domingo, 24 de setembro de 2023

A Reforma Religiosa ou Protestante

 A Reforma religiosa foi o movimento que, dividindo os cristãos do Ocidente no século XVI, originou diversas novas igrejas camadas protestantes, as quais não mais seguiram o comando e a orientação do papa de Roma. Quebrando a unidade religiosa cristã, a Reforma protestante estabeleceu o fim da quase milenar supremacia eclesiástica na Europa. Pode-se mesmo dizer que a Reforma foi, no plano espiritual, aquilo que o Renascimento representou nas transformações culturais que inauguraram o novo mundo do capitalismo comercial.

Atualmente, os cristãos representam cerca de 30% da população mundial, porém não formam um grupo homogêneo. Existem vários ramos do cristianismo, sendo mais numerosos os formados por católicos, ortodoxos e protestantes.

Os católicos são seguidores da Igreja Católica Romana, que tem suas origens no século I d.C., sediada em Roma, no atual Estado do Vaticano. Chefiada pelo papa, essa Igreja é a maior instituição cristã do mundo, reunindo cerca de 1,3 bilhões de fiéis. Os ortodoxos surgiram no século XI com a separação entre a Igreja Católica do Ocidente (com sede em Roma) e a Igreja Católica do Oriente (com sede em Constantinopla). Atualmente, a Igreja Ortodoxa possui cerca de 250 milhões de seguidores em diferentes países, sobretudo da Europa Oriental e da Ásia – como Romênia e Rússia. Os protestantes surgiram no século XVI, após cristãos da Europa Ocidental romperem com a Igreja Católica Romana.

As Origens do Movimento Reformista

Diversos fatores conjugaram-se para dar início à Reforma religiosa do século XVI.  Um deles era a posição que a Igreja conservava de maior proprietária de terras em toda Europa: controlava, por exemplo, perto de 1/3 das terras francesas e mais de 40% das terras férteis alemãs. A Igreja Católica acumulou grande riqueza e poder, o que proporcionou uma vida luxuosa, sobretudo para o papa e os membros do alto clero. A riqueza ostentada pelo clero contrastava com a miséria da maioria dos fiéis e com alguns valores católicos, como a simplicidade e a humildade. A Igreja representava muito do que restava da ordem feudal medieval. Dessa forma, tudo o que se opunha à velha estrutura feudal, colocava-se contrário ao poder de Roma.
Em cada reino do da Idade Moderna, o papa era visto como um estrangeiro que arrecadava os impostos cobrados em seus feudos, além de diversos outros tributos extraídos de todos os cristãos, para enviá-los a Roma, dificultando as finanças nacionais. Os reis fortalecidos com o desenvolvimento dos Estados nacionais, opunham-se a tal situação, favorecendo atitudes contrárias à Igreja e seus eclesiásticos.
Outro fator que contribuiu para o movimento reformista foi a existência de dois sistemas teológicos, dado significativo para a divisão espiritual dos cristãos. A Igreja de Roma continuava seguindo a teologia de São Tomás de Aquino (tomismo), típica da Baixa Idade Média, com seus clérigos defendendo o princípio do livre arbítrio, ou seja, a concepção de que cada indivíduo escolhe a sua salvação ou o caminho da perdição. Assim, o tomismo dava ao homem o poder de fazer o bem e evitar o mal, cabendo aos sacerdotes a tarefa de fornecer os sacramentos e orientar seus fiéis na escolha do caminho da salvação. Já os reformadores basearam suas na teologia agostiniana, sustentada na predestinação e na fé do indivíduo.
Nas relações econômicas, a Igreja defendia o “justo preço”, ou seja, o valor de um produto não deveria incluir lucro, apenas os seus custos. Condenava a prática da usura e a obtenção de lucros. Essa postura descontentava profundamente o seguimento burguês da sociedade europeia que retirava seu meio de vida das atividades lucrativas.
Finalmente, o desregramento moral que predominava sobre a hierarquia eclesiástica aumentou a descrença da população mais humilde com relação à Igreja e a seus representantes. Era uma prática constante a venda de cargos eclesiásticos, levando sacerdotes, bispos, arcebispos e até papas a exercerem seus cargos pela ambição do título e da posição, estimulando o mau comportamento dos clérigos e o descrédito entre os fiéis. Apesar de a Igreja Católica afirmar que os sacerdotes eram intermediários entre Deus e os fiéis, muitos deles não tinham boa formação religiosa nem escolar.
A venda de indulgência, por parte das autoridades da Igreja, intensificou a desmoralização. A fim de manter o luxo dos eclesiásticos, especialmente da corte pontifícia, a Igreja comercializou o perdão a pecados cometidos, com promessas de redução das penas do purgatório. Desse modo, os fiéis poderiam comprar sua “entrada para o reino do céu”. Além disso, vendia cargos religiosos e até vários sacerdotes enganavam os fiéis vendendo-lhes objetos falsificados como se fossem relíquias sagradas, por exemplo: “espinhos da coroa de Cristo”, “pedaços de madeira da cruz em que Jesus morreu”, “pedaços do tecido do manto sagrado”, “ossos do burrico de São José”. Essa comercialização desregrada transformou-se no estopim do movimento protestante. 

Ética da burguesia

A Igreja Católica recomendava aos comerciantes a prática de preços justos, evitando os lucros desenfreados. Além disso, a Igreja condenava a usura, que é a prática de cobrar juros sobre empréstimos. Isso porque alguns teólogos católicos consideravam que o “tempo” pertencia a Deus e, por isso, não se podia cobrar juros sobre o tempo em que o dinheiro permanecia emprestado.
A atitude da Igreja Católica de condenar a cobrança de juros e controlar os preços das mercadorias incomodava os burgueses, que se preocupavam basicamente em expandir seus negócios e aumentar seus lucros. Por isso, muitos burgueses passaram a apoiar uma nova ética que valorizasse suas práticas econômicas ao invés de criticá-las.

Estados nacionais

Com a consolidação dos Estados nacionais, alguns príncipes e reis passaram a encarar o papa e outras autoridades católicas como “estrangeiros” que interferiam em assuntos de seu país. Isso aconteceu, por exemplo, em regiões da Europa que atualmente correspondem a Alemanha, Dinamarca, Noruega, Suécia, Suíça, Holanda, Inglaterra e Escócia.
Na época, a Igreja Católica divulgava suas doutrinas em latim, possuía grandes propriedades de terras e enviava o dinheiro que recebia dos fiéis para sua sede em Roma. Entretanto, os novos monarcas tinham interesse em ampliar seus territórios, exercer sua autoridade, impedir que recursos saíssem de seus reinos e fortalecer a língua nacional de seu Estado. Assim, a ruptura com a Igreja Católica e as mudanças nas doutrinas religiosas favoreceriam os interesses de alguns monarcas.

Interpretações da Bíblia

Durante o período medieval, a Bíblia (livro sagrado do cristianismo) era escrita em latim e interpretada, principalmente, por sacerdotes católicos.
Além disso, existiam poucos exemplares da Bíblia, que eram copiados à mão e custavam caro.
A partir do século XV, isso foi mudando devido a dois fatores principais: a invenção da imprensa e as traduções da Bíblia, que passaram a ser escritas também nos idiomas nacionais dos Estados. A imprensa que utilizava tipos móveis de metal foi inventada pelo alemão Johann Gutenberg (1398-1468). Essa invenção facilitou a reprodução gráfica, aumentando a produção de livros e barateando seus preços. Desse modo, não era mais necessário saber latim para entender os textos sagrados. Com essas inovações, a Bíblia chegou a um número maior de leitores, que fizeram novas interpretações, às vezes diferentes dos ensinamentos dos sacerdotes católicos.

Os Precursores da Reforma

Antes que o prestígio da Igreja atingisse uma feição separatista, alguns intelectuais e membros da Igreja apresentaram propostas reformistas que visavam conter os abusos.
John Wyclif, professor da Universidade de Oxford, condenava a venda de indulgências e defendia a formação de uma Igreja nacional. Essas propostas foram retomadas pelo professor da Universidade de Praga, John Huss.
Tanto Wyclif quanto Huss foram perseguidos e excomungados pela Igreja de Roma. Suas idéias, porém, foram assimiladas por muitos cristãos que passaram a contestar enfaticamente a autoridade do papa.

O Reformismo de Lutero

Em 1517, na Alemanha, o monge e professor da universidade de Wittenberg Martinho Lutero (1483-1546) iniciou um movimento de ruptura com a Igreja Católica. Aos 22 anos, entrou para a ordem dos agostinianos, um grupo religioso católico inspirado pelas ideias de Santo Agostinho (354-430).
Lutero, rebelou-se contra o vendedor de indulgências João Tetzel, dominicano a serviço do papa Leão X, que recolhia recursos para a construção da Basílica de São Pedro. Lutero, revoltado com a desmoralização da Igreja, fixou na porta de sua igreja as 95 teses, onde criticava ferozmente a Igreja papal.
Em 1527, Lutero publicou um manifesto (95 teses) condenando as práticas da Igreja Católica. Entre os princípios da doutrina luterana, destacam-se:
• o direito dos fiéis ao livre exame das Escrituras Sagradas (Bíblia);
• a fé cristã como único caminho para a salvação eterna;
• a Bíblia como a única fonte para a fé;
• o batismo e a eucaristia como os dois únicos sacramentos;
• não aceitação do culto aos santos católicos, da adoração de imagens e da autoridade universal do papa.
Em 1520, Leão X ordenou a sua retratação, sob pena de ser considerado um herege. Lutero queimou em praça a orem papal, sendo excomungado (1521).
Apesar de consideradas heréticas pelo clero romano, as ideias luteranas espalharam-se rapidamente por toda a Alemanha, onde encontraram condições particularmente favoráveis para a sua difusão. Nobres e camponeses apoiaram Lutero; os nobres ambicionando apoderar-se das terras da Igreja e ampliar seus poderes abalados com a decadência feudal; os camponeses, desejando escapar da situação de miséria em que viviam.
Parte destes camponeses, conhecidos por anabatistas e comandada por um seguidor de Lutero, chamado Thomas Müntzer, reivindicava a divisão das terras da Igreja entre os mais pobres. Lutero acusou-os de radicais e apoiou violenta repressão da nobreza sobre eles, resultando na morte de mais de 100 000 camponeses.

