domingo, 24 de setembro de 2023

Renascimento Comercial na Europa Medieval

Durante a Idade Média, a maior parte da população da Europa ocidental vivia no campo. Isso acabou gerando a redução da vida urbana e a diminuição da atividade comercial. Apenas com as Cruzadas, a partir do século XI, é que essa realidade começou a se transformar.

O movimento provocado pelas Cruzadas, trouxe o crescimento das rotas comerciais entre o Oriente e o Ocidente, pelo mar Mediterrâneo, assim como das rotas localizadas no interior da própria Europa, a intensa atividade comercial, por sua vez, favoreceu o desenvolvimento das cidades.
O comércio e a formação das cidades provocaram profundas mudanças no cenário europeu, após alguns séculos, a estrutura da sociedade feudal não seria mais predominante no continente. Surgiriam, então, novos grupos sociais enriquecidos pelo comércio e desejosos de controlar também o poder político.

O ressurgimento do comércio e das cidades

Um dos fatores responsáveis pelo ressurgimento do comércio na Europa foram as Cruzadas, pois elas contribuíram para o restabelecimento das relações entre o Ocidente e o Oriente e para abertura do mar mediterrâneo aos mercadores da Europa ocidental.
Além disso, com as Cruzadas os europeus passaram a usar novos produtos trazidos do Oriente, como gengibre, pimenta, canela, cravo-da-índia, óleo de arroz, açúcar, figos, tâmaras e amêndoas. Tapetes vieram substituir a palha e o junco, usados para forrar o chão dos castelos. As sedas e os brocados modificaram as vestimentas, e espelhos de vidro substituíram os discos de metal polido usados até então.
Muitos desses produtos eram caros e difíceis de ser comprados. Por isso, alguns deles tornaram-se conhecidos como especiarias – é o caso, por exemplo, da pimenta e do gengibre.
O modo de vida dos mercadores não estavam fundamentado na agricultura ou na posse da terra, mas no comércio e no dinheiro. De maneira geral, eles utilizavam como rota comercial as antigas estradas romanas. Transportavam seus bens em caravanas de animais de carga e, muitas vezes, viajavam protegidos contra assaltos.

Feiras

Desde o século XII, feiras eram organizadas nos arredores das rotas de comércio. Essas feiras podiam durar semanas e reuniam pessoas de várias regiões para vender e comprar produtos como especiarias, vinho, azeite, seda, perfume, sal, açúcar, madeira, couro e mel. Entre as grandes feiras, destacaram-se as de Champagne, Flandres, Veneza, Gênova, Colônia e Frankfurt. Posteriormente, importantes cidades se desenvolveram nesses locais.
No ponto de confluência das principais rotas comerciais, realizavam-se grandes feiras. Nelas, podiam-se vender e comprar mercadorias vindas de diversas partes do mundo.

Rotas comerciais

As atividades comerciais na Europa também se intensificaram sobretudo a partir do século XI. Para melhorar a circulação de mercadorias, desenvolveram-se rotas comerciais marítimas e terrestres.
As rotas marítimas do norte da Europa passavam pelo Mar do Norte e pelo Mar Báltico, abrangendo cidades como Londres, Lübeck e Hamburgo. Essas rotas eram controladas pela Liga Hanseática, criada em 1241 como uma associação de comerciantes e produtores de Hamburgo e Lübeck.
As rotas marítimas do sul passavam principalmente pelo Mar Mediterrâneo, tendo como portos de destaque Barcelona, Gênova, Veneza, Trípoli e Constantinopla. Os comerciantes mais ativos das rotas do sul eram os genoveses e os venezianos. Essas redes de comércio marítimo eram interligadas por rotas terrestres. Elas aproveitavam, em boa parte, as antigas estradas construídas na época dos romanos. Mas novas vias de transporte também foram construídas. 
À medida que o comércio se expandia, formaram-se vilas e cidades. Por razões de segurança, os mercadores procuravam-se concentrar em lugares próximos a uma zona fortificada, cercada de muralhas, denominada burgo, muitas vezes, nesses lugares fortificados, localizavam-se a catedral, a moradia do bispo e, por vezes, o castelo do senhor das terras.
Nos burgos, além dos mercadores encontravam-se as oficinas dos artesãos, como sapateiros, ourives, ferreiros, oleiros e carpinteiros. Esses moradores eram chamados de burgueses e, aos poucos, foram se constituindo em um novo grupo social no interior do mundo medieval europeu: a burguesia.
Ao lado do comércio, cresceu a produção artesanal. Os artesãos organizaram-se em corporações de ofício, também conhecidas como guildas ou grêmios. Havia corporações de ferreiros, tecelões, carpinteiros, sapateiros, entre outros.
As corporações regulamentavam o exercício da profissão e controlavam o fornecimento, a qualidade e o preço dos produtos.

Corporações e guildas

A expansão do comércio e das cidades provocaram vários conflitos sociais. As áreas que as cidades ocupavam pertenciam aos senhores feudais, bispos, nobres e reis. Esses senhores pretendiam submeter os moradores dos burgos, cobrando deles impostos, taxas e serviços. Essa prática era comum em relação aos servos, mas os burgueses não estavam dispostos a aceitá-la. Eles julgavam que isso constituía um obstáculo para o desenvolvimento de suas atividades.
Em suas andanças, os mercadores haviam aprendido a importância da união. Eles viajavam em grupos por estradas, mares e regiões desconhecidas, para se proteger contra assaltantes e piratas ou mesmo para obter melhores negócios.
Assim, com o tempo, foram surgindo associações de artesãos e de comerciantes, cujo objetivo principal era defender os interesses econômicos de seus membros. As associações de artesãos eram chamadas corporações de ofício, e as de comerciantes, guildas ou ligas. Unidos eles pretendiam evitar a concorrência, fixar preços e regulamentar o trabalho, além de enfrentar os limites impostos pelos senhores e nobres feudais.

As cidades e os burgueses

Durante a Idade Média, surgiram várias cidades cercadas por altas muralhas, formando um núcleo chamado de burgo. Do termo nasceu a palavra burguês, usada para se referir aos comerciantes ou artesãos que viviam no burgo. Com o aumento da população, os burgos estenderam seus limites para fora das muralhas.
O crescimento do comércio e do artesanato contribuiu para que os burgueses ficassem mais independentes dos senhores feudais. A princípio, os burgueses pagavam tributos aos nobres ou ao clero, pois viviam em áreas dominadas por eles. Em troca desse pagamento, negociavam o direito de livre comércio, proteção militar e liberdade para administrar as cidades. Em diversas ocasiões, porém, a autonomia das cidades foi conquistada por meio de lutas.
As cidades que se tornaram independentes ficaram conhecidas na França como comunas e na Península Itálica como repúblicas. Os moradores dessas cidades elegiam um governo, que cuidava da administração e da defesa. Os burgueses mais influentes ocupavam os principais cargos administrativos, elaboravam leis, criavam tribunais e cobravam impostos.
Um antigo ditado alemão dizia que o “ar da cidade torna o homem livre”. A frase reflete o momento histórico em que as cidades medievais conquistavam autonomia em relação aos senhores feudais. Podemos dizer que esse ditado expressa o desejo de muitos trabalhadores de conquistar mais liberdade. A liberdade de escolher seu próprio trabalho e de viver onde quisessem. Tudo isso foi sendo conquistado, mas não de uma hora para outra, nem em todos os lugares.

As transformações na Europa

Com o fortalecimento das cidades e do comércio surgiu na Europa um novo ideal de vida. Até então, em geral, as pessoas só podiam almejar realizações pessoais, como reconhecimento por ser um guerreiro valente. Para o burguês, no entanto, o mais importante era acumular fortuna. Por isso, ele trabalhava intensamente, procurando aumentar cada vez mais os negócios e os lucros.
O aumento da prática comercial fez ressurgir a importância do dinheiro. O comércio, fundamentado antes na simples troca de produtos, passou a se basear na troca de produtos por moeda. O próprio mercador, precisando de dinheiro para viajar e comprar mercadorias, começou a pedi-lo emprestado, propiciando o desenvolvimento das casas bancárias.
Em conseqüência do, algumas regiões passaram a se especializar na produção e comercialização de determinados produtos. Borgonha e o vale do Reno, na atual França, por exemplo, especializaram-se em vinho; Provença, em sal, e assim por diante. Houve também o aumento do número de pessoas que trabalhavam por salário.
Todas essas mudanças alteraram a organização política e social da Europa.

As revoltas camponesas e a peste negra

Com o comércio, a nobreza feudal passou a utilizar novos produtos, sobretudo os de origem oriental. Para garantir os recursos necessários ao sustento desses novos hábitos, a exploração sobre os servos aumentou. Em resposta surgiram revoltas e fugas de camponeses para as cidades.
Além disso, o aumento da população gerou uma expansão das zonas agrícolas, com a ocupação de áreas florestais e de pastagens. A ocupação das pastagens, por sua vez, provocou a falta de adubo animal. Como resultado as colheitas tornaram-se insuficientes, causando fome e subnutrição e tornando os europeus mais vulneráveis às doenças. 
Nos séculos XIV, a peste negra dizimou mais de um terço da população europeia. A peste foi provocada por bactéria originária do Oriente.

