Setembro de 1945: a Segunda Guerra chegara ao fim. Durante o confronto milhões de pessoas atiraram-se à luta com a esperança de que seria uma “guerra para acabar com as guerras”, como dissera Churchill num de seus discursos. Mas infelizmente não foi essa a ideia que orientou os encontros internacionais para estabelecer as condições de paz.
Nesses encontros, uma vez mais, os vencedores decidiram segundo seus próprios interesses os rumos que o mundo deveria tomar. O término do conflito muda o panorama político e econômico internacional. As perdas materiais e humanas da Europa e do Japão rebaixam a posição das antigas potências. Os Estados Unidos surgem como superpotência, o mesmo acontecendo com a União Soviética, apesar das perdas. Surgem novas nações e novas organizações internacionais, como a ONU, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, criados em 1945. O mundo entra na era nuclear dividido em dois campos: o capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o comunista, sob hegemonia da União Soviética.
1. O estabelecimento da paz
Em fevereiro de 1945, sete meses antes do final do conflito, Roosevelt (Estados Unidos), Churchill (Inglaterra) e Stálin (União Soviética) reuniram-se na Conferência de Ialta com o objetivo de definir estratégias da luta final e os meios para controlar os seus adversários depois da guerra.
Uma das decisões mais importantes dessa conferência foi que a União Soviética combateria também o Japão, adquirindo o direito de controlar alguns territórios dominados pelos japoneses (norte da Coréia e Manchúria). Receberia também uma boa parte das indenizações a serem pagas pela Alemanha e estenderia sua influência à Europa Oriental. Em contrapartida, Estados Unidos, Inglaterra e, mais tarde, França acertaram que as áreas restantes ficariam sob seu controle.
Após a rendição dos alemães, os vencedores reuniram-se novamente, em julho de 1945, na Conferência de Potsdam, onde decidiram dividir a Alemanha em quatro áreas de ocupação: soviética, norte-americana, inglesa e francesa. Além disso, Berlim – a capital da Alemanha – foi dividida em duas partes, uma socialista e outra capitalista.
Em 1949, os Estados Unidos e a União Soviética, as superpotências da época, repartiram a Alemanha entre si: a Alemanha Ocidental, com capital em Bonn, ficou sob o controle americano, enquanto a Alemanha Oriental, com capital em Berlim Oriental, ficou sob o domínio soviético.
A divisão da Alemanha e de sua capital era apenas um exemplo do que estava acontecendo no plano internacional, pois o mundo estava sendo dividido entre socialistas e capitalistas. O bloco socialista era liderado pela União Soviética e agrupava sob sua liderança países que adotaram o regime socialista ou de economia planificada. Exemplo: Polônia, Tchecoslováquia, Hungria e Coréia do Norte, Cuba (a partir de 1961).
O bloco capitalista era liderado pelos Estados Unidos e agrupava nações que adotavam o regime capitalista ou de economia de mercado. Exemplo: Bélgica, Holanda, França e Brasil.
Essa disputa permanente pela hegemonia mundial entre os Estados Unidos e a União Soviética após a Segunda Guerra deu origem a Guerra Fria. 2. A Guerra Fria
A Guerra Fria consistiu numa guerra não-declarada entre Estados Unidos e União Soviética, na qual ambos empenharam-se em manter ou expandir suas respectivas áreas de influência. Para isso, tanto os norte-americanos quanto os soviéticos recorreram à propaganda maciça, a pressão diplomática e a intervenção militar. Tem como eixo a disputa pela hegemonia mundial entre as duas superpotências, que se estenderá por mais de 40 anos. Com sistemas sociais e políticos opostos, armas nucleares e políticas de conquista da hegemonia mundial, Estados Unidos e União Soviética mantêm o mundo sob a ameaça de uma guerra nuclear.
São chamadas de superpotências porque cada uma delas tem armamentos suficientes para destruir o planeta.
O marco inicial da Guerra Fria foi a Doutrina Truman, exposta pelo então presidente dos Estados Unidos Harry Truman, em março de 1947. Alarmado com a penetração do socialismo soviético na Europa, Truman declarou: “Deve ser a política dos Estados Unidos a dar apoio aos povos livres que estão resistindo às tentativas de subjugação pelas minorias armadas ou pelas pressões externas”.
A partir de então, os Estados Unidos passaram a dar apoio militar e econômico aos países cujos governos se dispunham a combater o socialismo.
Macarthismo
O Movimento iniciado pelo senador Joseph McCarthy, em 1951, com a organização de comissões de investigação que acusam de atividades antiamericanas qualquer pessoa suspeita de ligação com movimentos ou organizações consideradas comunistas. Realiza uma caça às bruxas na área cultural, atingindo artistas, diretores e roteiristas que durante a guerra manifestam-se a favor da aliança com a União Soviética e, depois, a favor de medidas para garantir a paz e evitar nova guerra. Charlie Chaplin é o mais famoso entre os artistas perseguidos pelo macarthismo. Sindicalistas, cientistas, diplomatas, políticos e jornalistas também são alvo de perseguições. Em 1960 o Senado reconhece que as atividades das comissões dirigidas por McCarthy colocam em risco a ação do governo.
