domingo, 24 de setembro de 2023

Iluminismo

 "Chamamos de Iluminismo o movimento cultural que se desenvolveu na Inglaterra, Holanda e França, nos séculos XVII e XVIII. Nessa época, o desenvolvimento intelectual, que vinha ocorrendo desde o Renascimento, deu origem a ideias de liberdade política e econômica, defendidas pela burguesia. Os filósofos e economistas que difundiam essas ideias julgavam-se propagadores da luz e do conhecimento, sendo, por isso, chamados de iluministas.

Progresso, otimismo e Deus

Os iluministas acreditavam que a razão conduziria os seres humanos ao progresso. Com o passar do tempo, a ignorância, fruto da irracionalidade, desapareceria e teríamos então uma humanidade esclarecida.

Essa crença no progresso constante da humanidade os fazia otimistas. A maioria deles acreditava em Deus (o relojoeiro do universo), aquele que criou o mundo e o pôs para funcionar. Os iluministas acreditavam que o mundo era regido por leis naturais e que era preciso conhecê-las; por isso, dedicavam-se à ciência.

Os iluministas também reagiram ao Antigo Regime. Opunham-se ao absolutismo, aos privilégios da nobreza e do clero, à intolerância religiosa e à falta de liberdade.

O Iluminismo trouxe consigo grandes avanços que, juntamente com a Revolução Industrial, abriram espaço para a profunda mudança política determinada pela Revolução Francesa. O precursor desse movimento foi o matemático francês René Descartes (1596-1650), considerado o pai do racionalismo. Em sua obra “Discurso do método”, ele recomenda, para se chegar à verdade, que se duvide de tudo, mesmo das coisas aparentemente verdadeiras. A partir da dúvida racional pode-se alcançar a compreensão do mundo, e mesmo de Deus.

As principais características do Iluminismo eram:

• Valorização da razão, considerada o mais importante instrumento para se alcançar qualquer tipo de conhecimento;
• valorização do questionamento, da investigação e da experiência como forma de conhecimento tanto da natureza quanto da sociedade, política ou economia;
• crença nas leis naturais, normas da natureza que regem todas as transformações que ocorrem no comportamento humano, nas sociedades e na natureza;
• crença nos direitos naturais, que todos os indivíduos possuem em relação à vida, à liberdade, à posse de bens materiais;
• crítica ao absolutismo, ao mercantilismo e aos privilégios da nobreza e do clero;
• defesa da liberdade política e econômica e da igualdade de todos perante a lei;
• crítica à Igreja Católica, embora não se excluísse a crença em Deus. "

Iluministas Ingleses

"No século XVII, as ideias iluministas mais brilhantes surgiram na Inglaterra, país que apresentava grande desenvolvimento econômico Vejamos algumas das figuras que mais se destacaram nesse país.
Isaac Newton (1642-1727), matemático, astrônomo e físico, preocupou-se com o estudo do movimento dos corpos do universo. Demonstrou que os corpos exercem atração uns sobre os outros, formulando a lei da gravitação universal.

John Locke e o liberalismo político

O inglês John Locke (1632-1704) dizia que todas as pessoas, ao nascerem, tinham os mesmos direitos: direito à vida, à liberdade e à propriedade. Para garantir esses direitos naturais, os indivíduos haviam criado governos. Mas, se o governante tentasse impor o absolutismo, eles poderiam se rebelar e retirá-lo do poder pela força das armas. Por essas suas ideias, Locke foi considerado um dos “criadores” do liberalismo na política.
John Locke ao contrário de seu contemporâneo Thomas Hobbes, que era a favor do absolutismo, escreveu o Segundo tratado sobre o governo civil, defendendo a teoria do governo limitado. Para Locke, os homens formavam a sociedade e instituíam um governo para que este lhes garantisse alguns direitos naturais, como o direito à vida, à felicidade, à propriedade, etc. Por isso, caso o governo abusasse do poder, poderia ser substituído. Outra de suas afirmações era que todos os indivíduos nascem iguais, sem valores ou ideias preconcebidas. "

Iluministas Franceses

"As ideias dos pensadores iluministas ingleses encontraram grande aceitação na França do século XVIII, onde atingiram seu auge. Investigando problemas políticos, religiosos e culturais, os franceses procuraram idealizar uma sociedade na qual houvesse liberdade e justiça social.

Voltaire: liberdade de expressão e tolerância

O francês Voltaire, cujo nome era  François-Marie Arouet (1694-1778), tornou-se conhecido por suas críticas à Igreja Católica e à monarquia absolutista francesa, por seu combate à ignorância, ao preconceito e ao fanatismo religioso. Por dizer o que pensava, foi preso duas vezes e, para escapar de uma nova prisão, refugiou-se na Inglaterra.
Durante os três anos em que permaneceu naquele país, conheceu e passou a admirar as ideias políticas de John Locke. Com base nessa vivência, Voltaire escreveu Cartas inglesas, obra na qual elogia a Inglaterra por ser um país em que havia liberdade de expressão, de religião e o poder do rei era limitado. Ao elogiar a Inglaterra, Voltaire pretendia criticar a intolerância e o absolutismo existentes na França.
Voltaire também se destacou por sua luta em favor da liberdade de expressão. É atribuída a ele a conhecida frase: “Posso não concordar com nenhuma palavra do que você disse, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-las”.
Voltaire foi um dos maiores críticos do Antigo Regime e da Igreja. Defendeu a liberdade de pensamento e de expressão. Como forma de governo, era a favor de uma monarquia esclarecida, na qual o governante fizesse reformas influenciado pelas ideias iluministas.

Montesquieu e a autonomia dos poderes

O jurista francês Charles-Louis de Secondat, Barão de Montesquieu (1689-1755), não se contentou apenas em apontar problemas da sociedade em que vivia; apresentou também soluções para resolvê-los.
Em sua principal obra, O espírito das leis, defende a ideia de que, quando as pessoas têm poder, tendem a abusar dele, então era preciso evitar que o poder se concentrasse nas mãos de uma só pessoa ou um só grupo de notáveis.
Inspirados nas ideias de Montesquieu, os estadunidenses Alexander Hamilton e James Madison formularam a teoria da divisão dos poderes em três: Executivo (para administrar o país e executar as leis), Legislativo (para elaborar e aprovar as leis) e Judiciário (para fiscalizar o cumprimento das leis e julgar os conflitos).
Segundo essa teoria, o governo assim dividido só funcionaria bem se os três poderes fossem autônomos, isto é, se um não interferisse na área do outro.
Defendeu ainda a posição de que somente as pessoas de boa renda poderiam ter direitos políticos, ou seja, direito de votar e de candidatar-se a cargos públicos.

Rousseau e o contrato social

Muitas ideias do suíço Jean-Jacques R Rousseau (1712-1778) continuam sendo atuais. Em uma de suas principais obras, O contrato social, Rousseau defende a ideia de que a vontade geral é soberana, ou seja, só o povo é soberano. Assim, para esse pensador, se o governo escolhido por um povo não o estiver representando, o povo não só pode como deve substituí-lo. 
Essas suas ideias influenciaram movimentos revolucionários dentro e fora da França, onde ele passou a viver em 1742. Os escritos de Rousseau foram, por exemplo, uma das fontes de inspiração da Revolução Francesa, cujo lema era: “Liberdade, igualdade e fraternidade”. E inspiraram também a Conjuração Baiana, de 1798.
Rousseau acreditava na ideia de que o ser humano nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Por isso, para Rousseau, as crianças deviam viver durante o maior tempo possível em seu estado “natural” de inocência.
Rousseau distinguiu-se dos demais iluministas por criticar a burguesia e a propriedade privada. Considerava os homens bons por natureza e capazes de viver em harmonia, não fosse alguns terem se apoderado da terra, dando origem à desigualdade e aos conflitos sociais. Propunha um governo no qual o povo participasse politicamente e a vontade da maioria determinasse as decisões políticas. Expôs suas ideias principalmente em duas obras: “O contrato social” e “Discurso sobre a origem da desigualdade.”

