domingo, 24 de setembro de 2023

Povos nativos da América espanhola

Os povos nativos da América

Eles são chamados por alguns estudiosos de pré-colombianos. Muito diferentes entre si, esses povos estavam espalhados por todo o continente. Em algumas regiões, a organização da sociedade era mais complexa, com a presença de cidades, comércio, construções religiosas, etc. Em outras, habitavam povos nativos nômades, que viviam da coleta e da caça.

Aos olhos dos europeus, os nativos americanos precisavam ser conduzidos ao mesmo padrão de cultura deles, ou seja, ser convertidos ao catolicismo, responder a um rei e ter os mesmos costumes. Assim, os habitantes da América passaram a ser vistos de forma preconceituosa, o que colaborou para a dominação europeia no continente.
É importante, ainda, voltar a destacar que esse movimento de expansão dos europeus era motivado, em grande parte, pela busca de riquezas: mercadorias que pudessem ser comercializadas na Europa, sobretudo metais preciosos.
Quando Cristóvão Colombo chegou à América, em 1492, ele acreditava ter desembarcado em terras das Índias. Por isso, chamou de índios àquelas pessoas de línguas e costumes tão diferentes dos europeus.
Por causa das diferenças, muito europeus não acreditavam que os índios fossem seres humanos como eles. Muitos nativos tiveram a mesma reação: não podiam crer que aqueles homens de barbas e armaduras fossem semelhantes a eles.

As Principais civilizações Pré-Colombianas

Conhecidos como povos pré-colombianos, os milhões de índios que viviam na América quando Colombo aqui aportou estavam divididos em mais de 3 mil nações com diferentes culturas.
Até a chegada dos conquistadores europeus a partir do século XV, muitos dos agrupamentos humanos que habitavam a América do Norte, o Caribe, o Brasil e a parte sul do continente mantiveram um tipo de vida bastante simples, fundado na caça, pesca e agricultura rudimentar.
Entretanto, algumas sociedades chegaram a apresentar um elevado grau de sofisticação, produzindo brilhantes civilizações como as dos astecas no México, dos maias na América Central e dos incas no Peru. Estas sociedades realizaram significativos avanços na agricultura, na metalurgia, na escrita, na matemática, na organização política e nas construções urbanas, entre outros, que muito as assemelhavam às primeiras grandes civilizações do Egito e da Mesopotâmia.

Os incas

O território inca estendia-se ao longo da cordilheira dos Andes e incluía terras hoje pertencentes a Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Argentina e Chile.
No Império Inca, constituído por algumas cidades e muitas aldeias, concentravam-se cerca de 15 milhões de pessoas que falavam a mesma língua, seguiam a mesma religião e viviam sob um governo centralizado.
A terra e a água pertenciam ao governo. Ele concedia a cada comunidade o direito de permanecer em determinada área, plantando e criando animais. Qualquer revolta significava a perda desse direito. E sem terra e água ninguém podia sobreviver.
Apesar de as terras serem trabalhadas pelas comunidades, elas serviam para atender as prioridades do governo, cujo líder absoluto era uma espécie de imperador, chamado Sapa Inca. Periodicamente, esse imperador contava com a força de trabalho de todas as pessoas e, de forma permanente, com a mão-de-obra de uma parte da população.
Os principais produtos cultivados pelas comunidades eram o milho, o feijão, a batata, o tomate, a goiaba, o abacate e o amendoim.
Além de cultivar a terra, os incas dedicavam-se à criação de Ihamas, guanacos, vicunhas e alpacas. Os Ihamas eram usados como animais de carga, embora ocasionalmente os incas se alimentassem de sua carne. As alpacas forneciam lã, utilizada para confeccionar roupas para a maioria da população. Da vicunha retiravam uma lã mais sedosa e de excelente qualidade, reservada para o vestuário dos chefes incas.
As cidades eram pequenas, pois a maioria da população vivia nas aldeias. Em cada cidade, em geral, havia:
- um templo dedicado ao deus sol, a principal divindade;
- armazéns onde eram guardados a comida e o vestuário, provenientes do pagamento de tributos;
- alojamentos para os soldados e para os artesãos;
- edifícios administrativos.
Nas aldeias, as casas eram construídas com blocos de pedra bruta e as fendas eram tapadas com barro. No lugar da porta, havia apenas um pedaço de couro cru, para proteger contra o vento. Os incas dormiam em esteiras e sentavam-se no chão.
Os principais alimentos eram batata, milho, feijão e diversos vegetais, tudo temperado com fortes condimentos.
Quanto ao vestuário, os homens trajavam uma túnica simples, que mal tocava os joelhos, e uma capa; as mulheres usavam vestidos compridos, adornados com um cinto largo, e uma capa. Nas terras altas, por causa do frio, as roupas eram de lã, e nas regiões costeiras, de algodão.

Os astecas e os maias

Os astecas e os desenvolveram-se na região conhecida como Mesoamérica. Os astecas habitavam as terras do atual México; os maias ocupavam a região onde hoje estão a Guatemala, parte de Honduras, El Salvador, Belize e a península de Iucatã, no México.
Na época em que os espanhóis desembarcaram na América, a sociedade maia encontrava-se em crise; a asteca ao contrário, era a principal sociedade da Mesoamérica, dominando diversos povos da região.
Apesar das inúmeras diferenças, é possível estabelecer algumas semelhanças entre astecas e maias. Os dois povos tinham uma economia agrícola, com aperfeiçoadas técnicas de produção, incluindo o uso de adubos e a construção de barragens e canais de irrigação. Entre eles havia também desigualdades sociais.
No planalto mexicano, a ausência de chuvas combinada com clima quente e seco provocava o ressecamento do solo. Por isso, eram utilizados diversos processos de irrigação, feitos a partir do trabalho coletivo, em regime de servidão.
As autoridades militares e religiosas dominavam os trabalhadores com o uso da força. O poder militar era utilizado ainda para conseguir o pagamento de tributos, conquistar novos territórios e submeter as comunidades conquistadas.
Esses povos acreditavam que os governantes eram representantes dos deuses, que não recompensaria as comunidades com boas colheitas se elas não pagassem tributos ao Estado.
Os tributos eram pagos, principalmente, com parte daquilo que era produzido ou com serviços prestados na construção de obras públicas (canais, represas e estradas).
O principal produto agrícola era o milho. Cultivavam também o feijão, a mandioca, a abóbora, a batata-doce, o tomate, o cacau, a batata, além de frutas como o abacaxi, o maracujá e o caju.
Apesar de a economia ser inteiramente voltada para a agricultura, esses povos construíram cidades com extensas e largas passagens, palácios e templos de pedra, terraços e jardins com fontes.
A principal diferença entre os astecas e os maias diz respeito à organização política. Enquanto os astecas viviam submetidos a chefes guerreiros, os maias não tinham uma forma de governo unificada.
Os maias eram povos que falavam línguas aparentadas e viviam em cidades independentes umas das outras que frequentemente lutavam entre si.

Conquista da América
Os espanhóis começaram a conquista da América pelas ilhas do Caribe, que incluem os atuais Haiti, República Dominicana, Cuba, Porto Rico e Jamaica. Nessas ilhas, viviam povos indígenas como os aruaques (entre eles, os tainos) e os caraíbas.
Os primeiros conquistadores que exploraram as ilhas da América Central em nome da Coroa espanhola foram Cristóvão Colombo (a partir de 1492), Rodrigo de Bastidas
(a partir de 1493) e Vasco Núñez de Balboa (a partir de 1501). Eles, assim como outros conquistadores, entraram em guerra com os povos locais para garantir o poder dos espanhóis nas terras americanas.
Durante a colonização, os europeus forçaram os indígenas a trabalhar na extração de metais preciosos, na criação de animais, na agricultura e na construção de cidades, como Santo Domingo (atual capital da República Dominicana), San Juan (atual capital de Porto Rico) e Havana (atual capital de Cuba). Santo Domingo, fundada em 1496, foi a capital da primeira colônia espanhola no Novo Mundo.
Na América Central, os colonizadores rapidamente encontraram pepitas de ouro nas margens e nos leitos dos rios (ouro de aluvião). Mas a quantidade era pequena diante da ambição dos conquistadores. Não demorou para que as reservas se esgotassem e a população indígena fosse dizimada, principalmente devido a doenças e à intensa exploração de seu trabalho.

Conquista dos astecas

Os astecas foram conquistados por tropas espanholas comandadas por Fernão Cortez. Ele desembarcou na região do atual México em 1519, com quinhentos homens, e foram pacificamente recebidos pelos povos nativos. Em breve, porém, surgiu a discórdia entre eles. Cortez fora informado sobre a riqueza do Império Asteca, que possuía quantidades enormes de ouro. Entusiasmado com a notícia, ele decidiu atacar os astecas. Cortez dispunha de aproximadamente seiscentos soldados, dez canhões de bronze, quatro canhões leves, treze mosquetes, dezesseis cavalos e onze embarcações. Era uma força relativamente pequena diante da superioridade numérica dos soldados astecas.
Por isso, os espanhóis estabeleceram alianças com indígenas tlaxcaltecas, que se opunham ao poder asteca. Assim, Cortez e seus homens, acompanhados de um exército tlaxcalteca, marcharam para Tenochtitlán, a capital do império.
Em Tenochtitlán, o imperador Montezuma (1466-1520) ficou surpreso com as notícias que lhe deram sobre as forças dos adversários (armas de fogo, espadas de aço, cavalos). Talvez por isso decidiu receber os espanhóis com presentes e chegou a hospedá-los em seu palácio. Provavelmente, procurou ser diplomático para evitar uma guerra. Quem seriam aqueles estrangeiros inesperados? O fato é que nunca saberemos ao certo as razões que levaram o imperador asteca a tomar essa decisão.
O contato amistoso durou pouco. Combinando habilidade e violência, Cortez aprisionou Montezuma em seu próprio palácio e procurou tomar Tenochtitlán.  Revoltados com as crueldades, os astecas atacaram os espanhóis. Nesse ataque, mataram Montezuma, que tentava acalmá-los. Cortez e seus homens conseguiram fugir. Em maio de 1521, regressaram com reforços e cercaram a capital asteca, Tenochtitlán. 
Os habitantes da cidade resistiram por meses, mas foram atingidos por uma epidemia de varíola. As doenças, a superioridade das armas e as alianças com povos inimigos dos astecas contribuíram para a vitória dos espanhóis em 1521.
O rei espanhol recompensou Hernán Cortez por comandar essa vitória, nomeando-o governador e capitão-geral da Nova Espanha, novo nome atribuído ao antigo território dos astecas.