Reação católica

Os líderes católicos reagiram à doutrina luterana e decidiram expulsar Lutero da Igreja Católica. Fugindo de perseguições, Lutero refugiou-se no castelo de um príncipe, onde traduziu a Bíblia para o alemão.
O imperador alemão, Carlos V, inquieto com a evolução reformista, apoiou o papa, pois julgava o luteranismo um fortalecedor dos nobres. Depois de muitos confrontos entre as tropas imperiais e os luteranos alemães liderados pela nobreza, Carlos V convocou uma dieta (assembleia), realizada em Spira (1529). Nela o imperador tentou fazer valer sua autoridade e determinou a submissão dos luteranos.
As ideias de Lutero ganharam seguidores entre camponeses, trabalhadores urbanos, burgueses e nobres do norte da Europa. Em 1529, nobres alemães luteranos protestaram contra as medidas da Igreja Católica que impediam cada Estado de escolher a própria religião. A partir daí, o nome protestante passou a designar os cristãos não católicos seguidores das novas igrejas que surgiram nesse período.
Somente em 1555 os príncipes alemães ganharam o direito de escolher a religião que desejavam em suas terras, confirmando o triunfo do luteranismo na Alemanha. Essa decisão foi alcançada graças a um acordo assinado entre o imperador católico e os nobres protestantes, o que foi chamado de Paz de Augsburgo.
Em meio à expansão luterana na Alemanha e aos conflitos com o imperador Carlos V, em 1530, Felipe de Melanchton, discípulo de Lutero, redigiu a Confissão de Augsburgo, definindo o credo dos protestantes. A doutrina tinha por base a teologia agostiniana, defendendo a fé, como única fonte de salvação, e o princípio da predestinação. Afirmava que o homem vinha ao mundo predestinado por Deus à salvação ou à perdição, e a fé era a prova divina dos bem-escolhidos. Para os luteranos a Bíblia era a autêntica base da religião e, portanto, o culto devia reduzir-se à leitura e ao comentário das Sagradas Escrituras. Também só deviam ser conservadas as práticas instituídas por Cristo e por ele transmitidas através do Novo Testamento.
Na mesma ordem de ideias, foi negada a existência de sete sacramentos, reconhecendo apenas dois: batismo e eucaristia. Não aceitavam o culto da Virgem e dos santos e negavam a existência do purgatório. Nos cultos religiosos adotaram a língua nacional no lugar do latim e os ministros religiosos deveriam integrar-se o mais possível na comunidade dos fiéis, abolindo o celibato clerical.

A Reforma Calvinista

João Calvino (1509-1564) nasceu em Noyon, na França. Era católico e estudou teologia e direito. Durante a juventude, recebeu a influência dos reformadores protestantes de sua época, como Lutero. Mas, posteriormente, criou seu próprio movimento reformista, chamado de calvinismo. João Calvino publicou, em 1536, uma obra chamada Instituição Cristã, na qual se acham apresentados os pontos centrais do que, mais tarde, viria a constituir-se na doutrina calvinista.
Em razão de sua doutrina, Calvino foi perseguido pelas autoridades católicas francesas e fugiu para a Suíça, onde se tornou líder do governo da cidade de Genebra, de 1541 a 1560. Suas pregações obtiveram rápido sucesso em Genebra, Suíça, onde conquistou a posição de chefe político e religioso. Governando Genebra como senhor absoluto e de forma intransigente. Calvino criou o Consistório, órgão que controlava a política, a economia e os costumes dos seus cidadãos. Em Genebra, o governo calvinista exigiu dos habitantes um comportamento moral rigoroso, incluindo a proibição do jogo, do culto às imagens de santos, das danças, do uso de roupas luxuosas e de joias. Assim, os calvinistas pregavam que os cristãos deveriam trabalhar muito, evitar gastos desnecessários e orar a Deus. 
O culto e as práticas religiosas estabelecidos pelos calvinistas eram simples, resumindo-se apenas no comentário da Bíblia, preces e cantos. Também não se admitiam imagens e só se aceitavam os sacramentos da eucaristia e do batismo. Os pastores (ministros do culto) não eram tidos como intermediários entre Deus e os homens, mas simples fiéis, encarregados da pregação e das preces.
Defendendo a predestinação, Calvino via no sucesso econômico a indicação divina dos escolhidos para a salvação eterna. Explicava que algumas pessoas eram eleitas por Deus para serem salvas e ninguém poderia interferir no plano divino. Para ele, a miséria era a fonte de todos os males e pecados. Reconhecendo e exaltando o lucro e o trabalho, passou a ser considerado o pregador espiritual do ideal burguês. A doutrina calvinista, adequada às expectativas capitalistas, conseguiu rápida assimilação pelo segmento burguês em toda a Europa. 
O calvinismo espalhou-se por regiões da França, Inglaterra e Escócia, dando origem a outras correntes religiosas que ficaram conhecidas, respectivamente, como huguenotes, puritanos e presbiterianos.
Os seguidores de Calvino na Escócia tiveram como principal pregador John Knox e adotaram o nome de presbiterianos, por organizarem sua Igreja a partir de conselhos, chamados presbíteros.
Na Inglaterra os calvinistas foram chamados de puritanos, os predestinados, e na França, huguenotes. Em outros países, como Holanda e Dinamarca, o calvinismo ganhou inúmeros adeptos, confirmando o sucesso da doutrina diante do progresso econômico capitalista.
No livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, o sociólogo Max Weber (1864-1920) argumentou que os ideais calvinistas favoreciam os interesses da burguesia e do capitalismo, pois estimulavam o trabalho e o acúmulo de riquezas, além de defenderem o lucro.
Weber é considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu trabalho destacou-se por analisar dimensões do capitalismo na modernidade, como a preocupação com a eficiência dos resultados, baseada em cálculos e planejamentos para a redução de riscos.

Henrique VIII e o Anglicanismo

No século XVI também ocorreu uma reforma religiosa na Inglaterra, conduzida pelo próprio rei Henrique VIII (1509-1547). Dessa reforma surgiu a Igreja Anglicana. Desejando apoderar-se das terras da Igreja inglesa, retirando, assim, a base de seu poder temporal, o monarca inglês rompeu com o papa.
Henrique VIII da Inglaterra
Um dos principais motivos da ruptura entre o rei inglês e a Igreja Católica foi a disputa pelo poder. O monarca pretendia limitar a influência da Igreja Católica, que também era proprietária de muitas terras na Inglaterra. 
O pretexto usado para isso foi o fato de o rei precisar casar-se novamente, pois, do casamento com Catarina de Aragão, não tivera filhos para sucedê-lo no trono. Isso não podia ser autorizado pela Igreja, que defendia a indissolubilidade do sacramento do matrimônio. Diante da recusa do papa, Henrique VIII rompeu com a Igreja Católica e casou-se novamente com a aprovação do Parlamento inglês. Henrique VIII proclamou-se, por meio do Ato de Supremacia, em 1534, chefe da Igreja inglesa suprimindo os mosteiros católicos e confiscando os bens eclesiásticos, que foram incorporados ao Estado.
O papa Paulo III (1468-1549) reagiu, excomungando o rei inglês. Porém, não conseguiu impedir a criação da Igreja Anglicana. Desse modo, o anglicanismo tornou-se a religião oficial do Estado. Houve perseguições aos fiéis e às autoridades católicas. Porém, muitos católicos continuaram a viver no reino, embora não pudessem praticar livremente sua religião. Muito parecida com a Igreja católica em sua estrutura eclesiástica e no cerimonial, a Igreja inglesa, chamada anglicana, só se consolidaria durante o reinado de Elizabeth. Em 1563 organizou-se a lei dos 39 artigos, a verdadeira carta do anglicanismo, incorporando muitos princípios da doutrina calvinista.