A enciclopédia dos iluministas

A partir de 1751, foi publicada na França uma obra chamada Enciclopédia, composta de 35 volumes, que levou 21 anos para ser editada. A ideia era reunir nela todo o conhecimento até então produzido e, ao mesmo tempo, divulgá-la para muitas pessoas. É planejada em 1750 por Diderot e pelo físico e filósofo Jean Le Rond d'Alembert, sob o título Enciclopédia ou Dicionário racional das ciências, das artes e dos ofícios. Sua publicação sofre violenta campanha contrária da Igreja e de grupos políticos afinados com o clero. Entre 1751 e 1772 são publicados 17 volumes de texto e 11 de pranchas de ilustração.
O filósofo Denis Diderot (1713-1784) e o matemático Jean D’Alembert (1717-1776) coordenaram a edição da obra e convidaram artistas, filósofos, cientistas, médicos, teólogos, entre outros profissionais, para escrever os verbetes. Diderot declarou que seu objetivo era tornar as pessoas mais instruídas, tornando-as assim mais virtuosas e mais felizes.
Por fazer sérias críticas aos reis absolutistas e à Igreja, a obra chegou a ser proibida e retirada de circulação pelas autoridades francesas. Na época, o número de pessoas que sabia ler era proporcionalmente muito menor ao de hoje; apesar disso, a Enciclopédia foi um sucesso de vendas.
É de inspiração racionalista e materialista, propõe a imediata separação da Igreja do Estado e combate às superstições e às diversas manifestações do pensamento mágico, entre elas as instituições religiosas. Sofre intervenção da censura e condenação papal, mas acaba por exercer grande influência no mundo intelectual e inspira os líderes da Revolução Francesa. Os mais importantes colaboradores são: Montesquieu e Voltaire (literatura), Condillac e Condorcet (filosofia), Rousseau (música), Buffon (ciências naturais), Quesnay e Turgot (economia), Holbach (química), Diderot (história da filosofia), D'Alembert (matemática).

O Iluminismo na economia 

Os iluministas criticavam também o mercantilismo e sua principal característica, a intervenção do governo na economia.
FISIOCRATAS – São contrários à intervenção do Estado na vida econômica. 
Os primeiros a criticar o mercantilismo foram os fisiocratas franceses. Para os fisiocratas, a única fonte de riqueza era a terra; por isso, a agricultura era a mais importante das atividades econômicas. O criador da fisiocracia, François Quesnay (1694-1774), afirmava que a economia era regida por leis, e a mais importante delas era a lei da oferta e da procura. Quando a oferta é maior do que a procura, o preço tende a baixar; quando ocorre o oposto, tende a subir. É partidário de um capitalismo agrário, com o aumento da produção agrícola, única solução para gerar riquezas para uma nação.
Por isso, dizia Quesnay, o governo não devia intervir na produção ou no comércio de mercadorias; devia apenas incentivar o progresso. Os fisiocratas criaram o lema que resumia seu pensamento: “laissez-faire, laissez-passer, le monde va de lui-même” (“deixai fazer, deixai passar, que o mundo caminha por si mesmo”). 
Aplicado à vida social e política, o Iluminismo produz duas correntes de pensamento, a fisiocracia e o liberalismo econômico.

LIBERALISMO ECONÔMICO – Seu principal inspirador é o economista escocês Adam Smith (1723-1790), considerado o pai da economia política, autor de O ensaio sobre a riqueza das nações, obra fundamental da literatura econômica. 
Diferentemente dos fisiocratas, Adam Smith  afirmou, com base em pesquisa, que só o trabalho cria riqueza. Portanto, para ele, a única fonte de riqueza é o trabalho, e não a terra.
Mas, assim como os fisiocratas, Smith também defendia a livre concorrência e o livre-comércio entre as nações. Com isso, todas elas sairiam lucrando, pois cada uma produziria somente aquilo que conseguisse fazer melhor. As nações com perfil mais agrícola se dedicariam à agricultura, e as mais industrializadas se especializariam na indústria.
Essa ideia foi muito bem recebida pela burguesia da Inglaterra, pois esse país estava se industrializando rapidamente e desejava ampliar o mercado para seus produtos industrializados. Por defender a livre concorrência entre nações, indivíduos e empresas, e por ser contrário à intervenção do Estado na economia, Adam Smith ficou conhecido como o “pai do liberalismo econômico”.
Ataca a política mercantilista por ser baseada na intervenção estatal e sustenta a necessidade de uma economia dirigida pelo jogo livre da oferta e da procura de mercado, o laissez-faire. Para Adam Smith, a verdadeira riqueza das nações está no trabalho, que deve ser dirigido pela livre iniciativa dos empreendedores. O liberalismo econômico recebe, posteriormente, a colaboração do sociólogo e economista inglês Thomas Robert Malthus e do economista inglês David Ricardo.

THOMAS ROBERT MALTHUS (1766-1834) estuda em Cambridge e é ordenado sacerdote da Igreja Anglicana em 1797. Em 1805 passa a lecionar economia política em Haileybury e vive como um modesto vigário rural. Ganha celebridade com a teoria exposta em Um ensaio sobre o princípio da população, de 1798, elaborada de acordo com as estatísticas da época. Segundo Malthus, a produção de alimentos cresce em progressão aritmética e a população em progressão geométrica, gerando fome e miséria das grandes massas. A natureza corrige essa desproporção por meio das guerras e epidemias, que reduzem a população. Malthus recomenda ao governo antecipar-se à natureza negando assistência social às populações, especialmente hospitais e asilos. Às populações, aconselha a abstinência sexual como forma de diminuir os índices de natalidade.

DAVID RICARDO (1772-1823) nasce em Londres, filho de judeus espanhóis, e, aos 21 anos, converte-se ao cristianismo. Ganha dinheiro e prestígio profissional em negócios realizados na bolsa de valores. Sob a influência da leitura casual de Adam Smith passa a estudar detalhadamente as questões monetárias. Em Princípios de economia política e tributação expõe suas principais ideias econômicas. É o pioneiro na exigência de rigor científico nos estudos econômicos e analisa os aspectos mais significativos do sistema capitalista de produção.

Mulheres no Iluminismo

As mulheres foram excluídas dos ideais de igualdade e dos princípios de cidadania defendidos pelos pensadores do Iluminismo. Rousseau, por exemplo, considerava como cidadãos dotados de direitos políticos apenas os homens. Para ele, as mulheres tinham o papel de educar seus filhos e se submeter ao marido no âmbito doméstico.

Mary Wollstonecraft

Essa desigualdade de direitos políticos foi contestada por muitas mulheres na época iluminista. A filósofa e escritora inglesa Mary Wollstonecraft (1759-1797), por exemplo, defendeu a importância do pensamento racional, além de lutar pela igualdade entre homens e mulheres.

Louise d’Epinay

A escritora francesa Louise d’Epinay (1726-1783) também questionava as ideias iluministas que naturalizavam a suposta inferioridade feminina.

Olympe de Gouges

Marie Gouze nasceu em 1748 na cidade de Montauban, na França. Em 1770, ela se mudou para Paris, trocou seu nome para Olympe de Gouges e passou a escrever textos e peças de teatro que defendiam ideais de liberdade e igualdade de direitos.
Em 1791, ela publicou a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. Nesse texto, a escritora fez uma paráfrase dos dezessete artigos da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Acusada de ter se oposto aos líderes revolucionários
e de ter pretendido se igualar aos homens, Olympe de Gouges foi condenada à morte pelo Tribunal Revolucionário e executada em 1793.

Luzes na educação

Os iluministas combatiam o ensino privado e religioso. Defendiam que a educação elementar deveria ser obrigatória, dirigida pelo Estado e gratuita. Propunham uma educação laica (não religiosa), na qual o currículo escolar não estivesse submetido aos princípios de nenhuma crença religiosa. Para esses pensadores, a instrução escolar deveria ser orientada para o estudo das ciências, dos ofícios e das técnicas, preparando os estudantes para o trabalho.
Os princípios liberais da educação foram implantados na Europa ao longo dos séculos XVIII e XIX. No entanto, apesar de o Iluminismo defender a extensão do ensino a todos os cidadãos, prevaleceu a divisão entre uma escola voltada para os burgueses e outra voltada para o povo.
No Brasil, o modelo liberal de educação foi progressivamente reafirmado pelas legislações republicanas do século XX, que estabeleceram o caráter laico e universal do ensino e a necessidade de preparar os jovens para o trabalho.

Literatura iluminista

Alguns dos principais pensadores iluministas recorreram a textos ficcionais para desenvolver e divulgar suas ideias. Voltaire, por exemplo, escreveu uma divertidíssima história de ficção, intitulada Cândido ou o otimismo (1759), em que satirizou aqueles que acreditavam que as ações divinas eram favoráveis aos homens ou que havia uma ordem universal prévia, harmoniosa e regrada pela justiça de Deus.
Rousseau também recorreu à ficção para transmitir suas principais ideias. No romance Emílio ou da educação (1757), descreveu as características da boa educação, que, segundo o autor, seria capaz de impedir que uma criança se tornasse um adulto mau.

O ILUMINISMO

O Iluminismo, também conhecido como Ilustração ou Esclarecimento, foi um movimento filosófico que atingiu o auge na Europa do século XVIII. No entanto, os princípios teóricos desse movimento começaram a se desenvolver a partir do século XVII.