Conquista dos incas

Os espanhóis também receberam notícias de que havia muito ouro na região da Cordilheira dos Andes, em um território dominado pelo Império Inca. Sabendo disso, o espanhol Francisco Pizarro, organizou uma expedição para conquistar o centro político desse império.
Os incas foram conquistados por tropas espanholas comandadas por Francisco Pizarro, que chegaram à região do atual Peru em 1532. Seus métodos de conquista foram tão brutais quanto os de Cortez. Com uma manobra traiçoeira, as tropas de Pizarro mataram 2 mil incas e prenderam seu chefe, Ataualpa. Para libertá-lo exigiram enorme resgate.
Pizarro contava com aproximadamente duzentos soldados, munições e cerca de trinta cavalos. Porém, essa expedição enfrentou vários problemas como a resistência dos indígenas e a dificuldade de acesso a povoados que estavam localizados a mais de 3 mil metros de altitude.
Na época da conquista, o Império Inca atravessava uma grave crise política. Essa crise começou em 1527, quando o imperador Huayna Cápac (c. 1464-1527) morreu. Seus filhos Atahualpa (c. 1500-1533) e Huáscar (c. 1491-1532) passaram a disputar o trono, dividindo o império em duas partes, uma com sede em Quito e outra em Cuzco. Nessa luta, Atahualpa
derrotou Huáscar, mas se tornou líder de um império enfraquecido.
Em 1532, Pizarro solicitou um encontro pessoal com o imperador Atahualpa, que estava na cidade de Cajamarca (norte do atual Peru) com um exército de cerca de 30 mil homens. Confiante em seu exército, Atahualpa não se sentiu ameaçado pelas tropas espanholas e, por isso, aceitou encontrar-se com Pizarro.
O primeiro encontro entre eles foi amistoso. Porém, logo depois, Pizarro e seus homens armaram uma emboscada e capturaram o imperador. Para libertar Atahualpa, os incas deram um enorme tesouro em ouro e prata para os espanhóis. Contudo, mesmo recebendo o tesouro, Pizarro decidiu matar o imperador.
A morte de Atahualpa provocou forte abatimento moral em suas tropas. Para alguns historiadores, a finalidade da execução de Atahualpa, como também a do imperador asteca Montezuma, era derrubar com um único golpe a figura suprema do império e a autoconfiança dos indígenas que tentavam resistir.
Em 1533, Pizarro comandou o ataque vitorioso à cidade de Cuzco. Posteriormente, em 1535, fundou Lima, capital colonial espanhola e atual capital do Peru.
Durante as guerras de conquista, houve povos que se aliaram aos conquistadores para destruir o Império Inca e povos que resistiram intensamente à dominação espanhola. As batalhas entre o líder inca Túpac Amaru (1545-1572) e os espanhóis, por exemplo, foram os últimos focos de resistência à colonização. Túpac Amaru foi preso e decapitado pelos espanhóis em 1572.

Administração colonial

Inicialmente, a Coroa espanhola tinha o objetivo de tomar posse das terras americanas com rapidez, sem gastar muito. Para isso, concedeu o direito de ocupar e explorar essas terras a particulares, chamados adelantados. Homens como Hernán Cortez e Francisco Pizarro foram adelantados. Eles recebiam o direito de controlar a administração, a justiça e a economia. Em troca, eram obrigados a enviar para a Coroa espanhola um quinto de toda a riqueza que extraíam ou produziam.
A fiscalização dos ganhos obtidos pelos adelantados era feita pela Casa de Contratação, instituição da Coroa espanhola criada em 1503, com sede em Sevilha. A Casa estabeleceu que, na Espanha, somente os portos de Sevilha e, depois, de
Cádiz seriam utilizados para controlar a chegada e a saída de navios em viagem para a América. Por sua vez, na América, tanto para sair quanto para entrar, as embarcações deveriam utilizar somente os portos de Havana (Cuba), Vera Cruz (México), Portobelo (Panamá) e Cartagena (Colômbia).

Presença da Coroa

Aos poucos, a Coroa espanhola ampliou o controle sobre as colônias e diminuiu o poder dos adelantados. Para isso, em 1524, criou o Conselho das Índias, que assessorava o rei nas questões da administração colonial. O Conselho tinha a função de nomear funcionários, criar normas e aplicar leis nas colônias espanholas.
A monarquia espanhola passou a administrar diretamente suas colônias. Com esse objetivo, foram criados os vice-reinos da Nova Espanha (1535), do Peru (1543), de Nova Granada (1717) e do Rio da Prata (1776). Os vice-reis atuavam como representantes do rei da Espanha na América. A atuação dos vice-reis era fiscalizada por outros altos funcionários enviados pelo rei.
Para combater invasões de estrangeiros e ataques de povos indígenas resistentes à conquista, foram criadas as capitanias-gerais. Entre elas, destacam-se as capitanias-gerais do Chile, da Guatemala, de Cuba e da Venezuela. Os capitães-gerais eram comandantes militares subordinados aos vice-reis, mas, em muitos casos, mantinham uma relação direta com a Coroa espanhola.
Também foram criados tribunais judiciários chamados audiências, formados por magistrados nomeados pelo rei. Aos poucos, as audiências passaram a ter também funções administrativas.
Nas cidades mais importantes foram criadas as câmaras municipais, chamadas de cabildos ou ayuntamientos. Esses órgãos dedicavam-se, principalmente, à administração e segurança locais, sendo controlados por espanhóis e criollos (descendentes de espanhóis nascidos na América).

Sociedade

Na América espanhola, havia uma divisão social em função da origem de cada indivíduo. Conheça alguns grupos que se formaram:
• chapetones – colonizadores nascidos na Espanha que ocupavam os principais cargos na administração pública, na Igreja e no exército. Além disso, possuíam estabelecimentos comerciais e grandes propriedades de terra;
• criollos – colonos descendentes de espanhóis nascidos na América. Alguns tornaram-se importantes proprietários de terras e comerciantes bem-sucedidos. Mesmo conquistando poder econômico, não tinham os mesmos direitos políticos que os chapetones;
• mestiços – filhos de espanhóis ou de criollos com mulheres indígenas. Formavam um conjunto de pessoas livres que podiam trabalhar como comerciantes, artesãos e capatazes nas fazendas;
• indígenas – povos originários da América que constituíam a maior parte da população. Embora as relações entre indígenas e colonizadores variassem muito, o que predominava era a exploração de seu trabalho nas fazendas, nas minas e nas obras públicas;
• negros – africanos e seus descendentes. Formavam uma população pouco numerosa no início da colonização da América espanhola. Foram escravizados principalmente nas ilhas do Caribe e no vice-reino de Nova Granada.
Economia e trabalho
A busca por ouro e prata foi um dos principais motivos que impulsionaram a colonização espanhola na América. Nas ilhas do Caribe, os conquistadores acabaram rapidamente com o ouro que haviam encontrado. Mas, em 1545, os espanhóis descobriram grandes quantidades de prata em Potosí (atual Bolívia) e, no ano seguinte, em Zacatecas (atual México).
No século XVII, a maior parte da prata extraída no mundo vinha das minas de Potosí. Calcula-se que, em 1573, cerca de 120 mil pessoas habitavam Potosí. Para se ter uma comparação, a importante cidade de Sevilha, na Espanha, tinha 90 mil habitantes na mesma época.
Ao explorar essas minas, os espanhóis usaram técnicas de metalurgia, fizeram obras hidráulicas e outras construções. As minas eram administradas por nobres espanhóis, que pagavam os custos com mão de obra e equipamentos utilizados na extração, bem como os impostos cobrados pela Coroa espanhola.
Além da exploração de metais, os espanhóis implantaram outras atividades econômicas, como agricultura, criação de animais e oficinas de tecelagem. As principais plantas cultivadas foram o milho, o cacau, a batata, o tabaco e a cana-de-açúcar. Criavam animais como mulas, cavalos e bois. Com os bois, produziam couro e charque, que é uma carne salgada e seca ao sol. As mulas e os cavalos foram utilizados como animais de transporte.
As atividades econômicas coloniais visavam produzir artigos tanto para o mercado externo como para o mercado interno. Assim, grandes quantidades de ouro, prata, açúcar e cacau foram exportadas para a Europa. E, ao mesmo tempo, eram produzidos e utilizados nas colônias variados gêneros alimentícios, tecidos, animais para o transporte de carga, metais para cunhar moedas etc.

Formas de trabalho

Durante o processo de colonização, os espanhóis utilizaram diferentes formas de exploração do trabalho. A seguir, vamos estudar quatro delas: a escravidão, a encomienda, o repartimiento e a peonaje.

Escravidão

A escravidão transformava indígenas e negros em mercadorias, que tinham um dono e podiam ser comprados e vendidos. Os escravizados perdiam contato com seu povo e eram obrigados a trabalhar para seu dono pelo resto de suas vidas ou até serem libertados.
A escravização de indígenas ocorreu sobretudo no início da colonização, nas ilhas do Caribe. Em 1542, a Coroa espanhola proibiu a escravização de nativos devido, em parte, a pressões da Igreja Católica. A Igreja denunciou os maus-tratos sofridos pelos indígenas e pretendia convertê-los ao cristianismo.
Apesar da proibição, a escravidão era admitida se os indígenas resistissem ao domínio espanhol e à conversão religiosa. A escravização de africanos, por sua vez, continuou a existir na América espanhola, principalmente nas fazendas de Santo Domingo, Cuba e Nova Granada (correspondente aos atuais Equador, Panamá, Colômbia e Venezuela). Foi chamada de plantation a grande fazenda que tinha as seguintes características: a) utilizava mão de obra escrava; b) produzia um gênero agrícola tropical (cana-de-açúcar, tabaco etc.); c) destinava sua produção à exportação.

Encomienda: tributos em produtos e trabalho

A encomienda era um sistema pelo qual o colono fazia um acordo com a Coroa espanhola para explorar o trabalho dos indígenas. Nesse acordo, o colono (chamado “encomendero”) recebia o direito de cobrar tributos de uma comunidade indígena na forma de produtos e de trabalhos na agricultura, na pecuária ou nas minas. Em contrapartida, o encomendero tinha o dever de alimentar os indígenas e promover o ensino da religião católica.
A encomienda era diferente da escravidão, pois preservava um pouco da liberdade dos indígenas. Nesse sistema, os nativos poderiam manter relação com sua aldeia de origem, deviam trabalhar por tempo determinado e não seriam comprados e vendidos como mercadorias.
Porém, muitos encomenderos usufruíram de seus direitos sem cumprir seus deveres. Na prática, milhares de indígenas foram forçados a trabalhar por tempo indeterminado e morreram por maus-tratos. Além disso, com o tempo, os encomenderos se tornaram tão poderosos que representavam uma ameaça ao poder da Coroa espanhola nas colônias americanas. Tudo isso contribuiu para que ocorressem mudanças nas formas de exploração do trabalho indígena.
Na luta pela defesa dos povos indígenas, destacou-se o frei dominicano espanhol Bartolomeu de Las Casas (c. 1474-1566). Ele argumentava que a evangelização dos indígenas deveria seguir os princípios fundamentais do cristianismo. Isso significa levar a mensagem cristã de forma pacífica, dialogando com as culturas indígenas para transformá-las pelo convencimento, e não pela violência física.

Repartimiento: pagamento pelo trabalho forçado

O repartimiento era uma forma de trabalho forçado na qual cada comunidade indígena tinha que ceder aos espanhóis, por certo período, uma parcela de sua população masculina. Esses homens eram pagos por seu trabalho, mas recebiam salários menores do que os trabalhadores livres.
O repartimiento era administrado por um funcionário real. Com esse sistema, a Coroa tinha maior controle sobre o trabalho indígena. O repartimiento foi chamado mita no Peru e cuatequil no México, pois era uma adaptação de formas de trabalho já utilizadas pelos incas e astecas para dominar outros povos vizinhos.
De acordo com o pesquisador Charles Gibson, a principal forma de trabalho utilizada pelos espanhóis nas minas de Potosí era a mita. Para a região de Potosí, foram recrutados milhares de trabalhadores que, juntamente com suas famílias, atingiram imensas proporções na história da colonização espanhola.

Peonaje: trabalho livre assalariado

Importantes proprietários de terra adotaram formas de trabalho livre, como a peonaje, palavra que deriva de “peón” (peão, trabalhador não qualificado). Nesse sistema, o trabalhador tinha acesso à terra e se comprometia a fazer as tarefas combinadas em troca de empréstimos financeiros, pois o salário era baixíssimo.
Com o tempo, os indígenas que trabalhavam nas haciendas (grandes propriedades ou fazendas) tornavam-se praticamente servos, pois só podiam deixar a terra quando pagassem as dívidas que tinham contraído com seus patrões.
Os patrões cobravam dos indígenas uma parte do que produziam e lhes emprestavam dinheiro a juros altos. Famílias inteiras de nativos ficavam, assim, presas às fazendas.

