terça-feira, 26 de setembro de 2023

Escravidão no Brasil colonial

Ao longo de mais de trezentos anos, os escravos foram os responsáveis pela produção de boa parte das riquezas no Brasil.

Milhões de africanos foram tirados de suas terras para uma viagem na qual aproximadamente a metade morria de fome, doenças e maus-tratos, ou, já em terras americanas, de banzo, uma espécie de tristeza e melancolia provocada pelo afastamento da terra natal.
O transporte dos escravos da África até o Brasil era feito em navios negreiros, chamados de tumbeiros. Amontoados nos porões, mais de um terço deles morria devido às péssimas condições de higiene e alimentação, além dos maus-tratos. Os que chegavam eram vendidos como mercadoria e submetidos a um duro regime de trabalho, a separação dos familiares, à destruição dos seus costumes, etc.
Porões de navios negreiros
A escravidão em massa dos africanos significou o despovoamento de regiões inteiras da África; além disso, destruiu essa população, pois os negros trazidos da África morriam em grande quantidade na viagem ou, rapidamente, no trabalho escravo. Mas a história da escravidão no Brasil não é feita apenas de submissão. É também uma história de lutas pela liberdade.

Da África para a América

Por que os colonizadores utilizaram o trabalho escravo na colônia americana? Por que eles preferiram os escravos africanos aos indígenas?
Para essas perguntas existem muitas respostas possíveis. Em primeiro lugar, os moldes implantados pelos portugueses (grandes propriedades voltadas para a exportação), o cultivo da cana-de-açúcar era uma atividade que exigia um grande número de trabalhadores. Durante muito tempo, alguns historiadores defenderam a ideia de os índios não se adaptaram ao trabalho na lavoura de cana-de-açúcar.
Na verdade, o trabalho rotineiro e sedentário na agricultura era muito diferente daquele a que os índios estavam acostumados. Adaptar-se a ele era uma grande mudança cultural, à qual muitos índios de fato resistiram; assim como os africanos, também pouco habituados a ele.
Ao governo português interessava mais que os índios continuassem a se dedicar à coleta das riquezas naturais da terra, como o pau-brasil. Desde que os portugueses desembarcaram no Brasil, contaram com os nativos para localizar e coletar os produtos nativos americanos que tinham valor na Europa. Esses produtos foram mantidos como monopólio de governo português, trazendo grandes lucros ao longo de vários séculos.
Por causa disso, o governo português proibiu inúmeras vezes a escravidão dos povos indígenas pelos colonos. Certamente essa atitude colaborou com a pressão exercida pelos religiosos católicos, sobretudo os jesuítas, que viam nos povos indígenas uma possibilidade para ampliar o número de fiéis.
Os povos nativos da América eram vistos pela Igreja católica como pessoas “puras”, por não terem nenhuma outra crença religiosa contrária à fé cristã. Assim, eles deveriam ser catequizados e não escravizados. Ao contrário dos africanos, que muitas vezes eram associados aos muçulmanos: deveriam ser trazidos à América para purgarem seus pecados.
Apesar da proibição do governo, sempre houve lacunas na lei que permitiram aos colonos aprisionarem os nativos. Por exemplo, a lei permitia tornar escravo um índio hostil aos colonizadores. Assim, a escravidão indígena nunca deixou de existir na colônia, principalmente nos períodos em que o abastecimento de escravos africanos era precário.
Outra ideia corrente entre os historiadores foi a de que os africanos, apesar de custarem mais, tinham uma produtividade maior, o que compensava o alto custo investido neles.
Na verdade, o que era extremamente lucrativo na escolha da escravidão africana era o comércio de homens e mulheres africanos realizado pelos europeus. O tráfico de escravos foi, durante séculos, uma das atividades mais lucrativas do comércio internacional, com os entrepostos na África sendo duramente disputados pelas principais potências européias. Muitas guerras ocorreram pela disputa do controlo dos entrepostos.

O tráfico negreiro

Os comerciantes portugueses que já se dedicavam à venda de escravos foram os primeiros interessados em vendê-los para os senhores de engenho do Nordeste.
Durante todo o processo de expansão marítima do século XV, os navegantes e comerciantes portugueses, enquanto procuravam avançar mais para chegar às Índias, encontraram uma boa fonte de lucro: o tráfico de escravos. Em 1441, submeteram o primeiro grupo de africanos, nas costa do continente.
Para conseguir escravos, os portugueses utilizavam diversos métodos. Eles organizavam verdadeiras caçadas: entravam nas aldeias, perseguiam e prendiam seus habitantes. Às vezes, os próprios chefes das tribos vendiam membros de seu grupo em troca de tecidos, armas, jóias, tabaco, algodão, aguardente e outras mercadorias; outras vezes, vendiam prisioneiros de guerra. Nesse caso, os próprios traficantes se encarregavam de provocar guerras entre as tribos para depois comprar os prisioneiros.
Esses comerciantes obtinham lucros altíssimos. Na África, compravam escravos por preços baixos; vendiam-nos depois na América por preços altos. Muitas vezes, o açúcar, o tabaco, a aguardente e outros produtos comprados na colônia portuguesa eram usados como moda de troca pelos traficantes; com isso, ganhavam mais ainda.
Mercado de escravos
Quando chegavam à América portuguesa, os escravos eram colocados à venda em mercados. Ficavam à mostra, em exposição, e eram examinados minuciosamente pelos interessados. O escravo era tratado como se fosse uma mercadoria.

Origem dos escravos

A maioria dos africanos trazidos à colônia portuguesa como escravos pertencia a dois grandes grupos étnicos: os bantos, originários de Angola, Moçambique e Congo, e que se tornaram mais numerosos no centro-sul e no Nordeste; e os sudaneses, provenientes da Guiné, da Nigéria e da Costa do Ouro, e que foram levados principalmente para a região da Bahia.
Os bantos, por serem mais numerosos, acabaram influenciando muitos aspectos da vida colonial. Politeístas, cultuavam os espíritos bons e os espíritos maus, representados em estatuetas de madeira ou marfim. Entre os sudaneses, que se caracterizavam por sua elevada estatura, destacaram-se os maometanos, oriundos da Guiné. Destes, sobressaíram os “haussás” que se concentraram na Bahia.

O cotidiano do trabalho escravo

Os escravos começavam o trabalho ao raiar e só paravam ao escurecer. Quase não tinham descanso; em muitos engenhos, aos domingos, cultivavam pequenos roçados para seu próprio sustento. Seu principal alimento era a mandioca.
Nos engenhos de açúcar, as condições de trabalho eram extremamente duras, tanto nos canaviais quanto nas moendas e nas caldeiras. Essas condições extremamente difíceis e ainda a alimentação insuficiente e de péssima qualidade faziam com que o tempo de vida produtiva de um escravo não passava de dez anos. Depois de dez anos de trabalho pesado, o escravo estava enfraquecido, doente e, na maioria dos casos, morria.
Os escravos viviam e trabalhavam vigiados por capatazes e feitores. Quando fugiam, eram perseguidos pelos capitães-do-mato, que recebiam certa quantia por escravo capturado e devolvido ao senhor.
O castigo físico fazia parte do cotidiano da escravidão. Havia vários tipos de castigo. Os principais eram:
- tronco – os escravos eram presos pelas pernas em pequenas aberturas existentes entre duas vigas de madeira; ficavam horas e, às vezes dias imobilizados, o que provocava inchaço das pernas, formigamentos e fortes dores;
- bacalhau – espécie de chicote de couro cru, que rasgava a pele; muitas vezes os feitores passavam sal nos ferimentos, tornando a dor ainda maior;
- vira-mundo – instrumento de ferro que prendia mãos e pés;
- gargalheira – colar de ferro com várias hastes em forma de gancho.