Defensores da liberdade, os pensadores iluministas combatiam a tirania dos reis e pregavam a igualdade de todos perante a lei. Rejeitando a força da tradição e dos dogmas religiosos, pregavam uma sociedade guiada pela razão, que, segundo eles, permitiria aos seres humanos superar o atraso e conquistar o progresso e a plena felicidade.

No entendimento dos iluministas, o pensamento religioso que predominou na Europa medieval impedia os seres humanos de pensar livremente. Era como se eles vivessem na escuridão, incapazes de enxergar a verdade, sendo guiados cegamente pelas superstições e pelos dogmas bíblicos.

Por isso, a Idade Média foi associada a uma suposta “Idade das Trevas”, termo cunhado ainda na Renascença. Contrapondo-se a justificativas baseadas na fé, os iluministas defendiam que se buscassem explicações racionais para os acontecimentos políticos, econômicos e sociais, bem como para os fenômenos naturais. Para eles, a razão funcionaria como uma fonte de luz, capaz de revelar as coisas como elas são. Por isso, o século XVIII também tornou-se conhecido como o “Século das Luzes”.

O Iluminismo ajudou a criar a base intelectual para a independência dos Estados Unidos, as revoluções na França e no Haiti e os movimentos de independência na América Latina, entre outros acontecimentos importantes dos séculos XVIII e XIX.

As suas ideias tinham por base o racionalismo, isto é, a primazia da razão humana como fonte do conhecimento. Os Iluministas sonhavam com um mundo perfeito, regido pelos princípios da razão, sem guerras e sem injustiças sociais, onde todos pudessem expressar livremente seu pensamento. Visto pelos intelectuais como um movimento que iluminava a capacidade humana de criticar e almejar um mundo melhor, transformou o século XVII no Século das Luzes. As raízes do Iluminismo estão no progresso científico advindo do Renascimento. Foi na França que viveram os maiores pensadores Iluministas.

Com o desenvolvimento do capitalismo, nos séculos XVII e XVIII, a burguesia continuou sua ascensão econômica em importantes países europeus, como Inglaterra e França. Consciente de seus interesses, passou a criticar o Antigo Regime. Foram as ideias dos Iluministas que preparam o caminho para a Revolução Americana e para a Revolução Francesa. Os Iluministas sonhavam, enfim, com um mundo onde houvesse colaboração entre os homens para alcançar a felicidade comum.

O que o Iluminismo defendia

Segundo o sociólogo Lucien Goldman, os princípios do Iluminismo estão relacionados ao comércio, uma das principais atividades econômicas da burguesia.

Assim, o Iluminismo defendia:

Igualdade: no comércio, isto é, no ato de compra e venda, todas as eventuais desigualdades sociais entre compradores e vendedores não tinham importância. Na compra e venda, o que importava era a igualdade jurídica dos participantes do ato comercial. Por isso, os iluministas defendiam que todos deveriam ser iguais perante a lei. Ninguém teria, então, privilégios de nascença, como os da nobreza. Entretanto, a igualdade jurídica não significava igualdade econômica. No plano econômico, a maioria dos iluministas acreditava que a desigualdade correspondia à ordem natural das coisas.
Tolerância religiosa ou filosófica: na realização do ato comercial, não importavam as convicções religiosas ou filosóficas dos participantes do negócio. Do ponto de vista econômico, a burguesia compreendeu que seria irracional excluir compradores ou vendedores em função de suas crenças ou convicções pessoais. Fosse mulçumano, judeu, cristão ou ateu, a capacidade econômica das pessoas definia-se pelo ter e não pelo ser.
Liberdade pessoal e social: a atividade comercial burguesa só poderia desenvolver-se numa economia de mercado, ou seja, era preciso que existisse o livre jogo da oferta e da procura. Por isso, a burguesia se opôs à escravidão humana e passou a defender uma sociedade livre. Afinal sem trabalhadores livres, que recebessem salários, não podiam haver mercado comercial.
Propriedade privada: comércio só era possível entre os proprietários de bens ou de dinheiro. O proprietário podia comprar ou vender porque tinha o direito de usar e dispor livremente de seus bens. Assim, a burguesia defendia o direito à propriedade privada, que característica essencial da sociedade capitalista.

O que o Iluminismo combatia

A nova mentalidade burguesa, expressa pelos princípios iluministas, chocava-se com o Antigo Regime. Assim, o Iluminismo combatia:
O absolutismo monárquico: porque protegia a nobreza e mantinha seus privilégios. O absolutismo era considerado injusto por impedir a participação da burguesia nas decisões políticas, inviabilizando a realização de seus ideias;
O mercantilismo: porque a intervenção do Estado na vida econômica era considerada prejudicial ao individualismo burguês, à livre iniciativa e ao desenvolvimento espontâneo do capitalismo;

Principais pensadores iluministas

Foi na França que o movimento iluminista mais cresceu e se radicalizou, com a adesão de muitos intelectuais. Alguns deles estiveram na Inglaterra após a Revolução Gloriosa e ficaram muito impressionados com o clima de liberdade que lá existia. Esse contato deu enorme impulso à luta antiabsolutista na França.

O Iluminismo segundo Kant

Immanuel Kant (1724-1804), um dos maiores filósofos do século XVIII. Kant considerava que, até o século XVIII, a humanidade tinha vivido sua infância. Segundo ele, nesse período (ou nessa fase de menoridade), homens e mulheres haviam aprendido a andar, a falar, a identificar coisas e pessoas e começado a compreender o mundo, embora ainda acreditassem em bruxas e em fantasmas. Mas, ainda de acordo com Kant, no século XVIII, tudo mudou.
Ao começar a perceber o mundo por meio da razão, a humanidade dava sinais de amadurecimento e atingia, enfim, a idade adulta. Essa maturidade intelectual foi definida por Kant como Iluminismo, por vezes também chamado de Esclarecimento ou Ilustração.

O significado da razão para os iluministas

A palavra razão significa “capacidade de julgar, avaliar, raciocinar, deduzir, ter ideias”. Ou, dito de outra forma: pensar com a própria cabeça para decidir sobre a vida, conhecer os segredos da natureza e do nosso planeta, dos astros e cometas e, claro, dos seres humanos.
Você já deve ter ouvido, em uma discussão entre duas pessoas, uma delas dizer: “Eu tenho razão!” ou “Você não tem razão!”. Isso significa que a decisão sobre alguma coisa só pode resultar da troca de ideias e do uso da inteligência, e não de uma emoção ou da força bruta. Daí o emprego de outras expressões como “pense bem antes de agir” ou, então, “aquele sujeito é uma pessoa esclarecida”, ou seja, é uma pessoa razoável, culta.
Essa valorização da razão e do esclarecimento é a base do pensamento iluminista. Voltando a Kant, talvez ele tenha exagerado um pouco ao dizer que só no século XVIII a humanidade se tornou “adulta” e passou a valorizar a razão. Basta lembrar a importância dos filósofos gregos, na Antiguidade Clássica, como Platão (428 a.C.-347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.). Ou o progresso das artes no Renascimento. Ou ainda a revolução científica dos séculos XVI e XVII. Afinal, René Descartes (1596-1650), filósofo francês do século XVII, é considerado o pai do racionalismo moderno, autor da célebre frase: “Penso, logo existo”.
René Descartes(1596-1650), autor do livro Discurso do Método, definia a dúvida como o primeiro passo para se chegar à verdade e ao conhecimento, considerando a verdade como algo que percebe claramente, sem ideias preconcebidas. Inaugurou um método de estudo na natureza a partir da razão, as ideias "claras e precisas", passando cuidadosamente para outras etapas de aprofundamento do conhecimento. Esse método, chamado cartesiano, tem por base sua frase: Penso, logo existo".

Montesquieu: separação dos poderes

O jurista e pensador francês Montesquieu (1689-1755) Criticou os costumes de seu tempo e defendeu, como meio para garantir a liberdade, a divisão do poder político em três partes: Legislativo, Executivo e Judiciário. Em sua obra O espírito das leis, ele escreveu o seguinte: "É uma verdade eterna: qualquer pessoa que tenha o poder, tende a abusar dele. Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo poder".
Os três poderes deveriam ser exercidos por pessoas ou grupos distintos, com os objetivos de evitar abusos dos governantes e proteger as liberdades individuais.
Para Montesquieu, certas ações eram indiscutivelmente más: o despotismo, a escravidão e a intolerância. Por isso, um Estado deveria ser governado por leis, e não pela simples vontade dos monarcas. Assim, o autor era favorável à monarquia constitucional, semelhante à inglesa.
A teoria dos três poderes de Montesquieu inspirou a formação de diversos Estados atuais, como o Brasil, onde o Executivo, o Legislativo e o Judiciário devem ser independentes, mas trabalhar harmonicamente em conjunto.

