domingo, 24 de setembro de 2023

A situação europeia no século XIX

Depois do Congresso de Viena (1815), em vários países se estabeleceram governos autoritários que tudo fizeram para eliminar as mudanças liberais obtidas pela Revolução Francesa. Essa situação descontentava vários grupos da população, que se revoltaram, chefiados pela burguesia. As revoltas foram reprimidas, mas acabaram por trazer alguns progressos para as sociedades onde ocorreram.
Os grupos liberais e nacionalistas continuaram encontrando grande apoio dos influentes setores da burguesia. Em termos ideológicos, o liberalismo e o nacionalismo desempenharam um papel de grande importância nos processos de unificação da Itália e da Alemanha.

1. As teses liberais nacionalistas do século XIX

O século XIX, na Europa, foi bastante influenciado por teses liberais e nacionalistas, que se foram constituindo desde o Iluminismo, acompanhando o desenvolvimento da burguesia europeia.
Os aristocratas podiam estar satisfeitos com a situação da Europa pós Congresso de Viena, mas grande parte da população não estava. Burgueses, intelectuais, artesãos... Tinham motivos de sobra para se sentirem oprimidos pelo absolutismo. As ideias políticas liberais conquistaram muitos adeptos entre esses grupos sociais. O liberalismo político tinha origem nas ideias dos iluministas. Os liberais defendiam em primeiro lugar as liberdades individuais: a liberdade de discordar do governo, de protestar, etc.
O Liberalismo defendia, basicamente, os seguintes princípios políticos, econômicos e religiosos:

Setor político: Regime de governo de caráter democrático. Os poderes do Estado deveriam ser limitados por uma Constituição e estar separados em Legislativo, Executivo e Judiciário. O Estado deveria servir o cidadão, respeitando sua liberdade e sua dignidade.

Setor econômico: O Estado deveria intervir na vida econômica o menos possível. As atividades econômicas deveriam ficar a cargo da iniciativa privada.

Setor religioso: O Estado deveria estar completamente separado da Igreja. Cada cidadão deveria praticar livremente sua crença religiosa. A liberdade de culto e de convicções filosóficas deveria ser um direito de todos.

Mas nem todos os liberais eram democratas. Os liberais tradicionais queriam que o voto fosse censitário, ou seja, consideravam que só as pessoas com boa posição social deveriam ter o direito de voto. Já os liberais radicais (democratas) discordavam. Eles defendiam o sufrágio universal, ou seja, o direito de voto para todos.

O Nacionalismo defendia, basicamente, os seguintes princípios;

- Respeito pela formação natural dos povos, ligados por laços étnicos, linguísticos e por outros traços culturais;

- Direito de todos os povos lutarem por sua independência como nação;

- Direito dos povos de viverem, com autodeterminação, num território unificado.

Entre 1830 e 1914 os movimentos liberais, as lutas dos trabalhadores e a influência das idéias socialistas levaram alguns governos europeus a adotar medidas liberais. Dentre essas medidas destacam-se as seguintes:

- Direito a voto secreto masculino;
- Regulamentação da jornada de trabalho;
- Igualdade de todos perante a lei;
- Legalização dos sindicatos;
- Direito de greve.

As teses liberais e nacionalistas espalharam-se fortemente por diversas regiões da Europa, através de movimentos que postulavam a unidade nacional de um determinado território. Entre esses movimentos, estudaremos os casos que levaram à unificação da Itália e da Alemanha.

2. Unificações europeias

O Congresso de Viena (1814-1815) determinou que os atuais territórios da Itália e da Alemanha fossem repartidos em diversos Estados e submetidos, em sua maior parte, ao domínio estrangeiro.
Os povos naturais desses territórios, entretanto, não aceitaram a divisão feita pelas potências conservadoras reunidas em Viena. Por isso, não demoraram a promover movimentos nacionalistas, visando transformar suas nações em Estados nacionais independentes.

A unificação italiana

Por decisão do congresso de Viena, a região onde é hoje a Itália foi dividida em pequenos Estados:

- Reino Sardo-Piemontês: governado por uma dinastia italiana. Era autônomo e soberano;
- Reino Lombardo-Veneziano: governado pela Áustria;
- Ducados de Parma, Módena e Toscana: governados por duques subservientes à Áustria;
- Estados Pontifícios: governados pelo papa;

Reino das Duas Sicílias (Sicílias e Nápoles): governado pela dinastia dos Bourbon.

As lutas pela Itália

A unidade nacional era um antigo desejo acalentado por milhares de nacionalistas italianos. Contudo, as primeiras lutas do movimento de unificação italiana só tiveram início depois da decisão do Congresso de Viena, que transformava a atual Itália numa “colcha de retalhos”.
As primeiras tentativas de libertar o território italiano da dominação estrangeira foram feitas por uma organização revolucionária denominada Jovem Itália. Liderada por Giuseppe Mazzini, republicano, a Jovem Itália defendia a independência e a transformação da Itália numa república democrática por meio da insurreição popular.
Em 1848, os seguidores de Mazzini promoveram levantes contra a dominação austríaca em diversos pontos do território italiano. Embora inicialmente tenham obtido sucessos militares, acabaram vencidos pelo poderoso exército austríaco. Apesar disso, o ideal nacionalista continuou ainda mais forte em toda a península Itálica.
A partir dessa época, a luta pela unificação passou a ser encabeçada pelo Reino Sardo-Piemontês, cujo rei era Victor Emanuel II e o primeiro-ministro, o conde de Cavour, um grande proprietário rural. Cavour, um dos líderes do Rissorgimento – movimento que pretendia fazer a Itália reviver seus tempos de glória –, representava todos os que desejavam a unificação em torno do Piemonte, com o estabelecimento de uma monarquia constitucional.
Para alcançar seu objetivo, Cavour obteve o apoio da burguesia e dos proprietários rurais e pôs em prática um plano de modernização da economia e do exército do Piemonte. Ao mesmo tempo, procurou aproximar-se da França, a fim de conseguir ajuda militar para enfrentar a Áustria.
Depois de estabelecer uma aliança secreta com a França de Napoleão III, Cavour começou a usar a imprensa para provocar a Áustria. Esta, por sua vez, respondeu declarando guerra ao reino Sardo-Piemontês.
Com a ajuda da França, o exército de Cavour obteve expressivas vitórias nessa guerra. Derrotada, a Áustria foi forçada a entregar ao Reino Sardo-Piemontês a Lombardia e os ducados de Parma, Módena e Toscana, cujos habitantes também haviam se engajado na luta pela unidade nacional.
Quase ao mesmo tempo, dando continuidade à luta pela unificação, o revolucionário Giuseppe Garibaldi, à frente de mil voluntários conhecidos como camisas vermelhas, atacou o Reino das Duas Sicílias e criou condições para sua libertação do domínio estrangeiro. A seguir, os habitantes do Reino das Duas Sicílias decidiram, por intermédio de um plebiscito, que também desejavam ser governados pelo rei Victor Emanuel II.
Com a maior parte do atual território sob seu controle, em 1861 Victor Emanuel II foi proclamado rei da Itália. Entretanto, para que a unidade italiana se completasse, era preciso efetuar ainda a conquista de Veneza e Roma. Veneza foi incorporada no ano de 1866, em conseqüência de uma guerra na qual Prússia e Itália, unidas, derrotaram a Áustria.
Roma foi anexada em 1870 e, no ano seguinte, passou a ser a capital do país. A conquista de Roma pelo exército de Victor Emanuel II efetivou-se quando as tropas francesas que a protegiam tiveram de abandoná-la, pois a França havia entrado em guerra contra a Áustria.
Com a anexação de Roma, completou-se a unificação da Itália.
O papa Pio IX, entretanto, não aceitou a perda dos domínios territoriais da Igreja. Por isso, rompeu relações com o governo italiano, considerou-se prisioneiro e fechou-se no Vaticano. Nascia assim a chamada Questão Romana, só resolvida em 1929, ano em que o papa Pio XI e Benito Mussolini assinaram o Tratado de Latrão. Por esse acordo, criou-se dentro da cidade de Roma, o minúsculo Estado do Vaticano, que é dirigido pela Igreja Católica e possui aproximadamente 0,5 Km² de superfície.

A unificação alemã

O Congresso de Viena (1815) dividiu a região onde é hoje a Alemanha em 39 Estados independentes. Todos esses Estados e a Áustria passaram a compor a chamada Confederação Germânica.
A presidência da Confederação cabia à Áustria, país que era radicalmente contrário à unificação alemã. Unida, a Alemanha seria um vizinho poderoso e, portanto, indesejável do ponto estratégico.
Já a Prússia, que depois da Áustria era o Estado mais influente da Confederação, vinha sendo palco de inúmeros movimentos nacionalistas favoráveis à unidade política desses territórios.
No início do século XIX, um dos principais obstáculos à unificação da Alemanha era a existência de uma grande quantidade de barreiras alfandegárias entre os diversos Estados alemães.
Percebendo isso, a Prússia passou a lutar pela eliminação dessas barreiras. Em 1834, deu-se um grande passo nessa direção: sob a liderança da Prússia, foi criado o zollverein, ou seja, a união alfandegária entre os diversos Estados alemães. Ao possibilitar a livre circulação de mercadorias, o zollverein estimulou o comércio entre os Estados alemães e deu um enorme impulso à indústria e ao transporte ferroviário.
Possuidora de imensas reservas de carvão e ferro e de uma burguesia vigorosa, a Prússia largou na frente: na década de 1850, tornou-se o mais industrializado de todos os Estados que compunham a Confederação Germânica e, na década seguinte, assumiu o comando do processo de unificação alemã.