Mortes, saques, doenças

As consequências da presença europeia na América foram desastrosas. Entre 1500 e 1600, o número de nativos na América passou de cerca de 40 milhões para pouco mais de 10 milhões. Muitas das sociedades americanas foram destruídas e milhões de índios, mortos. Com isso, os europeus puderam promover uma verdadeira pilhagem nas novas terras.
Na região da América dominada pelos espanhóis, os conquistadores construíram um império à custa da submissão dos povos nativos, apoiados pela Igreja e estimulados pelos reis e pela burguesia. As riquezas saqueadas no Novo Mundo transformaram a Espanha na maior potência da Europa naquele período. Entre 1503 e 1660, chegaram à Espanha 185 toneladas de ouro e 25 mil toneladas de prata, entre muitas outras riquezas.

A América Pré-colombiana

A América Antiga

A história dos povos americanos não começou com a chegada dos europeus. Quando estes aqui chegaram, encontraram várias sociedades plenamente organizadas. Ao longo dos séculos, entretanto, a ação dos colonizadores acabou por eliminar em grande parte a história desses povos.

Aos olhos dos europeus, os nativos americanos precisavam ser conduzidos ao mesmo padrão de cultura deles, ou seja, ser convertidos ao catolicismo, responder a um rei e ter os mesmos costumes. Assim, os habitantes da América passaram a ser vistos de forma preconceituosa, o que colaborou para a dominação européia no continente.
É importante, ainda, voltar a destacar que esse movimento de expansão dos europeus era motivado, em grande parte, pela busca de riquezas: mercadorias que pudessem ser comercializadas na Europa, sobretudo metais preciosos.
Quando Cristóvão Colombo chegou à América, em 1492, ele acreditava ter desembarcado em terras das Índias. Por isso, chamou de índios àquelas pessoas de línguas e costumes tão diferentes dos europeus.

Por causa das diferenças, muito europeus não acreditavam que os índios fossem seres humanos como eles. Muitos nativos tiveram a mesma reação: não podiam crer que aqueles homens de barbas e armaduras fossem semelhantes a eles.

O continente americano foi habitado por diversos povos. Entre eles, destacamos os olmecas, os maias, os astecas, os incas e os Tupi-guarani. Cada um desses povos desenvolveu culturas singulares, com modos de falar, pensar e trabalhar próprios. Um dos elementos em comum entre esses povos foi o cultivo do milho, cereal cultivado pela primeira vez por povos antigos da América.

América indígena

Ao longo do tempo, os povos originários que viviam no continente americano receberam diversos nomes por parte dos estudiosos. Vejamos alguns deles:
pré-colombianos – termo que tem como referência a chegada do navegador e explorador genovês Cristóvão Colombo à América;
nativos – termo que designa aqueles que nascem e vivem em um local;
índios – termo que se popularizou por conta de um equívoco de Colombo, que não sabia que havia encontrado um novo continente, acreditando ter chegado às Índias.
Todos esses nomes são convenções criadas para se referir a mais de 3 mil povos diferentes que viviam na América antes da chegada dos europeus no século XV.
Apesar dessa diversidade, atualmente esses povos preferem termos como povos originários ou indígenas para se autoidentificar, lutar por seus direitos e valorizar suas culturas.

As Principais civilizações Pré-Colombianas

Conhecidos como povos pré-colombianos, os milhões de índios que viviam na América quando Colombo aqui aportou estavam divididos em mais de 3 mil nações com diferentes culturas.
Até a chegada dos conquistadores europeus a partir do século XV, muitos dos agrupamentos humanos que habitavam a América do Norte, o Caribe, o Brasil e a parte sul do continente mantiveram um tipo de vida bastante simples, fundado na caça, pesca e agricultura rudimentar.
Entretanto, algumas sociedades chegaram a apresentar um elevado grau de sofisticação, produzindo brilhantes civilizações como as dos astecas no México, dos maias na América Central e dos incas no Peru. Estas sociedades realizaram significativos avanços na agricultura, na metalurgia, na escrita, na matemática, na organização política e nas construções urbanas, entre outros, que muito as assemelhavam às primeiras grandes civilizações do Egito e da Mesopotâmia.

Mesoamericanos e andinos

Os olmecas, os maias e os astecas viviam em uma região chamada Mesoamérica, que corresponde à parte sul do México e a países como Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Costa Rica, Nicarágua e Panamá. Já os incas viviam nas regiões andinas da América do Sul, entre a Cordilheira dos Andes e o litoral do Oceano Pacífico. 

Olmecas

Os olmecas se desenvolveram, aproximadamente, entre 1200 a.C. e 400 a.C. A cultura olmeca espalhou sua influência por uma vasta área que se estende, atualmente, do México (estados de Veracruz e Tabasco) ao Panamá.
Pesquisas arqueológicas indicam a existência de, ao menos, quatro grandes centros urbanos olmecas, cujos nomes atuais são: São Lourenço, Três Zapotes, Laguna de Los Cerros e La Venta. Nesses lugares, os arqueólogos encontraram vestígios de uma rica cultura que construiu, entre outras obras, pirâmides, templos, praças e imensas esculturas de basalto. La Venta foi, provavelmente, o centro olmeca mais populoso, abrigando cerca de 18 mil habitantes.
Os olmecas cultivavam plantas como milho, feijão e abóbora. Também caçavam e recolhiam frutas silvestres. Extraíam látex e produziam borracha. Por isso, ficaram conhecidos como “povo da borracha”.
A religião desse povo era politeísta. Eles cultuavam vários deuses, simbolizados por animais e forças da natureza, como o jaguar, a serpente, o Sol, a água, as montanhas e certas plantas agrícolas. Em alguns cultos, os dirigentes olmecas podiam atuar como sacerdotes, pois acreditava-se que eram dotados de poderes sobrenaturais.
Além disso, os olmecas desenvolveram um calendário que servia para orientar as atividades agrícolas, do plantio à colheita. Inventaram também um sistema de numeração e de escrita com base em sinais (glifos) que eram gravados ou pintados.
A sociedade olmeca não formou um império unificado, dirigido por um governo centralizado. O que havia eram centros regionais que organizavam sua sociedade. Nesses centros, os historiadores perceberam a existência de diversos grupos sociais, constituídos por camponeses, artesãos, comerciantes, escribas, sacerdotes e dirigentes políticos.

A civilização asteca

Os astecas eram um povo que migrou de regiões norte-americanas e foi ocupando a região conhecida como Vale do México, entre os séculos XII e XIII. Chegaram ao fértil vale do México em busca de terras, aproveitando-se das rivalidades existentes entre os grupos que ali habitavam para conquistá-los. Também chamados de mexicas (de onde deriva o nome “México”), eles falavam o nahuatl, que é a língua indígena mais falada hoje nesse país, mesmo após ter passado por transformações. Em algumas dezenas de anos, construíram um vasto império, que se estendia do oceano Pacífico ao Atlântico, cuja capital era a exuberante cidade de Tenochtitlán.
Os astecas estabeleceram núcleos de povoamento em torno do Lago Texcoco. Fundaram ali a cidade de Tenochtitlán, que se tornou a capital. No centro dessa cidade havia um imponente templo construído em forma piramidal. Os historiadores calculam que Tenochtitlán chegou a ter entre 100 mil e 230 mil habitantes, alcançando uma área de 13,5 quilômetros quadrados. Para ter uma ideia do tamanho dessa cidade asteca, podemos compará-la à movimentada Sevilha, que tinha cerca de 150 mil habitantes e era a maior cidade espanhola no século XVI.
Por meio de alianças e conquistas militares, os astecas expandiram seus territórios, dominando regiões centrais do atual México, desde o Atlântico até o Pacífico. Calcula-se que a população desse império atingiu cerca de 6 milhões de pessoas.
Grandes centros urbanos, como Tenochtitlán, eram sustentados por tributos, muitas vezes pagos sob a forma de alimentos que vinham das diferentes regiões dominadas pelos astecas.
Na conquista e consolidação de seu império, os astecas assimilaram as ricas culturas dos povos vencidos, especialmente as dos toltecas e dos olmecas, ao mesmo tempo que passaram a cobrar deles um pesado tributo anual em espécie (comida, ouro, pedras preciosas etc.).

Sociedade, economia e saberes

A sociedade asteca era fortemente hierarquizada. Era composta de nobres, comerciantes, artesãos e camponeses. Entre os nobres, estavam o imperador, os sacerdotes, os chefes militares, os governadores de províncias e os altos funcionários do Estado. Também havia uma elite de ricos comerciantes e artesãos. A maioria da população era formada por camponeses obrigados a pagar tributos para o governo.
Os astecas desenvolveram uma agricultura complexa. Drenaram pântanos, abriram canais de irrigação e construíram chinampas, ilhas artificiais destinadas ao cultivo agrícola.
A economia asteca baseava-se principalmente na agricultura. Cultivavam o milho – o principal alimento dos povos do império –, o feijão, a abóbora, a pimenta, o abacate, o algodão e o fumo. O artesanato – especialmente a tecelagem e a ourivesaria – e o comércio astecas eram também bastante desenvolvidos.
Além disso, os astecas criavam animais como perus, patos e cachorros. Comercializavam bens como tecidos, peles, cerâmicas, sal, ouro e prata. Dominavam técnicas de ourivesaria, cerâmica, tecelagem e engenharia, que aplicavam, por exemplo, na construção de diques, templos e aquedutos. Produziam obras de arte como máscaras em forma de mosaico, muitas vezes representando divindades. Os astecas desconheciam o uso do ferro e da roda.
No plano político, o Império Asteca era uma teocracia militar em que o chefe do governo considerado por todos como um ser semidivino, tinha o título de “chefe dos guerreiros” e concentrava enormes poderes em suas mãos. Eleito por um conselho supremo dentre os aristocratas das famílias mais poderosas, o imperador tinha como principal função o comando do exército e era, além disso, o responsável pela política externa.
A religião asteca era politeísta e seus deuses mais cultuados eram o da guerra, o da chuva e a mãe-terra, o que não é de se estanhar numa sociedade que valorizava o comportamento guerreiro e se apoiava na agricultura.
A arte asteca era fortemente influenciada pela religião e suas principais manifestações deram-se no campo da arquitetura e da escultura. A capital asteca possuía jardins erguidos em terraços, ruas retas e largas, aquedutos que forneciam água, templos, oratórios e mercados que maravilharam os espanhóis. A escultura era rica em detalhes e usava a argila, a pedra, o barro cozido, o jade e a madeira.
Assim como os maias, os astecas desenvolveram um calendário, um sistema de escrita baseado em signos e produziram códices (livros). O Códice Boturini e o Códice Mendoza foram criados por volta de 1540, cerca de vinte anos após a chegada dos espanhóis.
Os astecas eram politeístas, ou seja, cultuavam diversos deuses. Entre eles, estavam:
Huitzilopochtli – deus da guerra e do Sol;
Tlaloc – deus da chuva e do trovão;
Quetzalcóatl – também conhecido como serpente emplumada, deus da água, da terra, da escrita, do calendário e das artes.
Para cultuar esses deuses, os astecas erguiam templos com forma de pirâmide e realizavam rituais de sacrifício humano. As pessoas sacrificadas eram, em sua maioria, prisioneiros de guerra. Na cultura asteca, esse ritual era um momento de renovação da aliança entre deuses e seres humanos.
Os astecas possuíam profundos conhecimentos de astronomia (como se pode concluir por seu calendário, que dividia o ano em 365 dias). A escrita desenvolvida por eles utilizava desenhos para representar pensamentos ou idéias, uma vez que não chegaram a desenvolver um alfabeto.