Voltaire: liberdade de pensamento

O filósofo e escritor francês Voltaire (1694-1778) destacou-se por suas críticas ao clero católico, à intolerância religiosa e à prepotência dos poderosos. Defendia a liberdade de pensamento e de religião, bem como a igualdade perante a lei. Crítico dos privilégios de classe, Voltaire foi apelidado de o "filósofo burguês". Perseguido por suas ideias, foi obrigado a se exilar na Grã-Bretanha por dois anos. Em Londres, teve contato com uma nova cultura, mais livre e tolerante, que contrastava com o ambiente despótico (opressor) e intransigente que predominava em seu país.
Para Voltaire, os reis deveriam guiar-se pela razão, respeitar as liberdades individuais e agir com o auxílio dos pensadores ilustrados. Por isso, não defendia a participação do povo no poder, mas sim uma monarquia que respeitasse direitos individuais.
O filósofo escreveu romances, cartas, peças teatrais e poesias com brilhantismo literário e bom humor. Mesmo tendo seus livros proibidos na França, Voltaire ganhou prestígio pela Europa, tornando-se um dos principais divulgadores do pensamento iluminista.
Suas ideias influenciam até hoje os debates sobre liberdade de expressão, de pensamento e de crença. A partir delas, consagrou-se o seguinte princípio: “Posso não concordar com nenhuma palavra que você diz, mas sempre defenderei o seu direito de dizê-las.”


A singularidade do pensamento de Rousseau

Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra, na Suíça, mas ainda na adolescência mudou-se para Paris. A produção intelectual de Rousseau diferenciou-o dos demais pensadores iluministas. Para ele, o indivíduo é um ser bom por natureza. Com o passar do tempo, porém, a sociedade o desvirtua, corrompendo suas características naturais, e ele se torna egoísta, vaidoso e apegado a seu amor-próprio. Por isso, segundo o filósofo, a sociedade deveria ser reorganizada, para que a natureza do ser humano pudesse ser fortalecida. Nesse processo, a educação das crianças teria papel fundamental. No romance pedagógico Emílio ou Da educação, Rousseau procurou demonstrar como a educação ajudaria a fortalecer a bondade natural do ser humano, pervertida pela sociedade.
Rousseau também se afastou dos demais iluministas ao atacar a propriedade privada, considerada por ele a origem da desigualdade social. Foi o mais radical e o mais popular dos pensadores iluministas. Escreveu várias obras entre as quais se destacam o Discurso sobre a origem e os fundamentos das desigualdades entre os homens, O Emílio e O Contrato Social. Na primeira, critica a propriedade privada que é, segundo ele, a raiz das infelicidades humanas; ela "arranca o homem de seu doce contato com a natureza", acabando com a igualdade. Em O Contrato Social, desenvolveu a concepção de que a vontade da maioria é, na verdade, a razão da soberania do Estado. De acordo com Rousseau, os seres humanos recuperariam a igualdade e a liberdade por meio de um contrato social no qual a vontade geral e a coletividade prevaleceriam. Para isso, o soberano, isto é, a vontade geral expressa pelo povo, deveria atender sempre às necessidades e aos interesses comuns dos cidadãos, enquanto estes obedeceriam às leis em benefício do corpo coletivo.
Ele também afirmava que o poder pertencia ao povo, e não ao Estado, ou seja, o Estado apenas exercia o poder em nome do povo. Assim, um Estado só seria legítimo se as leis emanassem do povo, de acordo com a vontade geral. Segundo Rousseau, para que as pessoas fossem capazes de se opor à tirania e à opressão dos governos, precisariam ser criadas na liberdade. Somente um povo livre, educado para ter um pensamento autônomo, seria capaz de instituir governos democráticos.

Os princípios liberais

Entre os iluministas também estavam os pensadores liberais, que contestavam o Antigo Regime e apresentavam propostas de mudança na organização social. Na política, defendiam a limitação do poder do governante por uma constituição e um Parlamento com poder efetivo. Na economia, eles combatiam as restrições mercantilistas, como os monopólios e as taxas alfandegárias, e pregavam a liberdade do indivíduo de prosperar por mérito próprio.
O filósofo inglês John Locke foi um dos formuladores dos princípios liberais. Locke partiu da definição de direitos naturais: aqueles dados pela natureza, como o direito à vida, à liberdade e aos bens necessários para a conservação da vida e da liberdade. Diferentemente de Rousseau, para Locke a propriedade privada era um direito natural, pois os frutos do trabalho deviam pertencer ao indivíduo que os conquistou. Essas ideias foram muito bem-aceitas pela burguesia, que considerava a terra e outros bens propriedades que podiam ser adquiridas pela compra.

Locke: liberalismo político

O filósofo inglês John Locke (1632-1704) ajudou a difundir valores como tolerância religiosa e respeito às liberdades individuais, além de defender a expansão do sistema educacional. Autor do Segundo Tratado do Governo Civil e Ensaio Sobre o Entendimento Humano, foi contemporâneo da Revolução Gloriosa de 1688 na Inglaterra. 
Defendia principalmente a vida, a liberdade e a propriedade como direitos humanos naturais. Ensinava que os governos haviam surgido em função de um contrato estabelecido entre os homens visando a preservação desses direitos. Assim, caso o governo não cumprisse essa sua razão de ser, a sociedade teria à rebelião, à substituição do Estado tirânico. Locke negava, dessa forma, o Absolutismo monárquico, fundando o liberalismo político.
Ele acreditava que o poder do Estado deveria resultar de um acordo entre as pessoas, não de um poder inato, de origem divina. Por esse acordo (contrato social), a função do Estado seria garantir a segurança dos indivíduos e proteger seus direitos naturais (direito à vida, à liberdade e à propriedade).
Caso esses direitos naturais não fossem respeitados, as pessoas teriam o dever de se rebelar contra o governo. Locke é considerado um dos fundadores do liberalismo político, e seu pensamento influenciou a maioria dos países ocidentais contemporâneos.
Locke era um empirista, ou seja, ele se guiava pela importância da experiência sensorial. De modo geral, defendia que, quando nascemos, a nossa mente é uma espécie de “folha de papel em branco”, sem nenhuma ideia previamente escrita. Por isso, Locke não acreditava em ideias inatas, tampouco em poder político inato.
Se chegamos ao mundo como uma folha de papel em branco, ninguém nasce superior a ninguém. As diferenças entre as pessoas dependem, sobretudo, do modo como somos educados.

Adam Smith: liberalismo econômico

O filósofo e economista escocês Adam Smith (1723-1790) criticou a interferência excessiva do Estado na vida econômica. Para ele, a economia deveria ser conduzida pelo
livre jogo da oferta e da procura de mercado.
Para Smith, a verdadeira fonte de riqueza das nações era o trabalho, não a terra. O filósofo valorizava a livre-iniciativa e a livre-concorrência dos empreendedores. Assim, mesmo que eles buscassem vantagens individuais, as disputas de mercado trariam benefícios a todos. Esse conjunto de ideias foi chamado liberalismo econômico.
O liberalismo de Adam Smith inspirou a criação do neoliberalismo no final da década de 1970, cujas ideias predominam no atual mundo globalizado. O neoliberalismo almeja a redução da participação do Estado na vida econômica, por exemplo cortando despesas governamentais e privatizando empresas estatais.

Os enciclopedistas

Os iluministas utilizaram todos os meios para divulgar o conhecimento: cartas, jornais, livros, livretos, panfletos etc. Sem isso, pensavam eles, seria muito difícil a população abandonar suas crenças no sobrenatural, suas superstições e seus preconceitos e criar uma sociedade livre e fundada na razão.
Em 1745, o editor e livreiro André Le Breton obteve licença para publicar, em francês, a Cyclopaedia (Dicionário universal das ciências e das artes), obra que havia feito muito sucesso na Inglaterra e que muitos iluministas viam como modelo de manual do conhecimento.
Inspirado nela, o filósofo francês Denis Diderot, com a ajuda do matemático francês Jean le Rond d’Alembert, iniciou a criação da Enciclopédia, com o objetivo de sistematizar todo o conhecimento produzido pela humanidade até então. 
A Enciclopédia iluminista foi publicada entre 1751 e 1772. Era uma obra monumental formada por 35 volumes, com mais de 25 mil páginas e cerca de 3 mil ilustrações. Seu objetivo era ambicioso: reunir e difundir todos os conhecimentos racionais e não religiosos considerados mais importantes na Arte, na Ciência e na Filosofia. Provavelmente por isso, autoridades da Igreja Católica e do Estado consideraram essa obra perigosa e tentaram proibi-la.
A obra foi organizada pelos filósofos Denis Diderot (1713-1784) e Jean le Rond D’Alembert (1717-1783) e teve a colaboração de cerca de 160 pessoas, incluindo vários autores ilustres, como Montesquieu, Voltaire e Rousseau. Todos os colaboradores ficaram conhecidos como enciclopedistas.
O primeiro volume desse conjunto de livros seguia os princípios da tolerância religiosa e do racionalismo, elogiando pensadores protestantes e desafiando dogmas religiosos. Em razão disso, foi alvo de forte oposição da sociedade francesa e da Igreja Católica.
Em 1759, a Igreja incluiu a Enciclopédia no Índice dos Livros Proibidos. Mas os enciclopedistas não se intimidaram. Com o apoio de algumas autoridades, o trabalho prosseguiu em sigilo até 1765, quando foi completada a primeira parte da coleção. A obra continuou a ser escrita até 1772, quando os últimos dos seus 28 volumes foram finalizados, e contou com a colaboração de 160 pessoas, entre editores, articulistas, resenhistas, gráficos e ilustradores.

