segunda-feira, 25 de setembro de 2023

ENTRE GOLPES E PROTESTOS: OS ANOS 60 E 70 DO SÉCULO XX

O poder da juventude

Nas décadas de 60 e 70 as manchetes de jornais de vários países do planeta abordavam a escalada da juventude na sociedade, os jovens, inconformados com os valores e instituições, ideias e tabus existentes na sociedade, buscavam construir, pacífica ou violentamente, um novo mundo. Queriam romper com tudo que consideravam tradicional, conservador e ultrapassado. A palavra de ordem era a contestação.
E contestando o que consideravam “velho”, foram construindo e assumindo novos valores e comportamentos e ousadas formas de fazer política, arte, religião, etc. nos países socialistas, lutaram pela liberdade política, nos países capitalistas industrializados criticavam a sociedade de consumo e os valores e tabus conservadores e nos países de terceiro mundo, lutaram contra as ditaduras e contra o imperialismo.
Nem sempre com sucesso, nem sempre com derrotas. As lutas e a rebeldia da juventude nos anos 60 e 70 mudaram o mundo. Não exatamente como eles queriam, mas com certeza imprimiram na sociedade sua digital: abalaram estruturas e mentalidades, modificaram os modos e a moda, diversificaram e pluralizaram as opiniões, os comportamentos, os estilos e os conceitos. Opondo-se à a moda comportada e sofisticada das décadas anteriores, os estilos de roupas, de cabelos, de maquiagem, os ídolos, os estilos musicais e a forma de ver e viver passaram por uma verdadeira revolução.
Nos anos 60, a moda deixou de ser única e a forma de se vestir tornou-se cada vez mais ligada ao comportamento. Num cenário de afirmação da juventude e de contestação, a moda passou a ter várias propostas e tendências, mas as grandes vedetes da época eram: a minissaia, os shortinhos, os vestidos feitos em linha reta (os famosos tubinhos), as calças masculinas cada vez mais justas, com cintura baixa e barra larga (a famosa boca de sino). Alguns modismos surgiram a partir da cópia dos modelos usados por ídolos e celebridades da época: os terninhos dos Beatles, os óculos de Jackie Onassis, os cabelos curtíssimos e os cílios postiços e delineados da magérrima Twiggy (apelido da inglesa Lesley Hornby, que foi de 1966 a 1969 a modelo símbolo da época e a primeira top model do mundo), os ternos estilo Mao Tsé-tung, as camisas com o rosto de Che Guevara, entre outros.
Os avanços da ciência, as viagens espaciais, a revolução na arte e no design – especialmente a Pop Art, movimento artístico que usava a irreverência e a ironia para contextualizar e contestar a sociedade de consumo – também influenciavam a moda e eram retratados nos modelos, estampas e tecidos. Os desenhos de Andy Warhol, um dos criadores da Pop Art, tais com as latas de sopa Campbell, Elvis Presley e Marilyn Monroe, viraram estampas de tecidos usados para confeccionar vestidos e camisetas. Os tecidos sintéticos com estampas futuristas e geométricas também eram hits nos anos 60 e 70, expressão de uma época que buscava a mudança, a modernidade, o futuro.
Nos anos 60 Londres era o reduto jovem mundial, mas já no final dessa década foi substituída pela cidade de São Francisco nos Estados Unidos, berço dos movimentos de contestação e de lutas das “minorias”: o flower Power, poder da flor (slogan dos hippies que pregavam a paz e o amor; o Black Power (slogan do movimento negro norte-americano), o gay Power e womens’s lib (movimento pela libertação das mulheres). Essas palavras de ordem ecoaram em grande parte do planeta e se tornaram slogans da juventude mundial e base de suas manifestações e lutas.
No final dos anos 60 e início da década de 70, a busca de novos valores, de um outro tipo de vida, a negação da sociedade de consumo, dos preconceitos e das hierarquias, a valorização das classes operárias e camponesas, a busca de uma vida mais espiritualizada, a aproximação com o misticismo oriental promoveram uma nova reviravolta na moda e no comportamento. O movimento hippie, originalmente um estilo de vida que negava a sociedade consumista, competitiva e belicosa, acabou se transformando num modismo e milhares de pessoas passaram a adotar o seu visual: cabelos longos, túnicas batique (indiana), jeans surrados e enfeitados, camisetas com estampas florais e com símbolos de paz e do zodíaco, pantalonas e saias longas estilo cigana, bolsas de couro, carmuças e crochê com franjas e alças e tiracolo, sapatos plataforma e bijuterias viraram verdadeiras manias mundiais.
Nessas décadas, a criatividade e a originalidade estavam a todo vapor e a produção cultural foi extremamente rica e variada. Na música destacaram-se as bandas de rock-and-roll, especialmente Os Beatles, um verdadeiro fenômeno mundial: entre 1962 e 1969 venderam 220 milhões de discos e um de seus integrantes, Jonh Lenon chegou a declarar: “Somos mais populares que Jesus Cristo”. Segundo vários especialistas, os Beatles conseguiram transformar em música a rebeldia e os sonhos dos jovens dos anos 60, registrando em sons a história de uma época.
No final dos anos 60 e início dos 70, outras bandas de rock se destacaram no cenário mundial fazendo um som mais pesado e estridente: Rolling Stones, Led Zeppelin, Black Sabath e os roqueiros Janis Joplin, Jimi Hendrix, Rod Stewart, David Bowie, entre outros. Surgiu nessa época também o chamado “rock progressivo”, cujos maiores representantes foram os grupos Yes, Pink Floyd e Queen. No final dos anos 70, surgiram novos estilos como o disco ou dance music, inaugurando a era das discotecas, e o punk rock.

Jovens, mulheres e negros querem mudar o mundo

· Década de rebeldia e contestação

A década de 60 foi realmente explosiva. Em várias partes do mundo ocorreram movimentos populares que exigiam mudanças sociais e políticas tanto nos regimes socialistas como nos países capitalistas. Havia um forte sentimento de recusa e toda forma de opressão, discriminação e autoritarismo.
Nos países capitalistas, a luta era por ampliação dos direitos civis dos negros e das mulheres, pela reforma do sistema educacional arcaico e tradicional e pelo fim das guerras. Para exigir seus direitos, os estudantes, os negros e as mulheres foram às ruas, criando formas alternativas de organização e manifestação. Apesar do caráter pacífico da maioria desses movimentos, eles foram enfrentados pelo poder instituído com violência e repressão, demonstrando a resistência em relação às mudanças. Em geral, os manifestantes eram acusados de subversivos, baderneiros e imorais.
Além dos métodos tradicionais de luta, como as greves, passeatas, barricadas, a geração jovem dos anos 60 e 70 criou fórmulas alternativas de protestar contra o modelo social vigente: o movimento hippie e a contracultura.
Nos países socialistas, o aparato repressor do Estado não conseguiu impedir a explosão da insatisfação de vários segmentos da população com o autoritarismo do regime e a ausência de liberdade e de participação popular. Esses movimentos contra-revolucionários, traidores e inimigos do povo.
Como podemos observar, tanto no socialismo como no capitalismo, as diferenças não eram respeitadas e aceitas, ao contrário, eram inferiorizadas e discriminadas.
Apesar disso, o movimento estudantil, o movimento feminista e o movimento negro mantiveram suas lutas (com períodos de avanços e de refluxo) e ao longo dos anos foram conquistando espaço voz na sociedade, contribuindo direta ou indiretamente para as grandes mudanças políticas, sociais e culturais pela quais o mundo passou a partir dos anos 60 até hoje.
O estopim das lutas ocorreu em 1968. Nunca um ano provocou tantos movimentos e protestos populares: na França, a “revolta de maio”; na Tchecoslováquia, o “massacre da Primavera de Praga”; na Polônia, as manifestações contra o regime burocrático; na América Latina, o apogeu do movimento estudantil contra as ditaduras militares.