Bismarck, o “Chanceler de Ferro”

Corria o ano de 1862 quando Guilherme I, rei da Prússia, confiou o cargo de primeiro-ministro ao astuto, habilidoso e determinado Otto Von Bismarck.
Como primeiro-ministro, Bismarck incentivou e modernizou o exército prussiano e propôs a liderar a unificação alemã. Conduzida por Bismarck, a unificação alemã concretizou-se por meio de três guerras: contra a Dinamarca (1864) contra a Áustria (1866) e contra a França (1868-1870).
Com o objetivo de conquistar os ducados dinamarqueses de Schleswig e Holstein, cuja população era predominantemente alemã, a Prússia aliada à Áustria, atacou e, meses depois, venceu a pequena Dinamarca. Em conseqüência dessa guerra, os vencedores dividiram os territórios conquistados: a Prússia ficou com o Schleswig e a Áustria com o Holstein.
Tempos depois, Bismarck usou como desculpa o fato de que a administração austríaca no ducado de Holstein era ineficiente e ocupou-o militarmente, com o objetivo de provocar a Áustria.
O resultado dessa provocação foi a explosão da Guerra Austro-Prussiana, na qual a Prússia, ajudada pela Itália e pelos Estados alemães do norte, venceu a Áustria em apenas sete semanas. Curvando-se ao poderio prussiano, a Áustria foi obrigada a aceitar a dissolução da Confederação Germânica e assinar o Tratado de Praga, pelo qual ficava estabelecido que:

- os Estados alemães do Norte, sob a liderança da Prússia, passavam a formar a Confederação Germânica dos Estados do Norte;
- a Áustria reconhecia o direito da Prússia sobre os ducados de Schleswig e Holstein e entregava Veneza à Itália.

Os Estados do Sul, por sua vez, recusava-se a aceitar a liderança prussiana e mantiveram-se neutros. De sua parte, Bismarck preferiu contornar a situação e evitou entrar em conflito com os alemães do Sul.
O “Chanceler de Ferro” entendia que, para completar a unificação alemã, o ideal era “fabricar” uma guerra contra um inimigo externo, pois isso uniria todos os alemães em torno do ideal nacionalista.
Essa guerra, na opinião dele, deveria ser contra a França, país que vinha dando inúmeras provas de que não desejava a união da Alemanha. Quando a França, respondendo a uma provocação de Bismarck, declarou guerra à Prússia, todos os alemães se uniram para enfrentá-la. A Guerra Franco-Prussiana teve início em 1868 e estendeu-se por dois anos.
Depois e vencerem os franceses na Batalha de Sedam, em 1º de setembro de 1870, e de aprisionarem Napoleão III, os alemães atravessaram Paris e chegaram a Versalhes, onde, em 18 de janeiro de 1871, na Sala dos Espelhos do palácio, Guilherme I foi coroado imperador do II Reich (império) alemão. Meses depois, franceses e alemães assinaram o Tratado de Frankfurt, um acordo de paz através do qual a França ficava obrigava a pagar para a Alemanha uma vultosa indenização (5 bilhões de francos-ouro) e a entregar-lhe a Alsácia-Lorena, região riquíssima em minério de ferro.
Unificada, dona de um território rico em carvão e ferro, com um governo amplamente favorável à industrialização, a Alemanha progrediu de modo espetacular a partir de 1871. Duas décadas depois, já tinha se tornado a primeira potência industrial da Europa.

3. A França de 1815 a 1870

Depois da queda de Napoleão, os Bourbons retornaram ao trono francês:

- Luís XVIII: Governou a França de 1815 a 1824. Em seu período de governo estabeleceu o chamado Terror Branco, que consistiu em violentas repressões aos bonapartistas e aos liberais.
- Carlos X: Com a morte de Luís XVIII, o trono foi ocupado por seu irmão, que governou de 1824 a 1830. Carlos X desenvolveu uma política antiliberal, provocando a forte reação das forças burguesas, que temiam o restabelecimento do absolutismo. Ele censurou a imprensa e reprimiu os opositores ao regime. Em 1830, a população se rebelou em Paris e o rei Carlos X teve de renunciar. Assumiu então um novo rei, Luís Filipe de Orléans.
O rei Luís Filipe ficou conhecido como o “rei dos banqueiros” (indica que ele favoreceu os grandes capitalistas). Durante seu reinado, a França teve um período de grandes avanços econômicos e industriais. Mas cresceu a desigualdade social. Os burgueses iam ficando milionários, enquanto os operários permaneciam na penúria.
Em 1848, houve uma grande crise econômica. Os salários baixaram e o desemprego cresceu, as colheitas foram ruins e a comida escasseou. A insatisfação popular explodiu numa grande revolução. Operários e artesãos juntaram-se a estudantes e pequenos burgueses, e tomaram as ruas da capital. O rei Luís Filipe foi derrubado. A França voltava a ser uma república.
Os principais partidos políticos de oposição organizaram um governo provisório. Esses “socialistas” defendiam reformas, como o sufrágio universal e a criação de oficinas de artesanato do Estado, que dariam trabalho aos desempregados.
Diante da grave situação econômica, os operários de Paris se rebelaram. Foram duramente reprimidos pela Guarda Nacional, e as ruas da capital ficaram tomadas por cadáveres e poças de sangue. A grande burguesia saiu vencedora.
Nessa época houve eleições para um novo presidente da República. As pessoas queriam a ordem e a tranquilidade a qualquer preço. Então, Luís Bonaparte foi eleito presidente da França. O sobrinho de Napoleão Bonaparte, Luís Bonaparte, tornou-se o primeiro presidente da Segunda República Francesa. Entretanto, Luís Bonaparte deu um golpe de Estado, proclamando-se imperador dos franceses com o título de Napoleão III.
Napoleão III governou a França de 1852 até 1870, conseguindo a expansão do país em termos econômicos e políticos. Durante o governo de Napoleão III, a França patrocinou a construção do famoso Canal de Suez, que liga diretamente o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, encurtando sensivelmente as viagens marítimas da Europa à Ásia. As obras de construção do canal de Suez duraram de 1858 a 1869, sendo dirigidas pelo engenheiro francês Ferdinand de Lesseps.
O governo de Napoleão III terminou quando seus exércitos foram derrotados pelas tropas prussianas, em 1870. Isso se deu na Batalha de Sedan, quando o próprio Napoleão foi capturado. Na França, as forças oposicionistas uniram-se para proclamar a Terceira República Francesa, com a formação de um governo de defesa nacional, em 4 de setembro de 1870.

4. A Era Vitoriana

A rainha Vitória governou a Inglaterra durante sessenta e quatro anos, de 1837 a 1901. Seu longo reinado coincidiu com o período de apogeu da política colonialista inglesa. O Império Britânico chegou a dominar um território correspondente a um quinto da superfície terrestre do planeta. No período de governo da rainha Vitória, a política interna inglesa consolidou-se sob o sistema parlamentarista.

5. A Primavera dos Povos

O ano de 1848 foi o mais revolucionário do século XIX, em muitas regiões. Por isso recebeu o apelido de o ano da Primavera dos Povos. Em vários outros países europeus eclodiram revoltas populares. Nas principais cidades homens e mulheres ocuparam as ruas, ergueram barricadas (usaram entulhos para bloquear as ruas) e enfrentaram as tropas dos governos autoritários.

6. A expansão do Nacionalismo

Este movimento se expandiu rapidamente pela Europa no início do século XX, alimentado pelas guerras perdidas, rivalidades econômicas, disputa territorial nas colônias da Ásia e da África – e a mídia, contribuiu bastante para que acontecesse a Primeira Guerra. Os cidadãos da Sérvia e do Império Austro-Húngaro clamavam por uma guerra, para defender a sua honra. Entre os principais movimentos nacionalistas que se desenvolveram na Europa, podemos destacar:
- O Pan-eslavismo: Foi liderado pela Rússia e assim foi chamado porque pregava a união de todos os povos eslavos da Europa Oriental, principalmente aqueles que se encontravam dentro do Império Austro- Húngaro. Na realidade havia interesses econômicos estratégicos, onde os governos dos czares pretendiam chegar às águas quentes(mar Mediterrâneo e oceano Atlântico) para comercializarem produtos.

- O Pan-germanismo: Liderado pela Alemanha, pregava a completa anexação de todos os povos germânicos da Europa Central. Na realidade tinham interesse em anexar as regiões das Bálcãs por onde passaria a estrada de ferro Berlim-Bagdá e chegaria aos poços de petróleo do Iraque, que na época pertencia a Inglaterra.

- Revanchismo francês: Com a derrota da França na guerra contra a Alemanha, em 1870, os franceses foram obrigados a ceder aos alemães os territórios da Alsácia-Lorena, cuja região era rica em minérios de ferro e em carvão. A partir dessa guerra, desenvolveu-se na França um movimento de cunho nacionalista-revanchista, que visava desforrar a derrota sofrida contra a Alemanha e recuperar os territórios perdidos.