O Iluminismo na ciência

O racionalismo iluminista produziu um salto de qualidade na ciência do século XVIII. Há vários exemplos dessa “febre científica” em diversos campos do conhecimento, revelando o esforço dos sábios da época em conhecer o mundo natural e o espaço sideral.
Veja alguns exemplos importantes.
• O francês Antoine Lavoisier elaborou a lista mais extensa até então dos elementos químicos, além de ter feito outras descobertas.
• O alemão Daniel Fahrenheit e o sueco Anders Celsius criaram, nos anos 1724 e 1742, respectivamente, escalas de temperatura hoje conhecidas por seus respectivos nomes: Fahrenheit (°F) e Celsius (°C).
• O francês Claude-François Jouffroy construiu o primeiro navio a vapor, em 1776.
• Os irmãos Joseph e Jacques Montgolfier inventaram o balão de ar quente em 1783. Em 1785, com esse balão, foi feita a primeira travessia do canal da Mancha, voando da Inglaterra à França.
• O sueco Carlos Lineu criou e publicou, a partir de 1735, uma classificação do mundo vegetal e animal que é utilizada até hoje. Essas e outras descobertas ocorreram na Europa durante o século XVIII.
O Iluminismo pôs abaixo as explicações que o cristianismo oferecia para a natureza e a humanidade, estimulando, assim, a experiência científica em todos os campos. A maioria dos iluministas não chegou a duvidar da existência de Deus, apenas alguns poucos eram ateus. Mas todos deixaram a religião de lado em favor do conhecimento racional.

Isaac Newton(1642-1727), identificou o princípio da gravidade universal e fundamentou seus estudos na ideia de que o Universo é governado por leis físicas e não dependente de interferências de cunho divino. Igualmente a Descarte, para explicar os fenômenos naturais, substituiu a religião pela ciência e a revelação milagrosa pela observação e experimentação, consolidando o racionalismo.




A Revolução Inglesa do século XVII

No século XVII, a Inglaterra viveu um processo de profundas transformações sociais e políticas conhecido como Revolução Inglesa, o qual teve início em 1640 e culminou em 1688/89, com o golpe de Estado que pôs fim ao absolutismo na Inglaterra.

Para entender esse processo revolucionário, é importante acompanhar as mudanças ocorridas na economia e na sociedade inglesas, enquanto o país foi governado pelos Tudor, entre 1485 e 1603.

Mudanças econômicas e sociais

Nos campos da Inglaterra, elementos da nobreza (gentry) e pequenos proprietários bem sucedidos começaram a produzir lã e alimentos para outros países europeus. À medida que o consumo aumentou, essas pessoas passaram a cercar seus domínios territoriais, ocupando e expulsando das terras as famílias camponesas. Essa prática chamou-se cercamento. Com ela, os proprietários rurais aumentaram as áreas necessárias à agricultura comercial, bem como os campos destinados à criação de ovelhas.
Expulsos do campo pelos cercamentos, milhares de camponeses foram forçados a se mudar para as cidades. Com isso, um número crescente de desempregados passou a perambular pelas ruas, oferecendo-se para trabalhar por baixíssimos salários nas manufaturas e pequenas fábricas que surgiam.
Em compensação, os manufatureiros, os industriais e os comerciantes enriqueceram rapidamente e, no alvorecer do século XVII, já se constituíam numa burguesia atuante.
Essa burguesia, bem como o empresariado rural, considerava o controle que os reis absolutistas exerciam sobre a economia um sério obstáculo à expansão de seus negócios. Esses grupos capitalistas começaram, então, a reagir ao absolutismo real defendido pelo clero anglicano e por aristocratas que ainda se utilizavam da mão-de-obra servil, lutando para ter um poder político correspondente ao seu crescente poder econômico.

O reinado de Jaime I (1603-1625)

Com a morte de Elizabeth I, seu primo, o rei da Escócia, passou a ocupar o trono da Inglaterra com o título de Jaime I. Logo no início de seu reinado, exigiu ser reconhecido como rei por direito divino. Além disso, para ampliar o poder pessoal, tentou impor o anglicanismo, uma religião na qual o rei era o chefe supremo. Para isso, perseguiu tanto os católicos quanto os calvinistas. Por sua prática, Jaime I atraiu a ira de boa parte do Parlamento. Esse relacionamento piorou quando decidiu criar novos impostos e aumentar os existentes, sem consultar os parlamentares.

O reinado de Carlos I (1625-1649)

Mais autoritário, mais intolerante e mais impopular que Jaime I foi seu filho e sucessor, Carlos I. Assim que assumiu o poder, Carlos I entrou em guerra contra a França e, necessitando de dinheiro para mantê-la, reabriu o Parlamento para que fossem aprovados os aumentos de impostos. Para atender ao pedido do rei, o Parlamento exigiu que ele assinasse a Petição de Direitos (1628), que proibia de convocar o exército, de propor novos impostos e de mandar prender políticos sem a aprovação do Parlamento.
Pressionado, Carlos I assinou a Petição. Um ano depois, entretanto, voltou atrás: mandou seus soldados dissolverem o Parlamento e, por onze anos seguidos, governou o país como um tirano.
Durante esse tempo, o rei e o seu ministro para assuntos religiosos, o arcebispo Laud, tentaram impor o anglicanismo a todos os ingleses, escoceses e irlandeses. Os numerosos puritanos e presbiterianos que habitavam o reino reagiram prontamente a essa intolerância religiosa. Diante disso, foram perseguidos, presos e duramente castigados pelo governo. Para fugir à perseguição religiosa, muitos desses protestantes mudaram-se para a América, impulsionando, assim, a colonização do atual Estados Unidos.
Essa política opressiva do governo, tanto no campo fiscal quanto no religioso, contribuiu decisivamente para o desencadear da Revolução Inglesa.

O início da Revolução: a guerra civil (1640-1649)

Carlos I, absolutista obstinado e intransigente, entrou em conflito aberto com o Parlamento, que era contrário às perseguições religiosas e aos diversos tributos requeridos pelo monarca. Carlos I chegou a fechar o Parlamento em 1628 e, em 1641, quando tentou repetir a medida, teve início uma guerra civil.
De um lado estavam os cavaleiros, grandes proprietários, católicos e anglicanos que eram partidários do rei; de outro, os cabeças redondas, partidários do Parlamento, representantes dos pequenos proprietários, das populações urbanas, dos puritanos e dos presbiterianos (calvinistas da Escócia).
A guerra civil terminou com a vitória dos cabeças redondas, liderados por Oliver Cromwell, após aprisionar, julgar e executar Carlos I.

A república puritana (1649-1660)

Cromwell estabeleceu um regime republicano, o chamado Commonwealth, que inicialmente obteve apoio do Parlamento de maioria puritana. Entretanto, em 1653, o líder calvinista impôs à Inglaterra uma ditadura pessoal, chegando a receber o título de Lord Protetor da República.
Internamente, Cromwell enfrentou e sufocou uma rebelião liderada pelos niveladores, uma seita formada por puritanos radicais, cujo objetivo era implantar uma democracia que atendesse aos anseios das camadas pobres.
Externamente, estando à frente do exército, Cromwell invadiu a Irlanda e reprimiu de forma brutal uma insurreição contra o seu governo. Depois, venceu o exército escocês que invadira a Inglaterra para restabelecer a monarquia.
Esmagadas as oposições, Cromwell unificou a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda numa só República, formando assim a Comunidade Britânica (Commonwealth). Em 1651, decretou os Atos de Navegação, os quais determinavam que produtos importados pela Inglaterra só poderiam ser transportados por navios britânicos ou pertencentes aos países produtores.
Os Atos de Navegação deu um forte impulso ao capitalismo inglês, favorecendo especialmente a indústria naval e a burguesia mercantil. Ao mesmo tempo, porém, prejudicou enormemente a Holanda, país que obtinha lucros fabulosos com o transporte de produtos coloniais para a Inglaterra. Essa situação resultou em guerra entre os dois países, que se estendeu de 1651 a 1654.
Oliver Cromwell aproveitou-se da Guerra para ampliar seus poderes, encomendando a seus partidários uma nova Constituição, que propunha um único parlamento para a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda, e estabelecia o voto censitário (baseado na renda do cidadão). Por ela, Cromwell se impôs no governo como ditador.
A Inglaterra venceu a Holanda na guerra pela liderança do comércio marítimo internacional e, a partir de então, tornou-se a maior potência naval do mundo, passando a ser conhecida como a “rainha dos mares”.