A vida nas cidades

O crescimento das cidades era limitado pelas muralhas dos burgos. Ninguém desejava morar fora delas, temendo por sua segurança. Como não era possível destruir os muros, e a população aumentava, as casas cresciam para cima, chegando a ter até três andares. A maior parte das casas era de madeira, o que favorecia os incêndios, que às vezes destruíam completamente uma cidade.
Não existiam calçadas nem esgotos, o que facilitava a proliferação de doenças. A noite quase não havia iluminação. De dia, as vilas também permaneciam bastante sombrias. As pessoas circulavam pela cidade no meio dos animais, que comiam os restos de alimentos jogados pelas janelas.
Artesãos e comerciantes agrupavam-se por ruas conforme suas atividades. Símbolos divertidos, como um gato que pesca, por exemplo, indicavam as lojas àqueles que não sabia ler.
A partir do século XII, com a expansão das atividades comerciais e o crescimento das cidades, os comerciantes sentiram necessidade de saber ler, escrever e contar, para atender a essa necessidade, começaram a se organizar escolas.
As universidades, a partir do século XII, se multiplicaram pela Europa. Veja a data e o lugar das principais universidades que surgiram então: Bolonha (1158), Paris (1200), Cambridge (1209), Pádua (1222). Nápoles (1224), Toulouse (1229).
Nas universidades, os professores e alunos dedicavam-se a diversas áreas do conhecimento, como artes, gramática, matemática, retórica, direito, medicina, teologia. O ensino era dado em latim.

A África Negra

Hoje a África é lembrada, mais frequentemente, pela pobreza dos que a constituem e pelas continuas guerras civis que contrapõem seus habitantes, agravando ainda mais o estado de miséria de sua população.

Atualmente, a África é formada por 54 países, onde vivem cerca de 1,3 bilhão de pessoas, que falam mais de 2000 línguas diferentes. A África é o segundo continente mais populoso do mundo, atrás apenas da Ásia. Tanto hoje como no passado, esse continente sempre se caracterizou pela diversidade de paisagens, sociedades e culturas.
A partir do século XV, foram difundidos muitos preconceitos sobre a África que repercutem até os dias atuais. Desde o século XX, pesquisas históricas vêm contribuindo para superar essas ideias, ampliando a compreensão da cultura africana.
Algumas ideias estereotipadas afirmavam que o continente africano seria um lugar desolado, onde existiriam somente florestas tropicais e desertos áridos, habitados por animais selvagens e povos primitivos.
De acordo com essas ideias, os povos africanos seriam atrasados, não teriam história nem cultura. Nada mais incorreto que isso: como todos os grupos humanos, as sociedades africanas desenvolveram suas culturas. No Egito antigo, por exemplo, nasceu um dos primeiros sistemas de escrita conhecidos. Muito antes da chegada dos europeus àquele continente, os africanos ergueram grandes reinos, poderosos impérios e imensas cidades, com uma agitada vida urbana. Também já realizavam trocas culturais e econômicas entre si e com povos da Europa, do Oriente Médio e da Ásia.
No ensino de história do Brasil, o continente africano é geralmente mencionado apenas como o fornecedor de mão-de-obra escrava para a antiga América portuguesa e o Império, além de berço de características raciais e culturais dos brasileiros.
Na história geral, o Egito e o norte da África parecem um continente apartado do imenso território africano, como se a história deste, por não estar diretamente ligada à da Europa até o século XV, não fosse interessante, o período entre os séculos VIII e XIV da chamada África Negra – a parte do continente povoada por etnias negras –, situada abaixo do Saara de onde saía boa parte das mercadorias consumidas pelos europeus e comercializadas por bizantinos e muçulmanos.

Fontes da história da África

Para estudar a história africana, pesquisadores podem utilizar fontes escritas e não escritas. A seguir, conheça algumas delas:
• fontes escritas – textos de viajantes que passaram pelo continente, como Ibn Batuta (1304-1369), que escreveu Presente oferecido aos observadores (mais conhecido como Viagens de Ibn Batuta), e Leão Africano (1494-1554), cuja obra intitula-se Descrição da África e das coisas notáveis que ali existem;
• fontes não escritas – obras de arte, construções, vestimentas, tradições orais, costumes etc. Entre as fontes não escritas, destacam-se as histórias contadas pelos griôs ou djélis, pessoas originárias da África Ocidental e responsáveis pela transmissão das tradições orais por várias gerações. Eles se especializaram em recitar as histórias de diversos povos africanos em longas narrativas faladas ou cantadas, que podem ser acompanhadas por instrumentos de corda ou percussão.
O conhecimento transmitido oralmente é fundamental para estudar a história dos povos da África, uma vez que muitas informações não foram registradas em papel, permanecendo apenas na memória das pessoas. Essas memórias permitem, por exemplo, conhecer os conflitos sociais, as tradições das famílias dominantes, a vida cotidiana das pequenas famílias e comunidades.

Civilizações ao sul do Saara

O Deserto do Saara ocupa uma longa faixa ao norte do continente africano. Como outros desertos, o Saara não é um lugar fácil de ser habitado. Ali há pouca água e os solos são arenosos. Isso dificulta a prática da agricultura e da pecuária. Porém, no deserto, existem regiões conhecidas como oásis, que têm água e solos férteis. Os muçulmanos que viviam e circulavam em oásis nas regiões desérticas da Arábia e do norte da África mantinham relações comerciais e culturais com os povos da África Equatorial, situada ao sul do Saara. 
A partir do século XI, em função das conquistas militares e da conversão religiosa, a presença dos árabes muçulmanos se consolidou na região. Grande parte dos habitantes da África Equatorial foi islamizada, ou seja, convertida à religião islâmica. Os árabes chamavam a África Equatorial de “terra dos negros”, região onde se desenvolveram várias civilizações.

A Etiópia e as cidades da costa oriental africana

Até o século VIII da era cristã, o contato dos povos da Ásia e da Europa com os do centro e do sul da África foi dificultado pelo deserto do Saara. Este, extremamente árido e inóspito, começou a ser atravessado pelos muçulmanos, que buscavam não só as riquezas dos reinos ao sul do rio Nilo, como também a conversão de sua população.
Essa travessia ocasionou o contato com povos até então pouco conhecidos ou mesmo ignorados por europeus e asiáticos. Os povos africanos se organizavam de formas diversas. Muitas tribos viviam da caça, da pesca e da colheita de frutos silvestres. Outras se fixaram sobretudo às margens dos rios, onde desenvolveram a agricultura, constituindo-se em reinos.
O mais antigo reino africano era a Etiópia, conhecida dos gregos e dos romanos. “Etiópia” é uma palavra grega que significa o país dos “caras queimadas”. Na Antiguidade, os gregos chamavam todas as terras onde viviam negros de “Etiópia”, sem distinção.
Durante a dominação bizantina no Egito e na Núbia, a Etiópia converteu-se ao cristianismo, religião a que permaneceu fiel mesmo depois de os dois reinos vizinhos terem sido conquistados pelos muçulmanos.
Do século VIII ao XIII, o reino etíope forneceu à Arábia marfim, ouro, âmbar, almíscar, peles de pantera e escravos – principalmente eunucos (homens castrados) de pele clara –, vendidos a altos preços no mar Vermelho e no golfo Pérsico.
Durante os primeiros séculos da era cristã, mais ao sul, principalmente nas ilhas da costa banhada pelo oceano Índico, já havia pequenos entrepostos comerciais. Por eles passavam navios romanos, árabes e persas em busca de incenso, marfim, carapaças de tartaruga, chifres de rinoceronte, escravos, peles de pantera, etc. Deixavam em troca lanças, adagas e machados de ferro, tecidos de algodão, objetos de vidro, vasos de cerâmica e um certo “mel extraído de uma cana” – o açúcar.
O islamismo difundiu-se lentamente na região a partir do século VIII até o final do XII. Constituída basicamente por cidades autônomas, quase nada se sabe sobre sua estrutura política. O intenso comércio com as tribos somalis ou bantas que as circundavam explica a ausência de muralhas cercando essas cidades. Para estas, numa rede de sucessivos escambos, vinham os escravos o ouro, o marfim e as peles obtidos no interior africano, que recebia em troca sal, peixe seco, panos, ferro, contas e cauris (espécie de concha usada como moeda). A partir do século XV, os europeus disputarão esses portos com os muçulmanos.

O reino Aksum

A Etiópia moderna, criada no século XX, originou-se do antigo reino de Askum. Segundo a tradição lendária, a monarquia aksumita foi fundada no ano 1000 a.C. por um suposto descendente da união do rei Salomão, de Israel, com a rainha de Sabá, cidade da antiga Arábia.
O mais provável é que judeus ou pessoas convertidas ao islamismo tenham chegado à Etiópia vindos da Arábia do Sul. Desembarcaram em pequenos grupos e prosseguiram, na Etiópia, o processo de conversão das populações ao judaísmo.
Grande parte dos aksumitas dedicava-se à agricultura e à criação de animais. Eles cultivavam o trigo e outros cereais, conheciam também o cultivo da uva e usavam arados puxados por bois, carneiros, cabras, asnos e mulas.
Em aksum diversos artesãos trabalhavam os metais e construíam casas. Utilizavam um tipo de cimento que permitia construir casas de pedra e madeira.
A organização política do reino de Aksum centrava-se na figura de um rei, que controlava outros reinos que lhe pagavam tributos. Os parentes do rei trabalhavam na direção dos negócios públicos e na organização dos exércitos.
O reino de Askum foi o primeiro reino africano a ter moedas de ouro, prata e cobre. As moedas aksumitas tinham legenda em grego, língua corrente entre as pessoas mais próximas do rei, e nelas eram gravados os nomes dos soberanos. Na população em geral, o etíope antigo era a língua mais usada.
Aksum controlava rotas comerciais que o ligavam ao Egito, à Síria e às regiões do interior da África. Comerciantes aksumitas ofereciam mármore, chifres de rinoceronte, couro de hipopótamo, macacos e escravos.