7. A HEGEMONIA DA EUROPA

Apesar do desenvolvimento dos Estados Unidos e do Japão, a Europa exercia em 1914 a supremacia econômica e política sobre o resto do mundo. Econômica porque controlava a maior parcela da produção mundial, 62% das exportações de produtos fabris e mais de 80% dos investimentos de capitais no exterior, dominando e ditando os preços no mercado mundial. Era a maior importadora de produtos agrícolas e matérias-primas dos países que hoje compõem o Terceiro Mundo. Hegemonia política porque na sua, expansão o capitalismo europeu levou à necessidade de se controlar os países da Ásia, África e América Latina.
Á Europa era desigual quanto à estrutura econômica e política. Dos 23 Estados europeus, 20 eram Monarquias e só a França, Suíça e Portugal eram Repúblicas. Os regimes políticos eram constitucionais, mas o Parlamentarismo, forma típica do Liberalismo Político, só existia de fato na Grã-Bretanha, Bélgica e França, pois os demais países, apesar de constitucionais, possuíam formas autoritárias de governo, como a Áustria-Hungria e a Alemanha.
Os problemas sociais refletiam a diversidade das estruturas socioeconômicas. Nos países da Europa Centro-Oriental a nobreza predominava. Já nos países da Europa Ocidental, a industrialização colocara frente a frente a burguesia e a classe operária. Entretanto, a ameaça de uma revolução social era remota naquele momento, pois a maioria dos partidos socialistas tendia à moderação, aderindo ao jogo político do Liberalismo. As únicas exceções eram algumas facções de esquerda, como os Bolchevistas russos. Só os Estados Unidos e o Japão colocavam-se fora da influência europeia, disputando com o capitalismo europeu “áreas de influência”. Em 1914 os Estados Unidos já eram potência econômica mundial, controlando pequena parcela do mercado mundial e recebendo investimentos da Europa. O Japão, após sua “abertura ao Ocidente”, desenvolveu-se rapidamente via Revolução Meiji, passando a integrar-se ao círculo das nações imperialistas voltando suas vistas para a China e a Manchúria, na Ásia.

Revoluções de 1830 e 1848 na Europa

 A reação europeia, conduzida pelo Congresso de Viena e pela Santa Aliança, não conseguiu estancar o movimento revolucionário iniciado na segunda metade do século XVIII. As revoluções da América luso-espanhola foram bem-sucedidas e a Grécia se libertou do julgo turco.

Por volta de 1830, uma nova onda revolucionária abalou a Europa: na França, Carlos X, sucessor de Luís XVIII (foto), foi obrigado a abdicar do poder; a Bélgica, dominada pela Holanda, rebelou-se, proclamando sua independência; na Itália, as associações revolucionárias impuseram uma Constituição; na Alemanha eclodiram movimentos liberais constitucionalistas; a Polônia tentou obter sua independência.
Essas revoluções provocaram um golpe violento na reação representada pela Santa Aliança, aniquilando-a. Além disso, outros fatores podem ser arrolados para explicar o problema. Entre 1846 e 1848, as colheitas na Europa Ocidental e Oriental foram péssimas. Os preços dos produtos agrícolas subiram violentamente e a situação das classes inferiores piorou.
Ao mesmo tempo, verificava-se uma crise na indústria, particularmente no setor têxtil. O aumento da produção ocasionou a superprodução. A crise na agricultura diminuiu ainda mais o consumo dos produtos manufaturados pelo empobrecimento dos camponeses. A paralisação das atividades fabris resultou em dispensa dos trabalhadores e redução nos salários, exatamente quando os preços dos gêneros de primeira necessidade subiam vertiginosamente.
Os recursos financeiros dos países europeus foram carreados para a aquisição de trigo na Rússia e Estados Unidos. Isto afetou os grandes empreendimentos industriais e a construção das estradas de ferro, em franco progresso na oportunidade. A paralisação das atividades nestes setores arrastou outros, provocando a estagnação econômica geral.
A crise variou de país para país. Na Itália e Irlanda foi mais agrária; na Inglaterra e França, industrial, bem como na Alemanha. A miséria gerou o descontentamento político. A massa dos camponeses e proletários passou a reclamar melhores condições de vida e maior igualdade de recursos.
No fundo, constituíam-se idéias socialistas, mas como não existia um partido socialista organizado que pudesse orientar estas classes, coube aos liberais e nacionalistas, compostos pela burguesia esclarecida, exercerem a oposição ao governo, contando com o apoio da massa, sem orientação própria.

França

Luís Felipe fora colocado no trono da França pela Revolução de 1830, representando os ideais da burguesia e tendo por objetivo conciliar a Revolução com o Antigo Regime. A oposição popular ao regime era manifesta. Em 1834 deu-se a insurreição dos operários de Lyon. As tendências republicanas ganhavam adeptos através das várias sociedades políticas fundadas com este propósito.
A oposição não era somente popular. Havia muitos partidários da volta de Carlos X, exilado desde 1830. Os antigos correligionários de Napoleão acercavam-se de Luís Bonaparte, seu sobrinho.
O partido socialista opunha-se ao governo, propondo reformas. Seus líderes, Louis Blanc, Flocon e Ledru-Rollin iniciaram em 1847 uma campanha em todo o país visando à reforma eleitoral. A forma encontrada para a difusão da campanha foram os banquetes nos quais os oradores debatiam a questão.
Em 22 de fevereiro, o ministro Guizot proibiu a realização de um banquete, o que provocou a eclosão da revolta. Surgiram as barricadas nas ruas com o apoio de elementos da Guarda Nacional. A revolta ganhou vulto. Guizot foi demitido em favor de Thiers, que nada resolveu. A Câmara foi invadida e os deputados fugiram. Luís Felipe abdicou. O governo provisório foi organizado e proclamou a Segunda República da França, com a participação de burgueses liberais e socialistas. No dia 23 de abril, realizou-se a primeira eleição na Europa com o voto universal masculino, direto e secreto.
A crise econômica, entretanto, não fora debelada; pelo contrário, se agravara. O governo provisório, a fim de ofertar trabalho aos desempregados, criara as "oficinas nacionais", empresas dirigidas e sustentadas pelo Estado. O pagamento dos salários era coberto com a elevação dos impostos, o que redundou em crise maior.
O fechamento destas oficinas fez voltar à rua o proletariado. Tentou-se fazer uma revolução dentro da própria revolução. A Assembléia delegou poderes excepcionais ao general republicano Cavaignac, que abafou violentamente a revolta. Dezesseis mil pessoas foram mortas e quatro mil deportadas. A questão operária foi resolvida segundo os interesses da burguesia.
Em 12 de novembro de 1848 foi promulgada uma nova Constituição. O presidente da República seria eleito por quatro anos, sendo Luís Napoleão o primeiro presidente eleito. Em 1851 deu um golpe político, implantando o II Império da França, assumindo o governo com o título de Napoleão III.

Itália

A Itália, em 1848, estava dividida em vários Estados, todos eles com governo tipicamente despótico. A crítica a este regime era conduzida pelas sociedades secretas, principalmente a Carbonária. Ao mesmo tempo, reformas liberais visavam à unificação dos Estados italianos. Para tanto, seria preciso expulsar os austríacos, que desde o Congresso de Viena adquiriram supremacia sobre a Itália.
Em janeiro deu-se uma revolta no Reino das Duas Sicílias. O rei Fernando II foi obrigado a conceder uma Constituição, o mesmo ocorrendo na Toscana e no Estado papal.
No reino de Lombardia iniciou-se séria oposição aos austríacos. O rei de Piemonte, Carlos Alberto, tomou a liderança da revolta, declarando guerra aos austríacos. Os exércitos austríacos obtiveram duas vitórias (Custozza e Novara), forçando Carlos Alberto a abdicar em nome de seu filho Victor-Emanuel II. A repressão implantada pelos austríacos foi violenta em toda a península. A tentativa liberal e nacionalista dos italianos tinha sido frustrada.

Alemanha

A Alemanha, depois do Congresso de Viena, passara a constituir uma Confederação composta por numerosos estados, cuja política exterior era coordenada por uma Assembleia que se reunia em Frankfurt. A Prússia e a Áustria lideravam esta Confederação.
Visando à maior integração entre os Estados germânicos foi criado, em 1834, o Zollverein, espécie de liga aduaneira que liberava a circulação de mercadorias nos territórios dos membros componentes, em torno da Prússia e sem a participação da Áustria.
Esta política econômica estimulou o desenvolvimento industrial, que por sua vez acentuou o nacionalismo germânico, o desejo de independência e de união política. O mesmo aspecto liberal e nacionalista que vimos aparecer na Itália também se manifestava lá.
Na Prússia, em 18 de março de 1848, verificou-se extraordinária manifestação popular diante do palácio real, provocando a reação das tropas. O movimento alastrou-se e Frederico Guilherme, rei da Prússia, teve de se humilhar prometendo uma Constituição ao povo insurgido.
Vários Estados juntaram-se ao movimento, aproveitando a oportunidade para tentar a unificação política. Em março, reuniu-se em Frankfurt uma assembleia preparatória para um Parlamento representativo, que deveria iniciar seus trabalhos legislativos em maio.
Os príncipes alemães aproveitaram-se da divisão entre os revolucionários para retomar o poder abalado. Em novembro de 1848, Berlim foi tomada e a Constituinte dissolvida pelo exército. O movimento liberal fora abafado.
A Assembleia de Frankfurt decidiu eleger como imperador o rei da Prússia, que recusou por se considerar rei por vontade de Deus. Propôs, entretanto, aos príncipes alemães a criação de um império. A Áustria, em 1850, impôs à Prússia o recuo nesses projetos e em qualquer mudança da ordem existente.

