A América Antiga
A história dos povos americanos não começou com a chegada dos europeus. Quando estes aqui chegaram, encontraram várias sociedades plenamente organizadas. Ao longo dos séculos, entretanto, a ação dos colonizadores acabou por eliminar em grande parte a história desses povos.
Aos olhos dos europeus, os nativos americanos precisavam ser conduzidos ao mesmo padrão de cultura deles, ou seja, ser convertidos ao catolicismo, responder a um rei e ter os mesmos costumes. Assim, os habitantes da América passaram a ser vistos de forma preconceituosa, o que colaborou para a dominação européia no continente.
É importante, ainda, voltar a destacar que esse movimento de expansão dos europeus era motivado, em grande parte, pela busca de riquezas: mercadorias que pudessem ser comercializadas na Europa, sobretudo metais preciosos.
Quando Cristóvão Colombo chegou à América, em 1492, ele acreditava ter desembarcado em terras das Índias. Por isso, chamou de índios àquelas pessoas de línguas e costumes tão diferentes dos europeus.
Por causa das diferenças, muito europeus não acreditavam que os índios fossem seres humanos como eles. Muitos nativos tiveram a mesma reação: não podiam crer que aqueles homens de barbas e armaduras fossem semelhantes a eles.
O continente americano foi habitado por diversos povos. Entre eles, destacamos os olmecas, os maias, os astecas, os incas e os Tupi-guarani. Cada um desses povos desenvolveu culturas singulares, com modos de falar, pensar e trabalhar próprios. Um dos elementos em comum entre esses povos foi o cultivo do milho, cereal cultivado pela primeira vez por povos antigos da América.
América indígena
Ao longo do tempo, os povos originários que viviam no continente americano receberam diversos nomes por parte dos estudiosos. Vejamos alguns deles:
• pré-colombianos – termo que tem como referência a chegada do navegador e explorador genovês Cristóvão Colombo à América;
• nativos – termo que designa aqueles que nascem e vivem em um local;
• índios – termo que se popularizou por conta de um equívoco de Colombo, que não sabia que havia encontrado um novo continente, acreditando ter chegado às Índias.
Todos esses nomes são convenções criadas para se referir a mais de 3 mil povos diferentes que viviam na América antes da chegada dos europeus no século XV.
Apesar dessa diversidade, atualmente esses povos preferem termos como povos originários ou indígenas para se autoidentificar, lutar por seus direitos e valorizar suas culturas.
As Principais civilizações Pré-Colombianas
Conhecidos como povos pré-colombianos, os milhões de índios que viviam na América quando Colombo aqui aportou estavam divididos em mais de 3 mil nações com diferentes culturas.
Até a chegada dos conquistadores europeus a partir do século XV, muitos dos agrupamentos humanos que habitavam a América do Norte, o Caribe, o Brasil e a parte sul do continente mantiveram um tipo de vida bastante simples, fundado na caça, pesca e agricultura rudimentar.
Entretanto, algumas sociedades chegaram a apresentar um elevado grau de sofisticação, produzindo brilhantes civilizações como as dos astecas no México, dos maias na América Central e dos incas no Peru. Estas sociedades realizaram significativos avanços na agricultura, na metalurgia, na escrita, na matemática, na organização política e nas construções urbanas, entre outros, que muito as assemelhavam às primeiras grandes civilizações do Egito e da Mesopotâmia.
Mesoamericanos e andinos
Os olmecas, os maias e os astecas viviam em uma região chamada Mesoamérica, que corresponde à parte sul do México e a países como Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Costa Rica, Nicarágua e Panamá. Já os incas viviam nas regiões andinas da América do Sul, entre a Cordilheira dos Andes e o litoral do Oceano Pacífico.
Olmecas
Os olmecas se desenvolveram, aproximadamente, entre 1200 a.C. e 400 a.C. A cultura olmeca espalhou sua influência por uma vasta área que se estende, atualmente, do México (estados de Veracruz e Tabasco) ao Panamá.
Pesquisas arqueológicas indicam a existência de, ao menos, quatro grandes centros urbanos olmecas, cujos nomes atuais são: São Lourenço, Três Zapotes, Laguna de Los Cerros e La Venta. Nesses lugares, os arqueólogos encontraram vestígios de uma rica cultura que construiu, entre outras obras, pirâmides, templos, praças e imensas esculturas de basalto. La Venta foi, provavelmente, o centro olmeca mais populoso, abrigando cerca de 18 mil habitantes.
