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A expansão territorial brasileira

O Brasil começou a ser povoado a partir do litoral. Pois os portugueses que chegavam da Europa fundavam postos de recolhimento e armazenagem de mercadorias que seriam levadas para a Europa. Esses postos eram chamados feitorias. Fundavam também pequenas vilas próximas ao mar.

Durante o século XVI os colonos não se atreviam a entrar pela mata em direção ao interior (o sertão). Havia medo do desconhecido e do ataque de tribos indígenas. Sobre essa situação, frei Vicente Salvador escreveu, em 1627: “os portugueses permanecem no litoral como caranguejos a rondar as praias”.
Entretanto, pouco a pouco, grupos de pessoas foram penetrando no interior do território, dando início ao seu povoamento. Dentre esses grupos, destacam-se:

· Expedições militares organizadas pelo governo para expulsar estrangeiros que ocupavam partes do território.
· Bandeirantes que andavam pelo sertão aprisionando índios ou procurando metais preciosos.
· Padres jesuítas que fundavam aldeias para catequização dos índios e exploração econômica de riquezas do sertão.
· Criadores de gado que tiveram seus rebanhos e fazendas empurrados para o interior do território.

Expedições militares

Várias expedições militares foram organizadas pelo governo para ocupar e defender terras brasileiras que estavam sendo ameaçada pela presença de estrangeiros, principalmente por franceses. O trabalho de povoamento e ocupação do território realizado por essas expedições militares é conhecido como expansão oficial.
Em luta contra os estrangeiros, as expedições militares luso-espanholas foram erguendo fortificações militares que deram origem a importantes cidades. Vejamos alguns exemplos:

· Filipéia de Nossa Senhora das Neves (1584): atual cidade de João Pessoa, capital da Paraíba.
· Forte dos Reis Magos (1597): atual cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte.
· Fortaleza de São Pedro (1613): atual cidade de Fortaleza, capital do Ceará.
· Forte do Presépio (1616): atual cidade de Belém, capital do Pará.

A expansão e o movimento bandeirante

Desde o começo da colonização, Portugal queria explorar o território em busca de ouro. Várias expedições oficiais foram organizadas pelo governo com este objetivo. Estas expedições recebiam o nome de entradas. As entradas eram expedições financiadas pelo governo português para explorar territórios no interior da colônia e defender a região açucareira de ataques indígenas e piratas europeus, além de procurar metais e pedras preciosas. Em geral, as entradas partiam do litoral nordestino em direção ao interior.
A primeira entrada foi a expedição de reconhecimento dirigida por Américo Vespúcio, em 1504.
As entradas têm seu centro principal de propagação no litoral nordestino, saindo da Bahia e de Pernambuco para o interior em missão geralmente oficial de mapeamento do território. Também combatem os grupos indígenas que ameaçam ou impedem o avanço da colonização, como os caetés, os potiguares, os cariris, os aimorés e os tupinambás. A atuação das entradas estende-se do Nordeste à Amazônia e ao Centro-Oeste, abrangendo ainda áreas próximas do Rio de Janeiro.
Além das entradas, surgiu outro tipo de expedição chamada bandeira. As bandeiras eram expedições particulares que saíam de São Paulo rumo ao interior, onde capturavam índios para o trabalho nas lavouras e buscavam metais e pedras preciosas. Essas expedições variavam de tamanho; algumas reuniam centenas e até milhares de homens. À frente delas, seguido um costume dos índios tupis, erguia-se uma bandeira em sinal de guerra, e por isso seus membros ficaram conhecidos como bandeirantes.
Entre as principais bandeiras destacam-se as de Antônio Raposo Tavares, Fernão Dias Pais Leme, Bartolomeu Bueno da Silva e Domingos Jorge Velho.
Andando a pé ou a cavalo, as bandeiras penetravam pelo sertão e ultrapassaram a linha de Tordesilhas. Durante a União Ibérica, as divisões do Tratado de Tordesilhas perderam sua razão de ser. Tudo era da Espanha. Como essas expedições partiam de São Paulo, a cidade ficou conhecida como a “capital dos bandeirantes”.