Áustria

O Império austríaco dos Habsburgos era muito heterogêneo. Estava com- posto por alemães, húngaros, tchecoslovacos, poloneses, rutenos, romenos, sérvios, croatas, eslovenos e italianos. Destes povos, somente os húngaros tinham certa autonomia. Os mais numerosos, húngaros e tchecos, conscientes de sua individualidade, buscavam reconhecimento imperial.
Os alemães da Áustria reclamavam contra o governo de Metternich. Insurgiram-se estudantes, burgueses e trabalhadores, forçando a queda do chanceler e a convocação de uma Assembleia Constituinte.
Os eslavos seguiram o exemplo. Orientados por Palcky, convocaram uma reunião dos povos eslavos em Praga para 2 de junho. O congresso paneslavita foi dissolvido militarmente. Viena foi tomada, formando-se um governo absoluto após ter sido bombardeada, sendo implantado um regime de perseguição policial.

Liberais e Nacionalistas

 O Congresso de Viena

Napoleão Bonaparte comandou a invasão de muitos países europeus. Ele tentou acabar com o antigo regime. Implantou leis baseadas no Código Civil. Desse modo, a Revolução Francesa espalhava seus ideais. No entanto, ele foi vencido por uma união da forças da Inglaterra e por países ainda do Antigo Regime. Os representantes desses países (‘vencedores’) se reuniram no Congresso de Viena, com o objetivo de desfazer o que Napoleão havia feito na Europa. Esses representantes queriam apagar o passado revolucionário. Seria como se o Antigo Regime nunca tivesse sido abalado e Napoleão não tivesse nem nascido. Os antigos reis absolutistas voltaram a governar e leis que favoreciam os aristocratas foram reativadas. A fim de evitar novas revoluções, os governos formaram uma união militar, chamada Santa Aliança. Toda vez que estourasse uma revolução num país da Europa, a Santa Aliança enviaria tropas para acabar com o movimento.
Eles acreditavam que podiam manter o Antigo Regime para sempre. Mas os acontecimentos mostraram que não era possível. Quanto mais as cidades e as indústrias iam crescendo, mais fortes ficavam a burguesia, os intelectuais e os operários (forças sociais que rejeitavam o Antigo Regime).

O Liberalismo

Os aristocratas podiam estar satisfeitos com a situação da Europa pós Congresso de Viena, mas grande parte da população não estava. Burgueses, intelectuais, artesãos... tinham motivos de sobra para se sentirem oprimidos pelo absolutismo. As ideias políticas liberais conquistaram muitos adeptos entre esses grupos sociais. O liberalismo político tinha origem nas ideias dos iluministas. Os liberais defendiam em primeiro lugar as liberdades individuais: a liberdade de discordar do governo, de protestar, etc.
Mas nem todos os liberais eram democratas. Os liberais tradicionais queriam que o voto fosse censitário, ou seja, consideravam que só as pessoas com boa posição social deveriam ter o direito de voto. Já os liberais radicais (democratas) discordavam. Eles defendiam o sufrágio universal, ou seja, o direito de voto para todos.

O Nacionalismo

A Itália e a Alemanha eram compostas por dezenas de pequenos Estados. O que os alemães e os italianos queriam era a união desses pequenos Estados em um só.
O Liberalismo era o movimento político em favor da liberdade dos indivíduos, e o Nacionalismo era o movimento político em favor da liberdade e da autonomia dos povos, do direito de criarem seus próprios estados.

As revoluções na França

Nos anos de 1820, 1830 e 1848, estouraram diversas rebeliões populares. Logo após o Congresso de Viena (1815), a França foi governada pelo rei Luís XVII. Ele não foi um monarca absolutista. Perseguiu os que simpatizavam com a revolução de 1789 ou com Napoleão Bonaparte.
A partir de 1824, o rei Carlos X assumiu o trono. Ele censurou a imprensa e reprimiu os opositores ao regime. Em 1830, a população se rebelou em Paris e o rei Carlos X teve de renunciar. Assumiu então um novo rei, Luís Filipe de Orléans.
O rei Luís Filipe ficou conhecido como o “rei dos banqueiros” (indica que ele favoreceu os grandes capitalistas). Durante seu reinado, a França teve um período de grandes avanços econômicos e industriais. Mas cresceu a desigualdade social. Os burgueses iam ficando milionários, enquanto os operários permaneciam na penúria. Em 1848, houve uma grande crise econômica. Os salários baixaram e o desemprego cresceu, as colheitas foram ruins e a comida escasseou. A insatisfação popular explodiu numa grande revolução. Operários e artesãos juntaram-se a estudantes e pequenos burgueses, e tomaram as ruas da capital. O rei Luís Filipe foi derrubado. A França voltava a ser uma república.
Os principais partidos políticos de oposição organizaram um governo provisório. Esses “socialistas” defendiam reformas, como o sufrágio universal e a criação de oficinas de artesanato do Estado, que dariam trabalho aos desempregados.
Diante da grave situação econômica, os operários de Paris se rebelaram. Foram duramente reprimidos pela Guarda Nacional, e as ruas da capital ficaram tomadas por cadáveres e poças de sangue. A grande burguesia saiu vencedora.
Nessa época houve eleições para um novo presidente da República. As pessoas queriam a ordem e a tranqüilidade a qualquer preço. Então, Luís Bonaparte foi eleito presidente da França. Ele era sobrinho-neto de Napoleão Bonaparte, e usou o sobrenome ilustre para prometer dias fantásticos para a França. Apoiado pela burguesia e pelos militares, liderou em 1852 um golpe de Estado e tornou-se ditador.

A Primavera dos Povos

O ano de 1848 foi o mais revolucionário do século XIX, em muitas regiões. Por isso recebeu o apelido de o ano da Primavera dos Povos. Em vários outros países europeus eclodiram revoltas populares. Nas principais cidades homens e mulheres ocuparam as ruas, ergueram barricadas (usaram entulhos para bloquear as ruas) e enfrentaram as tropas dos governos autoritários.

A expansão do Nacionalismo

Este movimento se expandiu rapidamente pela Europa no início do século XX, alimentado pelas guerras perdidas, rivalidades econômicas, disputa territorial nas colônias da Ásia e da África e a mídia, contribuiu bastante para que acontecesse a Primeira Guerra. Os cidadãos da Sérvia e do Império Austro-Hungaro clamavam por uma guerra, para defender a sua honra. Entre os principais movimentos nacionalistas que se desenvolveram na Europa, podemos destacar:
O Pan-eslavismo: Foi liderado pela Rússia e assim foi chamado porque pregava a união de todos os povos eslavos da Europa Oriental, principalmente aqueles que se encontravam dentro do Império Austro- Húngaro. Na realidade havia interesses econômicos estratégicos, onde os governos dos czares pretendiam chegar às águas quentes(mar Mediterrâneo e oceano Atlântico) para comercializarem produtos.
O Pan-germanismo: Liderado pela Alemanha, pregava a completa anexação de todos os povos germânicos da Europa Central. Na realidade tinham interesse em anexar as regiões das Bálcãs por onde passaria a estrada de ferro Berlim-Bagdá e chegaria aos poços de petróleo do Iraque, que na época pertencia a Inglaterra.
Revanchismo francês: Com a derrota da França na guerra contra a Alemanha, em 1870, os franceses foram obrigados a ceder aos alemães os territórios da Alsácia-Lorena, cuja região era rica em minérios de ferro e em carvão. A partir dessa guerra, desenvolveu-se na França um movimento de cunho nacionalista-revanchista, que visava desforrar a derrota sofrida contra a Alemanha e recuperar os territórios perdidos.

A HEGEMONIA DA EUROPA

Apesar do desenvolvimento dos Estados Unidos e do Japão, a Europa exercia em 1914 a supremacia econômica e política sobre o resto do mundo. Econômica porque controlava a maior parcela da produção mundial, 62% das exportações de produtos fabris e mais de 80% dos investimentos de capitais no exterior, dominando e ditando os preços no mercado mundial. Era a maior importadora de produtos agrícolas e matérias-primas dos países que hoje compõem o Terceiro Mundo. Hegemonia política porque na sua, expansão o capitalismo europeu levou à necessidade de se controlar os países da Ásia, África e América Latina.
Á Europa era desigual quanto à estrutura econômica e política. Dos 23 Estados europeus, 20 eram Monarquias e só a França, Suíça e Portugal eram Repúblicas. Os regimes políticos eram constitucionais, mas o Parlamentarismo, forma típica do Liberalismo Político, só existia de fato na Grã-Bretanha, Bélgica e França, pois os demais países, apesar de constitucionais, possuíam formas autoritárias de governo, como a Áustria-Hungria e a Alemanha. Os problemas sociais refletiam a diversidade das estruturas sócio-econômicas. Nos países da Europa Centro-Oriental a nobreza predominava. Já nos países da Europa Ocidental, a industrialização colocara frente a frente a burguesia e a classe operária. Entretanto, a ameaça de uma revolução social era remota naquele momento, pois a maioria dos partidos socialistas tendia à moderação, aderindo ao jogo político do Liberalismo. As únicas exceções eram algumas facções de esquerda, como os Bolchevistas russos. Só os Estados Unidos e o Japão colocavam-se fora da influência europeia, disputando com o capitalismo europeu “áreas de influência”. Em 1914 os Estados Unidos já eram potência econômica mundial, controlando pequena parcela do mercado mundial e recebendo investimentos da Europa. O Japão, após sua “abertura ao Ocidente”, desenvolveu-se rapidamente via Revolução Meiji, passando a integrar-se ao círculo das nações imperialistas voltando suas vistas para a China e a Manchúria, na Ásia.