· Pela igualdade racial

A partir de meados dos anos 50, começou nos Estados Unidos um vigoroso movimento pelos direitos civis dos negros liderados pelo pastor Martin Luther King (1929-1968). O método pacifista defendido por Martin para combater o racismo e a violência contra os negros era a desobediência civil, ou seja, não obedecer as proibições e limitações legais a que eram submetidos. Sua filosofia de não-violência era baseada nas ideias e lutas do líder indiano Mahatma Gandhi e nos princípios cristãos.
A luta de Luther King pelos direitos civis dos negros nos EUA começou em 1955, quando ele liderou um boicote ao transporte coletivo em protesto a um ato discriminatório a uma passageira negra. O movimento, que durou 381 dias, provocou reações violentas e King teve sua casa bombardeada.
Em 1957, ajudou a fundar a Conferência da Liderança Cristã no Sul (SCLC), uma organização de igrejas e sacerdotes negros, que tinha como objetivo acabar com as leis de segregação por meio de manifestações e boicotes pacíficos. Em 1960, como resultado de uma série de protestos contra a segregação racial em hotéis, restaurantes, escolas, etc., o movimento negro liderado por King conseguiu aprovar uma lei concedendo livre acesso dos negros aos lugares públicos.
No ano de 1963, Martin L. King liderou várias passeatas, marchas e protestos em prol dos direitos civis de todos os cidadãos dos Estados Unidos, contando sempre com a adesão de milhares de participantes. Mas, apesar dos métodos de não-violência e resistência passiva, milhares de manifestantes foram presos durante as marchas e protestos e até mesmo Luther King foi preso várias vezes, acusado de perturbar a ordem pública.
Apesar da resistência de uma grande parcela da sociedade branca norte-americana, a luta dos negros americanos passou a ter ressonância internacional, especialmente após a passeata em Washington (28 de agosto de 1963), onde Luther King proferiu seu famoso discurso “I have a dream” (“Eu tenho um sonho”). A partir daí, a luta sem violência contra a discriminação e intolerância racial ganhou força. Foram organizados grandes comícios e passeatas reunindo milhares de negros nas grandes cidades norte-americana, principalmente em Memphis, berço do movimento.
Em dois de julho de 1964, os negros conseguiram sua primeira vitória, com a aprovação da Lei dos Direitos Civis, que tornou ilegal a discriminação racial no registro de eleitores e em estabelecimentos públicos – restaurantes, postos de gasolina, hotéis, etc. – e estabeleceu punições para escolas e hospitais que recusassem atendimento por preconceitos raciais.
Apesar do grande avanço, essa lei limitava o direito de cidadania aos negros, pois exigia uma escolaridade mínima (algo equivalente à nossa escolaridade primária) como requisito ao direito de voto. Como grande parte dos negros não tinha acesso às escolas até então, milhares deles ficaram sem registro eleitoral. Novos protestos levaram o governo a aprovar a Lei dos Direitos de Voto, em seis de agosto de 1965, garantindo a igualdade desse direito para brancos e negros.
Apesar desses avanços, a situação dos negros norte-americanos estava longe da igualdade pretendida. A superioridade branca ainda era bastante visível e controlava o poder político e econômico no país. Para combater o “o poder branco”, surgiu um novo movimento negro nos EUA, chamado de Black Power (Poder Negro), que a partir de 1967 passou a promover saques, incêndios e protestos violentos para atingir seus objetivos.
Liderados por Stokely Carmichael e Malcolm X, esses movimentos negros eram contrários à integração da comunidade negra com os brancos e defendiam a valorização da cultura negra. Seus métodos radicais espalharam uma onda de violência racial que se aprofundou ainda mais em 1968 após o assassinato de Martin Luther King, em quatro de abril, e de Bob Kennedy, em cinco de junho, este candidato à presidência identificado com a causa negra.
A explosão da luta racial nos EUA fez acelerar a aprovação de uma série de novas leis a favor dos direitos civis negros. Apesar disso, ainda hoje, persiste uma mentalidade racista violenta, que provoca continuamente nos e explosivos conflitos.

· Pela igualdade entre os sexos

Nos anos 60, influenciado pelas lutas dos negros americanos e pelos movimentos contra a guerra do Vietnã, ressurgiu com força o movimento. Foi decisiva a influência de Simone de Beauvoir (que publicou, em 1949, o livro O segundo sexo) e de Betty Friedam (que publicou o livro A mística feminina) – escritoras que analisavam a condição da mulher na sociedade e denunciavam o machismo. Nessa década ocorrem centenas de passeatas e protestos das mulheres em diversas partes do mundo, principalmente nos EUA, França, Inglaterra e Itália.
Defendendo a bandeira da igualdade entre os sexos e combatendo a discriminação das mulheres no mercado de trabalho, o movimento feminista procurava conscientizar as mulheres dos seus direitos, ao mesmo tempo que exigia das autoridades avanços nas leis contra a discriminação da mulher na sociedade. Em consequência desse movimento e do surgimento da pílula anticoncepcional, o mundo conheceu uma verdadeira revolução sexual: tabus e preconceitos como a virgindade, o casamento eterno (mesmo que infeliz), o papel social da mulher como “rainha do lar” e sua submissão e passividade em relação ao marido, entre outros, foram aos poucos sendo destruídos.
Tradicionalmente ensinadas a se realizar (e acomodar-se) por meio do casamento e da maternidade, as mulheres passaram a lutar por espaços na vida pública (direitos iguais, oportunidades no mercado de trabalho, acesso à educação formal e à profissionalização, etc.) e liberdade e domínio sobre sua vida e seu corpo na vida privada.
A partir das lutas das mulheres nos anos 60 e 70, o comportamento e a mentalidade das mulheres, especialmente as ocidentais, passaram por um profundo processo de mudanças. Cenas raras até a década de 50 foram tornando-se cada vez mais comuns: mulheres com dupla jornada de trabalho (no lar e no mercado), frequentando lugares públicos sem acompanhantes masculino, mulheres divorciadas (embora em muitos países fossem ainda alvo de discriminação) mulheres fumando (o cigarro nessa época foi para muitas mulheres um símbolos ou uma forma de liberdade) e mulheres participando ativamente de movimentos políticos, sociais e culturais.
Na década de 70, o movimento feminista diversificou suas reivindicações e a luta das mulheres teve como eixos centrais a denúncia contra a violência no lar e a defesa da descriminalização do aborto. Um dos momentos marcantes do movimento foi em 1975, instituído pela ONU como o Ano Internacional da Mulher.

Lutas e conquistas no Brasil

No Brasil, a luta das mulheres contra a violência, cujo lema era “Quem ama não mata”, conquistou importantes vitórias com a criação do SOS – Mulher no final da década de 70 e com a aprovação da lei do divórcio em 1977. Em 1985, surgiu a primeira Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher – DEAM, em São Paulo e, logo depois outras Deçegacias da Mulher foram implantadas em vários Estados brasileiros.
Em 1985, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 7353, que criou o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Nas eleições de 1986, 26 mulheres se elegeram deputadas constituintes que conseguiram aprovar, através do “Lobby do Batom” uma emenda na Constituição Federal, garantindo igualdade a todos os brasileiros perante a lei, sem distinção de qualquer natureza e assegurado que homens e mulheres tenham direitos iguais no Brasil.
Nos anos 90, vários seminários e conferências mundiais importantes – tais como Planeta Fêmea, Agenda 21, ECO 92 – tiveram expressiva participação de mulheres brasileiras. Em 1996, o Congresso Nacional incluiu o sistema de cotas na Legislação Eleitoral, obrigando os partidos políticos a inscreverem, no mínimo, 20% de mulheres em suas chapas proporcionais (Lei nº 9.100/95 - § 3º, art. 11).

