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A Reforma Religiosa

 "O que foi a Reforma Religiosa?

No século XVI a Europa foi abalada por uma série de movimentos religiosos que contestavam abertamente os dogmas da igreja católica e a autoridade do papa. Estes movimentos, conhecidos genericamente como Reforma, foram sem dúvida de cunho religioso. No entanto, estavam ocorrendo ao mesmo tempo que as mudanças na economia européia, juntamente com a ascensão da burguesia. Por isso, algumas correntes do movimento reformista se adequavam às necessidades religiosas da burguesia, ao valorizar o homem “empreendedor” e ao justificar a busca do “lucro”, sempre condenado pela igreja católica.

Os fatores que desencadearam a Reforma.

Uma das causas importantes da Reforma foi o humanismo evangelista, crítico da Igreja da época. A Igreja havia se afastado muito de suas origens e de seus ensinamentos, como pobreza, simplicidade, sofrimento.
No século XVI, o catolicismo era uma religião de pompa, luxo e ociosidade. Surgiram críticas em livros como o Elogio da Loucura (1509), de Erasmo de Rotterdam, que se transformaram na base para que Martinho Lutero efetivasse o rompimento com a igreja católica.
Moralmente, a Igreja estava em decadência: preocupava-se mais com as questões políticas e econômicas do que com as questões religiosas. Para aumentar ainda mais suas riquezas, a Igreja recorria a qualquer subterfúgio, como, por exemplo, a venda de cargos eclesiásticos, venda de relíquias e, principalmente, a venda das famosas indulgências, que foram a causa imediata da crítica de Lutero. O papado garantia que cada cristão pecador poderia comprar o perdão da Igreja.
A formação das monarquias nacionais trouxe consigo um sentimento de nacionalidade às pessoas que habitavam uma mesma região, sentimento este desconhecido na Europa feudal, Esse fato motivou o declínio da autoridade papal, pois o rei e a nação passaram a ser mais importantes.
Outro fator muito importante, ligado ao anterior, foi a ascensão da burguesia, que, além do papel decisivo que representou na formação das monarquias nacionais e no pensamento humanista, foi fundamental na Reforma religiosa. Ora, na ideologia católica, a única forma de riqueza era a terra; o dinheiro, o comércio e as atividades bancárias eram práticas pecaminosas; trabalhar pela obtenção do lucro, que é a essência do capital, era pecado. A burguesia precisava, portanto, de uma nova religião, que justificasse seu amor pelo dinheiro e incentivasse as atividades ligadas ao comércio.
A doutrina protestante, criada pela Reforma, satisfazia plenamente os anseios desta nova classe, pois pregava o acúmulo de capital como forma de obtenção do paraíso celestial. Assim, grande parte da burguesia, ligada às atividades lucrativas, aderiu ao movimento reformista.

Por que a Reforma começou na Alemanha?

No século XVI, a Alemanha não era um Estado politicamente centralizado. A nobreza era tão independente que cunhava moedas, fazia a justiça e recolhia impostos em suas propriedades. Para complementar sua riqueza, saqueava nas rotas comerciais, expropriando os mercadores e camponeses.
A burguesia alemã, comparada à dos países da Europa, era débil: os comerciantes e banqueiros mais poderosos estabeleciam-se no sul, às margens do Reno e do Danúbio, por onde passavam as principais rotas comerciais; as atividades econômicas da região eram a exportação de vidro, de metais e a “indústria” do papel; mas o setor mais forte da burguesia era o usurário.

Quem se opunha à igreja na Alemanha.

