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Expansão Marítima Europeia

Os europeus no Oriente

Desde as Cruzadas, realizadas entre os séculos XI e XIII, os europeus consumiam mercadorias orientais, principalmente especiarias (açúcar, canela, cravo, noz-moscada e gengibre) e artigos de luxo (cristais, espelhos, tecidos de seda e objetos de porcelana, entre outros).
A partir da quarta Cruzada, os comerciantes de Veneza e de Gênova passaram a controlar as rotas do Mar Mediterrâneo e o fornecimento de mercadorias orientais para a Europa. Sem concorrentes, eles cobravam preços muito altos e detinham o monopólio comercial desses produtos. Dessa forma, antes de chegar às mãos dos consumidores, os produtos orientais passavam por vários comerciantes, cada qual aumentando o preço da revenda para obter sua parcela de lucro.
As rotas terrestres que iam para as Índias eram longas, perigosas e acidentadas. Além disso, eram controladas pelos turcos, que cobravam pedágios ou saqueavam as caravanas comerciais.
No entanto, as trocas não se limitavam às mercadorias. As rotas de comércio promoviam também interações entre caravaneiros de povos distintos e o intercâmbio de ideias, valores, saberes e religiosidades.

A crise de crescimento do século XV

No início da Idade Moderna, surgiu um descompasso na economia europeia, entre a capacidade de produção e consumo na zona rural e na zona urbana. A produção agrícola no campo estava limitada pelo regime de trabalho servil.
O resultado disso era uma produtividade baixa e, consequentemente, a falta de alimentos para abastecer os núcleos urbanos. Já a produção artesanal nas cidades era alta e não encontrava consumidores na zona rural, devido ao baixo poder aquisitivo dos trabalhadores rurais e ao caráter autossuficiente da produção feudal.
Além disso, o comércio internacional europeu, baseado na compra de produtos orientais (especiarias, objetos raros, pedras preciosas), tendia a se estagnar, pois os nobres, empobrecidos pela crise do feudalismo, cada vez compravam menos essas mercadorias. Os tesouros acumulados pela nobreza durante as Cruzadas escoavam para o Oriente, em pagamento das especiarias. O resultado disso foi a escassez de metais preciosos na Europa, o que criava mais dificuldades ainda para o desenvolvimento do comércio.
A solução para esses problemas estava na exploração de novos mercados, capazes de fornecer alimentos e metais preciosos a baixo custo e, ao mesmo tempo, aptos para consumir os produtos artesanais fabricados nas cidades europeias. Mas onde encontrar esses novos mercados?
O comércio com o Oriente estava indicando o caminho. Os mercados da Índia, da China e do Japão eram controlados pelos mercadores árabes e seus produtos chegavam à Europa ocidental através do mar Mediterrâneo, controlado por Veneza, Gênova e outras cidades italianas. 
Desde a Idade Média, mercadores das cidades italianas de Gênova e Veneza dominaram o lucrativo comércio com a Ásia e a África feito pelo Mar Mediterrâneo. Nesse comércio eram negociados artigos de luxo (tapetes, tecidos de seda, objetos de porcelana) e especiarias (cravo, pimenta, noz-moscada, canela, gengibre).
No século XV, as especiarias eram utilizadas pelos europeus como temperos, remédios e perfumes. Esses temperos serviam para melhorar o sabor, o aroma e a conservação dos
alimentos. Especiaria significava “substância ativa, valiosa e rara”, daí a sua importância. 
As especiarias e os artigos de luxo eram comprados pelos comerciantes italianos nos portos de cidades como Constantinopla, Trípoli, Alexandria e Túnis. Esses produtos eram levados pelo Mar Mediterrâneo até a Europa Ocidental, onde eram revendidos a altos preços.
O grande número de intermediários nesse longo trajeto encarecia muito as mercadorias. Mas se fosse descoberta uma nova rota marítima que ligasse a Europa diretamente aos mercados do Oriente, o preço das especiarias se reduziria e as camadas da população europeia com poder aquisitivo mais baixo poderiam vir a consumi-las.