Conflitos culturais

Chegando à propriedade, os eram forçados a abandonar grande parte de seus costumes e a adotar os hábitos impostos pelo seu dono. Entretanto, eles conseguiram manter muitas de suas tradições: danças, palavras de sua língua, religião, etc.
Em geral, o que acontecia era:
- em lugar dos alimentos com os quais estavam acostumados na África, os escravos se alimentavam com a corrida que o senhor lhes dava;
- em lugar de suas vestes tradicionais, os africanos eram obrigados a vestir grossos panos de algodão;
- em lugar de sua língua nativa, eram obrigados a aprender o linguajar local;
- em lugar dos antigos hábitos de trabalho, o escravo era controlado pelo feitor, que o castigava por qual quer falta;
- em lugar do padrão de moradia africana, a vida coletiva da senzala: uma habitação sem divisões, abafadas, quase sem janelas;
- em lugar de suas religiões africanas, a religião católica, com missas, batizados, casamentos e outros rituais impostos pelo padre-capelão do engenho.
Essa imposição de valores provocou também uma grande mistura entre os hábitos europeus e africanos. Ao longo dos séculos, foi sobre essa mescla que se construiu grande parte dos valores de nossa sociedade.
A exploração, a perda da liberdade e de parte da cultura levaram muitos africanos a resistir à escravidão: fugindo, lutando ou mesmo se matando.
Nos dias de festas dedicadas aos santos católicos, os africanos relembravam suas tradições nativas por meio da música e da dança. Dessa maneira, conseguiam manter parte de sua cultura. As cerimônias de enterros eram também momentos em que os escravos expressavam suas tradições.
O negro africano contribuiu para o desenvolvimento populacional e econômico do Brasil e tornou-se, pela mestiçagem, parte inseparável de seu povo. Os africanos espalharam-se por todo o território brasileiro, em engenhos de açúcar, fazendas de criação, arraiais de mineração, sítios extrativos, plantações de algodão, fazendas de café e áreas urbanas. Sua presença projetou-se em toda a formação humana e cultural do Brasil com técnicas de trabalho, música e danças, práticas religiosas, alimentação e vestimentas.
As marcas africanas em nossa cultura são inúmeras, desde instrumentos musicais, como atabaque, agogô, berimbau e cuíca, ritmos como samba, o batuque e o maracatu, até heranças culinárias, como acarajé, feijoada e caruru. Outra das fortes marcas dos africanos no Brasil são os ritos religiosos: o candomblé, umbanda, macumba.

Tipos de escravidão:

Os escravos que sobreviviam e chegavam ao Brasil, nessa época, eram destinados, a maioria, para o trabalho nas propriedades rurais ou para o trabalho nas minas, como ocorreu intensamente no século XVIII.
O escravo rural podia tanto trabalhar diretamente na plantação de açúcar, o chamado escravo do eito, como ser utilizado na residência do senhor, esse era o escravo doméstico. Havia escravos domésticos também nas vilas e cidades.
O escravo do eito era submetido a longas e repetidas tarefas. Chegavam a trabalhar mais de 15 horas por dia. E em épocas de safra, o descanso quase não existia. O não cumprimento das tarefas podia implicar em duros castigos. Calcula-se que a vida média de um escravo nessas condições penosas chegava, em média, a dez anos.
“Vida rude, monótona e regrada na qual o trabalho jamais parece deter-se e o lazer depende unicamente da boa vontade dos chefes e senhores ou das intempéries que inutilizam o canavial.”
Essa rotina é detalhada pelo artista Rugendas, que esteve no Brasil nos inícios do século XIX. Leia:

"Enviam-se os escravos para o trabalho logo ao nascer do sol. A frescura da manhã parece ser-lhes muito mais desagradável do que o grande calor do dia, e eles ficam entorpecidos até que o sol, erguendo-se, os queime com seus raios. Às oito horas concede-se-lhes meia hora para almoçar e descansar. Em algumas fazendas fazem os escravos almoçar antes de partirem para o trabalho, isto é, imediatamente depois do nascer do sol. Ao meio-dia eles têm duas horas para o jantar e o repouso e, em seguida, trabalham até as dezoito horas.
Entretanto, na maioria das fazendas, em vez de fazê-los trabalhar nos campos de cinco a sete horas, empregam-nos a juntar forragem para os cavalos ou procurar palmitos nas florestas vizinhas ou ainda lenhar; muitas vezes, eles voltam fortemente carregados e muito tarde. Também acontece, ao voltarem dos campos, fazê-las moer farinha de mandioca durante duas horas. Mas esse trabalho, na maioria das fazendas, só se faz duas vezes por semana, pois quase nunca se prepara mais do que o necessário ao consumo dos próprios escravos. Costumam estes, quando voltam de seu trabalho, apresentar-se ao senhor e desejar-lhe boa noite.”
Outra observação que ele faz é quanto à pratica de alguns senhores em conceder um pedaço de terra para alguns desses escravos. Estima-se que uma das mais fortes razões para isso seria diminuir a tensão causada pela própria escravidão. Veja o que ele diz:
“No domingo, ou dias de festas, tão numerosos que absorvem mais de cem dias no ano, os escravos são dispensados de trabalhar para seus senhores e podem descansar ou trabalhar para si próprios. Em cada fazenda existe um pedaço de terra que lhes é entregue, cuja extensão varia de acordo com o número de escravos, cada um dos quais cultiva como quer ou pode. Dessa maneira, não somente o escravo consegue, com o produto do seu trabalho, uma alimentação sadia e suficiente, mas ainda, muitas vezes, chega a vendê-la vantajosamente.”
Nas minas de ouro e diamantes o trabalho também era duríssimo. O trabalho curvado provocava dores e fazia com que alguns deles, ainda adolescentes, ficassem deformados para o resto da vida. Eles podiam ter a coluna curvada ou mesmo as pernas tortas. A labuta com os pés na água o dia inteiro também trazia sérios danos à saúde.
Os escravos domésticos trabalhavam no interior das residências. Eram cozinheiras, lavadeiras, copeiros, cocheiros, moleques de recado, além de amas-secas, amas-de-leite, mucamas e pajens. Eram escolhidos entre aqueles que os senhores consideravam de melhor aparência. Recebiam boas roupas, limpas e, por vezes, até luxuosas. O tratamento era diferenciado dos demais escravos. A proximidade fazia que chegassem até a ter certa intimidade com os familiares do proprietário e mesmo com este. Por vezes, criando vínculos de afeição.
Mas o trabalho doméstico também não era fácil. Ao contrário, era extremamente cansativo. Lavar a roupa, limpar e cozinhar eram tarefas que exigiam muito esforço. Não havia máquinas, modernos produtos de limpeza nem fogão a gás. Também não havia esgotos, água encanada nem energia elétrica. Cozinhar, por exemplo, exigia buscar e rachar lenha. A casa tinha de ser abastecida de água para a higiene pessoal, alimentação e para a limpeza.
Aí mesmo nas cidades, havia também os escravos de ganho, que executavam tarefas, muitas vezes, como vendedores ambulantes. Estes obtinham o ganho do seu dono, mas recebiam uma parte desse lucro para se manter. Além desses ambulantes, havia também barbeiros, pedreiros e até aqueles que praticavam a medicina popular, vendendo ervas, poções ou mesmo realizando procedimentos de cura.
Havia senhoras que enfeitavam suas escravas e as prostituíam. Há casos em que ex-escravas exploravam algumas cativas nessa atividade. Em geral, os escravos de ganho não moravam na mesma casa dos seus senhores.

Distinção entre escravos

Havia outra forma de distinção entre os escravos. Chamavam-se boçais os recém chegados da África, que ainda não dominavam o idioma. Já o ladino era o nascido na África, mas que já dominava o português e estava integrado na rotina de trabalho. Os escravos nascidos no Brasil eram chamados de crioulos.