3. Planos, Conselhos e alianças militares.
No plano econômico, a principal medida colocada em prática foi a implantação do Plano Marshall, formulado pelo general George Marshall, então secretário de Estado dos Estados Unidos, com base na Doutrina Truman. Iniciado em 1947, o plano consistiu em um programa de ajuda econômica aos países capitalistas que mais sofreram os efeitos da Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos decidem abandonar a colaboração com a URSS e investir maciçamente na Europa ocidental para barrar a expansão comunista e assegurar sua própria hegemonia política na região. Washington fornece matérias-primas, produtos e capital, na forma de créditos e doações. Em contrapartida, o mercado europeu evita impor qualquer restrição à atividade das empresas norte-americanas. A distribuição dos fundos é realizada por meio da Organização Européia de Cooperação Econômica (OECE), fundada em Paris, em 1948. Entre 1948 e 1952, o Plano Marshall fornece US$ 14 bilhões para a reconstrução européia. O plano teve êxito, permitindo em poucos anos a recuperação econômica da Inglaterra, França, Itália, Alemanha e outros países. Garantiu sobretudo o aumento das exportações norte-americanas, fortalecendo os Estados Unidos na posição de nação mais poderosa do mundo.
4. OTAN e Pacto de Varsóvia
Ainda sob inspiração dos Estados Unidos, em 1949 os países ocidentais firmaram uma aliança político militar, a Otan (Organização do Tratado Atlântico Norte), objetivando combater a influência soviética e assegurar a defesa coletiva dos regimes democráticos, por meio de uma estreita colaboração política, econômica e militar entre os países anticomunistas.
Pacto de Varsóvia, firmado na capital polonesa, em 1955
Do lado do bloco socialista foram criados o Comecom (Conselho de Assistência Econômica Mútua), em 1949, para fortalecer os laços econômicos entre os países socialistas; e o Pacto de Varsóvia, firmado na capital polonesa, em 1955, para ajuda mútua em caso de agressões armadas aos países do bloco soviético na Europa, constituindo o principal instrumento da hegemonia militar da União Soviética.
5. A Organização das Nações Unidas
Ao final da Segunda Guerra, acentuou-se a preocupação com a paz mundial. Em 24 de outubro de 1945, representantes de cinquenta países reunidos na Conferência de São Francisco criaram a Organização das Nações Unidas (ONU).
A ONU, cuja sede fica em Nova Iorque, é ainda hoje o principal organismo internacional e visa essencialmente:
• Preservar a paz e a segurança mundial;
• Estimular a cooperação internacional na área econômica, social, cultural e humanitária;
• Promover o respeito às liberdades individuais e aos diretos humanos.
Os seis principais órgãos da ONU são:
• Conselho de Segurança – é o responsável direto pela paz mundial e tem o direito de intervir em qualquer disputa ou confronto entre dois ou mais países. É formado por dez membros eleitos para um mandato de dois anos e cinco membros permanentes (Estados Unidos, Rússia, China, Inglaterra e França). Os membros permanentes têm direito de veto sobre as resoluções do Conselho;
• Assembleia Geral – é integrada por todos os representantes dos países membros, cada um com direito a um voto. Debate os principais problemas mundiais e sugere soluções.
• Conselho de Tutela – é encarregado de orientar e proteger povos que não possuem governo independente;
• Secretariado – possui função administrativa e é dirigido por um secretário geral por um prazo de cinco anos;
• Corte Internacional de Justiça – julga questões jurídicas entres países membros;
• Conselho Econômico e Social – tem vários departamentos (Direitos Humanos, Assistência à Infância, Direitos da Mulher e outros) e seu propósito é estimular a ajuda internacional nos casos de calamidade ou violação de direitos.
Da ONU também fazem parte importantes órgãos especializados como a UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), a FAO ( Organização para Agricultura e Alimentação), o UNICEF ( Fundo das Nações Unidas para a Infância), a OMS ( Organização Mundial de Saúde), entre outros.
É importante notar que o Conselho de Segurança da ONU nem sempre cumpriu seu objetivo. Em 1963, por exemplo, não conseguiu evitar que os Estados Unidos interviesse na Guerra do Vietnã.
E isso se explica pelo direito de veto que os membros permanentes possuem. Fazendo uso desse direito, os norte-americanos simplesmente vetaram as propostas contrárias à sua participação na guerra.
O respeito aos direitos humanos e liberdades individuais são dois dos principais objetivos na Carta da Organização das Nações Unidas. Em 10 de dezembro de 1948 são reafirmados com a assinatura da Declaração Universal dos Direitos do Homem. O primeiro artigo diz que "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir uns em relação aos outros com espírito de fraternidade".