Dentro do bandeirismo, podemos identificar três tipos básicos:
· O apresador: voltado à captura de índios para vendê-los como escravos;
· O sertanismo de contrato: prestava serviços à classe dirigente colonial, mediante contrato, para combater índios ou negros;
· O prospector: voltado à busca de metais preciosos.

Bandeiras de caça ao índio

As primeiras bandeiras de apresamento de indígenas visavam obter mão de obra para a pequena lavoura paulista ou vendê-las para regiões próximas. Entretanto, quando os holandeses ocuparam Pernambuco e a região de Angola na África, os senhores de engenho da Bahia passaram a enfrentar dificuldades para obter escravos para seus engenhos. Necessitando reposição de mão-de-obra, recorreram aos índios capturados pelos paulistas, impulsionando o movimento bandeirante.
Muitas bandeiras atacaram as missões jesuíticas do Mato Grosso ao Rio Grande do Sul, capturando mais de cem mil índios, a maioria já aculturados e de valor mais elevado, pois se adaptavam mais facilmente ao trabalho agrícola. As principais bandeiras desse período foram a de Manoel Preto e Antônio Raposo Tavares (1619-1651).
As bandeiras de apresamento permitiram a sobrevivência dos paulistas, forneceram escravos para a região açucareira, percorreram o interior alargando o território sob o domínio português e detiveram a expansão espanhola representada pelos jesuítas.
No final do século XVII, com a expulsão dos holandeses do Brasil, a crise da economia açucareira e a descoberta de ouro, termina o período das bandeiras de caça ao índio.

Bandeiras de contrato

Durante o século XVII, para combater índios em guerra ou negros fugidos organizados nos quilombos, fazendeiros ou o próprio governo contratavam a formação de bandeiras. Sob pagamento em dinheiro, terras, escravos ou gado, bandeirantes colocavam-se a serviço da metrópole ou da aristocracia rural brasileira.
A mais importante de todas as bandeiras de contrato foi a de Domingos Jorge Velho, que bateu os índios cariris e janduís em 1692 e destruiu o quilombo de Palmares, em Alagoas, em 1694.

Bandeiras em busca de ouro e diamantes

Frente à crise da economia açucareira. Portugal passou a incentivar quem procurasse e encontrasse metais preciosos, financiando ou oferecendo títulos de nobreza. Embora as diversas expedições que partiram de São Paulo para o interior sempre mantivessem a ambição aurífera, o ouro de lavagem que descobriram nas regiões próximas não apresentava muita lucratividade. Com o incentivo real, acabaram sendo descobertas importantes minas de ouro na região de Minas Gerais, depois em Mato Grosso e Goiás. As descobertas bandeirantes deram início a um novo ciclo econômico no Brasil, o ciclo da mineração.
Vale destacar a expedição de Fernão Dias Paes, em 1674, que avançou de São Paulo em direção a Minas Gerais. O bandeirante – apelidado de “O Caçador de Esmeraldas” – morreu em 1681, acreditando ter encontrado as sonhadas gemas, quando, na verdade, descobriu apenas turmalinas, pedras verdes sem grande valor. Apesar do insucesso, Fernão Dias abriu caminho em direção a Minas Gerais, transformando a cidade paulista de Taubaté no ponto de partida de novas bandeiras.
As descobertas em Minas Gerais logo aconteceram. Em 1693, Antônio Rodrigues de Arzão descobriu ouro em Cataguazes; pouco depois, 1698, Antônio Dias Oliveira encontrava ouro em Vila Rica, atual Ouro Preto; e, em 1700, Borba Gato achava ouro em Sabará. Em 1719, Pascoal Moreira Cabral descobria ouro em Cuiabá, Mato Grosso, e em 1722, Bartolomeu Bueno Filho encontrava-o em Goiás. As bandeiras ocuparam e povoaram o interior do Brasil, criando inúmeras vilas e dando início ao ciclo da mineração, dizimaram muitos grupos indígenas e firmaram a presença colonial além do Tratado de Tordesilhas.