Os escravos resistem: formas de luta contra a escravidão

Os africanos resistiram à escravidão de muitas maneiras. Uma delas foi a fuga. Muitas vezes, após a fuga, reuniam-se em comunidades chamadas quilombos.
Os escravos viviam nas senzalas, habitações de um único compartimento, na maior promiscuidade; eram responsáveis por todos os trabalhos nos canaviais, nas oficinas e na casa-grande. Qualquer reação contra o sistema de escravidão era reprimida violentamente. Os negros, entretanto, não permaneceram de braços cruzados diante dessa realidade opressiva.
Enquanto existiu escravidão, ocorreu também reação. O símbolo da resistência foi a formação dos quilombos, aldeamentos de negros fugitivos. Eles surgiram por toda parte onde imperou a escravidão: Alagoas, Sergipe, Bahia, Mato grosso, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Nos quilombos, os africanos falavam sua própria língua, seguiam as leis de suas terras de origem, faziam suas festas, praticavam sua religião, etc.
Os habitantes dos quilombos eram chamados quilombolas. Eles cultivavam os alimentos de que precisavam. Tinham também pequenas oficinas onde faziam roupas, móveis e instrumentos de trabalho. A vida nos quilombos não era fácil, pois as comunidades estavam sempre sujeitas aos ataques das expedições enviadas pelos senhores e pelo governo. Por isso, a maior parte dos quilombos teve vida curta; alguns, entretanto, conseguiram resistir por décadas. Quando os quilombos eram destruídos, os quilombolas que não morriam lutando eram levados de volta aos donos e severamente castigados.
Dentre os quilombos mais conhecidos, destacam-se os da serra da Barrida, região situada entre os atuais estados de Alagoas e Pernambuco. Eram cerca dez quilombos, unidos sob o nome de Palmares, que resistiram durante quase todo o século XVII aos ataques do governo e dos senhores de escravos. Seus mocambos – pequenos casebres cobertos com folhas de palmeiras – chegaram a se estender por 27 mil km². Assim, Palmares constituía-se em constante chamamento, um estímulo, uma bandeira para os negros escravos das vizinhanças que o viam como um constante apelo à rebelião, à fuga para o mato, à luta pela liberdade.
A destruição de Palmares ocorreu em 1695, e coube à expedição chefiada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho.
Zumbi, grande chefe de Palmares, conseguiu fugir com algumas dezenas de homens, mas no dia 20 de novembro de 1695, foi aprisionado e decapitado. Sua cabeça foi colocada num poste em praça pública, para servir de exemplo aos que o consideravam imortal.
A data da morte de Zumbi ficou registrada nos anais da História como o “Dia da Consciência Negra”, para que se possa sempre lembrar que os negros até hoje lutam contra a marginalização e a discriminação de que são vítimas.



A SOCIEDADE NO BRASIL COLONIAL

 1. A Sociedade Açucareira

A sociedade da região açucareira dos séculos XVI e XVII era composta, basicamente, por dois grupos. O dos proprietários de escravos e de terras compreendia os senhores de engenho e os plantadores independentes de cana. Estes não possuíam recursos para montar um engenho para moer a sua cana e, para tal, usavam os dos senhores de engenho. O outro grupo era formado pelos escravos, numericamente muito maior, porém quase sem direito algum.
Entre esses dois grupos existia uma faixa intermediária: pessoas que serviam aos interesses dos senhores como os trabalhadores assalariados (feitores, mestres-de-açúcar, artesãos) e os agregados (moradores do engenho que prestavam serviços em troca de proteção e auxílio). Ao lado desses colonos e colonizados situavam-se os colonizadores: religiosos, funcionários e comerciantes.
Elementos fundamentais na sociedade colonial nordestina

O patriarcalismo: A família patriarcal foi a base da sociedade nascida na região do açúcar. As famílias viviam isoladas na zona rural; eram raros os contatos sociais. Eram características da família patriarcal:

- poder absoluto do pai de família;
- submissão da mulher;
- casamentos sem escolha e sem amor, muitas vezes entre membros da mesma família (a escolha era feita pelos pais dos noivos);
- número elevado de filhos - o primogênito era o único herdeiro da propriedade;
- religiosidade marcante - em quase toda família havia um padre; em toda casa-grande havia uma capela;
- imposição paterna de uma profissão para os filhos;
- educação somente para os homens (as mulheres recebiam apenas as primeiras noções de escrita e aritmética e educação para o lar).

Os senhores de engenho possuíam autoridade absoluta sobre os seus familiares, sobre os agregados e os escravos de suas propriedades. A influência desses homens atingia até mesmo a vila próxima ao engenho. A maior parte dos poderes se concentrava nas mãos do senhor de engenho. Com autoridade absoluta, submetia todos ao seu poder: mulher, filhos, agregados e qualquer um que habitasse seus domínios. Cabia-lhe dar proteção à família, recebendo, em troca, lealdade e deferência. Essa família podia incluir parentes distantes, de status social inferior, filhos adotivos e filhos ilegítimos reconhecidos. Seu poder extrapolava os limites de suas terras, expandindo-se pelas vilas, dominando as Câmaras Municipais e a vida colonial. A casa grande foi o símbolo desse tipo de organização familiar implantado na sociedade colonial. Para o núcleo doméstico convergia a vida econômica, social e política da época.
A posse de escravos e de terras determinava o lugar ocupado na sociedade do açúcar. Os senhores de engenho detinham posição mais vantajosa. Possuíam, além de escravos e terras, o engenho. Abaixo deles situavam-se os agricultores que possuíam a terra em que trabalhavam, adquirida por concessão ou compra. Em termos sociais podiam ser identificados como senhores de engenho em potencial, possuindo terra, escravos, bois e outros bens, menos o engenho. Compartilhavam com eles as mesmas origens sociais e as mesmas aspirações.
A casa grande: No centro da vida do engenho, a casa grande erguia-se imponente, quase sempre edificada em uma colina ou elevação. "A casa grande, residência do senhor de engenho, é uma vasta e sólida mansão térrea, ou em sobrado, distingue-se pelo seu estilo sóbrio, mas imponente, que ainda hoje empresta majestade à paisagem rural, nas velhas fazendas de açúcar que a preservaram. Constituía o centro de irradiação de toda a atividade econômica e social da propriedade".
A senzala: Os escravos "mãos e pés" do senhor, como dizia Antonil, amontoavam-se em um barracão rudimentar erguido ao lado da casa grande. No final da tarde, os feitores os conduziam desde o canavial e a moenda para aquele dormitório miserável, em que os mais rebeldes dormiam acorrentados.
Entre uma parcela dos escravos, particularmente os domésticos, desenvolveu-se um desejo de "branqueamento", de afastamento dos valores africanos, de adesão ao catolicismo. Entre os negros e mulatos libertos, tal desejo era muito mais acentuado. Não havia meios de melhorar de vida senão reconhecendo “como somente válido o ideal estético do senhor, o da superioridade da cor branca sobre a negra, e seu ideal moral, o da superioridade da ética dos brancos sobre os costumes dos 'pagãos” '.
O negro crioulo nascido na senzala, normalmente se socializava sobre a influência dominante da cultura branca. Oferecia menos resistência à ética do senhor, e procurava através da malícia e da subordinação hábil chegar-se a ele.
A vila: A vida urbana no Brasil açucareiro era extremamente escassa, pela ausência de intercâmbios internos e pelas características da organização social. Assim, se excetuarmos as cidades de Salvador, Rio de Janeiro, Recife, São Luís e Belém, até o final do século XVII os aglomerados urbanos não serão nada além de meras extensões das propriedades rurais. As funções das vilas e povoados eram bem simples. Num primeiro momento, constituíam os pontos de contato entre a administração portuguesa e o poder local dos senhores. Além disso, tinham a função social de congregar os moradores dos engenhos e fazendas próximas, nas missas e festas, religiosas e leigas. Quanto ao plano econômico, sua função era pouco significativa, no máximo como pequenos portos do embarque de açúcar para os centros maiores (casos de vilas marinhas), onde se fazia o transbordo para Portugal; ou como lugares onde se podia adquirir, eventualmente, algum artigo em falta nos engenhos.