Um reino cristão na África

O cristianismo foi introduzido em Askum por volta do século IV. Após a conversão dos reinos vizinhos ao islamismo, no século VII, Askum, um reino cristão, isolou-se do restante do mundo.
No século XIV, uma delegação aksumita em visita à Europa reacendeu naquele continente o desejo pela busca do reino do “Preste João”. Segundo a lenda, Preste João seria um rei cristão do Oriente que ajudaria os europeus na luta contra os muçulmanos. Até então, os europeus acreditavam que esse rei vivesse na Ásia. A partir dos relatos dos viajantes aksumitas, muitos aventureiros europeus partiram para Aksum, em busca desse soberano.

Os reinos de Gana e Mali

Com a utilização do camelo como meio de transporte, ao longo dos primeiros séculos da era cristã, as terras ao sul do Saara e a região do Mediterrâneo estabeleceram contatos comerciais, intermediados pelas tribos berberes. Desde fins do século III, o ouro, em pequenas quantidades, começou a atravessar o deserto, rumo ao norte da África. Não por acaso, Cartago funcionou como importante centro de cunhagem de moedas durante a dominação bizantina.
Com o tempo, pequenas aldeias transformaram-se em centros de comércio, riqueza e poder na região de origem do metal precioso. Cada um desses centros procurava controlar o comércio com as caravanas, o acesso às salinas do deserto (o sal servia principalmente de moeda de escambo com outros povos) e o domínio das rotas caravaneiras.
O ouro – tão importante para a economia da Europa e do Oriente – e o sal foram as fontes de riqueza que sustentaram o poder de Gana. É provável que Gana existisse desde o século IV. Já no final de século VIII, os muçulmanos se referiam a ele como o País do Ouro, embora entre seus habitantes “gana” fosse o título usado pelos reis.

Gana, o primeiro grande reino

Na África, ao sul do Deserto do Saara, havia grandes reinos. O reino de Gana, no oeste do continente, desenvolveu-se a partir de 300 d.C. e durou quase mil anos. 
O Reino de Gana foi um dos primeiros Estados formados ao sul do Saara. Localizado na região das nascentes dos rios Senegal e Níger, esse reino conquistou grande poder político e econômico entre os séculos IV e XII. Havia diversas atividades econômicas, mas o ouro era a principal fonte da riqueza de Gana. Por isso, esse reino ficou conhecido como “terra do ouro”.
Nessa sociedade, o rei era visto como o elo entre os deuses e os homens. Uma hierarquia composta de sacerdotes, nobres e funcionários cuidava da administração do reino. Cada cidade tinha seu governante, que devia obediência ao rei. Entre os membros da elite, podemos citar: os sacerdotes das religiões politeístas tradicionais, os nobres e os altos funcionários do governo.
A população do reino dedicava-se à agricultura, criação de gado, comércio e ao artesanato (marcenaria, cestaria, tecelagem, metalurgia etc.). Por meio da metalurgia, eram fabricados objetos como armas, utensílios agrícolas, máscaras e adornos.
No comércio, era comum os ganenses trocarem ouro por diversos produtos. Entre eles, destaca-se o sal, que era raro e muito apreciado. As trocas comerciais eram feitas com povos vizinhos e com comerciantes que cruzavam o Deserto do Saara. O comércio era essencial para a economia do reino, assim como as minas de ouro.
Os domínios e o poderio de gana atingiram o apogeu entre o final do século X e o início do século XI, quando seus soberanos se converteram ao islamismo. Um de seus reis, Tunca Menin, que chegou ao trono em 1062 ou 1063, podia reunir sob seu comando até 200 mil soldados, sendo 40 mil deles arqueiros.
A partir do século XI, a influência muçulmana se intensificou na região. Isso pode ser observado pela construção de mesquitas e pela conversão de muitos ganenses ao islamismo. 
A prosperidade que o comércio trouxe ao reino também atraiu as tribos vizinhas, que o pilhavam, ocasionando a invasão da capital – Koumbi – por nômades do Saara. Embora tenha durado pouco essa ocupação provocou desarranjos no comércio e disputas pelo poder em Gana, enfraquecendo e desorganizando o reino. No século XII, o Reino de Gana se desestruturou após ser conquistado por tropas do Reino do Mali.
Por volta de 1240, Koumbi foi ocupada pelos malinês, então já convertidos ao islamismo. Os domínios do Máli, cujo soberano era chamado mansa, estenderam-se sobre as antigas minas auríferas de Gana e sobre os povos mineradores vizinhos.

O poderoso reino do Máli

O Reino do Mali desenvolveu-se às margens dos rios Níger e Senegal, onde vestígios indicam a existência de uma sociedade organizada desde o século III. As águas desses rios fertilizavam o solo e também eram usadas como via de transporte. O solo fértil favorecia a produção agrícola que alimentava a população do reino.
O reino do Mali surgiu ao redor da cidade de Timbuktu, fundada por volta do ano 1100. A cidade nasceu como ponto de apoio e abastecimento das caravanas que traziam sal das minas do Deserto do Saara. O sal era trocado por ouro e escravos trazidos pelo Rio Níger. Os malineses tornaram-se os principais fornecedores do metal precioso para a Ásia e, em menor quantidade, para a Europa.
No século XIII, esse reino se fortaleceu sob a liderança de Sundiata Keita (1217-1255), que se converteu ao islamismo. Nessa época, o Reino do Mali iniciou a conquista de territórios vizinhos. O Mali tornou-se um império influente na região e sua expansão prosseguiu até o século XIV, sobre áreas do Reino de Gana e dos atuais Senegal e Gâmbia.
Uma das mais importantes cidades do mundo muçulmano na época, Timbuktu , pertencia ao Império do Mali. Nessa cidade, foi construída a Universidade de Sankore, criada por volta do século XII e frequentada por milhares de estudantes.
No século XIV, Timbuktu fazia parte do poderoso Império Máli, que controlava o lucrativo negócio do sal em toda a região. O império atingiu o seu auge sob o governo de Mansa Musa, que se converteu ao islamismo.
Timbuktu tornou-se o centro intelectual e espiritual islâmico da África ocidental. Grandes mesquitas, universidades, escolas e bibliotecas foram construídas durante o Império Máli. A cidade foi habitada por muçulmanos, cristãos e judeus durante centenas de anos, sendo um centro de tolerância étnica e religiosa.
Além de Timbuktu, destacavam-se outras cidades malinesas, como Djenné. Na cidade de Djenné, foi construída uma mesquita que é considerada a maior construção em adobe do mundo. 
Entre as principais atividades econômicas do Mali, estavam a produção de tecidos, cestas, barcos, objetos de ferro e ouro. Praticavam-se ainda o cultivo de cereais, a pesca fluvial e a criação de bois, camelos e cabras.
O Mali manteve-se como um império poderoso até o século XV. O Império Máli foi destruído com a invasão marroquina no século XVI e enfrentou rebeliões dos povos que havia conquistado.
O povo do Mali também era chamado de mandinga, nome pelo qual ficaram conhecidos homens e mulheres escravizados e enviados dessa região para o Brasil. Hoje, os territórios do antigo Império Malinês correspondem ao Mali e a Burkina Faso, entre outros países.

Reinos de Ifé e do Daomé

Nas regiões das atuais Nigéria, Benin e Togo, viviam povos como os iorubás e os jejes. Os iorubás fundaram diversos reinos que se fortaleceram entre os séculos XIII e XIV. 
Um deles foi o Reino de Ifé, que era governado por um soberano intitulado oni. O poder do oni era sobretudo político e religioso. Os demais reinos iorubás eram governados por chefes chamados obás.
Os jejes formaram o Reino do Daomé. Esse reino desenvolveu-se entre os séculos XVII e XIX e possuía um exército poderoso, sendo parte dele formado por mulheres. Viajantes europeus que estiveram na região associaram essas mulheres guerreiras às lendárias amazonas da Antiguidade. Os daometanos as chamavam de ahosi, palavra que significa “esposas do rei”, pois eram mulheres treinadas militarmente para serem guardiãs do rei do Daomé.
As mulheres guerreiras do Daomé eram nascidas no próprio reino ou capturadas em conflitos com os povos vizinhos. Como as guerras eram constantes nesse período, as forças militares masculinas e femininas aumentaram bastante nesse reino.

Tráfico de escravizados

Uma das principais fontes de riqueza do Daomé era o tráfico de pessoas escravizadas. A escravidão marcou a história de vários Estados africanos, principalmente depois da conquista europeia.
Entre os séculos XVI e XIX, milhares de iorubás e jejes foram escravizados e trazidos para o Brasil, Cuba e outras partes da América, enriquecendo os reis do Daomé e os traficantes europeus.