A igreja católica alemã era muito rica. Seus maiores domínios se localizavam às margens do Reno, chamadas de “caminho do clero”, e eram estes territórios alemães que mais impostos rendiam à Igreja.
A Igreja era sempre associada a tudo que estivesse ligado ao feudalismo. Por isso, a burguesia via a Igreja como inimiga. Seus anseios eram por uma Igreja que gastasse menos, que absorvesse menos impostos e, principalmente, que não condenasse a prática de ganhar dinheiro.
Os senhores feudais alemães estavam interessados nas imensas propriedades da Igreja e do clero alemão.
Os pobres identificavam a Igreja com o sistema que os oprimia: o feudalismo. Isto porque ela representava mais um senhor feudal, a quem deviam muitos impostos. Às vésperas da Reforma, a luta de classes e política acabou assumindo uma forma religiosa. "

Lutero e a Reforma

Lutero protestou violentamente contra tal comércio e, em 1517, afixou na porta da igreja de Wittenberg, onde era mestre e pregador, 95 proposições onde, entre outras coisas, condenava a prática vergonhosa da venda de indulgências. O papa Leão X exigiu uma retratação, sempre recusada.
Lutero e as reformas
Lutero foi excomungado e reagiu imediatamente, queimando em público a bula papal (documento de excomunhão) Frederico, príncipe eleito da Saxônia e protetor de Lutero, recolheu-o em seu castelo, onde o pensador religioso desenvolveu suas ideias. As principais foram:
• A justificação pela fé, pela qual as aparências têm valor secundário. A única coisa que salva o homem é a fé. Sem ela, de nada valem as obras de piedade, os preceitos e as regras. O homem está só diante de Deus, sem intermediários: Deus estende ao homem sua graça e salvação; o homem estende para Deus sua fé.
• Por isso a Igreja não tem função, o papa é um impostor, a hierarquia eclesiástica, uma inutilidade.
• Outra ideia de Lutero era o livre exame. A Igreja era considerada incompetente para salvar o homem; por isso sua interpretação das Sagradas Escrituras não era válida: Lutero queria que todos os homens tivessem acesso à Bíblia (por isso a traduziu do latim para o alemão). Todo homem poderia interpretar a Bíblia segundo sua própria consciência, emancipando-se no plano da ideologia religiosa.

Reforma de Calvino

"Enquanto a Reforma luterana se disseminava pela Alemanha, os franceses tentavam elaborar uma reforma mais pacífica, orientada pelos humanistas. Mas os setores católicos conservadores, que dominavam a Universidade de Sorbone, impediram o trabalho dos humanistas, preparando terreno para uma reforma muito mais radical e intransigente, liderada por João Calvino.
Calvino era ex-aluno da Universidade de Paris, nascido em 1509 de uma família pequeno-burguesa e estudioso de leis. Em 1531 aderiu às idéias reformistas, bastante difundidas nos meios cultos da França. Perseguido por causa de suas idéias, foi obrigado a fugir para a cidade de Basiléia, onde publicou, em 1536. a Instituição da Religião Cristã, definindo seu pensamento. Calvino, como Lutero, partia da salvação pela fé, mas suas conclusões eram bem mais radicais; o homem seria uma criatura miserável, corrompida e cheia de pecados; somente a fé poderia salvá-lo, embora essa salvação dependesse da vontade divina — esta era a “ideia da Predestinação”.
Calvino foi para a Suíça, estabelecendo-se em Genebra, em 1536. A Suíça já conhecia o movimento reformista através de Ulrich Zwinglio e era um lugar propício para Calvino desenvolver suas ideias. Mas o fator principal para a difusão do calvinismo na Suíça foi a concentração, nesta região, de um número razoável de comerciantes burgueses, desejosos de uma doutrina que justificasse suas atividades lucrativas.
Calvino transformou-se num verdadeiro ditador político, religioso e moral de Genebra. Formou um consistório (espécie de assembléia), composto por pastores e anciãos, que vigiava os costumes e administrava a cidade, inteiramente submetida à lei do evangelho. Eram proibidos o jogo a dinheiro, as danças, o teatro, o luxo.
Calvino ofereceu uma doutrina adequada à burguesia capitalista, pois dizia que o homem provava sua fé e demonstrava sua predestinação através do sucesso material, do enriquecimento. Defendia o empréstimo de dinheiro a juros, considerava a pobreza como sinal do desfavor divino e valorizava o trabalho, o que ia ao encontro dos anseios da burguesia, que tinha no trabalho o elemento necessário para acumular o capital.