A Restauração e a Revolução Gloriosa

Antes de morrer, em 1658, Cromwell designou seu filho, Ricardo, para sucedê-lo no governo. Ricardo não tinha a competência política, militar e administrativa de seu pai. Por isso, ao ser pressionado por militares e por alguns membros do parlamento, renunciou ao cargo.
Após sua renúncia, os adversários da república conseguiram eleger um Parlamento, que decidiu restaurar a monarquia, chamando o príncipe Carlos, da família Stuart, para ocupar o trono. Restauração é o nome que se dá aos anos entre 1660 e 1668, período em que Carlos II e o seu irmão Jaime II governaram a Inglaterra.
O novo governante britânico via em Luís XIV, seu primo e protetor, um modelo de governante: absolutista e católico. Diante das medidas do monarca que buscavam restabelecer o absolutismo, o Parlamento dividiu-se em dois partidos. De um lado estavam os Whigs, em sua maioria burgueses, adversários dos Stuarts e defensores do poder parlamentar, e de outro os Tories, anglicanos conservadores, que advogavam a monarquia absolutista.
Em 1685, Jaime II sucedeu o irmão Carlos II, mostrando-se intransigente defensor do absolutismo política e da religião católica, atraindo ao mesmo tempo, a oposição Whig e Tory. Jaime II mostrou-se ainda mais autoritário do que seu irmão Carlos. Do ponto de vista religioso, optou abertamente pelo catolicismo, entregando aos católicos os principais postos do exército e do funcionalismo civil.
Reagindo a essa situação, os membros do Parlamento, que eram em sua maioria representantes dos grupos capitalistas, decidiram derrubar o rei por meio de um golpe. Em 1688, ofereceram o trono da Inglaterra ao príncipe holandês Guilherme de Orange, genro de Jaime II, exigindo em troca que ele respeitasse o parlamento. Guilherme, então, invadiu Londres com seus exércitos e, sem dificuldade alguma, destituiu o monarca.
O novo monarca, com o título de Guilherme III, jurou a Declaração de Direitos, comprometendo-se a respeitar a supremacia do poder parlamentar e as leis que garantiam as liberdades individuais e reduziam o arbítrio da realeza. Outro elemento consagrado na Declaração de Direitos era o Ato de Tolerância, o qual estabelecia a liberdade religiosa, exceto para os católicos.
Com isso, chegava ao fim a Revolução Inglesa que liquidou o absolutismo, estabeleceu um governo parlamentar e permitiu a ascensão da burguesia ao poder. Era o triunfo do regime parlamentar sobre o absolutismo real e o início do predomínio burguês na política inglesa.

As Revoluções Inglesas

No decorrer dos séculos XVI e XVII, a burguesia desenvolveu-se, graças a ampliação da produção de mercadorias e das práticas do mercantilismo - que auxiliaram no processo de acumulação de capitais.

No entanto, a partir de um certo desenvolvimento das chamadas forças produtivas, a intervenção do Estado Absolutista nos assuntos econômicos passou a se constituir em um obstáculo para o pleno desenvolvimento do capitalismo. A burguesia passa a defender a liberdade comercial e a criticar o Absolutismo.
O absolutismo inglês desenvolveu-se sob duas dinastias, a dinastia Tudor e a dinastia Stuart. Durante a dinastia Tudor houve um grande desenvolvimento econômico inglês- principalmente no reinado da rainha Elizabeth I: consolidação do anglicanismo; adoção das práticas mercantilistas; início da colonização da América do Norte e o processo da política dos cercamentos, para ampliar as áreas de pastagens e a produção de lã. Assim, a burguesia inglesa vinha enriquecendo rapidamente, ampliando cada vez mais seus negócios e dominado a economia inglesa.
Além deste intenso desenvolvimento econômico a Inglaterra dos séculos XVI e XVII apresentava uma outra característica: os intensos conflitos religiosos.
A religião oficial, adotada pelo Estado era o anglicanismo, existiam outras correntes religiosas: os protestantes (calvinistas, luteranos e presbiterianos), chamados de modo geral, de puritanos. Havia ainda católicos no país. A monarquia inglesa - anglicana - perseguia católicos e puritanos, gerando os conflitos religiosos.

GRUPOS RELIGIOSOS E POSIÇÕES POLÍTICAS


Os católicos a partir da Reforma Anglicana passam a deixar de ter importância na economia inglesa;
Os calvinistas -grupo mais numeroso -eram compostos por pequenos proprietários e pelas camadas populares. O espírito calvinista, da poupança e do trabalho refletia os interesses da burguesia inglesa.

OS CONFLITOS ENTRE MONARQUIA E PARLAMENTO

No século XVII, o Parlamento inglês contava com um grande número de puritanos- que representavam os interesses da burguesia- e não aceitavam mais a interferência do Estado Absolutista. Com a morte de Elizabeth I, o trono inglês fica com os Stuarts. Foi durante esta dinastia que ocorreram as Revoluções Inglesas.

A DINASTIA STUART

Jaime I (1603/1625) - uniu a Inglaterra à Escócia, sua terra natal, desencadeando a insatisfação da burguesia e do Parlamento, que o consideravam estrangeiro. Realizou uma intensa perseguição a católicos e puritanos calvinistas. Foi em virtude desta perseguição que muitos puritanos dirigiram-se ao Novo Mundo, dando início à colonização da América inglesa -fundação da Nova Inglaterra, uma colônia de povoamento.
Carlos I (1625/1648) - sucessor de Jaime I e procurou reforçar o absolutismo, estabelecendo novos impostos sem a aprovação do Parlamento. Em 1628 o Parlamento impôs ao rei a "Petição dos Direitos",que limitava os poderes monárquicos: problemas relativos a impostos, prisões e convocações do Exército seriam atos ilegais, sem a aprovação do Parlamento. No ano de 1629, Carlos I dissolveu o Parlamento e governou sem ele por onze anos.
Em 1640, Carlos I teve que convocar novamente o Parlamento ­necessidade de novos impostos, negados pelo Parlamento. Diante da negação, Carlos I procura novamente dissolver o Parlamento, desencadeando uma violenta guerra civil na Inglaterra.

Revolução Puritana

A guerra civil mostrou dois lados da sociedade inglesa, de um lado estava o partido dos Cavaleiros, que apoiavam o rei: a nobreza proprietária de terras, os católicos e os anglicanos; de outro estava os Cabeças Redondas ( pois não usavam cabeleiras compridas como os nobres) partidários do Parlamento.
As forças do Parlamento, organizadas em um exército de rebeldes, eram lideradas por Oliver Cromwell. Após uma intensa guerra civil (1641/1649), os Cabeças Redondas derrotaram os Cavaleiros- aprisionando e decapitando o rei, Carlos I, em 1649. Após a morte de Carlos I foi estabelecida uma república na Inglaterra, período denominado "Commonwealth".
A revolução puritana marca, pela primeira vez, a execução de um monarca por ordem do Parlamento, colocando em xeque o princípio político da origem divina do poder do rei- influenciando os filósofos do século XVIII (Iluminismo).

REPÚBLICA PURITANA (1649/1658)

Período marcado por intolerância e rigidez de Oliver Cromwell. Este dissolveu o Parlamento em 1653 e iniciou uma ditadura pessoal, assumindo o título de Lorde Protetor da República.
Em 1651 foi decretado os Atos de Navegações, que protegiam os mercadores ingleses e provocaram o enfraquecimento comercial da Holanda. Com este ato a Inglaterra passa a ter o domínio do comércio marítimo.
Oliver Cromwell, sob o pretexto de punir um massacre que católicos irlandeses tinham realizado contra os protestantes, invadiu a Irlanda, promovendo a morte de milhares de irlandeses, originando um profundo conflito entre Irlanda e Inglaterra, que perdura ainda hoje.
Após a morte do Lorde Protetor (1658), inicia-se um período de instabilidade política até o ano de 1660, quando o Parlamento resolveu restaurar a monarquia.

A Restauração e a Revolução Gloriosa.