Zimbábue, o reino do sul

O reino do Zimbábue, localizado na porção sul do continente africano, tinha como característica a centralização política sob o governo de uma dinastia real.
Sendo o pastoreio a atividade desenvolvida pela maioria da população, era necessário criar meios de proteção, tanto dos rebanhos de animais como do amplo território utilizado para pastagens. O poder centralizado cumpria esse papel.
Além da atividade pastoril, havia a extração de ouro e marfim, negociado com comerciantes da Índia e da Arábia. Em troca, os mercadores africanos recebiam tecidos finos, porcelana chinesa e louças da Tailândia.
O luxo e o poder proporcionados pelo ouro ficam evidentes na Grande Zimbábue, uma cidade, hoje em ruínas, erguida entre 1100 e 1600, e que chegou a ter 17 mil habitantes. Em seu interior encontra-se o Grande Recinto, uma construção cuja muralha tinha 244 metros de comprimento e 10 metros de altura.

Reino do Congo

Em meados do século XIII, um dos povos bantos (bacongos) formou o Reino do Congo. Esse reino desenvolveu-se nos territórios dos atuais Estados do Congo, da República Democrática do Congo e de Angola.
As atividades econômicas mais importantes do reino eram a agricultura, a criação de animais, o comércio e o artesanato. No Reino do Congo, as trocas comerciais eram facilitadas pelo uso de conchas, que serviam como dinheiro para aquisição de produtos agrícolas, gado e objetos de uso cotidiano.
Na monarquia congolesa, o rei era chamado manicongo (“senhor do Congo”) e concentrava os poderes político e econômico. Ele atribuía poderes a funcionários de destaque, como o chefe de palácio, chefes das províncias, coletores de impostos, juiz supremo e sacerdote principal.
A capital do reino era M'banza Congo, uma cidade grande, cercada por muralhas e que existia antes da chegada dos portugueses. Historiadores consideram que M'banza Congo (situada na atual Angola) era uma cidade tão grande quanto as maiores cidades da Europa no mesmo período.
Na capital, o rei e sua corte viviam em belas construções que se destacavam das demais por sua arquitetura imponente e pela decoração sofisticada. Além da elite, vivia na cidade uma numerosa população que se dedicava às mais variadas atividades e que pagava impostos ao manicongo por meio de alimentos, tecidos de ráfia, sal e cobre.
M'banza Congo era o ponto de encontro de rotas comerciais que ligavam diversas aldeias do reino. A população dessas aldeias estava submetida ao governo central, a quem devia fidelidade e, em troca, recebia proteções terrena e espiritual.

Congoleses e portugueses

Em 1483, os portugueses chegaram ao Reino do Congo. Depois dos primeiros contatos, portugueses e congoleses estabeleceram relações amistosas e parcerias comerciais. Consolidando a aliança com os portugueses, o rei congolês Nzinga-a-Nkuwu (1440-1506) abandonou sua religião tradicional e converteu-se ao cristianismo em 1491. Rebatizou a cidade de M'banza Congo com o nome de São Salvador do Congo e adotou para si o nome de dom João I. Em 1506, o trono do Congo foi ocupado por seu filho Mbemba-a-Nzinga, rebatizado de Afonso I.
Afonso I (1456-1543) continuou o projeto de criar um reino cristão no Congo. Enviou seu filho Henrique para estudar em Portugal. Em 1518, o papa Leão X nomeou dom Henrique bispo de Útica, cidade na região da atual Tunísia. No entanto, a conversão ao cristianismo ficou limitada à família real e aos nobres. A maioria da população congolesa manteve a religião que praticava anteriormente, politeísta e com a presença de elementos da natureza.
O Reino do Congo sobreviveu até as primeiras décadas do século XVII, quando foi destruído pelas disputas entre portugueses e holandeses pelo tráfico de pessoas escravizadas.

O reino de Kush

O reino de Kush existiu onde hoje é o Sudão, na África ocidental, na região então conhecida como Núbia. O território núbio foi inicialmente explorado pelos faraós do Egito devido às suas riquezas, sobretudo o ouro. O próprio nome, Núbia, deriva de uma palavra que significava ouro na escrita egípcia.
A partir do século VIII a.C., com o declínio do poder egípcio, a Núbia ganhou maior autonomia. A primeira capital do reino de Kush foi a cidade de Napata, depois transferida para Méroe. Na capital moravam o rei e seus funcionários.
A organização política do reino centrava-se no rei, que era eleito pelos chefes militares, altos funcionários e líderes locais. O rei era considerado o filho adotivo de várias divindades.
A população de Kush era formada basicamente por agricultores, criadores de gado e por escravos obtidos em guerras. Artesãos e pequenos comerciantes também estavam presentes. No artesanato destacavam-se os produtos de ferro, couro e cerâmica, além de joias.
A criação de gado era a principal atividade econômica no reino de Kush, mas também se destacava o cultivo de trigo, lentilha, pepino, melão e abóbora. Assim como no Egito, construíram-se canais para aproveitar as cheias do Rio Nilo.

Fim da Idade Média

 O comércio e as cidades transformam a Europa

Tradicionalmente, a queda do Império Romano do Ocidente marca o fim da Antiguidade e o início da Idade Média.
O período medieval europeu costuma ser dividido em duas grandes etapas:
Alta Idade Média (século V a X) – fase da completa decomposição da sociedade romana antiga e da formação do sistema feudal.
Baixa Idade Média (século XI a XV) – fase da decadência do sistema feudal e da formação do sistema capitalista.
A Idade Média, na Europa, foi caracterizada pelo aparecimento, apogeu e decadência de um sistema econômico, político e social denominado feudalismo. Este sistema começou a se estruturar na Europa ao final do Império Romano do Ocidente (século V), atingiu seu apogeu no século X e praticamente desapareceu ao final do século XV.

A ALTA IDADE MÉDIA

No feudalismo vimos que os aspectos sociais e econômicos se uniram com os culturais e ideológicos. Mas o modo de produção feudal não surgiu do nada. Foi um processo contínuo de ascensão até a decadência. Pode-se dizer que cada região teve sua influência nas características feudais.
O processo de formação do mundo feudal teve um aceleramento a partir do século V, com a queda do Império Romano do Ocidente, iniciando a Alta Idade Média.
As transformações que ocorreram na Europa, que foi dominada pelos bárbaros germânicos, nesse período, resultou em reinos quase sempre frágeis e efêmeros.

Características da alta idade média (séc. V ao X)

-Formação do feudalismo
-Decadência do comércio
-Ruralização econômica
-Fortalecimento do poder local por meio dos senhores feudais
-Ascensão da igreja e do teocentrismo
-Invasão bárbara na Europa

Baixa Idade Média

"A Baixa Idade Média corresponde ao período entre os séculos XII e meados do século XV. Nesse momento histórico ocorreram inúmeras transformações no feudalismo, como o renascimento do mundo urbano e o reaquecimento das atividades comerciais; o fim do trabalho servil; o surgimento da burguesia; a centralização política nas mãos dos monarcas; e as crises da Igreja Católica. Toda a trama histórica levou o sistema feudal ao seu limite, produzindo uma grave crise que desembocou na transição para o capitalismo.

As transformações internas do feudalismo

A partir do século XI até o século XV, a Europa passou por profundas transformações econômicas, políticas e sociais, que levaram à desagregação do feudalismo.
O sistema feudal começou a desmoronar a partir do século XI, dando origem ao capitalismo ou sistema capitalista de produção. A desagregação do feudalismo e as origens do capitalismo decorreram de um conjunto de fatores, tais como:

· crescimento populacional europeu;
· desenvolvimento das técnicas agrícolas de produção;
· renascimento comercial.

Isso ocorreu de forma lenta e contínua, pois nenhum sistema é substituído por outro repentinamente. O crescimento do mercado consumidor exigiu o aumento da produtividade da terra e, para isso, foi necessário aumentar as áreas de produção e desenvolver as técnicas agrícolas. Com o tempo, a comercialização do excedente produzido nos feudos provocou profundas mudanças nas relações entre servos e senhores feudais. Muitos senhores, interessados nos lucros provenientes da comercialização do excedente produzido no feudo, aumentaram a exploração dos servos, provocando a fuga em massa desses para as cidades, em busca de liberdade e de melhoria de vida.
A passagem do século X ao XI foi um momento de mudanças na Europa feudal. Com o fim das invasões bárbaras (vikings e magiares), o mundo medieval conheceu um período de paz, segurança e desenvolvimento.
O primeiro dado importante refletindo esse novo momento foi o aumento da população. O crescimento demográfico foi ocasionado pelo fim das guerras contra os bárbaros e pelo recuo das epidemias, gerando uma queda da mortalidade. Além disso, ocorreu uma suavização do clima, proporcionando mais terras férteis e colheitas abundantes.
Esse crescimento implicou maior demanda de alimentos, estimulando o aperfeiçoamento das técnicas agrícolas para aumentar a produção. Assim, o arado de madeira foi substituído pela charrua (arado de ferro), facilitando o trabalho de aragem; a atrelagem dos animais foi aperfeiçoada, permitindo o uso do cavalo na tração; os animais passaram a ser ferrados; os moinhos foram melhorados; e o sistema trienal se estendeu por toda a Europa, proporcionando melhor qualidade e maior quantidade de produtos agrícolas.
No entanto, todo esse inegável desenvolvimento técnico foi limitado, não atendendo ao crescimento da população e, portanto, do consumo. Inicialmente novas terras foram ocupadas e desbravadas. Além disso, ocorreu um fenômeno histórico novo para a Idade Média, o êxodo rural, ou seja, parcelas consideráveis das populações rurais dirigiram-se para as cidades.