· 1968: explode a revolta estudantil

O movimento de contestação dos anos 60 atingiu seu ponto máximo em 1968, quando a agitação estudantil iniciada em Paris espalhou-se por várias universidades e ruas das grandes cidades nos EUA, Inglaterra, Brasil, Tchecoslováquia, Polônia, China, Japão, etc.
A revolta estudantil em Paris começou no dia três de maio, quando universitários organizaram uma passeata exigindo do governo francês reformas nas leis e instituições educacionais dos países. Eles protestavam contra a queda do nível de ensino e a rigidez da disciplina acadêmica. A inabilidade do governo detonou a crise: mandou reprimir com violência o protesto estudantil, estimulando, assim, a radicalização do movimento.
Na semana de seis a 13 de maio, o protesto estudantil se transformou em rebelião. Os estudantes ocuparam o Quartier Lati,onde organizaram barricadas e enfrentaram a polícia com os paralelepípedos das ruas. A violência policial fez crescer o apoio da opinião pública aos estudantes.
No dia 13, uma manifestação de 800 mil pessoas em Paris apoiava os estudantes e condenava a violência da repressão policial. No dia 22 deste mesmo mês um movimento de greve e ocupação operária espalhou-se pela França: quase dez milhões de operários pararam de trabalhar.
Apesar disso, centenas de estudantes foram presos e a Universidade Sorbonne, principal fortaleza do movimento estudantil, foi desocupada. Além dos mais de 400 feridos, os dias de confronto deixaram como saldo de destruição dezenas de lojas, ruas e carros destruídos.
O protesto estudantil, apesar de desmantelado pela repressão policial, acendeu a chama da participação estudantil não só na França, mas em diversos pontos do mundo que, inspirados neste episódio, passaram a protestar e participar politicamente em seus países.
Na Tchecoslováquia, um dos países socialistas no Leste Europeu, os protestos estudantis começaram em 1967, exigindo a democratização do regime socialista.
Em outubro, ocorreram várias passeatas de estudantes e dos operários em greve pelas rua capital, Praga, que foram brutalmente reprimidas pela polícia. Entretanto, alguns membros Ca cúpula do Partido Comunista Tcheco começavam a reconhecer o direito dos estudantes e dos demais cidadãos de participarem e protestarem publicamente, dando origem, em abril de 68, a um forte movimento de mudanças na estrutura do regime socialista, conhecido como “Primavera de Praga”.
Essa decisão contrariava os interesses da União Soviética na região. Os russos temiam que a abertura política tcheca servisse de exemplo aos demais regimes socialistas do Leste Europeu.
No dia 19 de agosto de 1968, centenas de tanques e tropas russos iniciaram a invasão da Tchecoslováquia, ocupando todos os pontos estratégicos do país (a sede do governo, a Assembleia Nacional e a Sede do Partido Comunista) e prendendo todos os líderes tchecos. A violência da invasão russa foi ainda maior com os populares que protestavam e tentavam resistir à dominação soviética: diversos jovens foram brutalmente assassinados, o que transformou a invasão num verdadeiro massacre.
Apesar da vitória soviética, os estudantes e a população das cidades tchecas continuaram uma resistência passiva: não falavam e não vendiam nada aos soldados russos, desprezavam sua presença e ignoravam suas ordens. Essa resistência muito contribuiu para expor ao mundo a política repressora dos soviéticos, desgastando ainda mais sua imagem e contribuindo para o aprofundamento da crise do “socialismo real”, burocrático e autoritário, que, a partir dos anos 80 do século XX, tornou-se irreversível.

· “faça amor, não faça a guerra”

Os Estados Unidos também viveram um período de efervescência cultural nos anos 60. Os conflitos e as contradições de uma economia capitalista avançada provocavam uma séria crise de valores na sociedade americana.
O consumismo e o excessivo materialismo, típicos do modo de vida americano, passaram a ser contestados. Concepções e valores conservadores em relação à estrutura familiar, como o casamento, monogamia, repressão sexual, machismo, também eram questionados por uma parcela considerável da juventude americana que ansiava criar uma nova sociedade, diferente, alternativa.
A participação norte-americana na Guerra do Vietnã contribuiu para o aprofundamento dos questionamentos da juventude, que acusava sua sociedade de desumana e repressora.
As cenas de horror da guerra, pela primeira vez transmitidas pela televisão, chocavam a opinião pública norte-americana, reforçando sua posição contrária ao conflito. A brutalidade da intervenção armada dos EUA e sobretudo sua inutilidade provocaram o surgimento de campanhas, passeatas e movimentos organizados para que o governo retirasse suas tropas do Vietnã.
Os reflexos dessa realidade foram o surgimento de atitudes críticas e desafiadoras como o movimento da contracultura e de movimentos de total negação da ordem social como o movimento hippie.
Formado por jovens de classe média que estavam desacreditados com o sistema capitalista, os hippies passaram a organizar modelos d comunidades alternativas, livres e integradas à natureza. Movidos pelo lema “paz e amor”, defendiam o amor e sexo livre, o espírito comunitário, a libertação dos costumes, a não-violência e a tolerância com as diferenças.
Nessas comunidades, praticamente tudo que era necessário à sobrevivência era produzido pelos integrantes do grupo. A alimentação desses jovens era naturalista (comida integral, sem agrotóxicos e vegetariana), as roupas eram artesanais e coloridas, usavam cabelos compridos e muita bijuteria. A educação dos filhos era comunitária e totalmente liberal. As drogas chamadas naturais, como a maconha, eram livres e seu uso, além das “viagens”, funcionava como negação do tempo e da produção capitalista.
Os hippies chocavam tanto a sociedade conservadora, que os considerava vagabundos, como os militantes de esquerda, que os acusavam de alienados e omissos. Apesar disso, a influência dos hippies norte-americanos atravessou fronteiras e seu estilo comunitário e alternativo foi seguido por jovens de vários países, inclusive o Brasil.
Na música, o estilo livre e ousado dos hippies e a influência da contracultura fizeram surgir os grandes festivais de rock-and-roll, onde se destacaram Bob Dylan, Rolling Stones, além dos ídolos rebeldes Janis Joplin, Jimi Hendrix e The Doors.

“Sexo, drogas e rock-and-roll”

No dia 17 de agosto de 1969, começou o Festival de Woodstock, na cidade de Bethel, estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos, o maior evento de música e arte de todos os tempos.
Aproximadamente 500 mil jovens participaram dos três dias de festival cantando, dançando, nadando nus e “enlouquecendo” ao som das encantadas e estridentes guitarras dos conjuntos de rock. Nem os engarrafamentos, a falta de água e comida e nem as chuvas tiraram o ânimo dos participantes que usavam e abusavam das drogas e praticavam sexo livre e casual.
O lema do festival poderia ser resumido em “paz, amor e liberdade” e entre as estrelas presentes estavam Jimi Hendrix e Janis Joplin. Segundo dados oficiais, durante o Festival nasceram dois bebês, morreram três pessoas e cinco mil foram hospitalizados por abusos de drogas.


Movimento contra costumes nos anos 1960

Nos anos 1960, a rebeldia juvenil mobilizou o mundo para reivindicar liberdade, igualdade civil e paz. A guerra Fria, os preconceitos raciais, o capitalismo, o comunismo, as ditaduras foram alvos de contestações por parte da juventude.

Contracultura

Durante os anos 1960, os movimentos políticos, sociais e culturais que buscavam uma alternativa tanto ao capitalismo quanto ao comunismo ficaram conhecidos como contracultura.
Os jovens foram os protagonistas desse movimento que criticava o consumismo capitalista e a ditadura que reprimia os povos submetidos à União Soviética. Mas não apenas os jovens se mobilizaram; vários setores da sociedade passaram a contestar a ordem estabelecida.
Para entender o movimento de contestação que tomou as ruas das grandes cidades do mundo todo, 1968 é o ano-chave. As manifestações contra a Guerra do Vietnã nos Estados Unidos e as tentativas de democratização do regime comunista na Tchecoslováquia são exemplo das inquietações da época.

“Fim da guerra”

Nos Estados Unidos, havia em 1968 uma crescente oposição à Guerra do Vietnã. A opinião pública norte-americana questionava a justiça de uma guerra feita por uma grande potência contra um pequeno país de camponeses. As imagens do sofrimento dos civis e dos soldados mortos em combate eram transmitidas pela televisão para os lares norte-americanos e causavam grande impacto.
Foi então que os jovens norte-americanos tomaram as ruas das cidades em campanhas pacifistas. Eles pregavam a desobediência civil contra o alistamento militar para a guerra.

A Primavera de Praga

Em 1968, na Tchecoslováquia, país de regime político alinhado com a União Soviética, um grupo de intelectuais comunistas tentou promover reformas que aumentassem as liberdades dos cidadãos e permitissem eleições pluripartidárias. As reformas iniciavam uma ova era, que ficou conhecida como Primavera de Praga.
A reposta soviética, no entanto, foi imediata; naquele mesmo ano, tropas do Pacto de Varsóvia invadiram o país e ocuparam a capital, Praga. Os líderes reformistas foram detidos e, alguns meses depois, a Tchecoslováquia instituiu um rígido regime de censura e controle policial da população.

A revolução hippie

Os jovens dos anos 1960, além de se manifestarem politicamente, passaram a contestar também as regas de comportamento, incluindo a moral sexual.
A linha de frente dessa contestação era formado pelos hippies. Os hippies condenavam os valores da civilização industrial e do consumo, que para eles subjugavam as pessoas ao ritmo da produção, e defendiam uma sociedade alternativa, em que o homem se tornasse um ser mais integrado à natureza, livre das neuroses da modernidade.
De forte influência anarquista, tais movimentos pregavam, entre outros, a solidariedade, a abolição das hierarquias e da propriedade privada, o amor livre, o pacifismo e a formação de comunidades apartadas da sociedade industrial. Seu lema era Paz e Amor.
Os hippies acreditavam que as mudanças de comportamento seriam suficientes para transformar a sociedade e trazer a felicidade para todos.