A Contrarreforma ou a Reforma Católica

A expansão do protestantismo abalou seriamente a tradicional hegemonia religiosa de Roma sobre o continente europeu. Para conter a difusão das ideias protestantes surgiu um movimento denominado Contra reforma, que ao mesmo tempo buscava fortalecer a Igreja papal e moralizá-la, adotando medidas que compuseram a reforma católica. Assim, verifica-se que também o catolicismo foi obrigado a adequar-se aos novos valores, decorrentes do desenvolvimento do capitalismo comercial.
A reação da Igreja Católica ao protestantismo incluiu medidas como:
• repressão aos protestantes: na França, por exemplo, ocorreu o episódio conhecido como a Noite de São Bartolomeu (1572), quando milhares de huguenotes foram massacrados pelos católicos;
• criação da Ordem dos Jesuítas: o militar e religioso espanhol Inácio de Loyola fundou a Companhia de Jesus (1534), também chamada de Ordem dos Jesuítas. Os jesuítas consideravam-se “soldados da Igreja” com a missão principal de combater o protestantismo e expandir o catolicismo na Europa e em outras partes do mundo. Os jesuítas seguiam disciplina militar, constituindo um grupo bem formado e disciplinado, cuja missão principal era combater infiéis e protestantes. A importância que esses religiosos atribuíram à educação fez com que monopolizassem as instituições de ensino de diversas regiões, visando primordialmente difundir a ideologia católica romana. Para cumprir sua missão, os jesuítas criaram escolas religiosas e catequizaram povos dos continentes americano, asiático e africano;
 • convocação do Concílio de Trento (1545-1563): convocado pelo Papa Paulo III, no qual se discutiram os problemas do cristianismo e se definiu a atuação da Igreja diante da expansão protestante, também fez parte do movimento contra reformista e a Reforma católica. Depois de anos de trabalho, os membros do concílio reafirmaram pontos básicos da doutrina católica, como os sete sacramentos, a autoridade do papa e as fontes da fé cristã católica, sendo a Bíblia a principal fonte da doutrina religiosa e sua interpretação correta atribuída ao clero católico. A partir do Concílio de Trento reafirmaram-se os dogmas e preceitos tomistas do catolicismo, como o livre arbítrio – a salvação decorre da conjugação da fé do indivíduo e das obras que realiza –, e a infabilidade do papa. Em contraposição, proibiu-se a venda de indulgências e, visando a melhor formação dos clérigos, determinou-se a criação de seminários e a proibição da venda de cargos eclesiásticos. Em Trento, também ficou estabelecido o fortalecimento do Santo Ofício da Inquisição, no sentido de vigiar e normatizar a fé e a vida dos fiéis. 
Ilustração de cenas da inquisição
• volta da Inquisição: a perseguição inquisitorial a todos os que, de acordo com seus critérios, pusessem em risco a fé em Cristo assumiu muitas vezes um caráter de tortura e morte de milhares de pessoas.  Além disso, a Igreja Católica elaborou, em 1559, o Index librorum prohibitorum, uma lista de livros proibidos aos católicos. Dessa lista constavam, por exemplo, obras de Galileu Galilei, Giordano Bruno, Isac Newton, Nicolau Copérnico e todas as obras de autores protestantes.
Finalmente, com a elaboração do Índex (relação de livros proibidos aos católicos), a Igreja católica buscava impedir a difusão das ideias protestantes e das vozes discordantes do seu ideário religioso. O lado censor do index ao longo do tempo revelou-se um sério entrave ao progresso cultural e científico da Idade Moderna.

Difusão das reformas religiosas

O protestantismo se difundiu rapidamente pelo continente europeu, conquistando vários seguidores. Em aproximadamente 50 anos, cerca de 40% dos europeus ocidentais se tornaram protestantes. 
No atual Brasil, o protestantismo ganhou novos ramos com as Igrejas evangélicas, que se baseiam nos poderes do Espírito Santo para fazer milagres, como curar doenças, promover a prosperidade e expulsar o mal da vida dos fiéis. Segundo levantamento estatístico realizado em 2020 pelo Instituto Datafolha, cerca de 31% dos brasileiros se declaram evangélicos, enquanto por volta de 50% da população se declara católica.

A Reforma Religiosa

 "O que foi a Reforma Religiosa?

No século XVI a Europa foi abalada por uma série de movimentos religiosos que contestavam abertamente os dogmas da igreja católica e a autoridade do papa. Estes movimentos, conhecidos genericamente como Reforma, foram sem dúvida de cunho religioso. No entanto, estavam ocorrendo ao mesmo tempo que as mudanças na economia européia, juntamente com a ascensão da burguesia. Por isso, algumas correntes do movimento reformista se adequavam às necessidades religiosas da burguesia, ao valorizar o homem “empreendedor” e ao justificar a busca do “lucro”, sempre condenado pela igreja católica.

Os fatores que desencadearam a Reforma.

Uma das causas importantes da Reforma foi o humanismo evangelista, crítico da Igreja da época. A Igreja havia se afastado muito de suas origens e de seus ensinamentos, como pobreza, simplicidade, sofrimento.
No século XVI, o catolicismo era uma religião de pompa, luxo e ociosidade. Surgiram críticas em livros como o Elogio da Loucura (1509), de Erasmo de Rotterdam, que se transformaram na base para que Martinho Lutero efetivasse o rompimento com a igreja católica.
Moralmente, a Igreja estava em decadência: preocupava-se mais com as questões políticas e econômicas do que com as questões religiosas. Para aumentar ainda mais suas riquezas, a Igreja recorria a qualquer subterfúgio, como, por exemplo, a venda de cargos eclesiásticos, venda de relíquias e, principalmente, a venda das famosas indulgências, que foram a causa imediata da crítica de Lutero. O papado garantia que cada cristão pecador poderia comprar o perdão da Igreja.
A formação das monarquias nacionais trouxe consigo um sentimento de nacionalidade às pessoas que habitavam uma mesma região, sentimento este desconhecido na Europa feudal, Esse fato motivou o declínio da autoridade papal, pois o rei e a nação passaram a ser mais importantes.
Outro fator muito importante, ligado ao anterior, foi a ascensão da burguesia, que, além do papel decisivo que representou na formação das monarquias nacionais e no pensamento humanista, foi fundamental na Reforma religiosa. Ora, na ideologia católica, a única forma de riqueza era a terra; o dinheiro, o comércio e as atividades bancárias eram práticas pecaminosas; trabalhar pela obtenção do lucro, que é a essência do capital, era pecado. A burguesia precisava, portanto, de uma nova religião, que justificasse seu amor pelo dinheiro e incentivasse as atividades ligadas ao comércio.
A doutrina protestante, criada pela Reforma, satisfazia plenamente os anseios desta nova classe, pois pregava o acúmulo de capital como forma de obtenção do paraíso celestial. Assim, grande parte da burguesia, ligada às atividades lucrativas, aderiu ao movimento reformista.

Por que a Reforma começou na Alemanha?

No século XVI, a Alemanha não era um Estado politicamente centralizado. A nobreza era tão independente que cunhava moedas, fazia a justiça e recolhia impostos em suas propriedades. Para complementar sua riqueza, saqueava nas rotas comerciais, expropriando os mercadores e camponeses.
A burguesia alemã, comparada à dos países da Europa, era débil: os comerciantes e banqueiros mais poderosos estabeleciam-se no sul, às margens do Reno e do Danúbio, por onde passavam as principais rotas comerciais; as atividades econômicas da região eram a exportação de vidro, de metais e a “indústria” do papel; mas o setor mais forte da burguesia era o usurário.

Quem se opunha à igreja na Alemanha.

A igreja católica alemã era muito rica. Seus maiores domínios se localizavam às margens do Reno, chamadas de “caminho do clero”, e eram estes territórios alemães que mais impostos rendiam à Igreja.
A Igreja era sempre associada a tudo que estivesse ligado ao feudalismo. Por isso, a burguesia via a Igreja como inimiga. Seus anseios eram por uma Igreja que gastasse menos, que absorvesse menos impostos e, principalmente, que não condenasse a prática de ganhar dinheiro.
Os senhores feudais alemães estavam interessados nas imensas propriedades da Igreja e do clero alemão.
Os pobres identificavam a Igreja com o sistema que os oprimia: o feudalismo. Isto porque ela representava mais um senhor feudal, a quem deviam muitos impostos. Às vésperas da Reforma, a luta de classes e política acabou assumindo uma forma religiosa. "

Lutero e a Reforma

Lutero protestou violentamente contra tal comércio e, em 1517, afixou na porta da igreja de Wittenberg, onde era mestre e pregador, 95 proposições onde, entre outras coisas, condenava a prática vergonhosa da venda de indulgências. O papa Leão X exigiu uma retratação, sempre recusada.
Lutero e as reformas
Lutero foi excomungado e reagiu imediatamente, queimando em público a bula papal (documento de excomunhão) Frederico, príncipe eleito da Saxônia e protetor de Lutero, recolheu-o em seu castelo, onde o pensador religioso desenvolveu suas ideias. As principais foram:
• A justificação pela fé, pela qual as aparências têm valor secundário. A única coisa que salva o homem é a fé. Sem ela, de nada valem as obras de piedade, os preceitos e as regras. O homem está só diante de Deus, sem intermediários: Deus estende ao homem sua graça e salvação; o homem estende para Deus sua fé.
• Por isso a Igreja não tem função, o papa é um impostor, a hierarquia eclesiástica, uma inutilidade.
• Outra ideia de Lutero era o livre exame. A Igreja era considerada incompetente para salvar o homem; por isso sua interpretação das Sagradas Escrituras não era válida: Lutero queria que todos os homens tivessem acesso à Bíblia (por isso a traduziu do latim para o alemão). Todo homem poderia interpretar a Bíblia segundo sua própria consciência, emancipando-se no plano da ideologia religiosa.

Reforma de Calvino

"Enquanto a Reforma luterana se disseminava pela Alemanha, os franceses tentavam elaborar uma reforma mais pacífica, orientada pelos humanistas. Mas os setores católicos conservadores, que dominavam a Universidade de Sorbone, impediram o trabalho dos humanistas, preparando terreno para uma reforma muito mais radical e intransigente, liderada por João Calvino.
Calvino era ex-aluno da Universidade de Paris, nascido em 1509 de uma família pequeno-burguesa e estudioso de leis. Em 1531 aderiu às idéias reformistas, bastante difundidas nos meios cultos da França. Perseguido por causa de suas idéias, foi obrigado a fugir para a cidade de Basiléia, onde publicou, em 1536. a Instituição da Religião Cristã, definindo seu pensamento. Calvino, como Lutero, partia da salvação pela fé, mas suas conclusões eram bem mais radicais; o homem seria uma criatura miserável, corrompida e cheia de pecados; somente a fé poderia salvá-lo, embora essa salvação dependesse da vontade divina — esta era a “ideia da Predestinação”.
Calvino foi para a Suíça, estabelecendo-se em Genebra, em 1536. A Suíça já conhecia o movimento reformista através de Ulrich Zwinglio e era um lugar propício para Calvino desenvolver suas ideias. Mas o fator principal para a difusão do calvinismo na Suíça foi a concentração, nesta região, de um número razoável de comerciantes burgueses, desejosos de uma doutrina que justificasse suas atividades lucrativas.
Calvino transformou-se num verdadeiro ditador político, religioso e moral de Genebra. Formou um consistório (espécie de assembléia), composto por pastores e anciãos, que vigiava os costumes e administrava a cidade, inteiramente submetida à lei do evangelho. Eram proibidos o jogo a dinheiro, as danças, o teatro, o luxo.
Calvino ofereceu uma doutrina adequada à burguesia capitalista, pois dizia que o homem provava sua fé e demonstrava sua predestinação através do sucesso material, do enriquecimento. Defendia o empréstimo de dinheiro a juros, considerava a pobreza como sinal do desfavor divino e valorizava o trabalho, o que ia ao encontro dos anseios da burguesia, que tinha no trabalho o elemento necessário para acumular o capital.