Mais interesses e novos caminhos

A burguesia europeia considerava necessário encontrar outros caminhos para chegar ao Oriente, por causa da dificuldade de acesso a seus produtos por terra e por intermédio dos comerciantes da Península Itálica.
Além disso, a população europeia voltara a crescer, e a falta de alimentos era frequente. Para combater a fome, uma das possibilidades era comprar comida do Oriente e revendê-la na Europa.
Havia ainda a necessidade de obter metais preciosos para a fabricação de moedas, pois as minas europeias já estavam esgotadas. Também a nobreza tinha interesse em encontrar novas rotas para as Índias, onde pretendia conquistar terras.
A partir de 1453, a necessidade de encontrar caminhos alternativos às Índias cresceu. O Império Turco, em expansão, conquistou a cidade de Constantinopla e bloqueou a passagem de embarcações europeias pelo Mar Mediterrâneo, interrompendo o fornecimento de especiarias e artigos de luxo aos centros comerciais europeus.
Para romper o domínio dos italianos sobre esse comércio lucrativo, portugueses e espanhóis começaram a buscar outros caminhos para o Oriente pelo Oceano Atlântico e pelo Oceano Índico, realizando um conjunto de viagens marítimas de longa distância, que ficaram conhecidas como Grandes Navegações ou expansão marítima.
No século XV, a burguesia europeia, apoiada por monarquias nacionais fortes e capazes de reunir grandes recursos, começou a lançar suas embarcações nos oceanos ainda desconhecidos — Atlântico, Indico e Pacífico - em busca de novos caminhos para o Oriente. Nessa aventura marítima, os governos europeus dominaram a costa da África, atingiram o Oriente e descobriram um mundo até então desconhecido: a América.
Na Europa, a partir do século XV, os governos e a burguesia intensificaram as navegações pelo Oceano Atlântico, por meio das quais pretendiam estabelecer novas rotas comerciais até as Índias. No entanto, para viabilizar essa opção, foi preciso desafiar o medo de viajar pelo Atlântico, cujos ventos, correntes marítimas e outros fenômenos naturais e geográficos que interferiam na navegação eram desconhecidos dos marinheiros da época. As histórias transmitidas de geração a geração sobre vários naufrágios que ocorreram nas primeiras experiências de navegação pelo Atlântico feitas por povos antigos (como gregos e etruscos) alimentavam rumores de que em suas águas viviam monstros.
No imaginário europeu, eles destruíam as embarcações e devoravam as tripulações, razões pelas quais o Atlântico era chamado de “Mar Tenebroso” e muitos navegantes temiam por suas vidas ao cruzá-lo. Ganhavam respeito e admiração as tripulações que conseguiam chegar ao destino pretendido e retornar ao porto de onde saíram.

Outras condições à expansão marítima europeia

A expansão marítima só foi possível graças à centralização do poder nas mãos dos reis. Um comerciante rico, uma grande cidade ou mesmo uma associação de mercadores muito ricos não tinham condições de reunir o capital necessário para esse grande empreendimento. Apenas o rei era capaz de captar recursos de toda a nação para financiar as viagens ultramarinas.
Eram enormes as dificuldades que tinham de ser superadas para navegar pelos oceanos. As embarcações tinham de ser melhoradas e as técnicas de navegação precisavam ser aprimoradas. No século XV, inventou-se a caravela. A bússola e o astrolábio passaram a ser empregados como instrumentos de orientação no mar, e a cartografia passou por grandes progressos. Ao mesmo tempo, a antiga concepção sobre a forma da Terra começou a ser posta em dúvida.
Seria a Terra realmente um disco chato e plano, cujos limites eram precipícios sem fim? Uma nova hipótese sobre a forma de nosso planeta começou a surgir: o planeta teria a forma de uma esfera. Nessa nova concepção, se alguém partisse de um ponto qualquer da Terra e navegasse sempre na mesma direção, voltaria ao ponto de partida. O desejo de desbravar os oceanos, descobrir novos mundos e fazer fortuna animava tanto os navegantes, que eles chegavam a se esquecer do medo que tinham do desconhecido. Dois Estados se destacaram na conquista dos mares: Portugal e Espanha. "