Direitos civis

Os grupos que defendiam os diretos civis dos negros nos Estados Unidos também podem ser incluídos no grande movimento de contestação ao grupo social dominante.
Em alguns estados norte-americanos, os negros não podiam votar, frequentar as escolas exclusivas de brancos nem mesmo sentar-se ao lado de brancos no ônibus. Na década de 1960, inúmeros grupos passaram a lutar pelo fim da discriminação racial.
Martin Luther King, líder da ala moderada do Movimento Negro norte-americano, pregava a desobediência civil pacífica como forma de luta. Ele afirmava que a comunidade afro-americana sofria os mesmos preconceitos que os povos pobres do Terceiro Mundo, unindo-se aos movimentos pacifistas contra a Guerra do Vietnã, já o grupo Panteras Negras, de orientação mais radical, defendia o uso da violência para garantir a igualdade civil e social das pessoas de origem africana no país.
A campanha contra a violência e pela união dos povos, no entanto, não impediu que Martin Luther King fosse assassinado na cidade de Memphis, em 1968.

Feminismo

A luta pelos direitos civis nos anos 1960 incluíram os direitos das mulheres. O movimento feminista, que no início do século XX lutaram pelo direito ao voto para as mulheres, reivindicava agora a igualdade das mulheres em relação aos homens em todos os setores da vida social: no trabalho, na vida conjugal, na liberdade de escolha sobre ter ou não filhos.

A contestação rock’n’roll

Os jovens contestadores dos anos 1960 escolheram a música como veículo para divulgar suas ideias. O rockn’n’roll, gênero musical surgido nos Estados Unidos na década anterior, espalhou-se pelo mundo como símbolo do comportamento jovem, chocando os mais conservadores onde quer que fosse tocado.
A década de 1960 foi pródiga em ídolos do rock’n’roll. Nesse período surgiram grandes bandas que reuniam milhares de fãs, como os Beatles, banda formada em Liverpool, na Inglaterra, e os Rolling Stones, outra banda inglesa de grande sucesso.
Um dos grandes nomes dessa geração de roqueiros foi o norte-americano Bob Dylan. Ele foi o porta-voz dos defensores das liberdades individuais, que não se identificavam com os valores da sociedade que emergiu nos Estados Unidos do pós-guerra. Suas letras, longas e complexas, tratavam dos temas que abalaram sua época, como a guerra.

A Arte Pop

A corrente artística que melhor exprime a cultura e a visão de mundo do período da Guerra Fria é a chamada Arte Pop. Rompendo as fronteiras entre a publicidade, os objetos de desejo da sociedade de consumo e a arte, o Pop expunha, sem criticar, o consumismo e os valores descartáveis da sociedade industrial. Garrafas de refrigerantes mundialmente famosos, estrelas de Hollywood, latas de sopa, história em quadrinhos, tudo servia de tema para os artistas pop, como os norte-americanos Robert Rauschenberg, Roy Lichtensten e Andy Warhol. O Pop explicitava o consumismo descartável capitalista, mas não elogiava o socialismo; explicava, mas não ditava lições. É a própria imagem dos anos de contestação.

A arte no século XX

 A arte moderna

Homem amarelo, selim e guidão de bicicleta, relógios moles como pizzas, histórias em quadrinhos, letãs, urinóis embrulhados e esculturas com vários quilômetros de tamanho, palavras inventadas: tudo isso – e muito mais! – entrou na arte do século XX.
Neste capítulo, vamos tentar compreender o que foi a arte do século XX e porque ela foi como foi. O pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973) disse certa vez: “Todos querem entender a arte. Porque não tentar entender o canto de um pássaro?”. Ele pretendia, assim, sugerir que a arte não pode ser inteiramente explicada com palavras.
Se compararmos a arte do século XX com a do século XIX, uma das coisas que mais a atenção é que a realidade objetiva – a paisagem, a cidade, as pessoas – desaparece ou é distorcida, alterada, recriada. Nada de famílias posando para o pintor, nada de romances descrevendo cortiços ou minas de carvão, nada de esculturas de casal se beijando. O que aconteceu? É como se o artista tivesse perdido a função de retratar o mundo exterior e passasse a criar, ele próprio, outro mundo.

Três características da nova arte

Uma primeira explicação para esse fato pode ser encontrada se analisarmos a mudança no papel social do artista. Ele se torna, de certa forma, mais “independente” das instituições que até meados do século XIX contratavam seus serviços. A Igreja, os governos, as famílias nobres deixam de ser o único consumidor de arte. Cresce a classe burguesa, cresce a classe média e surge um “mercado de artes”. O artista já não se precisa se prender a um único contratante.
Portanto, a vontade de criar outra realidade, em vez de imitar aquilo que se vê, é umas das características do século XX. Uma segunda característica é sua transformação pela incorporação de técnicas, máquinas e materiais criados pela indústria moderna.
A estética do século XX interage fortemente com o dinamismo do capitalismo industrial: surgem ovas artes, como o cinema e a fotografia. E temas como a velocidade e as máquinas passam a inspirar muitos artistas.
Finalmente, uma terceira característica é a recusa dos padrões de beleza aceitos e, mais do que isso, a rejeição dos valores da tradição cultural ocidental. Buscou-se, então, um contato com a arte dos povos africanos e da Oceania. As formas polidas foram recusadas, a classificação de belo e de feio, denunciada com mero preconceito.

O Expressionismo

Comecemos pelo Expressionismo, considerando o primeiro movimento moderno em pintura. Como o próprio nome sugere, essa corrente via a arte como expressão dos sentimentos. A ideia que os expressionistas faziam do mundo não era otimista: angústia, sofrimento, desespero, era disso que suas obras falavam. De uma época de guerras, revoluções, migrações, subordinação das pessoas ao tempo da fábrica e às longas e cansativas jornadas de trabalho.
Seguindo o caminho aberto no século XIX por Van Gogh (1853-1890), os expressionistas alteravam cores e distorciam formas para transmitir sentimentos intensos e perturbadores.
O expressionismo surgiu entre 1904 e 1905, na Alemanha. Uma dos quadros mais famosos dessa corrente é O grito, do pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944). As cores, a paisagem, o rosto da figura que grita estão distorcidos, de forma a transmitir o desespero de alguém que sente o mundo revolver-se à sua volta.
Quando os nazistas chegaram ao pode na Alemanha, em 1933, os artistas modernos começaram a ser perseguidos. Muitos deles foram exilados ou proibidos de trabalhar. Os ideais de superioridade nacional e pureza racial do nazismo eram incompatíveis com o compromisso do Expressionismo com as vítimas da sociedade burguesa.
Enquanto isso, florescia na América, especialmente no México, um novo tipo de Expressionismo. Artistas como José Clemente Orozco e Diego Rivera foram expressionistas, mas souberam criar uma pintura própria, que combinava elementos da herança pré-colombiana com temas sugeridos pela Revolução Mexicana de 1911 em grandes murais pintados em edifícios públicos.

Fauvismo, Cubismo, Abstracionismo

Na mesma época em que o Expressionismo se desenvolvia na Alemanha na França se formava outro movimento artístico, o Fauvinismo, palavra derivada de fauve (fera). Foi assim que um crítico de arte reagiu ao ver algumas obras reunidas em uma exposição realizada em Paris, em 1905: classificou seus jovens autores como “feras”. Isso porque eles usavam cores puras, em vez de mistura-las, como era costume fazer. O principal nome do Fauvinismo foi Henri Matisse.
Por volta de 1910, surgiram na Europa três novos movimentos, destinados a influenciar profundamente as artes do século XX. Entre 1907 e 1910, Pablo Picasso e Georges Braque criaram o Cubismo. Em 1909, foi lançado o manifesto O Futurismo, assassinado pelo artista italiano Tomazo Marinetti, expondo as ideias de movimento do mesmo nome; e em 1910, o artista russo Vassily Kandinsky expôs a primeira obra de pintura abstrata, A batalha.
O quadro inaugural do Cubismo foi Les demoiselles d’Avignon, de Picasso, pintado em 1907. Mulheres carecas, outras com máscaras africanas no lugar das cabeças; as proporções, a integridade e a continuidade dos corpos negadas e fragmentadas: tudo isso chocou muito o público e faz com que o quadro seja considerado por alguns críticos como a ruptura mais radical da história da arte. Afinal, o que queria Pablo Picasso?
Dando uma primeira olhada, poder parecer que Picasso pinta como uma criança, mas não é bem assim. Ele aprendeu e dominou a pintura acadêmica precocemente e com maestria. Antes de chegar ao Cubismo, passou por duas fases de pintura figurativa (aquela que representava coisas da vida real): a “fase azul”, de 1901 a 1904, na qual pintava pessoas pobres com tristeza e melancolia, e a “fase rosa”, de 1905 a 1907, em que representava acrobatas e arlequins.
O grande precursor do Cubismo foi Paul Cézannne (1839-1906). Ele acreditava que cabia à pintura captar as estruturas existentes na natureza, que se que se resumiam às figuras geométricas do cone, da esfera e do cilindro. Picasso radicalizou esse princípio. Suas figuras foram fragmentadas em cones, esferas, cilindros, cubos, quadrados, losangos, retângulos. Algumas figuras são representadas a partir de vários ângulos, como se as víssemos ao mesmo tempo de frente e de perfil, por exemplo.
Mas o Cubismo também sofreu influência dos povos africanos. E aqui encontramos uma das tendências mais fortes da arte moderna: a de uma volta as origens da criação artística. Ela aparece também na valorização das máscaras rituais criadas por artesãos da África e da Oceania, descobertas por artistas europeus.
Um pouco depois do cubismo, outros artistas perseguiram os mesmo objetivos por diferentes caminhos. O abstracionista Paul Klee se inspirava nos desenhos infantis e os surrealistas tentariam mergulhar no inconsciente, descoberto pela Psicanálise de Sigmund Freud.