Senhor de engenho: "ser servido, obedecido e respeitado..."

Do outro lado da escala social estava o senhor de engenho. 'É título a que muitos aspiram porque traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado de muitos. ' Um mundo oposto ao da senzala - mas totalmente dependente dele – era o mundo da casa-grande, do proprietário do engenho, ao qual todos deviam obediência: o patriarca. Este impunha respeito e medo até em sua família, sendo comum ter várias comborças (amantes negras). Na casa-grande, havia também as mucamas (escravas domésticas), que ajudavam a sinhá-dona (mulher do patriarca) nas tarefas caseiras. A sinhá, submissa, obediente e temerosa do senhor de engenho, ensinava as suas filhas, as sinhazinhas, no aprendizado das prendas domésticas (bordado, preparação do enxoval para o casamento).
Essas meninas - sinhazinhas -, futuras sinhás, 'faziam orações e copiavam a receita da marmelada : segundo ditado popular da época. “Á menina negou-se a tudo que de leve parecesse independência. Até levantar a voz na presença dos mais velhos. Adoravam-se as acanhadas de ar humilde. Criadas em ambiente rigorosamente patriarcal, viveram sob a mais dura tirania dos pais – depois substituída pela tirania dos maridos."
Os meninos, quietos e respeitosos, seguiam o pai no aprendizado do ofício do mando. Respeitavam os mais idosos, tomavam-lhes a bênção. “Só depois de casado arriscava-se o filho a fumar na presença do pai, e fazer a barba era cerimônia para que o rapaz necessitava sempre de licença especial.” As capelas, erguidas ao lado da casa-grande, centralizavam a vida religiosa. As construções eram luxuosas e imponentes, já que os homens livres do engenho as freqüentavam nas missas, rezas e festas religiosas. As cerimônias religiosas constituíam o momento apropriado para os senhores exibirem suas riquezas.
Construir belas igrejas e associá-las ao nome do proprietário do engenho era sinônimo de poder e força econômica.
Em suma, praticava-se nas capelas “uma religiosidade de superfície, menos atenta ao sentido íntimo das cerimônias do que ao colorido e à pompa exterior, quase carnal em seu apelo ao concreto e em sua rancorosa incompreensão da verdadeira espiritualidade”.
Grandes e belas construções de igrejas, religiosidade superficial, "pompa exterior", ligavam padres e senhores proprietários. Na tradição da metrópole, a Igreja tinha pouca autonomia, pois o clero estava atrelado ao Estado e às ordens do rei.
Na colônia, o clero subordinava-se aos senhores, formando laços de família, propriedade e poder com o patriarca.

A Sociedade Mineradora

A sociedade da região das minas, ao contrário da sociedade açucareira, era uma sociedade urbana. As pessoas ligadas à mineração, tanto os donos das minas quanto os que trabalhavam nelas, moravam nas cidades. Com a mineração surgiram mutas cidades brasileiras, como Mariana, Vila Rica, São João deu-Rei, São José del-Rei (atual Tiradentes), Tejuco(atual Diamantina).
Essas localidades tinham uma intensa vida urbana: ruas cheias de gente, igrejas enfeitadas com ouro, conjuntos musicais, poetas, músicos, escultores. Com a mineração, a população do Brasil tornou-se três vezes maior. No final do século XVIII o Brasil tinha três milhões de habitantes, 600 000 concentrados na região das minas.
Desta estrutura social diferenciada faziam parte os setores mais ricos da população - chamados "grandes" da sociedade - mineradores, fazendeiros, comerciantes e altos funcionários, encarregados da administração das Minas e indicados diretamente pela Metrópole.
Compunham o contingente médio, em atividades profissionais diversas, os donos de vendas, mascates, artesãos (como alfaiates, carpinteiros, sapateiros) e tropeiros. E ainda pequenos roceiros que, em terrenos reduzidos, entregavam-se à agricultura de subsistência. Plantavam roças de milho, feijão, mandioca, algumas hortaliças e árvores frutíferas. Também faziam parte deste grupo os faiscadores - indivíduos nômades que mineravam por conta própria. Deslocavam-se conforme o esgotamento dos veios de ouro. No final do século XVIII, esta camada social foi acrescida de elementos ligados aos núcleos de criação de gado leiteiro, dando início à produção do queijo de Minas.
Incluíam-se também nessa camada intermediária os padres seculares. Na Colônia, poucos membros do clero ocupavam altos cargos como, por exemplo, o de bispo. Este morava na única cidade da capitania: Mariana.
Por outro lado, crescia na capitania real o número de indivíduos sujeitos às ocupações incertas. Vivendo na pobreza, na promiscuidade e muitas vezes no crime, não tinham posição definida na sociedade mineradora. Esta camada causava constante inquietação aos governantes. Ela era geralmente composta por homens livres: alguns brancos, mestiços ou escravos que haviam conseguido alforria.
O Estado, percebendo a necessidade de agir junto a essa população incapaz de prover seu próprio sustento, associou a repressão à "utilidade". O encargo que eventualmente representava transformava-se, através do castigo, em trabalhos diversos e, consequentemente, em "utilidade".
Esta população, entendida como de "vadios", recrutada à força ou em troca de alimento, foi utilizada em tarefas que não podiam ser executadas pelos escravos, necessários ao trabalho da empresa mineradora. Era freqüente a ocupação destes que eram vistos como desclassificados sociais na construção de obras públicas como presídios, Casa da Câmara, entre outras. Também compuseram corpos de guarda e de polícia privada dos "Grandes" da sociedade mineradora, ou ainda empregavam-se como capitães-do-mato. Em outras situações, como na disputa pela posse da Colônia do Sacramento, participaram dos grupos militares que guardavam as fronteiras do Sul.
Os escravos, ali como de resto em toda a Colônia, representavam a força de trabalho sobre a qual repousava a vida econômica da real capitania das Minas Gerais. Vivendo mal-alimentados, sujeitos a castigos e atos violentos, constituíam a parcela mais numerosa da população daquela região.
Isto gerava uma constante preocupação para as autoridades já que, apesar da repressão cruel, não eram raras as tentativas de levantes escravos e a formação de quilombos, como o do Ambrósio e o Quilombo Grande. A destruição de ambos, em 1746 e 1759 respectivamente, não impediu que ocorressem outras fugas e a formação de novos quilombos.