Contra-reforma ou Reforma Católica

"A situação da igreja católica, em meados do século XVI, era bastante difícil: ela perdera metade da Alemanha, toda a Inglaterra e os países escandinavos; estava em recuo na França, nos Países Baixos, na Áustria, na Boêmia e na Hungria.
A Contra-Reforma, ou Reforma católica, foi uma barreira colocada pela Igreja contra a crescente onda do protestantismo. Para enfrentar as novas doutrinas, a igreja católica lançou mão de uma arma muito antiga: - a Inquisição - O Tribunal da Inquisição foi muito poderoso na Europa nos séculos XIII e XIV, No decorrer do século XV, porém, perdeu sua força. Entretanto, em 1542 este tribunal foi reativado para julgar e perseguir indivíduos acusados de praticar ou difundir as novas doutrinas protestantes.
Percebendo que os livros e impressos tinham sido muito importantes para a difusão da ideologia protestante, o papado instituiu, em 1564, o Index, uma lista de livros elaborada pelo Santo Ofício, cuja leitura era proibida aos fiéis católicos.
Estas duas medidas detiveram o avanço do protestantismo, principalmente na Itália, na Espanha e em Portugal.
Para remediar os abusos da Igreja e definir com clareza sua doutrina, organizou-se o Concilio de Trento (1545-1563). O Concilio tomou uma série de medidas, entre as quais citamos:
• Organizou a disciplina do clero: os padres deveriam estudar e formar-se em seminários. Não poderiam ser padres antes dos 25 anos, nem bispos antes dos 30 anos.
• Estabeleceu que as crenças católicas poderiam ter dupla origem: as Sagradas Escrituras (Bíblia) ou as tradições transmitidas pela Igreja; apenas esta estava autorizada a interpretar a Bíblia. Mantinham-se os princípios de valia das obras, o culto da Virgem Maria e das imagens.
• Reafirmava a infalibilidade do papa e o dogma da transubstanciação.
A conseqüência mais importante deste Concilio foi o fortalecimento da autoridade do papa, que, a partir de então, passou a ter a palavra final sobre os dogmas defendidos pela igreja católica.
A partir da Contra-Reforma surgiram novas ordens religiosas, como a Companhia de Jesus, fundada por Ignácio de Loyola em 1534. Os jesuítas se organizaram em moldes quase militares e fortaleceram a posição da Igreja dentro dos países europeus que permaneciam católicos. Criaram escolas, onde eram educados os filhos das famílias nobres; foram confessores e educadores de várias famílias reais; fundaram colégios e missões para difundir a doutrina católica nas Américas e na Ásia. "

IMPACTOS POLÍTICOS E ECONÔMICOS DA REFORMA

A Reforma Protestante trouxe importantes mudanças culturais, criando novas práticas religiosas dentro da cristandade. Mas também transformou outros aspectos da vida em sociedade.
Do ponto de vista político, as religiões protestantes reduziram a influência do papa e das demais autoridades católicas em muitas regiões da Europa. Com isso, governantes de territórios que se converteram ao protestantismo apossaram-se de propriedades da Igreja e passaram a impor sua autoridade sem a antiga interferência da instituição, fortalecendo seus poderes.
Outro efeito político importante da Reforma foi a eclosão de revoltas populares, como o movimento dos anabatistas em regiões da atual Alemanha. Camponeses passaram a seguir líderes religiosos que defendiam propostas de transformação radical da sociedade, visando acabar com as desigualdades.
Essas ideias ameaçavam o poder de autoridades que apoiavam as religiões reformadas, e por isso foram duramente reprimidas. O próprio Lutero condenou a radicalização dos camponeses, posicionando-se ao lado da nobreza germânica.
Do ponto de vista econômico, houve a valorização do modo de vida burguês pelos líderes das religiões reformadas. Diferentemente do catolicismo, que condenava o lucro e o enriquecimento pessoal, as religiões protestantes interpretavam o acúmulo de riquezas de maneira positiva e reforçavam a ética do trabalho. Isso contribuiu para o desenvolvimento das atividades econômicas em territórios convertidos ao protestantismo.

A vida das mulheres durante a Reforma

A Reforma Religiosa trouxe mudanças importantes na vida das mulheres na Europa. A organização das novas religiões cristãs provocou o fortalecimento das hierarquias sociais entre homens e mulheres. Muitos dos reformadores defendiam que o homem deveria exercer o controle sobre as mulheres da família e que elas não deveriam ter participação no espaço público ou em assuntos religiosos, limitando-se à vida doméstica.
Muitas mulheres, no entanto, desafiaram a autoridade masculina e tiveram uma participação ativa na organização das Igrejas reformadas. Aproveitaram-se, principalmente, do estímulo que as novas doutrinas davam ao estudo, tanto para frequentar escolas como para aprender os princípios dessas religiões. Essa situação era bastante incomum em regiões católicas e possibilitou maior participação social de mulheres.
Catherine Zell (c. 1497-1562) foi um exemplo de mulher que teve grande participação na disseminação das Igrejas reformadas. Ela viveu na região de Estrasburgo, que atualmente faz parte do território francês, onde se casou com o reformador luterano Matthieu Zell. Durante toda a sua vida, ajudou na propagação da fé luterana na região onde vivia.
Assim como ela, Árgula von Grumbach (1492-1554) se empenhou em defender a Igreja Luterana, posicionando-se inclusive contra a própria família. Catarina de Bora (1499-1552) envolveu-se em debates teológicos importantes durante a Reforma e ajudou seu marido, Martinho Lutero, a questionar o poder da Igreja Católica.
Rachel Specht, calvinista inglesa, teve uma postura ainda mais radical. Além dos estudos bíblicos, escrevia poesias e assinava seu nome, não usava pseudônimo. Segundo ela, “se
Deus concedeu corpo, alma e espírito às mulheres, por que Ele daria todos esses talentos, se não para serem usados? Não usá-los seria uma irresponsabilidade”.

LIVROS: A IMPRENSA DE GUTENBERG

Durante a Idade Média, o processo de produção de um livro na Europa envolvia dois tipos de profissionais, além do autor: os copistas, que copiavam o texto original à mão em um pergaminho, e os iluminadores, artesãos especializados que
ilustravam o manuscrito com imagens (iluminuras).
Em meados do século XV, Johannes Gutenberg, nascido na cidade de Mainz, que atualmente pertence à Alemanha, aprimorou os tipos móveis de impressão, que haviam sido inventados na China durante o século XI e adotados em diversas partes da Ásia. Nessa técnica, as letras do alfabeto eram moldadas em pequenos blocos de chumbo (os tipos), que, colocados lado a lado, compunham palavras e frases.
Entre 1455 e 1456, o primeiro livro impresso na Europa, a Bíblia, saiu das prensas de Gutenberg. A partir de então, a imprensa tornou possível, com menores custos, a rápida reprodução de livros, que passaram a ser vendidos em livrarias, feiras e mercados. 
Os temas impressos eram muito variados: de orações e vida de santos a romances, histórias de cavalaria, trovas etc. Com a difusão da imprensa, o conhecimento e os ideais humanistas também se tornaram cada vez mais acessíveis não só aos estudiosos, mas aos burgueses em geral.
A imprensa teve um papel importante na divulgação das ideias de Lutero. Milhares de folhetos, alguns com gravuras, foram publicados em defesa da Reforma. Esse tipo de divulgação, que aliava o texto à imagem, alcançou e influenciou grande número de pessoas.

A Centralização do Poder nas Monarquias Europeias

França, Inglaterra, Portugal. Hoje é difícil imaginar a Europa sem esses países. Mas eles só começaram a se consolidar a partir da Alta Idade Média, paralelamente ao desenvolvimento do comércio e das cidades.

Até então, nos diversos reinos formados na Europa com a desagregação do Império Romano do Ocidente, os reis exerciam, principalmente, funções militares e políticas. Sem cumprir atividades administrativas, orei tinha seus poderes limitados pela ação da nobreza feudal, que, por serem os senhores da terra, controlava de fato o poder. Essa organização do poder é chamada monarquia feudal e sua principal característica era a fragmentação do poder.
A partir do século XI, em algumas regiões da Europa, as monarquias feudais iriam servir de base para a formação de governos centralizados: é o caso da França, da Inglaterra e de Castela (atual Espanha).
Os reis começaram então a concentrar grandes poderes, em parte por causa do apoio e do dinheiro recebido dos burgueses. 
A aliança entre rei e burguesia
Ao longo de algum tempo, a aproximação entre o rei e a burguesia colocaria fim à fragmentação do poder. Entretanto, isso não significou a exclusão da nobreza feudal do poder. Ela se manteve ligada ao rei e usufruindo de sua política.
Além dos reis, ganhariam importância nesse processo os burgueses, que se tornariam o grupo social de maior poder político e, sobretudo, econômico.