Inovações técnicas das Grandes Navegações

Várias inovações técnicas ajudaram a desenvolver a navegação dos europeus nos séculos XV e XVI. Eram inovações relacionadas principalmente aos tipos de embarcações e às formas de se orientar nos mares e nos oceanos. Confira a seguir algumas delas.
• Caravela portuguesa – navio com dois ou três mastros e velas em formato triangular, que podiam ser ajustadas para navegar a favor do vento ou contra sua direção. Essa embarcação passou a ser muito usada pelos portugueses a partir de 1441.
• Cartografia – prática de produção e estudo de mapas que foi aprimorada com as viagens marítimas. A partir do século XV, cartógrafos europeus fizeram os primeiros registros das terras onde os navegadores chegavam. Esses mapas eram guardados em segredo pelos navegadores e seus patrocinadores. No entanto, certas informações circulavam porque havia espionagem de navegadores a serviço de um Estado que passavam a trabalhar para outro.
• Bússola – instrumento de orientação que se tornou essencial para os navegadores nas longas viagens marítimas. Sua invenção é atribuída aos antigos chineses, mas foram os árabes que levaram a bússola para a Europa.
• Astrolábio – instrumento de orientação que permite conhecer a localização de um navio pela posição dos astros. Esse instrumento foi inventado na Grécia antiga e divulgado na Europa Ocidental pelos árabes, que dominaram a Península Ibérica.
As Grandes Navegações despertaram fascínio e desconfiança da população. Não era fácil encontrar pessoas dispostas a trabalhar em uma viagem pelo Oceano Atlântico, conhecido como “mar tenebroso”. Havia o temor de que esse mar fosse habitado por monstros marinhos e sereias. Existiam também perigos reais, como tempestades com ventos fortes e ondas imensas, que poderiam fazer os navios naufragarem.
Além disso, o cotidiano nos navios era difícil. A tripulação alimentava-se da comida embarcada no porto onde a viagem começava. Quase não havia verduras e legumes frescos, que eram fontes de vitamina C. Isso causava uma doença chamada escorbuto. A comida disponível (carne-seca, farinha, cereais e biscoitos) era vigiada e controlada pelo capitão do navio e pelo despenseiro, homem que cuidava do depósito de mantimentos. Devido à higiene da época, ratos e baratas circulavam pelos navios, disputando os alimentos com os marinheiros.

Riquezas, fé e conhecimentos

Diversos grupos sociais interessaram-se pela expansão marítima, pois ela possibilitava acumular riquezas, difundir a fé cristã e buscar novos conhecimentos. O acúmulo de riquezas era desejado, sobretudo, por reis e burgueses que queriam lucrar com o comércio de produtos vindos da África e da Ásia.
Como vimos, as rotas comerciais do Mar Mediterrâneo eram dominadas pelos genoveses e venezianos. Por isso, rotas alternativas foram buscadas nos oceanos Atlântico e Índico. A difusão da fé cristã interessava, principalmente, à Igreja Católica, que pretendia conquistar mais seguidores. Esse interesse intensificou-se a partir da Contrarreforma.
Já a busca por novos conhecimentos estava ligada à mentalidade renascentista e humanista de boa parte dos europeus dessa época. Essa mentalidade estava associada à curiosidade científica, ao desejo de aventura e à vontade de investigar o mundo.