Independência da América Latina

Quase todos os países da América Latina têm duas características comuns: terem se emancipado politicamente nas primeiras décadas do século XIX, e terem se tornado dependentes da Inglaterra logo após a emancipação.

A crise do sistema colonial

Internamente, os principais fatores da crise do antigo sistema colonial foram o próprio crescimento das colônias e o consequente aproveitamento dos conflitos entre estas e os governos metropolitanos. Externamente, a crise se explica pela opressiva política mercantilista adotada em toda a América Latina. As metrópoles, como vimos, procuravam obter a maior renda possível por meio do monopólio do comércio colonial. Além disso, arrecadavam grandes somas por intermédio das cobranças abusivas de impostos nas colônias.
Contribuíram também para a crise do antigo sistema colonial, a Revolução Industrial e a independência dos Estados Unidos. Com a Revolução Industrial, os donos de indústria – necessitando de mercados consumidores cada vez mais amplos – passaram a se opor ao Pacto Colonial e a apoiar a emancipação política das colônias. Já a independência dos Estados Unidos serviu de exemplo para outras colônias americanas. As lutas pela independência na América Latina estão associadas, também, à enorme desigualdade social existente na região.

Desigualdades sociais

Nas sociedades hispano-americanas, era muito grande a desigualdade social entre brancos, índios, mestiços e negros, bem como entre os brancos nascidos na Europa e os nascidos na América.
Os indígenas constituíam a maioria da população; eram descriminados racialmente e duramente explorados nas fazendas e minas. Os mestiços eram vistos como “ilegítimos” e, por isso, proibidos de usar armas, jóias e tecidos de seda. Os negros escravos, numerosíssimos nas ilhas da América Central, viviam nas piores condições.
Os brancos compunham as camadas dominantes da sociedade. Entretanto, era enorme a desigualdade social, entre os chapetones (colonos nascidos na Espanha) e os criollos, mesmo sendo ricos fazendeiros, mineradores, comerciantes e possuindo muitas vezes formação universitária, eram marginalizados do poder político e da administração.
Inferiorizada social e politicamente, a elite criolla liderou a luta pela independência das colônias hispano-americanas.

O Haiti

Durante a conquista, os espanhóis dizimaram quase toda a população indígena da ilha Hispaniola, na América Central, encontrada por Colombo em 1492. Mais tarde, os franceses ocuparam a parte oeste desta ilha e a batizaram de Saint-Domingue. Ai, desenvolveram a agroindústria do açúcar, utilizando o trabalho de milhares de escravos africanos.
Em 1791, os negros, que constituíam cerca de 80% da população local, liderados pelo ex-escravo Vicent Ogé e influenciados pelos ideais da Revolução Francesa, promoveram um violento levante contra a elite branca que os explorava. Vicent Ogé foi morto em combate, mas a rebeldia negra continuou, sob o comando do líder popular Toussaint L’Ouverture. Para afugentar de vez o fantasma da escravidão e libertar sua terra da opressão colonialista, Toussaint organizou um exército popular e iniciou a luta pela independência.
Toussaint L’Ouverture
Durante a luta, esse líder negro foi preso e acabou morrendo numa prisão francesa. Mesmo assim, o movimento rebelde foi adiante e saiu vitorioso, tendo à frente Jean-Jacques Dessalines, outro líder popular negro. Assim, em 1804, nasceu a República do Haiti, primeiro país livre da América Latina.

Lutas pela independência na América espanhola

A partir do século XVIII, tornaram-se frequentes as manifestações contra o abuso e as violências praticadas pela metrópole a seus representantes. Uma delas foi a gigantesca rebelião indígena ocorrida no Peru, em 1780, sob a liderança de Tupac Amaru. Foram mais de 50 mil nativos armados, exigindo o fim da escravidão indígena e a independência do Peru.
Porém, essa revolta social não conseguiu o seu intento. Soldados espanhóis prenderam e executaram Tupac Amaru, sua família e os seus principais seguidores na cidade de Cuzco. Apesar da repressão, outros movimentos de libertação continuaram a explodir em diversos pontos do território hispano-americano.

Os efeitos do expansionismo napoleônico sobre a América

Em 1808, quando Napoleão tomou o trono espanhol à força e o entregou a seu irmão José Bonaparte, os espanhóis reagiram prontamente, pegando em armas para combater os franceses. Na América, de início, as elites criollas foram estimuladas, por agentes enviados pelo próprio Napoleão Bonaparte, a lutar pelo próprio Napoleão Bonaparte, a lutar pela emancipação política no continente americano.

México

Enquanto as elites criollas preocupavam-se exclusivamente em livrar seus países do domínio espanhol, os camponeses do México – índios e mestiços basicamente – desejavam algo mais que a independência: a divisão da terra entre os pobres. Foi com essa intenção que, em 1810, o padre Miguel Hidalgo, à frente de um exército de camponeses que carregavam estandartes da Nossa Senhora de Guadalupe, iniciou uma rebelião contra a metrópole.
Os rebeldes chegaram a conquistar algumas cidades, entre elas Guadalajara. Mas acabaram sendo derrotados por forças governamentais. Miguel Hidalgo foi fuzilado a mando dos próprios criollos mexicanos que, temerosos em perder seus privilégios, uniram-se aos chapetones para reprimir o movimento.
No ano seguinte, um outro religioso, José Maria Morelos, encabeçou um novo movimento de libertação, cujos objetivos eram:
- a independência do México;
- a divisão das grandes propriedades entre os camponeses;
- o fim dos privilégios e a busca da Igualdade social e racial.
Morelos e seus seguidores chegaram a tomar o poder e a romper oficialmente com a metrópole. No entanto, mais uma vez, a elite criolla juntou-se aos espanhóis e conseguiu massacrar os rebeldes. A rebeldia, porém, continuou crescendo. Para sufocar esses movimentos, o governo espanhol confiou o comando das forças repressoras ao coronel Augustin Itúrbide, que havia se destacado na luta contra o padre Morelos.
Entretanto, o oportunista coronel aproveitou-se da situação, fez um acordo com os rebeldes e proclamou a independência do México em 1821, sagrando-se imperador com o nome de Agustin I. Mas devido ao seu autoritarismo, manteve-se no poder por pouco tempo. Em 1823, um movimento liderado pela elite criolla forçou-o a abdicar. Depois de alguns meses, foi proclamada a República.

América Central

Animados pelo exemplo do México, os criollos centro-americanos proclamaram a independência da Capitania Geral da Guatemala em 1821. Mas, no ano seguinte, ela foi anexada ao México pelo imperador Agustin Itúrbide. Reagindo às pretensões expansionistas do imperador mexicano, os centro-americanos desligaram-se de México em 1823 e formaram a República das Províncias Unidas da América Central.
Entretanto, essa união são sobreviveu por muito tempo. Foi desfeita por causa das disputas políticas entre as elites criollas e, também, porque contrariava os interesses do capitalismo inglês, que preferia a América dividida para mais facilmente dominá-la. O esfacelamento das Províncias Unidas da América Central deu origem às republicas independentes da Guatemala, Honduras, Costa Rica, Nicarágua e El Salvador.

América do Sul

Desde o início do século XIX, os países de colonização espanhola da América do Sul organizaram exércitos patrióticos para lutar pela independência. Esses exércitos eram formados, em sua maior parte, por forças populares. Já a direção militar e política da luta esteve sempre nas mãos da elite criolla, que recebeu ajuda militar e financeira da Inglaterra, fato que muito contribuiu para o sucesso da luta. Os ingleses, como vimos, tinham interesses na abertura dos mercados americanos a fim de colocar os seus produtos.
O Paraguai foi o primeiro país sul-americano a conquistar sua independência, em 1811. Para isso, foi decisiva a união entre os criollos de Asución, liderados por Gaspar Rodrigues de Francia, e um exército de libertação enviado pelos argentinos.
O Uruguai continuou fiel à Espanha até 1821, ano em que foi conquistado e incorporado ao Brasil, com o nome de Província Cisplatina. Os uruguaios só conseguiram libertar-se do domínio brasileiro graças a mediação da Inglaterra, que desejava preservar seus interesses na região. Em 1828, depois de três anos de lutas, nasceu a República Oriental do Uruguai.

Na Argentina, a luta pela independência partiu de Buenos Aires e foi comandada por San Martin. O exército de libertação que se formou nessa cidade teve de lutar em duas frentes: contra os espanhóis e contra as províncias do interior que não aceitavam a liderança da capital. Isso contribuiu para atrasar a oficialização da independência, que só ocorreu em 1816, no Congresso de Tucumã. Depois de ter garantido a independência da Argentina, San Martin avançou através dos Andes, acompanhado de 4 mil soldados e auxiliado pelas forças chilenas lideradas por Bernardo O’Higgins. Em 1818, derrotaram os espanhóis e libertaram o Chile. Depois, o chamado “Exército dos Andes” desembarcou na costa peruana, protegido por navios ingleses, e libertou o Peru (1821).
Ao mesmo tempo, um outro exército de libertação, comandado por Simon Bolívar, venceu as forças espanholas sucessivas vezes, libertando a Colômbia (18190), a Venezuela (1821) e o Equador (1822). Finalmente, em 1825, atendendo ao pedido dos habitantes da região mineira de Potosi, o general José Sucre ocupou Lapaz e proclamou a independência da Bolívia.