A formação das monarquias

Durante quase toda a Idade Média não existiam países como os que conhecemos hoje. Assim, morar em Londres ou em Paris não significava morar na Inglaterra ou na França. As pessoas sentiam-se ligadas apenas a uma cidade, a um feudo ou a um reino.
O processo de formação de monarquias com poder centralizado na Europa iniciou-se no século XI e consolidou-se entre os séculos XIV e XVI. Ao final de alguns séculos esse processo daria origem a muitos dos países atuais da Europa, como França, Portugal e Espanha. Entretanto, ele não ocorreu ao mesmo tempo e da mesma maneira em todos os lugares do continente. Em regiões como a península Itálica e o norte da Europa nem chegaria a se consolidar.
Quase sempre estiveram envolvidos nesse processo de centralização do poder os mesmos grupos sociais: os reis, a burguesia e os nobres feudais. Cada um desses grupos era movido por interesses próprios. Muitas vezes, radicalmente opostos.
Para a burguesia, novo grupo social que se formava, a descentralização política do feudalismo era inconveniente. Isso porque submetia os burgueses aos impostos cobrados pelos senhores e dificultava a atividade comercial pela ausência de uma moeda comum e de pesos e medidas padronizados.
Essas circunstâncias acabaram aproximando os burgueses dos reis. Interessados em concentrar o poder em suas mãos. Nessa aliança, a burguesia contribuía com dinheiro e o rei, com medidas políticas que favoreciam o comércio. O dinheiro da burguesia facilitava aos reis a organização de um exército para impor sua autoridade à nobreza feudal.
Essa mesma nobreza feudal, por sua vez, encontrava-se enfraquecida pelos gastos com as Cruzadas e tinha necessidade de um apoio forte, até mesmo para se defender das revoltas camponesas, que se intensificavam. Procurou esse apoio nos reis, apesar de muitas vezes se sentir prejudicada com a política da realeza em favor da Burguesia, que colocava fim a vários dos privilégios feudais. Dividido entre a burguesia e a nobreza feudal, o rei serviu como uma espécie de mediador entre os interesses dos dois grupos.

Organização do Estado português

Portugal surgiu como um feudo (o Condado Portucalense) do Reino de Leão, doado a um cavaleiro francês que havia se destacado na luta da reconquista, Henrique de Borgonha. Em 1139 Portugal proclamou sua independência do Reino de Leão e iniciou a expansão para o sul.
Por muito tempo, o reino português permaneceu envolvido na luta pela ex­pulsão dos mouros (conjunto de populações árabes, etíopes, turcomanas e afegãs) da península Ibérica. A luta terminou em 1249 com a vitória portuguesa e a conquista do Algarves (sul de Portugal).
Com o rei D. Dinis (1279-1325) interrompeu-se a reconquista no plano militar, iniciando-se um período de reorganização interna de Portugal. As fronteiras do país já estavam definidas.
Em 1383, com D. João, Mestre de Avis, teve início a dinastia de Avis. Isso se deu após o desfecho de uma luta político-militar denominada Revolução de Avis, em que a sucessão do trono português foi disputada entre o rei de Castela e D. João.
A vitória da Revolução de Avis foi também a vitória da burguesia portuguesa sobre a sociedade agrária e feudal que dominava o país. Com a dinastia de Avis, a nobreza agrária submeteu-se ao rei D. João. E este, apoiado pela burguesia, centralizou o poder e favoreceu a expansão marítimo-comercial portuguesa.
Todos esses acontecimentos fizeram de Portugal o primeiro país europeu a constituir um Estado absolutista e mercantilista.

Organização do Estado espanhol

Durante séculos, os diversos reinos cristãos que ocupavam o território espanhol (reinos de Leão, Castela, Navarra e Aragão) lutaram pela expulsão dos muçulmanos da península Ibérica. A partir do século XIII, só havia na Espanha dois grandes reinos fortes e em condições de disputar a liderança cristã da região: o de Castela e o de Aragão.
Em 1469, a rainha Isabel, de Castela, casou-se com o rei Fernando, de Aragão. O casamento de Fernando e Isabel unificou politicamente a Espanha. A partir desse momento, os espanhóis intensificaram as lutas contra os árabes, que ainda ocupavam a cidade de Granada, na parte sul do país. Após a completa ex­pulsão dos árabes, o poder real se fortaleceu e, com a ajuda da burguesia, a Espanha também se lançou às grandes navegações marítimas pelo Atlântico.

A Monarquia Francesa

Em 843, o Império Carolíngio foi dividido em três reinos, foram subdivididos em feudos governado por duques, marqueses e conde. Os reis passaram a ser suseranos, que dependiam dos nobres locais para a obtenção de soldados e rendimentos.
Em 987, com a subida ao trono de Hugo Capeto, um desses reinos, o da França, passaram a ser governado pelos capetíngios.
Filipe Augusto, da dinastia capetíngia, é considerado o primeiro rei a iniciar o processo de consolidação da Monarquia Francesa (1180-1223), as cidades começaram a ser libertadas do domínio dos senhores feudais, o que favoreceu a consolidação da burguesia. Apoiada por ela, Felipe impôs sua autoridade aos nobres. Durante seu governo, Paris passou a ser a capital da França.
O processo de consolidação da França foi impulsionado por Luís IX, (1226-1270). Ele criou uma moeda única, cuja aceitação tornou-se obrigatória em todo o território do reino. Contribuiu assim, para o comércio, facilitando a circulação de mercadorias.
Durante o reinado de Filipe IV (1285-1314), mais conhecido como Filipe, o Belo, os mercadores e banqueiros estrangeiros foram expulsos da França, porque queria cobrar impostos do clero francês. Com a morte do papa Bonifácio VIII, foi escolhido para substituí-lo o francês Clemente V. Em 1309, Felipe, o papado para a cidade francesa de Avignon (sudeste da França). Assim, a Igreja ficou sob o controle do rei francês. A sede da Igreja só voltaria para Roma em 1377.
A Monarquia Francesa se consolidaria, definitivamente, nos séculos XIV e XV, durante a Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra. Aliás, esse conflito seria importante também para a Inglaterra consolidar seu poder central, como veremos logo adiante.

A Monarquia Inglesa

Nas ilhas britânicas, em meados do século XI, havia quatro reinos: Escócia, País de Gales e Irlanda, formado por povos celtas, e Inglaterra, formada por povos anglo-saxões.
Em 1066, o duque Guilherme, da Normandia (região do norte da França), invadiu e conquistou a Inglaterra.
Guilherme, o Conquistador, como ficou conhecido, era vassalo do rei francês. Ele dividiu a Inglaterra em condados, para os quais nomeou um funcionário para representá-lo. Este funcionário tinha autoridade sobre todos os habitantes, fossem eles senhores ou camponeses. Com isso, Guilherme acabou fortalecendo o seu poder.
Em 1154, um nobre francês, Henrique Plantageneta, parente de Guilherme, herdou a Coroa do Reino da Inglaterra, passando a chamar-se Henrique II (1154-1189. Nesse período ocorre de fato a centralização do poder na Inglaterra.
Henrique II foi sucedido por seu filho, Ricardo Coração de Leão (1189-1199). Dos dez anos do seu governo, Ricardo ausentou-se da Inglaterra por nove anos, liderando a Terceira Cruzada e lutando no continente europeu para manter seus domínios nas Ilhas Britânicas. Essa longa ausência causou o enfraquecimento da autoridade real e o fortalecimento dos senhores feudais.
No reinado de João Sem-Terra (1199-1216), irmão de Ricardo, o enfraquecimento da autoridade real foi ainda maior. Após ser derrotado em conflito com a França e com o papado, João Sem-Terra foi obrigado pela nobreza inglesa, a assinar um documento chamado Magna Carta. Por esse documento, a autoridade do rei da Inglaterra ficava bastante limitada. Ele não podia, por exemplo, aumentar os impostos sem prévia autorização dos nobres. A Magna Carta estabelecia que o rei só podia criar impostos depois de ouvir o Grande Conselho, formado por bispos, condes e barões.
Henrique III (1216-1272), filho e sucessor de João Sem-Terra, além da oposição da nobreza, enfrentou forte oposição popular. Um nobre, Simon de Montfort, liderou uma revolta da aristocracia e, para conseguir a adesão popular, convocou um Grande Parlamento, do qual participava além da nobreza e do clero, representantes da burguesia. No reinado de Eduardo I (1272-1307), oficializou-se a existência do parlamento. Durante os reinados de Eduardo II e de Eduardo III, o poder do parlamento continuou a se fortalecer. Em 1350, o Parlamento foi dividido em duas câmaras: a Câmara dos Lordes, formada pelo clero e pelos nobres, e a Câmara dos Comuns, formada pelos cavaleiros e pelos burgueses.
Como podemos ver, na Inglaterra o rei teve seu poder restringido pela Magna Carta e pelo parlamento. Mas isso não significou ameaça à unidade territorial ou um poder real enfraquecido, muito pelo contrário. Comandada pelo rei, conforme os limites impostos pelo Parlamento, a Inglaterra torna-se-ia um dos países mas poderosos da Europa, a partir do século XVI. Até hoje, a Inglaterra é uma monarquia parlamentarista.

O Renascimento

 “TRANSFORMAÇÕES NO PENSAMENTO”

No período que se configura como a transição do Feudalismo para o Capitalismo, as artes, o pensamento e o conhecimento científico passaram por um processo de muitas mudanças, que foi denominado Renascimento Cultural. O termo Renascimento deve ser entendido como a retomada (renascer) do estudo de textos da cultura clássica greco-latina.
Durante a Idade Média, a alegria, o prazer, o riso eram associados às forças inferiores, tanto do ser humano corno do mundo sobrenatural. Questionamentos de ordem intelectual ou tentativas de desvendar o funcionamento da natureza eram encarados como heresia. O Renascimento representou a redescoberta do conhecimento e do estudo fora do âmbito daquelas matérias permitidas pela Igreja. 
Entre os séculos XV e XVI, desenvolveu-se na Europa Ocidental um movimento intelectual conhecido como Humanismo. Foram conhecidos como humanistas vários profissionais cultos, como escritores, artistas, professores universitários e médicos. Geralmente, os humanistas estavam ligados à burguesia. Os renascentistas preocupavam-se principalmente com as questões ligadas à vida humana. Por isso o movimento é identificado com o Humanismo.