O sumiço das figuras: o Abstracionismo

E 1910, o pintor russo Vassily Kandinsky promovia outra ruptura com a arte do século XIX. Nascia naquele ano, com a tela A batalha, a pintura abstrata, ou o Abstracionismo como corrente estética.
Para kandinsky o significado da pintura era puramente espiritualexpressado na combinação de formas e cores. Em parte derivada de suas ideias, anos depois surgiria outra tendência, conhecida como Abstracionismo geométrico. Seu principal representante foi o pintor holandês Piet Mondrian, cujos quadros apresentam uma combinação de linhas horizontais e verticais e cores primárias, produzindo uma sensação de harmonia. Para Mondrian, era missão do artista refletir a harmonia essencial do Universo.
Após a Segunda Guerra Mundial, o Abstracionismo renovou-se nos Estados unidos, com a escola da pintura gestual, ou pintura de ação (action painting), também conhecida como Abstracionismo abstrato, que teve como principal expoente o pintor norte-americano Jackson Pollock. Ele desenvolveu uma técnica nova: em vez de usar pincéis e cavalete, punha a tela o chão e derramava suas tintas diretamente sobre ela. O processo de criação deveria ser guiado por um impulso espontâneo e rápido, sem premeditação.
O Abstracionismo também chegou à escultura, dando origem a um movimento conhecido como Construtivismo. O pioneiro da escultura abstrata foi o russo Vladimir Tatlin. Outros artistas russos, como Antoine Pevsner e Naum Gabo, também escolheram temas abstratos para suas esculturas, dando asas à imaginação na criação das formas mais variadas. Alguns desses escultores procuraram ainda romper com o caráter estático das esculturas, imprimindo movimento a algumas de suas obras por meio de motores.
A ideia de uma escultura móvel foi solucionada de forma extremamente original pelo norte-americano Alexander Calder, que, nos anos 1930, inventou o móbile. Sim, esse objeto decorativo que alegrou nossa infância foi originalmente concebido como uma escultura capaz de se mover ao sabor do vento.

O Futurismo e a paixão pela máquina

O Futurismo, criado em 1910, foi primeiro movimento estético inteiramente voltado para a temática urbana. Nem o passado, nem a natureza, nem os mistérios do Universo o interessavam. Sua poética era a das máquinas, da velocidade, do frenesi urbano. Um de seus criadores foi o italiano Tomazo Marinetti. Além da Itália, o futurismo exerceu especial influência na Rússia e em Portugal, encontrando expressão a pintura, na escultura e na literatura.
Na Ode triunfal, poema de Álvaro de Campos, um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa, por exemplo, encontramos os seguintes versos: “ Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo, retido nos maquinismos em fúria! Emm fúria fora e dentro de mim”.
Na pintura, o Futurismo começou por representar corpos e máquinas em movimentos, para em seguida tentar captar o próprio movimento. Seus principais representantes foram Umberto Baccioni, Carlo Carrà, Luigi Russolo, Giacomo Balla e Gino Severini. Em suas telas, esses artistas tentaram captar a velocidade por meio de linhas repetidas em sucessão que simuam movimento.
O Futurismo também Foi levado à escultura. Uma de suas expressões é a obra Formas únicas de continuidade no espaço, de Umberto Baccioni, que consegue captar o movimento em algo tão sólido quanto uma peça de bronze representando o corpo de uma pessoa.

Um novo jeito de morar

É importante mencionar que a arte moderna começou com a arquitetura. Em 1902, o arquiteto norte-americano Frank Lloyd Wright construiu em Illinois, nos Estados Unidos, a primeira casa moderna. Para Frank Lloyd, a arquitetura deveria adaptar-se às necessidades das pessoas e às características do meio natural. Por isso seu estilo ficou conhecido como “arquitetura orgânica”. Ele não privilegiava a fachada, mas sim o espaço interno, salas, quartos, em função das necessidades de quem fosse morar. Seu projeto mais famoso é a Casa da cascata, construída em 1936, na Pensilvânia, Estados Unidos.
Na Alemanha, o arquiteto Walter Gropius criou em 1919, a Bauhaus, escola de arquitetura, urbanismo, design industrial e arte. Para os artistas da Bauhaus, as coisas devem ser projetadas para corresponder à sua utilidade, à sua finalidade e função.

A música do século XX

Esse quadro de mudanças nas artes do começo do século XX não estaria completo se não falássemos da música. Assim como nas artes plásticas e na literatura, as tradições musicais seriam abaladas por inovações e experimentalismos.
Entre outras iniciativas, os trabalhos do compositor austríaco Arnold Schoenberg e do russo Igor Stravinsky devem sem lembrado pelo impacto que tiveram. Em 1913 a primeira apresentação em Viena, da Sinfonia de Câmara nº 9, de Schoenberg, não pode ser terminada, tamanha a balbúrdia provocada pelo público escandalizado. O que teria acontecido? Simplesmente Schoenberg vinha inventando um novo tipo de música, que ficou conhecido como dodecafoismo, um método de composição em que doze sons da escala cromática são combinados em série.
A estreia do balé A consagração da primavera, com música de Stravinsky, ocorrida também em 1913, em Paris, provoca tanta confusão quanto a sinfonia de Schoenberg em Viena. O público começou a protestar e o espetáculo só pôde continuar depois da chegada da polícia. Stravinsky foi, mais tarde, considerado o Picasso da música, pela variedade da linguagem com que trabalhou, indo do dodecafonismo ao jazz.

A antiarte do Dadaísmo

O horror provocado pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918) deu origem a um novo movimento artístico, conhecido como Dadaísmo. Enquanto os exércitos europeus se estraçalhavam nos campos de batalha, intelectuais e artistas de diversas nacionalidades se autoexilaram em Zurique, na Suíça, país que se manteve neutro. Esses artistas se reuniam no Cabaré Voltaire, onde recitavam poemas, discutiam manifestos e acompanhavam as notícias do conflito. Foi nesses encontros que nasceu o Dadaísmo.
Trata-se de uma espécie de “antiarte”, que denuncia a estética e as ideias cultivadas até então.
Um dos artistas mais importantes do Dadaísmo foi o francês Marcel Duchamp. Na linha da “antiarte”, Duchamp defendia a ideia de que qualquer objeto, deslocado de seu contexto original, pode ser apreciado como artístico. Assim, trouxe para uma galeria de arte a peça de um mictório, à qual deu o título de A fonte.
Após 1922, o Dadaísmo entrou em declínio, mas exerceu forte influência sobre movimentos que vieram depois, como o Surrealismo e a por art.

O Surrealismo

Em 1924, uma nova proposta estética deu origem a outra corrente: o Surrealismo. Seu idealizador foi o escritor francês André Breton, que aproveitou do Dadaísmo a ideia de uma arte espontânea, à qual associou princípios inspirados na Psicanálise, criada pelo austríaco Sigmund Freud.
Para Freud, nossa vida consciente representa apenas uma parte das atividades da mente, que se ocupa também com atividades subconscientes e inconscientes. Mas como chegar ao inconsciente? Primeiro Freud tentou a hipnose. Depois estudou os sonhos. Finalmente, descobriu que, quando seus pacientes se deitavam num divã e falavam fazendo associações livres de ideias, acabavam revelando aspectos de sua vida inconsciente.
Os surrealistas levaram para a arte essa proposta de associação livres de ideias, por mais ilógicas, absurdas e irracionais que pareçam, e da exploração dos sonhos. Assim, praticaram uma subversão: a criação artística não mais como atividade racional e lógica, mas como manifestação de um fluxo livre de sensações, intuições e “pensamentos”.
Entre os surrealistas, foram particularmente importantes os pintores espanhóis Joan Miró e Salvador Dalí. Talvez a obra mais conhecida do movimento seja o quadro A persistência da memória, de Salvador Dalí.

