tipo de cimento que permitia construir casas de pedra e madeira.
A organização política do reino de Aksum centrava-se na figura de um rei, que controlava outros reinos que lhe pagavam tributos. Os parentes do rei trabalhavam na direção dos negócios públicos e na organização dos exércitos.
O reino de Askum foi o primeiro reino africano a ter moedas de ouro, prata e cobre. As moedas aksumitas tinham legenda em grego, língua corrente entre as pessoas mais próximas do rei, e nelas eram gravados os nomes dos soberanos. Na população em geral, o etíope antigo era a língua mais usada.
Aksum controlava rotas comerciais que o ligavam ao Egito, à Síria e às regiões do interior da África. Comerciantes aksumitas ofereciam mármore, chifres de rinoceronte, couro de hipopótamo, macacos e escravos.

Um reino cristão na África

O cristianismo foi introduzido em Askum por volta do século IV. Após a conversão dos reinos vizinhos ao islamismo, no século VII, Askum, um reino cristão, isolou-se do restante do mundo.
No século XIV, uma delegação aksumita em visita à Europa reacendeu naquele continente o desejo pela busca do reino do “Preste João”. Segundo a lenda, Preste João seria um rei cristão do Oriente que ajudaria os europeus na luta contra os muçulmanos. Até então, os europeus acreditavam que esse rei vivesse na Ásia. A partir dos relatos dos viajantes aksumitas, muitos aventureiros europeus partiram para Aksum, em busca desse soberano.

Os reinos de Gana e Mali

Com a utilização do camelo como meio de transporte, ao longo dos primeiros séculos da era cristã, as terras ao sul do Saara e a região do Mediterrâneo estabeleceram contatos comerciais, intermediados pelas tribos berberes. Desde fins do século III, o ouro, em pequenas quantidades, começou a atravessar o deserto, rumo ao norte da África. Não por acaso, Cartago funcionou como importante centro de cunhagem de moedas durante a dominação bizantina.
Com o tempo, pequenas aldeias transformaram-se em centros de comércio, riqueza e poder na região de origem do metal precioso. Cada um desses centros procurava controlar o comércio com as caravanas, o acesso às salinas do deserto (o sal servia principalmente de moeda de escambo com outros povos) e o domínio das rotas caravaneiras.
O ouro – tão importante para a economia da Europa e do Oriente – e o sal foram as fontes de riqueza que sustentaram o poder de Gana. É provável que Gana existisse desde o século IV. Já no final de século VIII, os muçulmanos se referiam a ele como o País do Ouro, embora entre seus habitantes “gana” fosse o título usado pelos reis.

Gana, o primeiro grande reino

Na África, ao sul do Deserto do Saara, havia grandes reinos. O reino de Gana, no oeste do continente, desenvolveu-se a partir de 300 d.C. e durou quase mil anos. 
O Reino de Gana foi um dos primeiros Estados formados ao sul do Saara. Localizado na região das nascentes dos rios Senegal e Níger, esse reino conquistou grande poder político e econômico entre os séculos IV e XII. Havia diversas atividades econômicas, mas o ouro era a principal fonte da riqueza de Gana. Por isso, esse reino ficou conhecido como “terra do ouro”.
Nessa sociedade, o rei era visto como o elo entre os deuses e os homens. Uma hierarquia composta de sacerdotes, nobres e funcionários cuidava da administração do reino. Cada cidade tinha seu governante, que devia obediência ao rei. Entre os membros da elite, podemos citar: os sacerdotes das religiões politeístas tradicionais, os nobres e os altos funcionários do governo.
A população do reino dedicava-se à agricultura, criação de gado, comércio e ao artesanato (marcenaria, cestaria, tecelagem, metalurgia etc.). Por meio da metalurgia, eram fabricados objetos como armas, utensílios agrícolas, máscaras e adornos.
No comércio, era comum os ganenses trocarem ouro por diversos produtos. Entre eles, destaca-se o sal, que era raro e muito apreciado. As trocas comerciais eram feitas com povos vizinhos e com comerciantes que cruzavam o Deserto do Saara. O comércio era essencial para a economia do reino, assim como as minas de ouro.
Os domínios e o poderio de gana atingiram o apogeu entre o final do século X e o início do século XI, quando seus soberanos se converteram ao islamismo. Um de seus reis, Tunca Menin, que chegou ao trono em 1062 ou 1063, podia reunir sob seu comando até 200 mil soldados, sendo 40 mil deles arqueiros.
A partir do século XI, a influência muçulmana se intensificou na região. Isso pode ser observado pela construção de mesquitas e pela conversão de muitos ganenses ao islamismo. 
A prosperidade que o comércio trouxe ao reino também atraiu as tribos vizinhas, que o pilhavam, ocasionando a invasão da capital – Koumbi – por nômades do Saara. Embora tenha durado pouco essa ocupação provocou desarranjos no comércio e disputas pelo poder em Gana, enfraquecendo e desorganizando o reino. No século XII, o Reino de Gana se desestruturou após ser conquistado por tropas do Reino do Mali.
Por volta de 1240, Koumbi foi ocupada pelos malinês, então já convertidos ao islamismo. Os domínios do Máli, cujo soberano era chamado mansa, estenderam-se sobre as antigas minas auríferas de Gana e sobre os povos mineradores vizinhos.