Um novo cenário

Durante o predomínio do sistema feudal, a economia era basicamente agropastoril, o poder estava descentralizado e a sociedade dividia-se entre nobreza, clero e trabalhadores. No entanto, todo esse cenário foi sendo modificado aos poucos.

Trabalho e práticas agrícolas

A partir do século XI, em diversas regiões da Europa, os servos conseguiram melhorar suas relações de trabalho. Às vezes, conseguiam aliviar o peso de obrigações como a talha e a corveia. Ocasionalmente, conseguiam contratos de arrendamento por meio dos quais os senhores cediam lotes de terra por preços e prazos determinados.
Nessa época, houve ampliação das áreas de plantação e foram introduzidos novos instrumentos e técnicas agrícolas. Entre eles, podemos destacar:
• rotação de culturas – divisão da terra em três áreas; enquanto duas áreas eram cultivadas, a outra parte descansava. Essa prática permitia que o solo se recuperasse mais rapidamente;
• charrua – tipo de arado grande puxado por bois ou cavalos, que permitia arranhar e revirar solos mais duros, trazendo para cima os nutrientes acumulados nas camadas mais profundas da terra;
• ferradura – peça de ferro colocada nos cascos dos cavalos que evitava que se machucassem ao andar;
• moinho – equipamento utilizado para moer cereais, esmagar olivas, quebrar minérios etc. Durante a Idade Média, os moinhos movidos pela força da água ou do vento foram aperfeiçoados e difundidos. Em geral, eram mais eficientes do que os moinhos movidos pela força animal.

O ressurgimento do comércio e das cidades

Um dos fatores responsáveis pelo ressurgimento do comércio na Europa foram as Cruzadas, pois elas contribuíram para o restabelecimento das relações entre o Ocidente e o Oriente e para abertura do mar mediterrâneo aos mercadores da Europa ocidental.
Além disso, com as Cruzadas os europeus passaram a usar novos produtos trazidos do Oriente, como gengibre, pimenta, canela, cravo-da-índia, óleo de arroz, açúcar, figos, tâmaras e amêndoas. Tapetes vieram substituir a palha e o junco, usados para forrar o chão dos castelos. As sedas e os brocados modificaram as vestimentas, e espelhos de vidro substituíram os discos de metal polido usados até então.
Muitos desses produtos eram caros e difíceis de ser comprados. Por isso, alguns deles tornaram-se conhecidos como especiarias – é o caso, por exemplo, da pimenta e do gengibre.
O modo de vida dos mercadores não estavam fundamentado na agricultura ou na posse da terra, mas no comércio e no dinheiro. De maneira geral, eles utilizavam como rota comercial as antigas estradas romanas. Transportavam seus bens em caravanas de animais de carga e, muitas vezes, viajavam protegidos contra assaltos.
No ponto de confluência das principais rotas comerciais, realizavam-se grandes feiras. Nelas, podiam-se vender e comprar mercadorias vindas de diversas partes do mundo.

As rotas comerciais

Com o desenvolvimento das relações mercantis, o comércio do sul da Europa passou a ser monopolizado pelas cidades italianas, principalmente Gênova e Veneza, as mais importantes distribuidoras das especiarias orientais. Para maior intercâmbio entre os principais centros de comércio, foram criadas rotas comerciais, como as seguintes:

Rota do Mediterrâneo – Ligava as cidades italianas a Constantinopla e a outros pontos do litoral oriental do Mediterrâneo.
Rota de Champagne – Ligava a Itália a Flandres, passando por Champagne, na França.
Rota do Mediterrâneo – Atlântico Norte – Ligava o Mediterrâneo a centros comerciais do Atlântico Norte, como Inglaterra, França e outros.

Os burgos

À medida que o comércio se expandia, formaram-se vilas e cidades. Por razões de segurança, os mercadores procuravam-se concentrar em lugares próximos a uma zona fortificada, cercada de muralhas, denominada burgo. Muitas vezes, nesses lugares fortificados, localizavam-se a catedral, a moradia do bispo e, por vezes, o castelo do senhor das terras.
Nos burgos, além dos mercadores encontravam-se as oficinas dos artesãos, como sapateiros, ourives, ferreiros, oleiros e carpinteiros. Esses moradores eram chamados de burgueses e, aos poucos, foram se constituindo em um novo grupo social no interior do mundo medieval europeu: a burguesia.
Como inicialmente as cidades eram patrocinadas pelos senhores feudais, os burgueses se submetiam à sua autoridade. Todavia, com o crescimento do comércio e o fortalecimento da burguesia, as cidades iniciaram movimentos de independência (movimentos comunais).
Essas lutas ocorreram basicamente de duas maneiras:
· as cidades alcançavam sua liberdade de forma pacífica, pela compra de cartas de franquia, que lhes asseguravam autonomia política e administrativa;
· ou então através da luta violenta, muitas vezes com o apoio de alguns monarcas que procuravam se fortalecer diante dos senhores feudais.
Obtida a liberdade, as cidades passavam a ser governadas pelos setores mais enriquecidos do comércio e da manufatura, que organizavam seus setores e propiciavam o desenvolvimento econômico dos centros urbanos. Cada setor artesanal organizava-se de acordo com sua especialização (ferreiro, alfaiate, marceneiro, etc.), constituindo corporações de oficio (também conhecidas como guildas ou grêmios). Sua função era evitar a concorrência e, por isso, fixavam os preços dos produtos e os salários, controlavam a qualidade e a quantidade das mercadorias.

Corporações e guildas

A expansão do comércio e das cidades provocaram vários conflitos sociais. As áreas que as cidades ocupavam pertenciam aos senhores feudais, bispos, nobres e reis. Esses senhores pretendiam submeter os moradores dos burgos, cobrando deles impostos, taxas e serviços. Essa prática era comum em relação aos servos, mas os burgueses não estavam dispostos a aceitá-la. Eles julgavam que isso constituía um obstáculo para o desenvolvimento de suas atividades.
Em suas andanças, os mercadores haviam aprendido a importância da união. Eles viajavam em grupos por estradas, mares e regiões desconhecidas, para se proteger contra assaltantes e piratas ou mesmo para obter melhores negócios.
Assim, com o tempo, foram surgindo associações de artesãos e de comerciantes, cujo objetivo principal era defender os interesses econômicos de seus membros. As associações de artesãos eram chamadas corporações de ofício, e as de comerciantes, guildas ou ligas. Unidos eles pretendiam evitar a concorrência, fixar preços e regulamentar o trabalho, além de enfrentar os limites impostos pelos senhores e nobres feudais.
Em cada corporação havia uma rígida hierarquia, organizada do seguinte modo:
• mestre (dono da oficina);
• jornaleiro (assalariado);
• e o aprendiz, que trabalhava em troca de aprendizado do ofício, casa e alimentação.
No final da Idade Média essa divisão se acentuou com a monopolização da riqueza pelos mestres, que começaram a explorar a mão-de-obra assalariada. Portanto, lentamente o trabalhador servil foi desaparecendo das cidades.
Os comerciantes também organizavam suas corporações, conhecidas como hansas. As hansas eram sociedades mercantis poderosas, organizadas com o objetivo de ampliar o sistema de comércio e proteger os interesses dos seus associados.
A Liga Hanseática, reunião de várias hansas, destacou-se a partir de meados do século XIII (reunia inúmeras hansas de cidades da região de Flandres).
Mais ao norte, a Hansa Teutônica foi muito influente nas atividades comerciais, agrupando várias hansas na região da Alemanha.

As transformações na Europa

Com o fortalecimento das cidades e do comércio surgiu na Europa um novo ideal de vida. Até então, em geral, as pessoas só podiam almejar realizações pessoais, como reconhecimento por ser um guerreiro valente. Para o burguês, no entanto, o mais importante era acumular fortuna. Por isso, ele trabalhava intensamente, procurando aumentar cada vez mais os negócios e os lucros.
O aumento da prática comercial fez ressurgir a importância do dinheiro. O comércio, fundamentado antes na simples troca de produtos, passou a se basear na troca de produtos por moeda. O próprio mercador, precisando de dinheiro para viajar e comprar mercadorias, começou a pedi-lo emprestado, propiciando o desenvolvimento das casas bancárias.
Em conseqüência do, algumas regiões passaram a se especializar na produção e comercialização de determinados produtos. Borgonha e o vale do Reno, na atual França, por exemplo, especializaram-se em vinho; Provença, em sal, e assim por diante. Houve também o aumento do número de pessoas que trabalhavam por salário.
Todas essas mudanças alteraram a organização política e social da Europa.

Crises medievais

A partir do século XIV, houve uma queda na produção agrícola, grandes epidemias, revoltas populares e longas guerras. Isso gerou uma crise na sociedade medieval.
Nesse período, as melhores terras já tinham sido ocupadas para a produção de alimentos e ficou difícil continuar a expansão agrícola. Muitos nobres, por exemplo, impediram que mais florestas fossem derrubadas para o cultivo, pois queriam preservar essas áreas para a caça e a extração de madeira, mel e frutas.
Além disso, os problemas na agricultura se agravaram em função de guerras, fatores climáticos (secas, geadas, inundações) e técnicas inadequadas de cultivo. Assim, iniciou-se um período de escassez de alimentos, que levou milhares de pessoas à fome. Enfraquecidos pela fome ou pela subnutrição, muitos europeus ficaram vulneráveis a doenças. Algumas delas tornaram-se verdadeiras epidemias, como foi o caso da peste negra, nome dado a uma doença contagiosa e mortal que vitimou milhões de pessoas no século XIV.