O homem que virou inseto: a literatura

A literatura do século XX é classificada pelo crítico Jean Paulhan em dois grandes grupos: “terroristas” e “retóricos”.
Os “terroristas” são aqueles escritores que arremetem contra a linguagem e os temas convencionais, os lugares-comuns, em busca de liberdade e originalidade. É o caso de Franz Kafka, o autor de A metamorfose, novela de 1915 que narra a transformação de um homem em inseto e o impacto que isso causa na família.
É também o caso do romancista e poeta irlandês James Joyce, que em Ulisses, publicado em 1922, em vez de narrar acontecimentos, descreve o fluxo de ideias e associações experimentadas personagem no decorrer de um único dia em uma metrópole.
Já os “retóricos” são os “artistas-oradores”, escritores que procuram uma compreensão mútua com o leitor, sabem que os lugares comuns são o preço pago por uma comunicação bem-sucedida. Entre eles podemos classificar André Gide, Rainer Maria Rilke e T. S. Eliot. A base da literatura dos “retóricos” é sempre uma ideia, um pensamento, um problema.

A pós-modernidade

Para muitos estudiosos a modernidade entrou em declínio com a segunda Guerra Mundial, abrindo-se um novo tempo, o da pós-modernidade.
Essa passagem de um tempo histórico – o moderno – para outro – o pós-moderno – não poderia deixar de afetar as artes. Vamos tentar compreender o que aconteceu.
Simbolicamente, a explosão da bomba atômica em Hiroshima, em 1945, pode ser lembrada como o fim de uma era. Com ela, a fé em que o desenvolvimento industrial e o progresso científico ajudariam a libertar a humanidade – se transformou em seu contrario: ou seja, a consciência de que os poderes criadores proporcionados pelo progresso havia se voltado contra os próprios humanos, ameaçando-os de destruição.
A ideia do artista como alguém à frente de seu tempo, capaz de inventar um mundo de experiências e percepções novas, é uma das forças que nortearam a arte moderna. Mas, se a Segunda guerra e a bomba atômica mostram o lado destrutivo dos seres humanos, a crença no papel dos artistas e de suas criações não poderia se manter igual. É desse sentimento de decepção com a modernidade que surge a pós-modernidade.

A arquitetura pós-moderna

Em 1955, arquitetos italianos se voltam contra o princípio de Bauhaus, “a forma segue a função”: a função passou a obedecer à forma e à fantasia. A ornamentação é revalorizada. Em vez da razão, a emoção. Em vez da pureza, a mistura: barroco, colunas gregas, vidro fumê. A mesma coisa em relação ao design: em vez de móveis práticos, adaptados ao uso, desenhos fantasiosos, com cores chamativas.
Como lembra o poeta e escritor Jair Ferreira dos Santos, na pós-modernidade “os estilos convivem sem choques, as tendências se sucedem com rapidez. Não há grupos ou movimentos unificados, o pluralismo e o ecletismo são a norma”. Assim, são manifestações da arte pós-moderna a pop art, body art, o minimalismo, etc.
Pop art: surge na Inglaterra nos anos 1950 e ganha força nos estados Unidos na década seguinte. É uma reação ao Abstracionismo, voltando à arte figurativa. Mas a inspiração para os objetos retratados é encontrada nas imagens que povoam o cotidiano do cidadão das grandes cidades: retratos de atrizes, histórias em quadrinhos, material de propaganda, produtos industriais.
As fronteiras entre arte e objeto de consumo popular são abolidas. Dois dois principais nomes da pop art são os norte-americanos Andy Warhol e Roy Lichtenstein. O primeiro fez obras como as cinquenta reproduções da foto da atriz Marilyn Monroe, com variações em amarelo, laranja e azul. Quanto a Lichtenstein, ampliaca e modificava as imagens de histórias em quadrinhos, abrindo caminho, assim, para uma aproximação entre quadrinhos e arte, que daria frutos interessantes para os dois lados.
Body art: pintura corporal (body=corpo) ou fotografia de regiões do corpo humano a partir de ângulos inesperados. Uma das características da pós-modernidade é trazer a arte para dentro da vida, misturando-a com as coisas do dia-a-dia. Outra é conceber a arte como algo efêmero. A body art junta essas duas tendências: o suporte da pintura não é mais a tela ou o mural, mas sim o próprio corpo. É também algo que não vai durar muito: no primeiro banho, no primeiro banho a pintura vai pelo ralo.
Minimalismo: a ideia é reduzir a arte a suas estruturas básicas. As esculturas, por exemplo, adotam formas geométricas simples e repetidas. As pinturas se reduzem ao mínimo de cores. As músicas como, as de Philip Glass, são compostas com poucas frases, repetidas várias vezes com pequenas variações de ritmo, ou mesmo sem som algum, como a obra 4 minutos e 33 segundos, de John Cage, inteiramente silenciosa.

A literatura pós-moderna

Na literatura, o pós-modernismo se caracteriza por abandonar as narrativas bem amarradas, com começo, meio e fim, um narrador e personagens bem definidos, um estilo único. Os argentinos Júlio Cortázar, com seu jogo da amarelinha, e Jorge Luís Borges, com suas histórias baseadas nas de outros autores, e o italiano Umberto Eco, autor de O nome da rosa, romance policial situado na Idade Média, são considerados pós-modernos.

Permanência e mudança

Existem, portanto, continuidades e descontinuidades entre a arte moderna e a pós-moderna. A primeira não mais imita a realidade objetiva: tenta criar outra realidade mais intensa, livre e interessante. Já a arte pós-moderna é descrente desse poder de criação e quer misturar-se com as coisas do cotidiano: arte comercial, o próprio corpo, histórias em quadrinhos, prédios a serem embrulhados são os materiais usados na nova estética.
A arte moderna e a pós-moderna relacionam-se intensamente com as máquinas e tecnologias de sua época. Se a fotografia e o cinema são artes modernas criadas por novas máquinas, o mesmo podemos dizer com relação ao uso da informática na arte pós-moderna. A diferença é que a arte moderna oscilou entre a exaltação da máquina, com o Futurismo, e a denuncia da desumanização da vida, com o Expressionismo, ao passo que a arte pós-moderna não acredita que seja desejável exaltar as máquinas e a tecnologia nem lutar contra ela, preferindo brincar e ironizar sobre o assunto.

domingo, 24 de setembro de 2023

A Questão judaico-palestina

 Uma região de conflitos

A maior parte do Oriente Médio pertencia, até a Primeira Guerra Mundial, ao Império Otomano. Com a derrota desse império, a região tornou-se principalmente zona de influência da França e da Inglaterra.
Os conflitos no Oriente envolviam o nacionalismo árabe, a questão judaico-palestina e os interesses internacionais pelo controle do petróleo. Por essas características, o Oriente Médio tornou-se, durante a Guerra Fria, um dos maiores focos de tensão entre as superpotências, principalmente após a criação do Estado de Israel.

Criação do Estado de Israel

No início da era cristã, uma rebelião na Judéia, província dominada por Roma(mais tarde chamada de Palestina), desencadeou a forte repressão das forças romanas. Depois disso, a maior parte dos judeus se refugiou em vários outros territórios, mantendo, porém, sua identidade cultural. 
A partir daí, os judeus foram forçados a migrar para outras regiões da Europa e para a África. Esse movimento ficou conhecido como Diáspora, ou seja, a dispersão dos judeus pelo mundo. Desde o final do século XIX, muitos judeus imigraram para a Palestina, território onde existiu o Reino de Israel até 70 d.C., quando os romanos destruíram o Templo de Jerusalém e a população local teve de se exilar. Esses judeus eram guiados pelos ideais do movimento sionista (de Sion, uma colina situada em Jerusalém), que, inspirado nos fenômenos nacionalistas da Europa, defendia o retorno à chamada Terra Prometida e a criação de uma pátria que abrigasse os judeus de todo o mundo.
No século XX, os judeus realizaram intensa migração para a Palestina, impulsionados pelo sionismo e pela Segunda Guerra Mundial:

  • Sionismo: doutrina política criada no século XIX, favorável à reunião de todos os judeus do mundo em um só Estado judaico, Israel. 
  • Os horrores praticados pelos nazistas contra os Judeus na Segunda Guerra Mundial, o holocausto, também criaram uma situação favorável à criação do Estado de Israel. 
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, o trauma causado pelas perseguições nazistas aumentou o fluxo migratório de judeus europeus em direção à Palestina, e a divulgação dos horrores praticados nos campos de extermínio fez com que parte da opinião pública internacional se tornasse favorável ao sionismo.