Sociedade pecuarista

A pecuária ou criação de gado foi importante para a penetração do interior do Nordeste e também para a conquista do Sul do país. Da Bahia e de Pernambuco as fazendas de gado espalharam-se por quase todo o interior nordestino.
A sociedade pecuarista do Nordeste e Sul diferenciou-se da açucareira. A figura predominante dessa sociedade era a dos vaqueiros, isto é, homens livres não-proprietários de terras, que cuidavam das boiadas, e, na maioria das vezes, não estavam submetidos aos proprietários de terras. A própria característica de seminomadismo da pecuária tornava mais livre a vida dos vaqueiros e a sua melhor adaptação aos descendentes de indígenas.
Ao contrário da atividade açucareira e da atividade mineradora, que exigiam muitos trabalhadores, a pecuária precisava de pouca gente. Apenas o fazendeiro e alguns trabalhadores eram suficientes, pois o gado ficava solto, espalhando pelo campo. Na sociedade pecuária, o emprego de trabalhadores livres era muito mais frequente que o de escravos.
Em geral, 'depois de quatro ou cinco anos de serviço’, começava o vaqueiro a ser pago, de quatro crias cabia-lhe uma; podia assim fundar uma fazenda por sua conta.
Os chefes dos vaqueiros recebiam dos proprietários das fazendas uma pequena propriedade de terras, onde produziam para sua própria sobrevivência, além de terem o direito a um determinado número de crias e a um salário anual estabelecido com o dono da fazenda. ” Esses homens rudes e duros. muitas vezes escravos fugidos das fazendas do litoral, foram os verdadeiros conquistadores do sertão, abrindo caminhos. fundando povoados e ocupando áreas antes totalmente virgens da presença dos colonizadores."
No caso da atividade criatória do Nordeste, a penetração para o interior provocou choques com os índios, os quais se refugiavam sempre mais para dentro do território, procurando escapar do confronto com os brancos, ou integravam-se nas missões, ou, ainda, tornavam-se vaqueiros. Muitos paulistas depois das lutas com escravos foragidos e apresamento de índios nas regiões da Bahia e Pernambuco preferiam a vida de grandes proprietários nas terras adquiridas por suas armas: de bandeirantes passaram a conquistadores, formando estabelecimentos fixos. Ainda antes do descobrimento das minas, sabemos que nas ribeiras do rio das Velhas e do São Francisco havia mais de cem famílias paulistas entregues à criação de gado.
O sul do país, que se estende além dos Campos Gerais, foi ocupado e colonizado de maneira bem diversa da do Nordeste e região das Minas. Zona de intensos conflitos entre portugueses e espanhóis, era habitada por homens guerreiros e aventureiros.
A partir da segunda metade do século XVII, os paulistas, em sua penetração para o interior, chegaram até o Rio Grande do Sul. Em 1680 os portugueses fundaram, às margens do Rio da Prata, em frente a Buenos Aires, a Colônia do Sacramento, que se instituiu como excelente base para o contrabando e aguçou ainda mais as rivalidades luso-espanholas.
A única forma de integrar essa região ao restante da colônia era povoá-la. Dessa maneira a Metrópole distribuiu em grande fartura sesmarias, constituindo-se as estâncias, voltadas para a criação de gado que vivia semi-selvagem, quase em abando no, sobrevivendo graças às férteis regiões do pampa. A pecuária exigia pouca mão-de-obra: um capataz e alguns peões, que geralmente eram índios ou mestiços. O trabalho era assalariado, a escravidão era rara. Além do gado, criavam-se nas estâncias cavalos e muares.
Será apenas no fim do século XVIII que se consolidará a pecuária sulina. Inicialmente houve apenas o aproveitamento do couro, sebo e ossos; a carne era desprezada. Mas logo descobriram-se formas de conservação (salgamento e secagem), surgindo as grandes charqueadas que iriam abastecer o mercado interno, particularmente a região das Minas.

Sociedade missionária ou das missões

Missionários eram os padres que vinham da Europa para pregar a religião aos índios e tentar convertê-los à fé católica. E como esses padres faziam para pregar a religião? Eles tiravam os índios de suas aldeias, reunindo-os em aldeamentos, povoados, chamados reduções. A vida de redução era organizada e dirigida pelos padres.
Embora os índios das missões não fossem escravos dos padres, eram eles que construíam as casas e outras instalações das missões, cultivavam os produtos necessários à alimentação dos moradores dos aldeamentos, caçavam, pescavam e colhiam os frutos silvestres, como cacau, a castanha o cravo e a canela. Os lucros do comércio dos produtos que eram vendidos para fora dos aldeamentos ajudavam na compra de coisas que não eram feitas nas missões, como ferramentas, e tecidos domésticos etc.; aumentavam também a riqueza e o poder das ordens religiosas.
As atividades missionárias foram importantes para a conquista da Amazônia e do Sul do Brasil. Importantes reduções Jesuíticas foram organizadas no Sul do país, abrangendo os atuais estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, e então entrando até o Paraguai e Argentina.

Na missão

No aldeamento
quem mandava não era mais o chefe indígena.
Quem mandava era o missionário.
Era o missionário que mandava plantar a roça.
Era o missionário que mandava assistir à missa.
Era o missionário que mandava construir as casas.
O missionário mandava na vida do índio.
Na missão os índios trabalhavam para os padres.
Tinham que trabalhar três dias por semana para os padres.
Tinham que trabalhar com hora marcada.
Não podiam mais caçar na hora que queriam.
Não podiam mais pescar na hora que queriam.
Não eram mais eles que dividiam a caça.
Não eram mais eles que dividiam todas as coisas da roça.
O aldeamento da missão quase acabou com os índios.
Os índios morreram de doença.
Morreram de fome.
Morreram de tristeza.

(CIMI. História dos povos indígenas. P. 155-6.)

A expansão territorial brasileira

O Brasil começou a ser povoado a partir do litoral. Pois os portugueses que chegavam da Europa fundavam postos de recolhimento e armazenagem de mercadorias que seriam levadas para a Europa. Esses postos eram chamados feitorias. Fundavam também pequenas vilas próximas ao mar.

Durante o século XVI os colonos não se atreviam a entrar pela mata em direção ao interior (o sertão). Havia medo do desconhecido e do ataque de tribos indígenas. Sobre essa situação, frei Vicente Salvador escreveu, em 1627: “os portugueses permanecem no litoral como caranguejos a rondar as praias”.
Entretanto, pouco a pouco, grupos de pessoas foram penetrando no interior do território, dando início ao seu povoamento. Dentre esses grupos, destacam-se:

· Expedições militares organizadas pelo governo para expulsar estrangeiros que ocupavam partes do território.
· Bandeirantes que andavam pelo sertão aprisionando índios ou procurando metais preciosos.
· Padres jesuítas que fundavam aldeias para catequização dos índios e exploração econômica de riquezas do sertão.
· Criadores de gado que tiveram seus rebanhos e fazendas empurrados para o interior do território.

Expedições militares

Várias expedições militares foram organizadas pelo governo para ocupar e defender terras brasileiras que estavam sendo ameaçada pela presença de estrangeiros, principalmente por franceses. O trabalho de povoamento e ocupação do território realizado por essas expedições militares é conhecido como expansão oficial.
Em luta contra os estrangeiros, as expedições militares luso-espanholas foram erguendo fortificações militares que deram origem a importantes cidades. Vejamos alguns exemplos:

· Filipéia de Nossa Senhora das Neves (1584): atual cidade de João Pessoa, capital da Paraíba.
· Forte dos Reis Magos (1597): atual cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte.
· Fortaleza de São Pedro (1613): atual cidade de Fortaleza, capital do Ceará.
· Forte do Presépio (1616): atual cidade de Belém, capital do Pará.

A expansão e o movimento bandeirante

Desde o começo da colonização, Portugal queria explorar o território em busca de ouro. Várias expedições oficiais foram organizadas pelo governo com este objetivo. Estas expedições recebiam o nome de entradas. As entradas eram expedições financiadas pelo governo português para explorar territórios no interior da colônia e defender a região açucareira de ataques indígenas e piratas europeus, além de procurar metais e pedras preciosas. Em geral, as entradas partiam do litoral nordestino em direção ao interior.
A primeira entrada foi a expedição de reconhecimento dirigida por Américo Vespúcio, em 1504.
As entradas têm seu centro principal de propagação no litoral nordestino, saindo da Bahia e de Pernambuco para o interior em missão geralmente oficial de mapeamento do território. Também combatem os grupos indígenas que ameaçam ou impedem o avanço da colonização, como os caetés, os potiguares, os cariris, os aimorés e os tupinambás. A atuação das entradas estende-se do Nordeste à Amazônia e ao Centro-Oeste, abrangendo ainda áreas próximas do Rio de Janeiro.
Além das entradas, surgiu outro tipo de expedição chamada bandeira. As bandeiras eram expedições particulares que saíam de São Paulo rumo ao interior, onde capturavam índios para o trabalho nas lavouras e buscavam metais e pedras preciosas. Essas expedições variavam de tamanho; algumas reuniam centenas e até milhares de homens. À frente delas, seguido um costume dos índios tupis, erguia-se uma bandeira em sinal de guerra, e por isso seus membros ficaram conhecidos como bandeirantes.
Entre as principais bandeiras destacam-se as de Antônio Raposo Tavares, Fernão Dias Pais Leme, Bartolomeu Bueno da Silva e Domingos Jorge Velho.
Andando a pé ou a cavalo, as bandeiras penetravam pelo sertão e ultrapassaram a linha de Tordesilhas. Durante a União Ibérica, as divisões do Tratado de Tordesilhas perderam sua razão de ser. Tudo era da Espanha. Como essas expedições partiam de São Paulo, a cidade ficou conhecida como a “capital dos bandeirantes”.