A civilização maia

A história maia tem suas origens no século VIII a.C. Antropólogos e historiadores apontam que o grande desenvolvimento dessa civilização ocorreu entre 300 d.C. e 900 d.C. A civilização maia floresceu nas planícies da península de Iucatã na região onde hoje situam-se a Guatemala, Honduras e Belize. Nesse período, os maias construíram cidades-Estado como Copán (na atual Honduras),
Tikal (na atual Guatemala), Chichén Itzá e Palenque (ambas no atual México). Eram cidades autônomas, que tinham governos, leis e costumes próprios. Apesar da autonomia, essas cidades-Estado mantinham certas alianças e relações comerciais. Eram comercializados bens como cacau, sal, conchas e jade, um tipo de pedra ornamental.
Dois problemas dificultam um conhecimento maior dessa civilização: a escrita hieroglífica dos maias não está totalmente decifrada e, além disso, muitos dos seus documentos (bem como de outros povos pré-colombianos) foram queimados pelos espanhóis durante a conquista.

Sociedade, economia e saberes

A sociedade maia tinha divisões hierárquicas entre os diferentes grupos. Havia uma elite composta de nobres, sacerdotes e guerreiros. Mas a maioria da população era formada por agricultores e artesãos, que pagavam tributos para o governo. Cada cidade tinha um chefe de governo que era considerado um representante dos deuses.
A sociedade maia era dividida em quatro grandes camadas: a dos militares e dos sacerdotes, cujos cargos eram hereditários, e que constituíam a elite dominante; abaixo deles situava-se a dos trabalhadores livres, agricultores em sua maioria; e, por fim, a dos escravos (prisioneiros de guerra ou condenados pela justiça).
A camada dos sacerdotes era a única que possuía o domínio da escrita e do saber científico, o que lhes permitia, por exemplo, organizar um calendário agrícola e, por meio dele, determinar o tempo de adubar, plantar e colher.
A principal atividade econômica dos maias era a agricultura. Entre os alimentos que cultivavam, destacam-se milho, algodão, feijão, cacau, abacate e chili (pimenta). Eles empregavam uma técnica agrícola chamada coivara, que incluía a derrubada e a queima das plantas nativas, abrindo espaço para o cultivo.
Não utilizavam o arado, nem a roda. O milho – principal alimento maia – tinha uma importância muito grande para essa civilização, pois uma de suas lendas dizia que os homens foram criados a partir do milho.
Entre eles havia grandes construtores e talentosos artesãos, que produziam principalmente estatuetas, vasos e tecidos belíssimos.
Homens e mulheres desse povo dominavam as técnicas de cerâmica, o ofício de modelar ouro e prata (ourivesaria), a fiação e a tintura de tecidos. Entre as belas criações da arte maia, podemos destacar as obras arquitetônicas, as esculturas em baixo-relevo e os murais. Os maias também dominavam técnicas de produção de diferentes tipos de borracha, utilizando látex e extratos de plantas.
Politicamente, os maias nunca chegaram a formar um império. Cada cidade, como Palenque, Copán ou Tical, por exemplo, era um Estado independente. Daí se dizer que, assim como os antigos gregos, os maias também estavam organizadas em cidades-Estados. Eram governados por um imperador considerado semidivino, que, ao morrer, passava o cargo para o parente mais próximo. Ou seja, o governo maia era uma teocracia de caráter hereditário.
A religião influenciou fortemente diversos aspectos da vida e da produção dos maias. A arquitetura, por exemplo, era marcadamente religiosa, como se pode concluir observando as ruínas dos templos construídos sobre pirâmides monumentais, que serviam de palco para rituais religiosos. A escultura e a pintura também revelavam a importância dos deuses, os “senhores do destino”.
A partir do ano 900, verificou-se uma dispersão paulatina da população maia, que, na época, era formada por 15 milhões de pessoas, aproximadamente. Aos poucos os maias abandonaram os grandes centros em que viviam e mesclaram-se com outros grupos. Conforme estudos recentes, esse processo deveu-se principalmente ao esgotamento dos solos férteis.
Belos palácios e templos em forma de pirâmide foram erguidos em várias cidades maias. Em Tikal, por exemplo, arqueólogos encontraram mais de 3 mil construções, entre elas o Templo do Grande Jaguar. Esse templo tinha aproximadamente a altura de um prédio de 20 andares. Hoje, a área da antiga cidade de Tikal foi transformada em um parque nacional e declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

Escrita e calendário

Os maias criaram um sistema de escrita e produziram livros chamados códices. Embora a maioria dos códices tenha sido destruída pelos conquistadores europeus, alguns deles foram preservados e decifrados na segunda metade do século XX. Os códices são fontes históricas importantes, pois apresentam
aspectos da cultura maia. Nesses livros, os maias registraram, por exemplo, o cotidiano, as crenças religiosas e os conhecimentos científicos. A escrita maia foi grafada também em monumentos de pedra e artigos de cerâmica.
Além da escrita, os maias desenvolveram conhecimentos astronômicos e matemáticos (sistema numérico e o conceito do número zero). Observando o movimento da Lua, do Sol e de outras estrelas, eles elaboraram calendários de muita precisão, que os ajudavam a organizar as atividades agrícolas e as festividades religiosas.
A partir do século IX, a civilização maia entrou em declínio por razões que ainda são estudadas pelos historiadores. Várias possíveis causas foram apontadas para explicar o abandono das cidades maias: secas prolongadas, insuficiência da produção de alimentos para abastecer as populações, epidemias, invasões de povos vizinhos e rebeliões internas, entre outras.
A brilhante civilização maia sobreviveu até o início do século XVI, quando foi quase totalmente destruída pelos espanhóis.

O Império Inca

Os incas, um grupo da nação quíchua, eram originários da alta floresta Amazônica. Por volta de 1200, chegaram ao altiplano peruano, instalando-se nas imediações da cidade de Cuzco.
Atualmente, milhares de turistas visitam todos os anos a cidade de Cuzco, no Peru. Essa cidade foi a capital do Império Inca, civilização que habitava essa região desde antes do século XII.
Além de Cuzco, os incas construíram diversas cidades. Uma delas é Machu Picchu, que fica no topo de uma montanha, a 2400 metros de altitude. Provavelmente, essa cidade era visitada pelo imperador para descansar, caçar e receber autoridades estrangeiras. Machu Picchu foi abandonada pouco depois da conquista espanhola, no século XVI. Séculos depois, em 1911, uma equipe de arqueólogos liderada pelo estadunidense Hiram Bingham chegou à cidade, que estava coberta pela vegetação, mas era conhecida pelos moradores do entorno. Em 1983, Cuzco e Machu Picchu foram declaradas Patrimônios da Humanidade pela Unesco.
Ao longo de sua história, os incas foram se tornando mais poderosos que as sociedades andinas anteriores, como os reinos de Huari ou Chimu. Ao expandir seu território, os incas dominaram vários povos, alcançando uma população de cerca de 12 milhões de pessoas. No seu apogeu, o território inca abrangia uma área que hoje se estenderia do Equador ao Chile. Essa área era atravessada por uma rede de caminhos de cerca de 40 mil quilômetros. Por esses caminhos, os incas levavam suas leis, língua e crenças a centenas de povos submetidos. 
A partir de então, apoiados numa sólida formação guerreira, os incas tomaram Cuzco e, aos poucos, impuseram o seu domínio aos vários povos andinos. Com isso, constituíram um império imenso, que abrangia parte do território onde é hoje o Peru, o Equador, a Bolívia e uma parte do Chile.

Imperadores incas

O imperador inca era considerado uma divindade que recebia o nome de Sapa Inca e de “Filho do Sol”. Quando morria, o Sapa Inca era mumificado e cultuado. Entre os imperadores incas, podemos destacar Pachacuti, que governou de 1438 a 1471.

Sociedade, economia e saberes

Além do imperador, a elite inca era composta de sacerdotes, chefes militares, governadores locais e funcionários do Estado. Também havia grupos privilegiados de artesãos, guerreiros, projetistas e contabilistas.
A maioria da população era formada por camponeses, que se dedicavam, sobretudo, ao cultivo de milho, batata, feijão, quinoa, tomate e tabaco e à criação de animais como lhamas e alpacas. Esses animais eram utilizados para o transporte de cargas e para a obtenção de lã, leite e carne. Durante um período do ano, os camponeses eram obrigados a realizar serviços para o Estado, trabalhando como agricultores, pastores e construtores.
Os incas desenvolveram a tecelagem, a cerâmica, a metalurgia do bronze e do cobre e a ourivesaria de ouro e prata. Construíram palácios, templos, estradas pavimentadas, aquedutos, canais de irrigação e terraços de cultivo na encosta de montanhas.
O Império Inca, cuja capital era Cuzco, possuía cerca de 16 mil quilômetros de estradas bem construídas, que possibilitavam rápido trânsito das informações utilizadas pelo governo para manter um minucioso e rígido controle sobre a população. A economia inca era essencialmente agrícola. Plantavam dezenas de variedades, especialmente o milho, o feijão e a batata, valendo-se de um complexo sistema de irrigação composto por canais e grandes represas.
No Império Inca não havia propriedade privada da terra. Esta pertencia ao Estado, que concedia às comunidades aldeãs (ayllus) o direito de ocupar parte delas e de usufruir de sua produção.
Além das terras concedidas aos ayllus havia ainda as terras do Inca (Imperador) cuja função era sustentar as famílias de linhagem real; as terras do Sol, que serviam para alimentar os sacerdotes; e as dos curacas (administradores dos ayllus nomeados pelo governo). Todas essas terras eram trabalhadas coletivamente pelos membros dos ayllus, que nada recebiam em troca. Eles eram obrigados, ainda, a realizar serviços gratuitos para o Estado, tais como construir e reparar estradas, templos, canais de irrigação e represas. Essa obrigação chamava-se mita.
A sociedade inca obedecia a uma divisão rígida. A nobreza era formada pelo Inca e seus números parentes. Dessa elite saíam os comandantes do exército, os sacerdotes e os altos funcionários públicos.
A camada média era formada por artesãos profissionais (tapeceiros, ceramistas, ourives), soldados, contabilistas, projetistas e médicos. Eles habitavam as cidades e recebiam do Estado aquilo de que necessitavam para viver.
A grande maioria da população era composta por milhares de camponeses pertencentes às comunidades aldeãs. Com seu trabalho os camponeses sustentavam a nobreza guerreira, sacerdotal e administrativa do império.
Politicamente, o império era teocrático e autoritário. O imperador, conhecido como Inca ou filho do sol, era considerado como um ser semidivino e, como tal, era adorado, reverenciado e obedecido por todos. Possuía enormes poderes e privilégios, e o seu cargo era hereditário.
Abaixo do Inca havia um numeroso corpo de funcionários, militares, religiosos e civis, que zelava pela segurança e rigorosa administração do império. Cada ayllu era governado por um curaca, representante do imperador, cuja própria função era exigir as famílias camponesas a realizações de serviços obrigatórios para o Estado.
A religião dos incas era politeísta, e a divindade mais cultuada por eles era o Sol, de quem julgavam ser descendentes. Por acreditar na vida além da morte, os incas, assim como os antigos egípcios, preocuparam-se em mumificar seus soberanos.
A arquitetura dos incas era notável, como se pode notar ainda hoje pelas ruínas de Machu Picchu, cidade construída numa região quase inacessível, a 2500m de altitude.