Judeus comemoram criação do Estado de Israel
Em 1947, a ONU aprovou a divisão da Palestina em dois Estados: um árabe e outro judeu. Em 14 de maio de 1948, os judeus criaram unilateralmente o Estado de Israel, com o apoio dos Estados Unidos e da União Soviética. O plano de divisão da Palestina proposto pela ONU foi bem aceito pelos judeus, mas foi recusado pelas nações árabes, que invadiram Israel, iniciando a primeira Guerra Árabe-Israelense.
O resultado disso foi a guerra deflagrada, naquele mesmo ano, entre árabes e israelenses. Após 15 meses de lutas, Israel venceu os árabes e expandiu seus territórios sobre as terras antes ocupadas por palestinos. 
As tropas de Israel lutaram contra as forças da Transjordânia (atual Jordânia), do Egito, da Síria, do Líbano e do Iraque. Após vencer essa guerra, Israel expulsou quase 750 mil palestinos, que passaram a viver como refugiados em nações vizinhas.
Apesar de derrotados nesse conflito, que ficou conhecido como a Primeira Guerra Árabe-Israelense, os Estados árabes do Oriente Médio mantiveram-se contrários à existência de Israel. A região tornou-se um foco de tensão constante.
Desde sua criação, o Estado de Israel adotou uma política expansionista, avançando sobre territórios reservados aos palestinos na proposta original da ONU.

Desenrolar dos conflitos

Sucessivas guerras têm sido travadas entre palestinos e israelenses desde essa época, muitas das quais envolvendo países vizinhos. Durante o período da Guerra Fria, a situação explosiva na região causou o receio de uma intervenção direta das superpotências mundiais, sobretudo porque os Estados Unidos auxiliaram militarmente Israel, tornando-o porta-voz de seus interesses no Oriente Médio, aliança que ainda se mantém.
A Primeira Guerra Árabe-Israelense (1948), foi o primeiro de uma série de conflitos na região, conhecidos como Guerra de Suez (1956), Guerra dos Seis Dias (1967) e Guerra do Yom Kippur (1973), em que os Estados Unidos apoiaram Israel e a União Soviética apoiou os árabes. Essas guerras terminaram com a ocupação por Israel de todo o território destinado pela ONU aos palestinos.



A Questão Palestina

Antes de 1948, a Palestina era habitada principalmente por povos de origem árabe, os palestinos. Com a criação do Estado de Israel, os palestinos passaram a viver em campos de refugiados mantidos pela ONU. Desde então, eles passaram a lutar pela recuperação de seus antigos territórios e pela criação de um Estado independente conforme resolução da ONU.
Na luta pela afirmação da soberania palestina surgiu a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), criada em 1964 e liderada por Yasser Arafat, que se tornou o principal representante dos palestinos em sua luta contra o Estado de Israel.

A expansão de Israel

Em 1967, eclodiu uma nova guerra, dessa vez entre o Estado israelense e o Egito, a Síria e a Jordânia. Em apenas seis dias, Israel derrotou os exércitos dos três países árabes. Em seis dias, os israelenses conquistaram o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as colinas de Golã e a parte oriental de Jerusalém
Como resultado, mais palestinos foram expulsos de suas terras, e Israel ocupou vários territórios, incluindo a cidade de Jerusalém.
Chamado de Guerra dos Seis Dias, o conflito serviu também para consolidar a Guerra Fria na região: Síria e Egito aproximaram-se da União Soviética, ao passo que Israel obteve o apoio dos Estados Unidos. No final do conflito, além do grande número de mortos e feridos, os países derrotados tiveram parte de seus territórios ocupada, e cerca de 500 mil palestinos tiveram de se refugiar
Na Guerra do Yom Kippur(feriado judaico do dia do perdão), em 1973, os exércitos do e da Síria avançaram em direção ao Sinai e as colinas de Golã. Israel com a ajuda dos Estados Unidos, conseguiu deter a ofensiva árabe, e ganhou a guerra.
Em resposta à vitória de Israel na Guerra de Yom Kippur, os países árabes cortaram o fornecimento de petróleo aos países simpatizantes de Israel, gerando a chamada crise do petróleo, com graves consequências econômicas no mundo todo, principalmente nos países capitalistas.

A RESISTÊNCIA PALESTINA

Quando o primeiro conflito se iniciou, em 1948, viviam na região cerca de 1,4 milhão de palestinos. Um ano depois, metade deles já tinha deixado suas casas para viver em terras
da Palestina ainda não controladas por Israel e em países árabes vizinhos. Desde então, os palestinos passaram a lutar pela recuperação de seus antigos territórios e pela criação de um Estado independente.
Muitos palestinos, fugindo das guerras e da perseguição israelense, dirigiram-se a países vizinhos da Palestina, onde frequentemente instalaram-se em campos de refugiados. Grupos de refugiados se uniram e fundaram, em 1964, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
De início, essa organização atuou como força auxiliar das nações que lutavam pela criação de um Estado palestino. Com a derrota dos exércitos árabes na Guerra dos Seis Dias, a OLP passou a atuar isoladamente, promovendo atentados terroristas a alvos israelenses.
Liderada de 1969 a 2004 por Yasser Arafat (1929-2004), a OLP passou a agir principalmente na Síria e no Líbano, de onde promovia ataques a Israel. As ofensivas motivaram a invasão do Líbano pelas forças israelenses, em 1982. Essa invasão, que praticamente destruiu o sul do território libanês e sua capital, atingindo duramente a população civil, teve êxito na tarefa de expulsar a OLP, mas levou a opinião pública internacional a se posicionar contra os israelenses.
A Intifada
Em 1987, moradores da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, zonas palestinas ocupadas por Israel desde 1967, iniciaram uma rebelião contra a ocupação israelense. Esse primeiro movimento espontâneo, levou o nome de Intifada (guerra das pedras), pois eram assim que os palestinos enfrentavam o exército israelense. Esse movimento era formado principalmente por jovens palestinos, que compunham a população civil e reuniam-se para protestar contra Israel, atacando os soldados israelenses e seus veículos com pedras, paus e bombas caseiras.
Esse confronto provocou grande repercussão. A morte de milhares de palestinos e centenas de israelenses chamou a atenção de todo o mundo para os conflitos no Oriente Médio.

Intifada (guerra das pedras)

Em 2000, eclodiria uma nova Intifada, que só terminaria em 2005.

Negociações para a paz

Na tentativa de se estabelecer a paz, foram debatidos acordos em que os pontos fundamentais em questão se baseiam no princípio da troca de terras por paz, ou seja, que haja a devolução de territórios ocupados por Israel como meio para colocar um fim nos conflitos. Esses pontos são, basicamente:
• o reconhecimento recíproco dos dois Estados, por parte de Israel e da Palestina;
• a restituição de territórios ocupados por israelenses durante as guerras;
• a disputa por Jerusalém, cidade sagrada tanto para judeus quanto para muçulmanos e cristãos.
Após as guerras que resultaram na expansão israelense, os governos de Israel e dos países árabes tomaram algumas iniciativas para reverter a tensão e negociar a paz:

 Acordo de Camp David (1978)

Em 1979, Israel e Egito assinaram os acordos de Camp David, com mediação dos Estados Unidos, pelos quais determinou-se a devolução do Sinai (região invadida por Israel desde 1967) ao Egito e previu-se a retirada israelense da Cisjordânia (ocupada desde 1967), restabelecendo-se as relações diplomáticas entre os dois países. Em contrapartida, os palestinos conquistaram o apoio das demais nações árabes, que repudiaram os acordos.