Dentro do bandeirismo, podemos identificar três tipos básicos:
· O apresador: voltado à captura de índios para vendê-los como escravos;
· O sertanismo de contrato: prestava serviços à classe dirigente colonial, mediante contrato, para combater índios ou negros;
· O prospector: voltado à busca de metais preciosos.

Bandeiras de caça ao índio

As primeiras bandeiras de apresamento de indígenas visavam obter mão de obra para a pequena lavoura paulista ou vendê-las para regiões próximas. Entretanto, quando os holandeses ocuparam Pernambuco e a região de Angola na África, os senhores de engenho da Bahia passaram a enfrentar dificuldades para obter escravos para seus engenhos. Necessitando reposição de mão-de-obra, recorreram aos índios capturados pelos paulistas, impulsionando o movimento bandeirante.
Muitas bandeiras atacaram as missões jesuíticas do Mato Grosso ao Rio Grande do Sul, capturando mais de cem mil índios, a maioria já aculturados e de valor mais elevado, pois se adaptavam mais facilmente ao trabalho agrícola. As principais bandeiras desse período foram a de Manoel Preto e Antônio Raposo Tavares (1619-1651).
As bandeiras de apresamento permitiram a sobrevivência dos paulistas, forneceram escravos para a região açucareira, percorreram o interior alargando o território sob o domínio português e detiveram a expansão espanhola representada pelos jesuítas.
No final do século XVII, com a expulsão dos holandeses do Brasil, a crise da economia açucareira e a descoberta de ouro, termina o período das bandeiras de caça ao índio.

Bandeiras de contrato

Durante o século XVII, para combater índios em guerra ou negros fugidos organizados nos quilombos, fazendeiros ou o próprio governo contratavam a formação de bandeiras. Sob pagamento em dinheiro, terras, escravos ou gado, bandeirantes colocavam-se a serviço da metrópole ou da aristocracia rural brasileira.
A mais importante de todas as bandeiras de contrato foi a de Domingos Jorge Velho, que bateu os índios cariris e janduís em 1692 e destruiu o quilombo de Palmares, em Alagoas, em 1694.

Bandeiras em busca de ouro e diamantes

Frente à crise da economia açucareira. Portugal passou a incentivar quem procurasse e encontrasse metais preciosos, financiando ou oferecendo títulos de nobreza. Embora as diversas expedições que partiram de São Paulo para o interior sempre mantivessem a ambição aurífera, o ouro de lavagem que descobriram nas regiões próximas não apresentava muita lucratividade. Com o incentivo real, acabaram sendo descobertas importantes minas de ouro na região de Minas Gerais, depois em Mato Grosso e Goiás. As descobertas bandeirantes deram início a um novo ciclo econômico no Brasil, o ciclo da mineração.
Vale destacar a expedição de Fernão Dias Paes, em 1674, que avançou de São Paulo em direção a Minas Gerais. O bandeirante – apelidado de “O Caçador de Esmeraldas” – morreu em 1681, acreditando ter encontrado as sonhadas gemas, quando, na verdade, descobriu apenas turmalinas, pedras verdes sem grande valor. Apesar do insucesso, Fernão Dias abriu caminho em direção a Minas Gerais, transformando a cidade paulista de Taubaté no ponto de partida de novas bandeiras.
As descobertas em Minas Gerais logo aconteceram. Em 1693, Antônio Rodrigues de Arzão descobriu ouro em Cataguazes; pouco depois, 1698, Antônio Dias Oliveira encontrava ouro em Vila Rica, atual Ouro Preto; e, em 1700, Borba Gato achava ouro em Sabará. Em 1719, Pascoal Moreira Cabral descobria ouro em Cuiabá, Mato Grosso, e em 1722, Bartolomeu Bueno Filho encontrava-o em Goiás. As bandeiras ocuparam e povoaram o interior do Brasil, criando inúmeras vilas e dando início ao ciclo da mineração, dizimaram muitos grupos indígenas e firmaram a presença colonial além do Tratado de Tordesilhas.

Monções

As monções eram expedições fluviais paulistas que partiam de Porto Feliz, às margens do Rio Tietê, com destino às áreas de mineração em Mato Grosso, com a finalidade de abastecê-las. As canoas levavam mantimentos, ferramentas, armas, munições, tecidos, instrumentos agrícolas e escravos negros, entre outras mercadorias para serem comercializadas nos povoados, arraiais e vilas do interior. Na volta traziam principalmente ouro e peles.

A ação dos Jesuítas

Os padres jesuítas ao desembarcarem no Brasil (1549) tinham planos de divulgar a religião católica em nossa terra. Consideravam-se “soldados da religião” com a missão de conquistar as almas dos índios e dos colonos para o cristianismo católico.
A arma utilizada para a conquista espiritual era a educação direcionada principalmente para a catequização (ensino da doutrina cristã).
O trabalho de catequese do índio exigia a entrada dos padres pelo interior do território, pois os índios afastavam-se cada vez mais do litoral, fugindo da invasão de suas terras. Nesse sentido é que a ação dos jesuítas contribuiu para a colonização e conquista do território.
A partir do século XVII, os padres jesuítas avançaram pelo sertão e fundaram aldeamentos destinados a reunir os indígenas. Esses aldeamentos eram chamados missões ou reduções. As missões foram utilizadas pelos jesuítas para a catequese e exploração do trabalho indígena. Nas missões, os índios aprendiam a doutrina católica e os costumes próprios da cultura européia. Além disso, os padres dominavam os índios fazendo-os trabalhar na extração de riquezas naturais conhecidas como drogas do sertão (guaraná, cravo, pimenta, castanha, baunilha, plantas aromáticas e medicinais).
Os jesuítas tinham muito lucro explorando o trabalho indígena e vendendo as drogas do sertão. As missões eram o alvo predileto do ataque do bandeirismo apresador. Nas missões, o bandeirante já encontrava o índio “pacificado”, isto é, com sua cultura descaracterizada e com conhecimentos de ofícios que interessavam ao comprador de escravos.
Os padres jesuítas e os colonos brigaram muito por causa da escravização dos índios. Os colonos queriam a escravização brutal. Os jesuítas tinham interesse em “defender” os indígenas.
No período da União Ibérica (1580-1640) os jesuítas conseguiram junto à Metrópole a edição de normas que proibiam a guerra contra o índio e sua escravização. Os jesuítas “protegiam” os índios para explorá-los à sua maneira.

A pecuária colonial

As principais atividades econômicas do Brasil Colônia tinham como finalidade atender ao mercado externo europeu. Eram atividades de exportação, como é o caso da produção de açúcar, do tabaco e da mineração. O rei de Portugal proibiu a criação de gado no litoral. Ele queria que toda a área litorânea fosse ocupada com a lucrativa empresa açucareira.
Assim, o gado foi empurrado oficialmente para o sertão. Quem quisesse criar gado só podia fazê-lo em áreas inadequadas para a agricultura exportadora. Devido às exigências do sistema colonial, a pecuária teve como destino desbravar o sertão. E acabou realizando uma grandiosa tarefa para a conquista e ocupação do território brasileiro.
Na pecuária colonial, podemos diferenciar duas grandes zonas de criação de gado: as caatingas do Nordeste e as campinas do Sul.