Um império interligado

As cidades incas eram interligadas por uma vasta rede de estradas. Eram caminhos que atravessavam vales, desfiladeiros e montanhas. Ao longo das principais estradas, havia abrigos, armazéns e postos com jovens corredores. Esses jovens deveriam memorizar mensagens e transmiti-las oralmente até o próximo posto. Isso permitiu a rápida comunicação entre diversas regiões do império.
Os incas não conheciam a escrita, mas possíam um sistema de registro de informações em quipos (nós feitos num cordão). Os quipos eram feitos em uma série de cordões coloridos nos quais a posição e a quantidade de nós representam números. Serviam para registrar, por exemplo, impostos e divisões do tempo.
As cores e os agrupamentos de cordõezinhos permitiam identificar as categorias dos objetos. Os nós identificam as categorias dos objetos. Os nós indicavam números e datas. Por exemplo, o nó mais próximo da ponta do cordãozinho correspondia à unidade, o que se seguia Referia-se às dezenas, e assim sucessivamente. Por meio dos quipos, os funcionários imperiais conseguiam informações sobre a economia, administração e a população do vasto império.
Muitos quipos foram destruídos pelos conquistadores espanhóis, mas aqueles que resistiram se tornaram importantes fontes para o estudo da história dos incas.
Uma das línguas adotadas pelos incas foi o quíchua (ou quéchua). Hoje, essa língua é falada por cerca de 10 milhões de pessoas na América do Sul. O quíchua influenciou também
o português brasileiro, dando origem a palavras como condor, chácara, mate e pampa.
As civilizações inca, asteca e maia, bem como muitas outras culturas pré-colombianas, com seus modos de existência e conhecimentos variados, foram praticamente destruídas pelos europeus durante o processo de conquista da América. Além disso nesse processo, foram mortos milhões de ameríndios.

Os Tupi-guarani

Até o começo do século XVI, ninguém chamava de Brasil as terras que hoje formam nosso país. Essas terras eram habitadas há milhares de anos por povos indígenas que tinham uma rica cultura e desenvolviam atividades como a caça, a pesca, a coleta de alimentos, a agricultura e o artesanato.
Entre os povos que viviam no território do atual Brasil, estão os Tupi-guarani. Há indícios de que esses povos iniciaram um movimento de migração do sul da Floresta Amazônica em direção ao litoral por volta de 500 d.C. Eles buscavam a mitológica “Terra sem Mal”, um lugar onde havia fartura e não se morria.
Como vários povos em diferentes espaços e tempos históricos, os Tupi-guarani buscavam um mundo imaginário onde a existência seria mais feliz e plena para todos.

Localização dos povos indígenas

Apesar de terem certa unidade linguística e cultural, os Tupi-guarani não formavam um único povo. Eles se subdividiam em grupos que falavam línguas diferentes, mas parecidas entre si, como Carijó, Tupiniquim, Tupinambá, Potiguar, Guarani etc.
Segundo alguns pesquisadores, havia uma população de aproximadamente 1 milhão de Tupi-guarani antes do contato com os europeus. Essa população ocupava longos trechos do litoral e do interior, acompanhando o vale dos rios.
Havia também outros povos no território brasileiro. Os Tupi-guarani chamavam esses povos de tapuias, os “inimigos” que falavam outras línguas. Eram Cariri, Aimoré, Tremembé etc.
O mapa a seguir mostra as áreas ocupadas, no século XVI, por alguns povos indígenas no território que hoje abrange o Brasil.

Mortes, saques, doenças

As consequências da presença europeia na América foram desastrosas. Entre 1500 e 1600, o número de nativos na América passou de cerca de 40 milhões para pouco mais de 10 milhões. Muitas das sociedades americanas foram destruídas e milhões de índios, mortos. Com isso, os europeus puderam promover uma verdadeira pilhagem nas novas terras.
Na região da América dominada pelos espanhóis, os conquistadores construíram um império à custa da submissão dos povos nativos, apoiados pela Igreja e estimulados pelos reis e pela burguesia. As riquezas saqueadas no Novo Mundo transformaram a Espanha na maior potência da Europa naquele período. Entre 1503 e 1660, chegaram à Espanha 185 toneladas de ouro e 25 mil toneladas de prata, entre muitas outras riquezas.


O Mercantilismo e o Sistema Colonial

 As práticas econômicas dos Estados absolutistas

Os Estados europeus absolutistas desenvolveram ideias e práticas econômicas, posteriormente denominadas MERCANTILISMO, cujo objetivo era fortalecer o poder dos reis e dos países através da acumulação interna de ouro e de prata.
De acordo com as ideias econômicas da época, o ouro e a prata traziam o crescimento do comércio e das manufaturas, permitiam a com pra de cereais e de lã para o consumo da população, de madeira para a construção de navios e possibilitavam a contratação, pelo rei, de exércitos com soldados, armas e munições para combater os inimigos do país ou para conquistar territórios. A quantidade de ouro e de prata que um país possuísse era, portanto, o índice de sua riqueza e poder, "Um país rico, tal como um homem rico, deve ser um país com muito dinheiro e juntar ouro e prata num país deve ser a forma mais fácil de enriquecer (Citado por A. Smith, em "Causa da riqueza das nações.)
Numerosos documentos da época moderna retratavam claramente a importância que se dava à acumulação de ouro e de prata e ao saldo favorável na balança comercial: "A única maneira de fazer com que muito ouro seja trazido de outros reinos para o tesouro real é conseguir que grande quantidade de nossos produtos seja levada anualmente além dos mares, e menos quantidade de seus produtos seja para cá transportada".
Visando a obtenção do ouro e o saldo comercial favorável, os governos absolutistas passaram a interferir na economia de seus países, estabelecendo o protecionismo alfandegário através da cobrança de altos impostos sobre os produtos importados, estimulando a fabricação interna de mercadorias e concedendo prêmios e facilidades às exportações. Além, disso, os reis transformaram a exploração e o comércio de determinadas matérias-primas em monopólio do Estado ou de determinados súditos e favoreceram os empreendimentos coloniais.
A intervenção dos governos, mediante protecionismo, monopólios e exploração colonial, fortaleceu os reinos e enriqueceu a burguesia que acumulou grandes lucros com tais práticas. Os mercantilistas consideravam a agricultura uma atividade secundária em relação ao comércio e a produção de manufaturas, devendo apenas fornecer gêneros alimentícios à população, a baixos preços. Dessa maneira, os comerciantes e os empresários eram favorecidos, pagando salários reduzidos aos seus trabalhadores.
As práticas mercantilistas promoveram o desenvolvimento do comércio, incentivando o aparecimento de novos sistemas de produção de manufaturas (além das corporações de ofício existentes desde a época medieval) e estabeleceram o sistema colonial que vigorou até o início do século XIX.

Sistema Colonial

O esquema de dominação e exploração

Como diversos países europeus procuravam acumular metais, bem como proteger seus produtos em busca de uma balança de comércio favorável, ocorreu que a política mercantilista de um país entrava diretamente em choque com a de outro, igualmente mercantilista. Em outras palavras, os objetivos mercantilistas de um eram anulados pelos esforços do outro.
Percebendo o problema, os condutores do mercantilismo concluíram que a solução seria cada país mercantilista dominar áreas determinadas, dentro das quais pudesse ter vantagens econômicas declaradas. Surgiram, então, com grande força, as ideias colonialistas. Seu objetivo básico era a criação de um mercado e de uma área de produção colonial inteiramente controladas pela metrópole.
A partir dessas ideias, foi montado o sistema de exploração colonial, que marcou a conquista e a colonização de toda a América Latina, incluindo o Brasil.

Suas características essenciais foram:
- complementaridade — a produção colonial foi organizada com a função de complementar ou satisfazer os interesses dos países metropolitanos europeus. No caso do Brasil, por exemplo, foi organizada uma produção a fim de fornecer açúcar e tabaco, mais tarde ouro e diamantes, depois algodão e, em seguida, café, para o comércio europeu. Não se objetivava, de modo algum, desenvolver na colônia qualquer atividade voltada para seus interesses internos.

- monopólio comercial — era o instrumento básico utilizado para amarrar a vida econômica da colônia à da metrópole. Através do monopólio comercial, a colônia tornava-se um mercado exclusivo da burguesia metropolitana. Essa burguesia ficava com o direito de comprar, com exclusividade, os produtos coloniais, fazendo-o ao menor preço possível. De posse desses produtos, os comerciantes da metrópole os revendiam, no mercado europeu, aos mais altos preços admissíveis. Também era privilégio exclusivo da burguesia metropolitana vender produtos europeus para a população da colônia.
Devemos conhecer os seguintes conceitos chave do sistema colonial mercantilista:

- Metrópole — o país dominador da colônia. Centro de decisões políticas e econômicas.

- Colônia de exploração — a região dominada pela metrópole. Servia-lhe como retaguarda econômica.

Regra básica do pacto colonial — à colônia só era permitido produzir o que a metrópole não tinha condições de fazer. Por isso, a colônia não podia concorrer com a metrópole.

- Colônias - instrumentos geradores de riqueza

Podemos concluir que a competição comercial dos países mercantilistas impulsionou a competição colonial entre as potências europeias, com a conquista e a exploração de colônias na América, na África e na Ásia. Por sua vez, a competição colonial gerou a busca pelo controle do comércio colonial em seus setores mais lucrativos, como, por exemplo, o comércio negreiro de escravos. Dessa maneira, nasceram colônias totalmente enquadradas nos mecanismos de dominação do sistema colonial.
O papel dessas colônias era servir como instrumentos geradores de riquezas para as metrópoles. Não se permitia às colônias ter objetivos internos ou projetos de desenvolvimento próprios. Eram os interesses econômicos da metrópole que condicionavam os rumos da vida colonial, sendo autorizadas na colônia apenas atividades que permitissem a exploração de suas riquezas.

Colônias de exploração e colônias de povoamento

As colônias que seguiram as linhas gerais do pacto colonial foram denominadas colônias de exploração. O Brasil e várias regiões da América Latina, colonizados por portugueses e espanhóis, são exemplos típicos de colônias de exploração. Elas apresentavam as seguintes características:
- produção agrícola baseada na grande propriedade (enormes extensões de terra);
- ênfase na produção destinada ao mercado externo (produtos agrícolas e metais preciosos);
- grande utilização do trabalho escravo de índios e negros.

Houve, porém, um tipo de colônia que ficou relativamente fora dos quadros do sistema colonial mercantilista: as colônias de povoamento. Foi o caso, por exemplo, da colonização desenvolvida no norte e no centro dos Estados Unidos pelos ingleses, onde os laços coloniais eram mais brandos. As colônias de povoamento apresentaram as seguintes características:

- produção agrícola baseada na pequena propriedade;
- desenvolvimento de produção manufatureira voltada para o mercado interno;
- utilização do trabalho livre.

Expansão Marítima Europeia

Os europeus no Oriente

Desde as Cruzadas, realizadas entre os séculos XI e XIII, os europeus consumiam mercadorias orientais, principalmente especiarias (açúcar, canela, cravo, noz-moscada e gengibre) e artigos de luxo (cristais, espelhos, tecidos de seda e objetos de porcelana, entre outros).
A partir da quarta Cruzada, os comerciantes de Veneza e de Gênova passaram a controlar as rotas do Mar Mediterrâneo e o fornecimento de mercadorias orientais para a Europa. Sem concorrentes, eles cobravam preços muito altos e detinham o monopólio comercial desses produtos. Dessa forma, antes de chegar às mãos dos consumidores, os produtos orientais passavam por vários comerciantes, cada qual aumentando o preço da revenda para obter sua parcela de lucro.
As rotas terrestres que iam para as Índias eram longas, perigosas e acidentadas. Além disso, eram controladas pelos turcos, que cobravam pedágios ou saqueavam as caravanas comerciais.
No entanto, as trocas não se limitavam às mercadorias. As rotas de comércio promoviam também interações entre caravaneiros de povos distintos e o intercâmbio de ideias, valores, saberes e religiosidades.