Simón Bolívar e o pan-americanismo

Nascido em uma família aristocrática de Caracas, Simón Bolívar aparece em posição de destaque porque é considerado um dos principais responsáveis pela organização das lutas pela independência da América espanhola, tendo liderado o processo de independência de diferentes nações, como Bolívia, Equador, Colômbia, Panamá, Peru e Venezuela, de onde foi presidente por mais de dez anos.
Bolívar tinha um projeto político de unidade latino-americana, amparado nas raízes culturais e nos interesses em comum da população que vivia no continente. Para ele, depois das lutas emancipacionistas, os povos da América deveriam se unir como forma de se livrar dos resquícios do domínio colonial no continente e, juntos, terem força no jogo das relações internacionais da época.
Esse projeto ficou conhecido como pan-americanismo, um movimento que tinha como objetivo unificar os territórios da América espanhola sob uma única liderança. Porém, ele não se transformou em realidade. Os povos dominados pela Espanha se organizaram, de acordo com suas identidades políticas e culturais, em torno de diferentes países, cada qual com seu próprio governo e com sua própria organização de Estado.
Apesar disso, em 1826, Bolívar e seus aliados organizaram um congresso no Panamá para aproximar os países da América Latina. As elites criollas, temendo perder o controle de muitas regiões, opuseram-se e inviabilizaram o projeto.
Simon Bolívar

Reações externas à Independência

Nas lutas para impedir a libertação de suas colônias americanas, a Espanha contou com suas próprias armas e também com a ajuda dos exércitos da Santa Aliança. Apesar disso, foi derrotada graças à ação da Inglaterra e dos Estados Unidos, que apoiaram abertamente a emancipação política da América Latina.
A Inglaterra colocou-se ao lado dos países latino-americanos porque esperava transformá-los em mercados fornecedores de matérias-primas e consumidores de produtos industrializados. Os Estados Unidos, por sua vez, desejavam estender sua influência política e econômica sobre toda a América. Por isso, colocaram-se radicalmente contra a intervenção europeia em qualquer das nações latino-americanas. Prova dessa intenção é a Doutrina Monroe em 1823, cujo lema era a “América para os americanos”.

Negros, indígenas e mulheres

De fato, as guerras pela independência iniciadas nas regiões de Caracas (sob a liderança de Bolívar) e de Buenos Aires (lideradas por José de San Martín) foram movimentos protagonizados pelos criollos, ou seja, representantes das camadas altas da sociedade colonial, como donos de terras e comerciantes. Porém, esses movimentos se espalharam junto a outros grupos sociais, e, ao longo do continente, negros, indígenas, mestiços e camponeses tiveram grande participação nas batalhas travadas, o que foi deixado de lado na obra do artista.
Durante o período colonial, as populações negras e indígenas sofreram um processo de exclusão nos territórios coloniais. As práticas escravistas e a exploração compulsória do trabalho indígena resultaram em diversas formas de violência e limitaram a participação desses grupos em espaços de decisão política. Com o processo de independência, essa situação pouco mudou, e indígenas e negros tiveram seus direitos de cidadania negados na quase totalidade dos novos Estados.
Na região do México, o movimento emancipacionista começou justamente entre os representantes das camadas mais baixas da população. Ali, negros, camponeses, indígenas, mestiços e
mulheres, sob a liderança de religiosos como o padre Miguel Hidalgo e José Maria Morelos, protagonizaram as lutas contra a dominação espanhola. Apesar dessa grande participação popular, quando o México se tornou independente, em 1821, o país ficou sob o controle de um líder criollo.

Congresso de Viena

A derrota de Napoleão na famosa batalha de Waterloo, em junho de 1815, representou uma "pá de cal" nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade que desde a Revolução Francesa ecoavam por toda a Europa. De fato, desde a derrota francesa nos campos nevados da Rússia, em 1812, representantes do Antigo Regime vislumbravam condições para tocar adiante um movimento restaurador, consolidado com o chamado Congresso de Viena.

Com o propósito de restaurar o Antigo Regime e combater os ideais de liberalismo e nacionalismo que se instalaram nas nações europeias no rastro deixado por Napoleão, reuniram-se em Viena os principais representantes do conservadorismo político, dentre os quais o czar Alexandre I da Rússia, o príncipe Hardenberg da Prússia, o ministro Talleyrand da França, o príncipe Metternich da Áustria e o Lorde Castlereagh, representando os interesses ingleses sobre o continente.

Três princípios básicos guiaram as negociações travadas entre monarcas e diplomatas reunidos no Congresso: 1) a restauração do Antigo Regime e do absolutismo; 2) o reconhecimento da legitimidade das dinastias depostas pela política expansionista de Napoleão Bonaparte; e 3) o restabelecimento do equilíbrio político militar entre as nações europeias, promovendo a preservação da paz.

Os reis de volta ao trono

O princípio da legitimidade garantiu o retorno ao trono de algumas das antigas dinastias europeias, como os Bourbon em Nápoles, Espanha e França, a dinastia de Orange na Holanda, os Bragança em Portugal, os Saboia no Piemonte, além do restabelecimento do papa nos Estados Pontifícios. Além disso, uma vasta política de compensações territoriais buscou redesenhar o mapa da Europa, redefinindo as fronteiras estabelecidas pelas guerras napoleônicas.
Pelas intervenções de Talleyrand, a França - que saíra derrotada com a queda de Napoleão - garantiu sua integridade territorial, restaurando suas fronteiras de antes de 1792. A Inglaterra garantiu sua supremacia naval, com possessões no além-mar (como as ilhas de Malta e Ceilão), além de consolidar seus interesses econômicos, com o fim da política de Bloqueio Continental. A Prússia praticamente dobrou sua extensão territorial, incorporando partes da Saxônia, da Pomerânia e da Polônia, assim como a Rússia, que garantiu a anexação da Finlândia, da Bessarábia e de parte da Polônia.

A Santa Aliança

Além disso, no âmbito do Congresso de Viena gestou-se um pacto militar, batizado de Santa Aliança, pelo qual as nações envolvidas comprometiam-se a reprimir movimentos sediciosos que colocassem em xeque os propósitos da política restauradora. Graças a esse pacto, diversos movimentos liberais foram reprimidos, como em Nápoles e na Espanha em 1822, ou o movimento de cunho nacionalista, que buscava a unificação da Alemanha em 1821.
O pacto militar começou a ruir a partir da saída da Inglaterra, contrária aos propósitos de envio de tropas para a América Latina, com o propósito de reprimir os diversos levantes emancipacionistas que ameaçavam o colonialismo. Interessados na expansão comercial e em garantir novos mercados aos seus produtos industrializados, os ingleses desaprovavam a presença militar nas colônias americanas, postando-se contra a política intervencionista da Santa Aliança.

Doutrina Monroe: "A América para os americanos"

Além disso, em 1823 os Estados Unidos proclamaram a Doutrina Monroe, declarando que as conjunturas políticas relativas ao continente americano deveriam ser resolvidas internamente. Assim, sob o princípio da "América para os americanos", abriram franca oposição aos propósitos restauradores da Santa Aliança, iniciando uma relação de forte influência política sobre o continente.
Por fim, uma nova onda de revoluções liberais na Europa representou um duro golpe no pacto restaurador, uma vez que abriram as portas da independência política de países subjugados por outras potências (tal como ocorreu entre Grécia e Turquia em 1828), e substituíram o absolutismo por parlamentos constitucionais. Na França, por exemplo, a Revolução Liberal de 1830 marcou o fim da dinastia dos Bourbon, com a ascensão de Luís Felipe de Orleans, que ficaria conhecido como o "rei dos banqueiros", marcando o início de uma monarquia liberal e burguesa.

Capitalismo, Socialismo e Liberalismo

 CAPITALISMO

O CAPITALISMO tem seu início na Europa. Suas características aparecem desde a baixa idade média (do século XI ao XV) com a transferência do centro da vida econômica social e política dos feudos para a cidade. O feudalismo passava por uma grave crise decorrente da catástrofe demográfica causada pela Peste Negra que dizimou 40% da população europeia e pela fome que assolava o povo. Já com o comércio reativado pelas Cruzadas(do século XI ao XII), a Europa passou por um intenso desenvolvimento urbano e comercial e, consequentemente, as relações de produção capitalistas se multiplicaram, minando as bases do feudalismo. Na Idade Moderna, os reis expandem seu poderio econômico e político através do mercantilismo e do absolutismo. Dentre os defensores deste temos os filósofos Jean Bodin ("os reis tinham o direito de impor leis aos súditos sem o consentimento deles"), Jacques Bossuet ("o rei está no trono por vontade de Deus") e Niccòlo Machiavelli("a unidade política é fundamental para a grandeza de uma nação").
Com o absolutismo e com o mercantilismo o Estado passava a controlar a economia e a buscar colônias para adquirir metais(metalismo) através da exploração. Isso para garantir o enriquecimento da metrópole. Esse enriquecimento favorece a burguesia - classe que detém os meios de produção - que passa a contestar o poder do rei, resultando na crise do sistema absolutista. E com as revoluções burguesas, como a Revolução Francesa e a Revolução Inglesa, estava garantido o triunfo do capitalismo.
A partir da segunda metade do século XVIII, com a Revolução Industrial, inicia-se um processo ininterrupto de produção coletiva em massa, geração de lucro e acúmulo de capital. Na Europa Ocidental, a burguesia assume o controle econômico e político. As sociedades vão superando os tradicionais critérios da aristocracia (principalmente a do privilégio de nascimento) e a força do capital se impõe. Surgem as primeiras teorias econômicas: a fisiocracia e o liberalismo. Na Inglaterra, o escocês Adam Smith (1723-1790), percursor do liberalismo econômico, publica Uma Investigação sobre Naturezas e Causas da Riqueza das Nações, em que defende a livre iniciativa e a não interferência do Estado na economia.
Deste ponto, para a atual realidade econômica, pequenas mudanças estruturais ocorreram em nosso fúnebre sistema capitalista.