Revoltas camponesas, guerras e a peste negra

Nos séculos XIV e XV, ocorreram diversas revoltas de camponeses e guerras entre nobres, com destaque para a Guerra dos Cem Anos. Esses conflitos contribuíram ainda mais para agravar a crise medieval.
Com o comércio, a nobreza feudal passou a utilizar novos produtos, sobretudo os de origem oriental. Para garantir os recursos necessários ao sustento desses novos hábitos, a exploração sobre os servos aumentou. Em resposta surgiram revoltas e fugas de camponeses para as cidades.
Diante do sofrimento causado pela fome e pelas mortes decorrentes da peste negra, os camponeses se revoltaram. Em 1358, milhares de camponeses franceses mataram nobres e destruíram castelos. Posteriormente, em 1381, camponeses ingleses exigiram do rei o fim da servidão e a diminuição de impostos. As duas revoltas camponesas foram severamente reprimidas pelos nobres, que, dispondo de armamentos e treinamento militar, massacraram os rebeldes.
Além disso, o aumento da população gerou uma expansão das zonas agrícolas, com a ocupação de áreas florestais e de pastagens. A ocupação das pastagens, por sua vez, provocou a falta de adubo animal. Como resultado as colheitas tornaram-se insuficientes, causando fome e subnutrição e tornando os europeus mais vulneráveis às doenças. 
Nos séculos XIV, a peste negra dizimou mais de um terço da população europeia. A peste foi provocada por bactéria originária do Oriente.
Essa doença era provocada por um microrganismo encontrado com frequência em ratos e podia ser transmitida por pulgas que picavam esses animais e depois picavam os seres humanos ou pela tosse de pessoas contaminadas. Naquela época, não havia remédios para a peste negra.
Em termos práticos, a melhor solução para evitar a doença era ficar isolado dos focos da epidemia. Muitos acreditavam que a doença era um castigo de Deus e organizavam orações e procissões suplicando a misericórdia divina. Estudiosos calculam que cerca de um terço da população europeia tenha morrido em razão dessa doença.

A vida nas cidades

O crescimento das cidades era limitado pelas muralhas dos burgos. Ninguém desejava morar fora delas, temendo por sua segurança. Como não era possível destruir os muros, e a população aumentava, as casas cresciam para cima, chegando a ter até três andares. A maior parte das casas era de madeira, o que favorecia os incêndios, que às vezes destruíam completamente uma cidade.
Não existiam calçadas nem esgotos, o que facilitava a proliferação de doenças. A noite quase não havia iluminação. De dia, as vilas também permaneciam bastante sombrias. As pessoas circulavam pela cidade no meio dos animais, que comiam os restos de alimentos jogados pelas janelas.
Artesãos e comerciantes agrupavam-se por ruas conforme suas atividades. Símbolos divertidos, como um gato que pesca, por exemplo, indicavam as lojas àqueles que não sabia ler.

O surgimento das Universidades

A partir do século XII, com a expansão das atividades comerciais e o crescimento das cidades, os comerciantes sentiram necessidade de saber ler, escrever e contar, para atender a essa necessidade, começaram a se organizar escolas.
As universidades, a partir do século XII, se multiplicaram pela Europa. Veja a data e o lugar das principais universidades que surgiram então: Bolonha (1158), Paris (1200), Cambridge (1209), Pádua (1222). Nápoles (1224), Toulouse (1229).
Nas universidades, os professores e alunos dedicavam-se a diversas áreas do conhecimento, como artes, gramática, matemática, retórica, direito, medicina, teologia. O ensino era dado em latim.

Mulheres na Idade Média

Assim como na Grécia e na Roma antigas, predominava na Idade Média o ideal de que as mulheres deveriam desempenhar os papéis de esposa e de mãe.
Porém, no dia a dia, havia mulheres que não ficavam limitadas à vida doméstica. Elas participavam de várias atividades nas ruas e praças, nos mercados, nas feiras e oficinas artesanais. Além disso, a condição das mulheres dependia de sua posição social: a opressão atingia de forma diferente as nobres e as camponesas livres e servas.
De modo geral, durante a Idade Média, as mulheres eram menos valorizadas do que os homens, sendo consideradas frágeis, emotivas e instáveis. Esses julgamentos foram usados como justificativa para a dominação masculina. Eram os homens que controlavam importantes instrumentos de poder como a Igreja, a guerra e os feudos.
Em uma sociedade profundamente influenciada pela Igreja, alguns pensadores cristãos defendiam que Eva havia cometido o pecado original, trazendo a maldade e a imperfeição ao mundo. Entretanto, a partir do século XI, desenvolveu-se o culto à Maria, “mãe de Cristo”, considerada santa e redentora. Essas duas figuras contrastantes marcaram o imaginário ocidental acerca da mulher.
Apesar das dificuldades enfrentadas, houve mulheres que administraram feudos, oficinas artesanais, comércios e que se dedicaram a atividades intelectuais, atuando como bibliotecárias, professoras e copistas, sobretudo em mosteiros femininos.
Também houve figuras femininas que se destacaram na vida social:
• Catarina de Siena (1347-1380): foi membro da ordem dominicana e desempenhou papel importante em sua época. Ela queria reformar a Igreja, promover a paz na Península Itálica e fortificar a Europa, ainda que fosse por meio das Cruzadas;
• Cristina de Pisano (c. 1364-1430): escreveu obras literárias e filosóficas, nas quais defendia os direitos das mulheres. No Livro da Cidade de Senhoras, por exemplo, a autora criou uma cidade fictícia habitada por mulheres famosas da história;
• Joana d’Arc (c. 1412-1431): liderou uma tropa francesa na Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra. Sua tropa venceu a batalha de Orleans, feito decisivo para o fim da guerra. Por razões políticas e religiosas, foi acusada de praticar bruxaria e condenada à morte na fogueira em 1431, aos dezenove anos de idade. No século XX, foi canonizada pela Igreja Católica e tornou-se padroeira da França.

A Guerra dos Cem Anos

O longo período de luta entre a França e a Inglaterra, que foi de 1337 a 1453, é conhecido como a Guerra dos Cem Anos. Foi um conflito que, na verdade, durou cerca de 116 anos com inúmeras interrupções. Esse conflito envolveu disputas pelo trono francês e por territórios na rica região de Flandres. Ao longo do conflito, houve vitórias importantes de ambos os lados. Porém, no final, o exército francês expulsou os ingleses de quase todos os territórios da França.
Fatores principais – Os principais fatores que desencadearam essa guerra eram:
· A disputa pela posse de Flandres (atuais Bélgica e Países Baixos), rica região produtora de tecidos.
· As pretensões de Eduardo III, rei da Inglaterra, ao trono francês.
Até 1380, os ingleses conseguiram uma série de vitórias, conquistando uma parte do território francês. Mas o rumo da guerra mudou com o aparecimento da jovem Joana D’Arc, cuja coragem despertou o exército francês. O exército francês reanimou-se, libertou Orleans e conquistou muitas vitórias até que, em 1453, os ingleses foram definitivamente expulsos da França.

A cultura medieval

A Idade Média foi chamada pelos renascentistas de Idade das Trevas. Esse nome surgiu porque eles consideravam que naquele período da história europeia as artes e o conhecimento pouco teriam se desenvolvido. Mas será que o mundo medieval foi mesmo época de trevas, ignorância e escuridão?

Na verdade, os renascentistas desejavam salientar a diferença entre o momento em que viviam e o período anterior que, segundo eles, era dominado pela religião. Tudo era explicado pelos dogmas da Igreja católica, tudo ocorria conforme a vontade de Deus. Os renascentistas não desacreditavam na existência de Deus, mas desejavam colocar o ser humano no centro das artes e do conhecimento.
O historiador Roberto Lopez defendendo outro ponto de vista, afirma que a Idade Média ocidental foi “a grande caluniada”. Impingiram-lhe expressões como “Idade das Trevas”, “longa noite de mil anos” e outros tantos títulos pejorativos. Esses julgamentos parciais tendem a ser ultrapassados, pois a riqueza da cultura medieval salta aos olhos. Foi durante a Idade Média que ocorreram: o triunfo do cristianismo como força unificadora da Europa; o desenvolvimento das línguas e literaturas europeias; a criação das universidades, das catedrais, da arte gótica, da filosofia cristã, entre muitos outros eventos culturais.
Na época medieval, ainda não existia o conceito geográfico de Europa nem, portanto, de europeu. E como a maioria dos europeus tinha se convertido ao cristianismo, eles se denominavam simplesmente “cristãos”, tal era a sua identificação com a religião cristã. Foi só a partir do século XIV que o conceito geográfico e cultural de Europa começou a se firmar, substituindo, aos poucos, a noção de cristandade. Esse fato é uma expressão da importância do cristianismo dentro da sociedade medieval europeia. Sua influência impactou uma série de elementos culturais dessas sociedades: os costumes, a moral, as normas jurídicas, a produção literária, o ideal das figuras heroicas, a criação artística (música, pintura, escultura, arquitetura etc.).