Humanismo

O Humanismo expandiu-se pelos centros urbanos da Europa Ocidental e, em grande medida, deu origem ao Renascimento. Em cada região, esse humanismo renascentista teve características próprias. Por causa dessa diversidade, os historiadores costumam falar em Renascimentos e Humanismos, no plural.
A princípio, o Humanismo foi identificado com a valorização de disciplinas relacionadas à vida humana, como Matemática, Línguas, História e Filosofia laica. Eram os estudos de humanidades. No primeiro momento, o Humanismo preocupou-se em buscar nas pessoas suas belezas, seus aspectos positivos, em contrapartida ao pensamento medieval, que entendia os seres humanos como frutos do pecado”.
É importante entender que o processo de valorização da humanidade não significou uma ruptura com a religião, as pessoas não se tornaram descrentes. O Humanismo renascentista não rompeu com a ideia criacionista, ou seja, manteve a ideia de que Deus criou a Terra e as pessoas, mas mudou a relação entre esses elementos. O mundo não era mais pensado corno um lugar de sofrimento e sim um lugar de delícias, onde o ser humano, a mais perfeita das criações divinas, foi colocado para ser feliz, para usufruir dos benefícios e das belezas de tudo o que o rodeia, inclusive do próprio corpo.
Posteriormente, o Humanismo passou a identificar aquelas que analisavam de forma crítica as condições sociais, buscando uma outra maneira de viver distanciada daquele universo mágico e sombrio da Idade Média, e mais condizente com a nova realidade social.
Apesar de admirarem elementos da cultura greco-romana, os renascentistas não queriam que a Antiguidade pudesse “nascer de novo”, isto é, não queriam um simples retorno à Antiguidade. Afinal, não é possível fazer uma cultura renascer fora de seu contexto histórico. Além disso, quase todos os renascentistas estavam influenciados pelos princípios cristãos, mesmo que desejassem renová-los.
O Renascimento ocorreu principalmente nos séculos XV e XVI. Porém, o termo “Renascimento” se difundiu entre os historiadores europeus apenas no século XIX.

Um movimento urbano

A vida nas novas aglomerações urbanas que surgiram com o crescimento do comércio na Baixa Idade Média tinha características muito diferentes do modo de vida desenvolvido no feudo, o que levou ao estabelecimento de novas formas de pensar. Portanto, o Renascimento tem sido entendido como um movimento intelectual eminentemente urbano, expressão da sociedade que habitava as cidades livres.
O berço do Renascimento foram as cidades italianas que viviam do comércio, como Veneza, Pisa, Gênova e, principalmente, Florença. Essas cidades italianas mantiveram um contato constante com Bizâncio (Constantinopla), permitindo que os sábios bizantinos, que tiveram de fugir de sua terra por causa das brigas religiosas que marcaram aquela sociedade, se mudassem para a Península Itálica e fossem responsáveis, em grande parte, pelas mudanças culturais que estamos estudando. Da Península Itálica, o Renascimento difundiu-se por outras regiões da Europa. Assim, surgiram movimentos renascentistas em lugares como Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Holanda e Alemanha.

O mecenato

Os burgueses que haviam conquistado suas riquezas com a exploração do comércio e das atividades bancárias, os nobres que ainda conservavam fortuna ou os reis praticavam o mecenato. Tratava-se da ajuda financeira a artistas e intelectuais para que esses pudessem desenvolver seus trabalhos sem a necessidade de realizar outra tarefa que garantisse sua subsistência. Uma das famílias que se destacou no mecenato foi a dos Médici, em Florença, no século XV. O mecenas era, em geral, um adepto da nova forma de pensar e um apreciador das artes, mas muitos mecenas queriam apenas ganhar prestígio social.

A impressão de livros a partir da invenção de Gutenberg

Na Europa, durante a Idade Média, os livros eram co­piados à mão. O trabalho dos copistas era lento e a qualidade não era boa. Em 1450, o alemão Johannes Gutenberg criou a impressão mecânica, utilizando tipos móveis de metal. A nova técnica tornou inúmeras vezes mais veloz a reprodução de livros. A invenção de Gutenberg permitiu atender à crescente demanda por conhecimento. Mas não devemos nos iludir: o livro não se tornou popular, ao contrário, era ainda muito caro, inacessível para as camadas pobres da população.

Um movimento elitista

Esta é uma das questões fundamentais na análise do Renascimento: o seu caráter elitista. Tratou-se de um movimento intelectual e artístico cujas obras estavam ao alcance apenas de pessoas muito ricas. As pessoas que podiam se dedicar somente a estudar grego e latim ou a aprender técnicas de pintura não trabalhavam. Ou eram muito ricas ou eram financiadas por alguém muito rico.
O estudo pressupunha que a pessoa fosse alfabetizada, pré-requisito também inacessível à população pobre. Possivelmente, uma grande parcela da população que foi contemporânea dos renascentistas jamais tenha tocado na capa de um livro." 

Características do Renascimento

Os humanistas se incomodavam com os excessos da religião guiando todas as esferas da vida. Muitos deles criticavam, por exemplo, a visão dualista de que somos compostos de duas partes: espírito e corpo. Nesse dualismo, o espírito era considerado a parte superior e melhor, e o corpo era a parte inferior e pior. Por isso, o espírito deveria governar o corpo. Os humanistas procuravam recompor a integridade do ser humano, relacionando corpo e espírito com igual dignidade.
O Renascimento ocorreu em maior ou menor grau nas várias regiões da Europa. Começou na Itália, como vimos, e se expandiu para França, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Portugal e Holanda. Apesar das diversidades regionais, observamos características comuns e fundamentais do Renascimento, que vamos estudar agora.
• A retomada da cultura clássica: Denominamos cultura clássica o conjunto de obras literárias, filosóficas, históricas e de artes plásticas produzidas pelos gregos e pelos romanos na Idade Antiga. Os pensadores do Renascimento queriam, acima de tudo, conhecer, estudar, aprender, e os textos da cultura clássica foram vistos como portadores de reflexões e conhecimentos a serem redescobertos. O pensamento criado pelo Renascimento originou-se da reflexão sobre os textos da Antiguidade combinada com os valores culturais herdados da Idade Média. Os humanistas resgataram saberes e artes greco-romanos em diversos campos, como na filosofia, literatura, escultura, arquitetura, objetos de decoração etc.;
• antropocentrismo – o papel do ser humano na escolha dos rumos da própria vida era enaltecido. Alguns humanistas, como Pico Della Mirandola (1463-1494), argumentavam que Deus criou o homem dando-lhe liberdade para construir a si
mesmo. Isso entrava em choque com a cultura teocêntrica (centrada em Deus) que predominava desde a Idade Média. Assim, se antes a humildade cristã recomendava “desconfie sempre de si mesmo”, os humanistas cultivavam outra atitude:
“confie em si e amplie suas potencialidades”; “O homem é a medida de todas as coisas.”: Talvez a mais marcante de todas as características do Renascimento tenha sido a valorização do ser humano. O Humanismo ou Antropocentrismo, como é chamado com frequência, colocou a pessoa humana no centro das reflexões. Não se tratava de opor o homem a Deus e medir suas forças. Deus continuou sendo soberano diante do ser humano. Tratava-se na verdade de valorizar as pessoas em si, encontrar nelas as qualidades e as virtudes negadas pelo pensamento católico medieval. Nesse sentido, o “homem tornou-se a medida de todas as coisas”, ou seja. aquilo que servia ao ser humano passou a ser visto como bom, o que não servia, como não bom. Essa ideia de que o homem é a medi­da de tudo foi criada pelos gregos e, como tudo o que é oriundo daquela cultura, aplicava-se à elite. Na Europa renascentista, a situação era a mesma. Parafraseando os gregos, podemos dizer que “o homem da elite é a medida de todas as coisas.
• conhecimento racional – a pesquisa experimental, o estudo da natureza e os cálculos matemáticos eram valorizados. Isso se chocava com a supervalorização da fé (verdades reveladas pela religião) em todos os campos do conhecimento. Assim, se antes predominava o princípio do “crer para compreender”, os humanistas buscavam “compreender para crer”;
• O ideal de universalidade: Os renascentistas acreditavam que uma pessoa poderia vir a aprender e saber tudo o que se conhece. Seu ideal de ser humano era, portanto, aquele que conhecia todas as artes e todas as ciências. Leonardo da Vinci, que foi considerado o modelo de homem renascentista, dominava várias ciências e artes plásticas. Ele conhecia Astronomia, Mecânica, Anatomia, fazia os mais variados experimentos, projetou inúmeras máquinas e deixou um grande número de obras-primas pintadas e esculpidas. Da Vinci foi a pessoa que mais conseguiu se aproximar do ideal de universalidade. 
• individualidade – a curiosidade intelectual, a vontade de fazer ciência, o desejo de aventura e a expansão da criatividade foram estimulados. Expressando admiração pelo
ser humano, Shakespeare (1564-1616) escreveu: “Que obra de arte é o homem: tão nobre no raciocínio, tão infinito em capacidade”. Essa valorização do indivíduo se opunha ao coletivismo da cristandade, ou seja, à ideia de que os seres humanos pertenciam a um mesmo rebanho de Deus, ao qual deviam submissão, obediência e mansidão.