SOCIALISMO UTÓPICO

Já no início do século XIX o avanço do ideário liberal produzia crises e lançava os trabalhadores à miséria com a exploração de seu trabalho e precárias condições de vida. Descorrer sobre a excessiva carga horária de trabalho, uso de mão de obra infantil e condições de vida insalubres seria cair em lugar comum. Parto do pressuposto que isso já é claro.
Apesar de a Revolução Francesa ter consagrado o lema liberdade, igualdade e fraternidade, tinha-se claro que igualdade não existia numa sociedade tão dividida entre ricos e pobres. A liberdade que existia era a de mercado, com o burguês livre para explorar o trabalhador. Depois disso fraternidade entre as classes sociais seria piada. Movidas por essa decepção frente à Revolução Francesa e opondo-se à essa realidade, ao pensamento dominante e à estrutura da sociedade surgem questionamentos e questionadores. Uma corrente questionadora é a do socialismo utópico.
Utopia é o título de um livro do inglês Thomas Morus. Escrito em 1516 descreve uma sociedade ideal que possibilita igualdade e justiça para todos. Esse título passou a designar todo pensamento que defendesse a igualdade social, mas sem apontarclaramente o caminho para se chegar à ela. Assim, não chegou a constituir uma doutrina, pois o que os utópico pregavam eram modelos idealizados.
Apesar da inovação de pensamento e da percepção crítica dos socialistas utópicos, eles pecaram ao não aterem-se objetivamente ao modo de transformar a sociedade. Bolaram modelos sociais prontos espetaculares, porém como chegaríamos à eles? Acreditar que através da bondade do Estado ou das elites dominantes ou ainda por ações sem organização com atentados, como alguns propuseram, desconsiderando-se a participação efetiva da classe trabalhadora, é ingenuidade.
Assim, há o enorme valor dos socialistas utópicos, porém deixaram lacunas que o socialismo científico sobrepondo-se ao utópico viria a suprir.

Abaixo as ideias de alguns pensadores do socialismo utópico.

Claude Saint-Simon (1760 - 1825) Socialista utópico francês, era um liberal avançado e revolucionário educado por D'Alembert com uma formação racionalista. Lançou uma idéia muito interessante: suponha que um dia o ferreiro, o pedreiro, o operário, o agricultor, enfim, todos os trabalhadores, parassem de trabalhar de repente. Pense no que aconteceria. O caos. Os ricos não teriam o que vestir, comer, beber. Estaria provada a importância dos operários. Agora imagine se todos os patrões, os donos dos bancos, das fábricas deixassem de existir. O que aconteceria? Os operários continuariam trabalhando normalmente. Porém não haveria mais ninguém para sugar e explorar seu árduo trabalho. Que maravilha, hein? A sociedade idealizada por Saint-Simon era a seguinte: não haveria mais os ociosos (militares, clero, nobreza, ...) nem a exploração do homem pelo próprio homem. Essa sociedade seria dividida em três classes - os sábios, os proprietários e os que não tinham posses - e seria governada por um conselho de sábios e artistas. Essas ideias estão em seu livro Cartas de um Habitante de Genebra. Em outro livro, O Novo Cristianismo, defendia uma religiosidade diferente do protestantismo e do cristianismo. Ela, somada à racionalidade humana, poderia resultar num mundo industrialista e justo.

Charles Fourier (1772 - 1837) 

Socialista utópico francês, filho de comerciantes, absorveu algumas ideias de Rousseau: o homem nasce puro e bom, a sociedade e as instituições o corrompem. Fourier propôs uma sociedade baseada nas falanges e falanstérios, fazendas coletivas agroindustriais, onde todos desempenhariam suas tarefas em proveito da comunidade. Nessa sociedade criar-se-ia a falange, com até dois mil homens que trabalhariam para um fundo comum. A divisão das riquezas produzidas seria feita considerando-se a quantidade e qualidade do trabalho de cada indivíduo. Cada falange possuiria seu edifício comum, o falanstério, que abrigaria todos os membros e onde seriam instalados os bens coletivos da comunidade (cozinha, biblioteca, ...). Fourier alegava que os falanstérios superariam as desarmonias capitalistas, mas nunca conseguiu financiar seu projeto.

Louis Blanc (1811 - 1882) 

Outro socialista utópico francês. Teve importante participação na Revolução de 1848, quando suas ideias foram colocadas em prática devido a associação entre liberais e socialistas, na tentativa de derrubar a monarquia. Eis elas: seriam criadas associações profissionais de trabalhadores de um mesmo ramo de produção, as Oficinas Nacionais, financiadas pelo Estado. O lucro seria dividido entre o Estado, os associados e para fins assistenciais. Enfim, como líder do proletariado, exigia que o Estado se apoderasse do sistema econômico para garantir trabalho e justiça para todos. Porém, os liberais e os socialistas romperam e o Estado fechou as Oficinas Nacionais, começou a perseguir os socialistas (também onde já se viu proteger o proletariado) e anulou todas as reformas feitas em benefício da classe operária.

Pierre-Joseph Proudhon (1809 - 1865) 

Precursor do anarquismo. Defendia a diminuição da ação governamental capitalista e religiosa e a liquidação do Estado. Queria uma sociedade de pequenos produtores livres e iguais, onde os trabalhadores fariam uso do financiamento dos bancos de trocas, sem juros, para comprar os meios de produção. Em seu livro O que é a Propriedade, afirmava que a propriedade privada era um roubo. Com certeza. Divergia em alguns pontos políticos e econômicos com Karl Marx, alimentando várias discussões entre eles.

Robert Owen (1773 - 1858) 

Socialista utópico inglês, casou-se com uma mulher muito rica e se tornou dono de várias indústrias, e nelas aplicou suas ideias. Diminuiu a jornada diária de trabalho para dez horas, salários aumentados, seus funcionários tinham creches e escolas para seus filhos, além de hospitais. Suas indústrias tornaram-se um modelo de legislação social e seus lucros não pararam de crescer. Feliz e satisfeito com esse resultados começou a defender a criação de uma sociedade comunista com o fim da propriedade privada. Mas essas ideias e atitudes de Owen não estavam agradando a aristocracia inglesa, que o baniu da Grã-Bretanha. Foi para os Estados Unidos e fundou a cidade de New Harmony. Porém quando regressou à Inglaterra suas cooperativas estavam falidas. Owen observou de perto as condições desumanas dos trabalhadores e revoltou-se contra as perspectivas vindas com o progresso. Acreditava ser impossível formar-se um ser humano superior num sistema egoísta e explorador.

SOCIALISMO CIENTIFICO

A Origem

O Socialismo Científico foi desenvolvido no século XIX por Karl Marx e Friedrich Engels. Recebe também, por motivos óbvios, a denominação de Socialismo Marxista. Ele rompe com o Socialismo Utópico por apresentar uma análise crítica da realidade política e econômica, da evolução da história, das sociedades e do capitalismo. Marx e Engels enaltecem os utópico pelo seu pioneirismo, porém defendem uma ação mais prática e direta contra o capitalismo através da organização da revolucionária classe proletária. Para a formulação de suas teorias Marx sofreu influência de Hegel e dos socialista utópicos.

Infraestrutura e superestrutura

Segundo Marx a infraestrutura, modo como tratava a base econômica da sociedade, determina a superestrutura que é dividida em ideológica (ideias políticas, religiosas, morais, filosóficas) e política (Estado, polícia, exército, leis, tribunais). Portanto a visão que temos do mundo e a nossa psicologia são reflexo da base econômica de nossa sociedade. As idéias que surgiram ao longo da história se explicam pelas sociedades nas quais seus mentores estava inseridos. Elas são oriundas das necessidades das classes sociais daquele tempo.