Carlos II (1660/1685) -filho de Carlos I, que no ano de 1683 dissolveu o Parlamento. Em seu reinado, o Parlamento dividiu-se em dois partidos: Whig, composto pela burguesia liberal e adeptos de um governo controlado pelo Parlamento e Tory, formado pelos conservadores e adeptos do absolutismo.
Jaime II ( 1685/1688) - Era católico e com a morte de Carlos II assumiu o poder e procurou restaurar o absolutismo monárquico, tendo oposição dos Whigs. No ano de 1688, há o nascimento de um herdeiro ­filho de um segundo casamento com uma católica. Temendo a sucessão de um governante católico, Whigs ( puritanos ) e Torys ( anglicanos), aliaram-se contra Jaime II, oferecendo o trono a Guilherme de Orange, protestante e casado com Maria Stuart - filha do primeiro casamento de Jaime com uma protestante.
Guilherme só foi proclamado rei quando aceitou a Declaração dos Direitos (Bill of Rights ), que limitava os poderes do rei e estabelecia a superioridade do Parlamento. Determinou-se também a criação de um exército permanente, a garantia da liberdade de imprensa e liberdade individual e proteção à propriedade privada.
A Revolução Gloriosa foi um complemento da Revolução Puritana, garantindo a supremacia da burguesia, através do controle do Parlamento. Também garantiu o fim do absolutismo monárquico na Inglaterra e o surgimento do primeiro Estado burguês, sob a forma de uma monarquia parlamentar.

A Conquista e Colonização da América pelos europeus

Os europeus só conheceram a América em fins do século XV. Porém, muito antes disso, as terras desse continente já eram habitadas por pessoas que constituíam grupos sociais com modos de vida diferentes entre si.

A chegada dos europeus provocou uma série de mudanças na vida dos povos da América, muitos aos quais foram explorados, escravizados ou simplesmente dizimados.

1. O Mercantilismo e a Colonização da América

O mercantilismo correspondeu à política e à prática econômica do Estado absolutista. Suas origens remontam à formação dos Estados nacionais, quando da progressiva centralização do poder, atingindo a plenitude com o absolutismo da Idade Moderna.
O traço principal do mercantilismo era a intervenção do Estado nos assuntos econômicos, a fim de dinamizar a economia nacional em proveito do fortalecimento real. Acreditava-se que só um Estado centralizado e empreendedor poderia favorecer o desenvolvimento nacional.

Os Princípios mercantilistas

Os Estados modernos europeus adotaram medidas mercantilistas que, quase sempre, apresentou certos princípios característicos, destacando-se:
Balança de comercial favorável: o intervencionismo absolutista tinha por meta que as exportações, fossem sempre superiores às importações, visando um saldo positivo no comércio com outras nações para viabilizar o entesouramento do Estado.
Metalismo: o ideal que norteava as práticas econômicas era que a riqueza de um país devia ser igual à quantidade de metais preciosos que conseguisse acumular.
Protecionismo: era a prática tarifária que encarecia os produtos importados, protegendo e estimulando a produção interna.
As medidas tomadas pelos Estados mercantilistas variaram de país para país em virtude de condições específicas. Na Espanha teve maior importância a exploração de metais preciosos (prata e ouro) nas colônias, predominando o metalismo. Na França, priorizou-se a indústria , graças a atuação de um dos ministros de Luís XIV, Colbert, daí ser chamado de colbertismo. Já na Inglaterra, destacou-se inicialmente o incentivo maiôs ao comércio, através do desenvolvimento da marinha inglesa, e depois às manufaturas, com um forte protecionismo.

O sentido da Colonização na América

Para os Estados europeus daquela época, colonizar uma determinada área era povoá-la a fim de explorar suas riquezas. Tais Estados adotavam como política econômica o mercantilismo. Um dos princípios básicos dessa política econômica era que as colônias existiam apenas para atender ao interesses das metrópoles.
O interesse das metrópoles mercantilistas européias era obter o máximo de lucro possível na exploração econômica de suas colônias. Para isso impuseram a elas um conjunto de medidas econômicas e políticas que os historiadores chamaram de sistema colonial.
A principal dessas medidas era o monopólio, compromisso segundo o qual as colônias só podiam comerciar com as respectivas metrópoles. Aproveitando-se disso, as metrópoles impunham às suas colônias os preços de compra e de venda das mercadorias. Compravam delas pelo menor preço admissível e vendiam para elas pelo maior preço possível.
A função principal das colônias, portanto, deveria ser a de enriquecer as burguesias e os reis de suas respectivas metrópoles. De fato, por um longo tempo, foi esse o papel desempenhado pela maioria das colônias européias na América.
A América transformou-se numa importante região complementar ao desenvolvimento europeu, dentro da meta do entesouramento mercantilista, sendo submetida a uma intensa exploração colonialista. Sua integração à Europa obedeceu à função primordial de produzir as riquezas requeridas por suas metrópoles.
A atividade colonizadora concentrou-se, de início, na exploração de metais preciosos existentes na região, ou de gêneros tropicais (cana-de-açúcar, algodão, tabaco) de alto valor no mercado europeu, como no caso e Espanha e Portugal principalmente. Posteriormente, quando a extração de riquezas não era possível, as colônias na América serviam como entrepostos comerciais ou simplesmente refúgio de uma população marginalizada, muitas vezes aliviando algumas nações europeias de sérios problemas sociais.
A colonização, de forma geral, não visou ao progresso colonial da América e sim ao desenvolvimento econômico das metrópoles europeias. Esse sentido complementar e explorado das relações metrópole-colônia, chamado pacto colonial, desdobrou-se nos trabalhos das populações coloniais e na dizimação dos nativos do Novo Mundo, os chamados ameríndios. Por fim, o Estado mercantilista, ansioso por lucros e riquezas, ressuscitou o velho escravismo, integrando-o à empresa colonial.
Cristóvão Colombo, ao chegar a América, em 1492, encontrou uma população de cerca de 100 milhões de habitantes. Dois séculos depois, essa mesma população achava-se reduzida a menos de 4 milhões de habitantes. Esta drástica redução da população nativa estava intimamente relacionada à violência da conquista e a exploração sobre a gente da América.

O Sistema Colonial

Devemos conhecer os seguintes conceitos-chave do sistema colonial mercantilsta:
Metrópole — o país dominador da colônia. Centro de decisões políticas e econômicas.
Colônia de exploração — a região dominada pela metrópole. Servia-lhe como retaguarda econômica.
Regra básica do pacto colonial — à colônia só era permitido produzir o que a metrópole não tinha condições de fazer. Por isso, a colônia não podia concorrer com a metrópole.
Colônias - instrumentos geradores de riqueza

2. A conquista espanhola

A Espanha foi o primeiro Estado europeu a se empenhar na ocupação e exploração das terras americanas. A conquista espanhola da América, cuja população era muito superior ao número dos conquistadores, só foi possível graças à superioridade bélica. As armas de fogo, os equipamentos de ataque e defesa, a utilização do cavalo, animal desconhecidos em terras americanas, deram aos espanhóis as condições de subjugar os povos nativos.
Todo esse equipamento bélico era desconhecido dos ameríndios, que combatiam quase desnudos e utilizavam basicamente arcos, flechas envenenadas e lanças.
Conforme testemunho do escritor frei Bartolomeu de Las Casas, a conquista começou pela ocupação da ilha Hispaniola (atuais Haiti e São Domingos) e de Cuba, realizadas ainda durante as viagens de Colombo à América.
Aos poucos os espanhóis saquearam todo o ouro encontrado nessas ilhas e exterminaram a grande maioria de seus habitantes. Principalmente por causa desse genocídio, não há mais descendentes dos indígenas que habitavam aquela região antes da chegada de Colombo.
Depois, dando prosseguimento à conquista, lançaram-se com fúria desmedida sobre os territórios ocupados pelas civilizações pré-colombianas do continente.
Em 1519, o nobre espanhol Fernão Cortez, acompanhado de 500 soldados, desembarcou nas costas do México e tomou Tenochtitlán, a capital do Império Asteca.
Em 1533, o aventureiro espanhol Francisco Pizzarro e seus 180 soldados conseguiram-se apoderar-se de Cuzco, a magnífica capital do Império Inca.

A economia colonial

Logo nas primeiras décadas do século XVI os espanhóis lançaram-se à exploração das riquezas minerais americanas e, por mais de cem anos, a mineração foi a principal atividade econômica da América espanhola.
A extração de ouro e especialmente a exploração da prata nas ricas minas de Patosi (atual Bolívia) e Zacatecas (atual México enriqueceram a Espanha rapidamente, elevando-a à condição de maior potência mundial do século XVI.
A mineração estimulou também a prática da agricultura, da pecuária e da tecelagem em diversas regiões do território hispano-americano. Essas regiões, como o norte da Argentina, por exemplo, passaram a produzir gêneros agrícolas, animais de tração e panos grosseiros para abastecerem as áreas de mineração.
Durante o século XVII, com o esgotamento das jazidas, a exploração do ouro e da prata decaiu. Com isso, as regiões dedicadas à agricultura e à pecuária tornaram-se mais dependentes das vendas para o mercado externo. O declínio da mineração concorreu também para o aumento do número de plantations, isto é, das grandes propriedades produtoras de gêneros tropicais como o cacau (Venezuela), açúcar e tabaco (Antilhas), destinados à venda em larga escala para o mercado externo. Nessas propriedades, a mão-de-obra mais numerosa era de escravos negros, que passaram a ser trazidos da África em grandes quantidades a partir de meados do século XVII.