O poderoso reino do Máli

O Reino do Mali desenvolveu-se às margens dos rios Níger e Senegal, onde vestígios indicam a existência de uma sociedade organizada desde o século III. As águas desses rios fertilizavam o solo e também eram usadas como via de transporte. O solo fértil favorecia a produção agrícola que alimentava a população do reino.
O reino do Mali surgiu ao redor da cidade de Timbuktu, fundada por volta do ano 1100. A cidade nasceu como ponto de apoio e abastecimento das caravanas que traziam sal das minas do Deserto do Saara. O sal era trocado por ouro e escravos trazidos pelo Rio Níger. Os malineses tornaram-se os principais fornecedores do metal precioso para a Ásia e, em menor quantidade, para a Europa.
No século XIII, esse reino se fortaleceu sob a liderança de Sundiata Keita (1217-1255), que se converteu ao islamismo. Nessa época, o Reino do Mali iniciou a conquista de territórios vizinhos. O Mali tornou-se um império influente na região e sua expansão prosseguiu até o século XIV, sobre áreas do Reino de Gana e dos atuais Senegal e Gâmbia.
Uma das mais importantes cidades do mundo muçulmano na época, Timbuktu , pertencia ao Império do Mali. Nessa cidade, foi construída a Universidade de Sankore, criada por volta do século XII e frequentada por milhares de estudantes.
No século XIV, Timbuktu fazia parte do poderoso Império Máli, que controlava o lucrativo negócio do sal em toda a região. O império atingiu o seu auge sob o governo de Mansa Musa, que se converteu ao islamismo.
Timbuktu tornou-se o centro intelectual e espiritual islâmico da África ocidental. Grandes mesquitas, universidades, escolas e bibliotecas foram construídas durante o Império Máli. A cidade foi habitada por muçulmanos, cristãos e judeus durante centenas de anos, sendo um centro de tolerância étnica e religiosa.
Além de Timbuktu, destacavam-se outras cidades malinesas, como Djenné. Na cidade de Djenné, foi construída uma mesquita que é considerada a maior construção em adobe do mundo. 
Entre as principais atividades econômicas do Mali, estavam a produção de tecidos, cestas, barcos, objetos de ferro e ouro. Praticavam-se ainda o cultivo de cereais, a pesca fluvial e a criação de bois, camelos e cabras.
O Mali manteve-se como um império poderoso até o século XV. O Império Máli foi destruído com a invasão marroquina no século XVI e enfrentou rebeliões dos povos que havia conquistado.
O povo do Mali também era chamado de mandinga, nome pelo qual ficaram conhecidos homens e mulheres escravizados e enviados dessa região para o Brasil. Hoje, os territórios do antigo Império Malinês correspondem ao Mali e a Burkina Faso, entre outros países.

Reinos de Ifé e do Daomé

Nas regiões das atuais Nigéria, Benin e Togo, viviam povos como os iorubás e os jejes. Os iorubás fundaram diversos reinos que se fortaleceram entre os séculos XIII e XIV. 
Um deles foi o Reino de Ifé, que era governado por um soberano intitulado oni. O poder do oni era sobretudo político e religioso. Os demais reinos iorubás eram governados por chefes chamados obás.
Os jejes formaram o Reino do Daomé. Esse reino desenvolveu-se entre os séculos XVII e XIX e possuía um exército poderoso, sendo parte dele formado por mulheres. Viajantes europeus que estiveram na região associaram essas mulheres guerreiras às lendárias amazonas da Antiguidade. Os daometanos as chamavam de ahosi, palavra que significa “esposas do rei”, pois eram mulheres treinadas militarmente para serem guardiãs do rei do Daomé.
As mulheres guerreiras do Daomé eram nascidas no próprio reino ou capturadas em conflitos com os povos vizinhos. Como as guerras eram constantes nesse período, as forças militares masculinas e femininas aumentaram bastante nesse reino.

Tráfico de escravizados

Uma das principais fontes de riqueza do Daomé era o tráfico de pessoas escravizadas. A escravidão marcou a história de vários Estados africanos, principalmente depois da conquista europeia.
Entre os séculos XVI e XIX, milhares de iorubás e jejes foram escravizados e trazidos para o Brasil, Cuba e outras partes da América, enriquecendo os reis do Daomé e os traficantes europeus.