Monções

As monções eram expedições fluviais paulistas que partiam de Porto Feliz, às margens do Rio Tietê, com destino às áreas de mineração em Mato Grosso, com a finalidade de abastecê-las. As canoas levavam mantimentos, ferramentas, armas, munições, tecidos, instrumentos agrícolas e escravos negros, entre outras mercadorias para serem comercializadas nos povoados, arraiais e vilas do interior. Na volta traziam principalmente ouro e peles.

A ação dos Jesuítas

Os padres jesuítas ao desembarcarem no Brasil (1549) tinham planos de divulgar a religião católica em nossa terra. Consideravam-se “soldados da religião” com a missão de conquistar as almas dos índios e dos colonos para o cristianismo católico.
A arma utilizada para a conquista espiritual era a educação direcionada principalmente para a catequização (ensino da doutrina cristã).
O trabalho de catequese do índio exigia a entrada dos padres pelo interior do território, pois os índios afastavam-se cada vez mais do litoral, fugindo da invasão de suas terras. Nesse sentido é que a ação dos jesuítas contribuiu para a colonização e conquista do território.
A partir do século XVII, os padres jesuítas avançaram pelo sertão e fundaram aldeamentos destinados a reunir os indígenas. Esses aldeamentos eram chamados missões ou reduções. As missões foram utilizadas pelos jesuítas para a catequese e exploração do trabalho indígena. Nas missões, os índios aprendiam a doutrina católica e os costumes próprios da cultura européia. Além disso, os padres dominavam os índios fazendo-os trabalhar na extração de riquezas naturais conhecidas como drogas do sertão (guaraná, cravo, pimenta, castanha, baunilha, plantas aromáticas e medicinais).
Os jesuítas tinham muito lucro explorando o trabalho indígena e vendendo as drogas do sertão. As missões eram o alvo predileto do ataque do bandeirismo apresador. Nas missões, o bandeirante já encontrava o índio “pacificado”, isto é, com sua cultura descaracterizada e com conhecimentos de ofícios que interessavam ao comprador de escravos.
Os padres jesuítas e os colonos brigaram muito por causa da escravização dos índios. Os colonos queriam a escravização brutal. Os jesuítas tinham interesse em “defender” os indígenas.
No período da União Ibérica (1580-1640) os jesuítas conseguiram junto à Metrópole a edição de normas que proibiam a guerra contra o índio e sua escravização. Os jesuítas “protegiam” os índios para explorá-los à sua maneira.

A pecuária colonial

As principais atividades econômicas do Brasil Colônia tinham como finalidade atender ao mercado externo europeu. Eram atividades de exportação, como é o caso da produção de açúcar, do tabaco e da mineração. O rei de Portugal proibiu a criação de gado no litoral. Ele queria que toda a área litorânea fosse ocupada com a lucrativa empresa açucareira.
Assim, o gado foi empurrado oficialmente para o sertão. Quem quisesse criar gado só podia fazê-lo em áreas inadequadas para a agricultura exportadora. Devido às exigências do sistema colonial, a pecuária teve como destino desbravar o sertão. E acabou realizando uma grandiosa tarefa para a conquista e ocupação do território brasileiro.
Na pecuária colonial, podemos diferenciar duas grandes zonas de criação de gado: as caatingas do Nordeste e as campinas do Sul.