Os olmecas cultivavam plantas como milho, feijão e abóbora. Também caçavam e recolhiam frutas silvestres. Extraíam látex e produziam borracha. Por isso, ficaram conhecidos como “povo da borracha”.
A religião desse povo era politeísta. Eles cultuavam vários deuses, simbolizados por animais e forças da natureza, como o jaguar, a serpente, o Sol, a água, as montanhas e certas plantas agrícolas. Em alguns cultos, os dirigentes olmecas podiam atuar como sacerdotes, pois acreditava-se que eram dotados de poderes sobrenaturais.
Além disso, os olmecas desenvolveram um calendário que servia para orientar as atividades agrícolas, do plantio à colheita. Inventaram também um sistema de numeração e de escrita com base em sinais (glifos) que eram gravados ou pintados.
A sociedade olmeca não formou um império unificado, dirigido por um governo centralizado. O que havia eram centros regionais que organizavam sua sociedade. Nesses centros, os historiadores perceberam a existência de diversos grupos sociais, constituídos por camponeses, artesãos, comerciantes, escribas, sacerdotes e dirigentes políticos.
A civilização asteca
Os astecas eram um povo que migrou de regiões norte-americanas e foi ocupando a região conhecida como Vale do México, entre os séculos XII e XIII. Chegaram ao fértil vale do México em busca de terras, aproveitando-se das rivalidades existentes entre os grupos que ali habitavam para conquistá-los. Também chamados de mexicas (de onde deriva o nome “México”), eles falavam o nahuatl, que é a língua indígena mais falada hoje nesse país, mesmo após ter passado por transformações. Em algumas dezenas de anos, construíram um vasto império, que se estendia do oceano Pacífico ao Atlântico, cuja capital era a exuberante cidade de Tenochtitlán.
Os astecas estabeleceram núcleos de povoamento em torno do Lago Texcoco. Fundaram ali a cidade de Tenochtitlán, que se tornou a capital. No centro dessa cidade havia um imponente templo construído em forma piramidal. Os historiadores calculam que Tenochtitlán chegou a ter entre 100 mil e 230 mil habitantes, alcançando uma área de 13,5 quilômetros quadrados. Para ter uma ideia do tamanho dessa cidade asteca, podemos compará-la à movimentada Sevilha, que tinha cerca de 150 mil habitantes e era a maior cidade espanhola no século XVI.
Por meio de alianças e conquistas militares, os astecas expandiram seus territórios, dominando regiões centrais do atual México, desde o Atlântico até o Pacífico. Calcula-se que a população desse império atingiu cerca de 6 milhões de pessoas.
Grandes centros urbanos, como Tenochtitlán, eram sustentados por tributos, muitas vezes pagos sob a forma de alimentos que vinham das diferentes regiões dominadas pelos astecas.
Na conquista e consolidação de seu império, os astecas assimilaram as ricas culturas dos povos vencidos, especialmente as dos toltecas e dos olmecas, ao mesmo tempo que passaram a cobrar deles um pesado tributo anual em espécie (comida, ouro, pedras preciosas etc.).
Sociedade, economia e saberes
A sociedade asteca era fortemente hierarquizada. Era composta de nobres, comerciantes, artesãos e camponeses. Entre os nobres, estavam o imperador, os sacerdotes, os chefes militares, os governadores de províncias e os altos funcionários do Estado. Também havia uma elite de ricos comerciantes e artesãos. A maioria da população era formada por camponeses obrigados a pagar tributos para o governo.
Os astecas desenvolveram uma agricultura complexa. Drenaram pântanos, abriram canais de irrigação e construíram chinampas, ilhas artificiais destinadas ao cultivo agrícola.
A economia asteca baseava-se principalmente na agricultura. Cultivavam o milho – o principal alimento dos povos do império –, o feijão, a abóbora, a pimenta, o abacate, o algodão e o fumo. O artesanato – especialmente a tecelagem e a ourivesaria – e o comércio astecas eram também bastante desenvolvidos.
Além disso, os astecas criavam animais como perus, patos e cachorros. Comercializavam bens como tecidos, peles, cerâmicas, sal, ouro e prata. Dominavam técnicas de ourivesaria, cerâmica, tecelagem e engenharia, que aplicavam, por exemplo, na construção de diques, templos e aquedutos. Produziam obras de arte como máscaras em forma de mosaico, muitas vezes representando divindades. Os astecas desconheciam o uso do ferro e da roda.