Contra-reforma ou Reforma Católica

"A situação da igreja católica, em meados do século XVI, era bastante difícil: ela perdera metade da Alemanha, toda a Inglaterra e os países escandinavos; estava em recuo na França, nos Países Baixos, na Áustria, na Boêmia e na Hungria.
A Contra-Reforma, ou Reforma católica, foi uma barreira colocada pela Igreja contra a crescente onda do protestantismo. Para enfrentar as novas doutrinas, a igreja católica lançou mão de uma arma muito antiga: - a Inquisição - O Tribunal da Inquisição foi muito poderoso na Europa nos séculos XIII e XIV, No decorrer do século XV, porém, perdeu sua força. Entretanto, em 1542 este tribunal foi reativado para julgar e perseguir indivíduos acusados de praticar ou difundir as novas doutrinas protestantes.
Percebendo que os livros e impressos tinham sido muito importantes para a difusão da ideologia protestante, o papado instituiu, em 1564, o Index, uma lista de livros elaborada pelo Santo Ofício, cuja leitura era proibida aos fiéis católicos.
Estas duas medidas detiveram o avanço do protestantismo, principalmente na Itália, na Espanha e em Portugal.
Para remediar os abusos da Igreja e definir com clareza sua doutrina, organizou-se o Concilio de Trento (1545-1563). O Concilio tomou uma série de medidas, entre as quais citamos:
• Organizou a disciplina do clero: os padres deveriam estudar e formar-se em seminários. Não poderiam ser padres antes dos 25 anos, nem bispos antes dos 30 anos.
• Estabeleceu que as crenças católicas poderiam ter dupla origem: as Sagradas Escrituras (Bíblia) ou as tradições transmitidas pela Igreja; apenas esta estava autorizada a interpretar a Bíblia. Mantinham-se os princípios de valia das obras, o culto da Virgem Maria e das imagens.
• Reafirmava a infalibilidade do papa e o dogma da transubstanciação.
A conseqüência mais importante deste Concilio foi o fortalecimento da autoridade do papa, que, a partir de então, passou a ter a palavra final sobre os dogmas defendidos pela igreja católica.
A partir da Contra-Reforma surgiram novas ordens religiosas, como a Companhia de Jesus, fundada por Ignácio de Loyola em 1534. Os jesuítas se organizaram em moldes quase militares e fortaleceram a posição da Igreja dentro dos países europeus que permaneciam católicos. Criaram escolas, onde eram educados os filhos das famílias nobres; foram confessores e educadores de várias famílias reais; fundaram colégios e missões para difundir a doutrina católica nas Américas e na Ásia. "

IMPACTOS POLÍTICOS E ECONÔMICOS DA REFORMA

A Reforma Protestante trouxe importantes mudanças culturais, criando novas práticas religiosas dentro da cristandade. Mas também transformou outros aspectos da vida em sociedade.
Do ponto de vista político, as religiões protestantes reduziram a influência do papa e das demais autoridades católicas em muitas regiões da Europa. Com isso, governantes de territórios que se converteram ao protestantismo apossaram-se de propriedades da Igreja e passaram a impor sua autoridade sem a antiga interferência da instituição, fortalecendo seus poderes.
Outro efeito político importante da Reforma foi a eclosão de revoltas populares, como o movimento dos anabatistas em regiões da atual Alemanha. Camponeses passaram a seguir líderes religiosos que defendiam propostas de transformação radical da sociedade, visando acabar com as desigualdades.
Essas ideias ameaçavam o poder de autoridades que apoiavam as religiões reformadas, e por isso foram duramente reprimidas. O próprio Lutero condenou a radicalização dos camponeses, posicionando-se ao lado da nobreza germânica.
Do ponto de vista econômico, houve a valorização do modo de vida burguês pelos líderes das religiões reformadas. Diferentemente do catolicismo, que condenava o lucro e o enriquecimento pessoal, as religiões protestantes interpretavam o acúmulo de riquezas de maneira positiva e reforçavam a ética do trabalho. Isso contribuiu para o desenvolvimento das atividades econômicas em territórios convertidos ao protestantismo.