A expansão portuguesa

O reino português existia desde 1139. Surgiu, juntamente com outros quatro remos cristãos no atual território da Espanha, durante a guerra de Reconquista, movida pela nobreza para expulsar os árabes da península Ibérica. Mas Portugal foi um reino tipicamente feudal, em que o poder era partilhado por inúmeras autoridades locais. Sua unificação completou-se em 1385, quando a burguesia portuguesa, unida em torno da monarquia, realizou uma revolução em que o rei saiu fortalecido.
Quando Portugal deu início às viagens atlânticas, Espanha, França e Inglaterra enfrentavam obstáculos para realizar a expansão marítima. Os espanhóis lutavam para expulsar os árabes que ocupavam parte da Península Ibérica; os franceses e os ingleses estavam envolvidos na Guerra dos Cem Anos e, após 1453, quando a guerra acabou, suas respectivas burguesias precisaram de tempo para acumular capital e financiar as navegações.
O reino português possuía uma tradição marítimo comercial em função de sua localização geográfica: estava voltado para o oceano Atlântico. No século XIV, ao tornar-se o primeiro Estado moderno da Europa com o apoio de sua burguesia mercantil, Portugal reunia condições necessárias para entrar na grande aventura da expansão marítima. Neste sentido, o pioneirismo português foi impulsionado por aspectos como:
• a experiência com navegação – desde o século XIII os portugueses participavam do comércio marítimo europeu, e Lisboa foi se transformando em um dos portos mais movimentados da Europa;
• a posição geográfica – a localização de Portugal garantia livre acesso ao Oceano Atlântico, bons ventos e correntes marítimas favoráveis à navegação;
• a centralização política – na época, Portugal já era um Estado independente e unificado, com um governo capaz de financiar um projeto complexo e caro como a expansão marítima;
• o interesse de diversos grupos sociais – a expansão marítima tornou-se um projeto que despertou o interesse de comerciantes, nobres, membros da Igreja Católica e trabalhadores em Portugal. A expansão era uma oportunidade para acumular riquezas, adquirir prestígio, difundir a fé católica, buscar novos conhecimentos e melhorar de vida.
Em 1415, os portugueses conquistaram e saquearam Ceuta, um importante centro comercial dominado pelos muçulmanos no norte da África. Essa conquista é considerada o início da expansão marítima portuguesa.
Prosseguindo com a expansão, os navegadores portugueses tiveram de superar várias dificuldades para alcançar o Oriente contornando a África. Entre elas, destacamos a travessia do Cabo Bojador, região onde muitas embarcações afundavam, e do Cabo das Tormentas, que foi rebatizado pelo rei dom João II (1455-1495) de Cabo da Boa Esperança por ter criado a possibilidade de se chegar às Índias.
Os navegadores portugueses levaram mais de oitenta anos para conseguir contornar a costa da África. Durante esse processo, os portugueses criaram feitorias para o comércio de ouro, sal, ferro, marfim, tecidos, pessoas escravizadas etc. Esse comércio enriqueceu a burguesia e a Coroa portuguesas, financiando a continuidade da expansão.
Ao longo do século XV, os portugueses foram conquistando posições na costa oeste da África. Em 1498, o navegador português Vasco da Gama contornou o continente africano e, navegando através do oceano Indico, chegou à cidade de Calicute, na atual Índia. 
Essa viagem foi muito comemorada pelos portugueses, e Vasco da Gama retornou a Lisboa levando um carregamento que valia 60 vezes mais do que o custo da expedição. Assim, dois grandes objetivos foram alcançados: encontrar um novo caminho para o Oriente e romper com o monopólio comercial dos genoveses e venezianos.
A partir desse momento, os interesses da burguesia portuguesa voltaram-se para a organização de um Império Colonial no Oriente, que lhe garantisse o monopólio do comércio de especiarias frente a outros concorrentes e em substituição aos mercadores italianos.
Em 1500, os navegantes portugueses comandados por Pedro Álvares Cabral atravessaram o Atlântico e ancoraram suas caravelas em terras até então desconhecidas. Acabavam de descobrir o que viria a ser nosso país. Foi assim que o Brasil entrou na história da Europa ocidental.

Contatos iniciais de Portugal com a África

Em 1483, os portugueses chegaram à Mbanza Kongo, que os portugueses chamaram de Reino do Congo. A cultura do povo congolês é conhecida desde essa época devido aos documentos produzidos a partir desse contato.
O reino tinha uma sociedade hierarquizada, sustentada pela agricultura de subsistência praticada por mulheres, enquanto os homens produziam cerâmica e tecidos e, na metalurgia, dominavam técnicas aprimoradas da fusão do ferro.
Os produtos mais valorizados eram comercializados por membros das linhagens dos ancestrais de cada aldeia (que os portugueses associaram à nobreza local).
As relações foram amistosas e provocaram mudanças na organização social do Reino do Congo. Tais modificações geraram tensões entre as autoridades locais e os europeus.
Em 1491, o manicongo Nkuwu aceitou ser batizado como cristão. Seu sucessor implantou a religião cristã no reino e proibiu o culto aos ancestrais divinizados.
Visando reforçar seu poder, ele adotou modelos administrativos do governo português. Os laços religiosos, políticos e econômicos estabelecidos conectaram e marcaram a história dos dois reinos nos séculos seguintes.