No plano político, o Império Asteca era uma teocracia militar em que o chefe do governo considerado por todos como um ser semidivino, tinha o título de “chefe dos guerreiros” e concentrava enormes poderes em suas mãos. Eleito por um conselho supremo dentre os aristocratas das famílias mais poderosas, o imperador tinha como principal função o comando do exército e era, além disso, o responsável pela política externa.
A religião asteca era politeísta e seus deuses mais cultuados eram o da guerra, o da chuva e a mãe-terra, o que não é de se estanhar numa sociedade que valorizava o comportamento guerreiro e se apoiava na agricultura.
A arte asteca era fortemente influenciada pela religião e suas principais manifestações deram-se no campo da arquitetura e da escultura. A capital asteca possuía jardins erguidos em terraços, ruas retas e largas, aquedutos que forneciam água, templos, oratórios e mercados que maravilharam os espanhóis. A escultura era rica em detalhes e usava a argila, a pedra, o barro cozido, o jade e a madeira.
Assim como os maias, os astecas desenvolveram um calendário, um sistema de escrita baseado em signos e produziram códices (livros). O Códice Boturini e o Códice Mendoza foram criados por volta de 1540, cerca de vinte anos após a chegada dos espanhóis.
Os astecas eram politeístas, ou seja, cultuavam diversos deuses. Entre eles, estavam:
• Huitzilopochtli – deus da guerra e do Sol;
• Tlaloc – deus da chuva e do trovão;
• Quetzalcóatl – também conhecido como serpente emplumada, deus da água, da terra, da escrita, do calendário e das artes.
Para cultuar esses deuses, os astecas erguiam templos com forma de pirâmide e realizavam rituais de sacrifício humano. As pessoas sacrificadas eram, em sua maioria, prisioneiros de guerra. Na cultura asteca, esse ritual era um momento de renovação da aliança entre deuses e seres humanos.
Os astecas possuíam profundos conhecimentos de astronomia (como se pode concluir por seu calendário, que dividia o ano em 365 dias). A escrita desenvolvida por eles utilizava desenhos para representar pensamentos ou idéias, uma vez que não chegaram a desenvolver um alfabeto.
A civilização maia
A história maia tem suas origens no século VIII a.C. Antropólogos e historiadores apontam que o grande desenvolvimento dessa civilização ocorreu entre 300 d.C. e 900 d.C. A civilização maia floresceu nas planícies da península de Iucatã na região onde hoje situam-se a Guatemala, Honduras e Belize. Nesse período, os maias construíram cidades-Estado como Copán (na atual Honduras),
Tikal (na atual Guatemala), Chichén Itzá e Palenque (ambas no atual México). Eram cidades autônomas, que tinham governos, leis e costumes próprios. Apesar da autonomia, essas cidades-Estado mantinham certas alianças e relações comerciais. Eram comercializados bens como cacau, sal, conchas e jade, um tipo de pedra ornamental.
Dois problemas dificultam um conhecimento maior dessa civilização: a escrita hieroglífica dos maias não está totalmente decifrada e, além disso, muitos dos seus documentos (bem como de outros povos pré-colombianos) foram queimados pelos espanhóis durante a conquista.
Sociedade, economia e saberes
A sociedade maia tinha divisões hierárquicas entre os diferentes grupos. Havia uma elite composta de nobres, sacerdotes e guerreiros. Mas a maioria da população era formada por agricultores e artesãos, que pagavam tributos para o governo. Cada cidade tinha um chefe de governo que era considerado um representante dos deuses.
A sociedade maia era dividida em quatro grandes camadas: a dos militares e dos sacerdotes, cujos cargos eram hereditários, e que constituíam a elite dominante; abaixo deles situava-se a dos trabalhadores livres, agricultores em sua maioria; e, por fim, a dos escravos (prisioneiros de guerra ou condenados pela justiça).
A camada dos sacerdotes era a única que possuía o domínio da escrita e do saber científico, o que lhes permitia, por exemplo, organizar um calendário agrícola e, por meio dele, determinar o tempo de adubar, plantar e colher.
A principal atividade econômica dos maias era a agricultura. Entre os alimentos que cultivavam, destacam-se milho, algodão, feijão, cacau, abacate e chili (pimenta). Eles empregavam uma técnica agrícola chamada coivara, que incluía a derrubada e a queima das plantas nativas, abrindo espaço para o cultivo.
Não utilizavam o arado, nem a roda. O milho – principal alimento maia – tinha uma importância muito grande para essa civilização, pois uma de suas lendas dizia que os homens foram criados a partir do milho.