Dialética

A dialética se opõe à metafísica e ao idealismo por completo. Engels e Marx "pegam o 'núcleo racional' de Hegel, mas rejeitam a sua parte idealista imprimindo-lhe um caráter científico moderno".
O modo dialético de pensamento pondera que nenhum fenômeno será compreendido se analisado isoladamente e independente dos outros. Eles são processos e não coisas perfeitas e acabadas; estão em constante movimento, transformação, desenvolvimento e renovação e não em estagnação e imutabilidade. O mundo não pode ser entendido como um conjunto de coisas pré-fabricadas, mas sim como um complexo de processos. Estes estão em três fases: tese, antítese e síntese. Pela contradição da duas primeira (tese e antítese) surge a terceira (negação da negação) que representa um estágio superior. Esta, por sua vez, tornar-se-á uma nova tese e será negada, surgindo um nova síntese e assim por diante. É importante lembrar que a antítese não é a destruição da tese, pois se assim fosse não haveria progresso.
O processo de desenvolvimento resultante com a anterior acumulação de mudanças quantitativas, apresenta evidentes mudanças qualitativas. Assim, vemos que o desenvolvimento não segue um movimento circular, mas sim progressivo e ascendente, indo do inferior ao superior.

Luta de classes

A história do homem é a história da luta de classes. Para Marx a evolução histórica se dá pelo antagonismo irreconciliável entre as classes sociais de cada sociedade. Foi assim na escravista (senhores de escravos - escravos), na feudalista (senhores feudais - servos) e assim é na capitalista (burguesia - proletariado). Entre as classes de cada sociedade há uma luta constante por interesses opostos, eclodindo em guerras civis declaradas ou não. Na sociedade capitalista, a qual Marx e Engels analisaram mais intrinsecamente, a divisão social decorreu da apropriação dos meios de produção por um grupo de pessoas (burgueses) e outro grupo expropriado possuindo apenas seu corpo e capacidade de trabalho (proletários). Estes são, portanto, obrigados a trabalhar para o burguês. Os trabalhadores são economicamente explorados e os patrões obtém o lucro através da mais-valia.

Alienação

O capitalismo tornou o trabalhador alienado, isto é, separou-o de seus meios de produção (suas terras, ferramentas, máquinas, etc). Estes passaram a pertencer à classe dominante, a burguesia. Desse modo, para poder sobreviver, o trabalhador é obrigado a alugar sua força de trabalho à classe burguesa, recebendo um salário por esse aluguel. Como há mais pessoas que empregos, ocasionando excesso de procura, o proletário tem de aceitar, pela sua força de trabalho, um valor estabelecido pelo seu patrão. Caso negue, achando que é pouco, uma exploração, o patrão estala os dedos e milhares de outros aparecem em busca do emprego. Portanto é aceitar ou morrer de fome. Com a alienação nega-se ao trabalhador o poder de discutir as políticas trabalhistas, além de serem excluídos das decisões gerenciais.

Mais-Valia

Suponha que o operário leve 2h para fabricar um par de sapatos. Nesse período produz o suficiente para pagar o seu trabalho. Porém, ele permanece mais tempo na fábrica, produzindo mais de um par de sapatos e recebendo o equivalente à confecção de apenas um. Numa jornada de 8 horas, por exemplo, são produzidos 4 pares. O custo de cada par continua o mesmo, assim como o salário do proletário. Com isso ele trabalha 6h de graça, reduzindo o custo e aumentando o lucro do patrão. Esse valor a mais é apropriado pelo capitalista e constitui o que Marx chama de Mais-Valia Absoluta. Além de o operário permanecer mais tempo na fábrica o patrão pode aumentar a produtividade com a aplicação de tecnologia. Com isso o operário produz mais, porém seu salário não aumenta. Surge a Mais-Valia Relativa.

Materialismo histórico

Para Marx a raiz de uma sociedade é a forma como a produção social de bens está organizada. Esta engloba as forças produtivas e as relações de produção.
As forças produtivas são a terra, as técnicas de produção, os instrumentos de trabalho, as matérias-primas e o maquinário. Enfim, as forças que contribuem para o desenvolvimento da produção.
As relações de produção são os modos de organização entre os homens para a realização da produção. As atuais são capitalistas, mas como exemplo podemos citar também as escravistas e as cooperativas.
No processo de criação de bens estabelece-se uma relação entre as pessoas. Os capitalistas, donos dos meios de produção (máquinas, ferramentas, etc.), e o proletariado, que possui apenas sua força de trabalho, estabelecem entre si a relação social de trabalho. A maneira como as forças produtivas se organizam e se desenvolvem dentro dessa relação de trabalho Marx chama de modo de produção. O estudo deste é fundamental para a compreensão do funcionamento de uma sociedade. A partir do momento que as relações de produção começam a obstaculizar o desenvolvimento das forças produtivas cria-se condições para uma revolução social que geraria novas relações sociais de produção liberando as forças produtivas para o desenvolvimento da produção.

O último estágio

Marx afirma que a história segue certas leis imutáveis à medida que avança de um estágio a outro. Cada estágio caracteriza-se por lutas que conduzem a um estágio superior de desenvolvimento, sendo o comunismo o último e mais alto. A chave para a compreensão dos estágios do desenvolvimento é a relação entre as diferentes classes de indivíduos na produção de bens. Afirmava que o dono da riqueza é a classe dirigente porque usa o poder econômico e político para impor sua vontade ao povo jamais abrindo mão do poder por livre e espontânea vontade e que, assim, a luta e a revolução são inevitáveis.
Para Marx, com o desenvolvimento do capitalismo, as classes intermediárias da sociedade vão desaparecendo e a estrutura de classes vai polarizando-se cada vez mais. A alienação e a miséria aumentam progressivamente. Com o auxílio dos partidos dos trabalhadores o proletariado vai tornando-se cada vez mais consciente de sua luta e de sua existência como classe revolucionária. Portanto esses partidos não teriam o papel de apenas ganhar votos e satisfazer interesses pessoais, mas sim de educar e alertar os trabalhadores.
A perspectiva internacional tomará maior importância, em detrimento do nacionalismo exacerbado. Mais cedo ou mais tarde a revolução proletária terá êxito, com as condições objetivas e a disposição subjetiva coincidindo. Com as sucessivas crises econômicas do capitalismo suas crises vão se agravando e aproximando-o da crise final.
A sociedade pós-capitalista não foi inteiramente definida por Marx. Dizia ele que tal discussão seria idealista e irrealista. Ponderou apenas que após a revolução instalar-se-ia uma ditadura do proletariado. As empresas, fábricas, minas, terras passariam para o controle do povo trabalhador, e não para o Estado, como muitos pensam e como líderes pseudocomunistas fizeram. A propriedade capitalista extinguir-se-ia. A produção não seria destinado ao mercado, mas sim voltada para atender às necessidades da população. O socialismo, como essa fase é denominada, deve ser profundamente democrático. O Estado iria naturalmente dissolvendo-se. Porém Marx ressalta: "trazendo as marcas de nascimento da velha sociedade, a sociedade recém-nascida será limitada, sob muitos aspectos, pelos legados da velha sociedade capitalista."
Após o socialismo uma fase superior se desenvolveria: o comunismo. O Estado desapareceria definitivamente, pois seu único papel é manter o proletariado passivo e perpetuar sua exploração. A distinção de classes também deixaria de existir, todos seriam socialmente iguais e homens não mais subordinar-se-iam a homens. A sociedade seria baseada no bem coletivo dos meios de produção, com todas as pessoas sendo absolutamente livres e finalmente podendo viver pacificamente e com prosperidade

Liberalismo

Doutrina política e econômica surgida na Europa, na Idade Moderna. Na política coloca o direito do indivíduo de seguir a própria determinação, dentro dos limites impostos pelas normas definidas, como fundamento das relações sociais. Por conseguinte, defende as liberdades individuais frente ao poder do Estado e prevê oportunidades iguais para todos.
Na economia defende a não intervenção do Estado por acreditar que a dinâmica de produção, distribuição e consumo de bens é regida por leis que já fazem parte do processo – como a lei da oferta e da procura – que estabelecem o equilíbrio.
O liberalismo econômico nem sempre se identifica com o liberalismo político. Na política, ganha diferentes conotações em cada país, sendo identificado como de esquerda, de centro ou de direita, conforme as combinações de ideologias locais.
Seu desenvolvimento nos séculos XVIII e XIX está associado ao crescimento da classe média. Desafiando o Estado monarquista, aristocrático e religioso, os liberais lutam para implantar governos separado do clero e da monarquia, parlamentares e constitucionais. Mais tarde, liberais de alguns países, como do Reino Unido, aceitaram a intervenção estatal para superar injustiças sociais ou mesmo formas de protecionismo econômico, enfrentando a oposição de não-liberais.
A combinação de liberalismo e dirigismo estatal na economia torna-se responsável, entre 1950 e 1980, pelo surgimento das sociedades de consumo e bem-estar social (Welfare States). Nos anos 80, a crise econômica e os novos parâmetros estabelecidos pela revolução tecnológica colocam em jogo as políticas de benefício social dos países desenvolvidos. A resposta a essa nova realidade surgiu nos Estados Unidos e na Inglaterra na forma de neoliberalismo.
Liberalismo econômico – Seu principal teórico é o economista escocês Adam Smith, autor de O Ensaio Sobre a Riqueza das Nações, obra básica da economia. Ataca a intervenção estatal e propõe uma economia dirigida pelo jogo livre da oferta e da procura, o laissez-faire (deixai fazer, em francês). Para Adam Smith a verdadeira riqueza das nações está no trabalho, que deve ser dirigido pela livre iniciativa dos empreendedores. O liberalismo econômico recebe, posteriormente, a colaboração do sociólogo e economista inglês Thomas Robert Malthus (1766-1834) e do economista inglês David Ricardo (1772-1823)

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...