A chegada dos portugueses às Índias

Em maio de 1498, enquanto os portugueses consolidavam sua influência na região do Congo, a tripulação de Vasco da Gama chegou à cidade de Calicute, centro comercial do Oriente.
No primeiro ano da presença portuguesa nas Índias, os negócios realizados com as mercadorias adquiridas na região e revendidas na Europa chegaram a render lucros de 6 000%. Do ponto de vista econômico, valeu a pena enfrentar o medo e os perigos de viajar por rotas até então desconhecidas

A expansão espanhola

Os espanhóis estavam atrasados em relação aos portugueses, no processo de expansão marítimo comercial. Sua unidade política só foi conseguida em 1469, graças ao casamento de Fernando, herdeiro do trono de Aragão, com Isabel, irmã do rei de Leão e Castela.
No ano de 1492, a Espanha conseguiu derrotar definitivamente os árabes que ocupavam Granada – último território ibérico sob domínio muçulmano. Ao mesmo tempo, ali ocorria a centralização do poder político, e a monarquia espanhola passou a organizar expedições para o Oriente.
Conscientes da vantagem de Portugal no projeto de atingir as Índias, uma vez que os navegadores portugueses já tinham chegado à costa oriental africana, os reis espanhóis decidiram apoiar a realização de uma viagem marítima considerada surpreendente na época: chegar ao Oriente viajando na direção do Ocidente.
A proposta lhes foi apresentada pelo navegador Cristóvão Colombo, que acreditava em uma ideia até então pouco aceita: a da esfericidade da Terra.
Esse navegador pretendia chegar à Índia percorrendo uma rota diferente da que foi usada pelos portugueses. Com base na ideia de que a Terra era redonda, como muitos estudiosos defendiam, Colombo elaborou um plano para atingir o Oriente navegando rumo ao oeste, isto é, em direção ao Ocidente.
Com três navios – Santa Maria, Pinta e Niña – concedidos pelos reis espanhóis, Colombo e sua tripulação partiram do porto espanhol de Palos em 3 de agosto de 1492. Em 12 de outubro, chegaram a terras que pensavam ser as Índias e, por isso, chamaram seus habitantes de índios. Mas o lugar em que aportaram era uma ilha no Mar do Caribe, chamada pelos nativos de Guanahani, à qual os espanhóis deram o nome de São Salvador.
Colombo retornou à Espanha e, nos anos seguintes, comandou mais três viagens pelo Oceano Atlântico, sempre acreditando que havia chegado à Índia. Morreu sem saber que chegara a outro continente. Somente com as viagens de outros navegadores, sobretudo do florentino Américo Vespúcio (1454-1512), é que o engano foi esclarecido. O continente passou a ser chamado de América em homenagem a esse navegador.
Em 1519, teve início outro marco das navegações espanholas: a primeira viagem de volta ao mundo. Comandada por Fernão de Magalhães, a expedição passou pela costa brasileira, chegou ao extremo sul do continente americano e cruzou a passagem do Oceano Atlântico para o Pacífico.
Seu objetivo era encontrar uma rota às Índias mais curta que a portuguesa e chegar nas Ilhas Molucas, ricas em especiarias. Tendo alcançado as Filipinas (maior arquipélago da Ásia), Magalhães foi morto em confronto com nativos.
A viagem prosseguiu sob o comando de Sebastião Elcano, sendo concluída em 1522. Além de provar a esfericidade da Terra, aquela expedição conectou a Europa, a América do Sul e o sudeste asiático por meio da navegação Atlântico-Pacífico, ampliando os contatos em escala mundial.
As áreas do continente americano que, posteriormente, foram dominadas pela Espanha também podem ser chamadas de América Espanhola. 

Disputas pelas novas terras

Portugal reivindicou parte das terras alcançadas por Colombo por ser pioneiro nas navegações pelo Atlântico. Os governantes de Portugal e Espanha quase entraram em conflito para assegurar a posse das novas terras. Em 1494, foi assinado o Tratado de Tordesilhas, que dividia, com uma linha imaginária, as terras a ser descobertas pelos reinos ibéricos: o
que estivesse a oeste dessa linha seria da Espanha, e o que estivesse a leste, de Portugal. Assim, cada reino tomou para si parte do território que viria a ser denominado América sem considerar as sociedades ameríndias que o habitavam.
Seis anos depois, em abril de 1500, uma expedição portuguesa liderada pelo navegador Pedro Álvares Cabral aportou na região atual de Porto Seguro, na Bahia. Como a frota tinha as Índias como destino, não se sabe se a parada no Novo Mundo foi proposital. De toda forma, os historiadores concordam que esse foi o primeiro contato entre os povos indígenas que viviam naquela região e os portugueses registrado nos documentos oficiais do Reino de Portugal. Vale lembrar que os habitantes indígenas da época não produziram registros escritos de tal contato, pois em suas culturas os relatos eram compartilhados pela tradição oral.