A pecuária nordestina

A zona pecuária mais antiga do Brasil Colônia é o Nordeste. Nessa região, o gado foi primeiramente utilizado para mover moendas e fornecer carne para os habitantes. Não havia fazendas somente dedicadas à criação do gado. Quer dizer, o dono do engenho era também dono do gado. E as atenções econômicas concentravam-se na produção do açúcar.
Com o tempo, o rebanho bovino foi aumentando. Já não era mais possível criar gado e plantar cana de forma eficiente. Surgiram, então, as fazendas especialmente dedicadas à criação de gado. Fazendas que passaram a ocupar as terras do sertão, pois a área do litoral estava tomada pelos grandes engenhos.
O período de maior progresso da pecuária nordestina foi de 1650 a 1710. Nesse período as fazendas de gado espalharam-se por Pernambuco, Bahia, Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe.
O principal produto fornecido pelo gado era carne, para a população da Colônia. Mas nunca houve carne suficiente para toda a população colonial. A fome era um grave problema na Colônia. O segundo produto mais importante da pecuária era o couro, utilizado na confecção de inúmeros objetos: portas de cabanas, cordas, mochilas, bainhas de faca, macas, roupas para entrar no mato, biras de carregar água etc.

A pecuária sulina

Nas campinas do Rio Grande de Sul, a pecuária encontrou condições geográficas muito favoráveis para seu desenvolvimento. A pecuária foi responsável pelo surgimento, no Rio Grande do Sul, de uma sociedade tipicamente pastoril, isto é, caracterizada pelos hábitos e costumes decorrentes da criação do gado.
Nessa região, desenvolveram-se ricas estâncias, que eram imensas fazendas de criação de gado. Trabalhando nas estâncias, encontramos a figura típica do gaúcho: homem alegre e forte, sempre montado em seu cavalo.
No princípio, a atividade básica da pecuária sulina foi a produção de couros. Depois, no século XVIII com o progresso técnico, veio a indústria do charque (carne salgada e seca ao sol). Esta técnica não deixava que a carne estragasse rápido, permitindo que fosse transportada a grandes distâncias. Isso aumentava as possibilidades de comercialização do produto.
A carne produzida no sul foi muito importante para o abastecimento de Minas Gerais, quando se descobriu ouro nesta região.

Tratados de limites

Os caminhos abertos pela pecuária e por apresadores de índios, mineradores, comerciantes e missionários estendem o território brasileiro para muito além do estipulado no Tratado de Tordesilhas, de 1494. Essa linha dividia os domínios de portugueses e espanhóis na América do Sul na altura das atuais cidades de Belém, no Pará, e Laguna, em Santa Catarina. Até 1640, a expansão é facilitada pela União Ibérica, mas prossegue após a separação entre Portugal e Espanha.
Na segunda metade do século XVIII, Portugal e Espanha firmam vários acordos sobre os limites de suas colônias americanas. O primeiro e mais importante, o Tratado de Madri, é assinado em 1750 e reconhece, com base no princípio jurídico do uti possidetis (direito de posse pelo uso), a presença luso-brasileira na maioria dos territórios desbravados, em processo de ocupação e exploração.
No Norte e Centro-Oeste não há dificuldade em acertar limites praticamente definitivos, pelo pequeno interesse espanhol nessas regiões. Mas no Sul a negociação é conturbada.
A Espanha exige o controle exclusivo do rio da Prata, pela importância econômica e estratégica, e aceita a Colônia do Sacramento em troca da manutenção da fronteira brasileira no atual Rio Grande do Sul. Para isso ordena que os jesuítas espanhóis e índios guaranis dos Sete Povos das Missões saiam de terras gaúchas.
O trabalho de demarcação emperra na resistência indígena da Guerra Guaranítica, e a Espanha recua em sua proposta inicial. Do lado português, o governo do marquês de Pombal tenta aproveitar-se do impasse e assegurar a permanência portuguesa no rio da Prata.
A Espanha reage e impõe o Tratado de Santo Ildefonso, em 1777, desfavorável aos interesses luso-brasileiros porque retira dos portugueses todos os direitos sobre o rio da Prata e também sobre a região dos Sete Povos das Missões.
O impasse é resolvido bem mais tarde, em 1801, com a assinatura do Tratado de Badajoz, que restabelece a demarcação acertada em 1750. Os hispano-americanos mantêm o domínio da região platina, e os luso-brasileiros recuperam a totalidade do atual território do Rio Grande do Sul, onde é fixada a fronteira sul do Brasil.



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