A produção cultural na Idade Média

A partir dos séculos IV e V, como vimos, o Império Romano do Ocidente começou a se desestruturar. Crise econômica, dificuldades em manter as fronteiras e a invasão de povos inimigos, sobretudo de origem germânica, eram alguns dos problemas enfrentados pelos romanos.
Esse cenário contribuiu para uma transformação radical na vida cultural dos povos europeus. Com o tempo, os costumes romanos e germânicos se misturaram, dando origem ao mundo feudal. Nele, os mosteiros e as abadias tornaram-se um dos principais centros de produção cultural.
Além da produção teológica, essas instituições contribuíram para conservar a cultura da Antiguidade por meio do trabalho dos monges copistas, que passavam longo tempo reproduzindo manuscritos antigos.
Na Idade Média, assim como na Antiguidade, eram poucas as pessoas que sabiam ler e escrever. A maioria da leitura era feita em voz alta para um grupo de ouvintes, como nas missas. Por isso, os textos eram todos preparados para serem lidos em público, com imagens fortes e teatralizadas.
As pessoas mais instruídas pertenciam à Igreja, que controlava grande parte das atividades artísticas, literárias e intelectuais da época. O controle da leitura e da escrita era uma forma de a Igreja manter seu poder e de impedir que as pessoas pensassem diferentemente de seus dogmas.

A produção literária

A maior parte da literatura foi escrita em latim e tratava de temas religiosos. O principal objetivo dessa produção era comprovar a existência de Deus e da alma.
Nessa época, o universo era compreendido dentro de uma hierarquia de seres. No topo dessa hierarquia estava Deus, seguido pelos arcanjos, anjos, chegando até os seres humanos, os animais, os vegetais e os minerais. A concepção de um universo hierarquizado foi importante para justificar a ordem social existente, na qual os reis deviam obediência à Igreja, os servos aos senhores, etc.
As ideias dos filósofos gregos Platão e Aristóteles foram as que mais influenciaram o pensamento medieval. A obra dos gregos soma-se as de Santo Agostinho e de Santo Tomás de Aquino. Ensinado nas universidades, que surgiram a partir do século XII, esse conjunto de ideias ficou conhecido como Escolástica.
Por volta do século XII, começaria a surgir uma literatura não mais voltada apenas para a compreensão do universo cristão. Ela não seria escrita exclusivamente em latim, mas também na língua própria de cada região. Por exemplo, poemas narrando feitos heróicos sobre as batalhas de Carlos Magno foram escritos no idioma falado no norte de seu império.
Na península Itálica, no final do século XIII e início do século XIV, destacou-se o poeta Dante Alighieri, considerado o fundador da literatura italiana.

O conhecimento na Idade Média


A educação era controlada basicamente pelo clero católico. Além das escolas dos mosteiros, fundaram-se, no século XI, as escolas junto às catedrais. Quase todo o ensino estava sob o controle da Igreja e era voltado para a vida religiosa. Os primeiros estudos eram feitos em escolas que funcionavam nos conventos e nas Igrejas das vilas, onde se aprendia a ler e a escrever, noções de cálculo e canto religioso.
Posteriormente, surgiram as primeiras universidades, entre as quais destacaram-se as de Salerno, Paris, Oxford, Cambridge, Montpellier, Salamanca, Nápoles, Roma e Coimbra. Em todas elas havia a influência da Igreja na transmissão da cultura. As universidades medievais eram corporações que reuniam mestres e estudantes para o estudo de determinadas áreas do conhecimento. De modo geral, as aulas eram ministradas em latim e, basicamente, estudava-se Teologia (Filosofia), Ciências, Letras, Direito e Medicina. O estudante universitário podia tornar-se: bacharel (aprendiz de professor) licenciado (apto para o ensino) e doutor (professor de professores).
Na Idade Média, a maior parte dos estudos estava ligada à teologia. Os clérigos, os principais estudiosos, não tinham praticamente nenhum interesse pelo conhecimento da natureza. “Discutir a natureza e a posição da Terra”, disse Santo Agostinho, não nos auxilia em nossa esperança de vida futura. Interessava conhecer o mundo de Deus, já que a vida na terra era apenas um momento passageiro.
A vida intelectual concentrava-se nos mosteiros e o estudo do universo cristão permaneceu mais importante do que o estudo das ciências naturais.

Música sacra e popular

A música sofreu grande influência da Igreja Católica, sendo adaptada aos ideais religiosos do cristianismo. Na música sacra, destacou-se o canto gregoriano (introduzido pelo papa Gregório Magno), caracterizado por uma melodia simples e suave cantada em uníssono por várias vozes. Outro nome de destaque foi o do monge beneditino Guido d’Arezo (990-1050), que batizou as sete notas musicais, aproveitando para isso, as sílabas iniciais dos versos de um hino a São João Batista.
Na música popular, destacaram-se as canções dos trovadores e menestréis, inspiradas em temas românticos ou feitos heroicos dos cavaleiros. Surgida na França por volta do século XI, a canção trovadoresca espalhou-se para outros países da Europa, como Inglaterra, Alemanha, Portugal, Espanha e Itália.

Produções culturais: pintura e religião

A pintura medieval foi dominada por temas religiosos. Muitas obras desse período tinham como tema a vida dos santos, de Cristo e de Nossa Senhora. Nessa época, a pintura foi usada para ensinar a religião católica, pois a maioria das pessoas não sabia ler nem escrever. No século VI, por exemplo, o papa Gregório explicou em poucas palavras como a pintura podia servir a esse propósito. Segundo ele, a pintura seria o “livro dos analfabetos”. Isso quer dizer que os quadros expostos nas igrejas deviam fazer com que homens, mulheres e crianças pudessem ver o que ouviam nos sermões e não conseguiam ler nos livros.
Além dos quadros, a pintura de murais, vitrais e miniaturas também teve grande importância. Entre os pintores mais destacados estavam os italianos Giotto (1266-1337) e Cimabue (1240-1302).

Literatura

Na literatura destacaram-se: a poesia épica, a lírica, e o romance.
A poesia medieval procurou enaltecer os valores e as virtudes do cavaleiro: a justiça, o amor, a prudência e a cortesia. Na poesia épica, exaltava-se a ação corajosa dos cavaleiros em prol da cristandade. Na poesia lírica, exaltava-se o amor cortês dos cavaleiros em relação às suas damas.
O romance desenvolveu-se de várias formas. O de aventura refletia os ideais da aristocracia (fidelidade, bravura, etc.). Os foram Robin Hood (herói-bandoleiro) e o Ciclo da Távola Redonda.
Já o romance idílico destaca o amor e nesse gênero sobressaiu-se Tristão e Isolda, escrito por Gottfried Strasburgo.
Há que se destacar ainda os Fabliaux (fabulários), literatura urbana e burguesa que refletia novas concepções em relação à sociedade feudal e criticava a sociedade e as instituições.

Ciência e filosofia

A ciência medieval desenvolveu-se principalmente após o século XI, sob influência das Cruzadas. Diversas obras traduzidas do árabe e do grego influenciaram os estudos da matemática, da astronomia, da biologia e da medicina. Houve também avanços na arte da navegação, com a utilização da bússola, de mapas, do astrolábio e de outros instrumentos.
Um dos grandes nomes da ciência medieval foi o monge franciscano Roger Bacon (1214-1294), que introduziu a observação da natureza e a experimentação como métodos básicos do conhecimento científico. Conhecido como “Doutor Admirável”, Bacon desenvolveu estudos em diversos campos do saber (Geografia, Filosofia, Física). Bacon recomendava a observação e a experimentação como meios indispensáveis para chegar ao conhecimento. Isso lhe custou a condenação pela Igreja ao cumprimento de uma pena de catorze anos de prisão.
Na filosofia cristã, destacaram-se os pensadores Santo Agostinho (século IV) e Santo Tomás de Aquino (século XIII).
Em sua obra, Agostinho argumentou em favor da supremacia do espírito sobre o corpo, a matéria. Para ele, a alma foi criada por Deus para reinar sobre o corpo. Mas o ser humano, pecador, utilizando-se do livre-arbítrio, inverteu essa relação, fazendo o corpo assumir o governo da alma. Essa inversão resultou na submissão do espírito à matéria, o que seria, para ele, equivalente à submissão do eterno ao transitório, da essência a aparência.
Ao refletir sobre as diferenças entre fé cristã e razão, Agostinho defendia que a fé nos leva a crer em coisas nem sempre entendidas pela razão. Assim, muitas vezes era necessário crer para compreender, pois a fé ilumina os caminhos da razão.
Já Tomás de Aquino entendia que, se é correto que a verdade da fé ultrapassa as capacidades da razão humana, nem por isso os princípios básicos da razão podem estar em contradição com a fé. Assim, Aquino reviveu grande parte do pensamento do grego Aristóteles em busca de um conjunto de argumentos que se harmonizassem com a fé cristã. No caminho aberto por ele, a Escolástica – movimento que reunia as ideias de Tomás de Aquino – representou uma tentativa de conciliar fé e razão com base no pensamento de Aristóteles.

Cultura popular

Além da cultura “oficial”, promovida, em grande parte, pelas autoridades da Igreja e pelos governantes feudais, havia também muitas criações populares. Enquanto a cultura oficial era austera e consagrava a divisão social dominante, a cultura popular era impregnada de humor e sátira. Segundo o crítico literário Mikhail Bakhtin, o riso era condenado pelo cristianismo oficial da Idade Média. O tom sério era a forma de expressão da cultura oficial, que valorizava o medo, a veneração, a docilidade, a resignação e a permanência da tradição.
Já a cultura popular, com risos, alegria e irreverência, manifestava-se por meio de festejos carnavalescos (como as “Festas dos Loucos”) das encenações teatrais burlescas (cômica, satírica), dos gracejos dos “bufões” e “bobos”, das paródias literárias que recriavam trechos da Bíblia (evangelhos, salmos etc.), das orações e hinos religiosos, das lendas clássicas. Nessas atividades, as pessoas viviam e representavam seu mundo e promoviam o riso, divertindo o povo e criticando os costumes.