 A expansão  francesa, inglesa e holandesa

As guerras internas, como a das Duas Rosas, na Inglaterra, e a dos Cem Anos, entre a França e a Inglaterra, além do demorado pro­cesso de centralização do poder nas mãos do rei, atrasaram e dificultaram a conquista de novas terras por parte desses dois países.
França e Inglaterra, não concordaram com o Tratado de Tordesilhas. Tendo seus interesses contrariados por esse tratado, o rei francês Francisco I (1515-1547) teria dito: “Onde está o testamento de Adão, dividindo o mundo entre Portugal e Espanha?”.
Assim, franceses, ingleses e holandeses também investiram nas navegações marítimas e colonizaram regiões da América (Haiti e Estados Unidos, por exemplo), concorrendo com os portugueses e os espanhóis a partir do final do século XVI. Eles buscaram um novo caminho para o Oriente pelo norte do Oceano Atlântico. Isso porque os espanhóis e os portugueses já dominavam as rotas pelo sul do oceano. Embora um novo caminho não tenha sido encontrado, essas navegações possibilitaram a exploração e a ocupação da América do Norte. Contudo, a ocupação e exploração econômica dessas terras só aconteceria nos inícios do século XVII.
Os holandeses ocuparam ilhas no Mar das Antilhas e, entre 1630 e 1654, chegaram a dominar grande parte do nordeste do atual território do Brasil.
Mais tarde, no século XVII, holandeses e franceses se envolveram no comércio com os africanos, principalmente na África Ocidental. O objetivo dos europeus era comprar seres humanos para trabalharem como escravizados em suas colônias na América.
Também nessa época, parte dos territórios controlados pelos portugueses no Oriente foi entregue aos ingleses em troca de acordos de proteção militar. Bombaim, por exemplo, que estava sob domínio luso desde 1534, foi dada como dote da princesa Catarina de Bragança (1638-1705) ao se casar com o rei Carlos II (1630-1685) da Inglaterra, em 1661. Bombaim é hoje uma das maiores cidades indianas.

Navegações árabes e chinesas

No século XV, os navegadores árabes dominaram importantes rotas comerciais no Oceano Índico. Essas rotas ligavam a Índia à Península Arábica e à África Oriental. Assim, quando chegaram à Índia em 1498, os portugueses disputaram com os árabes um espaço nesse comércio.
Entre os séculos XII e XV, os chineses vivenciaram um período de apogeu na navegação e intensificaram o comércio marítimo com povos asiáticos, africanos e árabes.
Um dos grandes navegadores chineses foi Zheng He (1371-1435). Ele liderou sete expedições nos oceanos Pacífico e Índico entre 1405 e 1433, alcançando a Península Arábica e a África Oriental. Seu objetivo era estabelecer relações diplomáticas, fazer comércio e cobrar tributos de regiões vizinhas.
Apesar de terem desenvolvido uma sofisticada tecnologia de navegação, os chineses passaram a se concentrar no desenvolvimento de seu mercado interno em meados do século XV. Com isso, a expansão marítima chinesa foi interrompida e seu comércio exterior sofreu restrições.

A expansão comercial e intercâmbio de culturas

No início do século XVI, iniciou-se uma nova etapa nas relações comerciais. A expansão marítima integrou Europa, Ásia, África e América. O Mediterrâneo deixou de ser a única ligação entre a Europa e o Oriente. Com as navegações atlânticas, novos caminhos estavam abertos.
Portugueses, espanhóis, franceses, ingleses e holandeses iniciaram contato com chineses, indianos, japoneses, africanos e ameríndios e ampliaram seu contato com turcos e árabes. Além das trocas comerciais, havia intercâmbio cultural, que influía no modo de vida desses povos. Técnicas, saberes, alimentos de origem muito diversa passaram a fazer parte da vida de europeus e não europeus que se conectaram por meio das viagens oceânicas.

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