A mão-de-obra

A mão-de-obra mais utilizadas pela empresa colonial espanhola no continente americano sempre foi a do indígena. Desde o começo da colonização, os espanhóis foram autorizados pelos reis a forçarem o indígena a trabalhar para eles nas mais diferentes ocupações.
O trabalho forçado do indígena era regulamentado pela encomienda e pela mita.
Originária da Espanha e introduzida na América por Colombo, a encomienda era o direito que o rei concedia ao colono espanhol (o encomendero) de fazer com que um certo número de indígenas (os encomendados) trabalhassem para ele. Em troca, o encomendero tinha o dever de ensinar o cristianismo e cuidar da subsistência do encomendados. Milhares de índios encomendados, porém, morreram por falta de assistência material e sem nenhum conhecimento da religião cristã.
Amplamente utilizada no Império Inca, a mita foi aproveitada pelos colonizadores espanhóis, pois atendia perfeitamente aos seus interesses mercantilistas. Mas, é claro, adquiriu outro significado.
A mita era o direito que os colonos espanhóis se davam de arrancar os indígenas de suas comunidades e forçá-los a trabalhar nas minas por um determinado tempo. Em troca, tais trabalhadores, conhecidos como mitayos, recebiam o equivalente à metade ou a um terço do salário do trabalhador livre.
A encomienda, a mita, as péssimas condições de trabalho no campo e nas minas, as doenças trazidas pelo europeu (varíola, tuberculose, sarampo, tifo, malária e gripe, entre outras) e a guerra foram os principais fatores responsáveis pela eliminação física de milhões de indígenas na América espanhola.
Embora um setor da Igreja Católica, tendo a frente o corajoso frei Bartolomeu de Las Casas, tenha conseguido a aprovação de uma lei proibindo a encomienda, o trabalho forçado do indígena continuou sendo largamente utilizado pela empresa colonial espanhola até o século XIX.

A sociedade

A sociedade colonial hispano-americana era formada basicamente por uma minoria de brancos, que concentrava grande soma de poder e riqueza, e uma grande maioria de não-brancos, composta de índios, negros e mestiços, submetidos a um regime de trabalho forçado e obrigatório ou recebendo baixíssimos salários.
Nessa sociedade havia uma estreita relação entre cor, origem e posição social.
Os chapetones eram os colonos brancos nascidos na Espanha. Ocupavam os mais altos cargos administrativos, políticos, religiosos e militares existentes na sociedade colonial.
Os criollos eram os filhos de espanhóis nascidos na América. Essa camada social era formada por grandes proprietários de terras e por ricos arrendatários de minas. Apesar disso, aos criollos estavam reservados os cargos administrativos, políticos, religiosos e militares, inferiores aos dos chapetones.
Os mestiços eram em sua maioria descendentes e brancos e índios e trabalhavam quase sempre, como comerciantes, artesãos e capatazes.
Os indígenas constituíam a maior parcela da população colonial. Com a chegada dos espanhóis, muitos deles foram sendo destribalizados e incorporados à sociedade hispano-americana para realizar os piores serviços em troca dos mais baixos salários.
Os negros, na condição de escravos, foram trazidos da África principalmente para trabalhar nas regiões que adotaram a plantation, como São Domingos, Haiti, Cuba e Jamaica.

A administração

Nas primeiras décadas da conquista, a coroa espanhola decidiu entregar a particulares – os adelantados – a administração dos territórios americanos pertencentes à Espanha. Os adelantados eram, geralmente, homens como Cortez e Pizzarro, que, por terem encabeçado expedições de conquista, receberam o direito de administrar com grande autonomia os territórios por eles conquistados.
Entretanto, à medida que os espanhóis foram conquistando novos territórios e descobrindo metais preciosos na América, o governo da Espanha foi diminuindo os poderes dos adelantados e criando órgãos governamentais para cuidar da administração colonial.
O mais importante desses órgãos foi criado pelo governo espanhol em 1524 e se chamava Conselho das Índias. Além de elaborar leis e nomear funcionários reais para as colônias, o Conselho das Índias estava autorizado a decidir sobre todas as questões coloniais de ordem militar, jurídica ou eclesiástica.
Para facilitar a administração de seu vasto império, a Espanha subdividiu-o em quatro vice-reinos: Nova Espanha (México e América Central), Nova Granada (Colômbia, Equador e Venezuela, Peru (Peru e parte da Bolívia) e Prata (Argentina, Uruguai, Paraguai e a parte restante da Bolívia).

Além dos vice-reinados, a metrópole criou quatro outras unidades administrativas, chamadas de capitanias gerais: Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile. Situadas em áreas estratégicas, essas capitanias estavam encarregadas de defender as colônias de possíveis ataques estrangeiros.
Os vice-reis, principais encarregados da administração colonial, tinha autonomia relativa, sendo, frequentemente, fiscalizados pelo poder central. Nas principais cidades coloniais criaram-se câmaras municipais conhecidas pelo nome de cabildos. Estas câmaras eram formadas por fazendeiros e mineradores ricos, autorizados a decidir sobre questões relativas à administração local.

3. A Colonização Inglesa

Enquanto os espanhóis concentraram seus esforços colonizadores nas regiões auríferas da América Central e do Sul, os ingleses ocuparam a América do Norte a partir de 1584, sob o reinado da rainha Elizabeth I. Nesse ano, Walter Raleigh fundava a colônia da Virgínia.
Contudo, foi só no século XVII que a colonização inglesa da América do Norte recebeu o impulso de que precisava, especialmente das companhias de comércio britânicas (Companhia de Londres e Companhia de Plymouth, por exemplo), que favoreceram a constituição de novas colônias em terras americanas.
A colonização nas treze colônias inglesas iniciais tem algumas peculiaridades, se comparadas às colonizações espanhola e portuguesa. Podemos, por exemplo, identificar características colonizadoras diferentes em diversas regiões da colônia.
Na região Sul, a colonização baseou-se no latifúndio monocultor e escravista (plantation), cuja produção destina-se à exportação. Na região Norte e Centro, a ocupação foi realizada principalmente por pessoas perseguidas ou que fugiam dos conflitos políticos e/ou religiosos. Por isso, desenvolveram-se atividades destinadas à sobrevivência das comunidades, como as manufaturas, o comércio é a agricultura baseada na pequena propriedade e na variedade de produtos. Chama-se este tipo de ocupação de colônia de povoamento.

4. A Colonização Francesa e a Holandesa

Os franceses e holandeses, desejosos de usufruir do vantajoso comércio colonial, criaram, no século XVII, companhias de comércio, cujo objetivo era estimular a ocupação de terras americanas.
Os franceses ocuparam a região que hoje corresponde ao nordeste do território canadense, fundando, em1608, a cidade de Quebec. Posteriormente, ocuparam a foz do rio Mississipi, fundando ali a colônia da Louisiana.
Além de se estabelecerem no Canadá e na Louisiana, os franceses fundaram colônias em algumas ilhas da América Central. Nessa parte do continente, ocuparam a Martinica, Guadalupe, Tobago e a porção ocidental da ilha de São Domingos (atual Haiti), além de várias outras ilhas. Na América do Sul, ocuparam uma das Guianas e lá fundaram a cidade de Caiena.
Interessados no domínio colonial americano, os holandeses fundaram, em 1623, um povoado chamado Nova Amsterdã que mais tarde passou ao domínio inglês, transformando-se na cidade de Nova Yorque. Tal como os franceses, os holandeses fundaram colônias nas Antilhas e na região das Guianas, na América do Sul.
Os holandeses, através da atuação da Companhia de Comércio das Índias Orientais e da Companhia de Comércio das Índias Ocidentais, conseguiram monopolizar grande parte de transporte e mercado europeu dos gêneros coloniais, tornando-se, já no século XVII, numa nação rica e poderosa, assumindo a liderança marítimo comercial da Europa.
Essa liderança estendeu-se até a metade do século XVII, quando a Holanda foi vencida em guerra travada contra a Inglaterra. Depois de vencer a guerra, a Inglaterra passou a ser a nação hegemônica, a “Rainha dos Mares”.
Enfraquecida pela derrota diante da Inglaterra, a Holanda perdeu grande parte de suas possessões. Na América.




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