Entre eles havia grandes construtores e talentosos artesãos, que produziam principalmente estatuetas, vasos e tecidos belíssimos.
Homens e mulheres desse povo dominavam as técnicas de cerâmica, o ofício de modelar ouro e prata (ourivesaria), a fiação e a tintura de tecidos. Entre as belas criações da arte maia, podemos destacar as obras arquitetônicas, as esculturas em baixo-relevo e os murais. Os maias também dominavam técnicas de produção de diferentes tipos de borracha, utilizando látex e extratos de plantas.
Politicamente, os maias nunca chegaram a formar um império. Cada cidade, como Palenque, Copán ou Tical, por exemplo, era um Estado independente. Daí se dizer que, assim como os antigos gregos, os maias também estavam organizadas em cidades-Estados. Eram governados por um imperador considerado semidivino, que, ao morrer, passava o cargo para o parente mais próximo. Ou seja, o governo maia era uma teocracia de caráter hereditário.
A religião influenciou fortemente diversos aspectos da vida e da produção dos maias. A arquitetura, por exemplo, era marcadamente religiosa, como se pode concluir observando as ruínas dos templos construídos sobre pirâmides monumentais, que serviam de palco para rituais religiosos. A escultura e a pintura também revelavam a importância dos deuses, os “senhores do destino”.
A partir do ano 900, verificou-se uma dispersão paulatina da população maia, que, na época, era formada por 15 milhões de pessoas, aproximadamente. Aos poucos os maias abandonaram os grandes centros em que viviam e mesclaram-se com outros grupos. Conforme estudos recentes, esse processo deveu-se principalmente ao esgotamento dos solos férteis.
Belos palácios e templos em forma de pirâmide foram erguidos em várias cidades maias. Em Tikal, por exemplo, arqueólogos encontraram mais de 3 mil construções, entre elas o Templo do Grande Jaguar. Esse templo tinha aproximadamente a altura de um prédio de 20 andares. Hoje, a área da antiga cidade de Tikal foi transformada em um parque nacional e declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
Escrita e calendário
Os maias criaram um sistema de escrita e produziram livros chamados códices. Embora a maioria dos códices tenha sido destruída pelos conquistadores europeus, alguns deles foram preservados e decifrados na segunda metade do século XX. Os códices são fontes históricas importantes, pois apresentam
aspectos da cultura maia. Nesses livros, os maias registraram, por exemplo, o cotidiano, as crenças religiosas e os conhecimentos científicos. A escrita maia foi grafada também em monumentos de pedra e artigos de cerâmica.
Além da escrita, os maias desenvolveram conhecimentos astronômicos e matemáticos (sistema numérico e o conceito do número zero). Observando o movimento da Lua, do Sol e de outras estrelas, eles elaboraram calendários de muita precisão, que os ajudavam a organizar as atividades agrícolas e as festividades religiosas.
A partir do século IX, a civilização maia entrou em declínio por razões que ainda são estudadas pelos historiadores. Várias possíveis causas foram apontadas para explicar o abandono das cidades maias: secas prolongadas, insuficiência da produção de alimentos para abastecer as populações, epidemias, invasões de povos vizinhos e rebeliões internas, entre outras.
A brilhante civilização maia sobreviveu até o início do século XVI, quando foi quase totalmente destruída pelos espanhóis.
O Império Inca
Os incas, um grupo da nação quíchua, eram originários da alta floresta Amazônica. Por volta de 1200, chegaram ao altiplano peruano, instalando-se nas imediações da cidade de Cuzco.
Atualmente, milhares de turistas visitam todos os anos a cidade de Cuzco, no Peru. Essa cidade foi a capital do Império Inca, civilização que habitava essa região desde antes do século XII.
Além de Cuzco, os incas construíram diversas cidades. Uma delas é Machu Picchu, que fica no topo de uma montanha, a 2400 metros de altitude. Provavelmente, essa cidade era visitada pelo imperador para descansar, caçar e receber autoridades estrangeiras. Machu Picchu foi abandonada pouco depois da conquista espanhola, no século XVI. Séculos depois, em 1911, uma equipe de arqueólogos liderada pelo estadunidense Hiram Bingham chegou à cidade, que estava coberta pela vegetação, mas era conhecida pelos moradores do entorno. Em 1983, Cuzco e Machu Picchu foram declaradas Patrimônios da Humanidade pela Unesco.