A pecuária nordestina

A zona pecuária mais antiga do Brasil Colônia é o Nordeste. Nessa região, o gado foi primeiramente utilizado para mover moendas e fornecer carne para os habitantes. Não havia fazendas somente dedicadas à criação do gado. Quer dizer, o dono do engenho era também dono do gado. E as atenções econômicas concentravam-se na produção do açúcar.
Com o tempo, o rebanho bovino foi aumentando. Já não era mais possível criar gado e plantar cana de forma eficiente. Surgiram, então, as fazendas especialmente dedicadas à criação de gado. Fazendas que passaram a ocupar as terras do sertão, pois a área do litoral estava tomada pelos grandes engenhos.
O período de maior progresso da pecuária nordestina foi de 1650 a 1710. Nesse período as fazendas de gado espalharam-se por Pernambuco, Bahia, Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe.
O principal produto fornecido pelo gado era carne, para a população da Colônia. Mas nunca houve carne suficiente para toda a população colonial. A fome era um grave problema na Colônia. O segundo produto mais importante da pecuária era o couro, utilizado na confecção de inúmeros objetos: portas de cabanas, cordas, mochilas, bainhas de faca, macas, roupas para entrar no mato, biras de carregar água etc.

A pecuária sulina

Nas campinas do Rio Grande de Sul, a pecuária encontrou condições geográficas muito favoráveis para seu desenvolvimento. A pecuária foi responsável pelo surgimento, no Rio Grande do Sul, de uma sociedade tipicamente pastoril, isto é, caracterizada pelos hábitos e costumes decorrentes da criação do gado.
Nessa região, desenvolveram-se ricas estâncias, que eram imensas fazendas de criação de gado. Trabalhando nas estâncias, encontramos a figura típica do gaúcho: homem alegre e forte, sempre montado em seu cavalo.
No princípio, a atividade básica da pecuária sulina foi a produção de couros. Depois, no século XVIII com o progresso técnico, veio a indústria do charque (carne salgada e seca ao sol). Esta técnica não deixava que a carne estragasse rápido, permitindo que fosse transportada a grandes distâncias. Isso aumentava as possibilidades de comercialização do produto.
A carne produzida no sul foi muito importante para o abastecimento de Minas Gerais, quando se descobriu ouro nesta região.

Tratados de limites

Os caminhos abertos pela pecuária e por apresadores de índios, mineradores, comerciantes e missionários estendem o território brasileiro para muito além do estipulado no Tratado de Tordesilhas, de 1494. Essa linha dividia os domínios de portugueses e espanhóis na América do Sul na altura das atuais cidades de Belém, no Pará, e Laguna, em Santa Catarina. Até 1640, a expansão é facilitada pela União Ibérica, mas prossegue após a separação entre Portugal e Espanha.
Na segunda metade do século XVIII, Portugal e Espanha firmam vários acordos sobre os limites de suas colônias americanas. O primeiro e mais importante, o Tratado de Madri, é assinado em 1750 e reconhece, com base no princípio jurídico do uti possidetis (direito de posse pelo uso), a presença luso-brasileira na maioria dos territórios desbravados, em processo de ocupação e exploração.
No Norte e Centro-Oeste não há dificuldade em acertar limites praticamente definitivos, pelo pequeno interesse espanhol nessas regiões. Mas no Sul a negociação é conturbada.
A Espanha exige o controle exclusivo do rio da Prata, pela importância econômica e estratégica, e aceita a Colônia do Sacramento em troca da manutenção da fronteira brasileira no atual Rio Grande do Sul. Para isso ordena que os jesuítas espanhóis e índios guaranis dos Sete Povos das Missões saiam de terras gaúchas.
O trabalho de demarcação emperra na resistência indígena da Guerra Guaranítica, e a Espanha recua em sua proposta inicial. Do lado português, o governo do marquês de Pombal tenta aproveitar-se do impasse e assegurar a permanência portuguesa no rio da Prata.
A Espanha reage e impõe o Tratado de Santo Ildefonso, em 1777, desfavorável aos interesses luso-brasileiros porque retira dos portugueses todos os direitos sobre o rio da Prata e também sobre a região dos Sete Povos das Missões.
O impasse é resolvido bem mais tarde, em 1801, com a assinatura do Tratado de Badajoz, que restabelece a demarcação acertada em 1750. Os hispano-americanos mantêm o domínio da região platina, e os luso-brasileiros recuperam a totalidade do atual território do Rio Grande do Sul, onde é fixada a fronteira sul do Brasil.



Invasões estrangeiras no Brasil colonial

Desde muito, os franceses, conscientes das riquezas representadas pelas especiarias dos sertões, desejavam assegurar-se de terras americanas pertencentes a Portugal. Os holandeses iniciaram suas conquistas pela Amazônia no fim do século XVI, quando construíram os fortes de Orange e Nassau, na região do Xingu, e algumas feitorias.

Os ingleses estabeleceram postos no rio Oiapoque. Fundaram os fortes Torrego, hoje Santana; North e Cumau, em Macapá, todos na primeira metade do século XVII. Os franceses fundaram, em 1612, o Forte de São Luís, que hoje é São Luís (capital do Maranhão). Nessa conquista, eles contaram com o apoio dos tupinambás.
No século XVI, logo após a conquista, os franceses tentam fundar colônias no Brasil. A França nega a validade do Tratado de Tordesilhas e defende o princípio do direito à posse da terra por quem a ocupa. O governo francês apoia a atuação de corsários e piratas ao longo da costa brasileira e promove tentativas de fixação territorial.

França Antártica: A primeira invasão ocorre durante o governo de Duarte da Costa, em 1555, quando uma expedição comandada por Nicolau Durand de Villegaignon se estabelece no Rio de Janeiro, planejando fundar uma colônia. Chamada de França Antártica, é destinada a abrigar protestantes calvinistas (huguenotes) fugidos das guerras religiosas na Europa, que procuram explorar a troca de mercadorias baratas por pau-brasil com os indígenas da região. Os franceses organizam um arraial, constroem um forte e resistem mais de dez anos às investidas portuguesas. São desalojados apenas em 1565, quando as forças do governador-geral Mem de Sá e de seu sobrinho, Estácio de Sá, conseguem quebrar a aliança entre os estrangeiros e os índios com o auxílio dos jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta. Em seguida, tomam posição na baía e fundam a cidade do Rio de Janeiro. Os franceses são expulsos em 1567.

França Equinocial: A segunda invasão acontece no Maranhão, a partir de 1594. Depois de naufragar na costa maranhense, os aventureiros Jacques Riffault e Charles des Vaux estabelecem-se na região. Diante do lucro obtido com o escambo, conseguem o apoio do governo francês para a criação de uma colônia, a França Equinocial. Em 1612, uma expedição chefiada por Daniel de la Touche desembarca no Brasil centenas de colonos, constrói casas e igrejas e levanta o forte de São Luís, origem da cidade de São Luís do Maranhão. No ano seguinte, os franceses são atacados por forças portuguesas saídas de Pernambuco, sob o comando de Jerônimo de Albuquerque. Derrotados, os invasores deixam o Maranhão em 1615.

Terceira Invasão: Mesmo não conseguindo instalar-se no território brasileiro, os franceses não abandonam a costa do País. Até o século XVIII, piratas e corsários, com menor ou maior ajuda oficial, realizam pilhagens e saques em povoados e engenhos. O alvo mais frequente é o litoral nordestino, mas atacam também cidades importantes, como o Rio de Janeiro, invadida em 1710 e 1711 pelos corsários Jean Du Clerc e Dugay-Trouen. As sucessivas derrotas levaram os franceses a desistir de se fixarem no Brasil, estabelecendo-se mais ao norte, onde fundaram a Guiana Francesa.