As artes

A arte medieval também era essencialmente religiosa. No campo das artes, destaca-se a arquitetura, com a construção de templos, igrejas, mosteiros e palácios.
Na arquitetura da Idade Média, predominaram dois estilos: o românico e o gótico.
As construções em estilo românico (século X, XI e XII) caracterizam-se pelos arcos redondos, paredes baixas e grossas, grandes colunas, janelas pequenas e interior pouco iluminado.
As construções em estilo gótico (final do século XII ao século XV) caracterizam-se pelos arcos em formato ogival, janelas maiores e mais numerosas, paredes altas e interior iluminado.
As janelas eram ornamentadas com belíssimos vitrais. Estes eram formados por pequenas placas de vidro colorido, unidas por chumbo, formando desenhos e mosaicos.
Na pintura, destacam-se as miniaturas ou iluminuras, feitas para ilustrar os manuscritos e os murais.
Os murais eram pinturas feitas nas paredes, geralmente retratando figuras religiosas.
Na escultura, utilizava-se o metal, o marfim e a pedra. Um grande número de imagens decorava o interior do templos.
A maior parte das obras de arte da Idade média não tem autoria definida. Isso porque, de acordo com o alto clero medieval, o verdadeiro autor era Deus, que por meio dos seres humanos, expressava suas vontades.

As Cruzadas

No final do século XI, a sociedade feudal começava a apresentar sinais de mudanças. A Igreja, principal instituição da Europa ocidental, enfrentava problemas com a corrupção de muitos de seus bispos e abades, que levavam uma vida luxuosa e abandonavam suas obrigações religiosas. Nos feudos, uma população cada vez mais numerosa não encontrava meios de produzir alimentos suficientes para todos.

Nesse contexto, surgiram as Cruzadas, uma espécie de guerra santa empreendida pelos católicos contra os muçulmanos que dominavam Jerusalém e outras regiões consideradas sagradas pelos cristãos no Oriente Médio. Além dos soldados treinados, as expedições eram acompanhadas por grupos não armados de monges, mulheres e crianças, que quase sempre morriam durante os combates ou pelo caminho, sofrendo com a fome e as doenças.
Nobres, camponeses, crianças, mendigos, enfim, grande parte da sociedade europeia se envolveria nesses combates, que se estenderam por mais de duzentos anos e representaram, para todos esses personagens, uma alternativa econômica e social.
Entretanto, a importância maior das Cruzadas está no fato de elas terem ajudado a iniciar um processo que colocaria fim ao isolamento da sociedade feudal. Ao mesmo tempo que cruzavam o continente e o mar Mediterrâneo e estabeleciam contatos com outros.

Convocação das Cruzadas

Durante a Idade Média, muitos cristãos costumavam ir em peregrinação aos locais onde Jesus Cristo viveu e fez suas pregações (Jerusalém, Belém, Nazaré, etc.). Esses locais, conhecidos como Terra Santa, eram considerados sagrados para os cristãos.
Em conseqüência do expansionismo dos povos árabes, Jerusalém foi tomada no ano de 638. Os árabes eram muçulmanos – acreditam em Alá como seu único Deus e no profeta Maomé –, mas toleravam os peregrinos cristãos.
Em 1071, entretanto, Jerusalém foi conquistada pelos turcos, também muçulmanos. Desde então passou a haver perseguição aos cristãos que iam visitar a Terra Santa.
Os turcos estavam expandindo os seus domínios e ameaçavam conquistar Constantinopla, capital do Império Bizantino, também de tradição cristã.
A tensão entre cristãos e muçulmanos levou o papa Urbano II a convocar uma expedição de retomada da Terra Santa. O papa, que acusava os turcos de assassinarem os peregrinos e profanarem os lugares santos, procurou encorajar os cristãos do Ocidente à guerra. Para viabilizar a expedição, convocou senhores feudais, bispos e a população em geral.
Os primeiros voluntários escolheram como símbolo da expedição uma cruz pintada nas suas roupas, daí o nome Cruzadas para esse movimento.

Para além da fé

O movimento das Cruzadas deve ser compreendido como parte do processo de mudanças do feudalismo durante a Baixa Idade Média.
A sociedade feudal era agrícola, autossuficiente, voltada apenas para a subsistência. Tal tipo de organização não conseguia atender às necessidades de uma população crescente. Assim, parte dessa população encontrava-se marginalizada, com muitas pessoas realizando ataques e saques aos castelos e às aldeias.
Seu objetivo declarado era libertar os cristãos e os lugares considerados sagrados, combatendo aqueles que ameaçavam o catolicismo, o poder do clero ou o domínio dos nobres. Assim, se para a Igreja católica as Cruzadas se apresentaram como uma oportunidade de reconquistar a Terra Santa e fortalecer o poder do papa, para muitos outros elas representaram uma alternativa tanto econômica quanto social. Algumas pessoas, por exemplo, aderiram às Cruzadas apenas porque viam nelas uma oportunidade de sair da vida miserável que levavam.
Entre os nobres, grande parte via nas Cruzadas uma possibilidade de aumentar sua fortuna, já que a região da Palestina era considerada de grande riqueza. Muitos jovens pertencentes à nobreza viam uma oportunidade de conquistar algo para si, já que, por não serem filhos primogênitos, não herdariam feudos.
Além das motivações religiosas e políticas, algumas expedições tiveram motivações econômicas, como a possibilidade de obter lucro com o saque de riquezas dos inimigos.

Combatendo pela fé

Foram realizadas ao todo oito Cruzadas num período de cerca de duzentos anos. A primeira, organizada pelo papa Urbano II, obteve algum êxito.
Para essa cruzada, organizaram-se exércitos em toda Europa. Oficialmente ela reuniu-se em Constantinopla em novembro de 1096. Era um exército imenso, conduzido por senhores feudais. Essa Cruzada conseguiu expulsar os turcos de grande parte da Terra Santa e fundar o Reino de Jerusalém.
Dos 300 mil cruzados que partiram de Constantinopla, apenas 40 mil chegaram à Palestina. Os demais morreram no caminho, em combate ou vítimas de doenças, fome, sede e calor; outros voltaram à Europa. Da parte dos turcos, as perdas também foram imensas: cerca de 10 mil acabaram massacrados em Jerusalém.
Após a derrota, os turcos passaram a atacar os cruzados com freqüência e conseguiram reconquistar a Terra Santa. Novas expedições foram então convocadas pelos cristãos. Entretanto, elas não tiveram o mesmo êxito da primeira.
Mal organizadas, sem liderança e divididas internamente por rivalidades entre nobres, várias Cruzadas não conseguiram chegar à Palestina. Na Segunda Cruzada, por exemplo, os combatentes, que vinham de diversas regiões da Europa, formaram grupos isolados e facilmente derrotados pelos turcos.
Os participantes da Quarta Cruzada, financiada por comerciantes venezianos, ao chegarem a Constantinopla, saquearam a cidade e invadiram as igrejas para tirar objetos de valor. Os saques provocaram o enfraquecimento do comércio de Constantinopla e o fortalecimento das cidades da península Itálica, que passaram a monopolizar o comércio de especiarias no mediterrâneo.
Com a Quarta Cruzada ficou claro que além de motivos religiosos, os cruzados estavam mobilizados também por interesses econômicos.

A Cruzada das crianças

Diante das constantes derrotas e do desvio do objetivo religioso das Cruzadas, difundiu-se a lenda que o Santo Sepulcro – local onde, segundo a Bíblia, Jesus Cristo foi sepultado – só poderia se conquistado por crianças, pois elas eram isentas de pecados. Em 1212, 20 mil crianças germânicas e 30 mil francas foram reunidas e encaminhadas a Jerusalém. Muitas dessas crianças acabaram morrendo pelo caminho, outras foram assassinadas ou aprisionadas e vendidas como escravas nos mercados do Oriente. Em resumo, a expedição foi um grande fracasso.

Consequências das Cruzadas

Apesar de não terem alcançado totalmente seu objetivo religioso, as Cruzadas promoveram grandes mudanças em toda a Europa, como a reabertura do Mediterrâneo à navegação e ao comércio europeu. Isso possibilitou a intensificação do comércio entre o Ocidente e o Oriente, interrompida em grande parte pela expansão muçulmana.
Cada Cruzada teve suas próprias características e consequências.
De modo geral, podemos dizer que as Cruzadas contribuíram para:
• o empobrecimento de alguns senhores de terras, que tiveram suas economias arrasadas pelos custos das guerras;
• o fortalecimento do poder real, que aumentou à medida que os senhores feudais perderam sua força;
• o desenvolvimento do comércio entre certas regiões da Europa e do Oriente.
As conquistas cristãs no Oriente duraram pouco, pois os territórios foram sendo reconquistados pelos muçulmanos a partir do século XIII. Esses conflitos geraram ressentimentos entre cristãos e muçulmanos que, de certo modo, permanecem até hoje e ainda são usados com objetivos políticos.


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