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A Revolução Inglesa do século XVII

No século XVII, a Inglaterra viveu um processo de profundas transformações sociais e políticas conhecido como Revolução Inglesa, o qual teve início em 1640 e culminou em 1688/89, com o golpe de Estado que pôs fim ao absolutismo na Inglaterra.

Para entender esse processo revolucionário, é importante acompanhar as mudanças ocorridas na economia e na sociedade inglesas, enquanto o país foi governado pelos Tudor, entre 1485 e 1603.

Mudanças econômicas e sociais

Nos campos da Inglaterra, elementos da nobreza (gentry) e pequenos proprietários bem sucedidos começaram a produzir lã e alimentos para outros países europeus. À medida que o consumo aumentou, essas pessoas passaram a cercar seus domínios territoriais, ocupando e expulsando das terras as famílias camponesas. Essa prática chamou-se cercamento. Com ela, os proprietários rurais aumentaram as áreas necessárias à agricultura comercial, bem como os campos destinados à criação de ovelhas.
Expulsos do campo pelos cercamentos, milhares de camponeses foram forçados a se mudar para as cidades. Com isso, um número crescente de desempregados passou a perambular pelas ruas, oferecendo-se para trabalhar por baixíssimos salários nas manufaturas e pequenas fábricas que surgiam.
Em compensação, os manufatureiros, os industriais e os comerciantes enriqueceram rapidamente e, no alvorecer do século XVII, já se constituíam numa burguesia atuante.
Essa burguesia, bem como o empresariado rural, considerava o controle que os reis absolutistas exerciam sobre a economia um sério obstáculo à expansão de seus negócios. Esses grupos capitalistas começaram, então, a reagir ao absolutismo real defendido pelo clero anglicano e por aristocratas que ainda se utilizavam da mão-de-obra servil, lutando para ter um poder político correspondente ao seu crescente poder econômico.

O reinado de Jaime I (1603-1625)

Com a morte de Elizabeth I, seu primo, o rei da Escócia, passou a ocupar o trono da Inglaterra com o título de Jaime I. Logo no início de seu reinado, exigiu ser reconhecido como rei por direito divino. Além disso, para ampliar o poder pessoal, tentou impor o anglicanismo, uma religião na qual o rei era o chefe supremo. Para isso, perseguiu tanto os católicos quanto os calvinistas. Por sua prática, Jaime I atraiu a ira de boa parte do Parlamento. Esse relacionamento piorou quando decidiu criar novos impostos e aumentar os existentes, sem consultar os parlamentares.

O reinado de Carlos I (1625-1649)

Mais autoritário, mais intolerante e mais impopular que Jaime I foi seu filho e sucessor, Carlos I. Assim que assumiu o poder, Carlos I entrou em guerra contra a França e, necessitando de dinheiro para mantê-la, reabriu o Parlamento para que fossem aprovados os aumentos de impostos. Para atender ao pedido do rei, o Parlamento exigiu que ele assinasse a Petição de Direitos (1628), que proibia de convocar o exército, de propor novos impostos e de mandar prender políticos sem a aprovação do Parlamento.
Pressionado, Carlos I assinou a Petição. Um ano depois, entretanto, voltou atrás: mandou seus soldados dissolverem o Parlamento e, por onze anos seguidos, governou o país como um tirano.
Durante esse tempo, o rei e o seu ministro para assuntos religiosos, o arcebispo Laud, tentaram impor o anglicanismo a todos os ingleses, escoceses e irlandeses. Os numerosos puritanos e presbiterianos que habitavam o reino reagiram prontamente a essa intolerância religiosa. Diante disso, foram perseguidos, presos e duramente castigados pelo governo. Para fugir à perseguição religiosa, muitos desses protestantes mudaram-se para a América, impulsionando, assim, a colonização do atual Estados Unidos.
Essa política opressiva do governo, tanto no campo fiscal quanto no religioso, contribuiu decisivamente para o desencadear da Revolução Inglesa.

O início da Revolução: a guerra civil (1640-1649)

Carlos I, absolutista obstinado e intransigente, entrou em conflito aberto com o Parlamento, que era contrário às perseguições religiosas e aos diversos tributos requeridos pelo monarca. Carlos I chegou a fechar o Parlamento em 1628 e, em 1641, quando tentou repetir a medida, teve início uma guerra civil.
De um lado estavam os cavaleiros, grandes proprietários, católicos e anglicanos que eram partidários do rei; de outro, os cabeças redondas, partidários do Parlamento, representantes dos pequenos proprietários, das populações urbanas, dos puritanos e dos presbiterianos (calvinistas da Escócia).
A guerra civil terminou com a vitória dos cabeças redondas, liderados por Oliver Cromwell, após aprisionar, julgar e executar Carlos I.