O Acordo de Oslo
No início da década de 1990, após anos de conflitos, parecia ser possível a paz entre árabes e israelenses. Desgastado por anos de atentados terroristas e pressionado pelos Estados Unidos, o governo israelense tomou a decisão histórica de negociar com a OLP.
Somente em 1993, as negociações de paz avançaram e deram origem ao Acordo de Oslo, assinado pelo então primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin e por Yasser Arafat, líder da OLP. O lema do então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, era “Terra em troca de paz”, ou seja, devolver aos palestinos parte das terras invadidas na guerra de 1967 em troca do fim dos ataques da OLP. Ao assinar o acordo, que foi intermediado pelo então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, os palestinos reconheciam o Estado de Israel e os israelenses se comprometiam a retirar seus exércitos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, aceitando o direito dos palestinos a um Estado livre e autônomo na região. Essa foi a base para o Acordo de Oslo, ratificado por Yitzhak Rabin e por Yasser Arafat em Washington D.C., em setembro de 1993.
O Acordo de Oslo previa a criação de um Estado palestino, retomando parcialmente o projeto da ONU de 1947. Em uma fase intermediária, os territórios palestinos teriam autonomia relativa e seriam administrados pela Autoridade Palestina, órgão que iria preceder o futuro Estado.
Desde 1993, autoridades palestinas e o governo de Israel vinham discutindo a criação de um Estado palestino. O resultado concreto dessas negociações foram a criação da Autoridade Nacional Palestina, entidade responsável pela administração dos territórios palestinos, e o controle palestino sobre a cidade de Jericó e a Faixa de Gaza.
O acordo de paz logo enfrentou oposição. Grupos radicais israelenses, por exemplo, opunham-se a qualquer acordo com os palestinos, exigindo a expulsão deles e a ocupação definitiva da região por Israel. Um desses grupos orquestrou o assassinato de Yitzhak Rabin, morto em 1995.
Os pontos de desacordo são a divisão de Jerusalém entre israelenses e palestinos, a retirada dos colonos israelenses de terras palestinas, o retorno de refugiados das guerras árabe-israelenses a suas antigas terras e o reconhecimento da Palestina como Estado independente.
Não havia consenso também entre os palestinos, e ainda não há. No Acordo de Oslo, o Fatah, grupo que controla a OLP, abandonou o objetivo de destruir Israel e, em 1995, a Autoridade Palestina, sob o comando do Fatah, passou a administrar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Contudo, grupos radicais palestinos, como o Hamas e a Jihad Islâmica, opuseram-se à política de reconciliação com Israel, pois defendiam a completa destruição do Estado israelense, e não reconheceram o acordo de paz.
A paz, no entanto, durou pouco. Na década de 2000, a tensão voltou a crescer com atentados comandados por grupos terroristas palestinos, como o Hamas. Em 2002, com a justificativa de proteger-se dos atentados, o governo de Israel deu início à construção de um muro na divisa do país com a Cisjordânia, separando o território judaico do palestino.
Em 2003, os Estados Unidos, Rússia, União Européia e ONU divulgaram um novo plano para a região, o chamado Mapa de Estrada, que promoveria, até 2005, a criação de um Estado palestino, que conviveria pacificamente com Israel. Também esse plano fracassou.
Em agosto de 2005, o governo de Israel decretou o fechamento da Faixa de Gaza aos israelenses e a retirada dos colonos judeus que lá viviam e de quatro colônias do norte da Cisjordânia, facilitando a ocupação da região por palestinos.
Ao mesmo tempo em que tomava uma iniciativa que poderia auxiliar a paz, o governo israelense continuava a construção, iniciada em junho de 2002, de um “muro de proteção” entre Israel e a Cisjordânia. A construção gerou, desde o início, tensões políticas internas e muitas críticas palestinas e da comunidade internacional.
A construção do “muro de proteção”, separando judeus e palestinos, começou a ser reivindicada depois do início da nova Intifada, em 2000, quando uma onda de atentados terroristas atingiu cidadãos israelenses.
Com extensão prevista de 350 quilômetros, o muro deixa sob domínio israelense Jerusalém Oriental, anexada por Israel em 1967 e onde os palestinos pretendem a capital de seu futuro Estado.
Em 2017, completaram-se 50 anos da Guerra dos Seis Dias, que envolveu Israel, palestinos e países árabes vizinhos. Nesse período, as principais negociações de paz e de criação de uma estrutura política que fosse satisfatória tanto para israelenses quanto para palestinos fracassaram.
A oscilação nas negociações e as constantes mudanças no cenário político internacional e local mostram que a situação permanece explosiva na região e a paz parece distante.

O futuro da Autoridade Palestina

A Organização para a Libertação da Palestina (OLP), criada em 1964 e liderada por Yasser Arafat, gerou a Autoridade Nacional Palestina (ANP) após as negociações de paz de 1994 em Oslo, na Noruega. A ANP se tornou desde então a principal representante dos interesses palestinos.
Com a morte de Arafat, em 2004, iniciou-se um período de disputa entre diversos grupos palestinos pelo controle da ANP. Em janeiro de 2005, Mahmoud Abbas, do Fatah, grupo ao qual pertencia Arafat, venceu as eleições para a Presidência da ANP. Nas eleições parlamentares de janeiro de 2006, porém, o grupo radical Hamas conseguiu vitória. 
Pela primeira vez na história da Autoridade Palestina, o presidente e o primeiro-ministro pertencem a grupos diferentes e têm posições distintas: enquanto Abbas defende negociações com Israel, o Hamas é contrário a qualquer aproximação com o Estado judeu que implique fazer concessões.
As divergências entre o Fatah e o Hamas levaram os territórios palestinos a uma situação de permanente instabilidade.
Em 2007, o Hamas, que havia vencido as eleições palestinas no ano anterior, expulsou as lideranças do Fatah da Faixa de Gaza, o que deu início a constantes atritos entre as duas organizações.
Apesar de alguns avanços, como a retirada de moradores judeus da Faixa de Gaza (em 2005) e o reconhecimento da Autoridade Palestina e do conjunto de seus territórios como Estado não membro da ONU (em 2012), grupos radicais palestinos e israelenses continuam a promover a violência.
Um novo cenário do conflito na região surgiu em 2017. O Fatah e o Hamas assinaram um acordo de reconciliação prevendo a formação de um governo de união nacional para os palestinos. O governo de Israel reagiu afirmando que, caso os dois grupos de fato se juntassem, as negociações com os palestinos só seriam possíveis se o Hamas dissolvesse seu braço armado e reconhecesse o Estado de Israel, condições que o Hamas não tendia a cumprir.
Em 2018, o governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, reconheceu Jerusalém, objeto de disputa entre palestinos e israelenses, como a capital de Israel, transferindo para a cidade a embaixada estadunidense, antes fixada em Tel Aviv. O episódio gerou enfrentamentos que resultaram em 55 pessoas mortas e pelo menos 2 mil feridas.
Entre 2020 e 2021, já em um contexto marcado pela pandemia da covid-19, os confrontos entre Israel e Palestina diminuíram sensivelmente em relação aos anos anteriores. Além disso, no início de 2020, diversos Estados-membros da União Europeia pediram a garantia de direitos iguais para palestinos e israelenses, em uma tentativa de apaziguar os confrontos na região.
O fundamentalismo religioso
O fundamentalismo religioso tem como base a defesa da interpretação literal dos livros sagrados. Os fundamentalistas acreditam que seguir à risca os preceitos religiosos é o único meio de garantir o retorno à fé original.
No Oriente Médio, existem grupos fundamentalistas islâmicos e judaicos. Na Palestina, desde a década de 1980, os fundamentalistas do grupo Hamas defendem a criação de um Estado islâmico palestino e não reconhecem a legitimidade do Estado de Israel. Eles promovem ataques terroristas contra militares e civis israelenses.

Militantes do Hamas
Hamas é a abreviatura de Harakat Al-Muqawama Al-islamia (Movimento de Resistência Islâmica). O movimento ficou conhecido em 1987, quando se tornou mais atuante na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, ao questionar a política da OLP de aproximação com Israel. O Hamas promove atos beneficentes em regiões de ocupação palestina e foi responsável por diversos atos terroristas contra alvos judeus e em defesa do islamismo.

Ataque terrorista do Hamas

"O ataque terrorista do Hamas no sábado (7 de outubro de 2023) deu início ao conflito mais mortal dos últimos anos entre Israel e o grupo terrorista, que comanda o território da Palestina na Faixa de Gaza. Milhares de pessoas morreram, outras milhares foram feridas e há civis sequestrados.
A primeira ação do Hamas se deu ainda nas primeiras horas de sábado, ao passar pelos muros de ferro que dividem Israel do território palestino. São quase 65 km de barricadas duplas, com seis metros de altura e equipadas com tecnologia para detectar qualquer violação – como câmeras, sensores e arame farpado em suas estruturas. Ainda há uma barreira de concreto enterrada abaixo do muro com sensores para identificar a escavação de túneis."
"Em Israel, foram convocados 300 mil reservistas, um número sem precedentes na história do país, para uma possível invasão em resposta ao ataque. O Hamas disse que vai executar um civil refém para cada bombardeio em Gaza."
Fonte:
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/10/10/israel-x-hamas-infografico-confronto.ghtml

Produção de energia no Brasil

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