Artes plásticas

As obras renascentistas apresentam algumas características em comum, sobretudo nas artes plásticas. Os artistas renascentistas, por exemplo, representavam temas da mitologia clássica e da religiosidade cristã, paisagens e cenas do cotidiano. Além disso, eles se destacaram pelo interesse no mundo à sua volta e no estudo da natureza.
Os artistas renascentistas preocuparam-se também em realizar obras duradouras. Era a busca da perenidade, isto é, daquilo que permanece por longo tempo. Para isso, desenvolveram novos materiais, como a tinta a óleo, que, quando seca, é mais resistente às mudanças de temperatura e umidade.
Além disso, os pintores renascentistas desenvolveram a técnica da perspectiva para conferir uma aparência tridimensional aos personagens e aos objetos representados.
A perspectiva dá ao observador a ideia de que as figuras representadas têm altura, largura e profundidade, parecendo mais reais aos olhos humanos.
Durante o Renascimento, muitos artistas passaram a assinar suas próprias obras para marcar que elas eram uma criação autoral e individual. Além disso, pintaram autorretratos ou se representaram como um dos personagens da obra. O autorretrato era uma maneira de o artista estudar feições humanas e aperfeiçoar sua técnica.
Os pintores alemães Albrecht Dürer (1471-1528) e Hans Holbein (1497-1543) fizeram vários retratos e autorretratos
que são considerados obras-primas nesse gênero de pintura.

Pensadores do Renascimento

Erasmo de Roterdã
• Erasmo de Roterdã (1466 ou 1467-1536). Nascido nos Países Baixos, é considerado um dos principais humanistas do Renascimento. Seu texto mais conhecido é Elogio da Loucura, no qual faz críticas contundentes aos poderes constituídos, inclusive à Igreja Católica.
• Nicolau Maquiavel (1469-1527). O italiano Maquiavel ganhou notoriedade por ter escrito O Príncipe, que traça as diretrizes do poder no Estado moderno.
• Thomas Morus (1480-1535). De origem inglesa, esse pensador escreveu uma notável crítica à sociedade de sua época no livro Utopia.

O RENASCIMENTO CIENTÍFICO

Um certo distanciamento adotado pelos renascentistas em relação às pregações católicas que condenavam a investigação científica favoreceu, a partir do século XVI, o desenvolvimento de vários ramos da ciência. A principal contribuição do Renascimento ao conhecimento científico foi o desenvolvimento da observação e da experimentação. boi a partir dessas práticas que os renascentistas avançaram no conhecimento.
As duas principais figuras do Renascimento Científico foram Leonardo da Vinci e Nicolau Copérnico (1473 1543). Da Vinci inventou inúmeros mecanismos e instrumentos bélicos. Projetou máquinas novas e aperfeiçoou outras já conhecidas. Dedicou-se ao estudo da anatomia humana, da Física, da Botânica, da Astronomia. Como já foi salientado, ele foi o modelo do renascentista, pois se dedicou a várias áreas de conhecimento.
Copérnico contribuiu na ampliação do da Matemática, da Mecânica e da Astronomia. Formulou em 1543, a teoria heliocêntrica. que afirma que afirma que a Terra gira em torno do Sol, contrariando a doutrina católica medieval que defendia a idéia de que a Terra é o centro do universo.
Às ciências naturais progrediram graças à contribuição de muitos estudiosos, como Gesner e Rondelet, que investigaram a fauna; o geólogo Georg Bauer, que descobriu novas formas de aproveitamento dos minérios; na Medicina, André Vesálio e Miguel Servet aprofundaram os estudos de Leonardo da Vinci sobre anatomia humana e circulação sanguínea, enquanto Ambroise Paré criava a técnica de usar ataduras para estancar a hemorragia.

Artistas e suas obras

• Sandro Botticcili (1444 – 1510) A arte do florentino Botticelli é inegavelmente muito bonita. Os principais temas de sua obre foram as cenas religiosas e as cenas mitológicas. Suas criações mais conhecidas são aquelas que retratam temas da Mitologia, como Nascimento de Vênus e Primavera. Uma de suas imagens sacras. Madona da Magnificat, é uma das mais suaves e belas representações da Virgem com o Menino.

• Leonardo da Vinci (1452-IS 19). Sua inspiração artística foi notável. Assim como nas ciências, o italiano Leonardo foi versátil também nas artes. Era um bom es­cultor, desenhista e pintor genial. Foi o artista que introduziu na pintura o contraste claro/escuro, isto é, o jogo entre as partes claras e as sombras. Suas obras mais conhecidas são as telas A Ultima Ceia, Mona Lisa (ou La Gioconda) e a Virgem dos Rochedos.

• Rafael (1483-1520). Raffaello Sanzio, ou simplesmente Rafael como ficou conhecido, era pintor e arquiteto. Dedicou-se a pintar imagens sacras, as quais A Virgem com o Menino é uma das mais bonitas, e também figuras femininas. Sua obra mais grandiosa e que expressa seu envolvimento com o pensamento renascentista é a Escola de Atenas. Rafael também era italiano.

• Michelangelo Buonarroti (1475- 1564). Também conhecido como Miguel Ângelo. O artista viveu a maior parte de sua vida em Roma e recebeu de seus contemporâneos o título de divino. O que conhecemos de seus trabalhos permite perceber que o título é merecido. Suas esculturas traduzem movimento e sentimento, como se o artista, ao moldar a pedra, lhe desse alma. Como pintor, Michelangelo também foi brilhante. Suas obras mais conhecidas são as esculturas Pietá, Moisés e David e as muitas pinturas que compõem o teto da Capela Sistina.

Literatura

• Dante Alighieri (1265-1321). O italiano Dante é considerado pré-renascentista. Sua obra mais importante, A Divina Comédia, é considerada o ponto mais alto atingi­do pela poesia italiana.

• Giovanni Boccaccio (1313-1375). O florentino Boccaccio era escritor e poeta, e seu texto mais conhecido é O Decameron.

• François Rabelais (1494-1553). O renascentista francês tornou-se conhecido por dois textos, Gargantua e Pantagruel, onde satiriza o comportamento do clero e os dogmas católicos.

• Luís de Camões (1524-1580). A obra mais conhecida do poeta português é Os Lusíadas, um poema épico que narra o heroísmo português na gIaI1de aventura que foi a Expansão Marítima.

• Miguel de Cervantes (1547 1616). () espanhol Cervantes escreveu Dom Quixote. unia verdadeira obra-prima literária e histórica que narra de forma sensível a impossibilidade de manter os valores medievais no mundo burguês em formação, assim como aponta o equívoco histórico da nobreza espanhola que. ao modelo de Quixote. tem a mente povoada de fantasias medievais e não desperta para a realidade dos novos tempos.

• William Shakespeare (1564-1616). O mais importante dramaturgo inglês. Seus textos mais conhecidos são Romeu e Julieta, Hamlet, A Megera Domada, Henrique V, Otelo, Rei Lear e Macheth.



RENASCIMENTO CULTURAL

Período da história europeia caracterizado por um renovado interesse pelo passado greco-romano clássico, especialmente pela sua arte. O Renascimento começou na Itália, no século XIV, e difundiu-se por toda a Europa, durante os séculos XV e XVI.

O renascimento abriu uma porta para o conhecimento e os estudos. Devido a preocupação maior dos renascentistas ser a vida humana, este movimento também foi chamado de Humanismo.
O Renascimento e o Humanismo nasceram na Itália, em função da riqueza das cidades italianas, da presença de sábios bizantinos, da herança clássica da Antiga Roma e da difusão do mecenato. A invenção da Imprensa contribuiu muito para a divulgação de novas ideias.

O Humanismo

O humanismo era a valorização de matérias que envolviam a vida humana, como matemática, línguas, história e filosofia laica. Procurava nas pessoas suas belezas, seus aspectos positivos, ou seja aspectos mais ligados ao pensamento burguês do que ao da igreja. O humanismo , ou seja , o homem sendo o centro das atenções, do universo, daí o termo Antropocentrismo.
Humanista era um sábio que criticava os valores medievais e defendia uma nova ordem de idéias. Valorizava o progresso e buscava revolucionar o mundo através da educação. Foi o grande responsável pela divulgação dos valores renascentista pela Europa.
Outro elemento responsável pela expansão das novas ideias foi a imprensa de tipos móveis, inventada pelo alemão Johan Gutemberg, tornando mais fácil a reprodução de livros.
No Renascimento desenvolveram-se as artes plásticas, a literatura e os fundamentos da ciência moderna.

MOTIVOS PARA SURGIR O RENASCIMENTO

O renascimento foi um movimento urbano, visto que foi muito bem apoiado pelos burgueses. Era a expressão do povo que habitava as cidades livres. Os primeiros focos renascentistas foram nas cidades italianas. Visto que viviam do comércio, entre elas estavam: Veneza, Pisa, Gênova e Florença. Estas cidades receberam uma forte influência dos sábios bizantinos, que haviam fugido de Bizâncio, por causa dos conflitos religiosos.
Outro fator que contribuiu para o renascimento foi o surgimento dos mecenas, estes eram ricos que patrocinavam os artistas renascentistas. Alguns o faziam apenas como forma de ajuda, ou investimento pessoal, outro também queria ganhar prestígio social. Alguns mecenas destacados foram : os Médicis ,em Florença e os Sforza, em Milão.
Além da influencia dos sábios bizantinos, havia os árabes que mantinham contatos comerciais com os italianos.
Em 1450, Johannes Gutenberg, criou a impressão mecânica, através do uso de tipos móveis de metal. Essa invenção facilitou a vida dos apaixonados por livros, já que o trabalho de um copista era manual e demorava muito para a conclusão da obra.
Mesmo com essa invenção o livro ainda não se tornou popular, por que sua fabricação ainda era cara e de difícil acesso para a população em geral.
Um fator importante sobre o renascimento é que ele foi um movimento de caráter elitista, intelectual e artístico, por isso suas obras estavam a disposição somente para os ricos.