Zimbábue, o reino do sul

O reino do Zimbábue, localizado na porção sul do continente africano, tinha como característica a centralização política sob o governo de uma dinastia real.
Sendo o pastoreio a atividade desenvolvida pela maioria da população, era necessário criar meios de proteção, tanto dos rebanhos de animais como do amplo território utilizado para pastagens. O poder centralizado cumpria esse papel.
Além da atividade pastoril, havia a extração de ouro e marfim, negociado com comerciantes da Índia e da Arábia. Em troca, os mercadores africanos recebiam tecidos finos, porcelana chinesa e louças da Tailândia.
O luxo e o poder proporcionados pelo ouro ficam evidentes na Grande Zimbábue, uma cidade, hoje em ruínas, erguida entre 1100 e 1600, e que chegou a ter 17 mil habitantes. Em seu interior encontra-se o Grande Recinto, uma construção cuja muralha tinha 244 metros de comprimento e 10 metros de altura.

Reino do Congo

Em meados do século XIII, um dos povos bantos (bacongos) formou o Reino do Congo. Esse reino desenvolveu-se nos territórios dos atuais Estados do Congo, da República Democrática do Congo e de Angola.
As atividades econômicas mais importantes do reino eram a agricultura, a criação de animais, o comércio e o artesanato. No Reino do Congo, as trocas comerciais eram facilitadas pelo uso de conchas, que serviam como dinheiro para aquisição de produtos agrícolas, gado e objetos de uso cotidiano.
Na monarquia congolesa, o rei era chamado manicongo (“senhor do Congo”) e concentrava os poderes político e econômico. Ele atribuía poderes a funcionários de destaque, como o chefe de palácio, chefes das províncias, coletores de impostos, juiz supremo e sacerdote principal.
A capital do reino era M'banza Congo, uma cidade grande, cercada por muralhas e que existia antes da chegada dos portugueses. Historiadores consideram que M'banza Congo (situada na atual Angola) era uma cidade tão grande quanto as maiores cidades da Europa no mesmo período.
Na capital, o rei e sua corte viviam em belas construções que se destacavam das demais por sua arquitetura imponente e pela decoração sofisticada. Além da elite, vivia na cidade uma numerosa população que se dedicava às mais variadas atividades e que pagava impostos ao manicongo por meio de alimentos, tecidos de ráfia, sal e cobre.
M'banza Congo era o ponto de encontro de rotas comerciais que ligavam diversas aldeias do reino. A população dessas aldeias estava submetida ao governo central, a quem devia fidelidade e, em troca, recebia proteções terrena e espiritual.

Congoleses e portugueses

Em 1483, os portugueses chegaram ao Reino do Congo. Depois dos primeiros contatos, portugueses e congoleses estabeleceram relações amistosas e parcerias comerciais. Consolidando a aliança com os portugueses, o rei congolês Nzinga-a-Nkuwu (1440-1506) abandonou sua religião tradicional e converteu-se ao cristianismo em 1491. Rebatizou a cidade de M'banza Congo com o nome de São Salvador do Congo e adotou para si o nome de dom João I. Em 1506, o trono do Congo foi ocupado por seu filho Mbemba-a-Nzinga, rebatizado de Afonso I.
Afonso I (1456-1543) continuou o projeto de criar um reino cristão no Congo. Enviou seu filho Henrique para estudar em Portugal. Em 1518, o papa Leão X nomeou dom Henrique bispo de Útica, cidade na região da atual Tunísia. No entanto, a conversão ao cristianismo ficou limitada à família real e aos nobres. A maioria da população congolesa manteve a religião que praticava anteriormente, politeísta e com a presença de elementos da natureza.
O Reino do Congo sobreviveu até as primeiras décadas do século XVII, quando foi destruído pelas disputas entre portugueses e holandeses pelo tráfico de pessoas escravizadas.

O reino de Kush

O reino de Kush existiu onde hoje é o Sudão, na África ocidental, na região então conhecida como Núbia. O território núbio foi inicialmente explorado pelos faraós do Egito devido às suas riquezas, sobretudo o ouro. O próprio nome, Núbia, deriva de uma palavra que significava ouro na escrita egípcia.
A partir do século VIII a.C., com o declínio do poder egípcio, a Núbia ganhou maior autonomia. A primeira capital do reino de Kush foi a cidade de Napata, depois transferida para Méroe. Na capital moravam o rei e seus funcionários.
A organização política do reino centrava-se no rei, que era eleito pelos chefes militares, altos funcionários e líderes locais. O rei era considerado o filho adotivo de várias divindades.
A população de Kush era formada basicamente por agricultores, criadores de gado e por escravos obtidos em guerras. Artesãos e pequenos comerciantes também estavam presentes. No artesanato destacavam-se os produtos de ferro, couro e cerâmica, além de joias.
A criação de gado era a principal atividade econômica no reino de Kush, mas também se destacava o cultivo de trigo, lentilha, pepino, melão e abóbora. Assim como no Egito, construíram-se canais para aproveitar as cheias do Rio Nilo.

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