A crise de crescimento do século XV

No início da Idade Moderna, surgiu um descompasso na economia europeia, entre a capacidade de produção e consumo na zona rural e na zona urbana. A produção agrícola no campo estava limitada pelo regime de trabalho servil.
O resultado disso era uma produtividade baixa e, consequentemente, a falta de alimentos para abastecer os núcleos urbanos. Já a produção artesanal nas cidades era alta e não encontrava consumidores na zona rural, devido ao baixo poder aquisitivo dos trabalhadores rurais e ao caráter autossuficiente da produção feudal.
Além disso, o comércio internacional europeu, baseado na compra de produtos orientais (especiarias, objetos raros, pedras preciosas), tendia a se estagnar, pois os nobres, empobrecidos pela crise do feudalismo, cada vez compravam menos essas mercadorias. Os tesouros acumulados pela nobreza durante as Cruzadas escoavam para o Oriente, em pagamento das especiarias. O resultado disso foi a escassez de metais preciosos na Europa, o que criava mais dificuldades ainda para o desenvolvimento do comércio.
A solução para esses problemas estava na exploração de novos mercados, capazes de fornecer alimentos e metais preciosos a baixo custo e, ao mesmo tempo, aptos para consumir os produtos artesanais fabricados nas cidades europeias. Mas onde encontrar esses novos mercados?
O comércio com o Oriente estava indicando o caminho. Os mercados da Índia, da China e do Japão eram controlados pelos mercadores árabes e seus produtos chegavam à Europa ocidental através do mar Mediterrâneo, controlado por Veneza, Gênova e outras cidades italianas. 
Desde a Idade Média, mercadores das cidades italianas de Gênova e Veneza dominaram o lucrativo comércio com a Ásia e a África feito pelo Mar Mediterrâneo. Nesse comércio eram negociados artigos de luxo (tapetes, tecidos de seda, objetos de porcelana) e especiarias (cravo, pimenta, noz-moscada, canela, gengibre).
No século XV, as especiarias eram utilizadas pelos europeus como temperos, remédios e perfumes. Esses temperos serviam para melhorar o sabor, o aroma e a conservação dos
alimentos. Especiaria significava “substância ativa, valiosa e rara”, daí a sua importância. 
As especiarias e os artigos de luxo eram comprados pelos comerciantes italianos nos portos de cidades como Constantinopla, Trípoli, Alexandria e Túnis. Esses produtos eram levados pelo Mar Mediterrâneo até a Europa Ocidental, onde eram revendidos a altos preços.
O grande número de intermediários nesse longo trajeto encarecia muito as mercadorias. Mas se fosse descoberta uma nova rota marítima que ligasse a Europa diretamente aos mercados do Oriente, o preço das especiarias se reduziria e as camadas da população europeia com poder aquisitivo mais baixo poderiam vir a consumi-las.

Mais interesses e novos caminhos

A burguesia europeia considerava necessário encontrar outros caminhos para chegar ao Oriente, por causa da dificuldade de acesso a seus produtos por terra e por intermédio dos comerciantes da Península Itálica.
Além disso, a população europeia voltara a crescer, e a falta de alimentos era frequente. Para combater a fome, uma das possibilidades era comprar comida do Oriente e revendê-la na Europa.
Havia ainda a necessidade de obter metais preciosos para a fabricação de moedas, pois as minas europeias já estavam esgotadas. Também a nobreza tinha interesse em encontrar novas rotas para as Índias, onde pretendia conquistar terras.
A partir de 1453, a necessidade de encontrar caminhos alternativos às Índias cresceu. O Império Turco, em expansão, conquistou a cidade de Constantinopla e bloqueou a passagem de embarcações europeias pelo Mar Mediterrâneo, interrompendo o fornecimento de especiarias e artigos de luxo aos centros comerciais europeus.
Para romper o domínio dos italianos sobre esse comércio lucrativo, portugueses e espanhóis começaram a buscar outros caminhos para o Oriente pelo Oceano Atlântico e pelo Oceano Índico, realizando um conjunto de viagens marítimas de longa distância, que ficaram conhecidas como Grandes Navegações ou expansão marítima.
No século XV, a burguesia europeia, apoiada por monarquias nacionais fortes e capazes de reunir grandes recursos, começou a lançar suas embarcações nos oceanos ainda desconhecidos — Atlântico, Indico e Pacífico - em busca de novos caminhos para o Oriente. Nessa aventura marítima, os governos europeus dominaram a costa da África, atingiram o Oriente e descobriram um mundo até então desconhecido: a América.
Na Europa, a partir do século XV, os governos e a burguesia intensificaram as navegações pelo Oceano Atlântico, por meio das quais pretendiam estabelecer novas rotas comerciais até as Índias. No entanto, para viabilizar essa opção, foi preciso desafiar o medo de viajar pelo Atlântico, cujos ventos, correntes marítimas e outros fenômenos naturais e geográficos que interferiam na navegação eram desconhecidos dos marinheiros da época. As histórias transmitidas de geração a geração sobre vários naufrágios que ocorreram nas primeiras experiências de navegação pelo Atlântico feitas por povos antigos (como gregos e etruscos) alimentavam rumores de que em suas águas viviam monstros.
No imaginário europeu, eles destruíam as embarcações e devoravam as tripulações, razões pelas quais o Atlântico era chamado de “Mar Tenebroso” e muitos navegantes temiam por suas vidas ao cruzá-lo. Ganhavam respeito e admiração as tripulações que conseguiam chegar ao destino pretendido e retornar ao porto de onde saíram.

Outras condições à expansão marítima europeia

A expansão marítima só foi possível graças à centralização do poder nas mãos dos reis. Um comerciante rico, uma grande cidade ou mesmo uma associação de mercadores muito ricos não tinham condições de reunir o capital necessário para esse grande empreendimento. Apenas o rei era capaz de captar recursos de toda a nação para financiar as viagens ultramarinas.
Eram enormes as dificuldades que tinham de ser superadas para navegar pelos oceanos. As embarcações tinham de ser melhoradas e as técnicas de navegação precisavam ser aprimoradas. No século XV, inventou-se a caravela. A bússola e o astrolábio passaram a ser empregados como instrumentos de orientação no mar, e a cartografia passou por grandes progressos. Ao mesmo tempo, a antiga concepção sobre a forma da Terra começou a ser posta em dúvida.
Seria a Terra realmente um disco chato e plano, cujos limites eram precipícios sem fim? Uma nova hipótese sobre a forma de nosso planeta começou a surgir: o planeta teria a forma de uma esfera. Nessa nova concepção, se alguém partisse de um ponto qualquer da Terra e navegasse sempre na mesma direção, voltaria ao ponto de partida. O desejo de desbravar os oceanos, descobrir novos mundos e fazer fortuna animava tanto os navegantes, que eles chegavam a se esquecer do medo que tinham do desconhecido. Dois Estados se destacaram na conquista dos mares: Portugal e Espanha. "

Inovações técnicas das Grandes Navegações

Várias inovações técnicas ajudaram a desenvolver a navegação dos europeus nos séculos XV e XVI. Eram inovações relacionadas principalmente aos tipos de embarcações e às formas de se orientar nos mares e nos oceanos. Confira a seguir algumas delas.
• Caravela portuguesa – navio com dois ou três mastros e velas em formato triangular, que podiam ser ajustadas para navegar a favor do vento ou contra sua direção. Essa embarcação passou a ser muito usada pelos portugueses a partir de 1441.
• Cartografia – prática de produção e estudo de mapas que foi aprimorada com as viagens marítimas. A partir do século XV, cartógrafos europeus fizeram os primeiros registros das terras onde os navegadores chegavam. Esses mapas eram guardados em segredo pelos navegadores e seus patrocinadores. No entanto, certas informações circulavam porque havia espionagem de navegadores a serviço de um Estado que passavam a trabalhar para outro.
• Bússola – instrumento de orientação que se tornou essencial para os navegadores nas longas viagens marítimas. Sua invenção é atribuída aos antigos chineses, mas foram os árabes que levaram a bússola para a Europa.
• Astrolábio – instrumento de orientação que permite conhecer a localização de um navio pela posição dos astros. Esse instrumento foi inventado na Grécia antiga e divulgado na Europa Ocidental pelos árabes, que dominaram a Península Ibérica.
As Grandes Navegações despertaram fascínio e desconfiança da população. Não era fácil encontrar pessoas dispostas a trabalhar em uma viagem pelo Oceano Atlântico, conhecido como “mar tenebroso”. Havia o temor de que esse mar fosse habitado por monstros marinhos e sereias. Existiam também perigos reais, como tempestades com ventos fortes e ondas imensas, que poderiam fazer os navios naufragarem.
Além disso, o cotidiano nos navios era difícil. A tripulação alimentava-se da comida embarcada no porto onde a viagem começava. Quase não havia verduras e legumes frescos, que eram fontes de vitamina C. Isso causava uma doença chamada escorbuto. A comida disponível (carne-seca, farinha, cereais e biscoitos) era vigiada e controlada pelo capitão do navio e pelo despenseiro, homem que cuidava do depósito de mantimentos. Devido à higiene da época, ratos e baratas circulavam pelos navios, disputando os alimentos com os marinheiros.

Riquezas, fé e conhecimentos

Diversos grupos sociais interessaram-se pela expansão marítima, pois ela possibilitava acumular riquezas, difundir a fé cristã e buscar novos conhecimentos. O acúmulo de riquezas era desejado, sobretudo, por reis e burgueses que queriam lucrar com o comércio de produtos vindos da África e da Ásia.
Como vimos, as rotas comerciais do Mar Mediterrâneo eram dominadas pelos genoveses e venezianos. Por isso, rotas alternativas foram buscadas nos oceanos Atlântico e Índico. A difusão da fé cristã interessava, principalmente, à Igreja Católica, que pretendia conquistar mais seguidores. Esse interesse intensificou-se a partir da Contrarreforma.
Já a busca por novos conhecimentos estava ligada à mentalidade renascentista e humanista de boa parte dos europeus dessa época. Essa mentalidade estava associada à curiosidade científica, ao desejo de aventura e à vontade de investigar o mundo.