As características do renascimento foram:

-o retorno a cultura clássica – o pensamento renascentista originou-se da reflexão sobre os textos greco- romano juntamente com a heranças dos valores medievais.

-Antropocentrismo- o homem passa a ser o centro de tudo. Não é uma tomada do lugar de Deus como o criador, mas sim de uma valorização pessoal e de suas qualidades, antes negadas pelo pensamento medieval.

-O ideal de universalidade- para os renascentistas a pessoa podia conhecer tudo que lhe fosse apresentado. O ser humano ideal era aquele que conhecia todas as ciências e todas as artes.

O Renascimento Italiano

A Itália foi o berço do Renascimento. O acentuado desenvolvimento comercial vivenciado por cidades como Veneza, Florença, Roma, Milão e Nápoles atraiu centenas de artistas, homens das ciências e intelectuais. Os artistas italianos ocuparam lugar de destaque no Renascimento. De acordo com o historiador Nicolau Sevcenko (1952-2014), a obra dos grandes pintores italianos serviu de base para o estilo renascentista e teve enorme influência na arte ocidental até o início do século XX. Os principais nomes do Renascimento italiano foram:

- Dante Alighieri (1265-1321) – autor do poema a Divina Comédia, escrita em dialeto toscano em substituição ao latim, descreve uma imaginária viagem ao inferno, purgatório e paraíso, fazendo ousada crítica à sociedade de seu tempo, especialmente aos membros da Igreja.

- Francesco Petrarca (1304-1374) – poeta considerado “pai do humanismo” escreveu De África e Cancioneiros. De África é um épico sobre as Guerras púnicas, em que o autor realça traços clássicos, especialmente o heroísmo dos homens.

- Giovanni Boccaccio (1313-1375) – autor de Decameron, coletânea de 100 novelas (dez partes de dez contos cada uma), nas quais se exprime numa linguagem muito espontânea, anticlerical e cheia de sensualidade, satirizando o mundo, exaltando o individualismo e os aspectos terrenos da vida.

- Giotto (1267-1337) – pintor florentino, autor de São Francisco Pregando aos Pássaros e de Lamento Ante o Cristo Morto. Em suas obras o divino assume uma feição humana, exprimindo dor ou alegria.
- Sandro Botticelli (1457-1510) – pintor, entre tantas outras obras, de Alegoria da Primavera e Nascimento de Vênus. Seus trabalhos buscam a perfeição, a beleza e a pureza humanas idealizadas.

- Leonardo da Vinci (1452-1519) – foi considerado um grande humanista. Sua obra se estende a diversos campos: anatomia, engenharia, mecânica, física, escultura, pintura etc. Pintou poucas telas e afrescos, mas suas criações são consideradas obras-primas, como A última ceia, Mona Lisa (ou Gioconda) e A virgem dos rochedos; aplicou estudos científicos à pintura, elaborando trabalhos sobre forma, cores, luz e sombra. Homem de inteligência invejável, dedicou-se a vários domínios da arte e da ciência. Famoso também por projetos dos quais destacamos alguns que podem ser considerados precursores do submarino e do helicóptero.

- Nicolau Maquiavel (1469-1527) – considerado o pai da ciência política por seu trabalho O Príncipe. Ao escrevê-lo, Maquiavel demonstra sua preocupação com o esfacelamento da Itália envolvida em guerras e lutas civis, exposta a toda sorte de ameaças estrangeiras. Defende a centralização política, onde o governante – o príncipe – deveria concentrar em si o poder, não importando os de que lançassem mão.

- Michelangelo Buonarroti (1475-1564) –  foi pintor, escultor e arquiteto. Pintou afrescos na Capela Sistina, em Roma (mais tarde integrada ao Vaticano). Como escultor, produziu obras-primas, como Moisés, Pietà e Davi. Como arquiteto, projetou a cúpula da Basílica de São Pedro, também no Vaticano.

- Rafael Sanzio (1483-1520) – pintor que se dedicou principalmente à representação de madonas e da Escola de Atenas, foi outro mestre da pintura influenciado por Leonardo da Vinci e Michelangelo. Esse artista produziu afrescos para decorar o Palácio Apostólico, projetou partes da Basílica de São Pedro (a partir de 1514) e pintou representações da Virgem Maria com o Menino Jesus. 

O renascimento entrou em decadência na Itália quando de sua difusão pelos demais países da Europa. Tal coincidência decorre fundamentalmente do declínio econômico das cidades italianas após a expansão marítima ibérica, e da Contra-reforma, que perseguiu violentamente todos os que se opunham aos dogmas e determinações da Igreja católica, chegando a executar alguns pensadores humanistas.

Europa Renascentista

Partindo da Itália, o Renascimento difundiu-se pelas demais nações europeias, sendo grandemente favorecido pelo desenvolvimento comercial que elas experimentavam naquele momento. Durante esse processo, o movimento foi adquirindo novas características e especificidades.
A seguir, vamos conhecer três grandes escritores renascentistas: o inglês William Shakespeare, o espanhol Miguel de Cervantes e o português Luís Vaz de Camões, que produziram obras de alcance universal, em sintonia com os ideais do Humanismo.
• William Shakespeare (1564-1616) ficou famoso por peças de
teatro como Romeu e Julieta (1595), Hamlet (1601), Otelo (c. 1603) e Macbeth (c. 1607). Romeu e Julieta é uma história de amor entre dois jovens que são impedidos de vivê-lo por causa da rivalidade entre suas famílias.
Miguel de Cervantes (1547-1616) se destacou pela obra Dom Quixote de la Mancha (1605), que satiriza os ideais da cavalaria medieval. Seus protagonistas são Dom Quixote e Sancho Pança. Dom Quixote é um sonhador fascinado por histórias em que heroicos cavaleiros defendem injustiçados e desamparados. Sancho Pança é mais realista e preso a valores materiais.
• Luís Vaz de Camões (1524-1580) ficou conhecido por sua obra Os lusíadas (1572), que narra de forma heroica a história de Portugal, desde sua origem até a época das Grandes Navegações, no século XV. A palavra “lusíadas” significa “portugueses” e deriva de Lusitânia, nome dado pelos antigos romanos para a região de Portugal.
Alguns nomes da Renascença europeia devem ser lembrados, como o dos literatos franceses Rabelais e Montaigne, autores de Gargântua e Pantacruel e Ensaios, respectivamente; dos ingleses Thomas Morus, autor de Utopia,  Albert Dürer pintor alemão autor de Cristo Crucificado e Adoração do Reis Magos; Erasmo de Roterdam, escritor holandês, autor de Elogio da Loucura, violenta crítica dirigida à Igreja;  e os portugueses Gil Vicente (dramaturgo), autor de Auto da Barca e Alta da Alma.

O RENASCIMENTO CIENTÍFICO

No Renascimento, muitos cientistas dedicaram-se a observar fenômenos naturais, fazer experimentos, propor hipóteses, testá-las e reavaliá-las. O próprio Leonardo da Vinci defendia que repetir ensinamentos do passado sem uma verificação pessoal significava apenas valorizar a memória, e não o entendimento verdadeiro dos fenômenos do mundo. A seguir, vamos conhecer cientistas daquela época que contribuíram para o desenvolvimento da astronomia.
As duas principais figuras do Renascimento Científico foram Leonardo da Vinci e Nicolau Copérnico (1473 1543). Da Vinci inventou inúmeros mecanismos e instrumentos bélicos. Projetou máquinas novas e aperfeiçoou outras já conhecidas. Dedicou-se ao estudo da anatomia humana, da Física, da Botânica, da Astronomia. Como já foi salientado, ele foi o modelo do renascentista, pois se dedicou a várias áreas de conhecimento.
O astrônomo e sacerdote polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) contribuiu na ampliação do da Matemática, da Mecânica e da Astronomia, propôs a teoria heliocêntrica, segundo a qual a Terra e outros planetas se movem em torno do Sol. Essa teoria contrariava a interpretação bíblica da época, segundo a qual o Sol se movia em torno da Terra (teoria geocêntrica). Copérnico evitou divulgar suas ideias porque temia a reação das autoridades católicas. Seu livro Da revolução de esferas celestes foi publicado no ano de sua morte, provocando indignação entre os religiosos.
Posteriormente, analisando a teoria de Copérnico, cientistas como o alemão Johannes Kepler (1571-1630) e o italiano Galileu Galilei (1564-1642) passaram a defendê-la, atacando um dos principais argumentos teocêntricos da Igreja. Por isso, Galileu foi acusado de heresia pelas autoridades católicas. No entanto,  para livrar-se das acusações e da pena de morte, ele negou publicamente suas convicções. 
Às ciências naturais progrediram graças à contribuição de muitos estudiosos, como Gesner e Rondelet, que investigaram a fauna; o geólogo Georg Bauer, que descobriu novas formas de aproveitamento dos minérios; na Medicina, André Vesálio e Miguel Servet aprofundaram os estudos de Leonardo da Vinci sobre anatomia humana e circulação sanguínea, enquanto Ambroise Paré criava a técnica de usar ataduras para estancar a hemorragia.
Atualmente, a religião não tem mais a influência que exerceu no passado sobre as pesquisas científicas. Mesmo assim, algumas pesquisas geram polêmicas no campo religioso. É o caso, por exemplo, daquelas feitas com células-tronco, que podem ajudar no tratamento de pessoas afetadas por doenças cardíacas, leucemia, trombose etc. No Brasil, as pesquisas com células-tronco foram autorizadas pela Justiça em 2008, mas esse assunto continua dividindo opiniões.

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