Invasões Holandesas

A ocupação holandesa em Pernambuco pode ser dividida em três momentos principais: a guerra de conquista (1630-1637); o governo de Maurício de Nassau (1637-1644); e a restauração pernambucana (1645-1654).
A guerra de conquista Durante a guerra, os holandeses incendiaram áreas de lavoura de cana para obrigar os senhores de engenho a fazer acordos e manter a produção; caso contrário, os senhores de engenho corriam o risco de perder suas propriedades.

Essa estratégia abriu caminho para as conquistas holandesas em direção à Paraíba, ao Rio Grande do Norte e a Alagoas. Em cinco anos de luta, os holandeses não conseguiram dominar totalmente a região dos engenhos de açúcar. A guerrilha luso-brasileira estava dando bons resultados, até que Domingos Fernandes Calabar (profundo conhecedor da região) passou a ajudar os holandeses, fornecendo-lhes informações.
Em 1635, após uma série de derrotas, Matias de Albuquerque desistiu da luta. Fugiu para Alagoas, conquistou a cidade de Porto Calvo, que era controlada por holandeses, e ali prendeu Calabar, que foi condenado por traição e enforcado.
A história tradicional dizia que Calabar era um traidor, mas esse julgamento provocou debates. Afinal, que Brasil Calabar traiu? O Brasil que antes era dominado pela Coroa portuguesa e que, naquele momento, estava sob o domínio espanhol? Além disso, vários outros luso-brasileiros (senhores de engenho, lavradores) também contribuíram com os holandeses.

Aliança com os tapuias

Para ocupar Pernambuco e as capitanias próximas, os holandeses contaram com suas forças militares e alianças estabelecidas com os indígenas. Essas alianças foram feitas principalmente com os tapuias (termo que designava os povos que não falavam a língua Tupi e, geralmente, habitavam o interior).
Nas disputas entre portugueses e holandeses, os indígenas procuraram defender seus próprios interesses e não se submeteram facilmente à vontade dos europeus.

Governo de Maurício Nassau

A guerra prejudicou a produção de açúcar e o controle sobre os escravizados. Nesse período, o Quilombo dos Palmares se fortaleceu com as fugas de escravizados dos engenhos de Pernambuco.
Com o fim da guerra de conquista, a Companhia das Índias Ocidentais passou a administrar a região. Para isso, nomeou o conde João Maurício de Nassau-Siegen (1604-1679) governador do Brasil holandês. Nassau chegou a Pernambuco em 1637. 
Durante seu governo, a Companhia das Índias Ocidentais emprestou dinheiro aos senhores de engenho para que pudessem recuperar os canaviais, comprar escravizados e consertar moendas e outros equipamentos da produção açucareira.
O calvinismo tornou-se a religião oficial de Pernambuco, mas o governo tolerou a prática do catolicismo e do judaísmo. O principal objetivo dos holandeses era fazer negócios, e não expandir sua fé calvinista.
A produção artística foi estimulada e a cidade de Recife recebeu grandes melhorias com a construção de novas casas, pontes e obras sanitárias. Artistas e estudiosos europeus viveram em Recife a convite de Nassau. Entre os pintores, podemos citar Frans Post (1612-1680) e Albert Eckhout (1610-1665). Entre os estudiosos, destacaram-se Georg Marcgrave (1610-1644), que pesquisou a flora e a fauna do Brasil, e Guilherme Piso (1611-1678), que pesquisou doenças e plantas medicinais usadas por quem já vivia na região, como indígenas e portugueses.

Saída de Nassau

Ao final do governo de Nassau, os luso-brasileiros foram recuperando alguns de seus domínios. Ao mesmo tempo, Nassau recebeu ordens da Companhia das Índias Ocidentais para cobrar com rigor as dívidas dos senhores de engenho. A tolerância religiosa diminuiu e o catolicismo foi proibido. Discordando da nova postura da companhia, Nassau deixou Pernambuco em 1644.
Após a saída de Nassau, a administração holandesa ficou mais severa. Para ampliar seus lucros, a Companhia das Índias Ocidentais pressionou os senhores de engenho a aumentar a produção de açúcar, pagar mais impostos e quitar dívidas atrasadas. Os holandeses ameaçavam confiscar as terras dos senhores de engenho que não cumprissem essas exigências.

Insurreição Pernambucana

Em 1645, grupos de luso-brasileiros reagiram às novas medidas do governo holandês e iniciaram uma série de lutas, que foi chamada de Insurreição Pernambucana. Essas lutas reuniram diferentes setores da sociedade colonial, como senhores de engenho, indígenas e africanos escravizados.
Foi nesse período que ocorreram vários conflitos. Entre eles, podemos destacar as duas batalhas dos Guararapes (em 1648 e 1649), nas quais os holandeses foram derrotados. Após diversas outras derrotas, os holandeses se renderam em 1654. Essa rendição foi oficializada por meio de acordos entre os governos de Portugal e da Holanda. Pelo Acordo da Paz de Haia (1661), Portugal pagou uma elevada indenização em troca do Nordeste brasileiro e de possessões na África. Na época, essa indenização equivalia ao preço de 63 toneladas de ouro.

Indígenas e mulheres nas batalhas

Entre os nativos que lutaram contra os holandeses estava o indígena Felipe Camarão. Ele comandou parte do exército na Primeira Batalha dos Guararapes, recebendo o título de capitão-mor de todos os indígenas do Brasil. Sua esposa, Clara Felipa Camarão, também era indígena e participou dos combates.
Em 1646, durante os combates, os holandeses sofreram com a constante falta de alimentos. Tentaram, então, encontrar comida atacando pequenos povoados, como Tejucupapo. Os homens e as mulheres do povoado lutaram para impedir os ataques holandeses.
Na atualidade, em festas em Recife e Tejucupapo (no município de Goiana), atrizes encenam um espetáculo para homenagear as mulheres que lutaram naquela ocasião.

Fim da União Ibérica

Em 1640, os portugueses reconquistaram sua independência, pondo fim à União Ibérica ao derrotar a Espanha na Guerra da Restauração. Com a independência, foi coroado um novo rei português: dom João IV. Ele deu início à dinastia dos Bragança.
Em Portugal, a nova dinastia e os grandes comerciantes entenderam que, para a manutenção do reino, era mais vantajoso fazer comércio com Brasil e Angola do que com o Oriente.
Dessa forma, na época, os portugueses negociaram um acordo de paz com os holandeses, que ainda ocupavam o Brasil. Entretanto, o acordo foi rompido antes do tempo combinado. Com o fim da União Ibérica, uma grave crise econômica tomou conta de Portugal.
A economia dependia do comércio colonial, e os portugueses tinham perdido parte de suas colônias para os holandeses. Mas o Brasil mantinha-se como importante colônia de Portugal. Para enfrentar a crise econômica, o governo português assinou vários tratados com os ingleses. Entre esses tratados, destacamos o de Methuen (1703), também conhecido como Tratado dos Panos e Vinhos. Pelo acordo, os portugueses comprariam tecidos fabricados pelos ingleses e estes comprariam vinhos de Portugal.
Na época, o tratado satisfazia os interesses dos dois lados. Mas, com o tempo, a situação mudou, e os ingleses foram beneficiados. A fabricação de tecidos em Portugal foi praticamente paralisada e, para honrar o acordo, parte do ouro do Brasil foi enviada à Grã-Bretanha como pagamento pelos produtos que os portugueses compravam.

Açúcar das Antilhas

Após a expulsão dos holandeses, a Coroa portuguesa procurou aumentar a produção do açúcar no Brasil. Mas ocorreu um evento que atrapalhou esses planos. Os holandeses levaram mudas de cana para suas colônias nas Antilhas (grupo de ilhas do Caribe). Ali passaram a produzir açúcar, acabando com o monopólio português.
Com a concorrência holandesa e, mais tarde, a dos franceses e ingleses, o preço do açúcar caiu pela metade nos mercados internacionais entre 1650 e 1700. Só no final do século XVIII o açúcar brasileiro recuperaria parte da importância que teve no passado.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...