A expansão portuguesa

O reino português existia desde 1139. Surgiu, juntamente com outros quatro remos cristãos no atual território da Espanha, durante a guerra de Reconquista, movida pela nobreza para expulsar os árabes da península Ibérica. Mas Portugal foi um reino tipicamente feudal, em que o poder era partilhado por inúmeras autoridades locais. Sua unificação completou-se em 1385, quando a burguesia portuguesa, unida em torno da monarquia, realizou uma revolução em que o rei saiu fortalecido.
Quando Portugal deu início às viagens atlânticas, Espanha, França e Inglaterra enfrentavam obstáculos para realizar a expansão marítima. Os espanhóis lutavam para expulsar os árabes que ocupavam parte da Península Ibérica; os franceses e os ingleses estavam envolvidos na Guerra dos Cem Anos e, após 1453, quando a guerra acabou, suas respectivas burguesias precisaram de tempo para acumular capital e financiar as navegações.
O reino português possuía uma tradição marítimo comercial em função de sua localização geográfica: estava voltado para o oceano Atlântico. No século XIV, ao tornar-se o primeiro Estado moderno da Europa com o apoio de sua burguesia mercantil, Portugal reunia condições necessárias para entrar na grande aventura da expansão marítima. Neste sentido, o pioneirismo português foi impulsionado por aspectos como:
• a experiência com navegação – desde o século XIII os portugueses participavam do comércio marítimo europeu, e Lisboa foi se transformando em um dos portos mais movimentados da Europa;
• a posição geográfica – a localização de Portugal garantia livre acesso ao Oceano Atlântico, bons ventos e correntes marítimas favoráveis à navegação;
• a centralização política – na época, Portugal já era um Estado independente e unificado, com um governo capaz de financiar um projeto complexo e caro como a expansão marítima;
• o interesse de diversos grupos sociais – a expansão marítima tornou-se um projeto que despertou o interesse de comerciantes, nobres, membros da Igreja Católica e trabalhadores em Portugal. A expansão era uma oportunidade para acumular riquezas, adquirir prestígio, difundir a fé católica, buscar novos conhecimentos e melhorar de vida.
Em 1415, os portugueses conquistaram e saquearam Ceuta, um importante centro comercial dominado pelos muçulmanos no norte da África. Essa conquista é considerada o início da expansão marítima portuguesa.
Prosseguindo com a expansão, os navegadores portugueses tiveram de superar várias dificuldades para alcançar o Oriente contornando a África. Entre elas, destacamos a travessia do Cabo Bojador, região onde muitas embarcações afundavam, e do Cabo das Tormentas, que foi rebatizado pelo rei dom João II (1455-1495) de Cabo da Boa Esperança por ter criado a possibilidade de se chegar às Índias.
Os navegadores portugueses levaram mais de oitenta anos para conseguir contornar a costa da África. Durante esse processo, os portugueses criaram feitorias para o comércio de ouro, sal, ferro, marfim, tecidos, pessoas escravizadas etc. Esse comércio enriqueceu a burguesia e a Coroa portuguesas, financiando a continuidade da expansão.
Ao longo do século XV, os portugueses foram conquistando posições na costa oeste da África. Em 1498, o navegador português Vasco da Gama contornou o continente africano e, navegando através do oceano Indico, chegou à cidade de Calicute, na atual Índia. 
Essa viagem foi muito comemorada pelos portugueses, e Vasco da Gama retornou a Lisboa levando um carregamento que valia 60 vezes mais do que o custo da expedição. Assim, dois grandes objetivos foram alcançados: encontrar um novo caminho para o Oriente e romper com o monopólio comercial dos genoveses e venezianos.
A partir desse momento, os interesses da burguesia portuguesa voltaram-se para a organização de um Império Colonial no Oriente, que lhe garantisse o monopólio do comércio de especiarias frente a outros concorrentes e em substituição aos mercadores italianos.
Em 1500, os navegantes portugueses comandados por Pedro Álvares Cabral atravessaram o Atlântico e ancoraram suas caravelas em terras até então desconhecidas. Acabavam de descobrir o que viria a ser nosso país. Foi assim que o Brasil entrou na história da Europa ocidental.

Contatos iniciais de Portugal com a África

Em 1483, os portugueses chegaram à Mbanza Kongo, que os portugueses chamaram de Reino do Congo. A cultura do povo congolês é conhecida desde essa época devido aos documentos produzidos a partir desse contato.
O reino tinha uma sociedade hierarquizada, sustentada pela agricultura de subsistência praticada por mulheres, enquanto os homens produziam cerâmica e tecidos e, na metalurgia, dominavam técnicas aprimoradas da fusão do ferro.
Os produtos mais valorizados eram comercializados por membros das linhagens dos ancestrais de cada aldeia (que os portugueses associaram à nobreza local).
As relações foram amistosas e provocaram mudanças na organização social do Reino do Congo. Tais modificações geraram tensões entre as autoridades locais e os europeus.
Em 1491, o manicongo Nkuwu aceitou ser batizado como cristão. Seu sucessor implantou a religião cristã no reino e proibiu o culto aos ancestrais divinizados.
Visando reforçar seu poder, ele adotou modelos administrativos do governo português. Os laços religiosos, políticos e econômicos estabelecidos conectaram e marcaram a história dos dois reinos nos séculos seguintes.

A chegada dos portugueses às Índias

Em maio de 1498, enquanto os portugueses consolidavam sua influência na região do Congo, a tripulação de Vasco da Gama chegou à cidade de Calicute, centro comercial do Oriente.
No primeiro ano da presença portuguesa nas Índias, os negócios realizados com as mercadorias adquiridas na região e revendidas na Europa chegaram a render lucros de 6 000%. Do ponto de vista econômico, valeu a pena enfrentar o medo e os perigos de viajar por rotas até então desconhecidas

A expansão espanhola

Os espanhóis estavam atrasados em relação aos portugueses, no processo de expansão marítimo comercial. Sua unidade política só foi conseguida em 1469, graças ao casamento de Fernando, herdeiro do trono de Aragão, com Isabel, irmã do rei de Leão e Castela.
No ano de 1492, a Espanha conseguiu derrotar definitivamente os árabes que ocupavam Granada – último território ibérico sob domínio muçulmano. Ao mesmo tempo, ali ocorria a centralização do poder político, e a monarquia espanhola passou a organizar expedições para o Oriente.
Conscientes da vantagem de Portugal no projeto de atingir as Índias, uma vez que os navegadores portugueses já tinham chegado à costa oriental africana, os reis espanhóis decidiram apoiar a realização de uma viagem marítima considerada surpreendente na época: chegar ao Oriente viajando na direção do Ocidente.
A proposta lhes foi apresentada pelo navegador Cristóvão Colombo, que acreditava em uma ideia até então pouco aceita: a da esfericidade da Terra.
Esse navegador pretendia chegar à Índia percorrendo uma rota diferente da que foi usada pelos portugueses. Com base na ideia de que a Terra era redonda, como muitos estudiosos defendiam, Colombo elaborou um plano para atingir o Oriente navegando rumo ao oeste, isto é, em direção ao Ocidente.
Com três navios – Santa Maria, Pinta e Niña – concedidos pelos reis espanhóis, Colombo e sua tripulação partiram do porto espanhol de Palos em 3 de agosto de 1492. Em 12 de outubro, chegaram a terras que pensavam ser as Índias e, por isso, chamaram seus habitantes de índios. Mas o lugar em que aportaram era uma ilha no Mar do Caribe, chamada pelos nativos de Guanahani, à qual os espanhóis deram o nome de São Salvador.
Colombo retornou à Espanha e, nos anos seguintes, comandou mais três viagens pelo Oceano Atlântico, sempre acreditando que havia chegado à Índia. Morreu sem saber que chegara a outro continente. Somente com as viagens de outros navegadores, sobretudo do florentino Américo Vespúcio (1454-1512), é que o engano foi esclarecido. O continente passou a ser chamado de América em homenagem a esse navegador.
Em 1519, teve início outro marco das navegações espanholas: a primeira viagem de volta ao mundo. Comandada por Fernão de Magalhães, a expedição passou pela costa brasileira, chegou ao extremo sul do continente americano e cruzou a passagem do Oceano Atlântico para o Pacífico.
Seu objetivo era encontrar uma rota às Índias mais curta que a portuguesa e chegar nas Ilhas Molucas, ricas em especiarias. Tendo alcançado as Filipinas (maior arquipélago da Ásia), Magalhães foi morto em confronto com nativos.
A viagem prosseguiu sob o comando de Sebastião Elcano, sendo concluída em 1522. Além de provar a esfericidade da Terra, aquela expedição conectou a Europa, a América do Sul e o sudeste asiático por meio da navegação Atlântico-Pacífico, ampliando os contatos em escala mundial.
As áreas do continente americano que, posteriormente, foram dominadas pela Espanha também podem ser chamadas de América Espanhola. 

Disputas pelas novas terras

Portugal reivindicou parte das terras alcançadas por Colombo por ser pioneiro nas navegações pelo Atlântico. Os governantes de Portugal e Espanha quase entraram em conflito para assegurar a posse das novas terras. Em 1494, foi assinado o Tratado de Tordesilhas, que dividia, com uma linha imaginária, as terras a ser descobertas pelos reinos ibéricos: o
que estivesse a oeste dessa linha seria da Espanha, e o que estivesse a leste, de Portugal. Assim, cada reino tomou para si parte do território que viria a ser denominado América sem considerar as sociedades ameríndias que o habitavam.
Seis anos depois, em abril de 1500, uma expedição portuguesa liderada pelo navegador Pedro Álvares Cabral aportou na região atual de Porto Seguro, na Bahia. Como a frota tinha as Índias como destino, não se sabe se a parada no Novo Mundo foi proposital. De toda forma, os historiadores concordam que esse foi o primeiro contato entre os povos indígenas que viviam naquela região e os portugueses registrado nos documentos oficiais do Reino de Portugal. Vale lembrar que os habitantes indígenas da época não produziram registros escritos de tal contato, pois em suas culturas os relatos eram compartilhados pela tradição oral.

 A expansão  francesa, inglesa e holandesa

As guerras internas, como a das Duas Rosas, na Inglaterra, e a dos Cem Anos, entre a França e a Inglaterra, além do demorado pro­cesso de centralização do poder nas mãos do rei, atrasaram e dificultaram a conquista de novas terras por parte desses dois países.
França e Inglaterra, não concordaram com o Tratado de Tordesilhas. Tendo seus interesses contrariados por esse tratado, o rei francês Francisco I (1515-1547) teria dito: “Onde está o testamento de Adão, dividindo o mundo entre Portugal e Espanha?”.
Assim, franceses, ingleses e holandeses também investiram nas navegações marítimas e colonizaram regiões da América (Haiti e Estados Unidos, por exemplo), concorrendo com os portugueses e os espanhóis a partir do final do século XVI. Eles buscaram um novo caminho para o Oriente pelo norte do Oceano Atlântico. Isso porque os espanhóis e os portugueses já dominavam as rotas pelo sul do oceano. Embora um novo caminho não tenha sido encontrado, essas navegações possibilitaram a exploração e a ocupação da América do Norte. Contudo, a ocupação e exploração econômica dessas terras só aconteceria nos inícios do século XVII.
Os holandeses ocuparam ilhas no Mar das Antilhas e, entre 1630 e 1654, chegaram a dominar grande parte do nordeste do atual território do Brasil.
Mais tarde, no século XVII, holandeses e franceses se envolveram no comércio com os africanos, principalmente na África Ocidental. O objetivo dos europeus era comprar seres humanos para trabalharem como escravizados em suas colônias na América.
Também nessa época, parte dos territórios controlados pelos portugueses no Oriente foi entregue aos ingleses em troca de acordos de proteção militar. Bombaim, por exemplo, que estava sob domínio luso desde 1534, foi dada como dote da princesa Catarina de Bragança (1638-1705) ao se casar com o rei Carlos II (1630-1685) da Inglaterra, em 1661. Bombaim é hoje uma das maiores cidades indianas.

Navegações árabes e chinesas

No século XV, os navegadores árabes dominaram importantes rotas comerciais no Oceano Índico. Essas rotas ligavam a Índia à Península Arábica e à África Oriental. Assim, quando chegaram à Índia em 1498, os portugueses disputaram com os árabes um espaço nesse comércio.
Entre os séculos XII e XV, os chineses vivenciaram um período de apogeu na navegação e intensificaram o comércio marítimo com povos asiáticos, africanos e árabes.
Um dos grandes navegadores chineses foi Zheng He (1371-1435). Ele liderou sete expedições nos oceanos Pacífico e Índico entre 1405 e 1433, alcançando a Península Arábica e a África Oriental. Seu objetivo era estabelecer relações diplomáticas, fazer comércio e cobrar tributos de regiões vizinhas.
Apesar de terem desenvolvido uma sofisticada tecnologia de navegação, os chineses passaram a se concentrar no desenvolvimento de seu mercado interno em meados do século XV. Com isso, a expansão marítima chinesa foi interrompida e seu comércio exterior sofreu restrições.