A vida das mulheres durante a Reforma

A Reforma Religiosa trouxe mudanças importantes na vida das mulheres na Europa. A organização das novas religiões cristãs provocou o fortalecimento das hierarquias sociais entre homens e mulheres. Muitos dos reformadores defendiam que o homem deveria exercer o controle sobre as mulheres da família e que elas não deveriam ter participação no espaço público ou em assuntos religiosos, limitando-se à vida doméstica.
Muitas mulheres, no entanto, desafiaram a autoridade masculina e tiveram uma participação ativa na organização das Igrejas reformadas. Aproveitaram-se, principalmente, do estímulo que as novas doutrinas davam ao estudo, tanto para frequentar escolas como para aprender os princípios dessas religiões. Essa situação era bastante incomum em regiões católicas e possibilitou maior participação social de mulheres.
Catherine Zell (c. 1497-1562) foi um exemplo de mulher que teve grande participação na disseminação das Igrejas reformadas. Ela viveu na região de Estrasburgo, que atualmente faz parte do território francês, onde se casou com o reformador luterano Matthieu Zell. Durante toda a sua vida, ajudou na propagação da fé luterana na região onde vivia.
Assim como ela, Árgula von Grumbach (1492-1554) se empenhou em defender a Igreja Luterana, posicionando-se inclusive contra a própria família. Catarina de Bora (1499-1552) envolveu-se em debates teológicos importantes durante a Reforma e ajudou seu marido, Martinho Lutero, a questionar o poder da Igreja Católica.
Rachel Specht, calvinista inglesa, teve uma postura ainda mais radical. Além dos estudos bíblicos, escrevia poesias e assinava seu nome, não usava pseudônimo. Segundo ela, “se
Deus concedeu corpo, alma e espírito às mulheres, por que Ele daria todos esses talentos, se não para serem usados? Não usá-los seria uma irresponsabilidade”.

LIVROS: A IMPRENSA DE GUTENBERG

Durante a Idade Média, o processo de produção de um livro na Europa envolvia dois tipos de profissionais, além do autor: os copistas, que copiavam o texto original à mão em um pergaminho, e os iluminadores, artesãos especializados que
ilustravam o manuscrito com imagens (iluminuras).
Em meados do século XV, Johannes Gutenberg, nascido na cidade de Mainz, que atualmente pertence à Alemanha, aprimorou os tipos móveis de impressão, que haviam sido inventados na China durante o século XI e adotados em diversas partes da Ásia. Nessa técnica, as letras do alfabeto eram moldadas em pequenos blocos de chumbo (os tipos), que, colocados lado a lado, compunham palavras e frases.
Entre 1455 e 1456, o primeiro livro impresso na Europa, a Bíblia, saiu das prensas de Gutenberg. A partir de então, a imprensa tornou possível, com menores custos, a rápida reprodução de livros, que passaram a ser vendidos em livrarias, feiras e mercados. 
Os temas impressos eram muito variados: de orações e vida de santos a romances, histórias de cavalaria, trovas etc. Com a difusão da imprensa, o conhecimento e os ideais humanistas também se tornaram cada vez mais acessíveis não só aos estudiosos, mas aos burgueses em geral.
A imprensa teve um papel importante na divulgação das ideias de Lutero. Milhares de folhetos, alguns com gravuras, foram publicados em defesa da Reforma. Esse tipo de divulgação, que aliava o texto à imagem, alcançou e influenciou grande número de pessoas.

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