Ao longo de sua história, os incas foram se tornando mais poderosos que as sociedades andinas anteriores, como os reinos de Huari ou Chimu. Ao expandir seu território, os incas dominaram vários povos, alcançando uma população de cerca de 12 milhões de pessoas. No seu apogeu, o território inca abrangia uma área que hoje se estenderia do Equador ao Chile. Essa área era atravessada por uma rede de caminhos de cerca de 40 mil quilômetros. Por esses caminhos, os incas levavam suas leis, língua e crenças a centenas de povos submetidos.
A partir de então, apoiados numa sólida formação guerreira, os incas tomaram Cuzco e, aos poucos, impuseram o seu domínio aos vários povos andinos. Com isso, constituíram um império imenso, que abrangia parte do território onde é hoje o Peru, o Equador, a Bolívia e uma parte do Chile.
Imperadores incas
O imperador inca era considerado uma divindade que recebia o nome de Sapa Inca e de “Filho do Sol”. Quando morria, o Sapa Inca era mumificado e cultuado. Entre os imperadores incas, podemos destacar Pachacuti, que governou de 1438 a 1471.
Sociedade, economia e saberes
Além do imperador, a elite inca era composta de sacerdotes, chefes militares, governadores locais e funcionários do Estado. Também havia grupos privilegiados de artesãos, guerreiros, projetistas e contabilistas.
A maioria da população era formada por camponeses, que se dedicavam, sobretudo, ao cultivo de milho, batata, feijão, quinoa, tomate e tabaco e à criação de animais como lhamas e alpacas. Esses animais eram utilizados para o transporte de cargas e para a obtenção de lã, leite e carne. Durante um período do ano, os camponeses eram obrigados a realizar serviços para o Estado, trabalhando como agricultores, pastores e construtores.
Os incas desenvolveram a tecelagem, a cerâmica, a metalurgia do bronze e do cobre e a ourivesaria de ouro e prata. Construíram palácios, templos, estradas pavimentadas, aquedutos, canais de irrigação e terraços de cultivo na encosta de montanhas.
O Império Inca, cuja capital era Cuzco, possuía cerca de 16 mil quilômetros de estradas bem construídas, que possibilitavam rápido trânsito das informações utilizadas pelo governo para manter um minucioso e rígido controle sobre a população. A economia inca era essencialmente agrícola. Plantavam dezenas de variedades, especialmente o milho, o feijão e a batata, valendo-se de um complexo sistema de irrigação composto por canais e grandes represas.
No Império Inca não havia propriedade privada da terra. Esta pertencia ao Estado, que concedia às comunidades aldeãs (ayllus) o direito de ocupar parte delas e de usufruir de sua produção.
Além das terras concedidas aos ayllus havia ainda as terras do Inca (Imperador) cuja função era sustentar as famílias de linhagem real; as terras do Sol, que serviam para alimentar os sacerdotes; e as dos curacas (administradores dos ayllus nomeados pelo governo). Todas essas terras eram trabalhadas coletivamente pelos membros dos ayllus, que nada recebiam em troca. Eles eram obrigados, ainda, a realizar serviços gratuitos para o Estado, tais como construir e reparar estradas, templos, canais de irrigação e represas. Essa obrigação chamava-se mita.
A sociedade inca obedecia a uma divisão rígida. A nobreza era formada pelo Inca e seus números parentes. Dessa elite saíam os comandantes do exército, os sacerdotes e os altos funcionários públicos.
A camada média era formada por artesãos profissionais (tapeceiros, ceramistas, ourives), soldados, contabilistas, projetistas e médicos. Eles habitavam as cidades e recebiam do Estado aquilo de que necessitavam para viver.
A grande maioria da população era composta por milhares de camponeses pertencentes às comunidades aldeãs. Com seu trabalho os camponeses sustentavam a nobreza guerreira, sacerdotal e administrativa do império.
Politicamente, o império era teocrático e autoritário. O imperador, conhecido como Inca ou filho do sol, era considerado como um ser semidivino e, como tal, era adorado, reverenciado e obedecido por todos. Possuía enormes poderes e privilégios, e o seu cargo era hereditário.
Abaixo do Inca havia um numeroso corpo de funcionários, militares, religiosos e civis, que zelava pela segurança e rigorosa administração do império. Cada ayllu era governado por um curaca, representante do imperador, cuja própria função era exigir as famílias camponesas a realizações de serviços obrigatórios para o Estado.
A religião dos incas era politeísta, e a divindade mais cultuada por eles era o Sol, de quem julgavam ser descendentes. Por acreditar na vida além da morte, os incas, assim como os antigos egípcios, preocuparam-se em mumificar seus soberanos.