A expansão comercial e intercâmbio de culturas

No início do século XVI, iniciou-se uma nova etapa nas relações comerciais. A expansão marítima integrou Europa, Ásia, África e América. O Mediterrâneo deixou de ser a única ligação entre a Europa e o Oriente. Com as navegações atlânticas, novos caminhos estavam abertos.
Portugueses, espanhóis, franceses, ingleses e holandeses iniciaram contato com chineses, indianos, japoneses, africanos e ameríndios e ampliaram seu contato com turcos e árabes. Além das trocas comerciais, havia intercâmbio cultural, que influía no modo de vida desses povos. Técnicas, saberes, alimentos de origem muito diversa passaram a fazer parte da vida de europeus e não europeus que se conectaram por meio das viagens oceânicas.

ESTADO ABSOLUTISTA FRANCÊS

No início do século XVI, os reis franceses já se apresentavam com o poder consolidado, respondendo por seus atos somente a Deus. Criaram os serviços públicos, colocaram a Igreja sob seu controle e incentivaram o comércio, visando obter os metais preciosos.

Na segunda metade do século XVI, a França foi assolada por guerras religiosas entre católicos e calvinistas (huguenotes), que se estenderam de 1562 a 1598. Essas guerras envolveram as grandes famílias aristocráticas que dominavam o país, pois os católicos eram chefiados pelo rei Henrique III da dinastia de Valois, e pelo Duque Henrique de Guise e os protestantes eram liderados por Henrique de Navarra ou Bourbon.
Henrique III hesitava em combater os protestantes calvinistas, cuja grande maioria era de burgueses, responsáveis por parte considerável das riquezas do reino. A luta armada, iniciada em 1562, trouxe massacres tanto de huguenotes quanto de católicos, além de devastações e de revoltas populares no campo e nas cidades. Com o assassinato do rei, em 1589, subiu ao trono seu parente mais próximo, Henrique de Navarra, que para ser coroado aceitou converter-se ao catolicismo.
As guerras religiosas favoreceram o processo de centralização da monarquia, no reinado de Henrique IV de Navarra ou Bourbon, que durou de 1589 a 1610. Em 1598, foi publicado o Edito de Nantes, concedendo liberdade de culto aos huguenotes e permitindo seu livre acesso aos cargos públicos. No setor econômico, destacou-se o ministro Sully que incentivou a agricultura, as manufaturas e a colonização, adotando medidas mercantilistas.

A MONARQUIA DE "DIREITO DIVINO"

No reinado de Luís XIII (1610/1643), o Estado Absolutista francês consolidou-se. Seu ministro, o cardeal Richelieu, adotou uma política interna que tinha por objetivo reduzir a autonomia dos nobres e acabar com todas as limitações à autoridade do rei. Ele perseguiu os huguenotes, derrotando-os definitivamente; reforçou o exército e modernizou a burocracia, criando o cargo de Intendente, para supervisionar e controlar os governadores das províncias. Do ponto de vista econômico, incrementou as práticas mercantilistas, com o objetivo de transformar a França na maior potência europeia.
O cardeal Richelieu
A nobreza francesa foi se adaptando à centralização, pois seus privilégios, como as isenções de impostos, a prioridade na ocupação de postos no exército e na administração, continuaram assegurados. Por sua vez, a burguesia integrou-se ao Estado absolutista comprando cargos públicos, títulos de nobreza e terras, desviando, assim, seus capitais, do setor produtivo como o comércio e as manufaturas.
0 Estado, com despesas cada vez mais elevadas na manutenção da corte, das guerras e do exército, sustentava-se através de numerosos aumentos das tarifas, que recaíam basicamente sobre os camponeses, os artesãos e os pequenos burgueses.
0 absolutismo francês (ou "Antigo Regime"), como passou a ser chamado a partir da Revolução Francesa, atingiu o auge no reinado de Luís XIV (1643-1715), denominado o "Rei Sol". Durante a sua menoridade, o governo foi exercido pelo primeiro-ministro Mazarino, que enfrentou vitoriosamente várias rebeliões da nobreza resistente ao absolutismo: as Frondas. A partir de 1661, com a morte de Mazarino, o monarca exerceu pessoalmente o poder, sem admitir qualquer contestação, sendo-lhe atribuída à frase: “O Estado sou eu".
Luis XIV exigiu que os governadores das províncias francesas, nomeados por apenas três anos, residissem em Paris, para melhor controlá-los. Mandou construir o luxuoso Palácio de Versalhes, que chegou a abrigar mais de 10 mil pessoas, entre nobres e seus servidores, numa prova incontestável de prestígio e fausto. Na Corte, as principais famílias da França desfrutavam de um elevado padrão de vida, entre favo pensões e cargos públicos, além de ocuparem seu tempo em jogos, caçadas, passeios, bailes e intrigas, graças aos impostos arrecadados entre as classes populares.
Como justificativa da centralização imposta pelo Estado absolutista francês, difundiu-se a teoria da monarquia de "direito divino", segundo a qual o rei era o representante de Deus na terra e, por tanto, somente a Ele devia prestar contas. Para o historiador francês H. Methivier, a monarquia de Luís XIV era "uma verdadeira religião, com seu deus (o Rei), seus sacerdotes (dignitários e cortesãos), seu dogma (teoria. do poder real), seus ritos (a etiqueta), seu templo (Versalhes), seus fiéis (os súditos) e seus heréticos (os opositores).
No entanto, a centralização imposta por Luís XIV tornou impossível a convivência entre católicos e protestantes. A partir da revogação do Edito de Nantes, em 1685, acabando com a liberdade de culto, o comércio e a indústria viram-se prejudicados com o êxodo de burgueses calvinistas. Além disso, a dispendiosa manutenção da corte e a série de guerras desastrosas envolvendo questões com a Inglaterra, a Holanda, a Espanha, a Áustria e a Alemanha agravaram a situação financeira do pais, provocando a miséria de camponeses e de artesãos.

A INGLATERRA E O ABSOLUTISMO

O DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA MERCANTIL INGLESA

Durante a época feudal, a população da Inglaterra vivia em maior parte no campo, em comunidades locais que produziam lãs e víveres para o próprio consumo. As terras eram cultivadas visando o sustento familiar e passavam de pais para filhos. Os camponeses exploravam seus lotes dispersos em faixas pelas propriedades senhoriais, num sistema denominado "campos abertos: Eles utilizavam também as terras comuns" dos domínios para a pastagem do gado, a caça ou a obtenção madeira.
Gradualmente a partir do século XV, as aldeias começaram a modificar. Os gêneros agrícolas e as lãs nelas produzidos passaram ser vendidos em regiões mais afastadas, iniciando-se a formação de um mercado nacional.
As regiões do sul e do leste da Inglaterra especializaram-se na produção de lã e de alimentos, cujos preços estavam em ascensão. As terras se valorizaram, transformando-se numa mercadoria como outra qualquer podendo ser compradas, vendidas ou arrendadas, a critério de seu proprietário, 0 uso da moeda (Aumentado com a chegada do ouro e da prata da América) generalizou-se, substituindo o pagamento em espécie ou em trabalho entre camponeses e proprietários.
No século XVI, a Inglaterra tornou-se também um grande centro de extração de carvão e de produção de ferro, estanho, vidro, sabões e construção naval. Além da indústria têxtil, espalhada por burgos e aldeias do interior, surgiram empresas que utilizavam métodos novos para a extração do sal, o fabrico do papel, o refino do açúcar e a fundição do ferro e do cobre, A exploração das minas de carvão foi melhorada com a utilização de bombas que permitiam o trabalho a grande profundidade.
Os lucros obtidos na produção e na exportação de mercadorias passaram - a ser investidos na compra de terras, ainda a principal riqueza e fonte de poder, por comerciantes, manufatureiros, traficantes e homens de negócios em geral. Surgiram assim os "agricultores capitalistas", um novo grupo de proprietários rurais, que investia seus ganhos na exploração comercial da terra.

ABSOLUTISMO E MERCANTILISMO

Henrique VII (1485/1509) foi o iniciador da centralização política na Inglaterra, submetendo os nobres e subordinando as administrações locais ao seu controle. A centralização prosseguiu no reinado de Henrique VIII (1509/1547), facilitada pela criação, em 1534, da Igreja Anglicana, chefiada pelo monarca e separada da Igreja Católica Romana, após uma crise com o papa Clemente VII. As terras e as propriedades da Igreja Católica foram confiscadas pelo Estado e vendidas para a nobreza e para a burguesia.
Mesmo com o poder político fortalecido, os monarcas ingleses da dinastia Tudor – Henrique VII, Henrique VIII, Eduardo VI, Maria Tudor e Elisabeth I (1558/1603) - mantiveram um relacionamento razoável com o Parlamento, garantindo no país as tradições e as aparências de um governo representativo.
0 reinado de Elisabeth I foi um, período de grande crescimento econômico e correspondeu ao apogeu do absolutismo na Inglaterra. Seu governo praticou intensa intervenção na economia, através de medidas mercantilistas de favorecimento à % agricultura, às manufaturas, ao comércio e à navegação.
Em 1581, um mercantilista inglês recomendava à rainha "acabar com a importação das mercadorias fabricadas no estrangeiro, e que poderiam sê-lo entre nós, restringindo a exportação de nossas lãs, peles e outros produtos no estado bruto, chamando artesãos de fora sob o controle das cidades, fabricando mercadorias suscetíveis de serem exportadas... (Citado por DEYON, Pierre, 0 Mercantilismo. SP, 1973. Perspectiva, p.(17)

Elisabeth I proibiu a exportação de li em bruto e a importação de fios e de tecidos; distribuiu prêmios a que m fabricasse bons navios e concedeu monopólios temporários àqueles que introduzissem 'novas atividades no país, Os trabalhadores das manufaturas inglesas eram recrutados entre os camponeses expulsos do campo, transformados em desempregados e mendigos. Criaram-se leis que previam castigos e penas de morte aos que se recusassem a trabalhar. Surgiram as "Workhouses", onde os internos eram submetidos a uma longa jornada de trabalho, sob rígida disciplina.
Apesar de a rainha Elisabeth ter praticado intervenções militares nos Países Baixos e na França, a inferioridade dos exércitos ingleses impediu qualquer ocupação territorial no continente europeu.
0 feito militar de maior vulto de seu reinado foi à anexação da Irlanda conseguida em uma guerra iniciada em 1595 e que durou nove anos. Por ser uma ilha, a Inglaterra não se sentia ameaçada de invasão, fato que desmilitarizou precocemente a sua nobreza. Por isso, não havia no e país um exército profissional permanente, semelhante aos existentes na Espanha e na França, as duas principais potências européias do século. XVI. Devido à presença, do Parlamento, a Coroa inglesa também não tinha autonomia financeira nem uma burocracia forte, como a França.
A grande realização do Estado absolutista inglês foi a modernização de sua marinha, iniciada por Henrique VIII, que quadruplicou o número de embarcações. A partir de 1579, os galeões da frota real passaram a ser equipados com canhões de longo alcance, fato que lhes permitia 'acertar os navios inimigos a uma grande distancia. Além de servirem ao comércio, os navios passaram a servir também à guerra, favorecendo a expansão marítima inglesa.
Em 1588, os ingleses enfrentaram e venceram a "Invencível Armada" de Filipe II, aplicando um sério golpe no prestígio da Espanha, considerada então o mais poderoso país europeu. A partir daí, intensificaram-se as viagens de navegadores e de corsários à América, com o objetivo de saquear as embarcações espanholas carregadas de ouro e de empreender contrabando com as Antilhas.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...