A república puritana (1649-1660)

Cromwell estabeleceu um regime republicano, o chamado Commonwealth, que inicialmente obteve apoio do Parlamento de maioria puritana. Entretanto, em 1653, o líder calvinista impôs à Inglaterra uma ditadura pessoal, chegando a receber o título de Lord Protetor da República.
Internamente, Cromwell enfrentou e sufocou uma rebelião liderada pelos niveladores, uma seita formada por puritanos radicais, cujo objetivo era implantar uma democracia que atendesse aos anseios das camadas pobres.
Externamente, estando à frente do exército, Cromwell invadiu a Irlanda e reprimiu de forma brutal uma insurreição contra o seu governo. Depois, venceu o exército escocês que invadira a Inglaterra para restabelecer a monarquia.
Esmagadas as oposições, Cromwell unificou a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda numa só República, formando assim a Comunidade Britânica (Commonwealth). Em 1651, decretou os Atos de Navegação, os quais determinavam que produtos importados pela Inglaterra só poderiam ser transportados por navios britânicos ou pertencentes aos países produtores.
Os Atos de Navegação deu um forte impulso ao capitalismo inglês, favorecendo especialmente a indústria naval e a burguesia mercantil. Ao mesmo tempo, porém, prejudicou enormemente a Holanda, país que obtinha lucros fabulosos com o transporte de produtos coloniais para a Inglaterra. Essa situação resultou em guerra entre os dois países, que se estendeu de 1651 a 1654.
Oliver Cromwell aproveitou-se da Guerra para ampliar seus poderes, encomendando a seus partidários uma nova Constituição, que propunha um único parlamento para a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda, e estabelecia o voto censitário (baseado na renda do cidadão). Por ela, Cromwell se impôs no governo como ditador.
A Inglaterra venceu a Holanda na guerra pela liderança do comércio marítimo internacional e, a partir de então, tornou-se a maior potência naval do mundo, passando a ser conhecida como a “rainha dos mares”.

A Restauração e a Revolução Gloriosa

Antes de morrer, em 1658, Cromwell designou seu filho, Ricardo, para sucedê-lo no governo. Ricardo não tinha a competência política, militar e administrativa de seu pai. Por isso, ao ser pressionado por militares e por alguns membros do parlamento, renunciou ao cargo.
Após sua renúncia, os adversários da república conseguiram eleger um Parlamento, que decidiu restaurar a monarquia, chamando o príncipe Carlos, da família Stuart, para ocupar o trono. Restauração é o nome que se dá aos anos entre 1660 e 1668, período em que Carlos II e o seu irmão Jaime II governaram a Inglaterra.
O novo governante britânico via em Luís XIV, seu primo e protetor, um modelo de governante: absolutista e católico. Diante das medidas do monarca que buscavam restabelecer o absolutismo, o Parlamento dividiu-se em dois partidos. De um lado estavam os Whigs, em sua maioria burgueses, adversários dos Stuarts e defensores do poder parlamentar, e de outro os Tories, anglicanos conservadores, que advogavam a monarquia absolutista.
Em 1685, Jaime II sucedeu o irmão Carlos II, mostrando-se intransigente defensor do absolutismo política e da religião católica, atraindo ao mesmo tempo, a oposição Whig e Tory. Jaime II mostrou-se ainda mais autoritário do que seu irmão Carlos. Do ponto de vista religioso, optou abertamente pelo catolicismo, entregando aos católicos os principais postos do exército e do funcionalismo civil.
Reagindo a essa situação, os membros do Parlamento, que eram em sua maioria representantes dos grupos capitalistas, decidiram derrubar o rei por meio de um golpe. Em 1688, ofereceram o trono da Inglaterra ao príncipe holandês Guilherme de Orange, genro de Jaime II, exigindo em troca que ele respeitasse o parlamento. Guilherme, então, invadiu Londres com seus exércitos e, sem dificuldade alguma, destituiu o monarca.
O novo monarca, com o título de Guilherme III, jurou a Declaração de Direitos, comprometendo-se a respeitar a supremacia do poder parlamentar e as leis que garantiam as liberdades individuais e reduziam o arbítrio da realeza. Outro elemento consagrado na Declaração de Direitos era o Ato de Tolerância, o qual estabelecia a liberdade religiosa, exceto para os católicos.
Com isso, chegava ao fim a Revolução Inglesa que liquidou o absolutismo, estabeleceu um governo parlamentar e permitiu a ascensão da burguesia ao poder. Era o triunfo do regime parlamentar sobre o absolutismo real e o início do predomínio burguês na política inglesa.

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