6. A corrida armamentista
O clima de rivalidade gerado pela Guerra fria, somado as indústrias de armamento, levaram as grandes potencias à chamada corrida armamentista, responsável pelo assombroso desenvolvimento das armas nucleares, que se fossem acionadas provocariam a completa destruição do planeta.
Tanques, aviões, submarinos, navios de guerra constituíam as chamadas armas convencionais. Mais o grande destaque eram as chamadas armas não-convencionais, mais poderosas, eficientes, difíceis de serem fabricadas e extremamente caras. A principal dessas armas era a bomba atômica.
Após a explosão da primeira bomba atômica em 1945, os Estados Unidos fazem testes de novas armas nucleares no atol de Bikini, no Pacífico, e criam a Comissão de Energia Atômica para a expansão de seu poderio nuclear.
Em 1949 a União Soviética explode seu primeiro artefato atômico no deserto do Cazaquistão, entrando na corrida nuclear. O mundo ingressa assim na era do terror atômico, na qual cada uma das superpotências se esforça por conseguir uma bomba mais potente que a experimentada pela outra.
Em 1952 os Estados Unidos explodem a primeira bomba de hidrogênio, com potência de 15 milhões de TNT (750 vezes mais potente que a primeira bomba atômica). Em 1955 a União Soviética lança sua bomba de hidrogênio de um avião, considerado um importante avanço técnico sobre os norte-americanos. Essa corrida coloca o mundo diante do perigo da destruição. Mas outros países, como Reino Unido, França, China e Índia, entram no rol de países que têm armas nucleares. Países suspeitos de terem a bomba incluem Paquistão e Israel.
O mundo inteiro vivia, então, sob a ameaça de uma nova guerra. Por isso, nas décadas de 1960 e 1970 ocorreram movimentos em diversos países, principalmente na Europa, que reivindicam o desarmamento mundial. Eram chamados de movimentos pacifistas.
Entretanto, foi somente no final da década de 1970 que se firmaram os primeiros acordos limitadores da fabricação de armas nucleares. Na década seguinte, outros acordos avançaram um pouco mais: definiram a desativação dos artefatos nucleares e dos mísseis de longo alcance.
7. A coexistência pacífica
No final dos anos 1950, a economia soviética estava sufocada pelos investimentos dispendiosos na corrida armamentista. Os enormes sacrifícios exigidos da economia soviética foram o principal motivo que levou Nikita Kruschev líder do governo soviético, a apresentar um plano de desarmamento dos dois países. A proposta de Kruschev ficou conhecida como coexistência pacífica.
Nos Estados Unidos, a iniciativa soviética foi vista com desconfiança. No Ministério da Defesa, na imprensa e no Parlamento, os grupos conservadores acusavam Kruschev de preparar uma armadilha para os norte-americanos. O objetivo soviético, segundo eles, era desarmar os Estados Unidos e deixar o país indefeso diante do poderio do inimigo.
Os esforços concretos do governo soviético pelo desarmamento, com a desocupação da Áustria e a redução dos efetivos militares, não alteraram a política armamentista norte-americana. A tensão entre os países continuou.
8. A corrida pela conquista do espaço
Além das poderosas bombas nucleares, Estados Unidos e União Soviética produziram foguetes e lançaram satélites espaciais. Essa disputa científica e tecnológica ficou conhecida como “corrida espacial”. Colocar satélites em órbita servia para mostrar ao lado inimigo que mísseis de longo alcance poderiam atingir qualquer parte do planeta.
Acompanhe três momentos dessa disputa:
• Em 1957, o satélite soviético Sputnik 2 levou ao espaço o primeiro ser vivo, a cadela Laika.
• Em abril de 1961, o major da Força Aérea Soviética, Yuri Gagárin, tornou-se o primeiro ser humano a viajar no espaço.
• Com mais de 1 bilhão de pessoas no mundo assistindo ao vivo pela TV, o astronauta norte-americano Neil Armstrong, comandante da missão Apollo, pisou no solo lunar em 1969.
A chegada dos norte-americanos à lua pôs fim a uma década de hegemonia soviética nos programas de exploração espacial, que se iniciou com o lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputnik, em outubro de 1957.
9. O fim da Guerra Fria
A guerra fria e todas as suas implicações – espionagem, golpes de Estado, sabotagens, corrida armamentista – duraram até o início da década de 1980. Nesse momento, a situação econômica da União Soviética e da maioria dos outros países comunistas começou a se agravar. Tiveram início então profundas mudanças políticas, com a queda do regime socialista tanto na União Soviética quanto em outros países socialistas.
A guerra fria, ou seja, o clima de hostilidade e de ameaça entre os Estados Unidos e a União Soviética se arrefeceu.
O símbolo do final da guerra fria foi a queda do Muro de Berlim, em 1989, que havia sido construído em 1961 por decisão do governo da União Soviética e da Alemanha Oriental.
A partir de 1992, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas fragmentou-se. A economia das repúblicas que a compunham e dos demais países socialistas começou a ser mudada para uma economia capitalista ou de mercado.