A arquitetura dos incas era notável, como se pode notar ainda hoje pelas ruínas de Machu Picchu, cidade construída numa região quase inacessível, a 2500m de altitude.
Um império interligado
As cidades incas eram interligadas por uma vasta rede de estradas. Eram caminhos que atravessavam vales, desfiladeiros e montanhas. Ao longo das principais estradas, havia abrigos, armazéns e postos com jovens corredores. Esses jovens deveriam memorizar mensagens e transmiti-las oralmente até o próximo posto. Isso permitiu a rápida comunicação entre diversas regiões do império.
Os incas não conheciam a escrita, mas possíam um sistema de registro de informações em quipos (nós feitos num cordão). Os quipos eram feitos em uma série de cordões coloridos nos quais a posição e a quantidade de nós representam números. Serviam para registrar, por exemplo, impostos e divisões do tempo.
As cores e os agrupamentos de cordõezinhos permitiam identificar as categorias dos objetos. Os nós identificam as categorias dos objetos. Os nós indicavam números e datas. Por exemplo, o nó mais próximo da ponta do cordãozinho correspondia à unidade, o que se seguia Referia-se às dezenas, e assim sucessivamente. Por meio dos quipos, os funcionários imperiais conseguiam informações sobre a economia, administração e a população do vasto império.
Muitos quipos foram destruídos pelos conquistadores espanhóis, mas aqueles que resistiram se tornaram importantes fontes para o estudo da história dos incas.
Uma das línguas adotadas pelos incas foi o quíchua (ou quéchua). Hoje, essa língua é falada por cerca de 10 milhões de pessoas na América do Sul. O quíchua influenciou também
o português brasileiro, dando origem a palavras como condor, chácara, mate e pampa.
As civilizações inca, asteca e maia, bem como muitas outras culturas pré-colombianas, com seus modos de existência e conhecimentos variados, foram praticamente destruídas pelos europeus durante o processo de conquista da América. Além disso nesse processo, foram mortos milhões de ameríndios.
Os Tupi-guarani
Até o começo do século XVI, ninguém chamava de Brasil as terras que hoje formam nosso país. Essas terras eram habitadas há milhares de anos por povos indígenas que tinham uma rica cultura e desenvolviam atividades como a caça, a pesca, a coleta de alimentos, a agricultura e o artesanato.
Entre os povos que viviam no território do atual Brasil, estão os Tupi-guarani. Há indícios de que esses povos iniciaram um movimento de migração do sul da Floresta Amazônica em direção ao litoral por volta de 500 d.C. Eles buscavam a mitológica “Terra sem Mal”, um lugar onde havia fartura e não se morria.
Como vários povos em diferentes espaços e tempos históricos, os Tupi-guarani buscavam um mundo imaginário onde a existência seria mais feliz e plena para todos.
Localização dos povos indígenas
Apesar de terem certa unidade linguística e cultural, os Tupi-guarani não formavam um único povo. Eles se subdividiam em grupos que falavam línguas diferentes, mas parecidas entre si, como Carijó, Tupiniquim, Tupinambá, Potiguar, Guarani etc.
Segundo alguns pesquisadores, havia uma população de aproximadamente 1 milhão de Tupi-guarani antes do contato com os europeus. Essa população ocupava longos trechos do litoral e do interior, acompanhando o vale dos rios.
Havia também outros povos no território brasileiro. Os Tupi-guarani chamavam esses povos de tapuias, os “inimigos” que falavam outras línguas. Eram Cariri, Aimoré, Tremembé etc.
O mapa a seguir mostra as áreas ocupadas, no século XVI, por alguns povos indígenas no território que hoje abrange o Brasil.
Mortes, saques, doenças
As consequências da presença europeia na América foram desastrosas. Entre 1500 e 1600, o número de nativos na América passou de cerca de 40 milhões para pouco mais de 10 milhões. Muitas das sociedades americanas foram destruídas e milhões de índios, mortos. Com isso, os europeus puderam promover uma verdadeira pilhagem nas novas terras.
Na região da América dominada pelos espanhóis, os conquistadores construíram um império à custa da submissão dos povos nativos, apoiados pela Igreja e estimulados pelos reis e pela burguesia. As riquezas saqueadas no Novo Mundo transformaram a Espanha na maior potência da Europa naquele período. Entre 1503 e 1660, chegaram à Espanha 185 toneladas de ouro e 25 mil toneladas de prata, entre muitas outras riquezas.